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Liuro

da lida
s larcas do estino

Rubens Saran
MADR
SUMÁRI0

Revelaçöes do Passado
Uma Missão Especial . 23
Conhecendo o Amor... 57
As Marcas do Destino. .. .99
Levi Ben Yohai no Egito. 171
REVELAÇÕES DO PASSADo
Tudo não passou de um sonho. Mas
demais para ser só um sonho. juro que foi real. Sim, real
Já não posso afirmar com
plena certeza de que foi só um sonho.
O que recebi de ensinamentos
com esse sonho não é uma coi-
sailusória, mas sim algo que serviu para me
a mais solidificar como homem,
complexa das criaturas do divino Criador.
Viajei no tempo e localizei o meu passado adormecido. Quem
me guiava? Um amigo invisível que não quer ter o seu nome revela-
do. Vou chamá-lo apenas de Tim.
Sim, Timé a abreviação do nome
Timóteo ou talvez um apelido, mas que
O interessa é
importância tem isso?
que como tudo começou, e disso eu me lembro bem.

Não conseguia adormecer, apesar de me sentir muito cansado.


Achei que podia estar com algum imão invisível ao meu lado em
busca de luz. Sim, isso sempre acontece, pois o símbolo das três
cruzes é o símbolo do socorro aos que sofrem e padecem, porque um
dia, quando na carne, desdenharam do poder do Criador.
E quantos não fazem isso todos os dias e a todo momento?
Vivem perdidos em meio a problemas que em verdade não exis-
tem, mas são só criações mentais suas. Se procurassem um pouco mais
ao Criador, não teriam tantas necessidades materiais a incomodá-los.
Mas voltemos à minha dificuldade em adormecer. Orei a Prece de
Caritas, uma oração que é sempre um bálsamo aos que sofrem e pade
cem na busca de uma palavra de consolo, conforto ou esclarecimentos.
7
OLiwn da V'ida

invisiveis se torna-
De nada adiantou a prece. As presenças
vam mais fortes.
Fiz outra oração. Um salmo foi a prece cscolhida.
Ei-lo, o salmo 23.
O Senhoré o meu pastor, nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes eampos, guia-me
Mansamente por águas tranqüilas.
Refrigera a minha alma; gura-me pelas veredas
Da justiça, por amor ao seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale das sombras
Da morte, não temeria mal algum, porque Tu
Estas comigo; a Tua vara e o Teu cajado me

Consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença
minha cabeça com
Dos meus inimigos, unges a
Oleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia
Me seguirão todos os da
dias minha vida: e
Habitarei na casa do Senhor por longos dias.
Após orá-lo a primeira vez senti um alívio nas batidas cardía-
cas. Comecei a orá-lo novamente e fui adormecendo com suas belas
palavras.
Mas não sei se adormeci ou fui anestesiado por algum irmão
invisível, pois me senti como a flutuar
Fui sendo levado no espaço a uma velocidade espantosa. Disso
me lembro bem, porque foi muito real.
Logo me vi num lugar estranho, em outro tempo.
Ainda pensei: estou sonhando, isso não é real.
Fui levado até uma casa construída com pedras e barro. Estra-
nha a construção! Nunca tinha visto nada igual.
Notei que alguém conversava comigo. Não via quem era, mas
sabia que se tratava de um conhecido meu, que me mostrava outra

pessoa a um canto.
Fixei a vista e a descobri na penumbra. Vestia-se toda de preto
e encobria o rosto de nós.
Procurei ver essa pessoa melhor. Estava curioso a respeito de
sua identidade mas ela sentia vergonha de me encarar. Quis saber a
razão disso, pois aquele homem me intrigava!
10 O Livro dn Vidn

Nao o abandonava um instante sequer. Queria saber se era o mesmo


nomem reencarnado em outro tempo, mas mantendo o mesmo cor
po. Isso eu nunca tinha visto acontecer antes. Se fosse o mesmo, eu

estaria perdido!
- E por queestaria perdido?
Eu já ouvira dizer muitas vezes que quando um espirito
volta à carne com o mesmo corpo é para ajustar contas com o seu
passado.
Bobagem
Você julga uma bobagem porque não conhece os lugares
que eu conheço.
E que lugares são esses,
-

anmigo'
-As regiões infernais, onde só os grandes das trevas ficam
de pé. Eu as conheço muito bem e são verdadeiras as coisas ditas lá.
Oque afirmei antes é uma verdade, bom homem. Eu sei quando uma
pessoa fala uma mentira. Lá, todos temem quando isso acontece
com alguém, pois aí o inferno vai ser abalado.
Bem, não vou discutir. Se é você quem o diz, deve conhece
lo melhor que eu. Continue com sua
história!
Pois bem, eu o segui plasmando uma outra forma que não
a minha e vi o seu guardião naquele dia. Ele não entrou na casa
com você, ficou do lado de fora, mas me viu. Pode ser que não me
reconheceu como eu me apresentava, mas era melhor não descui-
dar de nada, pois, se realmente fosse uma
reencarnação para ajus-
te de contas, eu tinha que me preparar para a luta. Segui-o distar-
çado como um espírito qualquer. Usei esta forma plasmada por
muito tempo e, quando não podia ir, mandava um dos meus, disfar-
çado, para se informar de todos os seus passos. Isso foi por alguns
meses e nada foi descoberto! Nenhum símbolo no seu espírito, ne-
nhuma falange de luz, nada além do seu guardião que o seguia
quieto, no interferindo em sua vida. Eu já tinha me tranqüilizado
quanto à provável volta para o reajuste quando você voltou a pro-
curar seu amigo Flávio. Já não era o mesmo que da primeira vez.
Algo tinha alterado O seu caminho. Voltei a segui-lo porque, se es-
tava à procurade ajuda para o seu filho, sua vida tomara um rumo
que eu temia. Tentei intervir no seu camnho. Coloquei alguns es-
cravos meus para perturbá-lo. Tinha que desviá-lo da senda da luz
ou eu estaria perdido. Só um deles voltou alguns dias mais tarde.
Conseguiu fugir, não sei como! Mas hoje eu penso que ele na ver-
Revelacocs do Passado 11

dade não fugiu e sim foi mandado para me enganar. Só pode ter
sido isso. Voltou dizendo que no templo que você freqüentava ha-
Viam sumido com todos os outros. Assustei-me, mas ele me
garantiu
que não havia ninguém ao seu lado. Só o guardião e um padre, nin-
guém mais. Fui pessoalmente verificar. Levei uma legião toda como
escolta, pois não queria ser surpreendido. Não vimos nada que nos
assustasse. Só o seu guardio e o padre. Sim, havia os mentores de
sua
companheira na casa também, mas disso eu já sabia. Fiquei
mais tranqüilo com o que ouvi de seu guardião.
- E o que foi que ele Ihe disse
na época?
Explicou que nem ele ousava entrar no templo que voce
freqüentava, pois lá näão era um local onde pudesse entrar. Se o fi
zesse, poderia ser queimado. Perguntei-lhe a respeito dos que eu
havia mandado para perturbar você. Disse-me que eles eram uns
1diotas em segui-lo, pois foram avisados que lá dentro havia uma cruz
que absorvia todos os espíritos das trevas. Perguntei, então, de que
fugira. Ele me garantiu que era a mais pura verdade e que quando
VIu o primeiro sertragado pela luz da cruz fugiu assustado. Fui enga-
nado com essa conversa. Mas não mais me descuidei de você. Sen-
tia o perigo a me rondar. Ainda tive outra surpresa quando me avisa-
ram que você entrava na Linha de Lei da Umbanda Sagrada. Fui
novamente até seu guardião. Ele me explicou que um dos mentores
do templo havia designado um espírito da Linha de Lei para poder
auxiliá-lo na ajuda ao seu filho, que era muito perturbado. Fui verifi-
car pessoalmente e vi alguns espíritos de luz na casa. Perguntaram o
que eu, um ser das trevas, queria de você. Respondi que você
era

um velho inimigo, por isso eu estava ali. Tínhamos contas a ajustar.


Disseram que conheciam seu passado e que não me conheciam. Quise-
ram saber de onde eu vinha. Falei um lugar qualquer e mostraram o
seu passado para mim. Quando chegou na época em que vivemos

Juntos, o que não coincidiu. Naquela época você


me mostraram

reencarnou no outro extremo do planeta. Não tinha


nada a ver comi
Nada mais disseram além de que
go. Quis saber mais sobre você.
você era um deles e se eu o tocasse haveria luta. Preferi não
que
lutar naquele momento, já que outros espíritos armados chegaram
e

eu não sairia vencedor. Afastei-me, mas logo


mandei alguns escra-
Vos para vigiá-lo. Você começou a se
desenvolver na Linha de Lei e
buscava conselhos com seu amigo Flávio. Procurei saber mais algu-
seu filho no passado, tive
ma coisa sobre você. Quando localizei o
12 OLivr dn Vida

minhas suspeitas confirmadas. Você era o inimigo do passado que


atacá-lo de frente, pois isso
Voltava para ajustar contas. Não podia usei de um arti-
colocaria os seus guardiões no meu caminho. Então
ncio muito comum nas trevas: movi um velho conhecido meu para

atingi-lo. Lembra-se de quando sua filha ficou doente?


Sim, senti na carne sua doença. O que teria acontecido se

eu não houvesse puxado para mim a carga que a envolvia?


E l a morreria, pois a ordem era de mataralguém de sua fa-
mília, não importava que ela fosse o alvo mais desprotegido.
Comoé bom saber o motivo de tudo que me perseguiu. Sal-
vei minha filha e não sabia.
Pois bem, lembra-se como tentou sair do envolvimento?
Sim, cheguei a chorar de dor e de raiva pela impossibilidade
de me livrar da possessão que eu sabia estar me envolvendo.
E isso. Só que não conseguiram destruí-lo. Eo velho conhe-
cido das trevas foi bloqueado em sua ação por outro guardião das
trevas, que não sei de onde surgiu, e interveio a seu favor.
-

E quem era esse guardião?


O poderoso Exu de Lei...
Sim, eu o conheço bem. Ainda que reine nas trevas, não
intervém na vida de nenhum encarnado. Sua ação se restringe uni-
camente em castigar aos que devem à Lei Maior, e eu o tenho em
grande consideração. Não age por vontade própria, só serve à lei.
-Isso eu sabia. Só não sabia o porquê de sua ação. Fui até
ele para saber o motivo de tal interferência.
E qual foi sua explicação?
Disse-me que recebera ordem de ajudá-lo e o faria, ainda
que tivesse que entrar em choque comigo. Preferi aguardar outra opor-
tunidade. Acho que ele percebeu, pois não se afastou mais de você.
Sempre que eu ia visitá-lo, lá estava ele junto com seu guardião a me
vigiar. Eu não podia fazer nada.
E logo chegou o poderoso Exu Tranca Tudo junto a você tam-
bém. Eu já o conhecia dos templos de magia negra da
Mesopotâmia.
Voce já o conhecia?
Sim. Já fazia alguns milênios.
Como foi que se conheceram?
Ele guardava o portal de um tenmplo dos
magos brancos.
Mas como foi o encontro quando o Viu junto a mim?
Revelaçoes do Pasado 13

Falou-me que recebera ordem de guardá-lo. Quis saber


quem havia mandado. Disse-me
o
Eu me assustei. que foi o poderoso Ogum Narué.
Como podia o mais
africanos estar com voce? puro e mais poderoso dos
Näo tive mais oguns
vido por uma rede de luz e tempo para nada, fui envol-
levado a um lugar onde
meus olhos tal a
intensidade da luz. precisava cobrir
Eoque houve lá, amigo?
Era um tribunal. Eu
-

estava sendo
raram a rede
de luze aí foi pior. A luz do julgado novamente. Reti-
podia me mover. Fui inquirido sobre meu local me feria todo. Não
eles me disseram: nome. Revelei
quem era, e
-

Isso nós já o sabemos.


última encarnação. Queremos o seu nome usado na
Revelei o meu nome. Sabia
melhor colaborar, pois que eles já o sabiam também e era
me dizia algo
que não sairia mais dali.
- Nós jáo conhecemos e o vigiamos desde que se propôs a
resgatar um pouco do que deve à Lei Divina
servindo à Linha
da Umbanda
Sagrada. Também sabemos que você deve tantode Lei
podemos destruí-lo quando bem o quisermos. Mandamos vocêque
ao
nono círculo e não verá mais
ninguém.
-Não, isso não! Eu estou auxiliando na Linha de Lei! Podem
perguntar aos que eu ajudo com meu poder nas trevas.
-Olhe para o lado. Vocês os verá
aí.
Olhei e os vi. Sim, eles estavam lá. No diziam
nada, mas
também te conheciam. Fiquei temeroso sobre o
que fariam comigo.
Pude ver um dos juízes. Era um
guardião da Lei! Assustei-me! Eu.
um ser das trevas, estava diante dos
guardiäes da lei. Por que isso
tudo, pensei. Ouviram o meu pensamento.
Nós Ihe explicaremos o que está acontecendo. Você foi o
escolhido para nos informar dos passos de Flávio. e do ser das trevas
que atua por trás dele.
-
Mas como posso fazer isso?
Ocultando o nosso filho, agora encarnado na Terra. Voce
não vai revelar nada ao ser das trevas.
Mase se não for possível eu fazer isso?
Voce nos respeita, não?
Sim, nada fara para desagradá-los.
Mas já o fez. Voce tentou atingi-lo uma vez e, se tentar de
novo, nós o castigaremos.
14 O Li dn Vidn

suas ordens.
mais! Prometo que respeitarei
Eu não tentarei
muito bem.
Também não revelarei quem ele é, pois mentir eu sei
Nãoé só isso que nós queremos de
voce.

O que mais querem de mim?


Nos temos controle sobre tudo que se refere a voce.

-Como assim?
-
Seu filho não Ihe interessa?
-Sim, eu aceitei servir à Lei por causa do meu filho. Como
não ia me interessar?
Pois nós podemos cortar sua existência e devolvê-lo às tre-
vas para sempre.
Vi que estava encurralado. Aceitei servir à Lei para prote-
ger o meu filho da vingança do passado. Fui o causador de sua queda
e agora tentava fazer com que se reerguesse diante da Lei. Faria
tudo para ajudá-lo.
-Sim, nós sabemos que fará tudo para ajudá-lo, por iSSO ja
não o fulminamos antes. Você nos é útil assim, não no nono círculo.
- E o que devo fazer para que não interrompam a vida de
meu filho?
-Ocultará o nosso filho e ainda iludirá o ser das trevas se
nosso filho cometer alguma falha.
Será muito difícil iludi-lo.
- Não, pois nosso filho está sem marca alguma e quando elas
voltarem já será muito tarde para ele. Além do mais, o passado está
apagado da memória de nosso filho. Não fará nada que revele seu

passado.
Então haverá o ajuste de contas, não?
Sim, haverá. E quem tem que cair, cairá. Não restará ne-
uhum dos sete ao final de tudo. Aqueles que se regenerarem serã0
usados pela Lei, os que se recusarem terão suas forças quebradas e
a o pagar caro. E se ainda assim nsistirem serão mandados para o

ono circulo: o fim de toda existência.


Mas e quanto a mim e a meu filho?
-

Ele ficará protegidoe você continuará servindo àLei como

cnleto ultimamente.
Nao serei atingido?
Nao, Nós o pouparemos da destruiçao. Aceita
Sn, cu aceito.
Pois na lalhe, senao pagara o preço do desalio à Le
Revelaçics do P'asado 15

Não falharei.
Então, de agora em diante, a Lei cuidará de tudo. Que os
mentores de luz não interfiram, pois os regentes não
Muito pelo contrário, só interferiräo.
ajudarão ao nosso filho. Tudo
oculto do ser das trevas. Levem-no de permanecerá
volta
plano crosta ao seu na
terrestre.
-
E fui novamente envolvido na rede de
luz para retornar ao
meu plano
na crosta. O tempo passavae você acumulava
assistia a tudo sem poder fazer nada. Bem forças. Eu
estava mais que gostaria, mas eu
preocupado comigo que com você naquele tempo. Lem-
bra-se de como você era conduzido à
casa de Flávio
algum choque das trevas? quando sofria
Sim,eu me lembro. Era como se fosse conduzido
por alguém.
Logo me vinha à mente o nome de Flávio e lá ia eu em busca de ajuda.
-Era seu guardião
quem o induzia a fazer aquilo. Ele sabia
que Flávio o ajudaria, pois ele conhecia os mistérios da
tava de voce. Achava-o um magia e gos-
amigo leat.
Eu era leal. Nunca sou falso
-

quando aceito alguém como


amigo.
-Sim, eu sei. O que quis dizer é que ele o estimava muito.
Era um sentimento recíproco. Eu o
ajudava nas suas dificul-
dades materiais e ele me ajudava nas minhas, de ordem
O fato éque eu o guardava a distância. Com o
espiritual.
achei tempo
que não haveria mais problemas. la ser uma encarnaço sem lutas.
Mas eis que quando você estava construindo seu templo surgiu um
imprevisto com Flávio.
-Sim, eu me lembro dele. Foi a primeira vez que discordamos
a respeito de algo.
E. Quase que eu
-

perdi naquele dia.


me
-

Como assim, meu amigo?


-

Por causa do seu amigo Hélio, você foi descoberto. Tudoo


que eu ocultara por anos, ele revelou em um só dia.
-Vamos, conte-me como se passou isso tudo no seu plano,
pois no meu eu me lembro bem.
-Bem, apÓsa discussão dosdois, Flávio mandou umoutro gurdião
seu contra Hélio. Ele ia atacá-lo quando suas forças intervie
Só por causa de uma simples discussão?
Não foi só porcausa disso. E que, ao seguir Hélio, o guardião
de Flávio descobriu quem ele era. Voltoue comunIcou ao ser das
Vidn
O Livro da
16

o seu poder. Eu fiquei


atacar Hélio com todo
o mandou
revas. Este
desculpa serviu como para nao participar
interveio para pacifi
me
guardá-lo, o que
para Quando o seu guardião
da luta que ia começar. do Oriente
os magos
sido descoberto. Foi quando
car, você já tinha
mostraram, lembra-se,
bom lhomem?
se
Foi algo fulminante aparição
a deles.
-Sim, eu me lembro. Vocêjá
ter início.
-Pois vieram porque o ajuste de contas ia
tinha feito a sua sétima iniciação. Lembra-se?
Sim, eu me lembro.
vocë a fez
Flávio ficou tão curioso quando
-Foi por isso que Lembra-se como
assim como não viu as outras.
e ele não pôde ver,
fazê-las?
Seu mentor pedia-lhe segredo ao eu ocul-
atrás da outra para que
-Sim, era uma advertência
tasse de todos, principalmente de
Flávio.
-Eles sabiam o porquê, só não
lhe revelavam.
tanto nmistério. Eu dizia
hoje eu sei. Até brincava
com
Disso
que era um mag0 cego.
as sete iniciações que o salvaram e à sua família.
-

Pois foram
Os magos tomaram conta de sua casa,
de vocês e do seu templo
também.
não tivesse havido
E, hoje eu sei de tudo isso. Se realmente
-

a luta, presenciada por quem via os


dois planos, diria que foi tudo um
pesadelo.
- Foi realmente um pesadelo, só que real. Como eu estava
achou que eu sabia de
dizendo, quase fui destruído. O ser das trevas
sabia o mesm0 que
algo. Neguei com veemëncia. Argumentei que
ele sabia. Por fim acreditou em mim, mas ai era tarde para impedir-
começando. Falanges inteiras
mos a luta. O ajuste de contas estava
foram tragadas pela terra, sumiram no fogo, foram arrastadas pelo
ar ou levadas para o fundo do mar.

eu me lembro. Também sofri alguns choques violentos.


Sim,
Creio que alguns mentores de luz foram atingidos.
-
Foram, mas os magos davam cobertura. Quanto mais eram
Eu assistia a
atacados, maior estrago causavam ao ser das trevas.
Ludo silêncio. Meu filho encarnado foi posto em perigo, p01s Vi
em
Procurei saber o motivo daquilo se
quando começaram a envolvê-lo.
cu me mantinha na delensiva e nao participava de nada. Fizeram-me

algumas exigéncias. Procurei aatendë-los. Os guardiðes de lei toma-


ram posição em sua casa. A luta saira do controle. Eu a tudo assistia
Revelaçocs do Pasado 17

em silèncio. Temia ser envolvido no


das trevas combate que se travava. O ser
chamou os outros seis. O
Hélio voltou-se contra que estava contra seu
você. O ser das trevas revelou-lhe amigo
VOcë. Sim, você quem era
já havia interferido na vida dele diversas
Quando ele soube quem você já tinha sido nas vezes.
res ficou furioso.
la causar-Ihe um acidente encarnações anterio0-
Naruê quase quando
decepou braço dele. Lembra-se disso?
o
o senhor
Ogum
-Sim, eu me lembro disso também.
gum até hoje. Não esqueci detalhe al-
-Pois bem, desde então o ser das
trevas tirou rapidamente
Flávio de sua casa. A cada dia
perdia mais escravos. Quando Flávio
partiu, nem se despediu de você, lembra-se?
Sim, atéfiquei magoado com sua atitude.
-

Pois logo a seguir o ser das trevas


deroso contra você. Foi planejou um ataque po-
ele se
quando magos descobriram o local onde
os
escondia. Acho que era isso
A luta foi medonha, isso eu que eles procuravam há séculos.
assisti, mas não intervi. Vi quando o ser
das trevas urrava no círculo
mágico e era reduzido a pó pela luz da
Estrela Guia. Fiquei com medo, eu, um ser
do astral. Também vi que atuava no lado escuro
quando legiöes infernais inteiras sé levantaram
contra suas forças. E assisti em
silêncio quando uma a uma foram
aniquiladas pelos magos. Eu já não odiava, temia até seus
Não tinha tempo de odiar. Vi gestos.
quando
foram sendo caçados, um a um. Vi também a
todos os seis remanescentes
grande serpente de luz
envolver sua casa quando o terceiro dos sete assediou-a
abalar o
e
conseguiu
seu templo. Ele jogou todo o seu trabalho por
terra. Usou
seus escravos encarnados para conseguir isso. Criou muitos focos de
luta contra suas forças. Ele era um
grande estrategista e soube mover
suas forças com uma
perfeição espantosa. Sorriu quando você foi até
Flávio para dizer que tinha fechado as portas do templo. Ele ficou
triste como fechamento do templo, mas ao mesmo
tempo regozijou-
se com seu fracasso,que fez se sentir como um grande mago e
o o
viu você como um fracasso. Só que ele ão sabia que um combate
estava sendo travado, mas você sabia! Foi nesse tempo que os sete
foram destruídos e os que haviam traído você foram castigados. Eu
fui poupado da destruição de minhas forças.. Sobrevivi sem nada
sofrer. Quando você adquiriu o sétimo símbolo vivo fui chamado. Ao
vê-lo com os sete símbolos impressos com o fogo vivo, me abaixei e
me pus à
disposição dos guardiães da Lei. Faria o que eles me pedis-
18 O Livro dn Vida

Sem. Nada me pediram, só me ordenaram que guardasse Flávio, pois


ainda tinha algo que queriam dele. Só não me falaram o que era. Eu
ainda o vi mover forças poderosas contra você. Mas acho que foram
OS propri0s magos que o fizer:am agir assim. Queriam a cabeça de
aguns seres das trevas e só Flávio tinha a chave de acesso até eles.
Eu os vi tombar também. Eu tinha paz, mas tinha medo. Quando vi
as
grandes serpentes encantadas da luz se levantarem, fiquei apavo-
rado. O combate agora era contra o próprio príncipe das trevas. Pedi
para me afastar de tudo. Deram-me liberdade para fazer o que qui-
sesse, desde que o esquecesse. Foi o que fiz.
-E por que hoje volta até mim?
Lembra-se do serque você identificou na casa do seu ami-
go Roberto?
Sim, foi uma revelação sobre o meu passado.
Pois é. Ele saiu de lá e veio tirar satisfação comigo. Eu
disse-lhe que já no tinha nada contra você. Expliquei-lhe que a paz
reinava entre nós. Já não havia mais motivos para a luta. Cobrou-me
o uso de suas forças, que há 3.600 anos eu havia feito como um
poderoso sacerdote das trevas.
Eo que você fez há 3.600 anos, amigo?
-

Eu usei de tudo e de todos para destruí-lo. Ele foi


-

um dos
seres das trevas que eu invoquei para matar você e o Faraó.
-

Entendo. Quando eu descobri o que havia sido naquela épo-


ca e por que falhei, fiquei triste. Só não sabia como foi que tudo
OCorreu.
Eu sei de tudo, por isso estou Ihe falando agora. Não vou ter
paz nunca se não falar tudo a você hoje.
-Eu o conheço, amigo. Continue!
Bem, ele veio me cobrar o passado. Disse-me que você o
havia perdoado e marcado para servir à Lei daquele dia em diante.
-Sim, isso eufiz pelo próprio bem dele. Nãoé por maldade que
eu marco algum ser das trevas. Sou muito cauteloso e sóo
faço quan-
do o está no livro do escriba. Se o nome não consta, nada faço!
nome
-

Eu nãoo estou culpando, bom homem! Só procuro um pou-


co de paz, nada mais.
Como posso Ihe dar paz?
- Peça aos que estão marcados para não agirem contra mim.

Se o lizerem, terei minhas forças quebradase os que eu guardo vão


ser atmgidos.
Rcvclnçocs do Passado 19

Meu amigo, o que me pede não sei se tenho poder de con-


seguir, nmas vou tentar pacificar os ânimos deles.
Faça isso, não por mim, mas por Flávio Ele está sofrendo
muito com o resultado do
ajuste de contas.
Eo que tem Flávio a ver com o
ajuste de contas?
Ele sempre foi um adversário seu. Por diversas encarna-
ções usou todo o poder das trevas para destrui-lo.
-Conseguiu em todas?
Não. Em algumas obteve resultados parciais; noutras, des-
feriu-Ihe golpes mortais.
Eo por quê disso, amigo?
Eo passado longínquo que o faz agir assim. Eu só sei de
uma parte da origem. Não tenho poder de ver o passado mais distan-
te. Mas tenho certeza de que é lá que está oculto o mistério de tanta
luta. São milênios e milênios!
Bem, não adianta tentar elucidá-lo sem a presença de Flá-
-

vio, e não foi só por isso que você veio, não é?


