Você está na página 1de 16

Alan Villela Barroso

Promete que Jura

Peça em 1 ato.
APRESENTAÇÃO

A esquete teatral ​Promete que Jura?​, de Alan V. Barroso1, foi originalmente


escrita em abril de 2011, na cidade de Ouro Preto, (MG), para participar da VII
Semana de Artes da UFOP, realizada em 27 de maio de 2011, na sala 35 da
Escola de Minas em Ouro Preto, conquistando os seguintes prêmios:

- Melhor Montagem - Júri Popular;


- Melhor Texto Original;
- Melhor Figurino;
- Melhor Iluminação.

Ficha Técnica da Encenação Original:


Direção e Dramaturgia: ​Alan Villela Barroso
Atuação:​ Leonardo Oliveira, Maria Gabriela Felipe e Nataly Bentley
Música:​ Matheus Ferro
​ aís Garcia
Execução: L
Iluminação:​ Luis Felipe Pereira
Maquiagem:​ Jairo Alna
Cenografia e Figurino:​ Alan Villela Barroso
Instalação Externa:​ Gabriel Edeano e Jorge Pessoa

Assista a apresentação em:​


​https://www.youtube.com/watch?v=INJf2PcjJR4&t=8s

Também publicada no livro ​Caligrafia de Asfalto,​ de A. Barroso, editora


Multifoco,​ Rio de Janeiro, 2012, 124 páginas. ISBN 978-85-66226-20-1.
Disponível em: <​http://editoramultifoco.com.br/loja/product/caligrafia-de-asfalto/​>.

1
Alan V. Barroso nasceu em Leopoldina/MG. É Arte/Educador, licenciado em Artes Cênicas
(Universidade Federal de Ouro Preto). Contato: ​alan.arte.educacao@gmail.com​ /
www.theatroalencar.wordpress.com​ / ​www.alanblair.wordpress.com
ENREDO

Tônio... é verdade que amar dói?

​ romete que Jura? nos transporta para um universo de


A esquete P
amor, pureza e inocência no dia de São João em uma cidadezinha de
qualquer lugar interiorano de Minas Gerais. Todo o acontecimento
desenrola-se em uma praça, logo após o término de uma festa junina. Todas
as pessoas já foram embora para suas casas, menos Antônio e Francisca,
recém casados de mentirinha no casamento da festa. A partir de então, a
seriedade do “amor” e de “amar alguém” é discutido de uma forma simples e
inocente por estes dois personagens.
PERSONAGENS

Francisca​ – Moça bonita de inocência encantadora.

Antônio – Moço bonito de inocência mais inocente do que a inocência de


Francisca.

Trovador – Aquele que sabe de tudo o que aconteceu anteriormente,


mas que não sabe o que ocorrerá futuramente.

CENÁRIO

Festa de São João na praça central da pequena cidade caipira de qualquer


lugar. Bandeirinhas coloridas entrecortando o céu, competindo espaço com
balões e lâmpadas distribuídas ao longo da praça. A festa acabou para
todos, menos para Francisca e Antônio. O moço sentado em um banco ao
centro do palco e a moça, pendurada sobre uma cadeira, logo atrás de
Antônio. Ela observa duas gaiolas de passarinhos que estão ao seu lado,
uma de cada lado. Um buquê de casamento em suas mãos.

ATO ÚNICO

(Ao fundo, os personagens em seus lugares, imóveis. Entra o trovador


para dar início ao prólogo da cena.)

Trovador :
Vou lhes contar uma história que para alguns se aplica:

Quem muito se indaga, apaixonado fica.


Como atores principais temos o amor, a dor, Antônio e Chica.

A história aconteceu no dia de São João,


Antônio foi o homem que pediu à Chica a sua mão.

Chica, despreparada, aceitou com emoção


E o moço e a moçoila se casaram em prontidão.

Só que tudo era brincadeira


Para um casamento de festa junina.

Porém, para a desventura da menina,


Ela ainda não sabia que, pelo noivo, apaixonada ficaria.

Chica ficou jururu e com seu coração agoniado,

Já que, até então, ela nunca havia amado.


