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O Desafio de Um Escritor
O Desafio de Um Escritor
ORAÇÃO CONTRA MAU-OLHADO
Leva o que trouxeste,
Deus me benza com a sua Santíssima Cruz,
Deus me defenda dos teus olhos
e de todo o mal que me quiseres.
És tu ferro e eu sou aço.
És tu o demônio, e eu te embaraço.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 1
1
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 72.
defumadores postos a queimar junto ao carvão em brasa num turíbulo.
O preparo do defumador respeita a forma artesanal da tradição
recebida, que é bastante variada, incluindo deste a tradicional palha de
alho (Allium sativum) até a milenar beladona (Atropa belladonna).
Galhos de arruda são usados atrás da orelha. Figa, patuás e
frascos de mercúrio são carregados junto ao corpo (pendurados como
pingente ou guardados em bolsos, por exemplo). Outras providências
vão de simpatias a trabalhos rituais. Um número significativo de rezas
temáticas envia o “mau-olhado” para “as ondas do mar sagrado”.
Noutros numerosos casos o que se busca não é a cura, e sim a fórmula
para executar o malefício! Eliphas Levi descreveu o castigo aplicado a
certa mulher cujo comportamento era demasiadamente liberal para o
século XVIII:
AMBIÇÃO OU REVOLUÇÃO?
2
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. Trd. Rosabis Camaysar. São Paulo, Pensamento, 1997, p 355-
354.
3
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 10.
as coisas que sua vitima tem”. Seguindo essa linha de pensamento
suponho que o invejável ideal mereça o mundo enquanto o invejoso
nasceu para servir e pagar impostos ao seu governante. Em última
análise o invejável é símbolo e arquétipo do carrasco maior, o sujeito de
direito por excelência (senhor de escravos, inquisidor, ditador, tirano,
acionista controlador de um grande monopólio) Por outro lado o invejoso
representa o homem-máquina, sujeito de dever ideal (o escravo,
miserável, desgraçado, hipossuficiente). Mas de tanto gemer e jurar
inocência, uns idealistas na época da Renascença acabaram dando
ouvidos à raia miúda e esclareceram ao mundo fazendo com que os
partidos socialistas e instituições de ensino lutassem pela destruição da
nobreza e propagação do olho-grande. Por isso, até hoje, quando o
invejável se deixa comover pela culpa imputada pelo invejoso seu
sentimento de dever moral torna-se um calcanhar de Aquiles destroçado
pelo punho de aço de todas as falhas sociológicas do mundo. O
subconsciente da vitima se defende ‘argumentando’ que ele não é tão
mal assim e contra-ataca ‘acusando’ o invejoso de alguma falta real ou
mítica. A intercessão entre ataque e defesa propicia espaço para os
efeitos placebo e nocebo.
Uma das medidas profiláticas mais famosas do Brasil diz que
ninguém deve comprar qualquer objeto ou jóia de pessoas que “tenham
sido desaventuradas ou portadoras do olho grande, ou que tenham
inveja, uma vez que esses objetos se encontrariam invariavelmente
carregados de fluidos negativos”.4 Isso significa boicote no comércio e
necessidade de encontrar outro emprego que não esteja relacionado a
vendas. Mas quem vai empregar um estigmatizado? José Rodrigues
sustenta que “tolerar essas pessoas em nosso meio é perigoso” e
oferece preceitos para “afastá-las”.5 Por isso, entre os eslavos,
“determinadas pessoas nascem com essa prerrogativa e são,
4
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 43.
5
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 40.
logicamente, discriminadas pela coletividade”. 6 Mas quando o azarento
insiste em continuar existindo não há nada melhor que um remédio
mítico para combater o mito. Um caso fantástico afirma que quando o
interventor Bolognesier chegou num lugar distante (um vilarejo ao sul da
França), num passado remoto (1786 ou 1834), passou a agir e vestir-se
como o rico Conde de Montaigne. “A maneira de se expressar, o jeito
peculiar de Montaigne, tudo era copiado nos mínimos detalhes”.7
15
TOMPKINS, Peter e BIRD, Christopher. Op cit, p 32.