- Não. Eu pedi o encontro. Preciso que veja tudo o que fiz a

você e a outros
para que possa ter um pouco de paz.
Já no é necessário eu ver mais nada.
-

-Quer dizer que não posso contar com seu perdão?


Eu estava com o semblante sombrio. Isso deve ter feito com
que pensasse asim.
Não, meu amigo, muito pelo contrário. Vejo em você a mim
mesmo. Lutas e mais lutas mentais. Para que isso tudo?
Não sei, acho que somos uns idiotas. Pensamos que temos o
controle de tudo, mas quando percebemos realmente o que nos acon-
teceu vemos que fomos usados num jogo entre a luz e as trevas.
- Sim, não somos mais que uma peça num jogo em que somos

sacrificados sem piedade algunma.


Posso contar com sua ajuda'?
-

Sim, vou ajudá-lo. Não sei se lhe faço um bem, mas vou
ajudá-lo. Espero nunca vir a me arrepender.
- De minha parte não se arrependerá. Pode ficar tranqüilo.
-Mas e quanto ao ser das trevas e aos outros?
- O ser das trevas está reduzido ao nada. E, sem ele, os ou-

tros já não têm o mesmo poder de antes.


-Eo que eu tenho que fazer para ajudá-lo?
20 OLivro da Vidn

Olhe todo o passado e então emitirá o seu veredicto. Se,


pos vë-lo, ainda se dispuser a me ajudar, só pedirei uma coisa.
E qual é essa coisa?
-Pedirei que retirea maldiçãoque lançou sobre mime Flávio
- Não sabia que uma simples frase lançada num momento de
desespero pesasse tanto sobre o destino de alguém.
- Depende de como e quando ela é dita, e quem a diz.

Eu a disse num momento de desespero, amigo.


-

Eu sei, mas quem está executando a maldição é alguém que


não tem problemas com o desespero. Já é um desesperado.
-
Procurarei que posso fazer para retirar a maldição.
ver o
- Muitos lhe ficarão agradecidos, bom homem. Mas, antes, tem

que ver o passado. Só com ele visto poderá emitir um juízo correto.
-

Eu acho que não há necessidade, amigo


Há, pois no futuro, quando deixar a carne, vai conhecê-lo e
então poderá se voltar contra nós.
Eu não me voltaria, pois já tenho comigo um sentimento que
-

me ordena não considerar a


ningum como inimigo, apenas adversá-
rios de uma luta eterna.
-

Só poderá ver se é correto o seu sentimento após ver a tudo


que está guardado na memória do tempo que não volta mais.
-
Já que você insiste, como faç0 para ver o passado?
Eu não posso mostrá-lo a vocë, mas o seu amigo, aí ao seu
-

lado, poderá fazê-lo. Foi a ele que pedi ajuda para ter um pouco de
paz.
Pois vamos ver como foi o passado já
esquecido.
-

Eo meu amigo de nome Tim colocou uma


espécie de tela de
cristal. Passou sua mão sobre uma parte dela e
imagens começaram
a surgir.

Explicou-me que a peça havia sido cedida pelos magos para


que eu pudesse assistir a uma parte do meu passado. Pediu-me que
só olhasse e não fizesse comentário
algum. Disse-me também que o
local do encontro tinha sido escolhido por estar em sintonia com o
local do passado. Vocés verão o que vi como uma história, uma his-
tória que o tempo jå arquivou em sua memória oculta.
Algo foi se formando na tela cristalina. Pouco a pouco uma
imagem nítida surgiu. Era um livro c0m um nome escrito em sua
capa. Eu não conhecia a língua que Ihe denominava.
Tim me esclareceu.
Revelaçocs do Passado 21

- É escrita caldéia. Já não existem mais vestígios dela hoje. O


que está escrito na capa quer dizer "O Livro da Vida de Levi Ben
Yohai". Foi escrito por um iluminado no seu tempo. Sim, Levi Ben
Yohai foi um sábio que fez de tudo para trazer o saber num tempo
em que ele estava envolto num manto negro.
Eu já ia perguntar quem foi Levi Ben Yohai quando Tim, com
um gesto, pediu-me silêncio. Aquiesci com a cabeça.
UMA MissAO EsPECIAL

Levi Ben Yohai nasceucom uma missäo muito especial la ser


cnado na Caldéia, mas com certa idade partiria para a terra dos
faraós para levar a luz do saber ao jovem faraó que até hoje é cha-
mado Akhenaton. Iria entrar na vida do jovem soberano logo cedo.
Quando este tivesse alguns anos, Levi Ben Yohai se aproximaria
dele
Varios espíritos de luz o acompanhavam do lado espiritual da
dimensão humana; nada podia falhar com Levi Ben Yohai.
Sua missao era muito importante. Outros iniciados haviam re-
nunciado à missão de tal envergadura.
Os riscos de falhar eram muito grandes. Um iniciado aceitou,
ia consertar um desvio do passado. Já estivera outra vez lá com
missão idéntica. la refazer o passado já esquecido na mente daquele
povo.
Nasceu sob um teto humilde. Criou-se à beira de um oásis com
outros meninos de sua idade.
Só que Levi tinha o dom de ver o mundo sobrenatural, e isso
nao era comum, como até hoje não o é.
Logo foi sendo preparado pelos mestres invisíveis para sua
MIssao.
Isolava-se dos outros mennos para conversar cOm os nestres.
As vezes nào taza seu trabalho só
para poder falar com eles.
Quando tinha nove anos, apanhou do pai por causa disso. Os
amigos VIViam brncando com sua falha. Dizan que Levi era um
vagabundo, por isso havia apanhado do pai.
Em dado momento, Levi tomou uma decisão.

23
OLivro dn Vida
24

oásis, e ele fez amizade


como che-
Uma caravana passava pelo como membro dela.
fe conseguindo assim ser admitido
caravaneiro,
O homem acolheu Levi
Foi auxiliado pelos mestres invisíveis.
com um sorriso no rosto. Logo
Levi se tornou inseparável do

caravaneiro, que se chamava


Abel.
dos animais e à noite
Durante o dia, ajudavä-o na conduçao
ficavam conversando até tarde.
muitos amigos que não
Um dia, Levi confessou-lhe que tinha
podiam ser vistos por mais ninguem.
- Eu os vejoe sempre os vi1. Foi por ISso que o trouxe comigo.
Acha que eu ia concordar com sua partida se não soubesse? Não,
meu amiguinho, eu também os vi. Foram eles que me pediram para
trazê-lo comigo.
Levi estava decepcionado. Achava que era o único que podia
ver o mundo sobrenatural. Agora ja nao o era mais.
- Não se decepcione, Levi, é um dom muito ruim. As vezes
vemos coisas feias também. Você foi poupado até agora pelos mes-
tres, mas um dia vai ter que ver tudo. Aí não mais ficará encantado
com o seu dom.
- 0 senhor vê o lado ruim?
- Sim, eu o vejo. E não gosto nada. As vezes me assusto com
as visões.
-Quando isso poderá acontecer comigo?
Geralmente acontece aos 13 anos. E quando a terceira visão
se abre por completo.
Bem, espero não ver as coisas ruins.
Mas verá, não tenha dúvidas! Vá se preparando, Levi.
Vou tentar não ficar com medo. Não poderão me fazer mal
algum, os mestres não me fazem mal!
-Os mestres estão aí para ensiná-lo, não para fazer-lhe al-
gum mal.
Levi ficou pensativo, e não falou mais nada. Logo foram dormir.
No dia seguinte, chegaram a uma aldeia. Era o
ponto de chega-
da da caravana.
O grande número de habitantes do
lugar o deixou admirado.
Caminhava atrás do chefe da caravana olhando para tudo e todos.
As pessoas não eram caladas como as do oásis. Gritavam
anuncian-
do seus produtos. Discutiam o preço em voz alta.
Tudo isso deixava Levi perplexo. Sim, o
VIsto nada igual.
jovem nunca havia
Una Missio Especinl
25

Quando já estavan chegando ao destino


deu um grito de pavor. do caravaneiro, Levi
Todos olharam para o menino com
lecido com ele? espanto. O que teria acon-
O vozerio cessou de
imediato. Todos estavam
Quando Levi saiu do curiosos.
-Uma cobra, uma cobraespanto, falou.
daguele homem. Está com as presas gigantesca está enrolada no corpo
O caravaneiro interveio cravadas no seu
pescoço.
-
rápido.
Vamos, filho, está tendo outra vez
Não, senhor! Eu estou vendo ali alucinações.
também. mesmo, olhe e vai ver

Não, filho, você apenas está alucinado!


Não estou, não!
O homem deu-Ihe um
tapa no rosto e uns safanões como se
estivesse tentando acordá-lo.
Levi começou a chorar.
Não liguem para o meu filho. As vezes ele
-

sofre de alucina-
ções. Logo ficará bom, não se
preocupem!-
puxando Levi por uma mão e saindo rápido do falou
o caravaneiro,
meio do povo.
O menino chorava. Não tanto
realmente uma cobra.
pela dor, mas tinha visto porque
Mais adiante, beco, o caravaneiro falou-lhe com calma:
num
-

Desculpe-me, Levi, não queria magoá-lo. Fui obrigado a fa-


zer isso para o seu
próprio bem. Aquelas pessoas não iam acreditar
em voce.
Por que, se a cobra estava enrolada no homem eo mordia
sem parar?
Você acha que se alguém fosse mordido por uma cobra
daquele tamanho estaria a conversar tão animado como ele estava
fazendo?
O senhor também viu a cobra?
-Sim. SQ que eu sabia que não era real, e você não.
Aquilo foi uma das visões desagradáveis de que o senhor
falou?
Sim, só que apenas nós as vimos. As outras pessoas não
podiam vê-las.
Mas por que isso, senhor?
E melhor não nos envolvermos, Levi. Pode ser muito perigoso.
O L oda Vda

Por que?
solrendo alguma magia e nós não va-
O homem pode estar
melhor é nos calarmos, não acha?
mos poder intervir, o cobra. Ass1mo ho-
Não sei. poderíamos
a0 menos
nalara
mem nào seria mordido por cla.
nao se destaZ com um pedaço
Não é assim tão fácil. Magia
isso também.
de pau. Vocé tem que aprender
O senhor me ensina?
vamos, tenho que con-
Como eu lhe ensiarei. Agora
tempo
esbofeteado.
cluir os meus negócios. Desculpe-me por tê-lo
errado.
Sim. senhor. Eu é que peço desculpas por ter agido
E natural quando
Você só não sabia a forma correta de agir.
temos uma dessas visões pela primeira vez. Comigo aconteceu qua-

coisa. Eu Ihe ensinarei a distinguir entre um estado e


se a mesma
outro. Venha, mais tarde conversaremos, filho.
Eo caravaneiro negociou suas mercadorias rapidamente. Quan-
do terminou a entrega delas, fez um conVite ao menino.
-Venha, hoje vocë conhecerá um pouco da vida.
- O que vou ver, senhor?
Verá o que é a vida numa aldeia. Conhecerá pessoas dife-
rentes e vamos comer a melhor comida que há na região.
Levou o menino para conhecer a hospedaria onde costumava
ficar quando ia à aldeia.
Levi olhava ao redor com muita atenção. Tudo era novidade
para ele, que nascera num oásis perdido no deserto.
O caravaneiro parou numa loja e comprou-lhe uma veste nova.
Quando chegaram à hospedaria, foram ao salão de banhos.
Levi ficou mais tempo que todos no banho. Sentia saudades do
oásis, onde entrava na água todos os dias.
Quando saiu, o seu chefe o aguardava com a roupa nova. Ves-
tiu-a com muitocuidado. Nuncativera antes uma roupa assim. Como
era gostoso senti-la no corpo!
Vamos, filho. Está na hora de comemos algo bom após uma
longa viagem.
Levi comeu até náo poder mais. A comida era melhor que a de
sua måe.
Agora, chega de comer. Temos muito para ver esta noite
Foram a uma casa de danças. O lugar era muito freqiüentado. Ha-
Via todo tipo de pessoas ali. Homens de negócios, vadios, ladrões, etc.
Uma Misio Espccinl
27

Quando o dono da casa


local, o caravaneiro falou: veio dizer que Levi não podia ficar no
-
Se meu imão não
embora e não terá o pode ficar aqui, então eu também
meu
Não vá! Se ele é dinheiro,
vou
senhor.
seu irmão
arrumar entäo pode ficar.
lugar para vocés.
um Venham, vou
Acompanhem-me,
Foram acomodados num local por favor!
ficou extasiado com a beleza delas. próximo dançarinas e Levi
às
Sim, tudoé
novidade!-pensou. Viu uma delas e não tirou o
olhar do seu corpo.
Ainda era uma criança, mas não
admiração pela jovem. Ela percebeu o deixou de sentir uma certa
olhar do menino e ficou o
mais próximo possível dele.
ava para Levi.
Dançava ao som da música e se insinu-
Irmão, ela está olhando só
-

para o caravaneiro.
para mim, você vë? falou -

Sim, filho, você a conquistou com sua


seu olhar de serpente do deserto. roupa de príncipe e
Levi sorriu das palavras do seu novo
"irmão".
Já que o senhor me chama de
-

filho, não posso chamá-lo de


pai?
Se voce prefere assim, então que assim
diante, filho. seja de agora em

Certo, pai. Sou seu mais novo filho!


O mais novo, e o único. Não quero mais filhos na minha
vida, filho!
E caíram na gargalhada. Sim, entendiam-se bem os dois
amigos.
Levi olhou novamente para a jovem. Ela estava sorrindo.
-

Filho, acho que ela está pensando que falávamos dela. Olha
como sorriu para voce!
-Será queela gostou de mim?
Certamente que sim, senão estaria olhando para outro qual-
-

quer. Acho que já está apaixonada por vocé, filho!


Levi começou a sonhar. Lembrava-se das histórias que os ho-
mens contavam ao redor da fogueira perto do oásis. Eram histórias
nas quais moças bonitas sempre tinham um lugar de destaque.
Ele ainda estava com a imaginação distante quando uma v0z

meiga perguntou se podia sentar ao seu lado.


ao seu lado.
susto quando viu a bailarina
Sonhava
Levou um
tanto que nem percebeu que a música já havia terminado.
28 OLivr da Vida

o seu chefe sem saber o que responder.


Levi olhou para
- Vamos, filho, cadêa boa educação do deserto? Onde está a
cortesia com as belas jovens?
- Pois não, senhora! Quero dizer, moça, pode se sentar.
Levi sentia o coração quase saltar do peito, tal a situação,
- Vamos, filho, ofereça uma bebida à jovem. Ela deve estar
sedenta não?
após a dança,
Sim. Eu estou com muita sede. Vai me pagar uma bebida ou
terei que ir beber com outro homem? -perguntou a bailarina a
Levi, que olhou desesperado para o chefe. O que devia fazer em tal
situação?
Vamos, filho, pergunte o que a jovem deseja beber. Então
peça ao taberneiro que ele a servirá.
Mas não tenho nem uma moeda comigo. Como vou pagar?
- Não me ajudou com a caravana? Pois peça que eu pago a

bebida.
Levi criou coragem e pediu a bebida. Quando a jovem bebeu-a
toda, agradeceu ao caravaneiro e a Levi. Como despedida, deu-lhe
um beijo no rosto e voltou à sua dança.
-Viu, filho? Não falei que ela está apaixonada por você.
Puxa, como foi bom o beijo dela, pai!
-

Você nunca foi beijado antes, Levi?


Não, senhor, este foi o primeiro beijo que ganhei até hoje.
Pelo menos você começou bem. O meu
-

nhei de uma mulher que assustaria até uma


primeiro beijo ga-
Mas por que você a deixou
assombração.
beijá-lo?
-

Eu estava bêbado! Não sabia o


-

que estava fazendo. Por-


tanto, nunca fique bêbado se quiser se livrar das feias. Para
sobram os bêbados. Agora, vamos dormir elas, só
que já é tarde.
Foram embora, n0 sem antes Levi receber um
aceno de mão
da jovem, o que o fez sair
contente.
Naquela noite, Levi sonhou com bailarinas dançando a sua volta.
Logo cedo foi tirado da cama pelo seu novo pai.
-

Vamos, filho, sono é bom para descansar, no


um homem preguiçoso. para tornar
Providenciaram tudo para nova partida. lam
meses, mais ou menos. viajar por uns quatro
Levi pediu para voltar à taverna. Queria se
dançarina. despedir da jovem
Uma Missao Especial 29

O caravaneiro, vendo
que ele estava apaixonado por ela, as-
sentiu em levá-lo.
Quando se acomodaram num canto, Levi viu a
estava entre as outras. Ficou que jovem não
decepcionado, pois iam partir no dia
seguinte.
Ficaram até tarde, mas a jovem não
Ao amanhecer, partiram. apareceu.
Levi ia calado, muito quieto mesmo. Abel, o
ao seu lado e puxou conversa com
caravaneiro, parou
ele.
-O que há com você, Levi?
Nada, pai. Estou bem.
-

Não minta para mim, filho. Estou vendo


E por causa da bailarina, não? você diferente hoje.
-Sim. Fiquei triste por não vê-la
mais, talvez eu não a veja
outra vez na minha vida.
-Quem lhe disse isso? E claro
que vai vê-la quando voltar-
mos aqui.
Eu acho que não voltaremos mais
aqui, Abel.
Como não? Lógico que voltaremos
aqui. Eu sempre volto.
-Os mestres disseram que não voltaremos mais
bom estarmos preparados para o aqui. Que è
pior.
Eo que mais eles disseram?
-

Que vamos ser levados para longe. Eu acho que não vou
ver mais a bailarina, Abel.
Não
fique triste, Levi. Se você não encontrá-la, outra mais
bela surgirá em sua vida, e esta só
dançará para você. E melhor
assim, não?
Não entendi o que o senhor quis dizer.
-

-Ora, vamos! Você não vai querer uma jovem que todos os
homens já viram dançar a sua frente. Você só está fascinado
pela
beleza dela. E uma paixão de criança apenas. Mais alguns dias e não
se lembrará mais dela.
Acho que nunca vou esquecê-la. Ela no me sai do pensamento
-

Vamos, ví cuidar dos animais! Assim distrairá sua mente


com algo real. Caso pense muito nela, dê um beijo num dos animais
e pense que é ela.
Abel se afastou gargalhando do que havia falado. Levi ficou
com raiva dele. Como podia compará-la a um animal de carga?
OLivro da Vida
30

Já viajavam havia um mës, mais ou menos, quando a caravana


foi cercada por um grupo numeroso de assaltantes. Levi correu para
perto de Abel.
-Fiquequieto, Levi. Talvez não queram nada de nós. São
assaltantes do deserto, conlheço quase todos eles. Dou um pouco de
mercadorias e me deixam em paz.
Sinto que algo ruim está acontecendo a nós, Abel.
- Não se preocupe, eu resolvo tudo com calma.
Os assaltantes foram fechando a caravana num círculo. Logo
começarama amarrar os empregados de Abel. Este tentou reagir e
foi agredido com violência.
-Por que fazem isso conosco?-perguntou Abel.
Você é nosso escravo de agora em diante. Se reagirem será
pior para todos.
-Por que não levam um pouco de mercadorias, como fazem
os outros salteadores?
- Por que levar um pouco se podemos levar tudo e ainda vende-

los no mercado de escravos e ganhar muito dinheiro?


Abel assustou-se com essas palavras. Iam ser vendidos como
escravos. Era o pior que podia acontecer. Um ser humano que nas-
ceu e viveu livre vir a ser escravo era pior que a morte.
Foram todos amarrados e levados para uma região ao sul. De-
pois de muitos dias de viagem, chegaram a uma enseada no golfo.
Um navio já os aguardava. Embarcaram e viajaram por vários dias.
O destino da embarcação era uma cidade à beira-mar no atual
lêmen do Norte, quase divisa com a Arábia Saudita, que
naquela
época eram uma nação só. Havia muitas tribos e vários cls que se
digladiavam pelo poder, mas não havia fronteiras.
Quando desembarcaram em terra, foram levados a um cala-
bouço de pedras. A mercadoria humana tinha muito valor entre aquele
povo.
Receberam uma refeição com um gosto horrível.
Levi ficou olhando o seu prato. Não era bem um prato, mas
uma tigela de barro cozido. Sentia
nojo da comida.
Abel, isto aqui é pior que a comida de minha mãe
-

Vamos, Levi, coma se quer viver.


Eu não consigo engoli-la, tem um
-

gosto horrível
Coma, pois só assim não morrerá de fome. E, além do mais,
lerá que estar com uma b0a
aparëncia se quiser arrumar um dono
Uma Misio Especinl 31

rico. Os doentes fracos não são valiosos e ento


e
qualquer um pode
comprá-los. Mas os saudáveis, só os que têm muito dinheiro
Como sabe, Abel? adquirem.
Já ouvi muitas histórias a
-

frer muito.
respeito dos escravos. Vamos so-
-
Eu trouxe a má sorte para
você, Abel. Sinto muito.
Não trouxe não, Levi. Isso foi uma falta de
-

minha parte. Outros caravaneiros me falaram do precaução de


a todos. Devia tê-lo deixado no oásis com
perigo que rondava
seus pais. você vai Agora
sofrer por minha irresponsabilidade.
Eu ia sair de l mesmo. Se não fosse com
-

você, seria o
próximo que passasse. Pelo menos eu tenho você agora.
Não terá por muito tempo. Quando nos levarem
-

para o mer
cado, vamos ser vendidos como animais, cada um para um dono. E
então nunca mais vamos nos ver. Sinto muito
por ter levado você a
isso, filho.
Eu não estou triste, Abel. A vida no oásis não me
mesmo. Acho que não vai piorar
agradava
aqui.
Como pode saber se antes nunca foi escravo? Se soubesse
como são tratados não diria isso.
Os mestres estão dizendo para não me preocupar. Eles di-
zem que vamos ficar bem.
-

Você ainda os vê?


Sim, por quê?
Eu já não os vejo a dias. Acho que minha preocupação com
o que nos aconteceu fez com que eu não os Visse mais.
-

Vamos confiar neles, Abel.


-Sim, é o melhor a ser feito agora. Vamos, coma, Levi! Se
esta papa esfriar você não conseguirá engoli-la mais.
Levi ainda tentou comer, mas não conseguiu engolir a pasta
que diziam ser comida.
Logo estavam dormindo. A viagem de navio deixara-os com os
corpos doloridos.
Ao amanhecer, foram acordados com os gritos dos carcereiros.
Ordenavam que se apressassem. Iam ser levadoS ao mercado para
ser leiloados. Quem desse o melhor preço levaria 0s escravos
Quando chegaram ao mercado, assustaram-se com a aparên-
cia dos compradores. Eram todos homens de aparência cruel.
O LiTo da Vida
32

cada vez mais pelos


altos escravos.
O leiloeiro ia pedindo preços
último. Talvez quisesse conseguir me-
Abel e Levi ficaram por
eram velhos. Os melhores ele sempre
hor preço por eles porque não
deixava por último.
sendo
da multidão: estava
Levi viu uma mulher se aproxImar
carregada numa liteira.
a observava tam-
Ela olhava com insistência para Levi, que
tão bonita quanto ela.
bém. Parecia muito com a bailarina e era
Um a um os escravos iam sendo vendidos. Já restavam poucos
veio até o leiloeiro. Confidenciou-
quando um dos servos da mulher
Ihe algo no ouvido e logo Levi foi solto das cordas e entregue a ele.
Levaram-no até a mulher. Esta o olhou de alto a baixo e sorriu-
Ihe. Levi retribuiu ao sorriso dela. Era mais bonita de perto. Levi
elogiou-a.
- A senhora é muito bonita. Parece com uma bailarina que eu
vi um dia.
Quer dizer que já freqüentou prostíbulos também?
O que é isso, senhora?
- Não sabe o que é um prostíbulo? Como põde ver uma bailarina?
- Foi o meu pai que me levou. Era uma laverna onde as mo-
ças dançavam e nós assistíamos.
E onde está seu pai agora'?
-

Lá está ele. - e Levi mostrou Abel, que já estava sendo

leiloado. -Leve-o também, senhora. Ele vai ficar muito feliz se a


senhora fizer isso.
A mulher olhou para Abel, deu uma ordem e logo o leiloeiro
estava perdendo mais um escravo. Ele puxou os cabelos em deses-
pero. O prejuízo tinha sido muito grande.
Abel foi trazido para junto de Levi.
-Papai, ela vai levá-lo juntocomigo!- falou Levi, feliz.
Obrigado, senhora. Eu e meu filho Ihe agradecemos muito
por nos ter comprado.
-Eu não os comprei. Tomei-os para que sirvam no templo.
Lá ajudarão na manutenção dele.
- Nós não a decepcionaremos- falou Levi, que sorria ao
falar.
Vocë parece feliz, menino. Como
chama? se
Levi Ben Yohai, senhora. Eu estou feliz porque gostei da
senhora. E muito bonita!
Umn Missn Espeeinl 33

Gosto de vocë lambém, Levi. Agora vamos voltar para


templo. Preciso amarra-los pata que náo tentem fugir?
A mim não! Eu vou contente- falou Levi.
Quanto a mim, onde meu filho feliz, eu sou também.
Então sigam a liteira- falou a senhora, que deu uma or
dem e os homens carregaram-na de volta.
Já havianm se afastado da multidão quando Abel cochichou a
Levi
Ela se apaixonou por você, filho.
Será, Abel?
Abel não: pai. De agora em diante, sou seu pai, senão cla
não me quererá.
-Ela vai querersim, "par". Nós vamos ajudá-la no templo. O
senhor não ouviu ela falar?
-Não acredite nisso, Levi. Ela só me adquiriu para agrad-lo.
Ea você que ela quer.
Levi ficou calado. Por que ela ia querê-lo? Era uma criança
ainda.
Caminhavam atrás da liteira. Levi começou a sentir vertigens e
desmaiou.
Abel deu um grito. Os homens pararam a liteira para vero que
havia acontecido.
Abel apanhou o menino e, com ele nos braços, disse à senhora
que estava tudo bem. Levi havia tido um desmaio devido à fraqueza
por não ter se alimentado bem nos últimos dias.
-Coloque-o aqui, junto de mim.
Não se preocupe, senhora, eu o carrego, pois estú sujo e
cheirando mal. Só vai incomodá-la.
A mulher ficou séria. Falou brava:
- Eu ordenei que o colocasse aqui, portanto obedeça já a ordem!

