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EGUNS OU EGUNGUNS

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EGUNS OU EGUNGUNS
EGUNS OU EGUNGUNS

Os negros iorubanos originários da Nigéria trouxeram para o Brasil o culto dos


seus ancestrais chamados Eguns ou Egunguns. Em Itaparica (BA), duas
sociedades perpetuam essa tradição religiosa.
Os cultos de origem africana chegaram ao Brasil juntamente com os escravos.
Os iorubanos - um dos grupos étnicos da Nigéria, resultado de vários
agrupamentos tribais, tais como Keto, Oyó, Itexá, Ifan e Ifé, de forte tradição,
principalmente religiosa - nos enriqueceram com o culto de divindades
denominadas genericamente de orixás.(1 - Por motivos gráficos e para facilitar
a leitura, os termos em língua yorubá foram aportuguesados. Ex.: orisá =
orixá.)
Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas
também seus ancestrais, principalmente os masculinos. A morte não é o ponto
final da vida para o iorubano, pois ele acredita na reencarnação (àtúnwa), ou
seja, a pessoa renasce no mesmo seio familiar ao qual pertencia; ela revive em
um dos seus descendentes. A reencarnação acontece para ambos os sexos; é
o fato terrível e angustiante para eles não reencarnar.
Os mortos do sexo feminino recebem o nome de ìyámí Agbá (minha mãe
anciã), mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é
aglutinada de forma coletiva e representada por ìyámí Òsóróngá, chamada
também de Iá Nlá, a grande mãe. Esta imensa massa energética que
representa o poder de ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas
"Sociedades Geledê", compostas exclusivamente por mulheres, e somente
elas detêm e manipulam este perigoso poder. O medo da ira de ìyámí nas
comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao
poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras
com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre
outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino.

Além da Sociedade Geledê, existe também na Nigéria a Sociedade Oro. Este é


o nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não
individualizados. Oro é uma divindade tal qual ìyámí Òsóróngá, sendo
considerado o representante geral dos antepassados masculinos e cultuado
somente por homens. Tanto ìyámí quanto Oro são manifestações de culto aos
mortos. São invisíveis e representam a coletividade, mas o poder de ìyámí é
maior e, portanto, mais controlado, inclusive, pela Sociedade Oro.
Outra forma, e mais importante de culto aos ancestrais masculinos é elaborada
pelas "Sociedades Egungum". Estas têm como finalidade celebrar ritos a
homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades
quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de
forma privilegiada, mantendo na morte a sua individualidade. Esse mortos
surgem de forma visível mas camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida
pós-morte, denominada egun ou Egungum. Somente os mortos do sexo
masculino fazem aparições, pois só os homens possuem ou mantém a
individualidade; às mulheres é negado este privilégio, assim como o de
participar diretamente do culto.
Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua
sociedade, em locais e templos com sacerdotes diferentes dos dos orixás.
Embora todos os sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o
conjunto forma uma só religião: a iorubana.

No Brasil existem duas dessas sociedades de Egungum, cujo tronco comum


remonta ao tempo da escravatura: Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de
Areia, e uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambas em
Itaparica, Bahia.

O egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos
vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos
dos Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão
chamado ixã, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de
palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungum
ancestral individualizado está de novo "vivo".
A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás,
em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares
profanos, fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando
impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma
corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas,
que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos,
da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa.
Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e
estridente - característica de egun, chamada de séègí ou sé, e que está
relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria.
As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do
ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo
(iniciado no culto de egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do
culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim
ou pelo não, egun está entre os vivos, e não se pode negar sua presença,
energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é egun

A roupa do egun - chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia -, ou o


Egungum propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma,
nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixã para controlar a
"morte", ali representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-
se, pois, como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que
for tocada por egun se tornará um "assombrado", e o perigo a rondará. Ela
então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de
doença ou, talvez, a própria morte.
Ora, o egun é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato,
ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais
qualificados sacerdotes - como os ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por
um ou mais Eguns - desempenham todas essas atribuições substituindo as
mãos pelo ixã.
Os egun-Agbá (ancião), também chamados de Babá-egun (pai), são Eguns
que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas
sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam
conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns mudos e suas roupas são as
mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas telas,
uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de
elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis,
assustam e causam terror ao povo.

O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação
quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a
extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de panos coloridas,
formando uma espécie de franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas
que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos; e o
banté, que é uma tira de pano especial presa no kafô e individualmente
decorada e que identifica o Babá.
O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder,
energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e
abençoando os fiéis. Ele sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com
as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao
contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os
Agbá-egun portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos
adicionais: uns usam sobre o alabá mascaras esculpidas em madeira
chamadas erê egungum; outros, entre os alabá e o kafô, usam peles de
animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixã. Nestes
casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.
Existem várias qualificações de egun, como Babá e Apaaraká, conforme sus
ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se
comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.
Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo
após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da
cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através
de uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo
externo.

Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro.


Vários amuxã (iniciados que portam o ixã) funcionam como guardas
espalhados pelo terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os
perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos ojés saiam do espaço
delimitado e invadam as redondezas não protegidas.
Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do
grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé
(bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde
somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.

Balé é o local onde estão os idiegungum, os assentamentos - estes são


elementos litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o egun ali
cultuado - , e o ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra,
rodeado por vários ixã, os quais, de pé, delimitam o local.
Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para
o egun a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da
divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única divindade
feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos
próprios Eguns.
No balé os ojê atokun vão invocar o egun escolhido diretamente no
assentamento, e é neste local que o awo (segredo) - o poder e o axé de egun -
nasce através do conjunto ojê-ixã/idi-ojubô. A roupa é preenchida e egun se
torna visível aos olhos humanos.
Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuxã até a porta
secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando
espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos ojê, pelo
som dos amuxã, brandindo os ixã pelo chão e aos gritos de saudação e
repiques dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de egun). O clima é
realmente perfeito.

O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte


onde estão os tambores e seus alabê e várias cadeiras especiais previamente
preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem,
descansam por alguns momentos na companhia dos outros, sentados ou
andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade.
Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos.

Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o
culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas
mulheres que são exceção, como se fosse a própria Oyá; elas são geralmente
iniciadas no culto dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo
hierárquico) no culto de egun - estas posições de grande relevância causam
inveja à comunidade feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo
culto, fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no
salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que
somente elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais
para egun, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos orixás;
após esta saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres.
Elas funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao transmitir
suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas
manias, e sabem como agradá-los.
Este espaço sagrado é o mundo do egun nos momentos de encontro com seus
descendentes. Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os amuxã
colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e
ritual dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do ixã que se evita
o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o
invoca e o controla. às vezes, os mariwo são obrigados a segurar o egun com o
ixã no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao
encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir
rápida e rispidamente, pois é o ojê que por ele zela e o invoca, pelo qual ele
tem grande respeito

O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam as mulheres e


crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a
cantar seus cânticos preferidos, porque cada egun em vida pertencia a um
determinado orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio orixá e
esta característica é mantida pelo egun. Por exemplo: se alguém em vida
pertencia a Xangô, quando morto e vindo com egun, ele terá em suas vestes
as características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branca. Portará
um oxê (machado de lâmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que
toquem o alujá, que também é o ritmo preferido de Xangô, e dançará ao som
dos tambores e das palmas entusiastas e excitantemente marcadas pelo oiê
femininos, que também responderão aos cânticos e exigirão a mesma
animação das outras pessoas ali presentes.
Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a
todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um
possível iorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. Babá-egun
começará perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos
oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas
que ali chegaram pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e
punindo, se necessário, fazendo o papél de um verdadeiro pai, presente entre
seus descendentes para aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral
disciplina comum às suas comunidades, funcionando como verdadeiro
mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas.

Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-egun


parte, a festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá
partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.

Esta é uma breve descrição de Egungum, de uma festa e de sua sociedade,


não detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este
importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida
através das ancestralidades cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como
um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da
Nigéria.

OS EGUNS

Os textos litúrgicos aqui apresentados fazem parte do jogo de Ifá, no qual seu
senhor e oráculo, a divindade Orumilá, nos ensina mitos e tradições que foram
mantidos através do próprio jogo. Esses conhecimentos, transmitidos a todos
oralmente, hoje se tornaram verdadeiras escrituras sagradas (atualmente,
vários pesquisadores já registraram em livros as lendas colhidas oralmente
entre os iniciados).
Através deles entendemos o porquê de certos ritos e preceitos usados e
conservados no dia-a-dia dos cultos. Vários textos explicam o mesmo fato ou
se complementam, e à vezes de forma diferente e aparentemente contraditória;
mas isto é reflexo de se terem originado em diferentes regiões. De uma forma
ou de outra, porém, chegam aos mesmos fundamentais conceitos religiosos.

PAREI AQUI
ORIGENS
De quatro em quatro dias (uma semana iorubana), Iku (a morte) vinha à cidade
de Ilê Ifé munida de um cajado (opá iku) e matava indiscriminadamente as
pessoas. Nem mesmo os orixás podiam com Iku.
Um cidadão chamado Ameiyegun prometeu salvar as pessoas. Para tal,
confeccionou uma roupa feita com várias tiras de pano, em diversas cores, que
escondia todas as partes do seu corpo, inclusive a própria cabeça, e fez
sacrifícios apropriados. No dia em que a Morte apareceu, ele e seus familiares
vestiram as tais roupas e se esconderam no mercado.
Quando a Morte chegou, eles apareceram pulando, correndo e gritando com
vozes inumanas, e ela, apavorada, fugiu deixando cair seu cajado. Desde
então a Morte deixou de atacar os habitantes de Ifé.
Os babalaôs (adivinhos e sacerdotes de Orumilá) disseram a Ameiyegun que
ele e seus familiares deveriam adorar e cultuar os mortos por todas as
gerações, lembrando como eles venceram a Morte.

