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URUCUBACA

PRINCÍPIOS GERAIS DO ENVULTAMENTO


URUCUBACA
Shirlei Massapust

Diz-se que o “olho-grande” (malefício fruto da inveja de um adulto


contra outro adulto) e o “quebranto” (malefício fruto da inveja de
alguém contra uma criança) são duas variantes do “mau-olhado”. O
folclore mundial está repleto de contos, usos e costumes análogos. Um
dos mais antigos amuletos contra o mau-olhado é uma medalha cristã
de bronze, do séc. I, representando um tridente que transfixa a pálpebra
de um olho, ameaçado de cada lado por outros instrumentos afiados.
Junto deste olho há uma inscrição de sentido obscuro (Ιαω Σαβαωθ
Μιχαнλ βοήθι) e, no verso, a frase “um Deus que vence o mal” (είς θεòς
ό υικωυ τα κακα). Atualmente muitas rezas invocam a proteção dos
santos católicos. Versos como “espírito perverso no meu corpo não
entraria” dão a entender que a feiticeira induziria à possessão diabólica
por meio do mau-olhado para realizar “as más obras do Satanás”. Para
quem quiser conhecer a parte mais colorida da tradição nacional – que
não é o objeto de estudo deste artigo – recomendo os livros Como
Combater Olho-Grande, de José Rodrigues da Costa (ensina despachos
para cortar olho-grande) e Livre-se do Olho Grande, de Attilio Molone (da
rezas para benzedeiras). Citarei apenas uma reza a título de curiosidade:


ORAÇÃO CONTRA MAU-OLHADO
Leva o que trouxeste,
Deus me benza com a sua Santíssima Cruz,
Deus me defenda dos teus olhos
e de todo o mal que me quiseres.
És tu ferro e eu sou aço.
És tu o demônio, e eu te embaraço.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 1

A prática ritualística das religiões afro-brasileiras contém inúmeras


fórmulas de proteção e preceitos para cortar o mau-olhado.
Normalmente as mais procuradas são os banhos de ervas e sal grosso.
As sete ervas com poder para abrir caminhos, cortando o malefício da
inveja, são: Arruda (Ruta graveolens), guiné (Petiveria tetrandra),
alecrim (Rosmarinus officinalis), comigo ninguém pode (Dieffenbachia
seguine), espada de São Jorge (Sansevieria trifasciata), manjericão
(Ocimum basilicum) e pimenteira (Capsicum frutescens).
Para envolver um imóvel no campo com um escudo protetor faz-se
um jardim doméstico contendo todas as ervas supracitadas. A opção por
defumar um imóvel urbano de dentro para fora, na lua minguante, com
o objetivo de purificar o ambiente, funciona através da fumaça dos

1
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 72.
defumadores postos a queimar junto ao carvão em brasa num turíbulo.
O preparo do defumador respeita a forma artesanal da tradição
recebida, que é bastante variada, incluindo deste a tradicional palha de
alho (Allium sativum) até a milenar beladona (Atropa belladonna).
Galhos de arruda são usados atrás da orelha. Figa, patuás e
frascos de mercúrio são carregados junto ao corpo (pendurados como
pingente ou guardados em bolsos, por exemplo). Outras providências
vão de simpatias a trabalhos rituais. Um número significativo de rezas
temáticas envia o “mau-olhado” para “as ondas do mar sagrado”.
Noutros numerosos casos o que se busca não é a cura, e sim a fórmula
para executar o malefício! Eliphas Levi descreveu o castigo aplicado a
certa mulher cujo comportamento era demasiadamente liberal para o
século XVIII:

Um sábio tinha uma mulher a quem amava apaixonada e


loucamente na exaltação da sua ternura e a distinguia com uma
confiança cega, entregando-se inteiramente a ela. Orgulhosa da sua
beleza e da sua inteligência, esta mulher tornou-se invejosa da
superioridade de seu marido e começou a odiá-lo. Pouco tempo depois,
ela o abandonava, comprometendo-se com um homem velho,
pusilânime, sem espírito e imoral. Era o seu primeiro castigo, mas a pena
não devia ficar nisso. O sábio pronunciou contra ela somente esta
sentença: “Eu vos tomo a vossa inteligência e a vossa beleza!” Um ano
depois, os que a encontravam já não a reconheciam mais: A gordura
começava a desfigurá-la; ela refletia na fronte a fealdade das suas novas
feições... Sete anos depois, estava louca. 2

AMBIÇÃO OU REVOLUÇÃO?

O olho grande nas suas formas mais conhecidas – inveja da


riqueza e da beleza – é um tabu prescrito entre os dez mandamentos:
Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a sua mulher, nem
o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento,
nem coisa alguma que pertença a teu próximo (Êxodo 20:17). Num
discurso demasiadamente conformista para ser benéfico, José Rodrigues
da Costa reconhece que as desigualdades sociais geram conflitos e
violências, mas professa que ninguém deve se sentir injustiçado porque
não há felicidade na matéria e todos nós “temos tudo o que merecemos,
e se quisermos mais, temos que buscar recursos alcançáveis”.3
Mesmo defendendo a ambição do homem responsável, capaz de
obter riqueza material por mérito próprio – tudo conforme o american
way – o papa negro Anton LaVey recriminou o vampiro psíquico que
escolhe “uma pessoa feliz” para importunar por estar “carente de todas

2
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. Trd. Rosabis Camaysar. São Paulo, Pensamento, 1997, p 355-
354.
3
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 10.
as coisas que sua vitima tem”. Seguindo essa linha de pensamento
suponho que o invejável ideal mereça o mundo enquanto o invejoso
nasceu para servir e pagar impostos ao seu governante. Em última
análise o invejável é símbolo e arquétipo do carrasco maior, o sujeito de
direito por excelência (senhor de escravos, inquisidor, ditador, tirano,
acionista controlador de um grande monopólio) Por outro lado o invejoso
representa o homem-máquina, sujeito de dever ideal (o escravo,
miserável, desgraçado, hipossuficiente). Mas de tanto gemer e jurar
inocência, uns idealistas na época da Renascença acabaram dando
ouvidos à raia miúda e esclareceram ao mundo fazendo com que os
partidos socialistas e instituições de ensino lutassem pela destruição da
nobreza e propagação do olho-grande. Por isso, até hoje, quando o
invejável se deixa comover pela culpa imputada pelo invejoso seu
sentimento de dever moral torna-se um calcanhar de Aquiles destroçado
pelo punho de aço de todas as falhas sociológicas do mundo. O
subconsciente da vitima se defende ‘argumentando’ que ele não é tão
mal assim e contra-ataca ‘acusando’ o invejoso de alguma falta real ou
mítica. A intercessão entre ataque e defesa propicia espaço para os
efeitos placebo e nocebo.
Uma das medidas profiláticas mais famosas do Brasil diz que
ninguém deve comprar qualquer objeto ou jóia de pessoas que “tenham
sido desaventuradas ou portadoras do olho grande, ou que tenham
inveja, uma vez que esses objetos se encontrariam invariavelmente
carregados de fluidos negativos”.4 Isso significa boicote no comércio e
necessidade de encontrar outro emprego que não esteja relacionado a
vendas. Mas quem vai empregar um estigmatizado? José Rodrigues
sustenta que “tolerar essas pessoas em nosso meio é perigoso” e
oferece preceitos para “afastá-las”.5 Por isso, entre os eslavos,
“determinadas pessoas nascem com essa prerrogativa e são,

4
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 43.
5
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 40.
logicamente, discriminadas pela coletividade”. 6 Mas quando o azarento
insiste em continuar existindo não há nada melhor que um remédio
mítico para combater o mito. Um caso fantástico afirma que quando o
interventor Bolognesier chegou num lugar distante (um vilarejo ao sul da
França), num passado remoto (1786 ou 1834), passou a agir e vestir-se
como o rico Conde de Montaigne. “A maneira de se expressar, o jeito
peculiar de Montaigne, tudo era copiado nos mínimos detalhes”.7

Com a implantação da Comarca, Montaigne fora designado


Ouvidor-Mor da coroa. Bolognesier sempre ao seu lado, se fazia de muito
amigo, prestativo aos serviços. Certa feita Bolognesier comenta com
Montaigne sobre os destinos de seus negócios, sabendo que pelas leis
da época, somente um homem poderia seguir com os rumos da sua
nobreza. Montaigne não tinha filho homem e isso realmente o
preocupava muito. Bolognesier sempre de olho grande, insistia a que
Montaigne o fizesse detentor provisório de seu título. Fato interessante é
que Montaigne pouco tempo depois fica enfermo. Sem motivos
aparentes, achava-se desanimado, fraco, abatido. Bolognesier
assumindo as tarefas, já se intitulava provedor-mor, muito embora, esse
título não fosse dado a ele por Montaigne. 8

Esse conto moral tem um final feliz. O conde se curou e passou o


título hereditário à sua filha enquanto o invejoso morreu doente e louco
por causa do contra feitiço de Marie Debrüt. Mas Hercílio Maes, escritor
famoso por seu trabalho de psicografar a obra de Ramatis, deu um
exemplo mais atual e infelizmente muito mais real de como os contra
feitiços podem matar o portador de mau-olhado:

Defronte de minha moradia viera morar uma senhora procedente


de Pernambuco, simpática e bastante serviçal para com os vizinhos. Mas
alguns meses depois corria a notícia de que ela possuía “mau-olhado”,
provocando na vizinhança as mais descontroladas reações e temores.
Dali por diante, a infeliz senhora foi responsabilizada por toda a espécie
de doenças, desentendimentos caseiros, morte de aves, quebranto de
crianças e prejuízos nas plantações. Quando ela aparecia à janela, os
vizinhos persignavam-se ostensivamente, faziam esconjuros e figas,
inclusive algumas mandingas à sua porta, a fim de ela mudar-se!
Finalmente, certo dia estourou a notícia trágica; ela suicidara-se com
soda cáustica, desesperada pelo sofrimento de tão estranho estigma! 9

Tendo observado a inconveniência do olhado sobre os seres


humanos, os contadores de estórias imaginaram que o malefício pode
ser estendido ou projetado exclusivamente sobre suas posses, sendo o
diagnóstico comprovado pela aparente relação de causa e efeito. A
6
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 13.
7
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 27.
8
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 27.
9
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 30.
coletânea de Attilio Milone inclui casos como o de um sujeito que perdeu
a noiva e dois empregos após ser felicitado por alguém que “tinha
conquistado no decorrer dos anos uma requintada fama de agourento e
possuidor de olho grande”.10 Noutros casos a causa é presumida. (Chico
comprou três toca fitas diferentes, sendo furtado três vezes
consecutivas. Deduziu que “só podia ser mau-olhado, e daqueles bem
insistentes”).11

‘SECA PIMENTEIRA’ E ‘CALA SABIÁ’