-Sim, senhora, eu não queria desrespeitá-la com minha ob-


servação. Desculpe-me.
Abel colocou Levi ao lado dela. Ainda viu quando ela acarieiou
o seu rosto pálido.
Ficou imaginando o que aquela mulher queria com Levi.
Pouco depois chegaram ao templo. Era muito luxuoso.
Abel ficou impresionado com tudo à volta. O jardim atrás do
templo era encantador. E as árvores frutíferas, então? Todas carre-
gadas de belos frutos.
OLiro da Vidn
34

Toram levados a um
local
residlencal,
à ala
Quando chegaram
para se lavarem.
larde loram levados
até a
e ais
Receberam roupas limpas que ela ia
escravoS agora,
tinham quC saber o

senhora deles. Eram


ordenar.
ua sala muito bonila. Ali, tudo resplande-
a
Foram conduzidos
Cia ao luxo.
Levi lalou
Diante da senhora, destas colunas e
estive antes. Sim, me lembro
-

Eu já aqui
também das flores.
Tem que aprender quando pode falar e
Fique quieto, Levi.
-

momentos.- ordenou-lhe
é um desses
quando não pode. Agora
Abel.
Venha lado, Levi, quero saber como você
sentar-se ao meu

conhecia esta sala. Quanto a você,


Abel, vá ajudar os outros no
já o homem ao seu lado, ele o
trato dos jardins e do pomar. Acompanhe
instruirá sobre o serviço.
o homem.
Obrigado, senhora - e Abel acompanhou
com a saída de Abel.
A mulher olhou para Levi. Viu-o triste
lá fora. E
Não fique triste, Levi. Aqui ele estará melhor que
VOce poderá vë-lo quando quiser.
conhecia em sonho.
-Eu sei que a senhora é bondosa. Eu já a
Estou triste porque sou o culpado de Abel ter se
tornado um escravo.
- Vamos, conte-me como me conhecia antes e como já havia
estado aqui antes.
- Bem, eu nasci num oásis. Desde que posso me recordar
sempre via homens que ninguém mais conseguia ver. Eram os
uns

espíritos sábios. Minha mãe dizia que eu era um visionário sonhador


e meu pai dizia que eu era maluco. Com o passar do tempo, não falei
mais nada a ninguém. Mas eles, os espíritos que só eu via, começa-
ram a falar comigo. Eu ficava sozinho quando podia so para conver-
sar com eles. Meu pai vivia me chamando de preguiçoso por causa
disso. Com o tempo, aprendi muito com eles. Falaram de. lugares
distantes onde havia muitas pessoas e um dia para onde eu irna. Fa-
laram-me lambém de uma terra ao sul. Um dia eu iria conhece-la.
Diziam que havia unm templo muito bonito. As vezes eu dormia na
caverna onde costumava ficar conversando com eles e era trazido
até aqui. Vim várias vezes. Eu já tinha visto a senhora antes, mas
sempre estava triste ou chorando. Nunca podia vê-la bem, como eu
a vejo agora. Foi por isso que eu disse que a senhora era tão bonita
Uma Missio Espeeia
35

como a bailarina. Ela annda era


moça, mas parecia com a
Os espíritos
disseram algum temp0 atrás que eu ia senhora.
pessoa. Por isso fiquei olhando conhecê-la em
para a senhora lá no mercado
escravos. Estava com medo de ser vendido de
ficar com senhora como haviam me
a para alguém e não poder
Levi ficou em silêncio. prometido.
Continue, Levi, ainda no me falou tudo.
-

Bem, quando a senhora chegou, eu vi um dos


da senhora. Ele saiu de lá e veio ao meu sábios atrás
lado. Sorriu-me e disse
não me preocupar que a senhora me para
levaria para o templo. Eu lhe
pedi que ajudasse Abel também. Ele disse
com nada. Mas era
para não me preocupar
para eu resistir um pouco mais, pois não
desmaiar ainda. E que eu estava muito fraco. Não podia
comia há dias. Foi
isso, senhora. O sábio está ao seu lado
agora. Os outros também
estão todos aqui. Por que a senhora está
chorando?
-E sóemoção, Levi. Suas palavras
Levi olhou para a mulher e também
me emocionaram.
começou a chorar.
Venha cá, Levi, me dê um abraço. Sinto tanta vontade de
-

abraçá-lo.
E Levi abraçou-a com força. Isso lhes dava muita alegria.
Ficaram abraçados por um longo tempo. As lágrimas foram
cessando lentamente.
Venha, Levi, vamos comer um pouco. Você ainda não se
alimentou desde que chegou aqui.
Quando passamos pelo pomar, Abel apanhou duas frutas e
nós comemos durante o banho.
-Gosta muito do Abel, não?
Sim, é o meu único amigo. A senhora jásabia que ele nãooé
meu pai de verdade, não?
trouxesse com
-Sim, eu sabia disso. Mas algo fez com que o
voce.
- Foi o sábio. Eu vi quando ele falava no seu ouvido quando
eu o apontei como meu pai.
mais sobre sua vida.
você me conta
-

Venha comer, depois


onde foi servido.
Levi acompanhou-a até outra sala,
observava-o enquanto comia. Como estava faminto
A mulher
o menino, pensou ela.
Levi falou-lhe.
Quando já estava com a fome saciada,
Comi muito, não?
OLimo da Vida
36

não?
Se o alinmento estáí na mesaé para scrcomido0,
só cra ågil na hora de comer
E que meu pai dizia que cu maiS comia.
era o primeiro a me servir e 0 que
porque
Se nao tivesse comido bastante
-

Por isso você é tão forte.


não estaria aqui hoje.
-Então serviu para alguma
coisa eu ter comido bastante. Só
senhora o que fui para meu pai. Ele dizia que
espero não ser par:a a
servia para mais nada além de comer.
eu era um peso e que não
-Você não é um peso para mim, Levi. Quando quiser comer
é só pedir que os servidores do templo o
alimentarão. Venha, vamos

ao jardim. Conversaremos até


tarde hoje. Você está cansado?
- Agora não estou mais. Jå näo sinto fome e a fraqueza de
antes já não me incomoda mais.
A mulher pegou sua mão e levou-o até o jardim.
La, ficaram a conversar até tarde.
Quando Levi já não tinha mais o que dizer, ela começou a falar:
- Sabe, Levi, eu játive um filho. Era igual a você. Diria que é
vocë se eu não tivesse visto ele morto.
- Faz muito tempo que ele morreu, senhora? Foi hásete anos
atrás e estava com sua idade atual quando veio a falecer. Eu não
tinha outros filhos e meu marido havia morrido alguns anos antes.
Sofri muito com a partida do meu filho. Eu chorava muito. Quase
não podia mais dirigir o templo. Foi quando, num sonho, euovi dor-
mindo numa pequena caverna. Ainda voltei a ela por mais duas ve-
zes. Depois, controlei minha dor e voltei aos meus deveres como
sacerdotisa.
-

Na última, a senhora estava com um medalhão no peito, não?


Sim, pode saber disso?
como
E que eu a vi. Dormia, mas via a senhora chorando ao meu
lado. Tentava Ihe falar, mas não me ouvia. Eu dizia que um dia iria ao
seu encontro, pois os sábios já haviam falado isso para mim, mas a
senhora não ouvia minhas palavras.
-Da última vez eu ouvi sua voz, Levi. Foi
comecei a ir até o mercado de escravos.
a parfir daí que
dois anoDs.
Esperava sua chegada ha
E o
tempo que passou desde sua última visita à caverna,
io?
Sim, Levi. E agora fico feliz por ter acreditado nos meus
sOnhos.
Umn Misno Especinl
37

-Senhora, os sábios
que estüo felizes por sua alegria, mas
agora volte aos seus afazeres
Eu voltarei, Levi. religiosos, pois pedem
Diga isso a eles faz. muita falta.
Não é preciso eu dizer,
eles ouvem os
senhora. nossos
Você ainda não sabe
pensamentos,
o meu
Não. nome, Levi?
-

Meu nome é Lameri.


Gosta dele?
Sim, muito bonito. é
Lameri de hoje em diante. Posso Lameri, sim, eu a chamarei de
chamá-la senhora
Eu preferia que vocë me
- assim?
Posso chamá-la de mãe chamasse de outra forma, Levi.
-

Sim, eu gosto dessa forma,


-
Lameri?
meu. Acho que o destino pois o considero como um filho
nos
tino, Levi aproximou. Qual seráo desejo do des-
Eu no sei, me
-

outra mäe, mas sei


Lameri. Ainda sinto saudades
que um dia a senhora de minha
Pode ter sido há muito já foi minha me
tempo, mas já foi. Isso eu sei. também.
Foram os sábios que Ihe
-

-Sim. Mas mesmo que nãodisseram?


jeito pois gosto muito da senhora. dissessem eu a amaria do mesmo
Eu o amo
também, Levi. De agora em
ser muitos felizes.
Vocë sabe escrever ou ler? diante, nós vamos
-Não. Lá no oásis meu
vezes riscava pai não tinha como me ensinar. As
tar eu sei. Eu
algumas letras na areia, mas nunca aprendi a ler. Con-
aprendi com facilidade, mäe
-Venha, Levi, vou Ihe mostrar uma Lameri. coisa.
Logo estavam numa sala com muitos rolos de
-Olhe. Você poderá pergaminhos.
aprender
-Quem me ensinará, mäe Lameri?
tudo aqui.

Aqui háos sábios que ensinam quem quer


estudará com eles. aprender. Você
Levi começou a olhar a bibliotleca. Cada
seu lugar alguma coisa escrila em cima.
com pergaminho tinha o
Foi olhando tudo até que se
deparou com um
O que é isto, mäe Lameri? Está enrolado pacote retangular
com um pano.
-
Não sei, Levi. Está aí hå muito
frar a sua escrita.
tempo, ninguém soube deci-
- Posso vê-lo?
OLrodn Vida

bonita, mas incom-


escrita muilo
Verá que é ma
Pegue -o.

os sábios.
preensível até para de couro curtido e
livro. Sua capa cra
desembrulhou o
letras escrilas sobre ela.
Levi
Havia algumas
pintada de preto. Abriu-o c foi virando suas folhas.
muito bem feito o "livro".
Era os rolos de
foi escrito, mâe Lameri? Não é como
No que ele
-

pergammnhos.
Nem os sábios egípcios têm algo
I s s o nós não sabemos.
com o papiro que eles usam,
mas
escrever. E parecido
assim para
não é igual.
- Faz muito temp0 que está aqui?
nasci, já esta-
Ninguém sabe há quanto tempo. Quando
eu
ele já
va. O sábio mais velho do templo diz que quando chegou aqui
estava aí há muito tempo. A verdade
é que ninguém imagina de onde
veio e quando foi feito.
- Então não serve para nada?
-

E, não serve mesmo. Por que?


- Já que ninguém consegue decifrá-lo e não tem utilidade al
guma, a senhora poderia dá-lo para mim. O que me diz?
Levi segurava-o contra o peito. Parecia que envolvia uma pe
dra preciosa gigantesca.
Lameri olhou o seu rosto. Era um pedido que vinha da alma de
Levi
-

Eu Ihe dou, mas quero que o conserve bem. Não deixe que se
estrague nunca. pois esteve aí por séculose sempre foi bem guardado.
Eu o protegerei com minha vida. própria
Também vai me prometer que estudará com os sábios.
Eu estudarei. Todos os
pergaminhos que há aqui eu lerei
-

para a senhora.
Vou querer ouvi-lo, Levi.
-Não vou decepcioná-la, mäe Lamern!
Eu sei
que não vai, Levi. Vamos, vou mostrar-lhe o seu quar
10, que fica ao lado do meu.
Levi a
como era macia!
acompanhou até o
quarto. Era muito bonito. E l cama,

-Eu nuncadorni numa cama desta


antes.
Espero que goste daqui.
-

Pode ficar certa disso. FEu me


snto no
Lameri abraçou Levi. paraiso... manae.
Uma Missio Especial
39

Obrigado por ter me chamado de mamãe, meu filho. Dur-


ma, deve estar cansado!
Levi dormiu
abraçado ao livro. Sonhou com o paraíso.
No dia
seguinte acordou tarde. Havia, ao lado da cama e sobre
uma mesinha, uma bandeja com frutas.
Ele comeu algumas e
depois foi até o jardim. Sentou-se sob
uma árvore e começou a folhear o livro.
Sua escrita o
Decifraria um dia o que estava escrito ali. intrigava.
Nisso chegou Abel.
-

Como vai, Levi Ben Yohai!


-

Abel, que bom vê-lo! Tenho tanto para Ihe contar. Você
cisa ouvir minha história. pre-
Levi, olhe para os sábios invisíveis e pergunte a eles se deve
-

me contar algo.
Levi olhou para eles. Só
calar-se.
pela aparëncia percebeu que devia
-

Por que, Abel?


Não há nada para
ser dito. Eu sei de tudo o
ceu.Fui um instrumento para conduzi-lo até que lhe aconte-
são de trazê-lo. Agora vou falar com
aqui. Cumpri minha mis
Lameri. Ela me deixará partir
assim que me ouvir.
-Quer dizer que o senhor sabia que eu viria parar aqui?
Sim, Levi. Em alguns momentos eu temi por nós, mas con-
fiava nos mestres invisíveis.
-Diga-me, Abel: o senhor conhece esta escrita do livro em
minhas mãos?
Abel olhou por algum tempo o livro. Por fim falou:
Eu não, mas eles, os mestres, a conhecem bem.
Quando
chegar a hora, eles Ihe ensinarão tudo.
Será que ainda demorará para isso acontecer, Abel?
Só você saberá a hora. Continue memorizando as letras.
Procure ver as iguais e faça um alfabeto com elas. Quando eles Ihe
revelaremo significado de cada uma delas, você só precisará fazer a
troca, pois já as terá em sua mente. Só não perca este livro, Levi.
Um dia, você descobrirá o seu valor.
- Eu o guardarei como a minha própria vida, Abel. Não se

preocupe.
- Levi, você poderia falar para sua mãe Lameri me receber
por uns instantes?
OLiro da Vidn
40

mesno, Abel.
Sim, eu farei isso agora
Não, agora não. Sóquando voc¢ cstiver com ela.
ela mesma me mandou fazer
Mas eu posso ir procurá-la,
Isso quando quisesse.
-Aprenda uma coisa,
Levi: ale agora vocë foi guiado. De
se guiar. Na0 poderá ser inconveniente
agora em diante, vai ter que
como a um ilho, mas tem um dever com o
para Lameri. Ela o ama
Isso nao pode acontecer, se-
templo. Não atrapalhe o serviço dela.
não voce irá magoá-la sem necessidade alguma.
- Como devo agir, Abel?
Levi estava preocupado com as palavras do amigo.
- Como um filho, Levi. Não se tore inconveniente. Ame-a
como ama sua me de verdade. Respeite-a mais do que respeitaria
sua própria mãe e lhe dê alegrias, no preocupações. Só assim pode-
rå retribuir tudo o que ela fará por vocé.
- Eu vou tentar, Abel.
Faça isso, Levi, mas nunca se esqueça de que sempre foi
guiado pela vontade do Criador. Honre-O também.
Não me esquecerei. Mas por que vai partir?
Tenho muito que fazer. Não posso me demorar mais junto
de voce.
-

Mas eu gosto muito de você. Vou ficar sem a única pessoa


que me ouve e me compreende. Não va embora agora, fique mais
um poucO comigo.
-Não posso, Levi. Um dia você entenderá por que tenho que
partir.
Vou sentir sua falta. Você foi mais que um irmão ou pai para
mim. Foi um mestre a me ensinar coisas da vida. Acho
que aprende-
ria muito se ficasse comigo.
-

Existem outras pessoas que precisam de mim, Levi. Um


dia, quem sabe, voltaremos a nos encontrar.
Espero que sim, pois vou sentir sua falta. Nunca o esquece-
rei, Abel, e espero que tenha gostado de mim durante este tempo em
que vivemos juntos.
Nãoo esquecerei. Eu tambémo amo como um filho, Levi
Ben Yohai. Ame-me como um
pai também.
Levi começou a chorar. la ficar sem o
único amigo que possuia.
Não chore, Levi, senão,
-

vou dizer-lhe
quando eu reencontrar a bailarina,
que o amor dela é só uma criança, e não um homem.
Ainda chorando, Levi falou:
Umn Missáo Fspecinl
41

Ela é como você. Vem e me traz um pouco de


logo partir. Acho que nunca vou ser feliz.
alegria para
Não fale assim, filho. As vezes
nem tudo acontece
gostaríamos. O destino não nos permite falhas, lembre-se como
bém. A voz de Abel estava triste. disso tam
Está bem, desculpe se eu o
-

deve ser infeliz, não? magoei, Abel. Você também


Eu não diria que sou infeliz. Só
-

dade que gostaria. Mas é só o digo que não tenho a felici-


que digo. Posso não ser feliz como
eu
gostaria, mas não sou infeliz, Levi, e você também
não o é. Um dia,
entenderá tudo isso.
-Sim, amigo Abel. Acho que um dia os mestres
como devo agir para ser feliz.
me falarão
Nisso, Lameri chegou.
Por que chora, Levi?
Abel vai
partir, mamae Lameri, e eu fiquei triste. E só isso.
Como pode dizer que vai
plo, homem!
partir. Você é um servidor do tem-
De fato senhora, eu sou. Só
-

que meu
que sirvo não esto num lugar apenas. Estão templo
é o mundoe os
Terra. Eu pedi a Levi que falasse com a espalhados por toda a
uma audiëncia, mas acho
senhora para me conceder
que não é mais preciso. Cumpri minha
missão para com Levi e a senhora.
Agora tenho que partir rumo ao
Egito. Lá há alguém me esperando.
-O que diz?
Sim, um dia foi ordenado
mim que trouxesse Levi atéa
a
senhora. Cumpri que pediram. Agora me mandam partir e vou
o me
partir. Um dia, receberá a recompensa por ajudar tantos, deixando
que eu cumpra com o que me foi ordenado.
-

E como me recompensará?
-

Não serei eu quem fará isso. O Criador Ihe


recompensaráá
pelo seu gesto de hoje. Um dia, Ele livrará o seu povo da desgraça de
tornarem-se escravos do Egito.
-

Mas o Egito não nos ameaça!


Não por enquanto, mas um dia virá quem tentará estender
Suas garras como fez com meu povo.
-De onde é você, Abel?
Eu sou membro de um povo que hoje tem mais de sua meta-
de no cativeiro, servindo ao Egito. Mas um dia isso cessará também.
Eu confio no Criador.
O Livr dn Vida
42

Você é um hebreu?
Sim, eu sou. Levi também o é. Só quc jå não guarda mais
as suas origens. Num passado longinquo seus ancestrais, Como os
meus, vieram para a Caldéia por causa de uma grande calamidade
Com o tempo, a maior parte voltou à
que se abateu naquela região.
sua terra ancestral, mas outros licaram espalhados por toda a Me-
sopotâmia e Caldéia. Existem muitos aqui também. A senhora sabbe
disso, não?
Sim, eu sei. Vivem isolados dos outros. Não se misturam
pessoas da região. Säo racistas, penso
com as eu.

- Não são racistas, apenas tentam manter sua identidade an-


cestral. Não o fazem por mal, mas por amor e respeito ao Criador.
Não vou discutir com você, Abel, mas se diz que é impor
tante que parta, então eu o ajudarei no que precisar.
- Eu sabia que a senhora entenderia minha missão. Um dia o
Criador Ihe mostrará quanto foi sábia em sua decisão.
Que assim seja, Abel. Venha comigo, eu lhe darei o neces-
sário para a sua longa viagem. Não serei eu, Lameri, quem Ihe nega-
rá ajuda.
Abel virou-se para Levi e falou:
- Levi, meu filho, dê-me um abraço forte,. Se um dia eu achar
sua bailarina, direi a ela que você é o mais bravo entre os homens.
Até novo encontro, meu filho!
- Adeus, Abel, meu pai, meu irmão e meu amigo. Vou chorar
sua ausência.
Abraçaram-se. Abel também deixou cair algumas lágrimas. Dis
simulou seus sentimentos e acompanhou Lameri. O destino também
não o contemplara com a felicidade, só com trabalho
Levi não viu mais o amigo Abel. Após a partida dele, Lameri
voltou para junto de Levi.
- Ainda triste?

Sim. No
vou me esquecer dele. Foi o melhor amigo que já
tive até hoje. Acho que nunca mais vou encontrar outro
igual.
Você ainda é muito jovem. Muitos amigos surgirão em sua
vida. Venha, vou levá-lo até o seu mestre. Com ele você aprenderå a
ler e escrever. Com o estudo esquecerá um pouco Abel.
Sim, mame. A senhora é muito boa comigo. Acho que nao
mereço tudo o que está fazendo por imim.
Uma Missno Especinl
43

Levi. quando amamos


alguém,. queremoso melhor para essa
pessoa, e eu o amo como neu
filho.
Venha, não chore mais. Lem-
bra-se de como ontem à noite
estávamos felizes?
Sim, não vou chorar mais,
prometo!
-Quando alguém que amamos parte, temos o direito de
Não estou cho-
rar.
repreendendo, só consolando-o, está bem?
Sim, senhora. Vamos até o meu
mestre, mame Lameri?
Ela passou o braço sobre o ombro de
Levi e levou-o até seu
mestre. Com ele, Levi aprenderia a ler e
escrever em muitas
Era um sábio nisso. línguas.
Levi conheceu
mestre, chamava-se Hassem.
o
Muito prazer, mestre Hassem. Vou ser um
-

do. O senhor ficará orgulhoso de mim. discípulo aplica-


Fico feliz de ouvir isso, Levi. A maioria
-

dos meus discípulos


não sabe nem por que está
aqui, quanto mais estudar!
Vou ser diferente de todos, o senhor vai
-

ver! Mame Lameri


também se orgulhará de mim.
Lameri sorriu com as palavras de Levi. Ainda era
uma criança,
mas demonstrava ter maturidade.
Talvez por causa dos
bios, pensou ela. espíritos sá-
Mestre Hassem, deixo Levi aos seus cuidados.
-

como fez comigo.


Ensine-o
-

Não se
preocupe, senhora rainha. Eu cuidarei bem do seu
filho.
-

Rainha? A senhora é uma rainha?


Sim, Levi, sou a rainha que governa este reino. E também
Sou a responsável pelo trono. Agora vá com seu mestre, à noite
conversaremos.
Levi acompanhou o sábio até a biblioteca.
Vejo que você já esteve aqui, pois está com o livro misterio-
-

sO na mão. Por que ele chamou sua atenção, Levi?

-Por causa do mistério que o envolve, mestre Hassem. Um


dia vou decifrá-lo. Pode demorar muito tempo, mas eu conseguirei!
Quando conseguir isso, me avise, está bem?
-
Eu o avisarei, mestre, prometo-Ihe.
Levi, apanhe uma destas caixas com argila dentro. Vou
ensiná-lo como preparar o local onde você escreverá.
Levi apanhou uma das caixas e colocou-a sobre a mesa. De-
pois apanhou um jarro com água.
Vidn
44 O Livro dn

O mestre umedeceu a terra e fez uma massa com ela. Espa-


Ihou-a por toda a caixa.
Passou uma régua para igualá-la na superticie. Deixou-a secar
algumas letras sobre ela.
e depois escreveu
Mostrou as letras para Levi. Este assentiu com a cabeça que
havia entendido.
Depois o mestre derramou um pouco de água num pano e pas-
sou sobre a superficie. As letras sumiram todas. Novamente passou
a régua e ela ficou lisa de novo.
-Sabe como fazer agora, Levi?
Sim. Posso tentar?
- Faça-o, eu lhe digo se errar.