ORIGEM DOS OIÊ MASCULINOS (relacionados aos culto a Egungun)


Havia na cidade de Oyó um fazendeiro chamado Alapini, que tinha três filhos
chamados Ojéwuni, Ojésamni e Ojérinlo. Um dia Alapini foi viajar e deixou
recomendações aos filhos para que colhessem os inhames e os
armazenassem, mas que não comessem um tipo especial de inhame chamado
'ihobia', pois ele deixava as pessoas com uma terrível sede. Seus filhos
ignoraram o aviso e o comeram em demasia. Depois, beberam muita água e,
um a um, acabaram todos morrendo.
Quando Alapini retornou, encontrou a desgraça em sua casa. Desesperado,
correu ao babalaô que jogou Ifá para ele. O sacerdote disse que ele se
acalmasse, e que após o 17º dia fosse ao ribeirão do bosque e executasse o
ritual que foi prescrito no jogo. Ele deveria escolher um galho da árvore
sagrada atori e fazer um bastão (assim é feito o ixã). Na margem do ribeirão,
deveria bater com o bastão na terra e chamar pelos nomes dos seus filhos, que
na terceira vez eles apareceriam. Mas ele também não poderia esquecer de
antes fazer certos sacrifícios e oferendas.
Assim ele o fez; seus filhos apareceram. Mas eles tinham rostos e corpos
estranhos; era então preciso cobri-los para que as pessoas pudessem vê-los
sem se assustarem. Pediu que seus filhos ficassem na floresta e voltou à
cidade. Contou o fato ao povo, e as pessoas fizeram roupas para ele vestir
seus filhos.
Desse dia em diante ele poderia ver e mostrar seus filhos a outras pessoas; as
belas roupas que eles ganharam escondiam perfeitamente sua condição de
mortos. Alapini e seus filhos fizeram um pacto: em um buraco feito na terra pelo
seu pai (ojubô), no mesmo local do primeiro encontro (igbo igbalé), ali seriam
feitas as oferendas e os sacrifícios e guardadas as roupas, para que eles as
vestissem quando o pai os chamasse através do ritual do bastão.

PS ENORME: les vem os mortos perdidos como macacos ou com vestes


coloridas enormes e vozes inumanas, mas não são Egunguns, não são babás

Seguindo o pacto e as instruções do babalaô, de que sempre que os filhos


morressem fosse prazer.
Esta lenda é rica em detalhes, nos explica vários ritos e títulos utilizados no
culto.
MITOS OYÁ E EGUN
Oyá não podia ter filhos, e foi consultar o babalaô. Este lhe disse, então, que,
se fizesse sacrifícios, ela os teria. Um dos motivos de não os ter ainda era
porque ela não respeitava o seu tabu alimentar (evó) que proibia comer carne
de carneiro. O sacrifício seria de 18.000 mil búzios (o pagamento), muitos
panos coloridos e carne de carneiro. Com a carne ele preparou um remédio
para que ela o comesse; e nunca mais ela deveria comer desta carne. Quanto
aos panos, deveria ser entregues como oferenda.
Ela assim fez e, tempos depois, deu à luz nove filhos (número místico de Oyá).
Daí em diante ela também passou a ser conhecida pelo nome de 'Iyá omo
mésan', que quer dizer 'a mãe de nove filhos' e que se aglutina 'Iyansan'.
Há outra lenda para explicar o mito de Iansã: Em certa época, as mulheres
eram relegadas a um segundo plano em suas relações com os homens. Então
elas resolveram punir seus maridos, mas sem nenhum critério ou limite,
abusando desta decisão, humilhando-os em demasia.
Oyá era a líder das mulheres, e elas se reuniram na floresta. Oyá havia
domado e treinado um macaco marrom chamado ijimerê (na Nigéria). Utilizara
para isso um galho de atori (ixã) e o vestia com uma roupa feita de várias tiras
de pano coloridas, de modo que ninguém via o macaco sob os panos.

Seguindo um ritual, conforme Oyá brandia o ixã no solo o macaco pulava de


uma árvore e aparecia de forma alucinante, movimentando-se como fora
treinado a fazer. Deste modo, durante à noite, quando os homens por lá
passavam, as mulheres (que estavam escondidas) faziam o macaco aparecer
e eles fugiam totalmente apavorados.
Cansados de tanta humilhação, os homens foram ter com um babalaô para
tentar descobrir o que estava acontecendo. Através do jogo de Ifá, e para punir
as mulheres, o babalaô lhes conta a verdade. Ele os ensina como vencer as
mulheres através de sacrifícios e astúcia.
Ogum foi o encarregado da missão. Ele chegou ao local das aparições antes
das mulheres. Vestiu-se com vários panos, ficando totalmente encoberto, e se
escondeu. Quando as mulheres chegaram, ele apareceu subitamente,
correndo, berrando e brandindo sua espada pelos ares. Todas fugiram
apavoradas, inclusive Oyá.
Desde então os homens dominaram as mulheres e as expulsaram para sempre
do culto de egun; hoje, eles são os únicos a invocá-lo e cultuá-lo. Mas, mesmo
assim, eles rendem homenagem a Oyá, na qualidade de Igbalé, como criadora
do culto de egun.
Convém notar que, no culto, egun nasce no bosque da floresta (igbo igbalé).
No Brasil, no ilê awo, ele nasce no quarto de balé, onde são colocadas
oferendas de comidas e realizadas cerimônias aos Eguns.
Oyá é também cultuada como mãe e rainha de egun, como Oyá Igbalé. E,
como nos explica a lenda, Oyá, a floresta e o macaco estão intimamente
ligados ao culto, inclusive em relação à voz do macaco como modo de o egun
falar.

ODU TORNA-SE ÌYÁMÍ


Nos primórdios da criação, Olodumarê, o Ser Supremo que vive no orun,
mandou vir ao ayê (universo conhecido) três divindades: Ogum (senhor do
ferro), Obarixá (senhor da criação dos homens) (2 - Um dos orixás funfun, isto
é, orixás que têm como principal preceito o uso do branco nos ritos e nas
oferendas; em algumas regiões Obarixá é adotado como um cognome de
Oxalá) e Odu, a única mulher entre eles. Todos eles tinham poderes, menos
ela, que se queixou então a Olodumarê. Este lhe outorgou o poder do pássaro
contido numa cabaça (igbá eleiye) e ela se tornou então, através do poder
emanado de Olodumarê, Iyá Won, nossa mãe para eternidade (também
chamada de Iami Oxorongá, minha mãe Oxorongá). Mas Olodumarê a
preveniu de que deveria usar este grande poder com cautela, sob pena de ele
mesmo repreendê-la.
Mas ela abusou do poder do pássaro. Preocupado e humilhado, Obarixá foi até
Orumilá fazer o jogo de Ifá, e ele o ensinou como conquistar, apaziguar e
vencer Odu, através de sacrifícios, oferendas e astúcia.
Obarixá e Odu foram viver juntos. Ele então lhe revelou seus segredos e, após
algum tempo, ela lhe contou os seus, inclusive que adorava egun. Mostrou-lhe
a roupa de egun, o qual não tinha corpo, rosto nem tampouco falava. Juntos
eles adoraram egun.
Aproveitando um dia quando Odu saiu de casa, ele modificou e vestiu a roupa
de egun. Com um bastão na mão, Obarixá foi à cidade (o fato de egun carregar
um bastão revela toda a sua ira) e falou com todas as pessoas. Quando Odu
viu egun andando e falando, percebeu que foi Obarixá quem tornou isto
possível. Ela reverenciou e prestou homenagem a egun e a Obarixá,
conformando-se com a supremacia dos homens e aceitando para si a derrota.
Ela mandou então seu poderoso pássaro pousar em egun, e lhe outorgou o
poder: tudo o que egun disser acontecerá. Odu retirou-se para sempre do culto
de Egugun.

O conjunto homem-mulher dá vida a egun (ancestralidade), mas restringe seu


culto aos homens, os quais, todavia, prestam homenagem às mulheres,
castigadas por Olodumarê através dos abusos de Odu. Também por esta razão
é que as mulheres mortas são cultuadas coletivamente, e somente os homens
têm direito à individualidade, através do culto de egun

Xangô criador de Culto a Egungun


Alguns insistem em dizer que Xangô tem medo de Eguns, ou não gosta de
Eguns, aqui esta um testo que esclarece esta duvida!!!
Xangô é o fundador do culto aos Eguns, somente ele tem o poder de controlá-
los, como diz um trecho de um Itã:
"Em um dia muito importante, em que os homens estavam prestando culto aos
ancestrais, com Xangô a frente, as Iyámi Ajé fizeram roupas iguais as de
Egungun, vestiram-na e tentaram assustar os homens que participavam do
culto, todos correram mas Xangô não o fez, ficou e as enfrentou desafiando os
supostos espíritos. As Iyámis ficaram furiosas com Xangô e juraram vingança,
em um certo momento em que Xangô estava distraído atendendo seus súditos,
sua filha brincava alegremente, subiu em um pé de Obi, e foi aí que as Iyámis
Ajé atacaram, derrubaram a Adubaiyani filha de Xangô que ele mais adorava.
Xangô ficou desesperado, não conseguia mais governar seu reino que até
então era muito próspero, foi até Orunmilá, que lhe disse que Iyami é quem
havia matado sua filha, Xangô quiz saber o que poderia fazer para ver sua filha
só mais uma vez, e Orunmilá lhe disse para fazer oferendas ao Orixá Iku
(Oniborun), o guardião da entrada do mundo dos mortos, assim Xangô fez,
seguindo a risca os preceitos de Orunmilá.
Xangô conseguiu rever sua filha e pegou para sí o controle absoluto dos
mistérios de Egungun (ancestrais), estando agora sob domínio dos homens
este culto e as vestimentas dos Eguns, e se tornando estritamente proibida a
participação de mulheres neste culto, caso essa regra seja desrespeitada
provocará a ira de Olorun. Xangô , Iku e dos próprios Eguns, este foi o preço
que as mulheres tiveram que pagar pela maldade de suas ancestrais."