A “seca pimenteira” é uma pessoa portadora de mau olhado capaz


de arruinar plantas de qualquer espécie. Porém o adjetivo coloquial
“seca pimenteira” foi tradicionalmente estabelecido devido à crença
popular de que a pimenteira (Capsicum frutescens) se sacrifica para
proteger o seu dono e, num jardim, ela é a primeira planta a morrer
absorvendo os maus fluidos do ambiente. Mas será que as plantas
conhecem as nossas emoções? Por volta de 1967 um policial americano
chamado Cleve Backster, técnico do FBI, teve a originalíssima idéia de
ligar um detector de mentiras a uma planta. Ele observou que uma
dracena apresentou reações semelhantes às de um ser humano
submetido a estímulos emocionais, pois, concebendo a idéia de queimar
a folha da planta, esta entrou em verdadeiro pânico como se estivesse
adivinhando seu pensamento.12
Falhas técnicas à parte, o fato é que a moda pegou. Rapidamente
Marcel Vogel decidiu estudar a técnica do policial e construiu um
instrumento chamado psicanalisador para captar e amplificar as reações
das plantas. Seu filodendro de estimação reagiu a humanos
conversando sobre sexo no ambiente e “a histórias de horror contadas
num quarto escuro”.13 Ele comunicou que chegou aos mesmos
resultados de Backster, “passando a demonstrar como as plantas
pressentem quando vão ter suas folhas arrancadas, como reagem aflitas
a ameaças ou a atos reais de violência — como serem queimadas ou
desenraizadas — cometidos contra elas”. 14 Certa vez Vogel pediu a um
psicólogo clínico que projetasse uma forte emoção num filodendro.
Depois de manifestar uma reação instantânea e intensa, a planta,
bruscamente, “apagou”. Indagado sobre o que lhe passara pela mente,
o psicólogo respondeu que comparara mentalmente a planta de Vogel a
um filodendro que ele próprio tinha em casa, julgando a do amigo muito
inferior à sua. A planta de Vogel sentiu-se de tal modo ofendida em seus
“sentimentos” que passou quase duas semanas negando-se a dar
10
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 33-34.
11
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 35.
12
TOMPKINS, Peter e BIRD, Christopher. A Vida Secreta das Plantas. Trd. Leonardo Frós. São Paulo, Círculo do
Livro, p 377.
13
TOMPKINS, Peter e BIRD, Christopher. Op cit, p 41-42.
14
TOMPKINS, Peter e BIRD, Christopher. Op cit, p 32.
qualquer resposta. Com isto Vogel se convenceu de que as plantas tem
uma aversão concreta por determinadas pessoas ou, mais exatamente,
pelo que por acaso ocorre a tais pessoas pensar.15
Relatos sobre a secura de plantas variam desde coincidências
plausíveis até as variantes mais fantasiosas. Por exemplo, numa
parábola bíblica Jesus amaldiçoa uma figueira, fazendo-a secar
imediatamente, a fim de demonstrar ao povo que “se tiverdes fé e não
duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até se a este
monte disserdes: ‘Ergue-te, e precipita-te no mar’, assim será feito”
(Mateus 21:19-21 e Marcos 11:13-14). A exegese da Catena Áurea
interpreta que Jesus quis ensinar a seus apóstolos que Ele teria poder
para exterminar seus inimigos, se assim desejasse! A propósito, o
compositor Jacques Offenbach (1819-1880) se tornou um famoso
jettatore em Viena e Paris por causa de um ‘talento’ similar:

Atribuía-se a ele a morte da dançarina Emma Livry. Enquanto


ensaiava, na presença de Offenbach, “A Muda de Portici” de Auber, seus
trajes se incendiaram e em conseqüência das queimaduras, faleceu.
Várias cantoras que se apresentavam nas obras de Offenbach sentiam
um estreitamento de garganta, impedindo-as de continuar. Bailarinas
torciam os ossos e juntas ao dançarem suas obras. O crítico parisiense
de teatro Théophile Gautier estava com tanto medo do mau-olhado de
Offenbach, que não tinha nem mesmo coragem de escrever o nome
dele: Deixava um espaço em branco para que outra pessoa ali
escrevesse o nome tão temido. O pior acontecimento ocorreu na
premiere da ópera "Os Contos de Hoffmann" de Offenbach em 1881 no
Ringtheater de Viena. No começo da apresentação ocorreu um incêndio
em que 386 pessoas perderam a vida. Durante um quarto de século
nenhum teatro europeu teve coragem de encenar a ópera novamente. 16

Felizmente nem todo aziago possui um olhar pirotécnico tão


potente quanto o do Scott, vulgo Ciclope, dos quadrinhos dos X-Men, ou
de um fictício imigrante do planeta Kripton. Normalmente o melhor que
eles supostamente fazem é secar lentamente os vasos de plantas
ornamentais e pequenos arbustos. Attilio compilou o relato de Ana, cuja
mãe possuía uma samambaia na sala. A planta “ficou toda esturricada”
uma semana após receber o elogio de uma visita. 17 A mesma sorte de
coincidência impressionou a família do psicanalista Noberto Keppe:

Quando criança, determinada senhora que nos visitava cada vez


que cobiçava uma flor, uma planta de pequeno porte, ou mesmo uma
ave, depois de alguns dias a planta secava e o pássaro morria. Tínhamos
uma trepadeira com um tronco respeitável pela idade. Pois bem, essa

15
TOMPKINS, Peter e BIRD, Christopher. Op cit, p 32.
16
HEYDECKER, Joe J. Fatos da Parapsicologia: Introdução às ciências ocultas. Trd. Edith Wagner. Rio de
Janeiro, Freitas Bastos, 1984, p 93.
17
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 35.
mulher conseguiu liquidá-la num simples olhar! Quando percebemos a
sua maléfica influência, não a deixávamos ultrapassar a porta da sala. 18

O humorista Gilherme Figueiredo satirizou a tradição secular


enunciando que “a aproximação do chato pode ser acusada pelo
murchar das plantas (os seca pimenteiras) ou a mudez dos animais (os
cala sabiás)”.19 Um costume popular ensina a prender uma fita vermelha
num berço ou gaiola para proteger o seu filho ou pássaro. Há relatos
sobre portadores de mau olhado que se submeteram a um mesmo teste
experimental a fim de averiguar a relação de causa e efeito. Por
exemplo, o que foi dito do sogro de Hercílio Mães, que mandou um
amigo libanês “portador do mau-olhado” descarregar essa “ruindade
boba” sobre um peru. Três dias depois a ave “movia-se aos arrastos
pelo terreiro e morria sob estranhos tremores”. 20 Em seu livro de
memórias, Madame D'Aulnoy relata igualmente sobre um espanhol que
foi obrigado pelas autoridades locais a usar um tapa olho:

Às vezes, quando estava em companhia de bons amigos, eram-lhe


trazidas algumas galinhas, e então ele dizia: “Escolham uma delas, para
que eu a mate com o olhar”. Assim que uma delas era indicada, olhava-a
intensamente. Então via-se como começava a cambalear e depois de
algum tempo caía morta.21

O rótulo de “seca pimenteira” se apóia no efeito secundário


causado na pessoa e não na coisa perdida. Por exemplo, se o
prejudicado sabe que o outro elogiava plantas na esperança de ganhar
vasos ornamentais, mudas ou frutos, e sai de mãos vazias, quando a
coisa se perde parece que foi praga do invejoso.

APARÊNCIA DE CAUSA E EFEITO

Na grande maioria dos relatos populares é possível identificar uma


causa mais plausível para explicar o efeito, mas não pense que o olhado
nunca funciona. Há casos em que a interação pode ser mínima, embora
o efeito geralmente recaia com menos força que a do evento temperado
pelo trauma ou desgosto de uma experiência passada. Em certas
ocasiões o mal-estar advém da consciência de ser observado por um
desconhecido. Quem testemunha o momento em que outrem faz algo
errado ou ridículo e permanece olhando, torna-se um estorvo. Pense
num tarado observando uma mulher recatada com expressão de lascívia
ou vice versa.
18
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 29.
19
FIGUEIREDO, Gilherme. Tratado Geral dos Chatos. RJ, Civilização Brasileira, 1962, p 19.
20
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 30.
21
HEYDECKER, Joe J. Fatos da Parapsicologia: Introdução às ciências ocultas. Trd. Edith Wagner. Rio de
Janeiro, Freitas Bastos, 1984, p 93.
Às vezes a atenção pode ser desviada de tal forma pelo temor a
um perigo remoto que a pessoa ficara cega ao perigo iminente. Por
exemplo, o caso de uma colegial que quase foi atropelada por um
ônibus porque, ao invés de prestar atenção no trânsito, ela se distraiu
preocupada com um observador desagradável... Eliphas Levi registrou
um caso emblemático “do que se chama, na Itália, jettatura ou mau-
olhado”. Aqui a técnica revelou-se extremamente efetiva:

No tempo das nossas discórdias civis, um homem de loja teve a


infelicidade de denunciar um seu vizinho que, depois de ter ficado preso
por algum tempo, foi posto em liberdade, mas a sua posição estava
perdida. Por única vingança, ele passava duas vezes por dia diante da
loja do seu denunciador, olhava-o fixamente, saudava-o e passava.
Algum tempo depois, o lojista, não podendo suportar mais o suplício
desse olhar, vendeu seus fundos com prejuízo e mudou de quarteirão,
não deixando o seu endereço; numa palavra, estava arruinado.22

É perfeitamente possível esmagar alguém pelo medo ou pelo peso


da consciência sem haver antes sofrido uma justa causa, bastando que o
alvo seja receptivo ao abalo emocional. Entre os casos compilados por
Attilio Milone destaca-se o de dois alunos do curso de Matemática da
Universidade Federal Fluminense que romperam uma sólida amizade por
rixa ideológica. Cada olhar de “E.” iniciava uma crise nervosa em “A.”,
prolongando-se por dias de mal estar:

Durante anos (e talvez até hoje) ele ficou ressentido comigo,


passando a olhar-me de modo concentrado e cheio de ódio, cada vez
que nos cruzávamos. Senti-me, nesta época, cheio de veneno emocional
por dentro, por causa destes constantes olhares. Quando estava assim
afetado, fechava-me como uma concha, ficando carrancudo e quase não
falando com ninguém... Tempos depois, quando já não via “E.” há um
ano, defrontei-me com ele de novo, pois ambos passamos a freqüentar,
a partir de março de 1984, o Curso de Mestrado em Matemática da
Universidade Federal Fluminense. Ele passou a me lançar de novo, com
certa periodicidade, aqueles olhares carregados. Isto prejudicou
bastante o meu rendimento nos estudos e, em grande parte por causa
de “E.”, tive que abandonar este curso, para deixar de ser envenenado
por tais maus olhados.23