Levi apanhou outra caixa e preparou-a como o mestre havia


feito. Quando terminou, riscou algumas figuras e continuou como
processo.
Após fazer tudo, olhou para o mestre esperando um elogio.
Havia feito com perfeição.
Está muito bom, Levi. Se continuar assim, aprenderá com
facilidade a escrever. Agora vou começar a ensinar-Ihe as primeiras
letras.
E assim Levi foi aprendendo a escrever. Nessa época, só os
filhos das melhores famílias aprendiam a ler e escrever. E assim
permaneceria por milênios.
Levi crescia rápido. Vivia isolado do mundo. Sua vida restrin-
gia-se ao templo.
Lameri era uma mulher muito feliz. O filho não
em nada.
a
decepcionara
As vezes ficava
observá-lo enquanto estudava. Via também
a
que ele conversava com os mestres invisíveis.
Procurava se aproX1-
mar para ouvir do
que falava, mas sempre alguém o avisava de sua
aproximação.
Um dia, ela chegou
junto delee perguntou-lhe:
-Levi, sei que vocë fica aqui
eu
com os mestres invisíveis.
no jaurdim só para conversar
Por que não me deixam ouvir a conversa?
Eles são cautelosos, mamãe.
-

Não se incomodam com


presença, pois confiam na senhora, mas dizem que devo sua
segredo do que me falam. guardar
Pois diga a eles que eu sei
-

guardar segredo também


Una Missio Especinl
45

Lameri estava com ciúmes. Levi


procurou acalmá-la. percebeu isso em sua voz e

Não é nada -
disso, mame.
que a senhora me deu um dia. Apenas estou decifrando o livro
Lameri ficou radiante com a notiícia. Levi já falava
diversas línguas. Não havia e escrevia
nem a ela. decepcionado nem ao mestre Hassem
Sim, Levi Ben Yohai era
mestres Ihe ensinavam e inteligente. Aprendia tudo o que os
logo seria um mestre também.
Sorriu para o filho e disse:
Não vou mais
atrapalhá-lo, Levi. Continuem
versas misteriosas, só me diga como se chama o livro. com suas con-
Ou não posso
saber disso também?
-Claro que pode saber. Chama-se
"O Livro da Vida".
-
"O Livro da Vida"!
Que nome estranho, não?
Sim, é um nome que traz muitas
ano e eu o saberei de cor. interrogações. Mais um
-
Por que não vai escrevendo a
Ele no é para ser traduzido.tradução pergaminho, filho?
-
em

-Qual o mistério que o envolve? decorado.
Ele traz toda uma doutrina sobre a
vida. Foi escrito há milêe
nios e trazido para cá por uma mulher,
sacerdotisa de uma
que se perdeu através dos séculos. A escrita dele já não existereligião
mais.
O tempo apagou tudo.
Interessante, Levi! Achaque não existem outros como este?
-

-Creio que não. Os mestres dizem que não conseguem loca-


lizar mais nenhum.
-Que tempo terá sido esse, Levi?
Ainda não sei, mamãe, mas vou dedicar à tradução do me
livro. Só peço que não
diga nada a ninguém. São os mestres invisí-
veis que
pedem segredo. Falo para a senhora porque é a única pes-
Soa em quem
posso confiar.
-Obrigada porconfiar em mim, Levi. Fico muito feliz.
Não faço mais que retribuira confiança que a senhora de
posita em mim.
-

Você é minha razão de viver e a causa da minha alegria.


udo o que eu fizer por você será pouco comparado à felicidade
que
me proporciona.
OLimo da lida

A senhora é a mãe
Também feliz por tê-la como mae.
sou
Ser ainda crianca
tive que deixar partir por
que, no passado distante. cu a m n o s tanto.
E por isso que nos
nào poder defendê-la.
filho'
Como sabe disso.

Os mestres revelaram-me
ha muito tenmpo, e a cada dia e
a amo mais. Só o passado explica
nossa aleiçao, mam e. Posso
abraçá-la? como antes, cresceu muito!
Sim. Levi. Você já não o laz
ais alto que ela.
Levi abraçou Lameri. Já estava
Como é bom sentir o seu amor, Levi. S0 por este momento

eu já me sinto a mais feliz das mäes.


E eu, o mais feliz dos filhos. Acho que jamais vou encontrar
Oulra pessoa como a senhora.
Nem a sua bailarina, filho?
É diferente, mamãe. Eu a amo comno uma mãe. Quanto a
ela, é uma recordação de uma visão maravilhosa. Não vai me dizer
que está com ciúmes?-Lev1 deu um sorriso.
- Estou com ciúmes, sim. Não da bailarina, mas do tipo de
amor que dedica a uma recordação.
- Talvez seja bom por ser só uma recordação que nunca vai

voltar
-

Bobagem, filho! Um dia voce encontrará outra mulher e


então vai esquecé-la.
- Será, mamãe?
-

Não tenho dúvida.


Mas ela era tão bonita. Acho que não existe outra igual a
ela no mundo.
Pode não existir no seu pequeno mundo,
-

Mas
pois vive fechado
aqui. quando decidir a ver a vida iä lora encontrará moças
se
muito bonitas.
Nao sinto vontade de
procurar por outra. Quem sabe, um
dia, a bailarina apareça por aqui, não?
Sim, quem sabe isso aconteça, Levi. Vamos, dè-ne um ber-
Jo, pois tenho outros assuntos a resolver.
Levi beijou-a com ternura. Lameri era a nielhor mãe que al-
guém poderia ter.
Ela beijou-o também.
-Sabe por que só o beijo nesta face do rosto, Levi?
-
Não, por quë?
Uma Mistño Especial
47
-
Para não apagar
você guarda uma
o
beijo de sua bailarina. De lado
da também. recordação, do outro espero um dia
um
ser lembra-
A senhora nunca será
lugar em meu
coração. esquecida. Ninguém tomará o seu
Até mais tarde, Levi, agora tenho de ir.
E Levi ficou
recordando sua bailarina. Onde
e como estaria? estaria ela agora,
Não devia ser mais
filhos.
a
jovem bonita de antes. Talvez
já tivesse
Continuou com os estudos,
dação. Sabia que o passado não pois não podia viver de uma recor
voltaria mais.
Algum tempo depois, Levi
do livro. Não conseguiu traduzir a primeira parte
podia conter sua alegria.
- Mame, mame! Eu Foi ao encontro de
gritando no salão de consegui decifrá-lo!- LeviLameri.
entrou
recepções.
Havia
do reino. esquecido se
que àquela hora ela cuidava
dos assuntos
Desculpe, mame, volto mais tarde.
-

Lameri, ao ver o modo do filho,


Venha, Levi, sente-se ao meuchamou-o.
lado. Logo termino
audiências! com as
Levi sentou-se
perto dela
ficou a observar como e
negócios do reino. Nunca tinha assistido às
eram os
Lameri era muito audiências antes.
lavras com atenço. observadora. Notou que Levi ouvia
suas pa
No
tempo certo o prepararia para isso
bom também. Levi daria um
governante. Por via das dúvidas,
-

Filho, o próximo assunto vocêresolveu testá-lo.


-

Mas resolverá.
não
entendo nada, mamäe.
eu
E a
vejo a senhora fazendo isso. Não vou primeira vez que
saber conmo agir.
-

Vamos ver. Você só saberá se


sabe ou não
inteirado do caso a ser solucionado. quando ficar
Lameri fez um sinal e vieram à sua
uma frente dois honmens. Havia
pendência entre eles que precisava do seu arbítrio.
Após a explanação do caso, ela olhou para Levi. Viu
estava
embaraçado.
Mandou que aguardassem que ele
logo voltaria. Levou-o a uma outra por um
momento,
sala.
-Levi, você ouviu o caso, tem que
agir com justiça, nada mais!
O Livro dn Vida
48

- Mamäe, eu não saí do templo uma unica vez desde que che-

guei aqui. Como saber qual a melhor lorma de resolver este


vou
caso? Posso cometer um erro que irá prejudicar a algum deles!
-Vocë sabe o que é justiça, não?'
- Sim, é um dos assuntos que eu estudo com os sábios.
Então aplique o que você crë que é justiça. Se errar desta
vez, em outra aprenderá o seu sentido. Vamos, filho, é hora de usar o
que tem aprendido!
- Vou tentar, mamäe.
Voltaram ao salão.
Levi olhou para os dois homens. Intmamente tinha o seu vere-
dicto, mas preferiu perguntar algo a um deles.
Senhor, se por acaso deixasse com este homem um filho
seu para que cuidasse dele, o que diria se o seu lilho viesse a morrer
porque ele Ihe negou um prato de comida'?
Seria culpado, é lógico.
E qual a diferença entre uma criança e um animal?
- E que um filho não tem preço.-falou o honmem com a voz
baixa. Tinha dado o veredicto contra si mesmo.
A questão se referia ao fato de o homem ler deixado os
animais do outro, postos sob sua guarda, morrerem por falta de
alimentos.
-Assim será a sentença! Ainda que sejam animais, não de-
viam morrer por falta do alimento. O crime permanece. Se fosse
uma criança, seria enforcado. Como são animais. que indenize o dono,
que confiou ao senhor a guarda deles.
Lameri falou logo a seguir.
Assim foi decidido por Levi Ben Yohai, meu filho, assim
-

decido eu também. Que se cumpra a sentença emitida.


Os homens foram retirados do salão. Lameri mandou que se
encerrassem as audiencias restantes. Foi com Levi para outra sala.
Quando estavam a sós novanmente, ela falou.
-Viucomo foi fácil, filho?
-Facil parasenhora que está acostunada com ISSO. Quan
a
to a mim, foi muito difícil.
Por quë? Vocë já não tinha sua forada quando
opinião
-

eles terminaram os relatos?


Sim, isso eu játinha decidido antes de eles terminarem.
Então o que foi difícil para você não foi julgar, a s emitir o
seu juízo, não?
Uma Misão Especial
49

Sim. Acho muito difícil fazer


Levi, eu o estou isso, mamãe.
vemo do reino. Tem
preparando para um dia me suceder no
que começar a assumir suas go-
Por que isso, mamäe? No
-

funções
tenho jeito para ser
lentamente.
Com o tempo você soberano.
reino.
aprenderá tudo sobre os
negócios do
Prefiro ser um
sábio a ensinar
-
Acho que deve ser um sábio que dirigir o seu reino.
mil vezes mais útil. Mas não se dirigindo o nosso povo. Será
mas funções mais fáceis. preocupe, farei você assumir algu-
-

Deixe-me com tempo livre


Vida. Vou Ihe dizer agora o para poder traduzir "O Livro da
que já consegui.
-Todas as segundas-feiras você sairá visitar o reino e às
quintas-feiras julgará os pedidos de arbítrio dasparaaudiências, está
Sim, mas bem?
agora ouça a traduço do livro.
-Vamos para o jardim. Lá
E Levi ler
ninguém nos ouvirá.
começou a o livro para ela.
Quando parou, Lameri pediu-lhe para continuar.
Não posso, mame. Só decifrei
-

até aqui. Ainda falta muito


para terminar.
-E lindo, Levi! Diz tudo de uma
na sua forma
forma pura. E conhecimento
original. Quemo escreveu?
-Foram os sábios da
sem memória. antigüidade. Diz que é de um tempo já
-Como podem ter tido conhecimento de tudo
isso, filho?
Não sei, mame. Os sábios invisíveis dizem
que foi um tem-
po em que as "Luzes" tinhamo seu saber disseminado
por toda a
Terra, mas, com o tempo, os homens
escrito neste livro. deturparam tudo o que está
Como explica tão bem origem da criação, não?
a
Sim, fiquei impressionado com suas revelações.
-

Decifre-o, pois só você poderá fazê-lo. Durante milênios


-

ele ficou guardado para você. Eo seu livro, Levi! O livro da vida
de
Levi Ben Yohai! Gostou do título?
Sim, acho que vou chamá-lo assim de agora em diante. Mas
-

por que será que ninguém mais conseguiu decifrá-lo antes?


Não sei, mas todo mistério se explica um dia, não?
Vou descobrir este mistério, mamäe. Agora vou voltar às
aulas com os mestres. Não me dão um dia de folga!
OLivno dn V'idau

Estao forando-o demais, filho?


No, en até gosto! Assim aprend0 0 i x m o em menos

tempo
a cC.
Vi, filho, à noite eu o agurdo araI
E Levi voltou ao estulo.

Em outro lugar do reino, Levi cstiivil senl comentado também.


- E isso mesmo, Mirim, cu ouvi a soberana chamá-lo de filho.
Tem certeza de que o nome era esse mesmo?
Sim. jauS o esquecerei. So um hebreu se chamaria Levi
Ben Yohai. Eu conheço esse nome! Yolhai e um nome antigo enlre os
nossos.
Mas comoé possível?
Não sei, mas logo saberemos. Vou prOcurar me informar
sobre ele.
Esse Levi não se incomodou com o fato de você ser um
hebreu?
-

Não, nem prestou atenção nisso! Julgou-me igual ao outro


homem, cidadão do reino.
Nisso
chegou um ancião da comunidade.
-Como vão todos?- saudou ele.
Bem, mas confusos- falou o marido de Miriam ao ancião.
-

Por que, Laor? O


-

que os incomoda?
-Ancião, senhor já ouviu o nome Levi Ben Yohai antes?
o
-

Não, por que?


-
Pois aqui há alguém com esse
-Quem é ele'? nome.
Filho da soberana Lameri.
Estranho, não?
Sim, muito estranho. Como é ele?
Jovem ainda.
Mas a rainha não tinha
filho dela faleceu há muitos filhos. Eu me lembro de que o único
anos. E,
um único filho. quando o ei morreu, ela so tinna
E isso que estamos
-

Eu conheço os sábios
achando estranho, ancião.
do templo. l'alarei
dirão quemé Levi Ben Yohai. Existem com eles. Eles me
muitos Yohais na nossa lerra
Umn Misão Especinl
51

ancestral, mas no aqui. Procurarei o sábio Hassem


rá quem é esse
jovem. e ele me conta-
Eu também vou
Não procurar me informar
sobre ele.
faça isso, Laor! Deixe tudo
do que falamos aqui hoje. No vá falar comigo. Guarde segredo
advertiu o ancião. nada também, Miriam.-
-

Sim, ancião, nós selaremos


nossos lábios.
Vou procurar Hassem. Volto
mais tarde.
Eo ancião partiu em
busca de
Sem saber, iam alterar a vida doinformações sobre Levi.
jovem.
Quando encontrou Hassem no templo, o ancião disse-lhe que
precisava falar-lhe a sós.
Notem que naquela época não havia
divisão entre os povos
semitas, como há em nossa época atual. Eram
Havia tribos que dominavam todos povos semitas.
regiðes,
mas não havia o
separatismo
religioso como nós vemos hoje.
Fale, Asher! O que o traz até aqui com tanta
-

Preciso saber quem é o filho da soberana pressa?


Lameri.
Refere-se a Levi?
Sim, quero saber quem é Levi Ben Yohai.
Vou saber com ela se posso comentar
algo sobre Levi com
alguém. Se ela autorizar, eu Ihe direi tudo sobre Levi, está bem assim?
Eu aguardo. Caso queira,
pode ir até minha casa.
-

Está bem, Asher. Eu o procurarei se ela me autorizar. Mas


sem o consentimento dela eu não falo
nada, é bom que saiba disso.
Nunca traí a confiança que ela tem em mim.
Sim, eu sei de sua fidelidade a ela. Não quero que a quebre.
-

Só preciso saber quem é ele, pois há alguns membros da comunidade


que ouviram falar dele.
-Eu o procurarei mais tarde.
Obrigado, Hassem, que o Criador o abençoe.
-
A você também, Asher.
ancião partiu e o sábio Hassem ficou pensativo. Isso não
estava nos planos de Lameri em relação ao jovem Levi. Foi até a
sala da soberana.
Lameri, tenho algo grave a tratar com a senhora.

Sente-se, Hassem. Do que se trata'?


Ea respeito de Levi que preciso Ihe falar.
- O que houve? Ele não estä se dedicando aos estudos?
dn Vidn
O Livro

52
nos
estudos. E sobre a
demais

Até que
vai bem dos hebreus co-
Não, não! comunidade

membros da
existem
sua origem. Já isso que
seu nome. herdara o reno;é
mentando sobre o Um dia
adotivo.
Leviémeu filho
não? como explicar a eles?
cu digo sempre, sabemos. Mas
Sim, isso nós já de Levi, Hassem.
Todos têm que
a origem
Eu não ocultarei amarão Levi só pelo
seu saber.
Um dia eles
aceitá-lo como é. rainha?
Como o povo
vai reagir a isso, como
o povo me respeita
Hassem. Mas acho quc
Não sei, vao acalar minha indica-
sua
sacerdotisa. Acho que
soberana e
direçao do reino.
sua
sucessor na
como meu
ção de Levi
de reação à sua indicação?
-

E sehouveralgum lipo função. Vai sair


LeVi ara esta
Eu ji conmecei a preparar estara presente na resolução
ao remo e
freqüentemente cm visita
dos problemas dos súditos.
isso vai toná-lo popular,
Lameri?
-Acha que
senso de justiça muito forte.
Sim, Hassem. Levi tem um
Creio que essa é uma qualidade natural
ncle.
- Isso nós, os seus mestres, já notamos também. O sábio que o
instrui sobre a aplicação da lei o acha muito capaz para essa função.
- Então, diga-me com a sinceridade que o tornou um sábio

respeitado: aceitaria Levi como príncipe doreino?


-Sim. Eu e os outros sábios temos nos esforçado muito para
que um dia ele venha a ser tão bom dirigente quanto a senhora.
-E acha que a origem de Levi irá atrapalhar isso?
Talvez. Mas se Levi trabalhar bem nas suas novas
-

funções.
futuro talvez venha a ser tão amado como a senhora e.
- Então diga aos que estão indagando sobre Levi que ele me

foi enviado pelo Criador. Diga também


que Levi o maior sábio que
Já apareceu no reino. Só não interliram enm sua vida,. pois isso sera
ruim para todos, e não só
para mim e Levi.
Eu direi a eles o
que a senhora me lalou, rainha Lameri.
Faça isso, Hassem! Está na hora de odos conhecerem o
meu filho Levi Ben Yohai.
O sábio Hassem saiu. la
preocupado. Como contornar o pro-
blema a respeito da origem de Levi?
Bem, se tOi realmente o Criador
Lameri, que Ele o ajudasse agora, quem enviou Levi ao reimo
dE

pensou Hassem.
Uma Miswio Espeeiml 53

tarde da noite à casa do ancião Asher, que o recebeu


Chegou
com amabilidade.
Entre, sábio Hassem. Fico contente que tenha vindo à mi-
nha casa tão rapidamente.
Asher. vou Ihe dizer tudo o que a rainha me ordenou. De-
pois. proceda com sua tradicional cautela.
E Hassem contou tudo ao anciäo. Quando terminou a narração
das palavras da rainha, Hassem calou-se.
Asher ficou pensativo.
-Como solucionar isso, Hassem?
-Não sei, Asher. Diga a Laor que fique calado por enquanto.
O tempo dirå como devemos agir, não?
Sim, é o melhor a fazer. Mas outros devem ter ouvido as
palavras da rainha, não?
- Eu creio que sim. Mas ela tem um plano para tornar Levi
querido pelo povo que espero que funcione. Caso contrário, a paz
será abalada. E olhe que há muitos anos não temos nenhum proble-
ma dessa ordem.
Sim, eu sei. Tirando os problemas do dia-a-dia, nada inco-
moda ao reino. Vamos ajudar Levi, Hassem. Não será da nossa par-
te que surgirão problemas.
Conto com isso de sua parte, Asher.
-Quem é Levi Ben Yohai, Hassem?
Chegou aqui como escravo. A rainha já o esperava há anos,
antes de sua chegada aqui. Ia a todos os leilões de escravos esperá-
lo. Um dia, Levi ia ser leiloado quando ela o viu. Retirou-o do leilão e
levou-o ao templo. Levou também um homem chamado Abel. No
dia seguinte, ajudou Abel a partir para o reino do Egito. Abel disse-
he que tinha o que fazer lá, por isso não podia se demorar.
Quem era Abel?
Um hebreu da terra ancestral. Pareceu-me alguém muito
instruído.
vinda de Levi?
-Qual foi o papel de Abel com a
- Disse à rainha que tinha por missão conduzir Levi até ela.
-Mas quem o enviou, Hassem?
Disse que foram os mestres invisiveis. LevI VIVe a conver-

sar com eles.


- E o que dizem esses espiritos sabios a Levi!
Vida
O Livro da
54

mae. Lembra-se do
nem à própria
Ele não o diz a ninguém,
um dia,
muitos a n o s atrás?
livro que lhe falei
dele?
me esqueceria
-Sim, c o m o ao templo, Levi opediu
à rainha
-Pois no dia em que chegou
Asher.
e não o largou até hoje, decifrá-lo?
Será que ele consegue fechar o
ontem o vi sorrindo ao
Acho que já o fez. Ainda
invisíveis o ensnam, mas exigem segredo
livro. Creio que os mestres
do que vem a saber.
esse jovem, não? Ele é um hebreu, Hassem?
Intrigante
Religiosamente, não. Mas às
vezes me conta algo sobre sua

oásis e tudo leva a crer que é


um.
vida no

-Quais OS Snais disso?


da terra ancestral.
Conta histórias que seu avQ lhe contava
conhecê-lo bem.
Eu pouco sei sobre esse lugar, mas Levi parece
durante o sono.
Chega a dizer que já foi muitas vezes lá
E muito estranho mesmo. Poderia arranjar um encontro dele
comigo, Hassem?
sua visita ao
-

acompanhá-lo em
Vou reinoe quando passar
em frente à sua casa paro para tomar água, assim vocë o verá, est
bem?
Fico esperando, Hassem.
Vou voltar ao templo, já é tarde e preciso descansar um
pouco, Asher. J não sou tão jovenm como imaginava- deu um
sorriso e partiu.
Enquanto isso, Levi conversava com Lameri.
-

Mame, sinto que estão falando de mim.


Por que diz isso, Levi?
-

Os mestres me avisaram para ser cuidadoso agora que vOu


me expor.
-

Eles lhe mostram algum


perigo?
Perigo imediato não. Só dizem para agir com sabedoria. Mas,
no caso de haver
perigo, me avisarão.
Então não se
preocupe, Levi. Eu tomo conta de voce!
-Eu sei, mas não
quero causar-lhe
embaraços. Caso isso acon
tecer, embora. Não quero
vou
que a senhora venha
mentos por minha causa a ler aborrec
Não fale assim, Levi. Caso
Com vocë.
voee tenha (que partl, C
Una Missão Especial

-A senhora não pode deixar o seu povo. Todos a estimam


como a melhor soberana que o reino játeve. Trouxe paz e prosperi-
dade a todos.
- Por isso mesmo eu digo que os deixarei se não aceitarem
voce como meufilho e meu herdeiro.
Acho que a senhora não devia ter me mostrado ontem.
Uma jóia escondida não pode ser apreciada, Levi?
Sim, mas çausa inveja a uns, ódio a outros e cobiça a mais
alguns, mam e.
- Umajóia pode ser invejada, cobiçada ou odiada, mas nunca
deixa de ser uma jóia. E quanto mais ela incomodar, é porque tem
muito mais valor.
-Mas costumatrazer problemas ao seu proprietário também.
Levi, aprenda uma lição que só a vida ensina: se tiver que
lutar até morrer, que seja por algo valioso. Não perca seu tempo por
coisa sem valor, senão você se desvaloriza também.
-Eu sou tão valioso assim, mame?
Para mim, é! Morreria lutando por voc. Espero ser assim
também para você, filho.
-

Já lhe falei que um dia já fui seu filho e não pude defendê-la,
mas agora posso. Não sou mais uma criança, mam e.
-

Sim, como vocë cresceu nestes anos, Levi! Jáé um


rapaz. SQ
que, para mim, ainda é uma criança que não sabe nada da vida lá fora.
Vou aprender como é a vida lá fora, não se
-

preocupe.
Vamos mudar de assunto, filho. Já decifrou mais
parte do livro?
alguma
Sim, quer que eu leia para a senhora?
-Quero!
E Levi começou a ler o livro para Lameri. Leu a
e depois a
primeira parte
segunda. Havia uma seqüência nos ensinamentos do livro,
toda uma ciência sagrada encoberta pelo
tempo.
Quando Levi terminou, Lameri comentou:
-

Filho, isso é maravilhoso. Você notou quanta sabedoria con-


tida nele?
-Sim, acho que há neste livro muito mais
que umas palavras
sábias. Há nele tudo o que ignorávamos respeito
a dos mistérios da
vida, mame!
Sim, dá para se notar que no é um livro comum. Talvez os
sábios antigos o tenham escrito para preservar 0s mistérios da criação.
OLivro da Vidn
56

- Isso écerto, mas noto que há um sentido bem claro em todo

o livro.
Que sentido é esse, Levi?
- Mostra-nos a grandeza do Criador. Coloca-O como o cen-
tro de tudo e não dá lugar a que a dúvida se instale em momento
algum. Está acima de tudo que possamos imaginar em termos de
religião ou religiosidade.
-Quem será que o escreveu, Levi?
Não achei nome algum até agora.
Um livro misterioso, não?
Sim, muito misterioso, mamãe.
Assim que você for decifrando-o, vá lendo para mim.
Logo eu poderei l-lo fluentemente. Já estou me acostu-
mando com suas letras. Logo não precisarei ficar traduzindo
palavra
por palavra. Vou ler o texto com facilidade.
-Quando conseguir, creio que sua visão do mundo mudará.
A nossa visão mudará, mamäe. Creio
que seremos muda-
dos por este livro.
-Veremos quando você terminar
deremos avaliar isso em nós mesmos.
com sua
traduçäo. Aí, po-
-Vamos aguardar e logo eu
descansar, mamãe. Boa noite!
conseguirei. Agora vou deixá-la
- Boanoite, filho.
CONHECENDO OAMOR
Os dias passaram
visitar o reino.
e
chegou o dia de Levi sair do
templo e ir
Hassem o
acompanhou. lam com uma escolta. Levi levava no
peito o símbolo da rainha.
Todos já sabiam de sua existência. O nome
Levi Ben Yohai já
não era mais desconhecido.
Levi pediu para ser levado aos
campos próximos à capital. O
que viu láo deixou chocado: homens pálidos e mal alimentados tra-
balhando os campos.
Hassem, o que é isso? Por que esses homens vivem tão mal
se trabalham tanto?
-São escravos, Levi. São comprados no porto para virem
trabalhar nos campos. Há séculos tem sido assim.
Isso vai mudar, Hassem. O que um homem maltratado pode
-

produzir? Mal se agüentam em pé. Não é justo! Devem ter nascido


livres um dia!
-Creio que sim, Levi. Mas, se não for eles, quem produzirá
Os alimentos para nós?
-Eu vou mudarisso, Hassem.
- Sua mãe não vai gostar, Levi.
-

Ela sabe como vive essa gente?


-

Não. Creio que nunca viu isto aqui.