16
HEYDECKER, Joe J. Fatos da Parapsicologia: Introdução às ciências ocultas. Trd. Edith Wagner. Rio de
Janeiro, Freitas Bastos, 1984, p 93.
17
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 35.
mulher conseguiu liquidá-la num simples olhar! Quando percebemos a
sua maléfica influência, não a deixávamos ultrapassar a porta da sala. 18
Como bem observou João Ribeiro Jr, “quando rogamos uma praga
contra alguém e essa pessoa quebra o pescoço, procuramos racionalizar
a coincidência até com a ajuda da estatística, mas mesmo assim essa
conjunção do desejo e da ocorrência nos impressiona”. 27 A crença no
malefício e na sua eficácia é um corolário de um processo pelo qual uma
percepção se forma de uma coincidência entre uma idéia e uma
sensação, sendo que uma delas (não importa qual) está localizada
internamente e a outra externamente. Colin Wilson conhecia a telepatia
– igualmente por pesquisa e vivência –, vindo a concluir que a
25
WILSON, Colin. O Oculto. Vol 1. Trd. Aldo Bocchini Netto. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1991, p 27.
26
WILSON, Colin. O Oculto. Vol 1. Trd. Aldo Bocchini Netto. RJ, Francisco Alves, 1991, p 27-28.
27
JÚNIOR, João Ribeiro. O Que é Magia. São Paulo, Brasiliense, 1982, p 31-32.
“transferência” pode ser inconsciente e automática, como linhas
cruzadas no telefone. “Isso permite especular se também o ódio não
poderia ser transmitido da mesma maneira inconsciente”. 28 Partindo daí
ele cunha uma teoria geral segundo a qual o inconsciente constitui uma
espécie de depósito de forças que podem manifestar-se no mundo
material sob certas circunstâncias, com um vigor que supera tudo que o
consciente possa realizar. Nesses momentos “a personalidade
consciente parece tornar-se mais real, firme e decidida, provocando-nos
uma sensação peculiar de poder”. Então, se imaginarmos esse mesmo
tipo de força sob o comando do poder do inconsciente “começaremos a
esboçar uma vaga teoria do ocultismo que evita os extremos do
ceticismo e da credulidade”.29
O caldeirão do folclore brasileiro já cozinhou este prato. Attilio
associa ao “fenômeno do magnetismo pessoal, concentrado na maioria
das vezes num simples olhar, que pode ter conseqüências tanto
benéficas como maléficas”.30 José Rodrigues concorda que existe “uma
projeção da energia psíquica – magnetismo animal, tão bem descrito e
experimentado por Mesmer” a qual “se atribui uma espécie de
psicocinesia”.31 Enquanto Wilson e Powys relutavam em confessar que
esse é o tipo de coisa que envaideceria um algoz consciente, nossos
mandingueiros aprimoravam a técnica até o limite e patrocinavam
quadrinhos nacionais que lhes ajudassem a enfeitar o pavão. Nutrindo
um complexo cultural que envolve crença, expectativa e probabilidade o
método passa a admitir resultados mais satisfatórios. Resumindo, com a
ajuda da propaganda intensiva o olhado ganha a aparência de uma
ameaça verdadeira e injeta o malefício tão bem quanto os remédios
florais e a acupuntura beneficiam pacientes crédulos.32
28
WILSON, Colin. O Oculto. Vol 1. Trd. Aldo Bocchini Netto. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1991, p 27.
29
Colin Wilson escreveu que a melhor “explicação fenomenológica racional” que ele conhece para esse caso
se encontra numa história de ficção científica intitulada Forbidden Planet, de W. J. Stuart, em que uma
expedição científica procura descobrir o motivo da destruição de todas as expedições anteriores a um
planeta distante: “Trata-se de livro a ser lido por todos os que se dedicam à psicologia fenomenológica. Por
intenção do autor, pode ser que seja ficção científica, mas provavelmente chega mais perto da verdade a
respeito da mente humana do que Freud ou Jung”. — Conforme sua sinopse, o único homem capaz de viver
em segurança no Planeta Proibido é um velho cientista chamado Morbius. Ele informa que as outras
expedições foram destruídas por uma espécie de monstro invisível e indestrutível. Morbius dedica-se ao
estudo dos resquícios de uma antiga civilização do planeta – seres que haviam possuído o poder de
amplificar seus pensamentos, o poder de “intencionalidade”, de modo que as imagens mentais fossem
projetadas como realidade exterior. No final da história, Morbius descobre o que destruiu as expedições
anteriores. Sem que nem de longe suspeitasse, ele também estava amplificando as forças intencionais de
seu subconsciente – seu desejo de ficar sozinho no planeta. E este é o “monstro invisível” que destruiu as
expedições. (WILSON, Colin. O Oculto. Vol 2. Trd. Aldo Bocchini Netto. RJ, Francisco Alves, 1991, p 119).