EGUNGUN

Egungun Babá Obá Olá

EGUNGUN – Nomes, Famílias, Rituais e Orikís

No ritual de Egungun, reside um dos maiores mistérios da cultura e ritualística


Yorubana e Dahomeana. O culto ao Egungun, é um culto aos antepassados
das pessoas falecidas que eram iniciadas no ritual dos Orixás ou Voduns ou
ainda, no próprio ritual de Egun. Este ritual não é uma propriedade africana
única. No Japão, existe uma semelhança no culto aos antepassados também,
e que é de prática nacional. É tão sério e popular, que consegue manter a
nação unida em torno desta prática. A única diferença entre estes dois cultos é
que no Japão não existe a materialização dos antepassados, enquanto que na
Nigéria, no Togo, Benin e Brasil, estas “aparições” são comuns e visíveis a
todos os presentes.

É também comum na Nigéria vê-se os Ojés (sacerdotes de Egungun),


provocando estas materializações, quando jogam várias roupas (axós – trajes)
de Egungun no chão e minutos após, estas começam a inflar e tomar formatos
humanos como se corpos existissem dentro de cada uma delas. Tais
fenômenos acontecem em plena luz do dia, na rua e diante dos olhos de todos.
O ritual começa no Ojubó (camarinha secreta), com oferendas, local onde as
roupas são abençoadas e recheadas dos “axés”(força e poder), do ritual.
Posteriormente, é feita a oferenda de um “agutã”(carneiro), sobre o “gbodô
(pilão) o qual será levado à praça pública e invertido no chão, ou seja, colocado
de cabeça para baixo. Após tais atos o Ologbô (sumo sacerdote de Egun)
manda distribuir as roupas de cada Egungun que irá se materializar, no chão
separadas a cada três metros. Ato contínuo, começam as cantorias sob o
rítimo frenético dos “abados” (abanadores de palha) batidos em bocas de
porrões” (grandes vasos de barro com bocas largas), acompanhados por “gans
e agogôs” (sinetas de metal). – Tudo isto segue uma ritualística e está
rigidamente dentro de uma hierarquia milenar.

Os “cargos” (títulos sacerdotais) estão dentro de uma nominação que assim


está determinada em escala ascendente: 1 Ojé – 2 Eiedun – 3 Ojé Lese Egun –
4 Ojé alagbá – 5 Alapini – 6 Alagbá e 7 Ologbô. – O ritual é masculino e só
permite a entrada de mulheres que sejam filhas de Oyá (Iasan) Igbalé, Oyá
Zagan, Oyá, Messe Egun, Oyá Tolú e Oyá Izô. Existe um cargo intermediário
com o nome de “Ojé Lesse Orisá”, que determina uma intermediação entre o
Egungun e o “sirê” (toque) de Orisás ligados aos antepassados. Este cargo e
ritual fica mais encravado no ritual de Geledê” da raiz Jêje.

Ritual

O ritual é complexo e exige uma iniciação demorada para aqueles que dele
querem fazer parte. A Invocação chamada “Zerim” ou “Sirrum” consiste de
cantigas ancestrais de louvação a cada Egun Babá e tem como base sonora os
potes (porrões) de boca larga, agogôs, cabaças e “oberós” (alquidares) com
água. Alguns “ilús” (tambores) também são usados e se diferenciam dos
demais por serem cobertos com couro de “agutan” (carneiro). As roupas
pertencentes aos Babás (pais) são confeccionadas em lantejoulas, vidrilhos,
canutilhos, espelhos, cetim, telas e uma mistura de tecidos variados
contrastantes entre si. Estas roupas não têm aberturas e são totalmente
fechadas da cabeça (que varia de tamanho e formato), até os pés.
O ritual começa no barracão com as chamadas e as roupas jogadas no chão
ou dependendo da “casa”, as roupas ficam dentro do “Ojubó” e à medida que
os Babá vão chegando, estas roupas vão inflando e tomando seus formatos
humanos(?), andando e falando. É comum ver-se um Babá sentar-se em um
trono e gradativamente começar a desinflar até esvasiar a roupa, diante de
todos os assistentes. Cada Babá tem a sua peculiaridade, sua cantiga própria,
sua entonação de voz, sua roupa e sua linhagem totêmica. Também
materializam presentes que deixam para seus filhos e amigos.

Os Babás não devem ser tocados por mão humana e para tanto são dirigidos
durante suas apresentações por Ojés que têm nas mãos os “Inxans” (vara de
amoreira) que os conduzem com pequenos toques. Porém, não raro, tanto na
Nigéria como no Benin ou Bahia, algumas vezes os Babás permitem que
alguém lhes apertem um braço ou uma mão para que todos tenham a certeza
de que não existe uma pessoa dentro daquela roupa. Os Babás gritam e falam
geralmente no dialeto Yorubá Castiço ou Ewe, no que é traduzido pelo Ojé que
o acompanha. Os Babás atendem a pedidos mediante a entrega de oferendas
(presentes) de momento com os mesmos escritos ou falados durante a
cerimônia.

BABÁS EGÚNS FAMOSOS – Nigéria – Benin – Bahia – Pernambuco

Estes são alguns dos Babás Egungun mais famosos no eixo África - Brasil.

Ojé Ladê – Opetenan – Fatunuké – MamaTeni – Atô – Arô – Ologbojô –


Aguian – Baká Baká - Alapiagan – Jootolú – Obilaré – Okin – Arisojí – Ode
Layielú – Oba Olá – Oyá Biyí – Lapampa – Sembé – Aparaká – Olúlu – Oyé
Ati – Élewe – Alarinsó – Ajóbiéwe – Ajofoyinbó – Aiyegunlá –
Alapansanpa – Elegbodó – Awuró - Ijépa – Épa – Élé Fin – Ilóró – Pepéiye
– Olókótun – Nouvavou – Mazaca – Zazi Boulonin – Zantahí – Wawá –
Nibho – Rataloni – Obé Erin – Ólójé – Ólóhan – Olóbá – Aládáfa – Eléfí,
Babá ALAPALÁ e Babá BANBUSHÊ ADINIMÓDÓ.

Estes são os mais famosos Babás do ritual de Egungun do Brasil e na África e,


que, de uma certa forma “capitaneiam” os destinos das pessoas e por quê não
dizer, o destino do Brasil.

Não se pode confundir Egun e Egungun. Eguns são todos os espíritos de


pessoas falecidas. Egunguns são espíritos de sacerdotes e sacerdotisas
falecidos, ou seja, pessoas que foram iniciadas no ritual do Orixá ou no próprio
ritual de Egungun.

Enquanto no âmbito dos Eguns, existem obsessores, e até mesmo demônios,


que viveram e que não viveram, os Egunguns são espíritos antepassados que
cuidam em dar continuidade à cultura e às tradições étnicas e tribais, para que
seus sucessores (os vivos) tenham a melhor condição de vida possível.
Egungun não aceita a mentira e a depravação e tão pouco a corrupção dos
costumes e da ritualística. Por esta razão, pouquíssimas são as “casas” de
candomblé de Egungun no Brasil, estando restritas à Ilha de Itaparica, na
Bahia, em locais conhecidos por “Amoreira” e “Barro Vermelho”. No final do
século XX e agora no século XXI, algumas tentativas de espalhar o ritual já
foram feitas. Algumas com sucesso, outras não. Há que se ressaltar a
homenagem ao grande Alagbá Aliba (Eduardo Daniel de Paula) na condução
do ritual de Egun em Amoreira. Também destaque para Didi (Deoscoredes dos
Santos), o Alapini de Itaparica, no seu trabalho de sucessão do falecido Aliba.
Apenas para demonstrar o poder do ritual de Egungun e seus sacerdotes,
destacamos da lista de Egungun acima o Babá Bambuxé Adinimodó, que em
1660 foi sumo sacerdote do Quilombo dos Palmares, em Alagoas, e
encarregado pelo destino (Odú) de preservar, no Brasil, através dos
ensinamentos, a raiz das tradições das diversas tribos africanas, para cá
trazidas durante o nefasto tráfico de escravos. Bambuxé foi a alma , o espírito,
o corpo e a mente estratégica e espiritual de Palmares, tendo como assessor o
Tata Kaundê e juntos deram muito trabalho às investidas dos soldados e
comandantes brancos em embates contra as tropas de Palmares. Não
teríamos esta relação e este conhecimento, não fossem os ensinamentos
místicos que Bambuxê nos legou através dos diversos discípulos que
consagrou.

Em nossa visita e vivência em Lagos, na Nigéria, fomos franquiados a


constatar e assistir alguns rituais de Egungun, realizadas em pleno dia em
praça pública, presenciando as materializações de vários Babás e com eles
tivemos a oportunidade de conversar, e trocando idéias, concluímos que eles
amam os seus descendentes no Brasil, hoje negros, mulatos, mestiços e
brancos. E conforme nos falou Babá Olobogjô e Babá Alapalá não tínhamos
ido à África para “catarmos axés” e sim buscar os nossos fundamentos e
conhecermos os nossos ancestrais de mais de quatrocentos anos. Para tanto,
nos deram roupas, comida e habitação, além de todo conhecimento possível.
Com todo orgulho, portanto, criamos esta página em homenagem àqueles que
nos possibilitaram existir geneticamente, mantendo o conhecimento da
ancestralidade, que nos mantém VIVOS.

Egun ayiê Ixibó Orún Móju Baré!!!


Se Alafiá

MAIORES INFORMAÇÕES SOBRE EGUNGUN E ORIXÁS VOCÊ ENCONTRARÁ


NO CAPÍTULO "OS ENSINAMENTOS MÍSTICOS DE BAMBUXÊ" NO LIVRO ZUMBI
DOS PALMARES, A HISTÓRIA DO BRASIL QUE NÃO FOI CONTADA, DE
EDUARDO FONSECA JÚNIOR. A TRADUÇÃO DOS TEXTOS EM YORUBÁ
PODERÁ SER FEITA COM AUXÍLIO DO DICIONÁRIO YORUBÁ-NAGÔ-
PORTUGUÊS OU O DICIONÁRIO PORTUGUÊS-YORUBÁ-AFRO-BRASILEIRO, DO
MESMO AUTOR.