Após tomar ciência de sua capacidade de exercer “de maneira a


mais inconsciente” algum tipo de mau-olhado sobre as pessoas que o
magoaram, o escritor John Cowper Powys adquiriu o hábito de rezar
“pedindo proteção a cada novo inimigo”. 24 Colin Wilson começou a
pensar no problema quando descobriu que aqueles que atraíram sobre
22
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. Trd. Rosabis Camaysar. São Paulo, Pensamento, 1997, p 355-
356.
23
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 32-33.
24
POWYS, John Cowper. Autobiography, p 480. In: WILSON, Colin. O Oculto: Vol 1. Trd. Aldo Bocchini Netto.
Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1991, p 28.
si a ira de Powys “têm passado por tantos sofrimentos que ele foi,
digamos assim, forçado a levar uma vida de quase neurótica
benevolência”.25 Acontece que o ofício de escritor e a curiosidade pela
magia não eram as únicas coisas que Wilson e Powys tinham em
comum. Certa vez Colin Wilson rememorou dados de seu próprio
passado e concluiu que todo ser humano pode fazer o mesmo:

Antes de nossa mudança para Kensington, no outono de 1952,


morávamos em Wimbledon, na casa de um velho que sofria de asma;
minha mulher é quem cuidava dele como enfermeira. Durante os seis
meses que ficamos naquela casa; ele foi criando cada vez mais intrigas e
dificuldades, até que chegou a um ponto em que havia uma eterna
atmosfera de tensão, como uma tempestade prestes a desabar. Não sou
de ficar acalentando rancores, mas a sensação de estar ocupado apenas
de coisas insignificantes, de estar impedido de me concentrar em algo
mais importante, levou-me ao auge da repugnância, e cheguei a desejar
que ele morresse. Em agosto do mesmo ano, quando chegamos de volta
de um passeio de fim de semana, soubemos que ele tinha morrido de
ataque cardíaco.
Foi quando a situação se repetiu, três meses depois, que eu
comecei a me perguntar, despreocupadamente, se os pensamentos não
seriam capazes de matar. Nossa senhoria tinha uma suspeição doentia
em relação a tudo e a todos, de modo que logo nos vimos envolvidos em
violentas discussões diárias. Dois meses depois, ela foi a um médico que
lhe diagnosticou um câncer no útero, e ela morreu pouco depois que nos
mudamos de sua casa. Lembro-me agora da natureza peculiar daqueles
paroxismos de repugnância. Em certas ocasiões, o ódio atingia níveis
que, num paranóico, levariam às explosões de violência. Mas a explosão
era apenas mental, no meu caso: uma explosão de raiva e ódio, seguida
de alívio, como se eu tivesse atirado um tijolo nos vidros de uma janela.
Essas explosões mentais eram sempre acompanhadas de uma particular
sensação de autenticidade, de realidade. Quero dizer com isso que elas
pareciam de alguma forma diferente dos paroxismos da sensação
induzida pela imaginação. Não consigo ser mais específico do que estou
sendo, mas desconfio de que a maioria das pessoas já teve essa
sensação.26

Como bem observou João Ribeiro Jr, “quando rogamos uma praga
contra alguém e essa pessoa quebra o pescoço, procuramos racionalizar
a coincidência até com a ajuda da estatística, mas mesmo assim essa
conjunção do desejo e da ocorrência nos impressiona”. 27 A crença no
malefício e na sua eficácia é um corolário de um processo pelo qual uma
percepção se forma de uma coincidência entre uma idéia e uma
sensação, sendo que uma delas (não importa qual) está localizada
internamente e a outra externamente. Colin Wilson conhecia a telepatia
– igualmente por pesquisa e vivência –, vindo a concluir que a
25
WILSON, Colin. O Oculto. Vol 1. Trd. Aldo Bocchini Netto. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1991, p 27.
26
WILSON, Colin. O Oculto. Vol 1. Trd. Aldo Bocchini Netto. RJ, Francisco Alves, 1991, p 27-28.
27
JÚNIOR, João Ribeiro. O Que é Magia. São Paulo, Brasiliense, 1982, p 31-32.
“transferência” pode ser inconsciente e automática, como linhas
cruzadas no telefone. “Isso permite especular se também o ódio não
poderia ser transmitido da mesma maneira inconsciente”. 28 Partindo daí
ele cunha uma teoria geral segundo a qual o inconsciente constitui uma
espécie de depósito de forças que podem manifestar-se no mundo
material sob certas circunstâncias, com um vigor que supera tudo que o
consciente possa realizar. Nesses momentos “a personalidade
consciente parece tornar-se mais real, firme e decidida, provocando-nos
uma sensação peculiar de poder”. Então, se imaginarmos esse mesmo
tipo de força sob o comando do poder do inconsciente “começaremos a
esboçar uma vaga teoria do ocultismo que evita os extremos do
ceticismo e da credulidade”.29
O caldeirão do folclore brasileiro já cozinhou este prato. Attilio
associa ao “fenômeno do magnetismo pessoal, concentrado na maioria
das vezes num simples olhar, que pode ter conseqüências tanto
benéficas como maléficas”.30 José Rodrigues concorda que existe “uma
projeção da energia psíquica – magnetismo animal, tão bem descrito e
experimentado por Mesmer” a qual “se atribui uma espécie de
psicocinesia”.31 Enquanto Wilson e Powys relutavam em confessar que
esse é o tipo de coisa que envaideceria um algoz consciente, nossos
mandingueiros aprimoravam a técnica até o limite e patrocinavam
quadrinhos nacionais que lhes ajudassem a enfeitar o pavão. Nutrindo
um complexo cultural que envolve crença, expectativa e probabilidade o
método passa a admitir resultados mais satisfatórios. Resumindo, com a
ajuda da propaganda intensiva o olhado ganha a aparência de uma
ameaça verdadeira e injeta o malefício tão bem quanto os remédios
florais e a acupuntura beneficiam pacientes crédulos.32

28
WILSON, Colin. O Oculto. Vol 1. Trd. Aldo Bocchini Netto. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1991, p 27.
29
Colin Wilson escreveu que a melhor “explicação fenomenológica racional” que ele conhece para esse caso
se encontra numa história de ficção científica intitulada Forbidden Planet, de W. J. Stuart, em que uma
expedição científica procura descobrir o motivo da destruição de todas as expedições anteriores a um
planeta distante: “Trata-se de livro a ser lido por todos os que se dedicam à psicologia fenomenológica. Por
intenção do autor, pode ser que seja ficção científica, mas provavelmente chega mais perto da verdade a
respeito da mente humana do que Freud ou Jung”. — Conforme sua sinopse, o único homem capaz de viver
em segurança no Planeta Proibido é um velho cientista chamado Morbius. Ele informa que as outras
expedições foram destruídas por uma espécie de monstro invisível e indestrutível. Morbius dedica-se ao
estudo dos resquícios de uma antiga civilização do planeta – seres que haviam possuído o poder de
amplificar seus pensamentos, o poder de “intencionalidade”, de modo que as imagens mentais fossem
projetadas como realidade exterior. No final da história, Morbius descobre o que destruiu as expedições
anteriores. Sem que nem de longe suspeitasse, ele também estava amplificando as forças intencionais de
seu subconsciente – seu desejo de ficar sozinho no planeta. E este é o “monstro invisível” que destruiu as
expedições. (WILSON, Colin. O Oculto. Vol 2. Trd. Aldo Bocchini Netto. RJ, Francisco Alves, 1991, p 119).
30
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 11.
31
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 29.
32
Inclusive os chineses alertam contra o tian-cheng (olho-grande).
“Mocuná, conhecido como Olho de Boi, afasta o mau olhado”.
(Artesanato carioca).
Princípios Gerais do Envultamento
Shirlei Massapust

O verbo francês envoûter (do latim vultus, efígie, retrato) se refere


ao ato de usar figuras tridimensionais chamadas dagyde (do grego para
efígie ou boneca) ou planas (desenhos ou fotografias) que imitam a
pessoa a suplicar, beneficiar, proteger ou manipular de forma que passe
a nutrir laços afetivos com outrem ou deixe de compartilhá-los. Segundo
Kurt Kloetzel as pinturas rupestres da idade da pedra “não eram feitas
por mera recreação, nem devem ser vistas como ensaios de expressão
artística”.33 As cenas de caça abundante e graúda serviriam de
“alegorias através das quais o homem buscava dominar a realidade,
dela extraindo aquilo que mais prezava: Alimento farto, fecundidade”. 34
J. G. Frazer enumera o princípio da mímica como um dos dois princípios
do pensamento mágico. O outro é “a lei de contato ou contágio”,
segundo a qual “coisas que alguma vez tiveram contato entre si
continuam a agir umas sobre as outras a distância, mesmo depois de
interrompido o contato físico”. A combinação destes princípios gera a
“mágica de simpatia”, a qual consiste na crença de que as coisas agem
umas sobre as outras, à distância, “através de uma simpatia secreta”.35
No mesmo sentido, Aleister Crowley sustentava que “não é
suficiente pretender que a imagem de cera seja a pessoa que você quer
enfeitiçar. É necessário estabelecer uma conexão real e ser capaz
disso”.36 Daí o uso generalizado de pedaços de roupa, cabelo, etc.
Teoricamente tudo que for feito ao fetiche reflete no ser vivo
representado. Certos acontecimentos simultâneos ou futuros devem
estabelecer a relação de causa e efeito sob pena de comprovação fática
da ineficácia do método. Por exemplo, certo relato passado de boca em
boca conta que, em 1968, no Haiti, um jovem foi surrado por um policial
e resolveu vingar-se levando um retrato de seu agressor a um velho
mágico. Este realizou passes sobre o objeto e vaticinou: “O que você
fizer à foto acontecerá ao seu dono”. 37 Trêmulo, o jovem haitiano furou o
olho esquerdo do retrato com a ponta de uma faca. No mesmo dia o
policial acidentou-se e furou o olho esquerdo com uma peça de madeira
pontiaguda.38

33
KLOETZEL, Kurt. O Que é Superstição. São Paulo, Brasiliense, 1990, p 13.
34
KLOETZEL, Kurt. O Que é Superstição. São Paulo, Brasiliense, 1990, p 15.
35
FRAZER, J. G. The Golden Bough. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 46.
36
CROWLEY, Aleister. Moonchild. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 46.
37
PARALIZADOS POR BRUXARÍA. Em: Homem, Mito & Magia, fascículo 33. SP, Três, 1973, p 667.
38
Em 1964, perto de Sandringham, Norfolk, foi encontrada uma boneca de 15 centímetros de comprimento,
feita de massa de modelar e com uma lasca de espinheiro perfurando-lhe o coração. Conforme a redação de
Homem, Mito & Magia, “o objetivo do feitiço tanto poderia ter sido o de matar a vítima, como o de seduzi-la,
ferindo seu coração com amor”. Mas, segundo Maria Helena Farelli, “dizem os vizinhos que a mulher que ali
morava morreu de ataque cardíaco”. (A Magia do Vodu. Rio de Janeiro, Luz de Velas, 1995, p 32).
No tratado De Enti Sprirituali o médico-alquimista Paracelso
assegura que “quando a imagem de um ladrão for golpeada, este será
forçado a voltar ao lugar onde roubou por mais longe que tenha ido”. 39
Por esta razão, na antiga França, “se as autoridades não conseguiam
encontrar um criminoso, executavam-no em efígie, declarando-o
legalmente morto”.40 O poeta latino Quinto Horácio Placo (65-8 a.C.)
escreveu sobre os malefícios da mítica feiticeira Medeia, que picava
bonecos de cera com alfinetes para causar desgraças às pessoas com
eles identificadas: “A morte de Germânico teria sido causada por este
tipo de magia”.41 No livro Magical Papyrus o egiptólogo M. Chabas
demonstra que o feitiço da figura de cera era conhecido no Egito. Esta
prática nasceu a partir de uma derivação do rito de criação das figuras
shabti, descrita no Papiro de Turim, decifrado e publicado em Paris em
1868. Esta fonte menciona uma conspiração contra um faraó na qual
“pretendia-se a morte do rei com a incineração, pura e simples, de
pequeninos bonecos de cera virgem, feitos à forma e semelhança de
cada elemento da corte”.42 Em 1447 a mulher do Duque de Gloucester
foi acusada de acender chamas perto de uma efígie do rei Henrique VI,
para matá-lo de insolação. Em face de sua posição social, a mulher
escapou à pena capital, mas seus dois cúmplices, Roger Brolingbroke e
um suposto feiticeiro, foram condenados.43 Em 1900 uma figura do
presidente McKinley, crivada de alfinetes, foi queimada nas escadas da
embaixada norte-americana, em Londres.