30
MILONE, Attilio. Livre-se do Olho Grande. Rio de Janeiro, Fratelli, 1985, p 11.
31
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 29.
32
Inclusive os chineses alertam contra o tian-cheng (olho-grande).
“Mocuná, conhecido como Olho de Boi, afasta o mau olhado”.
(Artesanato carioca).
Princípios Gerais do Envultamento
Shirlei Massapust
33
KLOETZEL, Kurt. O Que é Superstição. São Paulo, Brasiliense, 1990, p 13.
34
KLOETZEL, Kurt. O Que é Superstição. São Paulo, Brasiliense, 1990, p 15.
35
FRAZER, J. G. The Golden Bough. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 46.
36
CROWLEY, Aleister. Moonchild. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 46.
37
PARALIZADOS POR BRUXARÍA. Em: Homem, Mito & Magia, fascículo 33. SP, Três, 1973, p 667.
38
Em 1964, perto de Sandringham, Norfolk, foi encontrada uma boneca de 15 centímetros de comprimento,
feita de massa de modelar e com uma lasca de espinheiro perfurando-lhe o coração. Conforme a redação de
Homem, Mito & Magia, “o objetivo do feitiço tanto poderia ter sido o de matar a vítima, como o de seduzi-la,
ferindo seu coração com amor”. Mas, segundo Maria Helena Farelli, “dizem os vizinhos que a mulher que ali
morava morreu de ataque cardíaco”. (A Magia do Vodu. Rio de Janeiro, Luz de Velas, 1995, p 32).
No tratado De Enti Sprirituali o médico-alquimista Paracelso
assegura que “quando a imagem de um ladrão for golpeada, este será
forçado a voltar ao lugar onde roubou por mais longe que tenha ido”. 39
Por esta razão, na antiga França, “se as autoridades não conseguiam
encontrar um criminoso, executavam-no em efígie, declarando-o
legalmente morto”.40 O poeta latino Quinto Horácio Placo (65-8 a.C.)
escreveu sobre os malefícios da mítica feiticeira Medeia, que picava
bonecos de cera com alfinetes para causar desgraças às pessoas com
eles identificadas: “A morte de Germânico teria sido causada por este
tipo de magia”.41 No livro Magical Papyrus o egiptólogo M. Chabas
demonstra que o feitiço da figura de cera era conhecido no Egito. Esta
prática nasceu a partir de uma derivação do rito de criação das figuras
shabti, descrita no Papiro de Turim, decifrado e publicado em Paris em
1868. Esta fonte menciona uma conspiração contra um faraó na qual
“pretendia-se a morte do rei com a incineração, pura e simples, de
pequeninos bonecos de cera virgem, feitos à forma e semelhança de
cada elemento da corte”.42 Em 1447 a mulher do Duque de Gloucester
foi acusada de acender chamas perto de uma efígie do rei Henrique VI,
para matá-lo de insolação. Em face de sua posição social, a mulher
escapou à pena capital, mas seus dois cúmplices, Roger Brolingbroke e
um suposto feiticeiro, foram condenados.43 Em 1900 uma figura do
presidente McKinley, crivada de alfinetes, foi queimada nas escadas da
embaixada norte-americana, em Londres.
47
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 124.
48
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 128.
49
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 129.