Como Oyá ganha o Eruechim/Eruquerê de Odé e aprende a controlar os


Eguns!
Odé mesmo sendo o Rei de Ketu, gostava muito de cuidar dos seus afazeres,
pois como sempre foi muito ativo, não ficava feliz em ver apenas seus súditos
trabalhando. Odé sempre teve muito apreço por todas as formas de vida, já que
ele é o dono dos animais e a própria essência da vida silvestre, então todas as
manhas, Odé levava uma manada de búfalos de um lado para o outro dos
campos que estavam aos arredores da cidade de Ketu.
Todos os dias Odé fazia o mesmo percurso, e o mesmo trabalho, porém todos
os dias um dos búfalos desaparecia. Odé dono dos segredos, ficava muito
preocupado com seus búfalos, pois por cada um tinha um enorme carinho, já
que eram deles que provinham todo o leite e a carne que abastecia Ketu. Odé
então passa a cuidar onde estavam desaparecendo seus búfalos. Por muito
tempo Odé procurou, e não encontrava a resposta para esse mistério, até que
um dia, passado por um cemitério que ficava no trajeto habitual do trabalho do
Rei, Odé sente sede, e coloca o rebanho a tomar água em um pequeno córrego
que passava ao lado do cemitério. Então Odé percebe que por cima dos muros
do cemitério haviam Eguns que puxavam um dos búfalos para dentro, ficando
assim descoberto onde sumiam cotidianamente um dos animais de Odé.
Quando Odé ia tentar salvar seu animal, os búfalos para poderem tomar água
abaixaram suas cabeças e agitaram suas caldas, e os Eguns imediatamente
largaram o búfalo que estavam levando. Odé percebeu, que as caudas dos
búfalos espantavam os Eguns que ficavam com medo daquele chicote animal.
Voltando à Ketu, odé confecciona um chicote com as caldas dos búfalos abatidos
para a alimentação do povo, e todos os dias quando ia levar seu rebanho para
os pastos de Ketu, ao aproximar-se do cemitério, Odé agitava seu chicote e
espantava os Eguns famintos. Resolvido o mistério a cerca do desaparecimento
de seus búfalos, Odé viaja até Irê (Reino de Ogum) para visitar a família do
Senhor da Guerra. Chegando em Irê Odé encontra Oyá.
Oyá sempre foi muito próxima a Odé, pois como ele é escudeiro de Ogum, e ela
sua principal esposa, Odé e Oyá sempre estavam juntos. Odé percebia que Oyá
andava muito entristecida pela cidade de Irê, e a indagando descobre que Oyá
havia ganho de Xapanã o poder sobre os Eguns, porém, mesmo com tal poder,
ela não conseguia controlá-los. Odé por gostar muito da esposa de seu irmão,
presenteia Oyá com o Eruquerê/Eruechim e a ensina a controlar e espantar os
Eguns. Tornando assim eterna a gratidão de Oyá por Odé.

O Ítan em que Odé presenteia Oyá fica bem explicito no Orín Jeje de Odé:
"Oyà bere ké chá ou yà bere ke chá wá rà...Oyà gbogbo, Oyà bere ké chá Oyà
bere ke chá wá rà, Oyà gbogbo""
"Oyá curva-se, saúda o Rei de joelhos...Oyá é feliz, Oyá curva-se, Oyá curva-se,
Oyá é feliz!"

O Culto a Egungun- parte 1


Janeiro 11, 2012 por Fernando D'Osogiyan
Egun é o culto aos ancestrais masculinos, é elaborada pelas “Sociedades
Egungun”. Estas tem como finalidade elaborar ritos a homens que foram
figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando vivos.

Os Mortos do sexo feminino recebem o nome de Iyá-mi Agbá (minha mãe


anciã), porém, não são cultuadas individualmente. Sua energia como ancestral
é aglutinada de forma coletiva e representada por Ìyámi Osorongá chamada
também de Iyá Nlá, a grande mãe. Esta imensa massa energética que
representa o poder ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas
“Sociedades Gelèdé”, compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas
detem e manipulam esse poderoso poder. O medo da ira de Ìyámi nas
comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvou ao
poder feminino ancestra, os homens se vestem de mulher e usam máscaras
com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre
outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino. Além da
sociedade Gelèdé,existemtambém na Nigéria a Sociedade Oro. Este é o nome
dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não individualizados. Oro
é uma divindade tal qual Ìyámi Osorongá, sendo considerado o representante
geral dos antepassados masculinos e cultuados somente por homens. Tanto
Ìyámi quanto Oro são manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e
representam a coletividade, mas o poder de Ìyámi é maior e, portanto, mais
controlado, inclusive pela sociedade Oro.

Outra forma, e mais importante, é o culto aos ancestrais masculinos, é


elaborada pelas “Sociedades Egungun”. Estas têm como finalidade elaborar
ritos a homens que foram figuras destacadas em suas sociedades e
comuninadades quando vivos, para que eles continuem presentes entre os
seus descendentes de forma previlegiada, mantendo na morte a sua
individualidade. Esses mortos surgem de forma visível mais camuflada, a
verdadeira resposta religiosa da vida pós-morte, denominada Egun ou
Egungun. Somente os mortos do sexo masculino fazem aparições , pois só os
homens possuem ou matém a individualidade; as mulheres é negado este
previlégio, assim como participar diretamente do culto. Esses Eguns são
cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em locais e
templos com sacerdotes diferentes dos do culto dos Orixás. Embora todos os
sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma
uma só religião: a Yorubana.

No Brasil existem duas sociedades de Egungun, cujo tronco comum remonta


ao tempo da escravatura: O Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia, e
uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambos em Itaparica,
Bahia.

O Egungun é a morte que volta à terra espiritual e visivel aos olhos


dos vivos.Ele“nasce” através de ritos que sua comunidade elabora e pelas
mãos dos Ojés (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um
bastão ou vara chamado ixan, que, quando tocado na terra por tres vezes e
acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a “morte se torne vida”,
e o Egungun ancestral divinizado está de novo vivo.
A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto dos Orixás,
em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares
profanos, fiéis e iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão, causando
impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma
corporal humana totalmente recoberto com uma roupa de tiras multicoloridas ,
que caem da ´parte superior da cabeça formando uma grande massa de
panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a
roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, , chamada séégí ou sé, e
que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado Ijimerê na
Nigéria.
As tradições religiosas afirmam que sob a roupa está somente a energia do
ancestral; há também o transe mediúnico pois sob os panos está o mariwo
(iniciado no culto Egunun) em transe ou preparado para representar seu
ancestral, pelo sim pelo não, Egun está entre os vivos, e não se pode negar
sua presença, energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egun.
A roupa de Egun chamada de Eku na Nigéria ou opá na Bahia, ou Egungun
propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum
humano pode tocá-la. Todos os mariwoa usam ixan para controlar a morte , alí
representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocár-se , pois
como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada
por Egun se tornará assombrado, e o perigo o rondará. Ela então deverá
passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou,
talvez, a própria morte.

Ora, o Egun é a materialização da morte sob tiras de pano, e o contato, ainda


que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial.E mesmo os mais
qualificados sacerdotes, como os Ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por
um ou mais Eguns, desempenham todas essas funções substituindo as mãos
pelo Ixan.

Os Egun-Agbá (ancião), também chamados de baá-Egun (pai), são Eguns que


játiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam
mais completas e sua vozes sejam liberadas para que eles possam conversar
com os vivos.

Os Apaaraká são Eguns, ainda mudos e sua roupas são as mais simples: não
tem tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente outra
atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar
status de Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao
povo.

O eku dos Babá são divididos em três partes: o alabá, que é uma armação
quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a
extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de pano coloridas,
formando uma espécie de largas franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de
mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos,
do qual, também caem muitas tiras de pano na altura do tórax; e o banté, que é
uma larga tira de pano especial presa ao kafô e individualmente decorada e
que identifica o Babá. O banté que foi previamente preparado e impregnado de
axé, é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele o
sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o
ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na
roupa, este ato é altamente benéfico. na Nigéria, os Agbá-Egun portam o
mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre
o alabá máscaras esculpidas de madeira chamadas de Erê Egungun;outros
entre o alabá e o kafô, usam peles de animais; alguns Babás carregam na mão
o opá iku e, às vezes, o ixan. Nesses casos, a ira dos Babás é representada
por esses instrumentos litúrgicos.

Existem várias qualificações de Egun, como Babá e Apaaraká, conforme seus


ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se
comportarem. As classificações, são extensas.

Continua.
Pesquisa: Editora Minuano, revista:Candomblé Mitos e Lendas.
Texto de Aulo Barretti Filho,O Culto dos Eguns no Candomblé.

GUNS CULTO AO ACESTRAL

Baba Egungun ou Egun ou até mais conhecido como Egum é um ancestre


( relatiavamente é um ou vários membros de nossa família que
desencarnaram).

Na Nigéria, o culto a Egungun está relacionado aosancestrais. O


povo Yoruba acredita nesta energia porque entendem que não existiria o
presente e o futuro, sem a existência do passado. O culto é um dos mais
difundidos em toda a população Yoruba. Na Nigéria são quase 30 milhões de
pessoas que cultuam Egungun. Para se ter uma idéia da força desta energia, na
Nigéria os três orixás mais cultuados são Exu, Ogun e Egungun.

Egungun é considerado orixá - ele é a única energia que dá ao homem


condições de ser venerado depois de sua morte, dependendo do histórico da
vida da mesma.

O culto a Egungun é altamente mágico e secreto, por isso os Olojés (pessoas


que tem o poder de manipular a energia de Egungun) são respeitadíssimos.
Todas as pessoas podem se beneficiar da energia de Egungun para solucionar
problemas no amor, trabalho, saúde, espiritualidade, etc.