Uma boneca carregada de ódio pode matar?

Paracelso opinou que o espírito (ens spirituale) é produzido


(fabricat) pela vontade ou desejo, sendo “tão forte quanto o grau que a
vontade tenha alcançado”.44 Este espírito não deve ser confundido com
a alma (anima), a razão (mens), nem com as “obras, efeitos ou
conspirações” dos maus demônios (cacodoemones).45 O mundo material
difere do espiritual no qual “existem os desejos, os ódios, as discórdias e
toda uma série de sentimentos semelhantes”.46 O espírito de cada corpo
parece substancial, visível, tangível e sensível para outros espíritos com
os quais pode interagir. Contudo, como ele não é gerado pela razão nem
pela fé, mas pela vontade por intermédio do livre arbítrio, “todos os que
vivem de acordo com a sua vontade vivem no espírito, assim como
39
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 134.
40
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 58.
41
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 58.
42
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 58.
43
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 58-59.
44
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 126.
45
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 120.
46
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 126.
todos os que vivem de acordo com a razão o fazem contra o espírito”.
Dois espíritos podem ser unidos pelo amor, por laços e afinidades ou
“por tremendos ódios recíprocos”. 47 Às vezes dois espíritos lutam e se
ferem reciprocamente “estimulados por sua inimizade mútua”. A luta
acontece quando, por uma vontade fixa, firme e intensa, desejamos um
transtorno ou malefício para um outro indivíduo. 48

Se desejarmos com toda nossa vontade (plena voluntas) o mal de


outra pessoa, esta vontade que está em nós acaba conseguindo uma
verdadeira criação no espírito, impelindo-o a lutar contra o da pessoa
que queremos ferir. Então, se este espírito é perverso — mesmo que o
corpo correspondente não o seja — acaba deixando nele (no corpo) uma
marca de pena ou sofrimento, de natureza espiritual em sua origem,
ainda que seja corporal em algumas de suas manifestações. Quando os
espíritos travam essas lutas, acaba vencendo aquele que pôs mais ardor
e veemência no combate. Segundo esta teoria, devem compreender que
em tais contendas se produzirão feridas e outras doenças não-corporais.
Por conseguinte, toda uma série de padecimentos do corpo pode
começar desta maneira, desenvolvendo-se em seguida conforme a
substância espiritual.49

Antes de abraçar a teoria do retorno ou contra-ataque automático


e elevá-la ao cubo na moderna “lei tríplice” é importante lembrar que
séculos depois da publicação das obras de Paracelso os condenados por
envultamento ainda recebiam pena de morte pelo Santo Ofício. 50 Por
isso devemos interpretar com reserva e complacência as passagens
onde o médico-alquimista se expressa de forma fundamentadamente
temerosa ou dúbia. Quando Paracelso escreve aos padres que o
envultamento só atinge os “espíritos culpados”, assegura que não pode
acontecer “aos homens justos e honestos pelo simples motivo de que
seus espíritos se defendem e se protegem energicamente” e afirma que
não se trata de obra dos cacodoemones, ele certamente deseja
preservar a sua própria vida.51 Assim escreveu Luiz da Rocha Lima,
parafraseando Hans Holzer:

47
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 124.
48
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 128.
49
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 129.
50
Um casal foi executado em St. Albans, em 1649, sob a acusação de queimar uma boneca que
representava uma mulher. Uma feiticeira inglesa, executada em 1618, brigara com o cunhado que, depois,
viajou. Ela foi acusada de fazer um modelo de cera do navio e do capitão, com o qual teria causado o
naufrágio da embarcação e a morte do cunhado por afogamento. A tradição britânica atravessou o Atlântico
e liga-se a isso o fato de se relatar que nas paredes do celeiro da casa de uma das feiticeiras de Salem terem
sido descobertos bonecos feitos de trapos e pêlos de porco, nos quais estavam enfiados alfinetes sem
cabeça. Na casa de outra, dizem que havia pequenas bonecas de pano com enchimento de pêlos de bode, e
esta feiticeira teria sido obrigada a admitir ter torturado uma vítima, molhando seu dedo com cuspe e
acariciando uma das bonecas. (A MAGIA DA IMITAÇÃO. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p
45).
51
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 134.
Devemos desarraigar de nossas mentes a idéia que o mago negro
não pode prejudicar a nós outros, porque nós seguimos a senda reta ou
porque é vil ou perverso. É uma idéia equivocada difundida para evitar
que o homem se fortaleça e é propagada pelos seguidores do caminho
negro. É tão insensato como imaginar que se um boxeador profissional
estivesse boxeando com um menino, este ganharia, porque sua alma é
pura. Milhares de pessoas carecem de suficiente ambição para
desenvolver a força necessária. Vivem honestamente como bons
cristãos, tão negativamente puros que estão preconizando abertamente
que são alvo fácil para qualquer um aproveitar a oportunidade. Não são
negros em si mesmo, porém são do tipo que facilita a perpetuação da
magia negra.52

Retornando à tese de Paracelso, quando os corpos se ferem numa


luta nada acontece aos espíritos, “mas quando os espíritos brigam entre
si os corpos são afetados”. 53 A entidade espiritual é uma potência
perfeita que tem a finalidade de conservar seu próprio corpo e destruir o
do inimigo ad corpus universum violandum.54 Quem possui
conhecimento da matéria e domina a técnica poderia causar lesões
espirituais até produzir a morte da vítima ou transformá-la num escravo.
Por isso os adeptos da nigromancia seriam capazes de causar malefício
utilizando bonecos:

Se minha vontade se encher de ódio contra alguém, precisará


expressar este sentimento de alguma maneira. E isto será feito
justamente através do corpo. Sem dúvida, se minha vontade for
demasiadamente violenta ou ardente, pode acontecer que meu desejo
chegue a perfurar e ferir o espírito da pessoa odiada. E também posso
encerrá-lo à força (compeliam) numa imagem que eu consiga fazer dele,
deformando-a e distorcendo-a a meu gosto, atingindo assim também a
intenção de atormentar meu inimigo. 55 — Quando alguém modela uma
figura parecida com a do homem que se quer castigar, ou a desenha
numa parede, golpeando-a com picadas ou pancadas, tudo isso
acontece na realidade. A vontade do espírito transfere assim o
sofrimento simbólico da figura para a pessoa real que ela representa.
Por isso concluímos que os espíritos combatem entre si da mesma forma
que os homens.56 — Quando modelamos uma imagem de cera, a
enterramos e a cobrimos de pedras, projetando sobre ela a vontade do
espírito contra a pessoa representada (pela tal imagem), essa pessoa
será atacada pela ansiedade, principalmente, no local onde foram
acumuladas as pedras. E só se livrará da angústia quando sua imagem
for desenterrada. Da mesma forma, quando durante essas provas uma
das pernas da imagem se quebra, a pessoa representada sofrerá a
52
LIMA, Luiz da Rocha. A Luta Contra a Bruxaria. Rio de Janeiro, Educandário Social Lar de Frei Luiz, 1987, p
2.
53
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 127.
54
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 119.
55
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 132.
56
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 134.
mesma lesão. Assim também acontecerá se quisermos provocar feridas,
picadas, e outras coisas semelhantes. 57 — Quando todo este trabalho da
vontade estiver consumado pelo espírito influenciador sobre o sujeito
onde mora o espírito influenciado, ou em sua figura ou imagem, o
segundo terá se tornado prisioneiro do primeiro, sendo obrigado a
executar o que lhe seja ordenado.58

Ao comentar a medicina simpática “que medicava membros de


cera e operava sobre o sangue dado pelas chagas para curar as próprias
chagas”, Eliphas Levi sugere que “a homeopatia é uma reminiscência
das teorias de Paracelso e uma volta às suas práticas sábias”.59 Sua tese
do choque de retorno contém chaves ocultas muito fáceis de
compreender. O culposo lutador inconsciente ou doloso mago-negro que
castiga seu dagyde ainda não é um vampiro, pois ele causa malefícios
sem valorar a vitima como alimento. Mas a disputa espiritual é como
uma partida de boxe onde o vencedor e o perdedor saem repletos de
cicatrizes. Ganhando ou perdendo, quem permanece “impregnado de
ódio” atrai para si “todo o mal desejado aos outros” e contrai seqüelas
que não podem ser curadas por medicamentos mundanos. 60 Os
hematomas se acumulam a cada disputa, enfraquecendo o espírito e
produzindo reflexos no corpo físico. O único remédio para os males “que
correspondem ao espírito”61 é um filtro proscrito, chamado “nephesh
habashar” ou “anima carnis” que, sem delongas, consiste na aplicação
de sangue humano. Com ele “o corpo será curado imediatamente”.62

Sobre trabalhos e feitiços no Brasil:

Numerosos feitiços para o mal substituem um ser vivo (o homem)


por uma criatura morta com o objetivo que simular a sua morte. Talvez a
famosa simpatia que manda escrever o nome da pessoa odiada num
papel e costurá-lo dentro da boca de um sapo derive do costume dos
índios carijós que amarravam o sapo numa árvore invocando o mal a
alguém para que o animal morresse, apodrecesse, e,
conseqüentemente, a pessoa também. 63 Se bem que em 1932, na
França, o jornalista William Seabrook encontrou uma boneca de bruxa
crivada de alfinetes e borrada com sangue de sapo. Junto à boneca
havia uma Bíblia com um crucifixo invertido no qual um sapo havia sido
crucificado com a cabeça para baixo.64
57
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 130.
58
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 130.
59
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. Trd. Rosabis Camaysar. SP, Pensamento, 1997, p 358.
60
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 132.
61
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 135.
62
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 131.
63
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 59.
64
MAGIA NEGRA E FEITIÇARIA. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 16.
Há quem se valha de gatos, galinhas e até cadáveres na mesma
intenção. Por exemplo, em 1999, alguém violou o túmulo da atriz
Daniella Peres no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na intenção
de depositar “dois bonecos amarrados e espetados com alfinetes”.
Escreveram a data 28/12/1999 na lápide, parodiando a data do
assassinato da atriz em 28/12/1992, e depositaram ossos de animais
dentro do tumulo, junto dos bonecos e do cadáver, pois a polícia
encontrou ossos de animais perto do corpo na data do óbito. 65 (Acredito
que este feitiço tenha sido realizado na intenção de separar um casal
causando a morte ritualística da mulher, que deveria ter um fim tão
trágico quanto o da verdadeira ocupante do túmulo. As pontas do par de
sapatilhas que enfeitavam o jazigo também foram serradas para “fechar
os caminhos” dos enfeitiçados).
Existe um jogo de empurra na cultura afro-brasileira para
identificar os responsáveis pela prática ou apologia à violação de
sepulturas (ato ilícito tipificado no art. 210 do Código Penal), mas todos
sabem muito bem onde estes rituais são ensinados... Enquanto realizava
pesquisa de campo em diferentes cemitérios brasileiros, Clarival do
Prado Valladares descobriu “urnas de restos mortais trasladados,
violadas, com os ossos, cabelos e fragmentos de vestes, espalhados
sobre um batente” no interior de uma cripta com entrada de alçapão
pela Capela do Sacramento, anexa ao Convento de São Francisco, em
Deodoro. As paredes e teto daquela cripta estavam cobertas com
“inumeráveis inscrições” de nomes e datas “feitas a fumo de velas”, até
1965, escritas numa mesma caligrafia. Também no Cemitério de N. S. do
Rosário (1875), encontrou-se uma capela-jazigo cujo interior continha
“uma quantidade espantosa de objetos de uso pessoal (roupas, cartas,
retratos, vidros, terços, etc.) e todas as paredes preenchidas com nomes
e datas de pessoas riscadas a carvão, grafite, tinta, e também a fumo de
vela”.66
Existem contra feitiços para defender vítimas de magia pelo
“fechamento do corpo”. Diversos despachos para cortar olho-grande
exigem um par de pedras olho-de-boi inteiras ou furados com pregos
para que alguém ou toda a coletividade ao redor se torne incapaz de
projetar os malefícios da inveja. Uma variante manda, entre outras
providencias, colocar o nome do suspeito dentro de uma graviola e
espetar quarenta e dois palitos espalhados pela fruta. Noutra usa-se
uma imagem e deve-se “espetar os alfinetes nos olhos da boneca”. 67
Uma manipulação (kibo-ngela) de origem angolana manda extrair os
olhos de um peixe vermelho cru, em cujo interior é posto o nome da
pessoa, escrito numa fita roxa. O corpo do peixe é despachado na praia

65
MATHEUS, Letícia. Túmulo de atriz é violado. Em: EXTRA, 2ª edição, 30/12/1999, p 12.
66
VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros: Um estudo da arte cemiterial
ocorrida no Brasil desde as sepulturas de igrejas e as catacumbas de ordens e confrarias até as necrópoles
secularizadas. Vol I. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1972, p 439-1440.
67
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 50.
enquanto os olhos são enterrados no lodo e regados com urina
“chamando por Aluvaiá Mavunanguê”.68
Como nosso objetivo neste artigo é apenas a investigação do
método, despindo-o de seus adornos e contextos culturais, recomendo
aos interessados que leiam os livros Do Vodu à Macumba, de Márcia
Cristina (contém feitiços para o mal, para o bem, para questões de
amor, etc) e A Magia do Vodu, de Maria Helena Farelli (contém trabalhos
dos praticantes de Vodu de Nova Orleans). Para maiores detalhes
compilei alguns feitiços extraídos de outras fontes no final desta obra.

Uso artístico do feitiço com imagens:

Depois que as grandes organizações religiosas aglutinaram as


funções de cura, benção, etc., deixando as variantes negativamente
valoradas (vingança, manipulação, etc.) sob o monopólio dos antigos
feiticeiros, o feitiço com bonecas passou a ser considerado algo
essencialmente maligno.
Na ficção a magia-negra é anti-social, oposta aos valores
instituídos. O feitiço destinado à tortura e morte é freqüentemente
representado como um instrumento de vingança de pessoas que se
sentem profundamente contrariadas ou injustiçadas. Contudo, peca
contra o princípio do pecado quem pretende dar bom uso àquilo que
deveria ser essencialmente mau! No romance gráfico Feitiço, o
personagem Dr. Mago exorciza uma rapariga que se contorce em
convulsões e localiza o “trabalho” realizado no “centro de macumba” do
mago-negro Kaluk, sob encomenda de um pretendente rejeitado. “O
boneco da moça foi feito e espetado por longos alfinetes”. 69 Em A
Vingança do Vodu! (1980) a personagem Lia deixa-se desvirginar por
um vigarista que lhe promete casamento. Ela é abandonada grávida
pelo falso noivo, aborta o feto e pede à negra “bruxa do pântano” que
lhe ensina a trabalhar com dagyde a para trazer desgraça e morte ao
seu desafeto.70
Se a ação sobre uma imagem pode atingir o homem
negativamente porque a própria representação não poderia, ao
contrário, absorver o efeito deletério destinado ao seu modelo, livrando-
o do castigo do vício e do peso da idade? É isto que acontece no clássico
O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wide.

68
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 66.
69
SARKEY, Rick. Feitiço. Em: Almanaque Seleções de Terror: nº 11. São Paulo, Taika, não datado, não
paginado.
70
SAIDENBERG, Luis (arte) e CAMERA, Pietro La. A Vingança do Vodu! Em: SPEKTRO, nº 19. Rio de Janeiro,
Vecchi, dezembro de 1980, p 98-110.
Principio da similitude mínima:

“Quer fazer mal a alguém? Vamos fazer uma boneca feita de cera,
massa ou chumbo ou pano, vamos prepará-la e ela vai matar ou
prejudicar quem a senhora queira”, falou o dono de uma loja vodu no
Plaza de Aemas, em Nova Orleans, à Maria Helena Farelli no início da
década de 90. Encantada pelos saquinhos de pó de amor, gotas de
atração, óleo do inferno, diabinho na garrafa e pelo “negro belíssimo”
que os estava vendendo, a brasileira enche sua sacola de produtos
exóticos e o interroga longamente sem revelar que ela própria é uma
especialista no assunto. Ele mostra bonecos feitos de pedra com goma,
feios e retorcidos, “fala e está sério como um monge negro”:

Faz-se uma imagem da pessoa que se quer matar com pó de


pedra misturado com goma, depois coloca-se a imagem junto ao deus
vodu que se adora, coloca-se a imagem dentro de um vaso e queima-se
o vaso e o boneco no forno. Depois retira-se o vaso já chamuscado e
põe-se um pedaço de gelo na intenção da pessoa. O gelo se derrete e a
feitiçaria está completa... Ela funciona melhor que uma bola enfeitiçada,
mas se não for feita no preceito dá choque de retomo em quem faz.
Quando o voduno espeta uma boneca com ódio ele está usando este
sentimento para transferir para a pessoa o que quer que aconteça. A
vítima só sente os efeitos do feitiço quando a imagem (boneca) está
carregada de ódio e é deliberada e não ocasionalmente maltratada...
Trouxe chumaço de cabelo da vítima, pedaços de unhas? 71

Maria não tinha nenhum inimigo nem carregava mechas do cabelo


de cobaias humanas na bolsa. A falta destes ingredientes pôs fim à
negociação.

A imagem deve necessariamente ser feita na intenção da vítima


para que o alvo seja certo, recebendo o mesmo nome e adicionando-se
pedaços da roupa, unhas, cabelos, etc., do suplicado em sua
composição. Como o vulto ou dagyde é um suporte de bruxarias
dirigidas a probabilidade de êxito do malefício é diretamente
proporcional à semelhança da representação com seu modelo. Se o
suplicado é religioso, além da similitude física é preciso simular-lhe a fé.
Para castigar ou amarrar um cristão os autores mandam misturar a cera
com “gotas de óleo ou vinho consagrado na missa” 72 e “cinzas de
hóstias queimadas”.73 É recomendável ministrar ao dagyde “todos os
sacramentos que a pessoa tenha recebido”, tais como batismo,
penitência, matrimônio e eucaristia.74

71
FARELLI, Maria Helena. A Magia do Vodu. Rio de Janeiro, Luz de Velas, 1995, p 31-33.
72
FARELLI, Maria Helena. A Magia do Vodu. Rio de Janeiro, Luz de Velas, 1995, p 98.
73
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. Trd. Rosabis Camaysar. SP, Pensamento, 1997, p 355.
74
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 60.
O que acontece depois depende da intenção do feiticeiro. Para
matar a vítima executa-se o boneco. Criava-se a figura de alfinetes,
punhaladas, cacos de vidro, etc., proferindo “palavrões e ofensas à
vítima”.75 Neste momento ele xinga, pragueja e “lança mil injúrias contra
a vítima”.76

Os ritos de carregar são meios de concentrar a fúria do mago


vodu, mas, mesmo assim, a imagem passa a contar com uma vitalidade
demoníaca própria. Segundo Bernard Bromage, “uma imagem pode ser
carregada de ódio de várias maneiras: ‘oração’ invertida; queima de
incenso; sacrifício de sangue em sua proximidade; impacto súbito de um
veneno paralizador. Tudo isso pode contribuir para que uma imagem,
especialmente uma já associada à destruição, ganhe uma negra e
abundante vitalidade que pode destruir a si própria, no consciente e
subconsciente, sobretudo durante o sono”.77 Uma variante curiosa
simula a sufocação por enforcamento. João do Rio descreve um
procedimento em que o bruxo estendia uma corda com um nó sobre o
boneco de cera, e dizia as seguintes palavras mágicas: “Arator,
Lepidator, Tentator, Soniator, Ductor, Comestos, Devorator, Seductor!”
Depois, praguejando, apunhalava a boneca e a atirava ao fogo. 78
Embora concordasse com Paracelso quanto à ausência de
influência demoníaca no envultamento, Eliphas Levi entende que os
praticantes tinham intenção de invocar o diabo:

Os necromantes da Idade Média, ansiosos de agradar por


sacrilégios àquele que consideravam como seu senhor, misturavam esta
cera com óleo batismal e cinzas de hóstias queimadas. Padres apóstatas
sempre se encontravam para lhes dar os tesouros da Igreja. Formavam
com a cera maldita uma imagem tão parecida quanto possível com
aquele que queriam enfeitiçar; cobriam esta imagem com vestidos
iguais ao dele, davam-lhe os sacramentos que ele tinha recebido, depois
pronunciavam sobre a cabeça da imagem todas as maldições que
exprimiam o ódio do feiticeiro e cada dia infligiam a esta figura maldita
torturas imaginárias, para atingir e atormentar, por simpatia, aquele ou
aquela que a figura representava. O enfeitiçamento é mais infalível se a
pessoa puder obter cabelos, sangue e, principalmente, um dente da
pessoa enfeitiçada. É o que deu lugar a este modo de falar proverbial:
“Tendes um dente contra mim”.79