Então tenho certeza de que ela concordará comigo.
- Mas os proprietários das teras concordarão com suas idéias,
Levi?
57
O Livro da Vidn
58

convocarem todos os pro0


Hassem, mande alguns guardas
falar com cles. Apos minha con-
prietários de terras ao palácio. Vou
versa, isso vai mudar muito.
fazendo. Pode ser muito ruim
Espero que saiba o que está
sua produção de alimentos.
para o reino se vier a paralisar
- Creio que não paralisaremoS nada. Vamos aumentar a pro-

em muito. Mande alguns


soldados cumprirem minha ordem.
duçãoHassem assim o fez. Um grupo de soldados partiu a galope
Levi Ben Yohai.
para cumprir a ordem do príncipe
- O que quer ver agora, Levi?
- Por hoje não quero ver mais nada. Vamos voltar.
Você não quer ver a cidade? Seria interessante conhecê-la
ese deixar ver.
Está bem, Hassem. Es um sábio, e eu, seu discípulo!
Para um discípulo até que você tem muita ousadia, Levi.
- Porcausa do que fiz?
- Sim. Tomou uma medida muito grave. Vai ter que se sair
muito bem nesta questão.
Sairei, você verá!
Voltaram. Quando cavalgaram pela cidade, Hassem pediu para
tomar um pouco de água.
Levi concordou. Também estava com sede.
O ancião Asher os recebeu na porta. Convidou-os a entrar.
Após beberem água, foram convidados a comer um prato es-
pecial que sua neta havia preparado.
- 0 príncipe aceita prová-lo?
Aceito sim, ancião Asher. Nunca recuso uma boa comida.
Laila, sirva os nossOs convidados. Temos a honra de rece-
ber o príncipe Levi Ben Yohai eo sábio Hassem.
-Laila- esse era o nome de minha avó, Hassem!
-Sua avó se chamava Laila, príncipe?- perguntou a jovem.
Sim. Morreu quando eu tinha 6 anos, Ainda me lembro dela.
Como era boa comigo! Ensinava-me todas as suas cançöes. Quando
estava triste com alguma coisa, eu a alegrava rápido, era só começar
a cantar e ela sorria novamente.
Quem sabe um dia não queira me ensinar as eanções de suma
avó, príncipe
-Ah, ja esqueci quase todas. Isso foi muito tempo atrás. Acho
que não me lembro mais delas.
Conbecendo o Amor 59

-
Caso venha a se lembrar, gostaria de ouvi-las.
Se isso acontecer, eu a avisarei. Você é muito bonita. Tal-
vez saiba dançar como as bailarinas.
-Como dançam as bailarinas, príncipe?
Nisso Asher interrompeu a conversa dos dois.
-

Laila, vá buscar a comida para o príncipe Levi e o sábio


Hassem.
- Desculpem-me, acho que me esqueci. Peço desculpas a todos.
E Laila foi buscar a comida e os serviu.
Asher observava Levi com curiosidade. Quando acabaram de
comer, Asher perguntou:
-Gostou da comida, príncipe Levi?
Gostei, ancião Asher. Sua neta sabe como fazer do ato de
comer um prazer.

Príncipe..
Não precisa perguntar nada a respeito de minha origem.
Creio que Hassem já Ihe contou tudo a meu respeito, não?
Asher e Hassem estavam espantados.
-Como sabe que eu falei a seu respeito, Levi?- perguntou
Hassemn.
Há dias eu sabia, Hassem.
Como? Quem lhe falou de nosso encontro?
Ninguém. Eu sabia, apenas isso.
ELevi continuou:
- Ancião Asher, eu nasci num oásis na Caldéia, não muito
longe de Ur. Criei-me lá até uma certa idade, quando fugi com o
caravaneiro Abel. Fomos presos e trazidos para cá háalguns
anos.
também sabia.
Eu já sabia que viria ao encontro de Lameri. Abel
Vivi anos recluso no templo, só me dedicando aos estudos. Agora
mamae quer que eu comece a cuidar
dos assuntos do reino. Estou
estou. Só isso!
fazendo isso contra minha vontade, mas
hebréia?
acaso é de
-Príncipe Levi, origem
com muitos outros hebreus
Sim. Meu tetravô foi para Ur
invadidas. Pretendia voltar um dia
com
quando nossas terras foram
nmuitos
homens e combater os invasores, mas não conseguiu
outros
viu o pe-
àà idéia. Acabou desistindo do intento quando
adeptos sua
reunir. A maioria dos hebreus de Ur
não
queno grupo que conseguiu havia conseguido lá. Meu
ou os postos que
quis deixar as riquezas de
oásis hå cerca de 25 anos. Tinha intenção
pai se instalou num
60 OLivro dn Vidn

voltar à terra ancestral um dia. Mas os anos foram passandoe ele se


casou. Tinha que cuidar de vovô e vovó, além dos filhos e de mamãe.
Acabou ficando de vez no oásis. Penso que o sonho do meu tetravô
morreu dentro dele, pois nunca mais falou em voltar àterra dos nos-
sos ancestrais.
- E em você, Levi, o sonho morreu?
Não, eu o conservo vivo.
Como pretende torná-lo real? - perguntou Hassem.
- Não sei, isso os mestres invisíveis não me dizem. Quando
eu os indago a respeito, abaixam o rosto ou calam-se. Um dia irei
visitar a minha terra ancestral. Mas, até lá, servirei ao reino e ajuda-
rei minha me Lameri melhor que um filho de sangue. Mais não digo
porque ainda não sei como será o futuro, mas confio no Criador.
Asher perguntou-lhe ainda mais uma vez.
-
Acaso acha que é um predestinado?
Não. que poderei fazer alguma
-
sou.
Eu não Apenas acho
coisa a respeito dos meus sonhos. E algo que só depende de eu
realizar ou não. E por isso que estudo tanto. Vou acumular tanto
saber quanto me for possível. Depois verei como usá-lo.
-

Acaso acha que a soberana o deixaria partir?- perguntou


Hassem.
-Não pretendo partir, sábio. O que tiverque fazer será ao lado
de minha me Lameri, nunca contra ela ou contra a vontade dela.
-

Você sonha muito, Levi. Cuidado! Nem sempre os sonhos


podem ser realizados!- falou Hassem.
Levi ficou olhando para Laila, que ouvia tudo a distância. Não
diria que ela era a jovem mais bonita que já vira, mas tinha uma
beleza natural. E murmurou para si mesmo:
Não é tão bela como minha bailarina, mas tambénmé bonita,
Sim, muito bonita!
0 que disse, príncipe Levi?- perguntou o ancião.
Levi asustou-se. Tinha falado em vez de
pensar.
Nada, ancião. Nós Ihe agradecemos a refeiçao, estava nmut
to boa! Vamos Hassem, minha mäe
aguarda meu retorno.
Sim, já étarde. Até a vista, Asher. Quando quiser, va con-
versar comigo templo. no
Obrigado, Hassem. Eu saberei como agir de agora em dian-
Ic. Fiquei honrado com sua visita à minha humilde casa,
principe
Levi Ben Yohai. Que a boa sorte o acompanhe sempre.
Combecendo oAmor
61

-Obrigado, ancião Asher.


Quando quiser
bem recebido. nos visitar, será muito
E Levi foi até Laila se
Até outro dia, Laila. Não vou despedir.
me
bonita esquecer de você. E muito
Fico honrada por seus
-

-Chame-me só de Levi.elogios, príncipe Levi Ben Ychai.


E assim que
Está bem, Levi. Quando se
-
gosto de ser chamado.
ria de ouvi-lo cantá-las
recordar das canções, eu
para mim. gosta-
Eu a avisarei se
conseguir me recordar.
Esperarei por você.
-
Até
vista, Laila, agora tenho
a
ir.
Montaram nos cavalos e, antes de que Levi
Laila. partir, ainda olhou para
Hassem, pensando bem acho que a roupa da bailarina é que
a tornava mais atraente, mas Laila é ão bonita
Sonhando de novo, Levi? quanto ela.
Quem disse que estou sonhando? Laila é tão real
nós, não? quanto
Sim e não. Um dia você
compreenderá tudo melhore verá
que Laila não passa de mais um dos seus sonhos.
Por que diz isso, sábio?
No futuro você saberá.
-

Levi tornou a olhar para trás


quando já estava distante. Laila
continuava lá.
Não sabia de nada, mas o destino ia ser cruel com ele.
Quando chegou ao templo, Lameri foi ao seu encontro.
Como foi, Levi? Gostou da visita ao reino?
-

Sim, mamãe, foi muito boa. Creio que vou gostar de visitar o
reino.
- Lameri, acho que Levi criou um problema para a senhora.
-
falou o sábio.
O que houve, Hassem? Onde estão os outros guardas do
templo? Levi mandou-os convocar todos os proprietários de terra do
reino.
Por que fez isso, ILevi?- perguntou Lameni.
Vamos entrar, mamäe. Lå conversaremos com
calma. Ve-
nha também, Hassem, vocé é parte importante dos meus planos.
Vida
O Livro dn
62

Levi explicou suas idéias.


estavam
acomodados,
Quando já
lembra-se c o m o eu cheguei aqui?
Mamäe,
- S i m , como escravo.

continuam trazendo
mais escravos, não?
ainda
Creio que que?
os dias chegam alguns, por
-
Sim. Quase todos eternamente. Isso nunca ces-
ser trazidoS
-Eles vão ter que
sará. E sabem por que?
-Explique-se, Levi.-lalou Lameri.
os escravos como animais de
Os donos das terras compram
sua força e, quando já
não produzem, são descarta-
carga. Usam toda
Não os alimentam com dignidade, e
dos como animais imprestáveis.
escravos. Isso tem que ser muda-
assim vivem a comprar mais e mais
do pelo próprio bem do reino. Creio que não somos bem vistos pelos
salteadores raptem cidadãos
outros povos porque concordamos que
seus e venda-os aqui como mercadorias.
Isso é cruel e viola todas as
leis do Criador. Um dia o reino será castigado por tolerar tal fato.
Tanto Lameri quanto Hassem estavam espantados com a vee-
mência com que Levi falava. O assunto era grave, mas as suas pa-
lavras impunham respeito.
Levi parecia inspirado ao falar.
Filho, como pode dizer isso? Os escravos já existem há tan-
to tempo que não sabemos quando o uso deles começou.
- Mas para tudo tem que haver um fim, mam e. Isso não

pode continuar!
- Diga-me: como vai alterar esse modo de trabalhar a terra?

-Hassem, quantoéa parte que o reino recolhe da produção


das terras?
Metade, por quê?
Acha que eles realmente entregam metade do que produzem?
Creio que sim. Mas o que tem isso a ver com os escravos?
Porenquanto, nada. Mas logo perceberá a ligação. Mame,
a senhora concordaria em ficar com um terço da produção, caso eu
fizesse ela se multiplicar muitas vezes.
-

Eu concordaria, mas como multiplicar sem escravos, filho!


Vou solucionar isso tudo na reunião que terei com os donos
de terras.
E Levi começou a expor suas idéias,
Falou por muito tempo.
Quando terminou, Lameri e Hassem estavam admirados: era un
sábio de verdade.
Conbccendo oAmor
63
-Está bem, filho, eu o
não se apoiarei. Quanto a Hassem, creio
negará a auxiliá-lo no conselho
-Não só ajudarei como dos sábios. que
dar o nosso reino. Poderemos aprovo tudo, Levi! Acho
ter
alguns que vai mu-
no fim vamos
E
vencer. problemas, mas creio que
assim se
passou. Levi expõs com sábias
plano. palavras todo o seu
Dali em diante não
riam cidadãos e trabalhariam
haveria mais escravos no
para os senhores
reino, todos se-
constituir família e viveriam sob o das terras. Poderiam
donos das terras, mas amparo das leis. Não
O reino ficaria ganhariam uma parte da produção.
poderiam ser
comum terço. Os
outro terço e os donos da terra com o escravos, então libertos, com
O reino cuidaria da terço restante.
Além disso, Levi fez comercialização
um discurso
do excesso da
produção.
ao Criador pelo uso da escravidão inflamado a respeito da afronta
Falou-Ihes das leis serviço de alguns.
da
a

relação ao bem-estarcriaçãoe responsabilidade


um em da
do de cada
Como falou Levi!
seu semelhante.
Quando terminou, não se ouvia uma
ouviam. palavra entre os que o
Sim, Levi era inspirado
Hassem já havia falado por uma força divina. Isso
no conselho dos sábios que
o sábio
cios do reino. E estes viram
isso durante sua fala. dirigiam nego
os
Todos concordaram em tentar
Yohai, o filho de Lameri. aplicar as idéias de Levi Ben
Não houve revolta. Eles não
nas não sabiam como agiam assim porque queriam. Ape-
mudar tal situação. E, além do mais, os escra-
vos custavam cada
vez mais caro!
Os sábios disseram
que incentivariam pessoas de outros reinos
a vir trabalhar no
reino.
Quando terminou a reunião, Levi olhou para Lameri. A mie
fez um sinal com a cabeça em sinal de
Todos aprovação.
donos de terras foram embora. Hassem então
os
-

Levi, creio que teremos muito trabalho para falou


de hoje em diante. Vamos ter
organizar tudo
que nos multiplicar em muitos para
levarmos isso adiante.
Nós conseguiremos, sábio Hassem,
tos homens sábios no reino, não
lmpossível que, com tan-
possamos fazê-lo.
OLivro da Vidn
64

- Eu os instruí bem em como devem agir. Espero que não

falhem.
- Não falharão, Hassem. O Criador nos abençoará pelo que
fizemos hoje, não tenha dúvida.
Então confiemos e trabalhemos com perseverança para al-
cançarmos nosso objetivo.
Nisso Levi viu Ashere a neta próximo deles.
- Mamãe, olhe! E o ancião Asher e Laila, sua neta.
Você os conhece, Levi?
Sim, mamãe. Quando saímos outro dia paramos na casa
dele para bebermos água. Convidou-nos para cear com eles.
E você aceitou?
Sim, estava com fome. Não recusei o convite. Laila cozinha
muito bem. Precisava ter provado de sua comida para ver como era
gostosa.
-

Parece-me que não foi só da comida que você gostou,


não?
Levi enrubesceu com a observação de Lameri. Não respondeu
nada.
-Seu silncio diz por você, Levi!
Sim, ela é bonita, não é, mame'?
Só você pode dizer. Vamos, convide-os
Levi.
a cear conosco
hoje,
-Obrigado, mamäe, você é maravilhosa. E por isso que eu a
amo tanto. Sabe ouvir meus
pensamentos.
-Vá logo, pois parece que estäo indo embora.
Levi caminhou rápido, mas eles se misturaram à multidão e não
foi possível alcançá-los mais. Voltou triste para perto da mãe.
-Não fique decepcionado, outro dia você poderá retribuir a
eles a ceia, está bem?

Sim, mame. Acho que vou até o jardim, gostaria de ficar


só por uns instantes.
Vá, filho, mais tarde conversaremos. Agora preciso falar
com o conselho dos sábios.
E Levi foi para o
jardim.
Lameri reuniu-se com os sábios. Como
era costume seu, col
sultava-os a respeito dos assuntos do reino.
Muito bem, senhores, como vamos
-

agir de agora em diante


Conbecendo oAmor
65

-Só
tem uma saída, Lameri.
sabendo como fazemos aqui, no Irato Quando
da
outros reinos ficarem
para cà. terra, muitos vão
querer vir
Qual a saída?
Assentá-los nas terras do
Osas templo. Temos muitas terras oci
e ereio que poderemos cultivá-las
Caso queira,
-
todas- falou um sábio.
os seus súditos e eles
poderemos dividir um pouco dessas
terras
empregarão muita gente falou outro com-

reino e aumentaremos em sábio.


-
Isso os tornarão leais ao
produção de alimentos. O templo será beneficiado, muito a
sua
riquezae poder falou outro. pois aumentará
-

Sim, e nós poderemos aumentar


nossas trocas
com outros
povos. Isso trará muita fartura ao comerciais
Creio que acabarão os reino --falou Hassem.
pelas estradas e aldeias. mendigos e vadios que perambulam
E foram dando
opiniões
encargos cada um. lam aos sugestões.
e
de Por fim, Lameri dividiu os
Lameri ainda falou mais umapoucos resolver tudo.
coisa importante para o reino.
-
Sábios, tenho um problema delicado a resolver.
Todos se calaram. Qual seria o
por fim falou: outro problema agora? Lameri
-Meu filho Levi está
templo. Acho que tereigostando
de uma jovem
ce ao que não perten-
-
Ele ainda é problemas por causa disso.
jovem, Lameri. Não vai causar
do chegar o momento do
seu casamento com a problemas quan-
Qual foi a jovem escolhida? escolhida.
-Sharin, a filha do sábio Hossí. E muito
Um dia poderá substitui-la bonita e inteligente.
com facilidade. Já está
para isso há dois anos. O sendo preparada
Com o culto. templo não terá
problemas de continuidade
-Sharin é muito bonita mesmo. Acho
quando vé-la. que Levi vai gostar dela
Um sábio
Levi.
perguntou a Lameri quem era a
jovem que atraíra
-E a filha do anciäo Asher. Creio
foi esse o nome
que o nome é Laila. Sim,
que Levi
pronunciou quando a viu.
Euconheço Asher e Laila falou Hassem.- Fui
-

do por criar
esse
problema, Lameri. Se não tivesse
o culpa-
dele nada disso teria parado
acontecido. Não creio que vá evoluir,
na casa

marei providências nas to-


quanto a Laila, não se
preocupe!
O Liro da Vida

Obrigada, Hassem! Procure evitar novos encontros entre


eles. Não quero que uma tradição milcnar do templo venha a ser
abalada. Levié um bom filhoe creio que serä um bom príncipe, além
de um sábio, ainda que não o saiba. Não qucro que sofra mais que
necessário quando lhe comunicar que tera que se casar com uma

das servidoras do templo se quiser dirigir o reino.


Eu desviarei Laila do caminho de Levi. Sei como conseguir
Então faça-o, Hassem. Mas seja o mais discreto possível.
Não quero que Levi perceba que interlerimos nisso também.
Lameri saiu preocupada da reunião com os sábios. Conhecia
Levi muito bem.
Havia sido tocado pela beleza de Laila. Ela viu nos seus olhos.
la auscultar os seus sentimentos em relação à jovem.
Foi até o jardim e encontrou-o pensativo, lendo o seu livro
secreto.
-O que tanto o absorve, Levi?
Levi assustou-se com a chegada da me.
-Oh, mame, ouça isso que eu estou lendo.
E foi lendo página por página para Lameri.
Quando terminou, tinha lágrimas nos olhos. Lameri também
estava emocionada. Eram os mistérios da criação sendo revelados
em todo o seu esplendor.
Quanta sabedoria está contida neste livro, filho!
Sim, eu acho que ainda vou ler ensinamentos que nem o
mais sábio dos sábios possuiria. Se aplicados os seus princípios, a
humanidade dispensaria muitas coisas que só servem para criar
confusão
Como assim, filho?
-A senhora tem ouvido a minha leitura do livro. Não deu
para perceber que aqui só fala em vida, nunca morte? Nós somos
criaçoes do Todo Poderosoe estamos muito acima dos ViciOs que
nos atormentam, das ambições que nos destroem, dos ódioS que nos
matam. Enfim, acima de tudo isso, mamãe! Bastara que
estamos
todos tivessem consciência disso e o
mundo sera um paras
Lmeri admirava Levi quando ele falava. Tinha uma emoçao
na voz. Transmitia força
em suas
palavras.
Seria um orador de qualidade, Possuía o saber e tambemo
dom da palavra.
Conbecendo oAmor
67

E Levi
continuou falando do livro da
Tinha o seu tesouro, não vida.
modificando a escondia isso de
se
cada dia; à medida ninguém, pois estava
que lia "O Livro da
amadurecia seu caráter e fortalecia Vida"
Tudo isso Lameri via
seu interior.
acontecer
aproveitar uma pausa para interrogá-lo.com o filho amado. Resolveu
-Quer dizer que minha criança encontrou
sua vida? outra bailarina em
-Outra bailarina, mame? Não
Como não? E
ajovenm que
compreendo o
me mostrou, lá no
que quer dizer.
-Laila? salão do templo?
-Sim, Laila. E sua nova
-

Não, eu só a acho paixão?


bonita. A
Sim, ela é bonita. Mas não se senhora não a achou bonita?
A bailarina era
-
parece com a bailarina, certo?
diferente.
dela, eu via uma vida triste. Sabia Dançava e sorria,
mas, nos olhos
belo que seu que o
espírito dela
corpo. Sim, a luz que emanava dela mal era ainda mais
tida pelo seu podia ser con-
espírito. Foi isso que me
me
apaixonei pela sua luz interior. Eu vicomoveu,
ela
mame. Acho que
dade, era triste. que sorria, mas, na ver
Então você se
tentando me dizer, Levi?
apaixonou pela tristeza dela? E o que está
Não, mame. Eu era muito
-

apaixonado. Eu gostei dela porque tinhacriança para dizer que fiquei


uma beleza
que vinha de sua
alma. E o que estou dizendo. O
rosto e o corpo também eram
tos, mas sua beleza interior era maior. O boni-
mesmo acontece com Laila.
Não é tão bonita como a
bailarina, mas sua alma é bela e radiante.
Não sei se a senhora
compreende.
Eu compreendo, Levi. No
-

humano. Acho que é isso que torna desconheço


essa parte do ser
alguns
mais atraentes que outros.
Sabe, mame, eu não sei ainda o que é o amor, mas sei
quando gosto de alguém ou não. E eu gosto de Laila.
-Existem jovens muito bonitas aqui dentro também. Vocë nunea
as viu, mas eu vou
apresentá-las a vocë. Quem sabe vocë
possa ver
quanto säo belas!
Para que diz isso, mamäe?
E para evitar que vocë veha a se
apaixonar por todas as
jovens do reino.
Ora, isso não
-

vai acontecer.
68 O Livro da Vida

Como não? Na primeira vez que foi a uma


taverna zostou
de uma bailarina. Agora que saiu daqui, apos
tantos anos, jä se apai-
xona pela primeira jovem que encontra. Se continuar
assim, só vai
colher tristeza enm sua vida.
Por que diz isso? Eu vi muilas jovens
-

Hassem, mas só Laila me despertou a atenç+o.


quando saí com
Mesmo assim, com o tempo vai encontrar outras que
despertarão amor. lIhe
-Com a senhora foi assim?
Não, só me apaixonei uma vez na vida.
Foi pelo seu falecido marido?
Não, Levi. Quando criança, eu comecei a trabalhar
no tem-
plo, meu pai era unm sábio como Hassem e me
da Esmeralda. Quando consagrou ao Templo
chegou o tempo de me casar, fui escolhida
para ser a princesa.
Então no me pude casar com o
jovem que eu
amava, mas com o que os sábios designaram para mim.
-Por que isso, mame?
- 0 Templo da
Esmeralda existe há milênios. Uma mulher o
fundou. E tem sido dirigido
sempre por uma mulher nesse tempo
todo. A princesa dirige o
sido feito hátanto tempo
templo e o príncipe dirige o reino. Isso tem
que jáé uma tradição
Mas como se dã a sucessão, mamae? para
-
nosso povo.

Quando os sábios vêem que uma jovem possui as


des necessárias ao cargo, começam a qualida-
destaca entre todas, então revelam a elaprepará-la. Quando uma se
todos os segredos do Tem-
plo da Esmeralda. Se ela for a moça certa, colocam-na na linha de
sucessão da sacerdotisa
regente. E quando surge o prínc1pe apro-
priado, casam-na com ele.
Foi o que aconteceu com a
senhora?
Sim. Quando aconteceu, eu chorei
tro rapaz.
muito porque amava ou-
- E não reagiu contra isso? Não é justo sofrer assim. Foi por
ISSO que a senhora não se casou mais?
Nao foi por isso, Levi. Caso uma princesa venha a falecer,
Outra é designada,
mais. Assim está escrito
mas se o príncipe morre, ela não pode se casa
e tem sido cumprido por milenios.
Nao acha injusto? Parece que alguémé obrigado a Ses
ficar pelo templo.
-Nao é injusto. Quando aceitamos servir ao Templo da ts
meralda já sabemos dessa regra. É ela que tem mantido o cP
Conheccndo o Amor 69

inabalável por tantos milënios. A tradição mantém o reino em har-


monia. Não acha que o sacrifício de duas pessoas vale a
paz quue
possuímos?
-Da forma que a senhora colocou, acho que sim.
não posso entender como alguém aceita isso com facilidade.
Apenas
Ninguém aceita com facilidade, Levi. Não Ihe disse que cho-
-

rei muito quando me foi comunicado que seria a


princesa?
Mame, e quanto ao homem que foi escolhido para ser o
-

príncipe? Como se deu essa escolha?


Os jovens são instruídos pelos sábios. Quando uma suces-
são se aproxima, eles começam a observar todos e o mais capaz éo
escolhido. Agora, caso a princesa possua filhos, um deles será o
príncipe. E escolhido o mais sábio.
Levi assustou-se com essas
palavras.
Quer dizer que já fui escolhido, mame?
Sim, voceéo meu filho, não? Eu o indiquei, Levi. No exis-
te ninguém mais competente que você para dirigir o reino. E sábio, e
também meu filho. Não vou deixar que outro que não você
reino.
dirija o

Isso quer dizer..