Mas o que ela ainda não sabia

É que Antônio por ela havia, também, se apaixonado.


No entanto essa é uma história que eu escutei por esses cantos

E que eu hei de descobrir o seu final para aumentar meu canto.


E me desculpem meus amigos, mas o resto eu não lhes conto,

Porque senão a encenação dessa amorosa confusão irá perder o seu encanto.

E se um dia repassarem o que eu lhes digo por outros cantos

Faça-me o favor de não ser um completo tonto.


Se lembre de que aquele que conta um conto

Sempre há de aumentar um ponto!

(É uma opção manter o trovador em cena, reagindo, por meio de partituras


corporais, as emoções entre os diálogos de Antônio e Francisca).

Duas gaiolas de passarinhos: uma visivelmente aberta e a outra fechada

com um pássaro dentro. Antônio sentado em um banco de praça localizado

ao centro do palco. Ele cochila com um passarinho entre as mãos. Francisca

atrás de Antônio sob uma cadeira ao lado das duas gaiolas. Observa o
passarinho preso, enquanto segura seu buquê de casamento. A cena inicia

quando Francisca começa a cantar a canção “Capelinha de Melão”.

​ apelinha de melão é de São João. É de cravo, é de rosa, é de


Francisca: C

manjericão.​ (Despetala seu buquê e joga sobre Antônio.)


São João está dormindo, (percebe que Antônio dorme e começa a cantar a

​ ão me ouve não. A
música bem alto para acordá-lo) n ​ cordai!!! Acordai!!!
acordai, João!!!​ (Joga mais flores sobre Antônio. Antônio desperta.)
​ ita! Óia a chuva!
Antônio - (Surpreso) – E

Francisca – ​É mentira, Tônio!

​ eu
Antônio – (Aperreado, olhando pro céu e fazendo o sinal da cruz) – M

Santo Antônio de Pádua, quem é que tá aí?

​ ita Tônio, sou eu!


Francisca – (Risonha) – E

​ u quem, senhor do
Antônio – (Conversando com o céu, ainda surpreso) – E

céu?

Francisca –​ Larga de ser bobo, homem! É a Chica!

Antônio – (Olhando para trás e levando um susto) – ​Oxi Chica, me explica o

que cê tá fazendo agarrada aí em cima que nem uma mexerica?

Francisca – ​Ora, tô olhando o passarinho!

Antônio – (Contrariado) - ​Não é “passarinho”! É PE-RI-QUI-TO. E não olha

muito que eles ficam aperreados!

Francisca – ​Uai, Tônio, mas passarinho foi feito pra se olhar, ué!

​ ue bobagem, mulher! Passarinho foi feito pra se escutar, não pra


Antônio – Q

ficar olhando!

Francisca – ​Então ocê faz o favor de me dar licença porque eu estou

escutando com os meus olhos!


​ esce daí logo se não cê cai, criatura!
Antônio – D

Francisca – (Indiferente) - ​Se eu cair, do chão não passo!

​ cê é mesmo muito avoada Francisca!


Antônio – (Consigo mesmo) - O

Francisca – (Contrariada) - ​E que desaforo é esse Antônio? Deus me dê


paciência e um paninho para a embrulhar.

(Silêncio. Francisca abre a gaiola e retira o pássaro cuidadosamente. Desce


do banco e vai sentar-se ao lado de Antônio. Em um silêncio inquietante, os
dois acariciam os passarinhos com um carinho cuidadoso e terno, formando
uma partitura de olhares e gestos entre os dois, que evidencia a afeição que
um sente pelo outro.)

​ ostou da festa, Chica?


Antônio – G

Francisca– ​Gostei dos doce, Tônio!

​ “quis” doce ocê gostou, Chica?


Antônio – E

Francisca – ​Gostei do doce de batata doce, Tônio!

​ ocê sabe qual é o doce mais doce que o doce de batata doce,
Antônio – E
Chica?

​ sc... É o doce de doce de


Francisca – (Gabando-se de sua esperteza) - T
batata doce, Tônio!

