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EXMO (A). SR (A). DR (A).

JUIZ DE DIREITO DA ______ VARA


CÍVEL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS
Tramitação prioritária com fulcro no art. 71 da Lei nº 10.714 de
01.10.2003
__________________, brasileira, solteira, aposentada, atualmente com
sessenta e sete anos de idade, filha de... E..., inscrita no CPF sob o nº...,
portadora da cédula de identidade número..., residente e domiciliada neste
Município de Belo Horizonte, Minas Gerais, à Avenida..., vem,
respeitosamente, por seus procuradores ao final assinados, devidamente
constituídos mediante instrumento de mandato anexo (ANEXO I), propor
AÇÃO DE DESPEJO c/c COBRANÇA DE ALUGUÉIS e DEMAIS
ENCARGOS c/c CONCESSÃO DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
“INAUDITA ALTERA PARTE”
em face de _________________, brasileira, solteira, assistente
operacional, inscrita no CPF sob o nº..., residente e domiciliada neste
Município de Belo Horizonte, Minas Gerais, à Rua..., na condição de locatária;
e
________________, brasileira, estado civil desconhecido, aposentada,
inscrita no CPF..., residente e domiciliada neste Município de Belo Horizonte,
Minas Gerais, à Rua..., na condição de fiadora contratual da primeira ré, pelos
fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos.
1. DOS FATOS
A autora é proprietária do bem imóvel composto pelo apartamento nº..., nesta
Capital. O bem descrito fora adquirido em..., mediante financiamento obtido
através do Sistema Financeiro de Habitação, perante a Caixa Econômica
Federal. A aquisição do bem pela autora deu-se com vistas à moradia própria.

Ocorre que em meados do ano de..., após a integral quitação do bem


financiado, a postulante adquirira novo imóvel, com melhor localização e
maior disponibilidade de itens de conforto, razão pela qual mudou-se para o
apartamento então adquirido, sendo este seu endereço atual e constante do
preâmbulo desta peça.

Em virtude disto, o imóvel integrante do Edifício... Foi alugado à primeira ré,


conforme cópia do contrato de locação anexo (ANEXO III). O referido pacto é
datado de... E possuía vigência inicial de doze meses, com aluguel ajustado no
valor de R$ 1.650,00 (hum mil seiscentos e cinquenta reais). Após o primeiro
ano de exercício contratual houve prorrogação de seu termo final, até..., com
aluguel reajustado para o valor de R$ 1.950,00 (hum mil novecentos e
cinquenta reais).

A locatária, primeira ré, cumpriu integralmente as obrigações que lhe cabiam


até setembro de (...). Após esta data, várias foram as infrações praticadas pela
primeira requerida, não tendo adimplido diversos de seus deveres contratuais.
Vejamos.
Os valores relativos às despesas ordinárias de condomínio
deixaram de ser quitados em setembro de.... Em 07 de julho de..., a
autora foi notificada acerca da existência de débitos relativos às taxas
ordinárias de condomínio do imóvel objeto da presente demanda. Até a data
da notificação o débito alcançava o montante de R$ 3.856,53 (três mil
oitocentos e cinquenta e seis reais e cinquenta e três centavos) (ANEXO IV).
Os valores devidos pelo aluguel do imóvel deixaram de ser pagos
em outubro de (...). Diversas foram as tentativas de cobrança e negociação
dos valores devidos, entretanto, sem êxito. Em 10 de novembro de..., a
primeira ré entregou três cheques à autora com vistas ao pagamento do débito
já constituído até aquela data, convencionando-se que os títulos somente
poderiam ser descontados a partir de janeiro do ano seguinte. Os cheques
foram emitidos por um "amigo" da postulada, segundo seus dizeres, e
continham diferentes valores e diferentes datas para depósito, sendo:
1º chegue com valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais), para depósito em 10.01.
(...);

2º cheque com valor de R$ 1.365,00 (mil trezentos e sessenta e cinco reais),


para depósito em 10.02.(...);

3º cheque com valor de R$ 1.205,00 (mil duzentos e cinco reais), para


depósito em 10.03.(...).

Contudo, nenhum dos cheques possuía provisão de fundos, tendo sido


devolvidos pelo Banco... S/A (ANEXO V). Não houve qualquer outro
pagamento relativo aos aluguéis vencidos, desde então. Dessa forma,
inocorreu novação da dívida ou alteração do débito constatado, permanecendo
a obrigação pura e simples de pagamentos dos valores mensalmente devidos a
título de aluguéis.