No Brasil o culto não é difundido como na Nigéria e apesar dos equívocos de


alguns pais e mães de santo, na Ilha de Itaparica, existe o culto
de Egungun considerado parecido ao da Nigéria. Em Itaparica o culto é
totalmente secreto, talvez esse o motivo de não se ter mutilado através dos
tempos, da escravidão aos tempos de hoje. O culto é equivocado no Brasil pois
muitas pessoas dizem que Egun é energia negativa, e isso não é verdade.

O que falta, talvez para as pessoas do Brasil, seria informações


sobre Egungun. O povoYoruba acredita em reencarnação, pois Egungun está
interligando vida e morte: assim que uma criança nasce, eles fazem todo um
procedimento para saber o destino da criança, manipulam oráculos, ou então
pedem a ajuda de babalawo que através de ifá, sabem se a criança é uma
encarnação de algum antepassado. Constatando-se o fato, é feito o ritual de
ikomojade, onde a criança terá um nome e é apresentada para a comunidade
com uma festa.

Este ritual de ikomojade é feito dessa maneira: para o menino só depois de


sete dias de vida e a menina após nove dias. O nome é muito importante para
os Yoruba.

Se os babalawo, ao consultarem o oráculo, constatam que a criança é uma


reencarnação de um antepassado, determinam o nome de babatunde (para
meninos) e iyabode (para meninas). Esses nomes são utilizados no caso de
reencarnação dos avós. Existem outros nomes que são dados dependendo do
que for analisado pelo oráculo, trazendo sorte ao destino da pessoa:

Egun = Babaegun (uma coisa só) = Energia positiva

Oku orun (cidadão do orun) = Energia positiva

Oku (espírito sem procedência) = Energia negativa

Na Nigéria, o culto a Egungun está relacionado aos ancestrais. O povo Yoruba


acredita nesta energia porque entendem que não existiria o presente e o futuro,
sem a existência do passado. O culto é um dos mais difundidos em toda a
população Yoruba. Na Nigéria são quase 30 milhões de pessoas que cultuam
Egungun. Para se ter uma idéia da força desta energia, na Nigéria os três orixás
mais cultuados são Exu, Ogun e Egungun.

Egungun é considerado orixá - ele é a única energia que dá ao homem


condições de ser venerado depois de sua morte, dependendo do histórico da
vida da mesma.

O culto a Egungun é altamente mágico e secreto, por isso os Olojés


(pessoas que tem o poder de manipular a energia de Egungun) são
respeitadíssimos. Todas as pessoas podem se beneficiar da energia de
Egungun para solucionar problemas no amor, trabalho, saúde, espiritualidade,
etc.

No Brasil o culto não é difundido como na Nigéria e apesar dos equívocos


de alguns pais e mães de santo, na Ilha de Itaparica, existe o culto de Egungun
considerado parecido ao da Nigéria. Em Itaparica o culto é totalmente secreto,
talvez esse o motivo de não se ter mutilado através dos tempos, da escravidão
aos tempos de hoje. O culto é equivocado no Brasil pois muitas pessoas dizem
que Egun é energia negativa, e isso não é verdade.

Egun = Babaegun (uma coisa só) = Energia positiva


Oku orun (cidadão do orun) = Energia positiva
Oku (espírito sem procedência) = Energia negativa

O que falta, talvez para as pessoas do Brasil, seria informações sobre


Egungun. O povo Yoruba acredita em reencarnação, pois Egungun está
interligando vida e morte: assim que uma criança nasce, eles fazem todo um
procedimento para saber o destino da criança, manipulam oráculos, ou então
pedem a ajuda de babalawo que através de ifá, sabem se a criança é uma
encarnação de algum antepassado. Constatando-se o fato, é feito o ritual de
ikomojade, onde a criança terá um nome e é apresentada para a comunidade
com uma festa.

Este ritual de ikomojade é feito dessa maneira: para o menino só depois


de sete dias de vida e a menina após nove dias. O nome é muito importante para
os Yoruba.

Se os babalawo, ao consultarem o oráculo, constatam que a criança é


uma reencarnação de um antepassado, determinam o nome de babatunde (para
meninos) e iyabode (para meninas). Esses nomes são utilizados no caso de
reencarnação dos avós. Existem outros nomes que são dados dependendo do
que for analisado pelo oráculo, trazendo sorte ao destino da pessoa:

Egun Sola
Egun Biyi
Egun Wale Oje Wale
Egun Gbami
Arugbo
Iyagba

No contexto yoruba, a morte é dolorosa, mas necessária para o ciclo da


reencarnação até que a mesma pessoa que morra, cumpra o seu plano de ori e
dependendo do histórico de vida a pessoa possa se englobar na energia de
egungun tornando-se venerável para a comunidade ou sociedade. Na Nigéria,
quando uma pessoa morre muito cedo, a sociedade e as pessoas da
comunidade ficam tristes, pois acham que a pessoa não gozou de todos os
benefícios terrestres, não aprendeu o que poderia ter sido aprendido, e por isso
fazem, durante o enterro, um ritual na floresta chamado Iremoje, onde a família
da pessoa morta pede para que nunca mais aconteça aquilo de novo na família
da pessoa. Pessoas que morrem muito cedo, não tiveram um destino bem
aventurado no contexto deles. Um outro ritual que existe é o chamado Axexe,
que também é um ritual fúnebre para pessoas que morrem com mais de noventa
anos, para pessoas que são anciãs. No axexe o povo fica alegre e prepara a
pessoas como se fosse para um festa: colocam a melhor roupa, penteiam os
cabelos do morto, se for mulher fazem trancinhas e pintam o rosto da pessoa e
dependendo do grau financeiro da pessoa eles dão uma festa para comemorar
o falecimento.
O ritual de axexe pode ser marcado com a presença de duas sociedades
Ogboni e as Iyami Osoronga. A presença dessas sociedades é fundamental
porque eles têm o poder de evocar a pessoa para conversar e saber como foi a
passagem, e se ela quer deixar uma mensagem para a família e se pode ser
distribuído os seus pertences para os familiares. A pessoa é preparada para o
Iremoje, onde os familiares cantam lamentando a morte e depois cantam o Ijala
onde falam das glórias conquistadas pela pessoa em vida, seguindo assim a
festa para homenagear a pessoa. Dependendo do histórico da vida da pessoa
que morreu, ela pode se englobar na energia de Egungun, mas para isso
acontecer a pessoa teria que ser boa com as pessoas, amiga, ter ajudado a
sociedade, enfim, teria que ser bem vista pela comunidade, o destino teria que
ser bem aventurado. Nessa ordem a família e a sociedade podem escolher a
pessoa como egungun, sendo assim todos beneficiados com a escolha e o
Egungun se tornaria guardião da família e da sociedade onde viveu.

Devotos de Egungun podem chegar a uma evolução espiritual muito


rápida, por se Egungun ligado à ancestralidade, isso quer dizer, a pessoa
desenvolve uma intuição, percepção e sabedoria muito apurada, tornando-se
assim muito forte (olojé).

Olojé são pessoas que manipulam as energias de Egungun. Esse título


é concebido a homens. As mulheres não podem manipular essa energia, mas
podem se beneficiar através dos olojés.

Gelede: Culto ao ancestral feminino, força também manipulada por


homens. As mulheres só veneram as geledes. Existe grande ligação com as Iya
Mi Osoronga onde as anciãs são profundas conhecedoras e na maioria das
vezes iniciadas nessa sociedade.

Cada sociedade das descritas acima, promove a sua festa anual, que
pode durar de 7 a 21 dias. Nesses dias os olojés e a comunidade, se preparam
para organizar a festa onde o Egungun se materializa com o corpo coberto de
panos e a máscara mágica (força essencial do Egungun), onde ele vem para
abençoar toda a comunidade e os familiares. A única participação da mulher no
culto de Egungun é marcada na benção da Iya Agan (mulher velha que conhece
o culto de Egungun). Sem essa benção Egungun não sai pela comunidade. Eles
vão de casa em casa abençoando com o erukere os seus cultuadores, família e
comunidade na qual é o guardião, sempre acompanhado pelos Atokuns que
guiam o Egungun para todos os lados. Os atokuns usam um tambor para
direcionar o Egungun.

Os olojés por sua vez, levam a magia de Egungun para as praças


mostrando ao público o seu poder. Por exemplo, os olojés usam o poder de
Egungun para fazer uma bananeira dançar. Isso geralmente acontece no final
da Festa de Egungun.

A festa é marcada por muita música, comidas fartas, alegria e grandeza.


Na Nigéria existe a iniciação para Egungun, porém há vários critérios a
se analisar:

1º - Analisar o grau de ligação da pessoa com Egungun


2º - Herança familiar (odu de nascimento)
3º - Vontade da pessoa
4º - A pessoa pode estar sonhando com Egungun
5º Consulta através dos oráculos podem determinar a iniciação

Todos estes elementos podem determinar a iniciação da pessoa em


Egungun.

Esse processo de iniciação é muito secreto. Para a pessoa ser iniciada


em Egungun, ela tem que ser uma pessoa que saiba guardar segredo: o bom
feiticeiro não revela seus dotes mágicos. A pessoa sela um pacto de segredo.
Esse pacto só será fechado depois que a pessoa come elementos preparados
para dar ligação da pessoa com Egungun. Aí ela se tornará membro do culto a
Egungun e com o tempo ela será um verdadeiro Olojé. Claro que ela tem que ter
força de vontade, humildade e paciência, lembrando-se de que uma vez iniciado
sempre iniciado pois não tem mais volta.

O assentamento de Egungun é formado por Iyangi, vários atori, osso da


canela de pessoas que já morreram, meias e um véu para tampar o rosto. Uma
pessoa viva veste todas estas roupas para o Egungun se materializar. A pessoa
fica em transe com o egungun materializado.

Os cultos de origem africana chegaram ao Brasil juntamente com os escravos.