Sim, você se casará no tempo certo com a jovem que o
conselho indicar.
Levi ficou sem voz.
Não se preocupe, filho! Acho todas elas muito lindas. Te-
-

nho certeza de que a escolhida irá torná-lo o homem mais


feliz doo
mundo.
Recuperando a voz, Levi falou:
-

A senhora foi a mulher mais feliz do mundo com o homem


que escolheram para ser seu marido?
Não, Levi, não fui feliz. Acho que fui a mais infeliz entre as
mulheres, mas cumpri comoque todos esperavam de mim. Procurei
dissimular os meus sentimentos. Foi por isso que sofri tanto
quando
meu filho faleceu. Eu transferi a ele todo o amor que não pude com-
partilhar com outra pessoa.
Levi não falou mais nada, já ouvira o bastante. Levantou-se
deu um beijo em Lameri e foi para o seu quarto.
Ela ficou observando o filho. Sabia o que ele estava pensando.
la ser duro, mas tinha que ser assim. Não podia mentir
para ele,
senão mais tarde seria pior.
OLiro dn Vida
70

notou que Levi tinha deixado o


Quando ia se recolher também
seu livro no jardim. Era a primeira vez que aconteca de ele esquecer

o livro. Não costumava separar-se dele nem para dormir.


filho.
Apanhou olivro. la levá-loao
Quando se aproximou do quarto, ouviu-o chorando. Aproximou-
se silenciosa e ficou olhando-o.
Levi havia descoberto que não era dono de si. Era um escravo
também. Ele que conseguira libertar o reino dessa nódoa era um deles.
Aproximou-se do filho e falou com carinho.
- Levi, não fique triste. Vocé não vai ser infeliz, eu lhe prometo.
Contendo o choro, ele perguntou à me.
-
Por que a senhora não me falou isso quando cheguei aqui?
Por que não me deixou ser vendido como um escravo ignorante?
Tinha que me educar, tornar-me inteligente, estudado, um sábio, para
só então me falar isso?
- Já não sou sua mae amada, Levi? Acaso acha que não so-
fro por voce? Pensa que sou insensível?
Lameri acariciou o rosto do filho.
-

Aqui está "O Livro da Vida". Você esqueceu-o no jardim.


Nunca tinha se separado dele antes. Por que fez isso?
Acho que este livro vai me tornar infeliz também.
-Como pode dizer isso do seu livro, filho?
-Um dia apareceu alguém no oásis e me aceitou como seu
ajudante. Eu vibrei com isso. la ser livre para viver. Ainda era um
menino, mas encontrei a bailarina e não a vi mais, sofri por causa
disso. Ainda que inocente quanto ao desejo que
Por isso sofri. Quanto a Abel, foi o
possuímos, eu a amei.
pai carinhoso e o irmão amigo
que não tive. Quando partiu, sofri também. Dividi o meu amor com a
senhora e com o saber. Isso me fez esquecer que não era feliz.
Agora vi Laila e a amei de imediato. Novamente descubro que nao
posso me aproximar dela. Acho que tudo o que me traz felicidade
não pode ficar a mim.junto Portanto, se
Livro da Vida" "O perma-
nece ao meu lado é porque vai me trazer tristezas. Eu nao 0 quero
mais
Lameri começou a chorar.
Isso quer dizer que eu também Ihe trarei tristeza, Levi?
o , quer dizer queo que fica juntoa mim só me traz infell
Cidades e o que me deixa feliz se alasta de mim. Não foi o que a

senhora me tornou, um infeliz?


Conbeecndo oAmor
71

Lameriafastou do quarto do filho aos


se

cer ouvi-lo mais. Ele tinha razão no que dizia. prantos. Não podia
Levi tinha desabafado o que não
no jardim.
tivera coragem de falar a ela
Ficou olhando o livro por um
ia infeliz por causa dele.
ser
longo tempo. Tinha certeza de
que
Em dado momento, o sábio invisível
S. que o guiava mostrou-se a ele.
Estava com o olhar triste.
Levi ficou olhando-o, por fimabaixou
O. a cabeça. O pranto voltou.
Entendeu a mensagem do sábio invisível. Ele tinha razão: para
que fazer mais pessoas sofrerem?
Já havia visto em outro
tempo Lameri morrer para salvá-lo.
Não era justo que sofresse novamente
por sua causa.
Apanhou o livro e foi até o quarto dela. Quando
ainda estava em
prantos.
chegou, ela
-

Mame, desculpe-me, eu a ofendi


minhas palavras.
com
Acho que fui egoísta com a senhora.
Tem sido a melhor me do
mundo. Eu não devia tê-la
magoado daquela forma, devia ter pensa-
do melhor antes de me lamentar
de minha dor. Sua dor é
minha, vamos, pare de chorar! E e semnpre será minha maior que a
mae. Acho que nos querida ma-
procurávamos antes de minha vinda até o tem-
plo. Quanto ao resto, que importância tem? Ser feliz ou infeliz não
importa. Isso não vai nos separar nem diminuir o nosso amor.
Levi, acho que nasci para ser infeliz. Tenho todo o contforto
que alguém possa desejar, nada me falta. Mas os meus sentimentos
não podem ser alimentados pela sua dor. Não vou pemitir que você
sofra como eu por causa do amor não
lo a fazer isso só por causa do
correspondido. Não vou obrigá-
templo e sua tradição. Afinal, você
não é meu filho de sangue. Eu é
que me apossei de você. Vou comu-
nicar aos sábios que escolham alguém que queria ser o príncipe do
reino. Eles ainda têm tempo para achar alguém à altura da tradição
para que venha a ser um escravo dela. Euo amo demais para magoá-
lo. Ficarácomigo só se quiser, mas poder ir com Laila quando assim
desejar. Poderá servir ao templo como um sábio. Você é um sábio,
disso não deve abdicar. Não se diminua por causa da tradição do
Templo da Esmeralda. Você o servirá com todoo seu saber, tão bem,
ou melhor, que os sábios já idosos.
Não, mame, isso não acontecerá. Acho que somos infeli
zes porque servimos a algum propósito do Criador. Se não fosse
72 OLimo da Vida

assim, por que então nós nos amaríamos tanto como me e filho?
Deve haver um propósito divino em tudo isso. Eu serei o seu príncipe
e continuarei o que comecei. A senhora contiou em mim quando eu
achei que podia melhorar a vida dos escravos. Se eu abdicar, tudo
volta a ser como antes. E o que são nossos sentimentos magoados
comparados aos deles? Nós somos apenas dois, mas eles são milha-
res. Melhor dois
sofrerem para felicidade de muitos que, por egoís
mo nosso, nada fazermos em benefício deles, não?
- Levi, você é um sábio mesmo.
Acaso você se arrepende de ter servido à tradição do Tem-
plo da Esmeralda?
Não, filho. Apenas gostaria de ser amada um pouco, e tam-
bém poder amar.
Já que não
-

vamos poder amar como a maioria, ao menos


cultivemos o nosso amor de mäe e filho. O que acha?
Levi, sinto-me tão infeliz. Abrace-me filho!
-

E Levi abraçou a sua mäe Lameri. Sim, ela era uma me me-
Ihor que qualquer outra.
Ficou com a mãe até que ela adormeceu.
Olhou sua alma. Sim, era uma alma que sofria. Trazia o símbo-
lo da dor estampado no peito. Não deixaria
que ela sofresse mais.
Acariciouo seu rosto, os seus cabelos, por fim deu-Ihe um
dormir também.
beijoe foi
Deitou-se, mas não conseguia conciliar o sono. Abriu "O Livro
da Vida" e ficou lendo-o até que adormeceu.
No dia seguinte, foi acordado pela me, queo chamava para o
desjejum.
Dormira recostado na cama. O corpo doía todo. Lentamente
foi se esticando.
Vejo que ficou acordado até tarde da noite. Não conseguiu
-

dormir?
-

Fiquei lendo até tarde e nem percebi o tempo passar


Levi, quanto ao que Ihe disse ontem, mantenho a palavra.
Se quiser, eu comunico aos sábios a sua decisão.
J a tomei uma decisão, mame. Vou assumir minhas respon
sabilidades como príncipe.
Talvez um dia venha a se lanmentar de tudo, filho.
Eu já me decidi. Quanto aos meus sentimentos, eu acno quc
Sao so ilusoes. A bailarina não é real. Foi só uma visão que me a u
Conbeccndo o Amor 73

dou sonhar. Quanto a Laila, acho que foi uma tentativa


a
de trocar
um sonho por alguem real. Como poderia alimentar um
amor basea-
do só na minha visão? Eu mal a vi e
já comecei a sonhar. Acha isso
normal, mamãe?
Levi, o sentimento de amor é algo que não
só com palavras. Ele brota podemos apagar
só com o
espontâneo. Acha que pode controlá-lo
desejo
de não mais senti-lo? Está errado em
pensar assim.
Não estou, mame. Eu acho que vou
-

da
gostar jovem que
for indicada para ser minha companheira. Além do
mais, talvez ela
também tenha se apaixonado por alguém e não
possa dizer isso a
ninguém. Vou descobrir quemé ela e saber se já não gosta de al-
guém. Naão quero viver o resto de minha vida com uma mulher que
viva sonhando com um amor que não pode ser vivido.
-

Nisso você faz muito bem. Vou fazê-lo por você. Não
nada por enquanto, filho. Quando eu souber como ela encara sua
faça
responsabilidade e o que sente por você, eu o aproximarei dela.
-Diga-me ao menos quem é ela.
Vou deixá-lo imaginando como será a sua princesa. Asim
poderá sonhar até conhecê-la.
Não faça isso, preciso saber se é bonita ou não.
Eu Ihe garanto que ê muito bonita. E também é muito inteli-
gente. Você vai gostar dela, tenho certeza.
Vamos, diga-me ao menos como é ela.
Vou descrevê-la por alto, mas não direi quem é.
Então descreva-a logo, mamäe.
Ela é de pele rosada, os olhos são negros e o cabelo é longo
e crespo-Lameri parou de falar e ficou observando-o.
-Como? Só isso? Não vai me dizer mais nada?
- Não. S6 isso já basta. Se eu falar mais você acaba desco-
apaixonado tempo. antes do
brindo quem é ela. E não quero ninguém
sábio a todos. Quem sabe assim ela
Você tem que mostrar que é um

também não fique sonhando com você! não adianta


Vou descobrir queméela, mamãe. Você verá que
escondê-la de mim!
mais algumas iguais a ela
Duvido que o consiga, Levi. Há
no templo.
saiu sorrindo.
Levi deu-lhe uma piscada e
o havia mudado no filho. Estavaa
Lameri ficou imaginando que
uma forma que
não era a sua. Por que mudou
se comportando de
de dia para o outro?
tanto um
74 O Livro dn Vida

Não encontrou uma explicação. Melhor ajudá-lo a se aproxi-


mar de Sharin. Faria de tal modo que ele não perceberia nada. Quando
se desse conta, já estaria envolvido.
Foi cuidar dos seus afazeres pensando em como fazer seu pla-
no funcionar.
Quanto a Levi, já tomara uma decisão. Não voltaria atrás. Mas
precisava fazer algo antes que Laila vIesse a sofrer por sua causa.
Foi procurar o sábio Hassem.
Quando o encontrou, pediu para falar-lhe a sós.
-Pois não, Levi. 0 que deseja de mim?
-Sábio Hassem, lembra-se de Laila, não?
Sim, Levi- exclamou o sábio, assustado.
-

Não se assuste, Hassem. Lembra-se de


que quando me con-
duziu à casa do ancião Asher eu já sabia
que se conheciam?
-

Sim, você provou que tinha conhecimento de tudo. O


que é
agora?
-O senhor não vai falar com o avô dela. Se fizer
isso ele a
mandará para longe daqui só para atender ao seu
pedido. Não
que ela venha a ser incomodada só por causa de minha quero
falta de
controle dos meus sentimentos.
-Continue, Levi.
Eu elogiei sua beleza e agi como uma criança. Posso ter
deixado uma impressão errada perante ela. Pode consertar isso
mim? para
-Eoque quer que eu
faça?
-Procure transmitir a ela que eu fiz
mais. apenas um elogio e nada
Diga-lhe que há uma jovem sacerdotisa com quem me casarei
dentro de um ano.
-Quem lhe falou tudo isso, Levi?
-

Mame
me falou ontem à noite.
Ela não quer que eu venha
a fazer Laila se iludir com
algo impossível de realizar.
-Está agindo como um honem de grande earáter, Levi. Eu
também não gostaria de ver Laila
ser iludida.
-Sim, acho que ela sofreria muito
ne casar com... Com.. como é
quando soubesse que vou
mesmo o nome dela'? Acho que ja
me esqueci.
-Com Sharin, Levi. Mas Lameri lhe falou até o nome ue
escolhida?
Comheccndo o Amor

Sim, mas me pediu segredo. Só estou falando com o senhor


porque preciso de sua ajuda. Não conte a ela que eu falei com o
senhor, está bem?
-Pode deixar Levi. ela não saberá
que conversamos.
-

Nem ela nem ninguém, Hassem. Só nós dois devemos


saber
Sabe, Levi, foi bom você vir
me falar. Eu
já estava de parti-
da para do ancião Asher para Ihe
a casa
pedir auxilio quanto a Laila.
-Deve ir até ele. mas mude suas
mais fácil. Afinal, só paramos um
palavras. Acho que será
pouco na casa dele, não?
Sim. Eu saberei como tirar vocé da
se ofender se eu inventar
mente de Laila. Nâo vai
algo a seu respeito, não?
Não me incomodarei. Só não vá me
-

transformar num sal-


tcador de coração das jovens.
-Depois eu lhe contarei como foi minha conversa na casa do
ancião Asher.
-

Procure não falar perto de mamäe, está bem?


-Sim, ficará em segredo. Até mais, Levi
-Até a vista, Hassem.
Levi ficou olhando o sábio partir. Ele
um grande peso.
parecia ter se livrado de
O sábio só não viu que Levi tinha os olhos brilhantes de
lágri-
mas que teimavam em brotar. Nasciam na sua alma, não nos olhos.
Sim, melhor sofrer sozinho. Assim não magoaria Lameri. E não
deixaria que Laila viesse a sofrer mais tarde.
Voltou aos estudos para se distrair. Era assim que havia sido
toda vida e não ia mudá-la agora.
sua
No oásis, distraía-se conversando com os sábios invisíveis e
agora, no templo, estudando.
Lembrou-se de Abel. O tempo que viveu com ele foi feliz. Pena
que durou tão pouco. Onde estaria ele agora? Sim, Abel também não
era feliz. Vivia de um lado para outro. Teria ele algum dia se apaixo-
nado também? Nunca tocou nesse assunto, talvez fosse discreto o
bastante para não falar de si a ninguém.
Procuraria imitar Abel nisso também. Não dividiria com mais
ninguém os seus sentimentos. Desses, ninguém mais tomaria conhe-
Cimento.
Melhor começar a descobrir quem era Sharin. Talvez fosse
bonita como Lameri dissera.
76 OLivro dn Vida

Quando fosse ter aula com o sábio Hossi ia achar um jeito de


se aproximar de Sharin.
Hossi era muito reservado. Tinha que agir com cautela senão
poria tudo a perder.
O que não sabia é que Lameri estava justamente falando sobre
isso como o sábio Hossi.
Não se preocupe, Lameri. Eu lacilitarei as coisas
para que
eles se aproximem. Vou convidar LevI a me
acompanhar quando for
fazer minhas visitas aos enfermOS. Levarei Sharin
comigo.
Tome cuidado para não dar a impressäo de que está
-

mando os dois.
aproxi-
-Devo dizer a Sharin que é a escolhida?
Não. Nunca foi revelado à escolhida antes da data e
-

não
será diferente desta vez. A tradição tem
que ser mantida.
Pode confiar em mim, Lameri. Eles não
-

percebero nada.
-Vá agora, sábio Hossi! Logo será a aula de Levi
com o
senhor.
Até logo, Lameri. Comunicarei o que conseguir.
Aguardarei notícias.
Eo sábio Hossi foi ao encontro de Levi. Não
imaginavaque
rapaz já sabia que sua filha era a escolhida. Foi desconhecendo
o
isso
que convidou Levi
Levi, você já conhece toda a teoria a respeito das
-

Não acha que é hora de doenças


praticar um pouco com casos reais?
Fico contente com o seu convite, sábio Hossi. Acho
-

que só
praticando vou poder entender realmente como é uma doença.
Amanh vou sair do templo para visitar as
-

afastadas. Eu o espero em minha casa pessoas que moram


logo cedo.
Eu estarei lá ao amanhecer.
-

Despediram se. Levi ficou imaginando se Lameri já havia ou


não começado a aproximação dela com ele.
la pensando nisso quando viu se aproximar um dos estres
invisíveis. Estava com ar triste.
Ohou-o nos olhos por uns instantes, Foi o suficiente para co-
meçar a
Soluçar. Correu para o jardim. Lá poxleria chorar a voitae
Como demorava a se recolher, Lameri foi ao seu encontra.
uando o VIu chorando desesperado, procurou acalma-lo.

pois esta
Vamos, Levi, fale-me o que houVe, Acale-se,
desfigurado.
.
Conlbeccndo oAmor
77

Ainda soluçando, Levi


Minha me morreu. começou falar.
-
a

Sua mãe? Quando foi isso?


-

-
Esta manh. Eu não estava lá
Eu pensava
-
para me despedir dela.
que você já havia se esquecido dela, Levi.
Eu pouco lembrava, mas
esquecer, não. Afinal eu era seu
filho. Boa ou má, ela me criou até os
nove
Creio que após muitos anos ela anos.
deve tê-lo
Não se esqueceu. Morreu esquecido.
mais me magoa.
chamando por mim. Isso é o que
-Como você sabe, Levi?
Um dos mestres me falou. Vou
ter remorso
minha vida. Podia ter ido até ela uma pelo resto de
vez ao menos e
estava bem. dizer que
-

Não se culpe, eu também


contribuí. Sou a culpada por isso.
Perdoe-me por tê-lo afastado dela, Levi.
Não tenho que
perdoá-la de nada. Afinal, fui eu que fugi do
-

oásis. Espero que ela me


amor que ela tinha
perdoe um dia. Creio que não julguei bemmo
por mim. Acho que gostamos de ser
nunca retribuímos o amor dos que não vivem a dizer amados, mas
que nos amam.
-

Sim, säo os que sabem fazê-lo em silêncio. Não fazem alar-


de algum disso, mas têm os seus entes
amados.
S6 trago infelicidades, mame
Lameri. Ea única coisa
consigo fazer sem me esforçar. Isso consigo com facilidade. que
Vamos, Levi. Vá se lavar enquanto preparo algo para você
comer.
Levi levantou-se e caminhou lentamente. O erro de ter
sem comunicar à me
partido
agora o oprimia com mais uma dor a ocultar,
pensou ele.

No dia seguinte Levi acordou cedo. la ao encontro do sábio


Hossi para sua visita aos enfermos. Chegou calado à casa do sábio,
que notou a diferença.
Que houve, Levi? Você não é calado assim. Quer me con-
tar o que Ihe aconteceu?
O Livro da Vida
78

- Não, sábio. E algo que só a mim interessa e não vou dividir

com ninguém.
-Está bem, filho. Caso sinta vontade de faar com alguém, eu
0 ouvirei.
Obrigado. O senhor é um ótimo médico, pena que não cure
uma alma ferida.
A s vezes um médico precisa curar a alma do enfermo para
só então lhe curar a doença física. Acho que já ihe falei sobre isso,
não?
Sim, o senhor falou. Mas a doença de minha alma não tem
cura. Está localizada na minha consciència, sábio Hossi.
- Compreendo. Talvez com o tempo você possa amenizar a
sua dor.
-Sim, o tempo é o melhor remédio para essa doença. Ose
nhor vai partir logo?
-Vamos partir daqui a pouco. SQ estou esperando minha
filha. Quero que ela também pratique um pouco do que tenho lhe
ensinado.
Levi nada falou. Pensava em sua me morta a chamar por ele.
Nem notou quando a jovem entrou na sala.
Bom dia, papai. Bom dia, príncipe Levi!
Levi saiu de sua abstraçã0 ao ouvir o seu nome. Olhou para
Sharin, sem nada dizer.
Bom dia, príncipe Levi!- tornou a falar Sharin.
- Bom dia, Sharin. - respondeu Levi, sem perceber que o

sábio ficou observando como ele já sabia o nome de sua filha.


Você já a conhecia, Levi?
-

Como? Oh, não! Eu já tinha ouvido falar dela, mas é a pri-


meira vez que a vejo.- Levi despertou rapidamenteecorrigiu a
falha com uma observação. - E mais bonita do que me disseram
durante uma aula, Sharin. Sim, você é muito bonita mesmo. Oh, des-
culpe-me. Eu e minha falta de travas na língua.
Fico encantada com suas palavras, príncipe Levi.
-Bom, se vamos juntos com seu pai, acho melhor me chamar
só de Levi. Sinto-me melhor quando sou chamado assim.
-Está bem, Levi. Papai, já estou pronta! Vamos quiand
senhor quiser.
-Vamos então. Temos uma aldeia ao norte que taz tempo
que nao e visitada. Acho que teremos muito trabalna por td
Conlhecendo oAmor 9

Partiram a cavalo. lam


absorto em sua mágoa, quandocavalgando
foi
rapidamente. Levi estava
Levi, voce já interpelado por Sharin.
veio com papai antes?
Não, Sharin. E a
primeira vez saio com ele.
-Também é a primeira vez paraque mim. Ele
hora de preparar sucessores disse está na
para ele. Acho que pensa em
que
sair do templo. Espero parar de
poder ajudá-lo. E vocé. o que pretende?
Vou procurar ver na
sabe eu possa auxiliá-lo.
prática tudo o que ele me ensinou. Quem
-Já tinham me falado de você,
diferente.
mas
pessoalmente é muito

-O que Ihe disseram a meu


respeito?
-

Falaram que você era falador e não é o estou vendo.


que
-

Eo que ve?
Um rapaz calado triste. Parece
não ama a vida.
e a
imagem de alguém que
E, talvez eu seja isso mesmo: um infeliz que não ama a vida
que o destino Ihe reservou. Você é muito observadora, Sharin. E
certeira ambém!
Mas por que isso, Levi? A vida
-

pode ser boa ou ruim. nós é


quem a direcionamos.
Digamos que eu escolhi a forma ruim. Mas é melhor mu-
darmos de assunto. Meus sentimentos só a mim pertencem. Jurei a
mim mesmo não dividi-los com ninguém, Sharin.
- Creioquevocêescolheu a pior forma para viver. Levi. Acho

que os sábios não souberam torná-lo sensível.


-Sensível? Estranha palavra, não?
Por quê?
- 0 que é ser sensível para você?
E saber compreender uma dor ou um sorriso. E transmitir
receber quando querem
algo de bom ao nosso semelhante ou saber
nos transmitir um pouco de alegria.
Ser sensível é isso para mim.
insensível Levi.
do pai, que ia mais à
Ela apressou sua montaria indo para junto
frente.
melancolia. Não estava se sentindo com dispo-
Levi voltou à sua
de estar ali.
a causa
Siçao para conversar. Esquecera por completo
do pai, falou-lhe:
Quando Sharin aproximou-se o príncipe para acompanhá-
o senhor chamar
-

Papai, quando não me convide também.


lo em suas visitas às aldeias, por favor,
O Livro da Vida
80

- Por que, filha?


- Ele é muito desagradável como companhia. E muito dife
rente do que ouvi a seu respeito.
Sharin, não percebe que ele está sofrendo por alguma coisa?
Mas por que não diz para nós o que o aflige?
Talvez não queira nos incomodar com seus problemas.
- Pois, para mim, alguém que age assim é um ser egoísta.
Talvez por ser o príncipe pense que pode nos tratar assim.
- A mim ele trata muito bem. Sempre foi muito educado e
cortes.
Talvez porque o senhor é seu mestre, mas comigo não foi
nem um pouco gentil. Diria ate que e mal-educado se não fosse o
príncipe. Só de pensar que uma de nós terá que se casar com ele já
sinto arrepios. Pobre da infeliz que for escolhida. Vai preferir a morte.
-
Não fale assim, Sharin! Eu conheço Levi desde criança.
Ele está com algum problema muito grande. Agora vamos parar de
falar mal dele. Você está se excedendo!
Sharin não falou mais nada.
Mais algum tempo e chegaram à aldeia. O sábio foi até uma
casa e após umas palavras com a dona dela mandou que os auxilia-
res descarregassem os cavalos. Ila montar tudo ali. A mulher havia
cedido a casa para eles.
evi também ajudou com as sacolas cheias de ervas e pós do
sábio Hossi.
Logo estava tudo preparado para começar o atendimento aos
moradores da aldeia.
Começaram a chegar pessoas de todos os lados.
Levi ficou observando toda aquela gente. Muitos traziam as
marcas das suas doenças estampadas no rosto.
Começou a conversar com elas, inteirando-se do problema de
cada uma.
Foi chamado pelo sábio. Este ia começar a Iratar das pessoas e
queria-o junto.
- Levi, fique sentado deste lado; Sharin, voce fica no outro.

Observem os doentes, as doenças e o tipo de tratamento que indico.


Assim, aprenderão como é importante conhecer tanto a doença quan-
to o paciente.
E assim foi passando o tempo. Levi loi se esquecendo da mor-
te da mãe com tantos enfermos à sua frente.
Conbecendo oAmor 81

Em dado
nas momento, não sabe como,
pessoas.
Via-Iheso interior. começou a ver a
doença
essa faculdade. Calou-se, pois estava assustado com
Quando uma mulher, já em
Ximou-se, viu a estado avançado na
criança gravidez, apro-
A mulher começouquase sufocada pelo cordão umbilical.
Ihe a
queixar-se de muita dor. O
algumas ervas para acalmar sua ancião ia dar-
Sábio Hossi, esta dor. Levi não se
mais, pois o seu filho está mulher vai morrer se não conteve:
fizermos algo
Como sabe disso?quase morto no seu ventre.
Estou vendo a
cordão umbilical. criança em seu ventre. Está sufocada
-Você está vendo isso?
pelo
-

Sim. Acho
que se não posso
eu posso. salvá-la, ao menos à
criança
Como fará isto?
-Abrindo-lhe o ventre. Caso
criança morrerão. contrário, tanto ela
Você teria
quanto a
coragem de fazer
Sim, é a vida deles que está isso?
algo ambos morrerão ainda hoje. por um fio. Se não fizermos
Como você sabe disso?
-Os sábios
-
invisíveis
estão falando.
Sábios invisíveis, quem
me
são eles?
Não tenho tempo de explicar. Vou ajudar esta
E muito mulher!
perigoso, Levi.
Eu voufazê-lo, quer o senhor queira ou não.
A mulher, que a tudo ouvia, olhava
para Levi assustada!
Levi falou-lhe.
Sua dor já vem há oito dias, no?
Sim, como sabe?
Ea incomoda mais
quando se senta ou se deita, não?
Sim.
-

Gostaria de arriscar
vida para salvar seu filho? Caso
sua
não o faça agora, à noite morrerá, pois até lá ele estará morto.
O senhor sabe que é um filho?
Sim, eu o vejo claramente.
-Faça o que for melhor.
Venha, deite-se aqu
82 O Livro da Vida

A mulher deitou-se numa das camas que havia na casa.