Os valores relativos ao recolhimento do IPTU da competência de... Não foram


quitados.

Nota-se, portanto, que há... Meses verifica-se sistemático descumprimento


contratual pela primeira ré, não arcando esta com as obrigações que lhe são
devidas, conforme entabulado no acordo de vontades anexo. Tais fatos, por si
só, convertem-se em cláusula resolutiva expressa, conforme item sexto do
contrato.

Como anteriormente descrito, a autora pugnou exaustivamente por solução


pacífica para o imbróglio, sem que fosse necessária propositura de demanda
judicial. Contudo, a primeira ré nega-se ao adimplemento das obrigações que
lhe cabem por força do vínculo contratual, bem como se recusa a entregar a
posse do imóvel a sua proprietária.
Por ocasião do extenso lapso em que não houve pagamento dos encargos que
incumbem à locatária, a autora, através de seus corretores, notificou
extrajudicialmente e ré e seus fiadores sobre o desinteresse quanto à
manutenção do contrato de locação descrito, requerendo a entrega do imóvel e
o pagamento de todos os valores devidos (ANEXO VI).

Porém, nunca houve resposta de qualquer natureza às notificações, assim


como não houve composição amigável através dos insistentes contatos
telefônicos realizados com a primeira requerida.

Desta forma, não resta à autora medida outra que não a propositura da
presente ação, afim de que possam reaver a posse do imóvel de sua
propriedade, bem como receber os valores que lhe são devidos pelos aluguéis
vencidos e demais encargos relativos ao imóvel.

Conforme se verá demonstrado em sequência, cristalino é o direito da


requerente.

2. DO DIREITO
2.1 Da rescisão do contrato
A Lei nº 8.245, de 18.10.1991, que regula as locações dos imóveis urbanos e os
procedimentos a ela atinentes, prevê, entre outras normas, o seguinte:
“Art. 5º. Seja qual for o fundamento do término da locação, a ação do
locador para reaver o imóvel é a de despejo.
Art. 9º. A locação também poderá ser desfeita:
[...]
III– em decorrência da falta de pagamento do aluguel e demais encargos;
Art. 23. O locatário é obrigado a:
I – pagar pontualmente o aluguel e os encargos da locação, legal ou
contratualmente exigíveis, no prazo estipulado ou, em sua falta, até o sexto
dia útil do mês seguinte ao vencido, no imóvel locado, quando outro local não
tiver sido indicado no contrato;
[...]
VIII – pagar as despesas de telefone e de consumo de força, luz e gás, água e
esgoto;
[...]
XII – pagar as despesas ordinárias de condomínio.”
Não obstante, vejamos o que determina o contrato celebrado entre as partes:

“CLÁUSULA SEGUNDA – DO ALUGUEL E DO REAJUSTAMENTO: O


aluguel mensal, livremente convencionado, é de R$ 1.650,00 (hum mil
seiscentos e cinquenta reais) e será pago pelo LOCATÁRIO, em moeda
corrente do país, até o dia 05 (cinco) de cada mês, improrrogavelmente nos
escritórios da AUGUSTA ALMEIDA IMÓVEIS LTDA. O atraso no pagamento
dos aluguéis e demais encargos nas datas previstas implicará em mora de
10% sobre o valor total do débito. Após 10 (dez) dias de atraso, será cobrado,
além de multa, mais 1% de juros de mora ao dia. O reajuste será anual e o
índice será combinado o valor entre as partes contratantes.
CLÁUSULA TERCEIRA – ENCARGOS E TRIBUTOS: Além do aluguel
mensal, pagará o locatário os encargos de limpeza, força e luz, telefone,
seguro, água e saneamento, bem como as despesas ordinárias de
CONDOMÍNIO, ficando, ainda, este responsável pelo pagamento do IPTU e
taxas municipais relativas ao prédio locado. Se tais valores foram
diretamente pagos pelo locador, deverão estes serem reembolsados no mês
seguinte ao do pagamento, respondendo o locatário, no caso de atraso ou
inadimplência, pelas multas que forem aplicadas.
[...]
CLÁUSULA SEXTA – RESCISÃO: O descumprimento de qualquer das
cláusulas neste contrato, importará, para os contratantes, no direito de,
imediatamente, ser pleiteada a rescisão da locação celebrada, além de exigir
a reparação a que fizer jus, a parte inocente, na ocorrência de tal fato. A
rescisão fica condicionada à prévia vistoria do imóvel, feita pelo
representante autorizado do locador quando será constatado o seu estado
geral, bem como verificado o cumprimento de todo o disposto nesta
cláusula.”
Como cediço, é inescusável a obrigatoriedade da primeira ré em arcar com o
pagamento ajustado a título de aluguel, bem como pelas despesas ordinárias
de condomínio e demais encargos que recaem sobre o imóvel. Conforme se
extrai dos documentos colacionados a esta peça de ingresso e como,
oportunamente, ver-se-á comprovado mediante depoimentos de
testemunhas, há diversos meses a primeira ré não quita as obrigações
pecuniárias pelas quais se obrigou por força do vínculo contratual.
A primeira postulada pratica flagrante ato ilícito ao continuar exercendo o
domínio de determinado bem quando, por inadimplemento contratual, incorre
em cláusula resolutiva. Sem prejuízo do recebimento dos débitos já
verificados, a autora tem o inequívoco direito de ser imitida na posse direta do
imóvel que lhe pertence.

