Você está na página 1de 2

Ac. 00203.

851/97-8 RO
DA AÇÃO MONITÓRIA. Considerando que, na Justiça do Trabalho, somente são
executadas as decisões transitadas em julgado, bem como os acordos (art.876 da CLT),
e que, via ação monitória, apenas se pode pretender o pagamento nos casos de prova
escrita sem eficácia de título executivo, tais procedimentos são incompatíveis, o que
afasta a possibilidade desta última ação no foro trabalhista (art.769 da CLT). Nega-se
provimento ao apelo.

(...) Os demandantes, em entendimento contrário ao juízo de origem, sustentam o


cabimento da ação monitória na Justiça do Trabalho. Dizem que os dispositivos
processuais comuns são aplicáveis ao processo do trabalho, quando omissa for a
legislação trabalhista (art.769 da CLT), e que referida ação tem lugar sempre que houver
um título relacionado ao contrato de emprego, atestando a existência de um crédito
trabalhista. Afirmam que, na Justiça do Trabalho, pode dela fazer uso a pessoa que,
credora de outra em razão da relação de emprego, pretenda obter o pagamento ou
entrega de coisa fungível ou coisa móvel, sendo detentora de prova escrita sem
executoriedade, como é o caso desta lide. Asseveram, ainda, que a sentença originária é
contraditória com a instrução do feito, na medida em que, após deferido o mandado
judicial, obedeceu as normas do processo de conhecimento, inclusive com designação
de audiência para conciliação e instrução. Por estas razões, pretendem seja provido o
recurso ordinário para que seja reconhecida a procedência da ação monitória e, por
conseqüência, deferido o pagamento das verbas pleiteadas na inicial.
Sem razão.
A ação em apreço está prevista no art.1.102a. do CPC, que tem a seguinte redação: A
ação monitória compete a quem pretender, com base em prova escrita sem eficácia de
título executivo, pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de
determinado bem móvel. E o art.1.102b., do mesmo diploma, dispõe que Estando a
petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá de plano a expedição do mandado
de pagamento ou de entrega da coisa no prazo de quinze dias.
Neste processo, os reclamantes noticiam que, tendo encerrado seus contratos de trabalho
sem justa causa, tiveram frustado o pagamento de seus haveres rescisórios, procedido
por meio de cheques sem provisão de fundos, tendo sido a conta, posteriormente,
encerrada. Reclamam o pagamento das verbas constantes dos termos de rescisão dos
contratos de trabalho anexados, bem como a multa do art.477 da CLT, atualização
monetária e juros de mora. Juntam os termos de rescisão dos contratos e respectivos
cheques emitidos pelo empregador.
Na fl.40, o juízo determinou a expedição de mandado para pagamento, uma vez
apresentada a prova documental da dívida líquida e certa, tendo sido citada a segunda
reclamada para pagamento e para comparecer à audiência inaugural (fl.43). Após, o
processo seguiu o trâmite normal da reclamatória trabalhista, com designação de
audiência para oitiva das partes e testemunhas (fls.44, 53, 71, 79-80 e 84).
A decisão de 1º grau, fls.85-6, entendeu que ... o procedimento monitório é
incompatível com o Processo do Trabalho, isto porque, no Processo do Trabalho o
processo de execução não é autônomo, mas seqüência do processo de conhecimento, e
em se processando monitoriamente estar-se-ia suprimindo esta fase processual, pois
substitui-se a cognição plena a reclamação trabalhista pela cognição sumária que
marca o processo monitório. Salienta-se que mesmo as sentenças normativas só são
exeqüíveis através de ação de cumprimento, verdadeiro processo de conhecimento.
Outro aspecto que demonstra a incompatibilidade entre o Processo do Trabalho e o
processo monitório é o instituto da conciliação, obrigatório naquele e impossível neste,
pois uma vez recebido o processo o processo deve o juiz determinar a expedição do
mandado de plano, suspendendo-se este somente se a parte contrária embargar. E, por
conseqüência, julgou improcedente a presente ação monitória pela incompatibilidade
com o processo do trabalho.
Perfilha-se o entendimento do juízo originário.
Além dos argumentos elencados na decisão ora examinada, de observar que, na Justiça
do Trabalho, somente são executadas as decisões transitadas em julgado, bem como os
acordos, a teor do art.876 da CLT. De outro lado, como já visto, via ação monitória
apenas se pode pretender o pagamento nos casos de prova escrita sem eficácia de título
executivo, restando portanto inegável a incompatibilidade entre tais procedimentos. E,
como mera conseqüência desta constatação, resta afastada, também por este motivo, a
par dos argumentos expendidos pelo juízo originário, a possibilidade desta última ação
no foro trabalhista (porque, consoante o art.769 da CLT, o direito processual comum
será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, nos casos omissos, apenas
quando não sejam incompatíveis).
Assim, se a parte deseja executar termo de rescisão contratual pago com cheque
desprovido de fundos, como é o caso, deve lançar mão do meio adequado, ou seja, ação
executiva no juízo competente, sendo inviável a pretensão de fazê-lo no foro trabalhista,
pelas razões acima apontadas.
Nega-se provimento ao apelo.

Ac. 00203.851/97-8 RO
Julg.: 03.08.2000 – 6ª Turma
Publ. DOE-RS: 03.08.2000
Relatora: Tânia Maciel de Souza

Você também pode gostar