Levi poS as mãos
sobre sua cabeça e começou a orar. Em
pouco tempo ela dormia.
O sábio Hossi
observava a tudo em silêncio. Estava espantado.
Levi pegou
vantou acima da
uma adaga,
aqueceu-a chamas depois
nas e a le-
cabeça. Fez novamente uma
A
Seguir abriu o ventre da mulher. Sua prece
mão era
mãos invisíveis. guiada por
Em poucos instantes
tinha a criança nas mãos. Ela realmente
estava sufocando-se com o
cordão. Desenrolou-o e fez seu
mento com a me.
Levantou
desliga-
oferecendo a alguém.
a
criança já roxa para cima, como a

Procedeu à sua
limpeza com uma rapidez espantosa. Fez mais
alguns movimentos e a criança foi
adquirindo a cor normal novamente.
Voltou-se então para a mãe que
meçou a suturar seu ventre. permanecia adormecida. Co-
Como o
sangue saia
cessou o
em abundância,
fez nova prece e logo
sangramento. Completou sutura e enfaixou-a toda.
a
Quando a mulher começou a gemer, ele tornou a põr as mãos
na sua cabeça. Ela voltou a
perder os sentidos.
Enquanto isso, Sharin já cuidara da criança.
-Como fez isso, Levi?- perguntou o sábio.
Não sei como, mas fiz, é o que
importa. Vou orar ao Criador
por esta mulher. Quem sabe Ele permite que ela viva.
E assim fez. O sábio saiu da casa e continuou a atender do
lado
de fora. Não ia perturbar a nmulher.
Jáera tarde quando
terminou
com todos.
Entrou na casa e Levi continuava ao lado da mulher. Tinha uma
mão posta sobre sua testa. Isso a mantinha dormindo.
- 0 que acontece quando você põe à mão sobre a cabeça
dela?
-O seuespírito se afasta, e os sábios invisíveis dão-lhe algo
que paralisa o seu corpo. E por isso que não sente dor alguma. Se
passar doze horas assim, não morrerá.
-Como sabe?
Olhe para a faixa em seu ventre. No tem sangue. Eu a
roquei há duas horas e não sangrou mais, o que signitica que nao
terá problemas se ficar assim até amanhã cedo.
-Estou espantado, Levi.
Conbeeendo oAmor 83

Eu também, sábio Hossi. Se


o senhor quiser
templo. Eu ficarei pode voltar ao
aqui até ela ficar boa. Acho
que o Criador quer
que ela viva para eriar o filho
que ele Ihe deu.
-Eu ficarei com
vocë, amanhä eu volto ao
-Como queira, templo.
não há lugar mas é melhor mandar sua filha de volta, pois
para dormir aqui.
-Vou falar com ela.
ela. Caso queira voltar, mando alguém com
Sau e conversou com
Sharin quem falou.
a filha. Logo estavam de volta e foi
Se o
príncipe permitir, gostaria de ficar.
Faça o que achar nmelhor, Sharin. Eu só
para voce. queria o melhor
-Pode deixar que eu mesma
mim. principe. escolho o que é melhor para
-

Já lhe disse
que nme sinto à vontade
Levi quando me chamam por
Eu prefiro chamá-lo de
eu o chame de Levi. príncipe, a não ser que ordene que
Eu não ordeno nada,
trate-me como
silêncio, senão ela será incomodada. Como estáquiser. E agora faça
-Está bem. Uma mulher da aldeia está
a
criança?
tem um pouco de leite, vai cuidando dela. Ainda
amamentá-la.
Amanhã ele poderá ser amamentado pela mãe.
Acha mesmo possível?
-Sim, olhe isso- e Levi descobriu os seios da mulher. Ve
como tenm muito leite?
Deu um leve aperto num deles eo leite
esguichou.
Por que está rubra, acaso isso a incomoda? São só a fonte
-

da vida de um recém-nascido. São


órgãos do corpo de uma mulher
que o Criador dotou do poder de sustentar a vida que Ele permite que
seja gerada no ventre feminino. O Criador é perfeito, por isso sua
criação também o é - continuou falando da perfeiço do Criado.
Sharin ficou a ouvi-lo e também observava seu rosto. Como
era estranho esse Levi.
Mais tarde foram servidos com uma refeição pelos aldeðes.
Levi mal tocou na comida.
De vez em quando derramava um pouco de água nos lábios da
mulher.
84 OLivro dn Vidn

Ja era benm tarde quando o sábio estendeu uma manta para a


filha se deitar. Estendeu outra para si.
Levi, quer que eu fique no seu lugar um pouco?
Não, sábio Hossi, pode dormir. Quando o sábio invisi vel me
disser que
posso sair daqui vou descansar também.
Esta bem, se precisar de algo é só me chamar.
-Obrigado, sábio. Descansem, pois o dia foi dificil para todos.
Boa noite, Levi.
-

-Boa noite, sábio, boa


Boa noite, príncipe.
noite, Sharin.
Levi não a repreendeu mais. Para
Já era
que?
madrugada quando o mestre invisível mandou-o tirara
mão da cabeça da mulher.
Disse-lhe que ela estava bem. Ia conti-
nuar dormindo.
Levi levantou-se
devagar, estava esgotado. Abriu a porta e foi
para frente da casa.
Sentou-se ao pé de uma árvore e começou a chorar. Punha um
pouco de sua mágoa para fora.
Não percebeu, mas Sharin estava acordada
quando ele saiu da
casa. Ela o seguiu e ficou olhando-o a distância.
Não podia vê-lo
bem, mas podia ouvir o seu pranto.
Depois de algum tempo, criou corageme se aproximou dele.
-
Por que chora, príncipe? Acaso não está feliz por ter salva-
do o filho e a me?
Por eles eu estou, mas o que diria de um filho que matou a
sua mae? Acaso o filho estaria sorrindo? Não. Se fosse um filho de
verdade se matariatambém. Só que nem isso tem coragem de fazer.
Além de um mau filho, é um covarde.
Mas a criança está bem, assim como a mäe não morreu.
Por que as lágrimas?
São por mim mesmo. Eu sou o filho que matou a própria
-

mae.
Não gostaria de me falar sobre sua dor?
Falando ou não ela não vai diminuir. Então para que passar a
outros parte dela.
- As vezes, quando dividimos nossa dor com alguém, isso ali-
Via um pouco o sofrimento.
-Só o Criador poderá aliviar minha dor, ninguém mais poderá
fazer isso, Sharin.
Conbecndo oAmor 85

Será que o
que fez
hoje não serve de bálsamno à sua dor?
Nao, so serviu
da à sua mãe para aumentá-la. Viu o
e como ela
sofre para dar vida atrabalho que um filho
de um tilh0 que um dia partiu às ele? Pois o que diria
dir dela. Näo Ihe disse escondidas, sem ao menos se despe-
dei um
abraço ou um
obrigado por ter me trazido à carne, nem Ihe
nou como se beijo de
despedida. Sou um que a abando-
ela morreu
nada lhe
devesse, quando Ihe deviafilho
tudo, e soube
chamando pelo filho que
sofrido
tinha morrido,
com desaparecido.
minha ausência! Deve
ter
O que ela deve ter
pensado que eu
esqueceu após oito anos. Creiosofria, ou
mas não me
ram oito anos de dor
estudar. Para que? para ela, enquanto eu me que f0
-Eu não sei Diga-me, Sharin, para que?
preocupava só em

assim. Diria para que, Levi, mas deve


que vocë não conduz, é ter um motivo para ser
Sim, meu destino. Um conduzido
destino cruel quepelo
-

seu destino.
Como eu vive
gostaria de não errar tanto. A cada dia me torturando.
meus erros. Meu
Deus, como sofro. Acho sofro mais com
Sharin voltou para casa. que vou enlouquecer.
chá. Pouco depois Ihe trouxe
um
pouco de
Beba, Ihe fará bem.
-Obrigado, Sharin. Você é melhor do que me falaram.
culpe-me se fui rude com vocë, é que estou sofrendo muito. Des
da morte de minha Soube
me na tarde em
vir junto com vocês. Eu que seu pai me convidou
estava feliz com isso até para
dela. Só vim saber da morte
porque queria ver o trabalho de seu
conhecê-la. Acho que errei. Devia ter ficado no pai e também
chorado minha dor sem incomodar a
ter templo. Lá poderia
mais ninguém.
-

Talvez. Mas será que


VIVOS a esta hora? Ou aquela mulher e seu filho estariam
nem issO serve
menos severidade? Näo para olhar o seu destino com
seja seupróprio
julgue, mas que seja Ele e no você. Eujuiz.
Deixe que o Criador oo
não creio que Ele
zangado com você, senão não o usaria como o fez hoje ao dar àesteja
vida
um filho
para aquela mae. Tudo pode parecer difícil. Mas nós
mos ser felizes pode-
meio das maiores tormentas de nossa alma. So
no
que, para iSSO, precisamos ver o lado bom de nossas vidas, não só os
ruins. Temos
que ter equilíbrio nisso também!
Ela parou de falar. Levi ficou
pensativo por um tempo.
-Obrigado pelas palavras tão oportunas. Você é muito mais
inteligente do que ouvi falar. E uma sábia, lambém. Talvez um dia
S6 OLioda Vida

possamos falar de coisas mais agradávcis, não de minhas dores. Até


parece que só eu tenho problemas, não?
Espero que quando viermos novamente com meu pai vOce
já tenha melhorado.
-Eu estarei melhor, e aí sim serei uma boa companhia para
vocês.
Ficaram conversando mais um pouco até que Levi disse que
estava com sono.
-O chá que eu lhe dei traz o sono. Váe durma. Eu ficarei
olhando a mulher para voc. Caso precise, eu o
chamo
-Obrigado, Sharin. Não vou dispensar sua ajuda.
Quando amanheceu, Levi acordou assustado.
-Acho que dormi muito. E muito tarde, sábio Hossi?
-

Não, Levi, o sol surgiu há pouco. Descansou bastante?


Sim. E a mulher, como está?
Foi Sharin quem Ihe respondeu.
Olhe você mesmo, Levi.
Levi sorriu ao ver a mulher amamentando o filho. Sim, o Cria-
dor tinha permitido àquela mc criar o seu filho.
Sabe como vai se chanmar o meu filho?
- Não, senhora.

S e não se incomodar, vou chamá-lo de Levi.


-EEum bonito nome!
Após trocar o curativo da mulher, Levi falou-lhe:
Se a senhora tomar cuidado e não sair desta cama, vai ficar
boa em poucos dias. Caso venha a precisar, mande me chamar no
Templo da Esmeralda.
E deu-lhe mais algumas instruções. Quando iam voltando, o
sábio Hossi quis saber quem eram os mestres invisíveis.
Levi foi reticente. Falou só o necessário para ele compreender.
Quando chegaram ao templo, Levi foi ter com Lameri.
Estava curiosa a respeito da viagem. Ele contou-Ihe tudoo que
se passou, inclusive entre ele e Sharin.
Percebeu como ela ficou feliz com o que ouvia.
-

Vocë vai tornar a sair


sábio Hossi?com o
S e ele me convidar, vou. Chega deficar enclausurado notem
plo. E hora de usar um pouco do que aprendi estes anos todos. E
também achei Sharin muito bonita. Quando fomos, eu não reparei nela,
mas na volia viemos conversando e pude ver que.é muito inteligente.
Conlbecendo o Amor 87

Já vai
apaixonar por outra jovem?
-

se
Sm, acho que vou me
remo, mamãe. apaixonar por todas as jovens do
E como vai fazer, então?
Não sei, mas
todas e deiNO OS outros
quando chegar odia do casamento eu tico com
rapazes com inveja- disse Levi, sorrindo.
-Quero ver como vai
Lameri estava feliz conseguir.
como
E assim Levi foi primeiro encontro do filho com Sharin.
abandonando
sábio, em outro com outro. o
templo. Um dia saía com um
Se envolveu todo com
com a escravidão no
reno.
a
realização do seu projeto de acabar
Logo começaram a chegar de outras
gam da miséria. pessoas nações que fu-
Levi também aumentou
mais os assuntos do estado. guarda do reino. Passou a controlar
a

Algum tempo após sua primeira saída do


cido em todo o reino. templo já era conhe-
Sua fama como
ras do reino. médico ultrapassou as fronter
Alguns homens importantes vieram à sua
tar. A estrela de Levi brilhava procura para se tra-
tanto que sua luz já iluminava
distantesS. lugares
De fato, Levi não dividiu com ninguém suas dores.
Não havia
se
esquecido de Laila. Viu-a muitas vezes, mas só a
Notou que ela sofria com isso. cumprimentava.
Tinha vontade de
beijá-la, mas nunca demonstrou. Laila era uma moça triste,abraçá-la,
isso ele
VIu um dia ao
reparar em seus olhos.
Viu sua alma. Sim, era a alma de uma
mulher que sofria.
Foi falar com o sábio Hassem.
Sábio, o senhor ficou de me falar sobre a conversa com
-

Laila e o ancião Asher, mas até hoje não me disse nada.


Pensei que não era necessário dizer-lhe nada, Levi.
-

Pois estáenganado. Eu não esqueci. Fale-me como foi, só


que não oculte nada, pois se fizer isso eu saberei. Já vi a alna de
Laila, ela está sofrendo. Conte-me tudo, Hassem.
Eu fui até a casa do ancião Asher e
começamos a falar. No
-

meio da conversa, ele me perguntou algo sobre voce, e eu


aproveitei
para dizer que dali a um ano se casaria com uma das jovens do
templo. Contei-lhe sobre a tradição do Templo da Esmeralda. Per-
OLnro da Vidn
88

a
gente
tradiçao de sua
como um hebreu abandonava
unto-me na
do Disse-Ihe que vocë estava no templo
pela tradição templo.
tantos anos que já não se lembrava da tradição
de seu povo. Falamos
se eu nao o
ainda de muitas outras coisas até que Laila perguntou
levaria mais até a casa de seu avQ.
foSse
Disse-lhe que você estava ocupado, mas que quando
possível eu voltaria lá com você.
Sabe Levi, ela o ama muito, pois já me perguntou várias vezes

sobre você. Digo sempre que está muito ocupado, o que nao deixa

de ser verdade.
- Pobre Laila. Ela está muito infeliz. Eu vi sua alma. Ela deve
estar sofrendo muito pelo seu amor por mim.
E você, não está?
diferente, Hassem. Vou me casar com uma jo
Comigo
vem do templo. Sei disso e aceito. Não penso muito a respeito.
-Levi, não posso mentir para você, mas você não consegue
mentir para mim também.
-Sim, eu sofro, Hassem. O amor é estranho! Não consegui-
mos matá-lo por mais que nos esforcem0s. Creio que ele não morre
e nós sabemos, Laila e eu.
- E quanto a Sharin, como fará? Não a ama?
Sharin é bonita, inteligente e muito boa também, creio que
os sábios fizeram a melhor escolha para o reino.
-
Você ainda não respondeu à minha pergunta.
- Viverei bem com ela. Isso não será difícil para mim.
- Mas será como Lameri, não?
Lameri vive, não? Eu também viverei! E só olhar o que é
mais importante: dois jovens ou o reino?
-O reino é mais importante, não há dúvidas, mas você será
vazio no seu interior. Acha que conseguirá viver bem assim?
- E só no deixar Sharin perceber e estará tudo bem. Ao me-
nos a ela não vou magoar.
-Por que diz isso? eu não sabia
Magoei minha mãe, que me amava porque
como era o amor de uma me. Magoei Laila por causa de um encon-
tro infeliz. Ela me ama, mas não posso amá-la senão magöo Lameri.
Quanto a Sharin, não vou permitir que sofra também por no ter o

amor correspondido.
Conbeecndo o Amor 89

ela o amna? -E sabe se


-Sim, eu vejo sua alma
ante, e isso é o quando se
amor, Hassem! Torna a aproxima de mim. Fica rad
proximo do ente amado e a deixa alma radiante quando esta
-E assim negra quando não é correspondIdo.
que estáa alma de Laila?
Sim. EË por isso me
outrohomem poderia me preocupo. Se ao menos ela gostasse de
-Voce consegue esquecer.
esquecê-la, apesar de tudo que faz para isso?
Não, Hassem. Como
disse, o amor é algo estranho. Não
conseguimos dobrá-lo à nossa euvontade.
- 0 que fazer Ele é que nos dobra.
para
Não sei, mas vou
consolar
-
Laila?
assunto. Não serei feliz se consultar os mestres
invisíveis sobre
Laila for infeliz.
-O que decidir, sei
que será o melhor para ela.
Eu Ihe direi, Hassem.
-

E Antes vou conversar


Levi foi falar com mamae.
com a me sobre Laila.
-Mame, hoje eu vi Laila na cidade. Ela está
Como sabe? doente.
Esqueceu-se do meu dom de ver a ålma de
Sim, nem me lembrei disso, filho. O alguém?
respeito? que pretende fazer a
Não sei como-

agir. Sei ela


aproximar dela sem me envolver.queE se eumenãoama, mas não
fizer
posso me
em breve. Recebi
um aviso algo morrerá
ela
- 0 que vai
quando a vi
hoje.
fazer para ajudá-la?
Se eu deixar
que morra n0 vou ter mais
vida. E se tentar paz em minha
algo não sei o que conseguirei. Mas
ajudá-la. Eu vivi uma ilusão muitos anos. Creio se Ihevou tentar
para viver ela não morrerá. que der algo
-E quanto a você, como sairá disso
tudo? Não vai sair ferido
também?
Pode ser. Mas saberei como me
-

controlar e curar meus


ferimentos.
-Cuidado, Levi, sua ferida ainda estáexposta. No vá fazÁ-
la sangrar muito,
pois sei que você não a esqueceu.
Como pode saber disso?
-

Não preciso de mestre invisível


-

para me dizer como é o


amor. Esqueceu-se?
-

Não, mas você viveu assim mesmo.


seu
Conseguiu ser útil
sofrimento. Eu sou fortee sobreviverei também. Mas,
no

quanto a
90
O Livro da Vida

Laila, tenho que fazer


algo senão cairei mais na frente por causa do
remorso.E não
posso cair, mame!!!
Não pode cair?! O
que você está ocultando, Levi?
Logo chegará o tempo da
gipea virou sua profecia de Abel. A serpente
cabeça para esta
e
expelindo veneno. Muitos já estãoregiäo. Suas presas estão afiadas
sendo picados.
Quem é a serpente e quem está sendo
O Fgito é a
serpente e mais ao
picado?
caindo em suas norte outros reinos est0
presas.
-Como sabe?
Osmestres invisíveis me avisaram. Eu sonhei
também. com Abel
-Como não soubemos?
Eles
começaram a se mover há poucos dias. Dentro de al-
guns estarão à nossa
meses
rão toda a porta. Não baterão para entrar, derruba-
muralha, pois serão tantos que não
rão como
gafanhotos famintos. passarão por ela. Se-
Eo que podemos fazer? No temos
-

tra eles. Precisamos nos exército para lutar con-


preparar.
Não adianta, mamãe. São tantos
da é menor que o exército em que toda a população ain-
movimento.
Mas por que isso?
E um império inchado
por parasitas de todo tipo. Já não
consegue sobreviver sem o saque a outros povos. Mais dia
menos
dia seremos atingidos.
-O que pretende fazer, Levi?
-

Vou ajudar Laila, depois terei


paz para pensar num plano.
Vou convOcar os sábios.
Alguma recomendação em especial?
Sim, peça que ordenem que não fique um
palmo de terra
sem ser plantada. amansaremos o leão se saciarmos sua fome.

Mande que comecem a recolher todo o cereal
que não fizer falta ao
povo. Que não se perca nada de hoje em diante.
Lameri foi falar com os sábios. Levi foi atrás de Hassem.
Gostaria de sair um pouco, sábio?
-Onde você vai, Levi?
Visitar Laila.
-

Está louco? Não vê que não pode fazer isso?


Vamos, no caminho eu Ihe falarei o que decidi.
lam conversando sobre como fazer para ajudar Laila.
Conbeccndo o Amor 91

Quando se aproximaram da casa do ancião


a
jovem. Ela entrou rápido em sua casa. Asher, Levi avistou
-O senhor também a viu, sábio?
- Sim, acho que fugiu de nós.
Vamos
ver o que
acontecerá.
Pararam na frente da casa.
Hassem foi na frente.
Salve, Asher. Faz tempo
que no vai me visitar. O
ve com nossa
velha amizade? que hou-
-Voce anda muito
lo com coisas sem ocupado, Hassem. Não quero incomodá
importäncia.
Amizade é algo valioso, Asher. Não
quer umn.
a encontramos em qual
-
E por ser seu
principe Levi Ben Yohai?
amigo que não quis importuná-lo. Como vai o

-Está ai fora. Vai


dar uma olhada nas terras
-

Mande-o entrar! Ficarei honrado com sua do reino.


Hassem saiu. Logo voltou com visita.
-Como vai, anciäo Asher? Fico Levi.
sua casa. Senti vontade feliz em estar novamente em
de voltar, mas faltou-ime
-Nós temos ouvido muito a seu tempo.
ancestral, príncipe! respeito. Honra a sua origem
-Só tenho feito o que um bom
Não, tem feito um pouco mais
príncipe faria pelo povo.
Isso é porque o conselho de sábios é muito
bom. Caso con-
trário, não faríamos nada para
engrandecer o reino.
-Nós o temos em alto conceito,
principe Levi. Sua fama já
ultrapassou as fronteiras do reino.
-

Generosidade
sua, ancião Asher. Mas onde está sua neta
Laila? Eu vi quando nos aproximávamos. Acaso ela saiu?
a
Ela está no seu quarto. Quase não sai mais de casa. Penso
-

as vezes que ela não ama a vida. Vou avisá-la da sua


presença.
-Não se incomode conosco - falou Hassem.
Um momento que vou chamá-la! Não são todos
que podem
ter a honra de receber o príncipe e o sábio Hassem.
Asher entrou na casa. Demorou-se um pouco para voltar. Quan-
do o fez, Laila o acompanhava. Ela ainda estava com os olhos ver-
melhos. Devia ter chorado muito.
Como vai, Laila?- saudou Levi.
Muito bem, príncipe. Fico contente com sua visita. Honra a
nossa casa com sua presença.
OLivro da Vida

é que fico honrado por ser bem recebido em Sua casa.


Sabio Hassem, como o senhor falou que precisava conversar a sós
como ancião Asher, acho que Laila poderia me acompanhar na visl-
a que vou fazer. Isto é, caso ela aceite meu convite! Vocé me acom-

panha, Laila?
Seo vovo deixar, cu ficarci muitofeliz em ir com vocé, prín-
cipe Levi.
Vá. Laila! Acho que Hassem deve ter algo importante para
VIr
especialmente à nossa casa.
Quando iam saindo, Levi falou a Hassem.
-

Não deixe de falar-lhe sobre os egípcios, sábio Hassem. Só


The peça que guarde segredo.
-Vá, Levi. Eu Ihe falarei sobre tudo-e piscou um olho para
ele
Laila sorria. Não continha sua alegria.
Levi observava-a. Como agir sem se ferir? Tinha que tomar
muito cuidado.
Foi ela quem iniciou a conversa.
Achei que não voltaria mais à nossa casa.
-

Falta-me tempo, Laila. Quando tenho algum sobrando procuro


-

descansar um pouco. Eu também não sabia se seria bem recebido.


Saiba que sempre será bem recebido. Eu não o esqueci nunca
mais. Fui diversas vezes ao salão de reuniðes do templo para vê-lo,
príncipe Levi.
-Chame-me apenas de Levi quando estivermosa sós, está bem?
- Sim, Levi. Onde vai, afinal?
- Não tenho um rumo certo. Só acompanhei Hassem, pois
estava com o dia livre e gostaria de conversar um pouco sobre as-
suntos não relacionados com o reino.
lam conversando coisas banais quando Levi avistou um bosque.
Vamos parar um pouco, Laila?
-Como queira, eu s0 0 acompanho.
Levi desmontou do seu cavalo e foi ajudar Laila a descer.
Quando a segurou nos braços, não se conteve. Abraçou-a com

força. Ela também o abraçou. Ficaram um longo tempo ass1m.


-Por que fez isso, Levi?
Eu devia tê-lo feito na primeira vez que a vi. Não terna sofri-
do tanto. Ou pensa que não a amo também? Pensa que é a única que
sofre?
93
Conhccendo o Amor

não me
Não consigo mais pensar, Levi. Achava que vocë
amava. Como tenho chorado em silêncio sem poder dizer a ninguem
que o amo.

Pois diga isso a mim agora, Laila.


