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FCSHA. Filosofia, Política e Relações Internacionais, 3º Ano, 2018-2019.

Filosofia da
Linguagem e Comunicação. ALFRED JULES AYER (1936). Linguagem, Verdade e Lógica
pp. 145-157: O Princípio de Verificação e a sua utilização como critério metodológico em
Filosofia (Apêndice da 2ª Ed., 1946).

Wolfgang Stegmüller (1977). A Filosofia Contemporânea, Cap. IX, p. 244.

“O Princípio de Verificação é suposto fornecer um critério através do qual pode ser determinado
se uma frase (enunciado) tem sentido literal ou não. Uma forma simples de o formular seria dizer
que uma frase teria sentido literal se, e só se, a proposição que exprime fosse analítica ou
verificável empiricamente (...) Perguntar acerca de uma frase particular, o que é que ela exprime
pode, na verdade, colocar uma questão factual; e uma forma de lhe responder seria produzir outra
frase que fosse uma tradução da primeira (...) Por isso, ao dizer que as frases exprimem
enunciados estamos a indicar como é que este termo técnico (enunciado) deve ser entendido, mas
não estamos, desse modo, a fornecer qualquer informação factual no sentido em que estaríamos a
fornecer informação factual se a questão a que estivéssemos a responder fosse empírica. Na
verdade, isto pode parecer um pouco demasiado óbvio para ser referido; mas a questão “o que é
que as frases exprimem?” é análogo à questão “o que é que as frases significam?” e...a questão “o
que é que as frases significam?” tem sido uma fonte de confusão para os filósofos, porque a
consideram erradamente uma questão factual. Dizer que frases indicativas significam proposições
é na verdade legítimo, tal como é legítimo dizer que exprimem enunciados. Mas o que estamos a
fazer, ao dar respostas deste tipo, é apresentar definições convencionais; e é importante que estas
definições convencionais não sejam confundidas com enunciados de teor empírico.
Voltando agora, ao princípio de verificação, podemos, por uma questão de brevidade, aplicá-lo
directamente a enunciados em vez de o aplicarmos as frases que os exprimem, e podemos então
reformulá-lo dizendo que um enunciado é considerado possuidor de sentido literal, se e só se, for
analítico ou verificável empiricamente. Mas o que se deve entender, neste contexto, pelo termo
“verificável”? Eu tento responder a esta questão no primeiro capítulo desta obra; mas tenho de
reconhecer que a minha resposta não é lá muito satisfatória. Para começar, veremos que eu
distingo entre um enunciado “forte” e um eunciado “fraco” do termo “verificável”, e que explico
esta distinção dizendo que “uma proposição é verificável no sentido forte do termo se, e apenas
se, a sua veradade puder ser estabelecida conclusivamente pela experiência”, mas é verificável no
sentido fraco do termo, se for possível torná-lo provável pela expeeriência (...) Penso que há uma
classe de proposições empíricas (as proposições básicas, que referem apenas ao contúdo de uma
única experiência sobre as quais é impossível nós não nos enganarmos factualmente) às quais é
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possível e permitido dizer que podem ser verificadas conclusivamente (...) Consequentemente, se o
princípio de verificação deve ser considerado seriamente como um critério de sentido, deve ser
interpretado de forma a admitir enunciados que não são tão fortemente verificáveis como se
considera que os enunciados básicos são. Mas, nesse caso, como é que a palavra “verificável”
deve ser entendida? Veremos que, nesta obra, começo por sugerir que um enunciado é
“fracamente verifivável”, e porconseguinte, portador de sentido, de acordo com o meu critério, se
“experiência sensorial possível for relevante para a determinação da sua verdade ou falsidade”.
Mas, melhor seria agora falar de “enunciado observacional”. Portanto, nesta nova versão (que
substitui a proposição experiencial por enunciado observacional) o princípio é o de que um
enunciado é verificável, e por consequência, portador de um sentido, se um enunciado
observacional puder ser deduzido a partir dele em conjunção apenas com determinadas outras
premissas (enunciados analíticos, p.exemplo).
(...) Na verdade, testamos um tal enunciado (os referentes às coisas materiais) fazendo observações
que consistem na ocorrência de conteúdos sensoriais particulares (...) No entanto, é apenas pela
ocorrência de um conteúdo sensorial, e por consequência pela verdade de um enunciado
observacional, que um enunciado sobre uma coisa material é, de facto, verificado; e daqui resulta
que todos os enunciados significativos sobre uma coisa material podem ser representados como
implicando uma disjunção de enunciados observacionais (i.e, um ou outro enunciado desse
conjunto).
Resta a objeção mais grave (contra o princípio de verificação), segundo a qual o meu critério,
como é apresentado, confere sentido a qualquer enunciado indicativo. Para a comabter, proponho
a correção que passo a expor. Direi que um enunciado é verificável directamente se ele próprio
for um enunciado observacional, ou em conjunção com um ou mais enunciados observacionais
implicar pelo menos um enunciado observacional que não seja deduzível apenas a partir destas
premissas; e defendo que um enunciado é verificável indirectamente se satisfazer as seguintes
condições: primeira, que em conjunção com determinadas outras premissas implique um ou
mais enunciados directamente verificáveis que não sejam deduzíveis a partir apenas dessas
premissas; e em segundo lugar que estas outras premissas não incluam qualquer enunciado que
não seja analítico, ou directamente verificável, ou passível de ser estabelecido
independentemente como indirectamente verificável. E posso agora reformular o princípio de
verificação como requerendo um enunciado portador de sentido literal, que não seja analítico e
que seja directa ou indirectamente verificável, no sentido acima expoxto.
Ao apresentar o princípio de verificação como critério de sentido, não nigligencio o facto de a
palavra “sentido” ser correctamente utilizada numa grande variadade de acepções. E não
pretendo negar que em algumas destas acepções um enunciado pode ser considerado
adequadamente como portador de sentido, apesar de não ser nem analítico nem verificável
empiricamente. Defendo, no entanto, que há pelo menos uma acepção adequada do termo
“sentido” em que seria incorrecto dizer que um enunciado seria portador de sentido a não ser que
satisfizesse o princípio de verificação...”.

ALFRED JULES AYER (1991 [1936]). Linguagem, Verdade


e Lógica, trad. de Anabela Mirante. Lisboa: Edições 70, pp.
145-157.

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