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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
AS RELAÇÕES DE AFETIVIDADE NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Porto Alegre
2009
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AS RELAÇÕES DE AFETIVIDADE NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Porto Alegre
2009
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FACULDADE DE PEDAGOGIA
Diretor: Johannes Doll
Vice-diretora: Denise Maria Comerlato
COMISSÃO DE GRADUAÇÃO
Coordenadora: Maria Bernadete Castro Rodrigues
Coordenadora Substituta: Eunice Aita Isaia Kindel
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Av. Paulo Gama, 110
Campus Centro
Prédio 12201
CEP: 90046-900
Porto Alegre/RS
Fone: (51) 3308-3428
Fax: (51) 3226-7060
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Aprovado em ___/___/_____.
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Nome
Titulação
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Nome
Titulação
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Titulação
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RESUMO
ABSTRACT
The present work is focused on the emotion in children's education. Investigates the
interpersonal relationships between adult and child, dealing with the relationship
between teacher and student, as well as for family and child. To elucidate these
issues we sought the theoretical framework of Piaget, Maturana and Winnicott. The
main objectives of the research were known as in the development of children's
affection and the factors that contribute to the development of children. Research
supported by the description of a diary held in a Maternal I class with children of
about three years old in a school of early childhood education public schools of Porto
Alegre and the development of a questionnaire addressed to teachers and parents
class. From the empirical data it was first observed the importance of family and child
bond that expands the link teacher and student in the construction of affection.
Key-words: Affect. Interpersonal relationship. Development of affection.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................. 07
REFERÊNCIAS ................................................................................ 31
1 INTRODUÇÃO
Para começar, as normas não são generalizadas, mas são válidas apenas
sob condições particulares. Por exemplo, a criança considera errado mentir
a seus pais e a outros adultos, mas não a seus companheiros (PIAGET,
1982, p. 55).
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A criança precisa ser amada como ela é, com atenção no que ela produz, nas
suas próprias atividades e não com expectativas em seus resultados.
Segundo Maturana (2004), durante seu desenvolvimento a criança adquire,
através das interações com sua mãe e outros membros da comunidade em que vive,
as emoções próprias de sua família e cultura. Assim, o emocionar se dá nas
relações sociais como algo natural e cultural.
Mas também ocorrem os “desencontros emocionais” sem as interações com a
família ou cultura. Quando o interagir em desencontro emocional torna-se cotidiano
em uma família pode gerar conflitos emocionais.
Maturana (2004) sugere como “cura para tal sofrimento” a relação de mútua
aceitação, as relações de brincadeiras com sua mãe, essências para o
desenvolvimento da criança.
Assim, o brincar surge como uma atividade realizada em si mesma, vivida no
presente de sua realização, desempenhada de modo emocional (de modo
espontâneo), sem nenhum propósito que lhe seja exterior.
Para Maturana (2004), a mãe e o bebê se encontram na linguagem e no
brincar, ou seja, na congruência de uma relação biológica, em uma plena aceitação
da corporeidade. Assim, o bebê se confirma como um ser biológico, no decorrer de
seu crescimento como um bebê humano, em interações humanas. Mas a mãe pode
não se encontrar com o bebê na brincadeira, por razão de suas expectativas,
desejos, aspirações ou ilusões.
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Vai por mal caminho o bebê cuja mãe trate dele, ainda que o faça na melhor
das intenções, acreditando que os bebês pouco mais são, no princípio, do
que um feixe de fisiologia, anatomia e reflexos condicionados. Sem dúvida,
esse bebê será bem alimentado, poderá alcançar uma boa saúde física e ter
um crescimento normal, mas se a mãe não souber ver no filho recém-
nascido um ser humano, haverá poucas probabilidades de que a saúde
mental seja alicerçada com uma solidez tal que a criança, em sua vida
posterior, possa ostentar uma personalidade rica e estável, suscetível não
só de adaptar-se ao mundo, mas também participar de um mundo que exige
adaptação (WINNICOTT, 1971, p. 118).
3 A APRENDIZAGEM E A AFETIVIDADE
A mãe da menina ‘A’ pediu para falar comigo, disse que a menina não
queria mais ir à escola pela manhã porque a profe da manhã era muito
“chata” e que só “amava” a profe da tarde. A escola não permite a
freqüência em apenas um turno e coloquei que as crianças, às vezes, tem
maior afinidade com uma ou outra educadora, mas que não significava
que elas não tinham uma boa relação (Diário de campo, 16/09/09).