50
Um casal foi executado em St. Albans, em 1649, sob a acusação de queimar uma boneca que
representava uma mulher. Uma feiticeira inglesa, executada em 1618, brigara com o cunhado que, depois,
viajou. Ela foi acusada de fazer um modelo de cera do navio e do capitão, com o qual teria causado o
naufrágio da embarcação e a morte do cunhado por afogamento. A tradição britânica atravessou o Atlântico
e liga-se a isso o fato de se relatar que nas paredes do celeiro da casa de uma das feiticeiras de Salem terem
sido descobertos bonecos feitos de trapos e pêlos de porco, nos quais estavam enfiados alfinetes sem
cabeça. Na casa de outra, dizem que havia pequenas bonecas de pano com enchimento de pêlos de bode, e
esta feiticeira teria sido obrigada a admitir ter torturado uma vítima, molhando seu dedo com cuspe e
acariciando uma das bonecas. (A MAGIA DA IMITAÇÃO. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p
45).
51
PARACELSO. A Chave da Alquimia. Trd. Antonio Carlos Braga. São Paulo, Três, 1973, p 134.
Devemos desarraigar de nossas mentes a idéia que o mago negro
não pode prejudicar a nós outros, porque nós seguimos a senda reta ou
porque é vil ou perverso. É uma idéia equivocada difundida para evitar
que o homem se fortaleça e é propagada pelos seguidores do caminho
negro. É tão insensato como imaginar que se um boxeador profissional
estivesse boxeando com um menino, este ganharia, porque sua alma é
pura. Milhares de pessoas carecem de suficiente ambição para
desenvolver a força necessária. Vivem honestamente como bons
cristãos, tão negativamente puros que estão preconizando abertamente
que são alvo fácil para qualquer um aproveitar a oportunidade. Não são
negros em si mesmo, porém são do tipo que facilita a perpetuação da
magia negra.52
65
MATHEUS, Letícia. Túmulo de atriz é violado. Em: EXTRA, 2ª edição, 30/12/1999, p 12.
66
VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros: Um estudo da arte cemiterial
ocorrida no Brasil desde as sepulturas de igrejas e as catacumbas de ordens e confrarias até as necrópoles
secularizadas. Vol I. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1972, p 439-1440.
67
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 50.
enquanto os olhos são enterrados no lodo e regados com urina
“chamando por Aluvaiá Mavunanguê”.68
Como nosso objetivo neste artigo é apenas a investigação do
método, despindo-o de seus adornos e contextos culturais, recomendo
aos interessados que leiam os livros Do Vodu à Macumba, de Márcia
Cristina (contém feitiços para o mal, para o bem, para questões de
amor, etc) e A Magia do Vodu, de Maria Helena Farelli (contém trabalhos
dos praticantes de Vodu de Nova Orleans). Para maiores detalhes
compilei alguns feitiços extraídos de outras fontes no final desta obra.
68
COSTA, José Rodrigues da. Como Combater Olho-Grande. Rio de Janeiro, Pallas, 1991, p 66.
69
SARKEY, Rick. Feitiço. Em: Almanaque Seleções de Terror: nº 11. São Paulo, Taika, não datado, não
paginado.
70
SAIDENBERG, Luis (arte) e CAMERA, Pietro La. A Vingança do Vodu! Em: SPEKTRO, nº 19. Rio de Janeiro,
Vecchi, dezembro de 1980, p 98-110.
Principio da similitude mínima:
“Quer fazer mal a alguém? Vamos fazer uma boneca feita de cera,
massa ou chumbo ou pano, vamos prepará-la e ela vai matar ou
prejudicar quem a senhora queira”, falou o dono de uma loja vodu no
Plaza de Aemas, em Nova Orleans, à Maria Helena Farelli no início da
década de 90. Encantada pelos saquinhos de pó de amor, gotas de
atração, óleo do inferno, diabinho na garrafa e pelo “negro belíssimo”
que os estava vendendo, a brasileira enche sua sacola de produtos
exóticos e o interroga longamente sem revelar que ela própria é uma
especialista no assunto. Ele mostra bonecos feitos de pedra com goma,
feios e retorcidos, “fala e está sério como um monge negro”:
71
FARELLI, Maria Helena. A Magia do Vodu. Rio de Janeiro, Luz de Velas, 1995, p 31-33.
72
FARELLI, Maria Helena. A Magia do Vodu. Rio de Janeiro, Luz de Velas, 1995, p 98.
73
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. Trd. Rosabis Camaysar. SP, Pensamento, 1997, p 355.
74
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 60.