Os iorubanos - um dos grupos étnicos da Nigéria, resultado de vários
agrupamentos tribais, tais como Keto, Oyó, Itexá, Ifan e Ifé, de forte tradição,
principalmente religiosa - nos enriqueceram com o culto de divindades
denominadas genericamente de orixás.(1 - Por motivos gráficos e para facilitar
a leitura, os termos em língua yorubá foram aportuguesados. Ex.: orisá = orixá.)

Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas
também seus ancestrais, principalmente os masculinos. A morte não é o ponto
final da vida para o iorubano, pois ele acredita na reencarnação (àtúnwa), ou
seja, a pessoa renasce no mesmo seio familiar ao qual pertencia; ela revive em
um dos seus descendentes. A reencarnação acontece para ambos os sexos; é
o fato terrível e angustiante para eles não reencarnar.

Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Iami Agbá (minha mãe anciã),
mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é
aglutinada de forma coletiva e representada por Iami Oxorongá, chamada
também de Iá Nlá, a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa
o poder de ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas "Sociedades
Geledê", compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e
manipulam este perigoso poder. O medo da ira de Iami nas comunidades é tão
grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino
ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características
femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia
entre o poder masculino e o feminino.

Além da Sociedade Geledê, existe também na Nigéria a Sociedade Oro. Este é


o nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não
individualizados. Oro é uma divindade tal qual Iami Oxorongá, sendo
considerado o representante geral dos antepassados masculinos e cultuado
somente por homens. Tanto Iami quanto Oro são manifestações de culto aos
mortos. São invisíveis e representam a coletividade, mas o poder de Iami é maior
e, portanto, mais controlado, inclusive, pela Sociedade Oro.

Outra forma, e mais importante de culto aos ancestrais masculinos é elaborada


pelas "Sociedades Egungum". Estas têm como finalidade celebrar ritos a
homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades
quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de
forma privilegiada, mantendo na morte a sua individualidade. Esse mortos
surgem de forma visível mas camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida
pós-morte, denominada Egum ou Egungum. Somente os mortos do sexo
masculino fazem aparições, pois só os homens possuem ou mantém a
individualidade; às mulheres é negado este privilégio, assim como o de participar
diretamente do culto.

Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade,
em locais e templos com sacerdotes diferentes dos dos orixás. Embora todos os
sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma
só religião: a iorubana.

No Brasil existem duas dessas sociedades de Egungum, cujo tronco comum


remonta ao tempo da escravatura: Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia,
e uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambas em Itaparica,
Bahia.

O Egum é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos
vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos
dos Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão
chamado ixã, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de
palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungum
ancestral individualizado está de novo "vivo".

A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás,
em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares
profanos, fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando
impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma
corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que
caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da
qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala
com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente
- característica de Egum, chamada de séègí ou sé, e que está relacionada com
a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria.
As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do
ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado
no culto de Egum) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os
mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo
não, Egum está entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética
ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egum.

A roupa do Egum - chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia -, ou o Egungum


propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum
humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixã para controlar a "morte", ali
representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como
é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por
Egum se tornará um "assombrado", e o perigo a rondará. Ela então deverá
passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou,
talvez, a própria morte.

Ora, o Egum é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato, ainda


que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais
qualificados sacerdotes - como os ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por
um ou mais Eguns - desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos
pelo ixã.

Os Egum-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egum (pai), são Eguns


que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas
sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam
conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns mudos e suas roupas são as
mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma
na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração
para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e
causam terror ao povo.

O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação
quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a
extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de panos coloridas,
formando uma espécie de franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas
que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos; e o banté,
que é uma tira de pano especial presa no kafô e individualmente decorada e que
identifica o Babá.

O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder,


energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e
abençoando os fiéis. Ele sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as
mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao
contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-
Egum portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais:
uns usam sobre o alabá mascaras esculpidas em madeira chamadas erê
egungum; outros, entre os alabá e o kafô, usam peles de animais; alguns Babá
carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixã. Nestes casos, a ira dos Babás é
representada por esses instrumentos litúrgicos.
Existem várias qualificações de Egum, como Babá e Apaaraká, conforme sus
ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se
comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.

Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo
após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da
cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através de
uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo.

Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários


amuxã (iniciados que portam o ixã) funcionam como guardas espalhados pelo
terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os perigosos
Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos ojés saiam do espaço delimitado
e invadam as redondezas não protegidas.

Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do
grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé
(bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde
somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.

Balé é o local onde estão os idiegungum, os assentamentos - estes são


elementos litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o Egum ali
cultuado - , e o ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado
por vários ixã, os quais, de pé, delimitam o local.

Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o


Egum a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da
divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única divindade
feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos próprios
Eguns.

No balé os ojê atokun vão invocar o Egum escolhido diretamente no


assentamento, e é neste local que o awo (segredo) - o poder e o axé de Egum -
nasce através do conjunto ojê-ixã/idi-ojubô. A roupa é preenchida e Egum se
torna visível aos olhos humanos.

Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuxã até a porta
secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando
espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos ojê, pelo
som dos amuxã, brandindo os ixã pelo chão e aos gritos de saudação e repiques
dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de Egum). O clima é realmente
perfeito.

O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde
estão os tambores e seus alabê e várias cadeiras especiais previamente
preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem,
descansam por alguns momentos na companhia dos outros, sentados ou
andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade.
Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o
culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas
mulheres que são exceção, como se fosse a própria Oyá; elas são geralmente
iniciadas no culto dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo
hierárquico) no culto de Egum - estas posições de grande relevância causam
inveja à comunidade feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto,
fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão,
respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente
elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais para Egum,
elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos orixás; após esta
saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres. Elas
funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao transmitir suas
mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas manias, e
sabem como agradá-los.

Este espaço sagrado é o mundo do Egum nos momentos de encontro com seus
descendentes. Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os amuxã
colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e ritual
dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do ixã que se evita o
contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o
invoca e o controla. às vezes, os mariwo são obrigados a segurar o Egum com
o ixã no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro
dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e
rispidamente, pois é o ojê que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande
respeito.

O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam as mulheres e


crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar
seus cânticos preferidos, porque cada Egum em vida pertencia a um
determinado orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio orixá e esta
característica é mantida pelo Egum. Por exemplo: se alguém em vida pertencia
a Xangô, quando morto e vindo com Egum, ele terá em suas vestes as
características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branca. Portará um
oxê (machado de lâmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que
toquem o alujá, que também é o ritmo preferido de Xangô, e dançará ao som dos
tambores e das palmas entusiastas e excitantemente marcadas pelo oiê
femininos, que também responderão aos cânticos e exigirão a mesma animação
das outras pessoas ali presentes.

Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a
todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um
possível iorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. Babá-Egum
começará perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos
oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas
que ali chegaram pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e
punindo, se necessário, fazendo o papél de um verdadeiro pai, presente entre
seus descendentes para aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral
disciplina comum às suas comunidades, funcionando como verdadeiro mediador
dos costumes e das tradições religiosas e laicas.
Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egum
parte, a festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá
partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.

Esta é uma breve descrição de Egungum, de uma festa e de sua sociedade, não
detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este
importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida
através das ancestralidades cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como
um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria.

O CULTO DOS EGUNS NO CANDOMBLÉ

Os negros iorubanos originários da Nigéria trouxeram para o Brasil o culto dos


seus ancestrais chamados Eguns ou Egunguns. Em Itaparica (BA), duas
sociedades perpetuam essa tradição religiosa.
(Revista Planeta n.º 162 - março 86)

Os cultos de origem africana chegaram ao Brasil juntamente com os escravos.


Os iorubanos - um dos grupos étnicos da Nigéria, resultado de vários
agrupamentos tribais, tais como Keto, Oyó, Itexá, Ifan e Ifé, de forte tradição,
principalmente religiosa - nos enriqueceram com o culto de divindades
denominadas genericamente de orixás.
(1 - Por motivos gráficos e para facilitar a leitura, os termos em língua yorubá
foram aportuguesados. Ex.: orisá = orixá.)

Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas
também seus Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas
divindades, mas também seus ancestrais, principalmente os masculinos. A
morte não é o ponto final da vida para o iorubano, pois ele acredita na
reencarnação (àtúnwa), ou seja, a pessoa renasce no mesmo seio familiar ao
qual pertencia; ela revive em um dos seus descendentes. A reencarnação
acontece para ambos os sexos; é o fato terrível e angustiante para eles não
reencarnar.

Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Iami Agbá (minha mãe anciã),
mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é
aglutinada de forma coletiva e representada por Iami Oxorongá, chamada
também de Iá Nlá, a grande mãe.

Esta imensa massa energética que representa o poder de ancestralidade


coletiva feminina é cultuada pelas "Sociedades Geledê", compostas
exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este
perigoso poder. O medo da ira de Iami nas comunidades é tão grande que, nos
festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens
se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam
para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder
masculino e o feminino (veja a lenda sobre Odu).

Além da Sociedade Geledê, existe também na Nigéria a Sociedade Oro. Este é


o nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não
individualizados. Oro é uma divindade tal qual Iami Oxorongá, sendo
considerado o representante geral dos antepassados masculinos e cultuado
somente por homens. Tanto Iami quanto Oro são manifestações de culto aos
mortos. São invisíveis e representam a coletividade, mas o poder de Iami é
maior e, portanto, mais controlado, inclusive, pela Sociedade Oro.

Outra forma, e mais importante de culto aos ancestrais masculinos é elaborada


pelas "Sociedades Egungum". Estas têm como finalidade celebrar ritos a
homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades
quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de
forma privilegiada, mantendo na morte a sua individualidade. Esse mortos
surgem de forma visível mas camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida
pós-morte, denominada Egum ou Egungum. Somente os mortos do sexo
masculino fazem aparições, pois só os homens possuem ou mantém a
individualidade; às mulheres é negado este privilégio, assim como o de
participar diretamente do culto.

Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua


sociedade, em locais e templos com sacerdotes diferentes dos dos orixás.
Embora todos os sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o
conjunto forma uma só religião: a iorubana.

No Brasil existem duas dessas sociedades de Egungum, cujo tronco comum


remonta ao tempo da escravatura: Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de
Areia, e uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambas em
Itaparica, Bahia (veja quadro histórico).

O Egum é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos
vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos
dos Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão
chamado ixã, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de
palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungum
ancestral individualizado está de novo "vivo".

A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás,
em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares
profanos, fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando
impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma
corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas,
que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos,
da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa.
Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e
estridente - característica de Egum, chamada de séègí ou sé, e que está
relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria (veja
lendas de Oyá).
As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do
ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo
(iniciado no culto de Egum) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do
culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim
ou pelo não, Egum está entre os vivos, e não se pode negar sua presença,
energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egum.

A roupa do Egum - chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia -, ou o


Egungum propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma,
nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixã para controlar a
"morte", ali representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-
se, pois, como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que
for tocada por Egum se tornará um "assombrado", e o perigo a rondará. Ela
então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de
doença ou, talvez, a própria morte.

Ora, o Egum é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato,


ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais
qualificados sacerdotes - como os ojé atokun, que invocamm, guiam e zelam
por um ou mais Eguns - desempenham todas essas atribuições substituindo as
mãos pelo ixã.

Os Egum-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egum (pai), são Eguns


que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas
sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam
conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns mudos e suas roupas são as
mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas telas,
uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de
elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis,
assustam e causam terror ao povo.

O eku dos Babá são divididos em três partes:


• o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu
que cobre totalmente a extremidade superior do Babá, e da qual caem várias
tiras de panos coloridas, formando uma espécie de franjas ao seu redor;
• o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam
igualmente em sapatos;
• o banté, que é uma tira de pano especial presa no kafô e individualmente
decorada e que identifica o Babá.

O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder,


energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e
abençoando os fiéis. Ele sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com
as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao
contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico.

Na Nigéria, os Agbá-Egum portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns


apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá mascaras esculpidas em
madeira chamadas erê egungum; outros, entre os alabá e o kafô, usam peles
de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixã. Nestes
casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.

Existem várias qualificações de Egum, como Babá e Apaaraká, conforme sus


ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se
comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.

Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo
após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da
cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através
de uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo
externo.

Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro.


Vários amuxã (iniciados que portam o ixã) funcionam como guardas
espalhados pelo terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os
perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos ojés saiam do espaço
delimitado e invadam as redondezas não protegidas.

Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do
grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé
(bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde
somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.

Balé é o local onde estão os idiegungum, os assentamentos - estes são


elementos litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o Egum ali
cultuado - , e o ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra,
rodeado por vários ixã, os quais, de pé, delimitam o local.
Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para
o Egum a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento
da divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única
divindade feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e
pelos próprios Eguns (veja Mitos Oyá-Egum).

No balé os ojê atokun vão invocar o Egum escolhido diretamente no


assentamento, e é neste local que o awo (segredo) - o poder e o axé de Egum
- nasce através do conjunto ojê-ixã/idi-ojubô. A roupa é preenchida e Egum se
torna visível aos olhos humanos.

Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuxã até a porta
secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando
espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos ojê, pelo
som dos amuxã, brandindo os ixã pelo chão e aos gritos de saudação e
repiques dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de Egum). O clima é
realmente perfeito.

O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte


onde estão os tambores e seus alabê e várias cadeiras especiais previamente
preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem,
descansam por alguns momentos na companhia dos outros, sentados ou
andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade.
Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos.

Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o
culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas
mulheres que são exceção, como se fosse a própria Oyá; elas são geralmente
iniciadas no culto dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo
hierárquico) no culto de Egum - estas posições de grande relevância causam
inveja à comunidade feminina de fiéis.

São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios, confeccionando
as roupas, mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os cânticos ou
puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar para os
Babá. Antes de iniciar os rituais para Egum, elas fazem uma roda para dançar
e cantar em louvor aos orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas
junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre os
atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem
todos os Babá, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los(ver quadro:
oiê femininos).

Este espaço sagrado é o mundo do Egum nos momentos de encontro com


seus descendentes. Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os
amuxã colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão
simbólica e ritual dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do ixã
que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o
instrumento que o invoca e o controla. às vezes, os mariwo são obrigados a
segurar o Egum com o ixã no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de
ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio
atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o ojê que por ele zela e o
invoca, pelo qual ele tem grande respeito.

O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam as mulheres e


crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a
cantar seus cânticos preferidos, porque cada Egum em vida pertencia a um
determinado orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio orixá e
esta característica é mantida pelo Egum.

Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e vindo com
Egum, ele terá em suas vestes as características de Xangô, puxando pelas
cores vermelha e branca. Portará um oxê (machado de lâmina dupla), que é
sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o ritmo
preferido de Xangô, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas
e excitantemente marcadas pelo oiê femininos, que também responderão aos
cânticos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes.

Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a
todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um
possível iorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. Babá-Egum
começará perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos
oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas
que ali chegaram pela primeira vez.

Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário, fazendo o


papél de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para
aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral disciplina comum às
suas comunidades, funcionando como verdadeiro mediador dos costumes e
das tradições religiosas e laicas.

Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egum


parte, a festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá
partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.

Esta é uma breve descrição de Egungum, de uma festa e de sua sociedade,


não detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este
importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida
através das ancestralidades cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como
um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da
Nigéria.

Manoel Gomes Filho


O 'Culto aos Egunguns,[1] é o culto aos ancestrais masculinos, uma vez que o
culto aos ancestrais femininos denomina-se Gelede[2] na religião yoruba e
outras religiões tradicionais africanas.

Índice
[esconder]

 1África
 2Brasil
o 2.1História
o 2.2Hierarquia
o 2.3Ritual
o 2.4Calendário Litúrgico
 3Bibliografia
 4Referências
 5Páginas externas

África[editar | editar código-fonte]


Segundo a tradição, o culto de Egungun é originário da região de Oyò,
na África. É um culto exclusivo de homens, sendo Alápini o cargo mais elevado
dentro do culto, tendo, como auxiliares, os Ojés. Todo integrante do culto
deegungun é chamado de Mariwó. Xangô (Sòngó) é o fundador do culto a
egungum: somente ele tem o poder de controlá-los, como diz um trecho de
um Itan:

Em um dia muito importante, em que os homens estavam


prestando culto aos ancestrais, com Xangô à frente,
as Yàmi fizeram roupas iguais às de Egungum, vestiram-na e
tentaram assustar os homens que participavam do culto. Todos
correram mas Xangô não o fez, ficou e as enfrentou, desafiando
os supostos espíritos. As Yàmi ficaram furiosas com Xangô e
juraram vingança. Em um certo momento em que Xangô estava
distraído atendendo a seus súditos, sua filha brincava
alegremente, subiu em um pé de obi, e foi aí que as Yàmi
atacaram e derrubaram Adubaiyni, a filha de Xangô que ele mais
adorava. Xangô ficou desesperado, não conseguia mais
governar seu reino, que, até então, era muito próspero. Foi
até Orunmilà, que lhe disse que Yàmi é que havia matado sua
filha. Xangô quis saber o que poderia fazer para ver sua filha só
mais uma vez, e Orunmilà lhe disse para fazer oferendas
ao orixá Ikù (Oniborun), o guardião da entrada do mundo dos
mortos. Assim fez Xangô, seguindo à risca os preceitos de
Orunmilà.
Xangô conseguiu rever sua filha e pegou para si o controle
absoluto dos egunguns (ancestrais), estando agora sob domínio
dos homens este culto e as vestimentas dos egunguns, e se
tornando terminantemente proibida a participação de mulheres
neste culto. Por terem provocado a ira de Olorum, Xangô, Ikú e
dos próprios egunguns, este foi o preço que as mulheres tiveram
que pagar pela maldade de suas ancestrais, as Yami. —
Brasil[editar | editar código-fonte]

Candomblé

Ilê Axé Iyá Nassô Oká - Terreiro da Casa


Branca - a casa de candomblé mais antiga de Salvador, na Bahia

Religiões afro-brasileiras

Princípios
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É o culto aos ancestrais masculinos, originário de Oyo, capital do império Nagô,


que foi implantado no Brasil no início do século XIX.
O culto principal aos egunguns é praticado na ilha de Itaparica, no estado
da Bahia, mas existem casas em outros estados.
Quanto ao aspecto físico, um terreiro de egungum ou egumapresenta,
basicamente, as seguintes unidades:

 um espaço público, que pode ser frequentado por qualquer pessoa, e que
se localiza numa parte do barracão de festas;

 uma outra parte desse salão, onde só podem ficar e transitar os iniciadores,
e para onde os eguns vêm quando são chamados, para se mostrar
publicamente;
 uma área aberta, situada entre o barracão e o Ilê Igbalé (ou Ilê Awô - a
casa do segredo), onde também se encontra um montículo de terra
preparado e consagrado, que é oassentamento de Onilé;

 um espaço privado ao qual só têm acesso os iniciados da mais alta


hierarquia, onde fica o Ilê Awô, com os assentamentos coletivos, e onde se
guardam todos os instrumentos e paramentos rituais, como
os Isan (pronuncia-se "ixan"), longas varas com as quais os Ojés invocam
(batendo no chão) e controlam os egunguns.
História[editar | editar código-fonte]
O culto a egum ou egungum veio da África junto com os orixástrazidos
pelos escravos. Era um culto muito fechado, secreto mesmo, mais que o dos
orixás, por cultuarem os mortos.
A primeira referência do culto de egum no Brasil, segundo Juana Elbein dos
Santos, foram duas linhas escritas por Nina Rodrigues, referindo-se a 1896,
mas existem evidências de terreiros de egum fundados por africanos no
começo do século XIX.
Os terreiros de egum mais famosos foram:[3]

 Terreiro de Vera Cruz: fundado por volta de 1820 por um africano chamado
"Tio Serafim", em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica. Ele trouxe, da África, o
egum de seu pai, invocado até hoje como Egun Okulelê. Faleceu com mais
de cem anos.