Eu o amo. E você, me ama?
Ele não respondeu. Abraçou-a e deu-lhe um longo beijo. An-
siava por isso há muito. Quanto ao preço, que fosse pago mais tarde.
Já que estavam juntos, o que mais importava?
Lanla achava que estava sonhando. Ele convidou-a para sen-
tar-se. Queria ficar junto dela.
Como foi bom você ter vindo! Acho que morreria se não o
tivesse junto a mim, ainda que fosse só por um momento.
-Pois vamos prolongar este momento. No viveria feliz se
não sentisse o prazer de abraçá-la, beijá-la ou sentir seu corpo junto
ao meu.
Tornaram a beijar-se. Ainda conversaram muito até ele tocar
na ferida.
Laila, vocë sabe que terei que me casar com uma jovem do
templo?
Foi tristeza que ela respondeu.
com
Sei sim. Hassem falou isso para meu pai, mas eu sabia que
-

ele estava falando para mim. Por que você fez isso?
Não queria magoá-la. Achei que assim seria melhor.
Foi pior. Não consegui tirá-lo dos meus sonhos. Como tentei
me aproximar de vocë sô para vë-lo de perto!
-
Eu a Só não tive coragem
vi muitas vezes. de me aproxi-
mar. Sofria mais por ter que agir assimn.
- Eu via a tristeza em seu rosto. Sabia que me amava tam-
bém. Sim, como eu tinha certeza!
- Acho que vamos ser muito infelizes, Laila. Dentro de pouco
da
tempo serei obrigado a me casar. E a tradição e não poderei fugir
minha responsabilidade. Esto preparando uma nova princesa.
- Mas eu o amarei assim mesmo. Meu amor não vai diminuir
nem um pouco por causa de outra mulher.
- Laila, eu não vou poder me aproximar de você. Estarei com
outra mulher. Foi isso que tentei evitar.
- Pois com isso só nos manteve afastados por tanto tempo.
PodíamOs ter nos visto esse tempo todo.
-Eu não estaria sendo honesto com vocë.
94 O Livro da Vida

- Não me importaria de ser iludida. Choraria depois, mas já


rosto sido amada tambem.
era sentido o seu beijo, acariciado seu e
Só a lembrança me serviria de consolo!
-Acho que você não sabe o que está falando. Eu vou me
casar com outra mulher! Será que não vê isso, Laila'?
Que importa? Você ama a mim. Isso é o que me interessa!
Não consigo pensar como você, não acho ceto. Vamos nos
magoar muito mais. Se ao menos eu pudesse fugir de minha respon-
sabilidade, mas eu aceitei o preço a ser pago. Agora está chegando
a hora da
cobrança.
-Eu nunca Ihecobrarei nada.
Você não, mas para a tradição do templo isso não deixará
de ser exigido de mim.
Por que não abandona tudo. Iremos para longe do reino.
Encontraremos um lugar só para nós dois.
-Seria tão bom se fosse possível. Mas nãoé.
-

Por que não?


Eu já pensei nisso e vi que nosso amor é grande, mas só nós
dois seremos felizes, enquanto eu, como príncipe, poderei fazer mui-
to pelos outros. Não falo isso para justificar nada, Laila! Vou Ihe
contar uma longa história. No final, você verá se é possível eu agir
de forma diferente, pois agora já sei do futuro imediato. Só não con-
Sigo ver mais adiante porque algo me impede.
E Levi começou a contar a Laila o passado, presente e futuro
próximo.
Quando terminou, ela Ihe perguntou.
-
Vai partir logo?
Sim, terei que agir rápido se no quiser ver o reino destruído
eo povo escravizado.
Mas como você pode ter certeza?
- Eu tenho, só isso. Logo chegarão notícias do que Ihecontei.
Só não fale com ninguém sobre esse assunto. Talvez eu consiga
mudar o curso do destino que se mostra tão sombrio. Justo aqui, que
não há escravido. Lutei
já por ter sido feito escravo!
por 1sso,
Foi algo que você feze que foi muito apreciado, Levi! Hoje
todos são mais felizes.
por tudo isso que eu
-E não posso fugir da tradição. Outro
não poderá ficar em meu lugar
envolveu carinho.
Laila tornou a abraçá-lo. Ele a com
Comlbecendo o Amor 95

Levi, como é a jovem com quem vai se casar!


Isso é segredo da tradição.
Ela é bonita? Você já sabe qucm é ela?
Por que diz isso? Eu não sei se bonita, nem
quem é.
-

-Tera coragem de mentir


para mim?
Sim, se insistir na pergunta. Há coisas que não podem ser
Comentadas.
-Acha que serão felizes?
Não sei como será. Mas não poderei ficar muito tempo com
ela.
Por que não?
-O destino vai ser realizado. Então terei
que partir.
Como pode ter certeza? Fala com tanta firmeza que não
deixa uma alternativa.
Ea verdade, Laila.
-

Então seremos duas a chorar sua partida, Levi.


-

Não quero que ninguém chore por mim. Isso só me fará


mais infeliz.
Mas não pode me impedir de amá-lo. E eu o amarei!
b u tambem vou amá-la sempre, mas não vou interferir em
sua vida. Se surgir alguém que a ame como eu, então que seja feliz
com ele.
Você vai ser feliz com ajovem do templo?
-

Não, mas talvez ela seja comigo. Por isso não vou deixar
transparecer meus sentimentos por vocë.
- Eu não vou bater na porta do templo à sua procura. Mas
hoje, ame-me como eu o amarei por toda minha vida.
E Levi amou-a como nunca havia amado antes. Já no era
mais uma criança e só um beijo no rosto não seria uma grande lem-

brança. Sim, só um beijo não bastaria para nenhum dos dois, isso
ficou bem marcado em suas palavras.
do
Já era tarde quando Levi voltou com Laila para a casa an-

cião Asher.
Laila não sofria mais de uma paixão, agora tinha provadoo
tinha algo para se recor-
sabor do amor. Ainda que não o visse mais
dar de Levi Ben Yohai.
Deixou isso claro em sua despedida.
- Levi, não vou incomodá-lo, mas saibaque euo amarei para
estaret a espera-
estiver solitário venha ate aqui que
sempre. Se um dia
lo. Não dividirei o meu amor com mais ninguém.
96 O Livro da Vida

Não sei como vou fazer, mas um dia vocë ficarå comigo.
Deixe o tempo passar. Só que eu não prometo que não virei ate aqui.
Se a saudade for muito
forte, saiba que eu a procurarei.
-

Eu estarei a esperá-lo, Levi. Não se


Levi foi até o ancião Asher
esqueça!
-Até a vista, anciäo Asher.
para se despedir dele.
Principe Levi, Hassem foi chamado às pressas, por isso não
o esperou.

O que houve?
Chegaram mensageiros com notícias da grande serpente. A
continuar ritmo do avanço, em pouco
o
tempo estarão aqui.
Levi assustou-se. Estava tão abalado
que precisou sentar-se.
Ficou em silêncio por um bom
tempo. Por fim falou:
Ancião Asher, eu nunca me
-

esqueci da nossa terra ances-


tral. Talvez não o consiga, mas vou lutar
por algo que ninguém tentou
ainda. Quem sabe os mestres invisíveis me
-Eu entendo. Váe tente. Quem sabe
digam como ag1r
consiga sucesso.
Hoje eu fiz algo que não sei como explicar. Talvez um dia
possa consertar tudo. Só peço que não me julgue como um
aproveitador. Fiz o que meu coração pedia e a consciëncia ordena-
va. Se um dia precisar de mim
para algum esclarecimento, procure-
me. Eu Ihe peço isso pelo amor que sinto por Laila.
Melhor você nos procurar caso tenha algum tempo livre.
-

Farei isso. Até a vista, ancião Asher. Não faça mau juízo de
-

mim, por favor.


Até a vista, Levi Ben Yohai. Minha casa é sua casa.
Levi partiu. Nunca ia poder desfrutar em paz dos momentos de
prazer. Logo a seguir sempre vinha uma notícia ruim.
Quando chegouao templo foi direto para a sala do conselho do
reino. Lá estavam todos reunidos.
Lameri foi logodizendo
Levi, seu sonho jáéum pesadelo. Os egípcios avançam
sobre a península. Em poucos dias estarão à nossa porta.
Calma, mame. Vamos dar um jeito de contê-los.
Como, filho? Não temos poder para lutar contra eles. São
milhares de soldados.
Vou partir logo ao amanhecer. Providenciem uma escolta
porque vou ao encontro deles.
-Você está louco? Vão fazê-lo prisioneiro quando souberem
quem é.
Conbeccndo oAmor
97

Nada disso acontecerá.


destino, nada mais! E não adiantaConfiem em mim! Eu só sigo o meu
h reação ao nosso alcance. ficarem
discutindo como agir. Não
Encerraram a reunião. Levi foi com
-Mamäe, agora posso partir em Lameri. lam em silèncio.
Lameri estava paz. Laila já não sofre mais.
Talvez não preocupada, ouviu-o calada.
-
mas
tenha feito uma boa
coração pedia há muito. coisa, mas fiz o
que meu
-Não vou
perguntar-lhe o que fez, mas confio em você, acho
que não sofrerá tanto de agora em diante.
-Já no tenho só um
Agora sei como é bom amar beijo de uma bailarina por lembrança.
e ser amado de
Ele deu-Ihe um verdade.
abraço
-O que você fez, Levi?
forte. Ela olhou-o séria.
Fiz o que a senhora não teve
-

feito como nós, não seria tão coragem de fazer. Se tivesse


infeliz.
Acho que imagino o
com ela? que foi. E por isso ficou que até tarde
Sim, e não me
arrependo. Devia tê-la
disso me arrependo. procurado antes. Só
Cuidado, Levi! Pode estar criando algo que
trolar mais. não poderácon-
-Quando surgir algum problema eu verei como solucioná-lo.
Mas agoraestou feliz, é o que
importa. Só peço à senhora que, em
caso de não voltar mais, ajude Laila. Promete-me?
eu
Lameri olhou para ele. Após pensar por um
tempo perguntou:
Vai ser preciso?
Sim, promete-me?
-
Prometo. Massabe? como
Eu sei, isso é o que posso dizer. Era a única forma de fazer
com que ela voltasse à vida. Ela viverá, mas terá que dar a vida a
alguém em troca disso.
Não acha um preço muito alto?
- Não, pois isso servirá para mante-la viva.
Espero que ela compreenda um dia. Mas que história é essa
de não voltar mais?
Isso não está escrito nos meus planos, mas não quero dei-
xar para trás nada a me preocupar.
-Vá tranqüilo, eu cuidarei dela por voce. Acho que sou a

pessoa mais indicada para um caso desse.


As MARCAS DO DESTINO
No dia
seguinte Levi partiu. la ao encontro do seu
destino.

Foi
nesse momento
que o amigo Tim
Você já sabe de
quem se trata,
perguntou-me:
história? quer continuar a ver sua

Por que? Acaso será


-

pior
Por enquanto você só viu aque
isso?
boa. Agora vai ver a
que todos os iniciados consultados parte parte
recusaram.
Mas por que recusaram?
Você só saberá se
-
quiser assistir ao restante.
Eu ainda não vi o ente das trevas.
Ele só surgirá logo mais. E aí
que encontrará a todos. Olhe
para seu lado, vai ver alguém que já
o
apareceu até esta parte.
Eu olhei, vi um homem com
longas barbas brancas e com os
olhos faiscantes.
Fixei bem a vista.
-Abel, sim, o senhor é Abel. Eu o vi no sonho de Levi Ben
Yohai. Só não estava com a barba toda branca. Havia uns poucos
fios brancos.
Sim, sou Abel. Vim para estar ao seu lado. Gostaria que
assistisse a tudo. Só assim entenderá por que um dia eu Ihe disse que
não havia motivos para sorrir ou chorar, só trabalhar.
- 0 trabalho era o ajuste de contas, não?

99
100 OLiro da Vida

-Sime não. Sim, porque o que eu queriaera o ajuste de uma conta


nao paga, e não porque tudo dependia de você confiar ou não em mim.
-Entendo. Eu sei quanto esperou para conseguir o que tanto
queria.
-

Pois então assista ao resto da vida de Levi Ben Yohai e


vera como tudo aconteceu. Só assim
vas com
poderá julgar ao ente das tre-
pleno conhecimento dos fatos.
Virei-me para Time disse-lhe:
Eu assisto, só
espero não vir a me arrepender.
-

Eo cristal já
avançava a história, não havia parado.

Levi aproximou-se de um acampamento de soldados.


Não levavam armas. Só um estandarte com as
reino. Tinham viajado insígnias do
por oito dias.
Quando foram avistados, um grupo deles veio ao encontro.
A comitiva consistia de Levi e mais
vinte guardas do templo,
que foram envolvidos pelos soldados e conduzidos ao
Um homem que parecia ser o comandante os acampamento.
dou-os descer dos cavalos. esperava. Man-
Todos desceram. Perguntou
quem era o líder do grupo.
Levi se apresentou como embaixador do reino de Lameri. Vi-
nha com uma oferta da rainha.
Foi levado até uma tenda. Lá havia outros
deles falou:
comandantes. Um
Admiro sua coragem, rapaz. Veio até nós
por que?
Eu trago uma oferta da rainha Lameri
Creio que será muito bem recebida. para o reino do Egito.
Continue, eu estou ouvindo-o, rapaz.
Nós sabemos o motivo do vosso
avanço sobre estes reinos.
Precisam de alimentos. Nós não temos muito, mas
cer o bastante como forma de
podemos ofere-
tributo. Em troca, o reino do Egito nos
oferecerá algo que tenha em demasia. Além do
luta. Não há motivos
mais, não haverá
para que sangue seja derramado.
-Vocês temem a morte?
Não tememos a morte, apenas achamos
que não há motivos
para lutar. Temos o que precisam, tèm o que
trocar em paz.
precisamos. Podemos
As Marcas do Destino 101

-Entendo. Quer trocar o


que teremos de graça! Muito inteli-
gente de sua parte. Vamos lá fora,
Quando saíram, ele apontou emrapaz.
-Vê quantos soldados temos? círculo.
-Sim, eu já os vi, comandante.
Pois isso não é nada
-
Eu sei. A comparado aos que vêm atrás.
grande
serpente movimenta-se contra os que não
gostam de lutar. Assimé fácil
Pois
-
conquistar outros povos, comandante!
Ihe digo que vamos até o sul
da península. Sabemos
que seu reino é rico. Até
agora não
desertos até aqui. Mais ao sul vamostomamos nada de valor. Só há
encontrar o que
rapaz. Como você se chama? Não ouvi seu precisamos,
nome.
Levi Ben Yohai, comandante.
-

Um hebreu, não?
-Sou um iemenita,
No
comandante.
-

seu reino, pode sê-lo. No nosso, são escravos. Eéo


serão quando tomarmos o seu reino. que
Quer ver como tratamos os
escravos?
A uma ordem sua os
guardas que acompanhavam Levi foram
todos mortos friamente.
Levi ficou apavorado, não sabia o
que fazer. Conhecia todos os
guardas há anos! Eles sempre o acompanhavam quando ia visitar as
terras do reino.
-Parem, não façam isso! E uma atrocidade o que estão fa-
zendo! Malditos sejam todos os egípcios! Que o Criador os lance no
abismo infernal para todo o sempre!
E Levi chorou pelos amigos mortos na sua frente por capricho
de um comandante.
-Chore, hebreu! Logo sentirá o gosto da escravidão com os
de sua raça.
Levi olhou para o homem com desprezo e falou:
Por tudo que já fez em sua vida, haverá de habitar no infer-
no por toda a eternidade.
O homem não gostou das palavras de Levi.
Amarrem-no e dêem-lhe cinqüenta golpes com o açoite.
E assim começou o castigo.
Levi já estava com as costas totalmente feridas pelo açoite
quando Começou uma moVimentaçao no acampamento.
102 O Livro da Vida

Aindaconsciente, Levi viu todos os soldados se ajoelhareme


tocar o solo com a cabeça. Permaneceram por longo tempo e ate o
comandante agiu assim.
Um carro de guerra parou próximo. Um homem todo para-
mentado desceu dele e aproximou-se de Levi. Ficou observando-o
longamente.
Chamouo comandante.
-Oreb, quem é ojovem?
Este se levantou à ordem do homem todo
paramentado.
Um enviado do reino de Lameri. Veio nos
propor um nego-
cio estúpido.
-

Deixe que ele mesmo fale. Traga-o à minha tenda!


A uma ordem, Levi foi levado ante o homem.
-Qual a proposta, rapaz.
Vim Ihe propor a amizade do nosso reino. Mas acho que
cometemos um erro. Eis como tratam a um enviado da rainha Lameri:
matam os seus acompanhantes friamente, açoitam a um principe do
reino e não Ihe prestam a mínima atenção. No devia ter vindo ao
seu encontro, poderoso faraó.
Agiram mal, príncipe. Não são essas as minhas ordens. Oreb
se excedeu. Qual é a sua oferta?
Meu reino produz muitos alimentos. Temos em grandes quan-
-

tidades o que está faltando em seu reino. Podemos estabelecer um


comércio bom para os dois reinos. Melhor uma aliança que uma
guerra.
Continue, jovem!
Caso insista em seu avanço, só conquistará escravos, não
alimentos.
Por que diz isso?
Se tivermos que lutar, não ganhará nada com isso. Só have-
rá mortes, não ganhos! Um povo como o nosso, livre há milhares de
anos, não vai se submeter com facilidade. Quanto ao que temos hoje
em grande quantidade, logo mais também nos faltará. O que ganha-
rão? Homens sem motivação não produzem nada. Que o diga o seu
reino faminto.
- Você fala com sabedoria. Como se chama?
-

Levi Ben Yohai, senhor.


Um hebreu.
- Sou filho de Lameri, rainha e sacerdotisa do Templo da Es-
meralda. Um reino tão antigo como o seu.
As Marcas do Destino 103

Mas ainda é um hebreu.


-Qual a causa de tanta aversão a um descendente dos meus
ancestrais hebreus?
Só nos causam
Mas nós não
problemas. Esta é a causa!
incomodados. queremos Ihes causar problemas, nem sermos
-Quer dizer que é um príncipe, então?
Sim, e fui recebido como
salteador. Mas
um
isso vai pagar. A mão
que matou haverá de secar até
o
culpado por
rem expostos. os ossos fica-
-

Ainda ousa nos


Não
ameaçar?
ameaço! Só
digo o que vai
-

Realmente é um príncipe! Só umacontecer.


ousaria
Apenas isso!
-
Eu também sei o que vai falar assim.
acontecer com sua esposa
- 0 que está dizendo? Acaso
sabe de algo que principal.
Eu sei que ela morrerá desconheço?
quando chegar o momento de trazer
à luz o filho
que espera.
Como pode saber disso se a
ela espera um filho? ninguém foi comunicado que
-Sei também que ele morrerá no
quinto dia de vida.
Impossível alguém saber. Só os sacerdotes e eu sabemos.
Pois eu sei disso e muito mais. Posso
-

salvar aos dois, caso


queira.
Não creio que possa fazê-lo.
Deixe-me provar-lhe que posso. Assim evitará
tranho venha a tomar-lhe o que um es-
lugar no trono.
O homem ficou
pensativo. Como podia o rapaz saber de tudo?
Ninguém mais sabia.
Mandou que cuidassem de Levi. Ia conversar com os sacerdo-
tes enquanto isso.
Levi foi tratado com ervas e pós.
O açoite havia Ihe cortado as costas. Iria carregar suas marcas
para o resto da vida.
No dia seguinte, foi levado à presença do soberano. Este esta-
va cercado de vários homens. Eram os seus sacerdotes.
Começaram a fazer muitas perguntas.
A todos, Levi respondia com calma, mas sempre ineisivo.
Finalmente foi decidido que ele iria até a capital do reino do
Egito para fazer o que dizia que conseguiria.
104
OLivro da Vida

O
exército foi dividido. Uma
Levi la com um
parte ficaria ali, outra voltaria.
gar logo. grupo em marcha acelerada. Precisavam che-
Numa noite,
quando pôde se
aproximar do soberano,
perguntou-lhe: Levi
Como pôde deixar sua
-Em meio a tantos esposa, sabendo que ela iria morrer?
se ficasse lá
não ia problemas, resolvi expandir o império, pOIS
ria louco agüentar a
espera de sua morte. Penso
que fica-
Não devemos
-

luz a nos iluminar. desanimar jamais. Sempre


Eu jamais pode surgir uma
ante umdesanimo
perigo.
-Vejo que você é perseverante no
Eu só- seu
procuro a paz. Acho que o mundoobjetivo.
homens não se destruíssem seria melhor se os
por desejos e ambições.
Quem é realmente você, Levi Ben Yohai? Um sábio ou um
tolo?
Nem um nem outro. Sou só
Com
um sonhador.
que sonha?
o
-Com um mundo onde não exista
res. Um mundo onde lugar
todos possam viver em para lágrimas ou do-
E um sonhador, paz.
rapaz. Isso éimpossível.
Eu sei. Mas ao menos
posso tentar. Este é um sonho meu.
-
Por que quer salvar minha
Já estarei tornando uma
esposa e filho?
isso. Seu parte do meu sonho real ao fazer
filho será um iluminado no meio da corrupção e da miséria
humana.
Como sabe?
Eu já estou sabendo disso há
algum tempo. Foi por isso
que vim ao seu encontro. Em seu reino, a vida
nada. Sóa ambição tem vez. A já não vale mais
Viver assim?
intriga reina absoluta. Como podem
Eu nasci neste meio,
-

conheço-o bem. Acho que já me


acostumei.
Mas seu filho não aceitará esse estado de coisas. Lutará
contra o ódio e a injustiça. E bom
que saiba disso antes de permitir
que eu o salve.
-Por que me diz tudo isso?
Quando um iluminado vem à Terra ele revoluciona tudo à
Sua volta. Seu filho fará isso, pois ele será um iluminado também.
As Marcas do Destno 105

E você, é um também?
-

Não, isso só alguns são. Eu só estou


-

filho. Nisso eu tenho uma


aqui para ajudar seu
responsabilidade. Espero não falhar.
Você é diferente dos de sua
-

raça.
Eu não
posso dizer nada sobre os que vivem no meu reino.
Os poucos que
conheço não são maus. Apenas procuram viver em
paz.
Há muitos no seu reino?
-

Sim, no fundo, somos um só


povo. Apenas diferimos na re
ligiosidade.
Por que a
diferença?
Nós a mantemos na forma
do tempo, nem influências muito original.
Não sofremos a distorção
fortes de outros cultos. E
que entre nós reina a paz. As por isso
diferenças
alguma existe, é na forma, não na essência.
são muito
pequenas. Se
Acredita que meu filho sobreviverá no
-

nascer?
meio em que vai
Isso eu não sei, mas que vai revolucionar, isso va1.
-Como éoseu reino, príncipe?
E um reino baseado em leis
divinas. Os homens não podem
alterá-las ao seu gosto. Não estão
tradição que é seguida há milênios sujeitas
à discórdia. Temos uma
sem
contestação.
-Nos já fomos regidos por leis similares, mas o tempo modifi-
cou-as. Hoje só temos uma vaga lembrança do que fomos no
-

O senhor não se
passado.
parece com seus comandantes. Ainda que
seja um conquistador, não traz as marcas do ódio em sua alma.
Eu
respeitado pelo sou meu
sido destituído de todo posto, caso contrário já teria
ao
poder pelos sacerdotes. Hoje, jánão ensinam
povo, apenas extorquem o pouco que lhes sobra a título de
contri-
buição aos templos. São muito poderosos.
- Pois será a eles que seu filho combaterá.
Vamos ver se
consegue salvá-lo, príncipe!
O poderoso faraó não falou mais. Nem Levi tinha mais o que
dizer.
Quando chegaram às proximidades da capital, Levi ficou es-
tarrecido com as condições miseráveis do
povo.
Como podia acontecer uma coisa
daquelas? Tanta ostentação
de riqueza e viverem no meio da maior miséria
possível.
Uns tinham tudo, outros, nada além do direito a viver.
106
OLivro da Vida

la
observando tudo quando teve despertada sua
uma cea
já conhecida: homens amarrados! Eram escravos atenção para
indo para
trabalho forçado. Não
por instinto, nada nmais.
tinlham vida em suas almas. Sobreviviam
Logo chegaram ao palácio do faraó. Ali, o luxo
nada para mostrar seu resplandecia
måximo. Não economizaram ao

Quanta diferença com o reino de poderio.


Levi foi levado a um Lamer
aposento numa ala do
Logo surgiram alguns criados para servi-lo. grande palácio.
Estamos aqui àsua
seu banho. disposição, príncipe. Vamos preparar o
E Levi
começou a ver como era a
vida no interior do palácio.
Após o banho com água
como nunca tinha visto antes. perfumada, deram-Ihe roupas finas
Mais tarde, foi conduzido a uma ala do palácio reservada para
refeições.
Foi servido
por criadas que pareciam ter por única função fa-
zer isso.

Logo após, foi novamente conduzido a seu


Quando estava só, começou a pensar em sua aposento.
vida. Como era
estranhoo seu destino! Nasceu num oásis
pacato, fugiu de sua mono-
tonia e acabou encontrando Lameri. Tornou-se
príncipe de um reino.
Agora ia começar a conhecer a razão de tudo isso. Tinha ter um
que
propósito tanta mudança em sua vida!
Ainda meditava sobre seu futuro
quando um criado veio até ele
conduzindo uma jovem. Levi indagou a razão da
Ela veio por ordem do próprio faraó,
-
presença deles.
sua noite. Com
príncipe. Vai alegrar
licença, deixo-os a sós. Se precisar de algo, estou do
lado de fora do seu aposento.
Saiu rápido. Levi ficou olhando a jovem. Ela estava ali, estática
à sua frente.
Eu nao-

quero companhia alguma, pode se retirar. Prefiro


descansar.
Não faça isso comigo, príncipe- falou a jovem apavorada.
Por que eu não devo fazer isso?
Se eu for posta para fora vão dizer ao faraó
-E.0que tem isso de mal?
erei considerada indigna de ficar no paláci0. principe
Mandar-me-ão para alguma obra do faraó. Lá é tão rum, todos so-
frem muito no trabalho!

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