O que acontece depois depende da intenção do feiticeiro. Para
matar a vítima executa-se o boneco. Criava-se a figura de alfinetes,
punhaladas, cacos de vidro, etc., proferindo “palavrões e ofensas à
vítima”.75 Neste momento ele xinga, pragueja e “lança mil injúrias contra
a vítima”.76
75
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 60.
76
FARELLI, Maria Helena. A Magia do Vodu. Rio de Janeiro, Luz de Velas, 1995, p 98.
77
BROMAGE, Bernard. The Occult Arts of Ancient Egypt. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p
45-46.
78
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 60.
79
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. Trd. Rosabis Camaysar. SP, Pensamento, 1997, p 355.
Para o enfeitiçamento pela figura de cera, é preciso fazer uma
figura mais perfeita, pôr da própria pessoa tudo o que puder dar, pôr-lhe
ao pescoço os sete talismãs, colocá-la no meio de um grande pentáculo
representando o pentagrama e esfregá-la levemente, todos os dias, com
uma mistura de óleo e bálsamo, depois de ter pronunciado a conjuração
dos quatro para desviar a influência dos espíritos elementares. No fim de
sete dias, será preciso queimar a imagem no fogo consagrado, e
podereis ter certeza de que a estatueta fabricada pelo enfeitiçado
perderá, no mesmo instante, toda a sua virtude. 80
80
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. Trd. Rosabis Camaysar. SP, Pensamento, 1997, p 358.
81
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 73.
realizada no Laboratório da Caridade, tal como foi publicada nos jornais
diários do mês de Agosto de 1902:
***
A analogia que apresenta este fenômeno, com as histórias de pessoas
que se fazem morrer à distância, ferindo uma figura de cera modelada à sua
imagem, é evidente. Procurei ver se a cera não gostaria, como a água, da
propriedade de armazenar a sensibilidade e reconheci que ela a possuía em alto
grau, assim como outras substâncias gordurosas, viscosas ou aveludadas como
o cold-cream e o veludo de lã. Uma estatueta confeccionada com cera de
modelar e sensibilizada, sendo colocada alguns instantes em face e a uma
pequena distância de um paciente, reproduzia neste as sensações das picadas
que eu fazia na cera; ora no alto do corpo, se eu picava a figura na cabeça, ora
na parte inferior, se eu a picava nos pés. (Quer isto dizer que a picada era
sentida de maneira mais ou menos vaga nas regiões que haviam enviado mais
diretamente seus eflúvios). Entretanto, cheguei a localizar exatamente a
sensação, colocando, como os antigos feiticeiros, na cabeça de minha figurinha,
uma mecha de cabelos cortada da nuca do paciente durante seu sono
hipnótico.
Esta foi a experiência da qual nosso colaborador na Cosmos foi
testemunha e mesmo autor; ele havia transportado a estatueta assim
preparada para trás das gavetas de uma escrivaninha, onde não a podíamos
ver, nem o paciente, nem eu. Despertei Mme. L... que, sem deixar seu lugar,
pôs-se a conversar com ele até o momento em que, voltando-se bruscamente e
levando a mão à parte posterior da cabeça, perguntou, rindo, quem lhe puxava
pelos cabelos; era no momento preciso em que X. tinha, sem que eu visse,
puxado pelos cabelos da estatueta.
Os eflúvios, parecendo refratar-se de maneira análoga à luz, que talvez
os arraste em sua projeção, pensei que si se a projetasse, com o auxílio de uma
lente sobre uma camada viscosa, a imagem de uma pessoa suficientemente
exteriorizada, poderia chegar-se a localizar exatamente as sensações
transmitidas da imagem à pessoa. Uma placa carregada de gelatino-bromuro e
um aparelho fotográfico me permitiram realizar facilmente a experiência que só
teve êxito completo quando eu tive o cuidado de carregar a placa de
sensibilidade do paciente antes de a colocar no aparelho. Mas, operando assim,
obtive um retrato tal, que se o magnetizador tocava um ponto qualquer do rosto
ou das mãos sobre a camada de gelatino-bromuro, a paciente sentia a
impressão no ponto exatamente correspondente; e isto não só imediatamente
depois da operação, mas ainda três dias depois, quando o retrato foi fixado e
colocado perto da paciente. Esta parecia nada ter sentido durante a operação
de fixagem, feita longe dela, e sentia igualmente bem pouco quando se tocava,
em lugar da camada de gelatino-bromuro, a chapa de vidro que lhe servia de
suporte.