Convém destacar que, em decorrência da cláusula resolutiva expressa no


contrato e em observância ao conteúdo normativo da Lei nº 8.245/91, a
completa falta de pagamento por parte da primeira requerida enseja a
imediata rescisão do vínculo pactual, como descrito alhures, extinguindo-se
seu direito à posse do imóvel.
Tem-se por evidente que a falta de pagamento dos aluguéis que der causa à
rescisão do contrato importará em aplicação da cláusula penal prevista,
conforme item sétimo, abaixo transcrito:

“CLÁUSULA SÉTIMA – DA MULTA POR RESCISÃO: Sujeitar-se-á o (a)


LOCATÁRIO (A) ou LOCADOR (A), além da rescisão contratual de pleno
direito, ao pagamento de multa de 03 (três) vezes o valor do aluguel vigente
e devido à época da infração.”
O Código Civil Brasileiro, em seu art. 408, determina a aplicação da cláusula
penal livremente pactuada na hipótese em comento, conforme colacionado a
seguir:
“Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que,
culposamente, deixe de cumprir obrigação ou se constitua em mora.”
Outrossim, a autora detém o direito de recebimento dos valores atrasados dos
aluguéis, uma vez que é inequívoca a obrigação contratual pela qual
respondem os réus, encontrando-se a primeira ré legalmente constituída em
mora, nos termos definidos pelo Códex, senão vejamos:
“Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos que sua mora der causa, mais
juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo,
constitui de pleno direito em mora o devedor.”
Atente-se, ainda, para o fato de que a cobrança dos aluguéis atrasados é
plenamente cumulável com o pedido de rescisão contratual inerente à ação de
despejo, conforme previsto na Lei nº 8.245/91, a saber:
“Art. 62. Nas ações de despejo fundadas na falta de pagamento do aluguel e
acessórios da locação, de aluguel provisório, de diferenças de aluguéis, ou
somente de quaisquer dos acessórios da locação, observar-se-á o seguinte:
I – o pedido de rescisão da locação poderá ser cumulado com o pedido de
cobrança dos aluguéis e acessórios da locação; (...)”
Assim, resta devidamente fundamento na legislação pátria o direito da autora
à imediata rescisão do contrato, com a consequente extinção da posse da
primeira ré, ao recebimento dos valores devidos a título de aluguel e demais
encargos relativos ao imóvel descrito e à aplicação em desfavor dos postulados
da cláusula penal descrita no contrato locatício.

2.2 Da responsabilidade dos fiadores


No que tange à responsabilidade dos fiadores, o CC/02 disciplina a matéria da
seguinte forma:
“Art. 818. Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor
uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra.
Art. 822. Não sendo limitada, a fiança compreenderá todos os acessórios da
dívida principal, inclusive as despesas judiciais, desde a citação do fiador.”
O contrato de locação objeto da presente demanda prevê a responsabilidade
solidária dos fiadores ali constantes. Nota-se:

“CLÁUSULA NONA – DA FIANÇA: Como FIADOR (ES) E PRINCIPAL (AIS)


