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A Ecologia Social tem como objeto de estudo, o conjunto das relações entre o
mundo humano e o natural, concebendo as tensões multidimensionais em seus
aspectos socioculturais, político-econômicas e psicosubjetivas que advêm do
modelo civilizatório precário adotado pela humanidade, buscando formas de
enfrentá-lo de modo consciente, crítico e participativo. Tem como alvo de
investigação, as inter-relações desenvolvidas por meio de afetos, vínculos, conflitos,
familiaridades e estranhamentos entre a humanidade e a natureza, em seus
fenômenos geradores e decorrentes dessas. Dentre os seus eixos de investigação
destacam-se: a constituição do espaço e suas transformações decorrentes da ação
humana; os processos de formação de identidade e das diferentes formas de
sociabilidade; a influência do espaço na organização sociocultural e desta última nas
transformações ambientais; as representações sociais referentes aos contextos
socioespaciais; o envolvimento afetivo de pessoas com determinado lugar
geograficamente determinado (topofilia) e suas influencias na construção de suas
identidades; as relações entre subjetividade e espaço; os conflitos entre conceitos
globais versus locais, campo versus cidade, território versus espaço; as ações e
atitudes voltadas para a conscientização ecológica e suas relações com as
atividades políticas e econômicas de uma comunidade qualquer; a implantação de
projetos ou programas de desenvolvimento ecologicamente equilibrados
(BOOKCHIN, 2004). Tais eixos de investigação são também contemplados no
Consultório de Rua através da estratégia de Redução de Danos (RD), em sua
prática de clínica ampliada.
4 CONCLUSÃO
Discussões aos contornos de atividades pautadas em processos globais e
fragmentadas, redes e fluxos, concentração populacional em áreas urbanas, entre
outros, mudaram as formas de inter-relação do indivíduo com o ambiente.
Daí, o surgimento de novos arranjos teórico-metodológicos que possibilitam
discutir a subcategoria apropriação urbana como manifestação coletiva e social,
promovedora de processos autônomos entre os indivíduos, frente às transformações
e demarcações de seu lócus, a partir das relações interpessoais no espaço
apropriado.
A esses espaços, o território é concebido, em Geografia da Saúde, por Milton
Santos, enquanto uma denúncia ao fortalecimento do caráter social sobre as
questões geográficas numa óptica renovada.
Sob essa óptica de re-arranjos aos conceitos de territorialidade tem-se a
temática das drogas, compreendida na sua heterogeneidade nos diferentes modos
de consumo, razões, crenças, valores, ritos, estilos de vida e visões de mundo que a
sustentam, favorecendo ao surgimento de profissionais na saúde, redutores de
danos, que contemplam a ecologia social ao desconstruir o lugar do seu saber
particularizado, onde o consumo de drogas acontece.
Por isso que em campo, as relações dialógicas, mediadas pelos profissionais,
valorizam o conhecimento da demanda que é atendida, concebendo sujeitos que
são apreciados em seus aspectos biopsicossociais.
Hoje temos consciência de que o social é parte do ecológico no seu sentido
amplo e verdadeiro. Tudo está interligado. A apropriação dos espaços urbanos está
relacionada com a implicação do indivíduo enquanto transformador de sua realidade
experiencial e espacial em um determinado território ocupado pelo mesmo, onde
existe uma inter-relação diária entre todos os elementos reais e abstratos que
compõem esse meio.
Em relação à população em situação de rua, atores do cenário urbano
moderno das grandes cidades, se requer intervenções que levem em consideração
a sua constituição e formas de sobrevivências desenvolvidas em espaços
específicos.
Nas discussões atuais em relação à temática das drogas, tem-se a sua
problemática vinculada à evolução da sociedade, com seus conflitos e desequilíbrios
no âmbito da Saúde Pública que vale-se das alternativas da estratégia de redução
de danos em meio aos processos territoriais experienciados pelos profissionais do
Consultório de Rua.
A ênfase psicossocial ou sócio-histórica da inter-relação do sujeito individual
com o espaço é discutida na Psicologia Ambiental ao vincular a forma de estar no
mundo, manifestada a partir dos seus comportamentos individuais e coletivos, no
espaço urbano, aos costumes de vida, dinâmicas sociais, implicações vivenciais e
atitudes. Na Ecologia Social esse mesmo sujeito é reconhecido no coletivo, ao se
estudar as relações entre os grupos sociais e o meio em que vivem.
Por isso, a partir do diálogo entre essas duas áreas se observa o sujeito
biopsicossocial em relação intra e inter pessoal com o ambiente onde se encontra
inserido, mediante as diferentes atividades relacionais diárias com objetos ou outros
sujeitos.
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