As crianças elegem seus pares para brincadeiras, seus amigos, por diversos
critérios. Isso ocorre também com relação ao adulto. Naturalmente, a criança
quando integra um grupo de mais de uma educadora acaba elegendo sua preferida.
Isso não significa que não tenha um bom relacionamento com as demais. As
relações de afeto não são iguais a todos nem com todos da mesma maneira.
De acordo com Maturana (1998), para que haja história de interações
recorrentes, tem que haver uma emoção que constitua as condutas, as quais
resultam em interações recorrentes. Caso essa emoção não ocorra, não existe
história de interações recorrentes, mas sim encontros casuais e separações. Pode-
se dizer que existem duas emoções pré-verbais que tornem isto possível: a rejeição
e o amor.
Outro autor que nos traz essa idéia de interação entre mãe e filho e da
importância dela no desenvolvimento infantil é Maturana (2004), quando refere-se ao
brincar. Um brincar que ocorre como uma atividade realizada de modo emocional,
de modo espontâneo, sem nenhum propósito exterior. É quando mãe e o filho se
encontram em uma relação de aceitação, de um corpo com o outro, com a finalidade
de naquele momento se doar ‘de corpo e alma’.
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A mãe que falou comigo sobre a menina ‘A’, que não quer mais ir para a
escola foi procurar a direção, relatando que a menina chegou em casa
falando que a ‘profe’ da manhã deu um tapa no rosto dela. A mãe estava
bem nervosa e foi combinada uma reunião com a professora na próxima
manhã (Diário de campo, 17/09/09).
Parece o que ocorreu foi a criança ter se sentido ofendida, magoada com
alguma atitude dessa professora e no, momento de verbalizar, acabou fantasiando a
situação.
Vimos que, através do jogo simbólico, a criança representa o imaginário
através de suas ações. A natureza do jogo simbólico é livre e a criança estabelece
relações com a realidade da forma em que ela a interpreta.
Ao criar essa situação, a criança está tentando resolver alguns conflitos que
possa ter com essa professora.
O que chamou minha atenção neste caso não foi o fato da menina ter retirado
a fralda com três anos de idade, pois geralmente isso ocorre com dois anos, nem de
ainda não baixar e levantar sua roupa. Mas sim, da mãe dizer que não incentivará a
criança porque a considera ainda um bebê.
O desenvolvimento infantil ocorre de maneiras e em tempos diferentes para
cada criança, pois cada uma tem seu ritmo. Espera-se, em cada período do
desenvolvimento, conforme demonstra Piaget, que a criança seja capaz de certas
construções, mas não significa que ela tenha que alcança-las ao mesmo tempo.
Sabe-se que a criança precisa ser estimulada, encorajada a avançar no seu
desenvolvimento. Visto que a aprendizagem ocorre em qualquer etapa, em qualquer
situação ou em qualquer momento, sendo que, à medida que o indivíduo aprende,
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varia seu comportamento, seu desempenho, sua ótica, seus enfoques. Assim,
conforme surgem novas aprendizagens vão sendo agrupadas às já existentes,
favorecendo o surgimento de novos enfoques, idéias e atitudes.
Conforme vimos, o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a inteligência,
tornando difícil encontrar um comportamento típico apenas da afetividade, sem
nenhum elemento cognitivo. Assim, o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a
cognição ou inteligência. As crianças assimilam as experiências aos esquemas
afetivos, do mesmo modo que assimilam as experiências às estruturas cognitivas.
De acordo com Winnicott (1971), as condições necessárias para o
desenvolvimento da criança não são estáticas, fixas, elas transformam-se de forma
qualitativa e quantitativa, levando em conta a idade da criança. O fracasso e a
frustração são possibilidades que fazem parte do desenvolvimento da inteligência, a
criança não precisa ser poupada desses sentimentos.
O mais interessante nesta situação não foi só o fato da mãe ter deixado seu
filho após o horário da escola, mas saber que não se sentia bem e que ele a
aguardava para ir embora.
É através das relações sociais e das interações da criança com a mãe,
segundo Maturana (2004), que a criança conhece as emoções próprias de sua
família e cultura. Ela vai constituindo suas emoções a partir do que ela vivencia.