O antídoto ideal é sugerido pelo mesmo autor:

75
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 60.
76
FARELLI, Maria Helena. A Magia do Vodu. Rio de Janeiro, Luz de Velas, 1995, p 98.
77
BROMAGE, Bernard. The Occult Arts of Ancient Egypt. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p
45-46.
78
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 60.
79
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. Trd. Rosabis Camaysar. SP, Pensamento, 1997, p 355.
Para o enfeitiçamento pela figura de cera, é preciso fazer uma
figura mais perfeita, pôr da própria pessoa tudo o que puder dar, pôr-lhe
ao pescoço os sete talismãs, colocá-la no meio de um grande pentáculo
representando o pentagrama e esfregá-la levemente, todos os dias, com
uma mistura de óleo e bálsamo, depois de ter pronunciado a conjuração
dos quatro para desviar a influência dos espíritos elementares. No fim de
sete dias, será preciso queimar a imagem no fogo consagrado, e
podereis ter certeza de que a estatueta fabricada pelo enfeitiçado
perderá, no mesmo instante, toda a sua virtude. 80

Uma escultura perfeita, impecável, é o que todos desejam seja


para ataque ou defesa. Porém, sempre foi dificílimo encontrar feiticeiros
com habilidade artística suficiente para esculpir miniaturas humanas de
qualidade. Daí o estabelecimento oficioso de uma espécie de princípio
da similitude mínima. É por isso que encontramos a foto de uma
“boneca de feitiço” feita de penas, entranhas de animal e linha preta
que certamente não se parece em nada com o suplicado ao qual
representa na página 58 do livro Do Vodu à Macumba. Pelo mesmo
motivo os brasileiros podem usar um par de olhos-de-boi para substituir
olhos humanos ou rabiscar apenas os nomes dos suplicados na cripta do
antigo Convento de São Francisco e na capela-jazigo do velho Cemitério
de N. S. do Rosário. “Pegue um ovo podre e escreva nele o nome da
pessoa nove vezes”, diz uma fórmula para fazer com que uma persona
non grata vá embora, “Escreva, também, para onde quer que ela vá. À
meia-noite atire o ovo contra a porta da casa da vítima”.81

Envultamento mediante hipnotismo:

Desde o séc. XIX a fotografia tornou-se uma alternativa


tecnológica para os que rejeitam a similitude mínima, tendo como único
ônus o abandono do modelo tridimensional em favor do retorno à
técnica pré-histórica da representação de figuras planas. Neste caso,
convencionou-se que os instrumentos ideais de suplício são pregos ou
alfinetes de ferro enferrujado. (O sincretismo ou aglutinação também
incluiu a foto entre as amostras de unha, cabelo, etc., a serem
introduzidas no peito dos bonecos tridimensionais). No Brasil o termo
envoûtement foi aportuguesado para envultamento, aportando no Rio
de Janeiro já sobrecarregado de vetos morais e de uma profunda carga
de espiritismo europeu. Com as experiências sobre a exteriorização da
sensibilidade nos estados profundos da hipnose, levadas a cabo a partir
de 1891 pelo Coronel A. de Rochas, a investigação psíquica passou a
problematizar a possibilidade científica do fenômeno. Para proceder por
ordem, vamos narrar a primeira experiência compilada por Papus,

80
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. Trd. Rosabis Camaysar. SP, Pensamento, 1997, p 358.
81
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 73.
realizada no Laboratório da Caridade, tal como foi publicada nos jornais
diários do mês de Agosto de 1902:

Rochas tentou transportar a sensibilidade de um paciente para uma


placa fotográfica. Colocou uma primeira placa em contato com um sujet não
adormecido: a fotografia do paciente, obtida em seguida, não apresentou
nenhuma relação com ele. Uma segunda, posta anteriormente em contato com
um paciente adormecido, ligeiramente exteriorizado, deu uma prova apenas
sensível por relação. Uma terceira, enfim, que, antes de ser colocada no
aparelho fotográfico, havia sido fortemente carregada com a sensibilidade do
sujet adormecido, deu uma fotografia que representou os mais curiosos
caracteres. Toda vez que o operador tocava na imagem, o paciente fotografado
o sentia: Por fim, tomou aquele, um alfinete e arranhou duas vezes a película da
placa no lugar da mão. Neste momento, o paciente desmaiou, em completa
contratura. Quando voltou a si, pode-se ver sobre a mão dois estigmas
vermelhos sobre a epiderme, correspondendo às duas arranhaduras da película
fotográfica. Rochas acabava de realizar tão completamente quanto possível, o
envultamento dos antigos. (La Justice — 2 de agosto).82

Vejamos, agora, os pormenores dados pelo próprio Coronel Rochas


na L’Initiation (vol. XVII, n.º 2, de Novembro de 1892). Os fatos que se
passaram em 2 de Agosto ocorreram com a mesma paciente na qual p ôde-se,
algumas vezes, determinar o fenômeno de dermografia
(entumescimento da pele pela simples passagem de uma ponta
romba).83

A maioria dos pacientes, quando se hipereteziam seus olhos por meio de


certas manobras, vê escapar-se dos animais, vegetais, cristais e imãs, alguns
clarões que poderiam ter uma relação direta com essas irradiações. Foi o que
constatou pela primeira vez, há cerca de cinqüenta anos, por meio de
numerosas experiências, um sábio químico austríaco, o barão de Reichenbach.
No homem, esses eflúvios saem dos olhos, das narinas, das orelhas e da
extremidade dos dedos, enquanto que o resto do corpo é análogo a uma
penugem luminosa. Quando se exterioriza a sensibilidade de um paciente, o
“sujet” vidente vê este envoltório luminoso deixar a pele e situar-se no ar
justamente nos pontos onde se pode verificar diretamente a sensibilidade do
paciente por meio de contatos ou picadas.
Continuando as manobras que produzem a exteriorização, vi, com o
auxílio destes diversos processos, que se formavam sucessivamente uma série
de camadas sensíveis muito delgadas, concêntricas, separadas por zonas
insensíveis, até vários metros do paciente. Estas camadas distam umas das
outras cerca de 5 a 6 centímetros e a primeira é separada da pele, que fica
insensível, apenas a metade desta distância...
O que eu considero perfeitamente estabelecido é que os líquidos, em
geral, não somente detêm o od, mas o dissolvem, isto é, que, fazendo-se
atravessar, por exemplo, um copo cheio de água por uma das camadas
sensíveis mais próximas do corpo, produz-se uma sombra ódica, e as camadas
seguintes desaparecem por detrás do copo até chegarem a uma certa distância;
além disto, a água do copo torna-se inteiramente sensível e emite mesmo, ao
cabo de um certo tempo (provavelmente quando ela está saturada) vapores
sensíveis que se elevam verticalmente sobre a superfície do líquido. Enfim, se
82
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 397.
83
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 401, nota 21.
se afasta o copo, a água que ele contém fica sensível até uma certa distância;
além da qual o laço que a une ao corpo do paciente parece romper-se, depois
de ir-se gradualmente enfraquecendo.
Até este momento, o paciente percebe, sobre a parte de seu corpo mais
próxima do lugar em que se acha a água carregada de sensibilidade, todos os
toques que o magnetizador faz no líquido, se bem que a região do espaço para
onde se transportou o vaso não contenha, fora deste recipiente, mais nenhuma
parte sensível.

***
A analogia que apresenta este fenômeno, com as histórias de pessoas
que se fazem morrer à distância, ferindo uma figura de cera modelada à sua
imagem, é evidente. Procurei ver se a cera não gostaria, como a água, da
propriedade de armazenar a sensibilidade e reconheci que ela a possuía em alto
grau, assim como outras substâncias gordurosas, viscosas ou aveludadas como
o cold-cream e o veludo de lã. Uma estatueta confeccionada com cera de
modelar e sensibilizada, sendo colocada alguns instantes em face e a uma
pequena distância de um paciente, reproduzia neste as sensações das picadas
que eu fazia na cera; ora no alto do corpo, se eu picava a figura na cabeça, ora
na parte inferior, se eu a picava nos pés. (Quer isto dizer que a picada era
sentida de maneira mais ou menos vaga nas regiões que haviam enviado mais
diretamente seus eflúvios). Entretanto, cheguei a localizar exatamente a
sensação, colocando, como os antigos feiticeiros, na cabeça de minha figurinha,
uma mecha de cabelos cortada da nuca do paciente durante seu sono
hipnótico.
Esta foi a experiência da qual nosso colaborador na Cosmos foi
testemunha e mesmo autor; ele havia transportado a estatueta assim
preparada para trás das gavetas de uma escrivaninha, onde não a podíamos
ver, nem o paciente, nem eu. Despertei Mme. L... que, sem deixar seu lugar,
pôs-se a conversar com ele até o momento em que, voltando-se bruscamente e
levando a mão à parte posterior da cabeça, perguntou, rindo, quem lhe puxava
pelos cabelos; era no momento preciso em que X. tinha, sem que eu visse,
puxado pelos cabelos da estatueta.
Os eflúvios, parecendo refratar-se de maneira análoga à luz, que talvez
os arraste em sua projeção, pensei que si se a projetasse, com o auxílio de uma
lente sobre uma camada viscosa, a imagem de uma pessoa suficientemente
exteriorizada, poderia chegar-se a localizar exatamente as sensações
transmitidas da imagem à pessoa. Uma placa carregada de gelatino-bromuro e
um aparelho fotográfico me permitiram realizar facilmente a experiência que só
teve êxito completo quando eu tive o cuidado de carregar a placa de
sensibilidade do paciente antes de a colocar no aparelho. Mas, operando assim,
obtive um retrato tal, que se o magnetizador tocava um ponto qualquer do rosto
ou das mãos sobre a camada de gelatino-bromuro, a paciente sentia a
impressão no ponto exatamente correspondente; e isto não só imediatamente
depois da operação, mas ainda três dias depois, quando o retrato foi fixado e
colocado perto da paciente. Esta parecia nada ter sentido durante a operação
de fixagem, feita longe dela, e sentia igualmente bem pouco quando se tocava,
em lugar da camada de gelatino-bromuro, a chapa de vidro que lhe servia de
suporte.
Querendo levar a experiência o mais longe possível e aproveitando a
presença ali de um médico, piquei violentamente, sem prevenir e por duas
vezes, com um alfinete, a imagem da mão direita de Mme. L..., que soltou um
grito de dor e perdeu os sentidos por um instante. Quando voltou a si,
observamos sobre o dorso de sua mão duas raias vermelhas sub cutâneas que
ela não tinha antes, e que correspondiam exatamente às duas arranhaduras
que meu alfinete havia feito sobre a camada gelatinosa.84