PAGADOR (ES) E DEVEDOR (ES) solidariamente responsável (eis) pelo
cumprimento de todas as cláusulas e obrigações deste Contrato, assinam
juntamente com o (a) LOCATÁRIO (A), a Sra. (...), que continuará obrigada
até a efetiva rescisão da locação, com a desocupação do imóvel pelo
locatário.”
Existindo cláusula contratual em que o fiador se obriga como principal
pagador ou devedor solidário, não se aplicará ao caso o benefício de ordem,
como descrito no Digesto Material Civil:

“Art. 827. O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a


exigir, até a contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do
devedor.
Art. 828. Não aproveita este benefício ao fiador:
[...]
II – se se obrigou como principal pagador, ou devedor solidário;”
É cediço, portanto, que a segunda ré encontram-se solidariamente adstrita ao
cumprimento da obrigação assumida pela primeira postulada, incluindo-se, aí,
o débito principal e os acessórios decorrentes do descumprimento contratual
perpetrado.

2.3 Da antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional


Nas ações de despejo é cabível a concessão de medida liminar de antecipação
dos efeitos da tutela jurisdicional desde que cumpridos os requisitos prescritos
no art. 59, § 1º, da Lei nº 8.245/1991.
No caso específico dos autos, a autora não dispõe de garantias contratuais que
assegurem o cumprimento das obrigações assumidas pela 1ª demandada, eis
que ambos seus fiadores foram notificados acerca dos débitos existentes e não
apresentaram qualquer resposta ou manifestação. Tal fato, por si só, elucida
que a fiança contratual, no presente caso, não assegura o adimplemento das
obrigações que correspondem à locatária por força do vínculo pactual.

À luz dos fatos, chega-se à conclusão que a garantia contratual, in casu, não se
converte em garantia de fato capaz de assegurar às locadoras o recebimento
dos valores que lhe cabem em contrapartida à cessão da posse do imóvel à
primeira ré, decorrente da locação em epígrafe.
Tem-se amplamente comprovado, através da documentação anexa, que há
vinte e três meses a 1ª ré não arca com os pagamentos dos aluguéis e/ou
acessórios da locação. Por tais circunstâncias, restam configurados os
requisitos previstos no art. 59, § 1º, IX, da Lei nº 8.245/1991, o que enseja,
indubitavelmente, a concessão da medida liminar para imediata desocupação
do imóvel.
Pacífica é a jurisprudência do Tribunal de Justiça de Minas Gerais em casos
análogos, conforme se nota pelos arrestos colacionados em sequência:

“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE DESPEJO - PEDIDO


DE DESOCUPAÇÃO DO IMÓVEL POR FALTA DE PAGAMENTO -
COMPROVAÇÃO DA INADIMPLENCIA - POSSIBILIDADE DE LIMINAR.
I- E inequívoco que o art. 59 da Lei 8.245/91 possibilita a concessão de
desocupação liminar do imóvel objeto do contrato de locação, preenchidos os
respectivos requisitos. II- Presentes os pressupostos exigidos pelo art. 59 da
Lei 8.245/91, com as modificações dadas pela Lei 12.112/09, há de ser
deferida a liminar para autorizar a desocupação do imóvel locado. (AI
1.0024.11.270.749-2/001; TJMG; Des.(a) Antônio Bispo; 09.08.2013)”
*
“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRELIMINAR. DEFEITO NA
REPRESENTAÇÃO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. REJEIÇÃO. AÇÃO DE
DESPEJO. AUSÊNCIA. INCISO IX DA LEI 8.245/91. LIMINAR.
PREENCHIMENTO REQUISITOS. DEFERIMENTO.
- Sanado o vício na representação, bem assim comprovada a qualidade de
parte legítima na demanda locatícia, se impõe a rejeição das alegações
preliminares correspondentes. - Nos termos do artigo 59, § 1º, da Lei
nº 8.245/91, a concessão de liminar para desocupação do imóvel objeto de
contrato de locação está subordinada ao preenchimento de dois requisitos
básicos, quais sejam, a prestação de caução no valor equivalente a 3 (três)
meses de aluguel e que a ação de despejo tenha como fundamento exclusivo
um dos motivos elencados em numerus clausus nos incisos I a IXdo § 1º do
citado dispositivo.(AI 1.0024.12.322.084-0/001; TJMG; Des.(a) Cláudia
Maia; 09.08.2013)”
*
“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA
DE PAGAMENTO - LEGITIMIDADE ATIVA - LOCADOR - LIMINAR DE
DESOCUPAÇÃO DO IMÓVEL - DEFERIMENTO - PRESENÇA DOS
REQUISITOS LEGAIS À CONCESSÃO. - Em se tratando de contrato de
locação, de natureza pessoal, tem legitimidade para propor ação de despejo
e/ou cobrança de aluguéis o locador, independentemente de ser ou não o
proprietário do imóvel. - Para a concessão da liminar nos casos de ação de
despejo, é necessário preencher um dos requisitos insculpidos no art. 59 da
Lei n.º 8.245/91. - Presentes os requisitos legais, a liminar deve ser
concedida ao locador. - Recurso não provido. (AI 1.0079.12.064.866-6/001;
TJMG; Des.(a) Alvimar de Ávila; 19.07.2013)”
*
“EMENTA: PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO- AÇÃO DE
DESPEJO - LIMINAR DE DESOCUPAÇÃO - ARTIGO 59, § 1º, VIII, DA
LEI 8245/91 - REQUISITOS - PRESENÇA - RECURSO PROVIDO.
- Presentes os requisitos necessários para a concessão do despejo liminar
inaudita altera pars, impõe-se o seu deferimento, nos termos do art. 59, §
1º, VIII, da Lei 8.245/91, com redação dada pela Lei12.112/09. (AI
1.0701.12.042.410-9/001; TJMG; Des.(a) Marcos Lincoln; 01.07.2013)”
No que tange à prestação de caução, o posicionamento dos tribunais pátrios
converge no sentido de que havendo o deferimento da gratuidade judiciária,
estará dispensado tal requisito nas diversas ações e procedimentos em que este
se faz necessário, tendo em vista a presumível situação de necessidade do
eventual postulante. Vejamos:

“AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE C. C. REPARAÇÃO DE DANO POR


ATO ILÍCITO - PEDIDO LIMINAR DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE
DEFERIMENTO. DISPENSA DA PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO - AUTORA
BENEFICIÁRIA DA JUSTIÇA GRATUITA - RISCO DE LESÃO GRAVE E DE
DIFÍCIL REPARAÇÃO AOS RÉUS -VEÍCULO OBJETO DA LIMINAR QUE
DEVE PERMANECER NA POSSE DA AUTORA NOMEADA FIEL
DEPOSITÁRIA ATÉ O JULGAMENTO FINAL DA DEMANDA - AGRAVO
PARCIALMENTE PROVIDO 1.
Apesar da existência de risco de lesão grave e de difícil reparação aos réus,
diante do deferimento do pedido liminar antes da formação do contraditório,
fica dispensada a prestação de caução, por ser a agravante beneficiária da
justiça gratuita. 2. Contudo, nada impede que a autora, que liminarmente,
retomou a posse do veículo, seja nomeada fiel depositária do bem, até o
julgamento final da demanda, a fim de garantir a efetividade de futura
sentença. (AI 3600896720108260000 SP; TJSP; Des (a). Norival Oliva;
11.12.2010)”
*
“PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - ENERGIA ELÉTRICA - AÇÃO
DECLAMATÓRIA - TUTELA ANTECIPADA DEFERIMENTO - LIMINAR
MANTIDA COMO PROVIDÊNCIA CAUTELAR - AGRA VO IMPROVIDO.
Descabe a tutela jurisdicional antecipada, prevista no art. 273 do C. P. Civil,
quando incorrer situação fática e jurídica que, de plano, convença o julgador
da quase certeza de que a decisão final terminará pela procedência da
pretensão inicial. 2. Mostra-se viável a concessão de liminar como
providência cautelar, autorizada pelo § 7", do art. 273do C. P. C. quando
presentes os pressupostos legais para sua concessão, ou seja, o"Fumus boni
júris"e o"periculum in mora". 3. Sendo a energia elétrica essencial à vida do
consumidor, a interrupção do fornecimento, autorizada legalmente, só se
justifica na hipótese de manifesta inadimplência. 4. Apesar da existência de
fortes indícios de irregularidades provocadas no medidor de consumo, fica
dispensada a prestação de caução, por ser o agravado beneficiário da justiça
gratuita.(AG 1174712004 SP; TJSP; Des (a). Norival Oliva; 25.02.2009)”
*
“PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DECISÃO EM
CUMPRIMENTO DE ACÓRDÃO - TUTELA ANTECIPADA DEFERIDA -
VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR - EXIGÊNCIA DE PRESTAÇÃO DE
CAUÇÃO - PRECLUSÃO - NÃO CABIMENTO.
- Não teria razão de ser uma decisão que concedesse uma tutela antecipada
deferindo benefício de natureza alimentar, para uma parte beneficiária da
justiça gratuita, o que em tese comprovaria sua hipossuficiência, requerendo
da mesma caução para levantamento de tais valores. Em se tratando de
verba de natureza alimentar, é dispensável a prestação de caução.
- Precedente (STJ. REsp. 658528. QUINTA TURMA. Rel. Min. José Arnaldo
da Fonseca. DJ de 14.11.2005; TRF da 5º Região. AGTR. 58040. PRIMEIRA
TURMA. Rel. Des. Fed. Francisco Wildo. DJ de 05.05.2005).
- Agravo de instrumento improvido. (AGTR 94976 PE 0013555-
93.2009.4.05.0000; TRF-5; Des.(a). Sérgio Murilo Wanderley Queiroga;
26.11.2009)”
*
“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. TUTELA ANTECIPADA.
DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO JUDICIAL. MULTA DIÁRIA. EXECUÇÃO
PROVISÓRIA. AUSÊNCIA DE IMPRESCINDIBILIDADE DA CAUÇÃO.
RECURSO PROVIDO.
1) A liminar, através da qual o juiz concede a tutela antecipada, é desde logo
passível de efetivação prática. De forma que o § 3º do art. 273 doCódigo de
Processo Civil, determina que sejam aplicadas, no que couber, as regras
pertinentes à execução provisória prevista no art.588 do mesmo diploma
processual. Ademais, por ser provisória, incabível é a exigência de sentença
com trânsito em julgado;
2) A caução de que trata o inciso II do art. 588 do Código de Processo Civil ,
segundo a nova redação atribuída pela Lei 10.444/02, somente será
imprescindível se alienação dos bens resultar em grave dano ao executado.
Daí que, inexistindo o grave dano a caução será dispensada. Máxime se a
exeqüente (apelante) encontra-se sob o manto da justiça gratuita, pois seria
um contra-senso exigir que ela garanta o juízo, sabendo-se que ela não
possui patrimônio ou fortuna para fazê-lo;
3) Apelação Cível que se deu provimento para reformar a sentença
combatida, rejeitando, por conseguinte, os embargos executórios,
determinando, com isso, o prosseguimento da execução.(AC 146503 AP;
TJAP; Desembargador LUIZ CARLOS; 13.02.2004)”
Este é, também, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