 Terreiro de Mocambo: fundado por volta de 1830 por um africano chamado


"Marcos-o-Velho" para distingui-lo do seu filho, na plantação de Mocambo,
Ilha de Itaparica. Teria comprado sua carta de alforria, anos mais tarde teria
voltado à África junto com seu filho Marcos Teodoro Pimentel, conhecido
como "Tio Marcos", lá permanecendo por muitos anos aperfeiçoando seus
conhecimentos litúrgicos, onde também seu filho foi iniciado. Quando
voltaram, trouxeram, com eles, o assento do Baba Olukotun, considerado o
Olori Egun, o ancestral primordial da nação nagô.

 Terreiro de Encarnação: fundado por volta de 1840 por um filho do Tio


Serafim, chamado "João-Dois-Metros" por causa de sua altura, no povoado
de Encarnação. Foi nesse terreiro que se invocou, pela primeira vez no
Brasil, o egum Baba Agboula, um dos patriarcas do povo Nagô.

 Terreiro de Tuntun: fundado por volta de 1850 pelo filho de Marcos-o-Velho,


chamado Tio Marcos, num velho povoado de africanos denominado Tuntun,
na Ilha de Itaparica. Marcos possuiu o título de Alapini, Ipekun Ojé,
Sacerdote Supremo do Culto aos Egunguns. Na tradição histórica Nagô, o
Alapini representa os terreiros de egum no afin, o palácio real.
Tio Marcos, Alapini, faleceu por volta de 1935, e, com sua morte, desapareceu
o terreiro do Tuntun, porém a tradição do culto a Baba Olokotun continuou
através de seu sobrinho Arsênio Ferreira dos Santos, que possuía o título de
Alagba. Este migrou para o Rio de Janeiro levando o assento de Baba
Olokotun para o município de São Gonçalo. Depois do falecimento de Arsênio,
os assentos dos Baba retornaram para Bahia, através do atual
Alapini, Deoscoredes M. dos Santos, conhecido como "Mestre Didi Axipá",
presidente da Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Axipá. Mestre Didi
foi iniciado na tradição do culto aos egunguns por Marcos e Arsênio.

 Terreiro do Corta-Braço: na Estrada das Boiadas, ponto de reunião de


praticantes da capoeira, atualmente bairro da Liberdade, cujo chefe era um
africano conhecido como Tio Opê. Um dos Ojé, sacerdotes do culto aos
egunguns, conhecido como "João Boa Fama", iniciou alguns jovens na Ilha
de Itaparica, que se juntariam com os descendentes de Tio Serafim e Tio
Marcos para fundarem o Ilê Agboulá, no bairro Vermelho, próximo à Ponta
de Areia.
Outros terreiros de egunguns foram registrados no final do século XIX: um,
localizado em Quitandinha do Capim, que cultuava os eguns Olu-Apelê e Olojá
Orum; o de Tio Agostinho, em Matatu, que se tornou ponto de concentração de
vários Ojés de outras casas, inclusive o alapini Tio Marcos; o Terreiro da
Preguiça, ao lado daIgreja da Conceição da Praia.

 Ilê Agboulá[4] : localizado em Ponta de Areia, na Ilha de Itaparica, o Ilê


Agboulá é, hoje, no Brasil, um dos poucos lugares dedicados
exclusivamente ao culto dos eguns. Sua fundação remonta ao primeiro
quarto doséculo XX por Eduardo Daniel de Paula, Tio Opê, Tio Serafim e
Tio Marcos, mas a comunidade que lhe deu origem e que lhe mantém os
fundamentos está estabelecida na ilha desde o século 19.

 Ilê Olokotun, na Ilha de Itaparica.

 Ilê Axipá - Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Axipá.


Hierarquia[editar | editar código-fonte]
Nas casas de egunguns, a hierarquia é patriarcal, só homens podem ser
iniciados no cargo de Ojé ou Babá Ojé, como são chamados. Essa hierarquia é
muito rígida: apesar de existirem cargos femininos para outras funções, uma
mulher jamais será iniciada para esse cargo.
Masculinos: Alapini (Sacerdote Supremo, Chefe dos alagbás), Alagbá (Chefe
de um terreiro), Atokun (guia de Egum), Ojê agbá (ojê ancião), Ojê (iniciado
com ritos completos), Amuixan (iniciado com ritos incompletos),Alagbê (tocador
de atabaque). Alguns oiê dos ojê agbá: Baxorun, Ojê ladê, Exorun, Faboun,
Ojé labi, Alaran, Ojenira, Akere, Ogogo, Olopondá.
Femininos: Iyalode (responde pelo grupo feminino perante os homens), Iyá
egbé (cabeça de todas as mulheres), Iyá monde (comanda as ató e fala com os
Babá), Iyá erelu (cabeça das cantadoras), erelu (cantadora), Iyá agan (recruta
e ensina as ató), ató (adoradora de egum). Outros oiê: Iyale alabá, Iyá kekere,
Iyá monyoyó, Iyá elemaxó, Iyá moro.
Ritual[editar | editar código-fonte]
Tanto a tradição Nagô como a Jeje e a Congo-Angola cultuam os ancestrais.
Para os Nagôs, existem, no Brasil três formas de cultuar os ancestrais: os Esa,
os Egungun e as Iya-mi Agba.
Os terreiros de candomblé possuem um local apropriado de adoração do
espírito de seus mortos ilustres, esse local é denominado de Ilê ibo aku, casa
de adoração aos mortos, enfim todos iniciados no culto aos Orixás.
Os Esa são considerados os ancestrais coletivos dos afro-brasileiros. Seu culto
se refere à comunidade em geral. O que destaca o Esa é o fato de ele ter-se
destacado em vida por servir a comunidade e de continuar atuando em outro
plano, contribuindo para o bom desenvolvimento do destino dos fiéis e da casa.
O Ilê ibo aku, onde são assentados e cultuados os Esa, é afastado do templo
onde são cultuados os orixás.
Os sacerdotes que são iniciados especialmente para cuidar do Ilê ibo aku não
são adoxu, isso é, não manifestam orixá. Os ancestrais cultuados no Ilê ibo aku
são diferentes dos cultuados no culto aos egunguns: no primeiro, são os
espíritos dos falecidos da casa de candomblé; no segundo, são os ara-orun em
geral e os espíritos dos ojés africanos ou brasileiros.
Os Esa são invocados e cultuados em diversas situações, especialmente
no padê e no axexê, quando é constituído o assentamento de um adoxu ou
dignitário ilustre falecido. O assento de Esa se caracteriza pela representação
da existência genérica, e o do egungum pela representação do espírito
individualizado. O egungum se caracteriza pela aparição no aiyê. Os Esa e os
Egun são invocados no padê.
Calendário Litúrgico[editar | editar código-fonte]
Calendário Litúrgico do Ilê Agboulá (obtido do Projeto Egungun):
As festas e obrigações obedecem, no Ilê Agboulá, a um bem elaborado
calendário litúrgico. Durante essas festas, podem ocorrer rituais não periódicos
e não obrigatoriamente integrados no calendário, como iniciação de novos
Amuixan ou de novos Ojé, ou mesmo obrigações e oferendas de outros
titulados da comunidade. Mas o calendário, mesmo, obedece o seguinte:
Janeiro - Em janeiro, por ocasião do ano-novo, as obrigações transcorrem até o
dia nove. Esses rituais começam com uma obrigação para Onilê, seguida de
outra para Babá Olukotun. Junto com esta, são celebradas as cerimônias
anuais em homenagem a Babá Alapalá e Babá Ologbojô.
Fevereiro - em fevereiro, começando no dia 2 e se estendendo por duas
semanas, ocorre uma festa muito especial, principalmente porque a
comunidade de Itaparica vive do mar e para o mar. É a festa
de Iemanjá eOxum, deusas das águas, e de Oxalá, o deus da criação.
Junho - em junho, na época do São João, realizam-se as festas de Babá Erin,
que é o egum de Eduardo Daniel de Paula, fundador da casa. As festas se
realizam por ocasião do ciclo de Xangô, que era o orixá de Eduardo. E atingem
grande brilhantismo porque, entre a comunidade do Ilê Agboulá, que é
descendente do povo de Oyó, a veneração a Xangô é muito forte.
Setembro - De 7 a 17 de setembro, ocorrem as festas de Babá Agboulá. Por
essa época é que é feita a colheita dos primeiros frutos na Ilha de Itaparica,
sob a proteção de Babá. E isto é muito importante pelo fato de, até bem pouco
tempo atrás, a Ilha de Itaparica ter sido o grande fornecedor de frutas para a
cidade de Salvador.
Bibliografia[editar | editar código-fonte]

 Sixteen Cowries: Yoruba Divination from Africa to the New World, Por
William Russell Bascom(em inglês)
 Encyclopedia of African Religion, Volume 1 editado por Molefi Kete Asante,
Ama Mazama(em inglês)
 Ancestralidade Africana no Brasil: Mestre Didi, 80 anos, Juana Elbein dos
Santos, SECNEB, Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil,
1997(em português)
 Marco Aurélio Luz, Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira,
Editora da Universidade Federal da Bahia, 2000(em português)

Referências

1. Ir para cima↑ S. O. Babayemi, Egúngún Among the Ọyọ Yoruba, Ọyọ


State Council for Arts and Culture, 1980
2. Ir para cima↑ Gẹlẹdẹ: Art and Female Power Among the Yoruba, Por
Henry John Drewal,Margaret Thompson Drewa
3. Ir para cima↑ Projeto Egungun Pesquisa e Coordenação do Projeto:
Juana Elbein dos Santos
4. Ir para cima↑ IPHAN Mais um terreiro recebe proteção do Iphan

Páginas externas[editar | editar código-fonte]

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