Quando ocorrem os ‘desencontros emocionais’, na relação mãe-filho, podem ocorrer
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Assim, foi possível perceber que esses pais entendem o afeto como forma
positiva de expressar seus sentimentos aos seus filhos através, também, de
cuidados, dedicação e atenção para todas as necessidades da criança.
Quando a mãe de ‘J’ se refere ao afeto como “apesar do que aconteça”, ela
está possibilitando compreender que existe uma aceitação do outro, um respeito
pela individualidade.
Conforme foi visto a partir de Maturana (2004), o amor é a emoção que
permite perceber o outro como ele é no presente, sem expectativas sobre o futuro, é
uma relação de aceitação mútua entre mãe e filho. A criança precisa ser amada
como ela é.
Para Winnicott (1971), a criança necessita de uma boa base familiar com que
possa se identificar, possibilitando a criança perceber a relação do eu com o mundo
exterior.
Como atitudes de não afeto, os pais desse primeiro grupo destacam a
agressividade, a estupidez, somente criticar, ou seja, sentimentos negativos,
contrários ao amor e carinho.
Quando o pai de ‘Al’ afirma que para ele não afeto é “este momento ainda não
chegou”, ao contrário de outros pais que trazem como momentos de agressividade,
estupidez, somente criticar, tem como efeito a negação de atitudes e sentimentos
contrários ao amor e carinho. A agressividade, a frustração e o fracasso são também
sentimentos necessários para o desenvolvimento da criança.
O segundo grupo foi o que, além deste entendimento de afeto como
sentimentos positivos, o considera também como ato de educar.
Podemos perceber quando a mãe de ‘E’ afirma que afeto é “educação, amor,
carinho. Fazer dela uma pessoa de bem”. E as atitudes de não afeto são “quando
não há um respeito uma pela a outra, sendo que ela tem que ser educada a
respeitar os pais e os mais velhos”.
O pai de ‘Y’, criança no qual referi no diário de campo, entende como
significado de afeto “dar carinho, atenção e compreensão, não exageradamente”. E
não afeto como “quando brigo”.
Para a mãe de ‘C’ afeto é “muito carinho” e atitudes de não afeto significa
“Não abraçar, não dar carinho. Não dar atenção para o que eles comentam. Não
educar”.
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A mãe de ‘M’ entende que afeto é “uma forma de se mostrar amor...”, e “até
mesmo como um não, um castigo”. Para ela atitudes de não afeto referem “quando
alguém está agressivo. Quando uma criança nem liga para a mãe... quando uma
criança é protegida demais. Não dar atenção, não dar respeito, dizer sempre sim!”.
Nesse segundo grupo, foi possível perceber que o conceito de afeto está
relacionado com a educação e o limite, quando as famílias trazem a idéia de
“compreensão não exageradamente”, “tem que ser educada” e também quando
referem à atitude de não afeto como “não educar” e “dizer sempre sim”, “um não, um
castigo”.
Em relação ao questionário destinado às educadoras, foi possível encontrar o
conceito de afeto articulado aos sentimentos positivos de amor e carinho com a
noção de limites.
Quando perguntado para a professora ‘J’ o significado de afeto, ela
respondeu que era “demonstrar interesse (dar o aconchego quando necessário, o
limite e prestar atenção ao desenvolvimento do aluno). Abraço, beijo e carinho são
tão fundamentais quanto o limite. Ambos fazem a criança se sentir segura”.
Para a monitora ‘F’, “afeto é tudo. É o que nos move a vida. Tudo que
fazemos, até um simples gesto”. Quando questionada sobre como demonstra afeto
afirmou que “mesmo dando limite você está dando afeto; em todos momentos”.
Já a estagiária ‘S’ refere afeto como “essa palavra diz respeito àquilo que
toca, atinge, afeto é um sentimento que se manifesta sob a forma de emoções e
sentimento”. E quando questionada sobre atitudes de não afeto respondeu “falta de
atenção e carinho, maus tratos, violência, ou outras formas de desrespeito à
integridade física, moral e espiritual apresentam sintomas bem claros de não afeto”.
Foi possível identificar que as educadoras percebem a criança com um todo,
com necessidades de carinho e limites, com respeito ao seu desenvolvimento. Como
apareceu nas respostas dos familiares, as educadoras também associaram afeto
com sentimentos e emoções. Assim como a idéia de atitudes de não afeto,
representada através da agressividade, da violência.
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REFERÊNCIAS
WINNICOTT, D.W. A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1971.
APÊNDICE A — QUESTIONÁRIO