“RECURSO ESPECIAL. RITO DO ART. 543-C DO CPC. VAZAMENTO DE


OLEODUTO DA PETROBRAS QUE IMPOSSIBILITOU A PESCA NA BAÍA DE
ANTONINA/PR. INDENIZAÇAO. EXECUÇAO PROVISÓRIA. PRESENÇA
DOS REQUISITOS DO ART. 475-O, 2º, I, DO CPC
. LEVANTAMENTO DE VALORES INDEPENDENTEMENTE DE CAUÇAO.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
1 - Nas execuções provisórias nas ações de indenização pelo vazamento do
oleoduto Olapa, que impossibilitou a pesca na Baía de Antonina e
adjacências, mas também aplicáveis a outros casos de acidentes ambientais
semelhantes, é permitido ao juiz da execução, diante da natureza alimentar
do crédito e do estado de necessidade dos exequentes, a dispensa da
contracautela para o levantamento do crédito, limitado, contudo, a 60
(sessenta) vezes o salário mínimo (art. 475-O, 2º, I, CPC).
2 - Na linha dos precedentes desta Corte Superior de Justiça, é possível
deferir o levantamento de valor em execução provisória, sem caucionar,
quando o tribunal local, soberano na análise fática da causa, verifica, como
na hipótese, que, além de preenchidos os pressupostos legais e mesmo com
perigo de irreversibilidade da situação, os danos ao exequente são de maior
monta do que ao patrimônio da executada. (RECURSO ESPECIAL Nº
1.145.358 - PR (2009/0116325-6); Rel.: Min. Ricardo Villas Bôas Cueva;
25.04.2012)”
Ademais, cumpre destacar que a autora é pessoa solteira e idosa, cujo peso dos
anos lhe impede de exercer atividades laborativas ou econômicas. A
requerente não possui descendentes, ascendentes vivos ou quaisquer outras
pessoas que possam lhe auxiliar o sustento, dependendo ela, exclusivamente,
dos valores recebidos mediante sua aposentadoria e do importe obtido através
da locação do imóvel descrito.
Os valores auferidos com o aluguel do imóvel que lhes pertence é fonte de
renda complementar, que torna-se cada vez mais necessária com o passar do
tempo. Ano após ano, a autora necessita de cuidados extras cada vez maiores e
mais onerosos no trato de sua saúde pessoal, condição inerente à sua idade
fisiológica.