(Os dois riem.)


(Pausa entre os dois. Antônio quer perguntar algo para Francisca, mas se
enrola)

Francisca – (Nervosa) –​ Fala logo, Antônio!

​ aah, ganhou muito correio do amor?


Antônio – A

Francisca – ​Ganhei doze de um admirador!

​ eu ganhei catorze da filha do


Antônio (Desconcertado e fingido) – E
floricultor!

​ h, é? Pois, eu me confundi, ganhei


Francisca (Mais fingida que Antônio) – A
cento e doze.

​ ois eu também fiz confusão e ganhei duzentos e catorze.


Antônio – P

Francisca – ​E eu trezentos e doze.

​ eu quatrocentos milhões duzentos e catorze mil


Antônio (Embolando-se) – E
trezentos e doze correio do amor!

​ ntão ocê ganhou correio do amor da festa toda,


Francisca – (Irritada) – E
Antônio!

(Pequena pausa de reflexão dos dois)

Antônio – (Tímido) – ​Na verdade eu ganhei só um.

Francisca – ​Na verdade, eu também só ganhei um. Mas não vamos ficar
assim não, porque mais do que cem voando, é melhor um pássaro na mão.
Ocê não acha não?

​ ... faz sentido.


Antônio – É

(Silêncio entre os dois. Francisca quer perguntar algo para Antônio, mas se
enrola)

Antônio (Irritado) – ​Fala logo, Francisca!

​ ônio, é verdade que


Francisca - (Bruscamente, olhando para Antônio) - T
amar dói?

Antônio – (Antônio, assustado com a pergunta, responde


​ e onde ocê tirou isso, Chica?
desconcertadamente, sem olhá-la nos olhos) D

Francisca - ​De um livro de amor!

​ u não leio essas bobagem não, Chica.


Antônio – E

​ u acho que o amor é um


Francisca – (Ignorando o comentário do outro)- E
passarinho que não aceita gaiola.

​ ... faz sentido.


Antônio – É

(Pequena pausa de reflexão dos dois.)

Antônio – (Cautelosamente) – ​Mas Chica, ocê já amou alguém?

​ h, Tônio... eu acho
Francisca - (Sem olhá-lo, com uma pequena timidez) – A
que não sei.

(Em sequência rápida de perguntas e respostas.)


​ cha que não sabe?
Antônio (Curioso) – A

​ ! Acho que não sei!


Francisca (Conclusiva) - É

​ as como acha que não sabe? Ou ocê acha, ou ocê não sabe!
Antônio - M

Francisca - ​É que eu não sei se eu sei, então é acho que não sei!

​ ... faz sentido.


Antônio (Raciocinando) - É

(Pequena pausa de reflexão dos dois.)

Francisca - ​E ocê?

​ u o quê?
Antônio - E

Francisca - ​Ocê já amou alguém, Tônio?

​ i, Chica! Oxe! Eu acho que... também não sei!


Antônio - A

Francisca (Curiosa) – ​Acha que também não sabe?

​ Chica! Acho que também não sei! Mas você é muito


Antônio (Irritado) – É
complicada! Diaxo, só sabe fazer pergunta difícil!

​ ão é a pergunta que é difícil, Tônio! A resposta


Francisca (Conclusiva) - N
que é!

​ as ocê também só sabe querer resposta difícil!


Antônio (Mesmo tom) – M
​ as se a resposta fosse fácil, não seria nem
Francisca (Raciocinando) – M
preciso perguntar, ocê não acha?

​ ... faz sentido!


Antônio (Raciocinando) – É

(Pequena pausa de reflexão dos dois.)

​ cê acha que dói demais?


Antônio - O

Francisca - ​Dói o quê?

​ mar, Chica!
Antônio (Lógico) – A

Francisca (Lógica) – ​Ai, depende do tipo de amor!

Antônio (Confuso) – I​ xe! Mas essa agora? E desde quando amor tem tipo?

Francisca (Conclusiva) – ​Desde sempre, ora!

​ qual tipo de amor que tem?