Querendo levar a experiência o mais longe possível e aproveitando a
presença ali de um médico, piquei violentamente, sem prevenir e por duas
vezes, com um alfinete, a imagem da mão direita de Mme. L..., que soltou um
grito de dor e perdeu os sentidos por um instante. Quando voltou a si,
observamos sobre o dorso de sua mão duas raias vermelhas sub cutâneas que
ela não tinha antes, e que correspondiam exatamente às duas arranhaduras
que meu alfinete havia feito sobre a camada gelatinosa.84
84
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 397-400.
85
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 400, nota 20.
86
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. SP, Pensamento, 1978, p 400-401, nota 20.
87
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. SP, Pensamento, 1978, p 400-401, nota 20.
88
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 72.
lado ou do outro, e quando lhe aparece a dúvida, esta é um atributo de
Satã. 89
89
LIMA, Luiz da Rocha. A Luta Contra a Bruxaria. Rio de Janeiro, Educandário Social Lar de Frei Luiz, 1987, p
2.
90
LIMA, Luiz da Rocha. A Luta Contra a Bruxaria. Rio de Janeiro, Educandário Social Lar de Frei Luiz, 1987, p
228.
91
HOLZER, Hans. A Verdade Sobre a Bruxaria. Record, p 193-194. In: LIMA, Luiz da Rocha. A Luta Contra a
Bruxaria. Rio de Janeiro, Educandário Social Lar de Frei Luiz, 1987, p 214-215.
ANEXO
Tomei a liberdade de compilar alguns rituais bizarros somente
para estudo folclórico-antropológico. Não creio que nada disto funcione e
não recomendo que seja tentado. Além de antiéticos, os crimes de
perturbação de cerimônia funerária, violação de sepulturas, destruição e
vilipêndio a cadáver estão todos tipificados do artigo 209 ao 212 do
Código Penal Brasileiro, assim como os maus tratos a animais ganharam
penalidades mais severas com o artigo 32 da Lei Federal nº. 9.605/98.
A AGULHA ENCANTADA
94
STAMM, Samuel. O Livro de São Cipriano. Rio de Janeiro, Rede Carioca, 2002, p 103.
95
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 85.
96
NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, 72.
até de 1965, em letras de imprensa e de uma mesma caligrafia, enchendo
totalmente o forro abobadal da cripta. De maneira alguma aquelas inscrições,
feitas a fumo de velas, contra o reboco, poderiam corresponder aos nomes dos
sepultados. Praticamente todas as datas já estavam fora do seu uso, e nem há
sinais nem notícias de sepultamento nestes últimos decênios. Encontramos
urnas de restos mortais trasladados, violadas, com os ossos, cabelos e
fragmentos de vestes, espalhados sobre um batente.
As freiras que dirigem o educandário instalado no antigo convento
franciscano de Deodoro nada sabem informar porque é uma ocorrência antes
da presença delas. Em nossa interpretação trata-se de prática de feitiçaria,
com uma caligrafia idêntica para várias inscrições, cujos nomes não parecem
ser de mortos, mas de indiciados do fetichismo. Nada mais podemos indicar
sobre esses achados, ignorados pelas pessoas locais, senão a evidência das
fotografias.
No velho Cemitério de N. S. do Rosário (1875), das ruínas de Iguaçu
Velha, além da prática de macumba em torno do Cruzeiro, que tem ação votiva
e de apelo nas viscitudes dos crentes, há os restos de um luxuoso e impotente
jazigo de cerca de cinco metros de altura construído em base de alvenaria
revestida de laje de mármore, pedestal e nicho em colunatas de mármore.