Numa nova experiência com Mme. L o coronel Rochas descobriu


que o clichê era sensível apenas aos seus contatos, sendo que os do
fotógrafo só eram sentidos quando ele tocava o homem que tocava o
clichê. Em 9 de outubro, tendo sido tirada uma prova sobre papel, “a
paciente percebia sensações gerais agradáveis ou desagradáveis”. 85
Dois dias depois toda sensibilidade havia desaparecido tanto no clichê
como na prova. Consta que o dr Luys reproduziu o fenômeno, tendo
conseguido obter a transmissão de sensibilidade a 35 metros alguns
instantes depois da “pose”. D’ Arsac repetiu a experiência da placa
fotográfica sensibilizada e contestou a conclusão de Rochas em artigo
no jornal Paris-Bruxelles de 12 de outubro e 1862. Em sua concepção “o
que se tomou por fenômeno de envultamento não foi mais que um
fenômeno de sugestão”86 porque “na ausência do hipnotizador, podia-se,
nove vezes sobre dez, picar o retrato, sem que a hipnotizada sentisse
dor alguma. Nunca a paciente experimentou a menor dor, quando o
clichê era picado por uma pessoa que ignorasse completamente o fim
da experiência”. 87
Existe, portanto, certa polêmica sobre se a cera, a água, o gelatino-
bromuro e outras substâncias seriam capazes de armazenar impressões
sensíveis e afetar cobaias hipnotizadas ou se, ao contrário, é a mente do
hipnotizador que trabalha, servindo o objeto como mero fetiche que o
auxilia a concentrar-se num objetivo (afetar a sensibilidade da cobaia).
Mas isso não impediu a difusão e distorção da novidade e logo surgiu
uma infinidade de adaptações do envultamento por fotografia. “Obtenha
uma fotografia e uma mecha do cabelo da vítima”, diz uma fórmula
popular que ignora a hipnose, “Enterre-os juntos, de preferência na lama
ou em areia umedecida, onde os objetos se desintegrem rapidamente.
Da mesma forma, a vítima irá se desintegrando até a morte”.88

Quando intentamos violar as leis divinas quebrantamos nosso


corpo e tornamos negativa a nossa consciência, abrindo aqueles centros
de nosso Ser que nos expõem a ser influenciados e às vezes obsidiados
pelas forças negras. Isto constitui um crime quase tão grande como o
exercer a Magia Negra. O homem deve compreender que não é possível
nenhum compromisso ou pactos entre o Mal e o Bem; ou está de um

84
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 397-400.
85
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 400, nota 20.
86
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. SP, Pensamento, 1978, p 400-401, nota 20.
87
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. SP, Pensamento, 1978, p 400-401, nota 20.
88
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 72.
lado ou do outro, e quando lhe aparece a dúvida, esta é um atributo de
Satã. 89

Numa das reuniões de anti-goécia “rematerializaram-se ossos em


decomposição, das sepulturas”.90

Segundo Hans Holzer, os cabelos e as unhas carregam a imagem


psicossomática de seus donos e permitem ao feiticeiro sintonizar-se
mais facilmente com as vibrações da vítima. A fotografia tem o mesmo
efeito, como se fosse parte desta pessoa. Este autor submeteu
fotografias a médiuns psicômetros que, através delas, forneceram
detalhes da vida das pessoas fotografas, incluindo informações que
diziam respeito a personalidades secundárias ligadas a ela.

Numa recente investigação, na qual cooperei com a polícia, um


médium conseguiu localizar um assassino em potencial através da
fotografia da vítima. Quando chega o momento adequado de matar a
vítima, o feiticeiro entra num estado de exaltação e delírio, alcançado
por meio de drogas aromáticas ou auto-hipnose; formula o ato de morte
em sua mente, com a miniatura nas mãos (dágide) e em frente de seus
olhos, emite a fórmula de pensamento da morte da vítima. Se ele sabe
onde ela se encontra, a mensagem a alcança e ela não pode escapar
daquilo que não sabe que está indo ao seu encontro. A concentração de
energia contendo desejo de morte alcança e fere sua aura. Muitas vezes,
são necessários muitos desses assaltos mentais antes que a pessoa
morra.91

Já vimos as fotos de irmãos vítimas dessas forças negativas, até


crianças ajudados por Frei Luiz e pela misericórdia de Deus.

89
LIMA, Luiz da Rocha. A Luta Contra a Bruxaria. Rio de Janeiro, Educandário Social Lar de Frei Luiz, 1987, p
2.
90
LIMA, Luiz da Rocha. A Luta Contra a Bruxaria. Rio de Janeiro, Educandário Social Lar de Frei Luiz, 1987, p
228.
91
HOLZER, Hans. A Verdade Sobre a Bruxaria. Record, p 193-194. In: LIMA, Luiz da Rocha. A Luta Contra a
Bruxaria. Rio de Janeiro, Educandário Social Lar de Frei Luiz, 1987, p 214-215.
ANEXO
Tomei a liberdade de compilar alguns rituais bizarros somente
para estudo folclórico-antropológico. Não creio que nada disto funcione e
não recomendo que seja tentado. Além de antiéticos, os crimes de
perturbação de cerimônia funerária, violação de sepulturas, destruição e
vilipêndio a cadáver estão todos tipificados do artigo 209 ao 212 do
Código Penal Brasileiro, assim como os maus tratos a animais ganharam
penalidades mais severas com o artigo 32 da Lei Federal nº. 9.605/98.

A AGULHA ENCANTADA

São Cipriano, propositalmente, tornava suas mágicas bem difíceis


de preparar, a fim de evitar que caísse na mão de pessoas ignorantes ou
mal intencionadas. Hoje, que o povo está mais evoluído, há mais
instrução, pode-se publicar as fórmulas mágicas sem aqueles obstáculos
propositais.
A mágica da agulha falava em passar uma agulha com um fio de
linho galego por três vezes, pela pele da barriga de um defunto. No
original grego São Cipriano fala “epiderme” (επιδερμίδα) significando
“em cima da pele”. (...) Referia-se pois, São Cipriano à mortalha do
defunto e não ao seu corpo. (...) Para fazer esta mágica deve-se oferecer
para ajudar a costurar a mortalha ou a roupa de um defunto. Leve uma
agulha virgem e use-a para isso. Enquanto costura a peça concentre-se
nas seguintes palavras: “Fulano (o nome do morto) esta agulha na tua
pele vou passar, para que fique com força de encantar”. Terminado leve
a agulha para casa e guarde-a muito bem, pois servirá para muitas
mágicas.92

PARA QUE UM MORTO NOS LIVRE DE UMA DOENÇA

Aproximai-vos de um defunto que esteja para ser enterrado, e


dizei: “Fulano (dizei o nome do morto), já que estás indo embora, leva
contigo esta minha doença (dizei o nome da doença), para que eu dela
fique livre, e nunca mais volte a sofrer dela nem de coisa parecida”.93

TRABALHO AOS PÉS DE UM MORTO PARA MATAR ALGUÉM

Deve-se dirigir a um cemitério em que esteja acontecendo um


velório (...) sendo que de preferência o defunto seja amigo ou conhecido,
mas se não o for que saiba-se o nome do mesmo. (...) Aproximando-se
do defunto, o que deverá ser feito pelos pés do defunto, finge-se que se
92
GEMWY, Murzim G. O Grande e Legítimo Livro Vermelho e Negro de São Cipriano. São Paulo, Edrel, p 77.
93
BAKKATUYU, Sirih. Livro do Touro Negro. Rio de Janeiro, Ediouro, p 87.
está arrumando as flores que por certo estarão cobrindo o cadáver, e
com muito cuidado e concentração, mentaliza-se o nome da pessoa que
se quer despachar para o “outro mundo” e, com um pedaço de papel
branco em que já deverá ter sido escrito o nome completo dessa pessoa,
enterra-se no meio das flores. Ao fazê-lo, como se falasse a si próprio,
pede-se ao defunto que, ao partir para a eternidade leve com ele a tal
pessoa. A seguir dever-se-á dirigir para o lado em que se encontra a
cabeça do defunto e, curvando-se como se ao seu ouvido algo fosse
dizer, pronuncia-se novamente o nome da pessoa que se quer
despachar e pedir, mais uma vez, ao morto, que a leve desta para outra
vida. (...) Ao sair dirigi-se imediatamente ao Cruzeiro das Almas e
acende-se uma vela preta em homenagem a seu Omulu e pede-se ao
mesmo que tome conta da pessoa que se quer despachar.94

OUTRO TRABALHO AOS PÉS DE UM MORTO PARA MATAR


ALGUÉM

Pegue um boneco de pano ou de cera e o batize em uma


cachoeira com o nome da pessoa a ser atingida. Vá ao cemitério, segure
o boneco com a mão esquerda e vá espetando alfinetes e agulhas
virgens no boneco. A cada parte do boneco que for espetada, deve-se
dizer: Com este alfinete estou atingindo fulano na perna, na cabeça e
assim por diante. Depois de espetar todas as partes do corpo, enfie uma
agulha no coração do boneco e diga as mesmas palavras. A seguir,
enterre o boneco aos pés de um defunto fresco e peça a este que o leve
com ele.95

TRABALHO PARA QUE TODOS OS MORTOS PERSIGAM ALGUÉM

Obtenha uma amostra do cabelo da vítima, e coloque-a num


pequeno caixão. Enterre-o num cemitério. Em três dias a pessoa
morrerá.96

EXEMPLOS DE CASOS CONCRETOS

O achado mais estranho nessas pesquisas ocorreu no velho cemitério,


de cripta, no antigo Convento de São Francisco, de Vila Velha de Alagoas, hoje
Deodoro. O cemitério em desuso, com entrada de alçapão pela Capela do
Sacramento, consta de uma cripta de cerca de 4 X 6 m em correspondência às
dimensões da capela, com carneiros construídos nas paredes laterais e lajes de
campas. Sua coberta tem a altura máxima de 2,5 m. Fizemos a documentação
fotográfica com um refletor que providencialmente nos serviu para o exame
detalhado das inumeráveis inscrições de nomes de pessoas e datas recentes,