Antônio - E

​ h... tem amor de tudo que é tipo... tem de... da... ixe!
Francisca (Confusa) – A
(Nervosa) Mas que ocê também só sabe fazer pergunta difícil, Tônio!

​ ão é a pergunta que é difícil, Chica! É a...


Antônio (Explicando) – N

(Corta a fala de Antônio)

Francisca (Firme) – ​Eu sei! É a res-pos-ta!

(Pausa)
Francisca – ​Eu acho que o amor deve ser assim que nem a lua, quando não
cresce, míngua.

​ ... faz sentido.


Antônio – É

(Pequena pausa de reflexão dos dois.)

Francisca - ​E ocê acha que tem remédio?

​ emédio pra quê?


Antônio - R

Francisca - ​Pra dor de amor!

​ xi! Deve ter! Remédio pra coração, né?


Antônio - O

​ ! É mesmo! É remédio pra coração! O seu Juca,


Francisca (Aliviada) – É
primo da tia Ritinha, vivia tomando remédio pro coração dele! Só que aí, um
dia, deu ataque e ele morreu... ​(Pensa durante um momento e concluiu
​ e tanto amar! (Pausa – Dizendo para si) D
consigo mesma) d ​ eve ser tão
bonito morrer de amor!

Antônio (Aflito) – I​ xe, Chica! Vire pra lá essa boca!

​ as o que é que tem, Tônio? Tem tanta gente que morre de


Francisca - M
coisa feia! Morrer de amor deve ser até feliz, ocê não acha?

​ ... faz sentido!


Antônio (Raciocinando) – É

(Pequena pausa de reflexão dos dois.)

​ as ocê não tem medo não, Chica?


Antônio - M
Francisca (Assustada) – ​Medo de quê?

​ e morrer!
Antônio - D

​ orrer de quê?
Francisca (Mais assustada) – M

Antônio (Óbvio) - ​De amor, Chica!

​ h, Tônio... eu sei não! Me disseram que o seu Juca morreu tão


Francisca - A
rapidinho que ele nem notou que estava morrendo. Foi Pá-Pum! O meu
medo é de sentir dor. Por isso te perguntei que se amar dói.

​ as, afinal de contas, pra que ocê quer saber de tudo


Antônio (Irritado) – M
isso?

​ h, Tônio! É que já faz umas horinhas que eu to


Francisca (Inocente) – A
querendo te amar, mas eu não quero ficar me doendo!

​ xi, Chica! É sério?


Antônio (Encantado) – O

Francisca - ​É sim!

​ ntão não se avexe não, meu coração! Porque outro dia eu vi na


Antônio - E
telenovela um ator dizendo que (fazendo um gesto com as mãos
representando a frase) “​ o amor cura tudo!”. Se ocê me amar, eu vou te amar
também. Se teu amor te doer, ocê fique tranquila que eu pego o meu amor e
te curo da dor!

​ ita Tônio! Faz sentido!


Francisca (Uma mistura de alívio com felicidade) – E

(Colocam os passarinhos no colo e dão as mãos.)


​ as Chica, se o teu amor for doce que nem o doce de batata
Antônio – M
doce, por favor, não vá comer ele todo!

Francisca – ​Eita Tônio! Eu também li que o amor é eterno enquanto dura!

Antônio - (Duvidoso) – ​Mas ocê promete que vai me amar?

Francisca - ​Eu prometo!

​ ntão promete que jura!


Antônio - E

​ rometo que juro! (Junta os dois indicadores e os beija, duas


Francisca - P
vezes, como símbolo da promessa)

Francisca (Duvidosa) – ​E ocê? Promete que vai me curar?

​ u prometo!
Antônio - E

Francisca - ​Então promete que jura?

​ rometo que juro! (Junta os dois indicadores e os beija, duas


Antônio - P
vezes, como símbolo da promessa)

(Ao fundo, uma música de quadrilha. Antes dos dois saírem, eles juntam
seus passarinhos, um de bico colado ao outro, formando um coração. As
luzes vão diminuindo até que reste um pequeno foco de luz nos pássaros.)
FIM.

Você também pode gostar