Próximo deste jazigo encontram-se os restos da base de uma capela-jazigo
cuja entrada foi fechada por parede de alvenaria e na qual, posteriormente, se
fez uma abertura de 40 X 50 cm. Examinando o interior desta capela-jazigo,
com o foco de uma lanterna, encontramos uma quantidade espantosa de
objetos de uso pessoal (roupas, cartas, retratos, vidros, terços, etc.) e todas as
paredes preenchidas com nomes e datas de pessoas riscadas a carvão, grafite,
tinta, e também a fumo de vela. Há uma certa semelhança entre esta
observação e aquela outra de Deodoro, de Alagoas. Nossa cautela está em
diferenciar a prática ingênua da macumba, em termos de ação votiva e de
apelo, com esta outra de caráter de feitiçaria demonológica capaz de atingir a
criminalidade do vandalismo, do sacrifício e do infanticídio que não é tão
desconhecido do próprio noticiário dos jornais brasileiros. 97
97
VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros: Um estudo da arte cemiterial
ocorrida no Brasil desde as sepulturas de igrejas e as catacumbas de ordens e confrarias até as necrópoles
secularizadas. Vol I. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1972, p 439-1440.
98
A MAGIA DA IMITAÇÃO. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 44.
esta efígie para que tu fiques amarrado a ela de tal maneira que teu
corpo seja seu corpo e o seu seja lugar de todas as sensações”.
Se tens cabelos, algum dente ou aparas de unhas provenientes da
pessoa que estás enfeitiçando, põe na figura e, se possuis roupas ou
peças interiores usadas pela vítima, faze com elas um vestuário que o
relembre quanto seja possível.
Disposta assim a figura, uma noite à hora de Saturno atravessa-a
em todos os sentidos, com agulhas ou espinhos envenenados, cobre-a
de injúrias e maldições em nome de Guland, imaginando firmemente
que tens à tua frente a mesma pessoa de corpo e alma; joga por fim o
boneco no fogo.
Se tudo isto fizeres como digo, pondo toda tua fé e força de
vontade, não duvides de que, como a cera se derreterá e consumirá,
assim se consumirá a pessoa sofrendo dores agudas em todas as partes
correspondentes às feridas feitas na figura.
Eis a descrição do enfeitiçamento clássico, que se encontra com
ligeiras variações na maioria dos antigos grimórios. Em alguns, à
descrição copiada, acrescenta-se: “A figurinha de cera pode ser
substituída por um sapo vivo” mas as imprecações são as mesmas.
Outra prática requer que o sapo seja amarrado com cabelos da vítima e,
depois de ter cuspido sobre ele, enterra-se sob a entrada da casa da
pessoa enfeitiçada ou em outro sítio sobre o qual a pessoa tenha que
passar com freqüência.99
CASTIGO DE AMOR
99
LE DRAGON ROUGE. Em: N. A.MOLINA. Nostradamus, a Magia Branca e a Magia Negra. (2a edição). Rio de
Janeiro, Espiritualista, p 122-124.
100
GEMWY, Murzim G. O Grande e Legítimo Livro Vermelho e Negro de São Cipriano. São Paulo, Edrel, p 67.
Faz-se a imagem de cada um deles com pó de pedra, misturado
com goma e, depois, colocam-se as imagens, frente a frente, em um
vaso com sete brotos; queima-se o vaso no forno, a seguir acende-se o
fogo na lareira e põe-se um pedaço de gelo no fogo; quando o gelo
derrete, tira-se o vaso e a feitiçaria está completa. O fogo derretendo o
gelo representaria o amor aquecendo os corações do homem e da
mulher.101
101
PICATRIX. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 45.
Desta forma a criatura enfeitiçada nunca mais pode ter uma hora
de saúde.102
102
N. A.MOLINA. Antigo Livro de São Cipriano: O gigante e verdadeiro Capa de Aço. (29a edição). Rio de
Janeiro, Espiritualista, p 240-241.
103
MATHEUS, Letícia. Túmulo de atriz é violado. Em: EXTRA, 2ª edição, 30/12/1999, p 12.
104
BAKKATUYU, Sirih. Livro do Touro Negro. Rio de Janeiro, Ediouro, p 76.
aproveitar essa habilidade para livrar-se dos vampiros que sugam o
nosso sangue durante à noite.105
O ALFABETO SIMPATICO
105
LIANO JR, Nelson e COELHO, Paulo. Manual Prático do Vampirismo. 1ª ed. Rio de Janeiro, ECO, 1986.
106
PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 401.