94
STAMM, Samuel. O Livro de São Cipriano. Rio de Janeiro, Rede Carioca, 2002, p 103.
95
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 85.
96
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, 72.
até de 1965, em letras de imprensa e de uma mesma caligrafia, enchendo
totalmente o forro abobadal da cripta. De maneira alguma aquelas inscrições,
feitas a fumo de velas, contra o reboco, poderiam corresponder aos nomes dos
sepultados. Praticamente todas as datas já estavam fora do seu uso, e nem há
sinais nem notícias de sepultamento nestes últimos decênios. Encontramos
urnas de restos mortais trasladados, violadas, com os ossos, cabelos e
fragmentos de vestes, espalhados sobre um batente.
As freiras que dirigem o educandário instalado no antigo convento
franciscano de Deodoro nada sabem informar porque é uma ocorrência antes
da presença delas. Em nossa interpretação trata-se de prática de feitiçaria,
com uma caligrafia idêntica para várias inscrições, cujos nomes não parecem
ser de mortos, mas de indiciados do fetichismo. Nada mais podemos indicar
sobre esses achados, ignorados pelas pessoas locais, senão a evidência das
fotografias.
No velho Cemitério de N. S. do Rosário (1875), das ruínas de Iguaçu
Velha, além da prática de macumba em torno do Cruzeiro, que tem ação votiva
e de apelo nas viscitudes dos crentes, há os restos de um luxuoso e impotente
jazigo de cerca de cinco metros de altura construído em base de alvenaria
revestida de laje de mármore, pedestal e nicho em colunatas de mármore.
Próximo deste jazigo encontram-se os restos da base de uma capela-jazigo
cuja entrada foi fechada por parede de alvenaria e na qual, posteriormente, se
fez uma abertura de 40 X 50 cm. Examinando o interior desta capela-jazigo,
com o foco de uma lanterna, encontramos uma quantidade espantosa de
objetos de uso pessoal (roupas, cartas, retratos, vidros, terços, etc.) e todas as
paredes preenchidas com nomes e datas de pessoas riscadas a carvão, grafite,
tinta, e também a fumo de vela. Há uma certa semelhança entre esta
observação e aquela outra de Deodoro, de Alagoas. Nossa cautela está em
diferenciar a prática ingênua da macumba, em termos de ação votiva e de
apelo, com esta outra de caráter de feitiçaria demonológica capaz de atingir a
criminalidade do vandalismo, do sacrifício e do infanticídio que não é tão
desconhecido do próprio noticiário dos jornais brasileiros. 97

TRABALHO PARA MATAR ALGUÉM

Em 1939, teria chegado mais uma receita, procedente de Illinois,


Estados Unidos: “Uma maneira segura de matar um homem é colocar
sua imagem sob uma cantoneira do telhado da casa de quem executa o
feitiço, durante tempo chuvoso, e deixar que a água pingue sobre ela”.98

O MALEFÍCIO DA FIGURA DE CERA

Pegue um pedaço de cera virgem, amolece-o em água quente,


modela então com ele uma figurinha, pensando intensamente nas
pessoas que queres enfeitiçar: “Fulano de Tal, à tua semelhança faço

97
VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros: Um estudo da arte cemiterial
ocorrida no Brasil desde as sepulturas de igrejas e as catacumbas de ordens e confrarias até as necrópoles
secularizadas. Vol I. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1972, p 439-1440.
98
A MAGIA DA IMITAÇÃO. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 44.
esta efígie para que tu fiques amarrado a ela de tal maneira que teu
corpo seja seu corpo e o seu seja lugar de todas as sensações”.
Se tens cabelos, algum dente ou aparas de unhas provenientes da
pessoa que estás enfeitiçando, põe na figura e, se possuis roupas ou
peças interiores usadas pela vítima, faze com elas um vestuário que o
relembre quanto seja possível.
Disposta assim a figura, uma noite à hora de Saturno atravessa-a
em todos os sentidos, com agulhas ou espinhos envenenados, cobre-a
de injúrias e maldições em nome de Guland, imaginando firmemente
que tens à tua frente a mesma pessoa de corpo e alma; joga por fim o
boneco no fogo.
Se tudo isto fizeres como digo, pondo toda tua fé e força de
vontade, não duvides de que, como a cera se derreterá e consumirá,
assim se consumirá a pessoa sofrendo dores agudas em todas as partes
correspondentes às feridas feitas na figura.
Eis a descrição do enfeitiçamento clássico, que se encontra com
ligeiras variações na maioria dos antigos grimórios. Em alguns, à
descrição copiada, acrescenta-se: “A figurinha de cera pode ser
substituída por um sapo vivo” mas as imprecações são as mesmas.
Outra prática requer que o sapo seja amarrado com cabelos da vítima e,
depois de ter cuspido sobre ele, enterra-se sob a entrada da casa da
pessoa enfeitiçada ou em outro sítio sobre o qual a pessoa tenha que
passar com freqüência.99

CASTIGO DE AMOR

Para se castigar alguém que não cede às nossas solicitações


amorosas, se for mulher, consiga um sapo e, segurando-o com a mão
direita, estando inteiramente nua, passe-o pela barriga, até o sexo, por
sete vezes, dizendo: “Sapo, sapinho, assim como eu te passo na minha
vagina, assim também (fulano) não tenha sossego nem descanso,
enquanto não me procurar para praticar aquilo que desejo, ficando sob
meu poder, de corpo e alma”.
Pega-se linha de retroz verde, com uma agulha bem fina, e
costura-se as pálpebras do sapo, com o máximo cuidado para não cegá-
lo (se isso acontecer poderá cegar a pessoa a quem se destina a magia)
dizendo: “Assim como este sapo deixará de ver, (fulano) também
deixará de ver outras mulheres, tendo olhos só para mim”.
Guarda-se o sapo em uma gaiola onde se deverá alimentá-lo até
ter conseguido tudo. Depois disso, com uma tesourinha de unha, corta-
se a linha e solta-se o são em alguma lagoa.100

COMO FAZER UMA MULHER APAIXONAR-SE POR UM HOMEM

99
LE DRAGON ROUGE. Em: N. A.MOLINA. Nostradamus, a Magia Branca e a Magia Negra. (2a edição). Rio de
Janeiro, Espiritualista, p 122-124.
100
GEMWY, Murzim G. O Grande e Legítimo Livro Vermelho e Negro de São Cipriano. São Paulo, Edrel, p 67.
Faz-se a imagem de cada um deles com pó de pedra, misturado
com goma e, depois, colocam-se as imagens, frente a frente, em um
vaso com sete brotos; queima-se o vaso no forno, a seguir acende-se o
fogo na lareira e põe-se um pedaço de gelo no fogo; quando o gelo
derrete, tira-se o vaso e a feitiçaria está completa. O fogo derretendo o
gelo representaria o amor aquecendo os corações do homem e da
mulher.101

MAGICA NEGRA OU FEITIÇARIA QUE SE FAZ COM DOIS BONECOS,


PARA FAZER MAL A QUALQUER CRIATURA

Fazei dois bonecos. Um deles significa a criatura a quem se vai


fazer o feitiço, e o outro significa o que vai enfeitiçar. Depois que os
ditos bonecos estejam prontos, deveis uni-los um ao outro, de maneira
que fiquem muito abraçados. Depois de tudo isto pronto, atrai-lhes a
ambos uma linha em volta do pescoço, como quem os Está a esganar, e
depois de feita esta operação pregai-lhe cinco pregos, nas partes
indicadas:

1° Na cabeça, que vare um e outro.


2º No peito, da mesma maneira.
3° No ventre, que vare de um lado ao outro.
4° Nas pernas, que vare de um ao outro lado.
5° Nos pés, de modo que lhes fure de um lado ao outro.

Há ainda uma condição é que os ditos pregos devem ser


empregados com acompanhamento das seguintes invocações nos
diferentes sítios em que se espetam:

1° prego — Fulano ou fulana, eu, fulano, te prego e te amarro e


espeto o corpo, tal e qual como espeto, amarro e prego a tua figura.
2º prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te juro debaixo do poder
de Lúcifer e Satanás que, de hoje para o futuro, não hás de ter nem uma
hora de saúde.
3° prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te juro debaixo do poder
da mágica malquerença, que não hás de hoje para o futuro, ter uma só
hora de sossego.
4° prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te juro debaixo do poder
de Maria Padilha, que de hoje para o futuro ficarás possesso de todo o
feitiço.
5° prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te prego e amarro dos pés
à cabeça, pelo poder da mágica feiticeira.

101
PICATRIX. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 45.
Desta forma a criatura enfeitiçada nunca mais pode ter uma hora
de saúde.102

EXEMPLO DE CASO CONCRETO

Os ossos da atriz Daniella Peres, assassinada em 28 de dezembro


de 1992, foram transferidos pela família para um lugar não revelado,
depois que foi constatada a violação do túmulo da atriz, no Cemitério
São João Batista, em Botafogo. De acordo com a novelista Glória Perez,
mãe da vítima, o túmulo foi aberto na semana do Natal, e, dentro dele,
havia flores do cruzeiro. Ao lado, foram encontrados dois bonecos
amarrados e espetados com alfinetes. Na lápide, uma inscrição indicava
a data do assassinado. — “Havia um detalhe impressionante, que nos
remete à noite do crime: bem junto ao corpo dela, havia ossos de um
animal grande serrados. As pontas da sapatilha que enfeita o túmulo
também foram cuidadosamente serradas” — contou Glória, revoltada
com o vandalismo. (...) Na época do assassinato da atriz Daniella Perez,
a escritora Glória Perez acreditava que ela teria sido morta num ritual de
magia negra. Próximo ao seu corpo foram achados ossos e na casa onde
Guilherme e Paula moravam, em Copacabana, a polícia encontrou uma
imagem de um preto velho. Uma ex-empregada confirmou que o casal
praticava rituais. (...) A tese de que a atriz teria sido morta num ritual
ganhou as páginas dos jornais, mas a polícia não levou a sério a
hipótese de a jovem ter sido assassinada em meio a um espetáculo
macabro. Ao ser encontrada, Daniella tinha 18 perfurações no corpo. 103

PARA LIVRAR-SE ALGUÉM DA PERSEGUIÇÃO DOS FANTASMAS

Aquele que souber pintar ou desenhar poderá ver-se livre, muito


facilmente, de algum fantasma que o perseguir. E é que, ao desenhar o
fantasma, estará fazendo com que ele fique preso na tela ou no papel. E
o que se desenhar ou pintar há de ser o mais possível semelhante ao
fantasma que se vê, porque só assim ficará ele preso. E de outra
maneira não ficará.104

PARA LIVRAR-SE ALGUÉM DA PERSEGUIÇÃO DOS VAMPIROS

Os que se crêem perseguidos por vampiros devem pintar numa


tela esses vampiros, ou desenhá-los num papel. Uma vez pintados ou
desenhados, os vampiros ficam presos, e deixam de importunar os seres
humanos. Quem tiver habilidade para pintar ou desenhar deve

102
N. A.MOLINA. Antigo Livro de São Cipriano: O gigante e verdadeiro Capa de Aço. (29a edição). Rio de
Janeiro, Espiritualista, p 240-241.
103
MATHEUS, Letícia. Túmulo de atriz é violado. Em: EXTRA, 2ª edição, 30/12/1999, p 12.
104
BAKKATUYU, Sirih. Livro do Touro Negro. Rio de Janeiro, Ediouro, p 76.
aproveitar essa habilidade para livrar-se dos vampiros que sugam o
nosso sangue durante à noite.105

O ALFABETO SIMPATICO

Este gênero de operação consiste em traçar algumas letras sobre


o braço, por meio de uma agulha e em introduzir sangue de um amigo
na incisão feita.
Esta operação deve ser praticada igualmente sobre o indivíduo
com o qual se deve entrar em correspondência e, então, por muito
afastado que esteja um do outro, podem ambos se comunicarem certos
acontecimentos, dando o que avisa uma ligeira picada em certas letras
de seu braço, e que será sentida imediatamente por aquele com quem
se comunica.106

105
LIANO JR, Nelson e COELHO, Paulo. Manual Prático do Vampirismo. 1ª ed. Rio de Janeiro, ECO, 1986.
106
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 401.

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