Como é de conhecimento geral, em decorrência do amplo número de


demandas existentes e do diminuto contingente pessoal disponível, o curso de
processos judiciais no Brasil é extenso, não sendo possível supor que a decisão
resolutiva de mérito dar-se-á de forma breve.

Torna-se óbvio, após breve análise das razões fáticas alhures expostas, que a
conduta assumida pelos requeridos denota claramente o desinteresse na
quitação do débito e prosseguimento regular do contrato, segundo as égides
estabelecidas pela boa-fé negocial.

A não concessão de medida liminar para desocupação imediata do imóvel pela


primeira ré poderá ensejar graves danos à saúde e bem estar da requerente. O
imóvel de sua propriedade corre o risco de permanecer sob a posse direta de
possuidora, agora, ilegítima, uma vez que houve configuração de cláusula
resolutiva expressa em contrato.

Permanecendo a atual conjuntura, não será possível à postulante a locação do


imóvel a pessoa diversa durante longo interregno, fato que obstará a aferição
de renda complementar. E, como destacado, o importe monetário obtido
através da locação do imóvel descrito ao longo dos autos compõe parcela
substancial e extremamente importante da renda familiar da requerente.

Assim, por tudo quanto fora demonstrado ao longo desta peça inaugural, é
inafastável o direito da autora, sendo imperiosa a decretação de resolução do
contrato, com o pagamento de todas as obrigações e encargos não adimplidos,
e premente a necessidade de decretação de ordem para imediata desocupação
do imóvel, sob pena de graves riscos ao bem estar e ao patrimônio da
requerente.

3. DOS REQUERIMENTOS
Ante o exposto, a autora requer:

a) A citação dos réus nos endereços mencionados no preâmbulo, para que


lhes seja oportunizada apresentação de resposta dentro do prazo legal;
b) A concessão de medida liminar de antecipação dos efeitos da
tutela jurisdicional, com a decretação de ordem para imediata desocupação
do imóvel dentro do prazo de quinze dias, nos exatos termos do art. 59, § 1º,
da Lei nº 8.245/91;
c) Sejam ao final julgados inteiramente procedentes os
pedidosformulados, com a ratificação da medida de antecipação de tutela,
bem como sejam os réus condenados ao pagamento das verbas seguintes:
c.1) Quitação dos valores devidos a título de aluguel e demais
encargosdecorrentes do uso do imóvel objeto da presente demanda,
acrescidos das multas contratualmente previstas, juros legais e atualização
monetária.
Conforme memória de cálculo e demonstrativos anexos (ANEXO VII), o débito
total atualizado equivale ao importe de R$ 14.888,79 (quatorze mil
oitocentos e oitenta e oito reais e setenta e nove centavos), sendo R$ 10.573,07
(dez mil quinhentos e setenta e três reais e sete centavos) a título de aluguéis e
multas; R$ 3.856,53 (três mil oitocentos e cinquenta e seis reais e cinquenta e
três centavos) a título de despesas ordinárias de condomínio; R$ 459,19
(quatrocentos e cinquenta e nove reais e dezenove centavos) a título de
IPTU/...;
c.2) O pagamento da cláusula penal prevista no item sétimo do contrato,
equivalente a três aluguéis vigentes à época da propositura da ação.
Conforme memória de cálculo anexa (ANEXO VIII), o débito atualizado
equivale ao importe de R$...;
d) A concessão à autora dos benefícios da justiça gratuita, por ser
pobre no sentido legal, não possuindo meios para arcar com as custas
processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio. Com
vistas à comprovação da alegada condição, as autora junta declaração de
pobreza e comprovante de rendimentos (ANEXO II).
Requer, ainda, provar os fatos alegados por todos os meios admitidos em
direito, precipuamente documental e testemunhal.

Dá-se à causa o valor de R$..., nos termos do art. 58, III, da Lei nº8.245/91.

Termos em que, requer deferimento.

Belo Horizonte, 12 de agosto de 2013 .

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