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EGUNS OU EGUNGUNS
EGUNS OU EGUNGUNS
O egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos
vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos
dos Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão
chamado ixã, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de
palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungum
ancestral individualizado está de novo "vivo".
A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás,
em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares
profanos, fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando
impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma
corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas,
que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos,
da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa.
Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e
estridente - característica de egun, chamada de séègí ou sé, e que está
relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria.
As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do
ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo
(iniciado no culto de egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do
culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim
ou pelo não, egun está entre os vivos, e não se pode negar sua presença,
energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é egun
O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação
quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a
extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de panos coloridas,
formando uma espécie de franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas
que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos; e o
banté, que é uma tira de pano especial presa no kafô e individualmente
decorada e que identifica o Babá.
O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder,
energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e
abençoando os fiéis. Ele sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com
as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao
contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os
Agbá-egun portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos
adicionais: uns usam sobre o alabá mascaras esculpidas em madeira
chamadas erê egungum; outros, entre os alabá e o kafô, usam peles de
animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixã. Nestes
casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.
Existem várias qualificações de egun, como Babá e Apaaraká, conforme sus
ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se
comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.
Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo
após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da
cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através
de uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo
externo.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o
culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas
mulheres que são exceção, como se fosse a própria Oyá; elas são geralmente
iniciadas no culto dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo
hierárquico) no culto de egun - estas posições de grande relevância causam
inveja à comunidade feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo
culto, fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no
salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que
somente elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais
para egun, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos orixás;
após esta saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres.
Elas funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao transmitir
suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas
manias, e sabem como agradá-los.
Este espaço sagrado é o mundo do egun nos momentos de encontro com seus
descendentes. Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os amuxã
colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e
ritual dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do ixã que se evita
o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o
invoca e o controla. às vezes, os mariwo são obrigados a segurar o egun com o
ixã no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao
encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir
rápida e rispidamente, pois é o ojê que por ele zela e o invoca, pelo qual ele
tem grande respeito
OS EGUNS
Os textos litúrgicos aqui apresentados fazem parte do jogo de Ifá, no qual seu
senhor e oráculo, a divindade Orumilá, nos ensina mitos e tradições que foram
mantidos através do próprio jogo. Esses conhecimentos, transmitidos a todos
oralmente, hoje se tornaram verdadeiras escrituras sagradas (atualmente,
vários pesquisadores já registraram em livros as lendas colhidas oralmente
entre os iniciados).
Através deles entendemos o porquê de certos ritos e preceitos usados e
conservados no dia-a-dia dos cultos. Vários textos explicam o mesmo fato ou
se complementam, e à vezes de forma diferente e aparentemente contraditória;
mas isto é reflexo de se terem originado em diferentes regiões. De uma forma
ou de outra, porém, chegam aos mesmos fundamentais conceitos religiosos.
PAREI AQUI
ORIGENS
De quatro em quatro dias (uma semana iorubana), Iku (a morte) vinha à cidade
de Ilê Ifé munida de um cajado (opá iku) e matava indiscriminadamente as
pessoas. Nem mesmo os orixás podiam com Iku.
Um cidadão chamado Ameiyegun prometeu salvar as pessoas. Para tal,
confeccionou uma roupa feita com várias tiras de pano, em diversas cores, que
escondia todas as partes do seu corpo, inclusive a própria cabeça, e fez
sacrifícios apropriados. No dia em que a Morte apareceu, ele e seus familiares
vestiram as tais roupas e se esconderam no mercado.
Quando a Morte chegou, eles apareceram pulando, correndo e gritando com
vozes inumanas, e ela, apavorada, fugiu deixando cair seu cajado. Desde
então a Morte deixou de atacar os habitantes de Ifé.
Os babalaôs (adivinhos e sacerdotes de Orumilá) disseram a Ameiyegun que
ele e seus familiares deveriam adorar e cultuar os mortos por todas as
gerações, lembrando como eles venceram a Morte.
EGUNGUN
Ritual
O ritual é complexo e exige uma iniciação demorada para aqueles que dele
querem fazer parte. A Invocação chamada “Zerim” ou “Sirrum” consiste de
cantigas ancestrais de louvação a cada Egun Babá e tem como base sonora os
potes (porrões) de boca larga, agogôs, cabaças e “oberós” (alquidares) com
água. Alguns “ilús” (tambores) também são usados e se diferenciam dos
demais por serem cobertos com couro de “agutan” (carneiro). As roupas
pertencentes aos Babás (pais) são confeccionadas em lantejoulas, vidrilhos,
canutilhos, espelhos, cetim, telas e uma mistura de tecidos variados
contrastantes entre si. Estas roupas não têm aberturas e são totalmente
fechadas da cabeça (que varia de tamanho e formato), até os pés.
O ritual começa no barracão com as chamadas e as roupas jogadas no chão
ou dependendo da “casa”, as roupas ficam dentro do “Ojubó” e à medida que
os Babá vão chegando, estas roupas vão inflando e tomando seus formatos
humanos(?), andando e falando. É comum ver-se um Babá sentar-se em um
trono e gradativamente começar a desinflar até esvasiar a roupa, diante de
todos os assistentes. Cada Babá tem a sua peculiaridade, sua cantiga própria,
sua entonação de voz, sua roupa e sua linhagem totêmica. Também
materializam presentes que deixam para seus filhos e amigos.
Os Babás não devem ser tocados por mão humana e para tanto são dirigidos
durante suas apresentações por Ojés que têm nas mãos os “Inxans” (vara de
amoreira) que os conduzem com pequenos toques. Porém, não raro, tanto na
Nigéria como no Benin ou Bahia, algumas vezes os Babás permitem que
alguém lhes apertem um braço ou uma mão para que todos tenham a certeza
de que não existe uma pessoa dentro daquela roupa. Os Babás gritam e falam
geralmente no dialeto Yorubá Castiço ou Ewe, no que é traduzido pelo Ojé que
o acompanha. Os Babás atendem a pedidos mediante a entrega de oferendas
(presentes) de momento com os mesmos escritos ou falados durante a
cerimônia.
Estes são alguns dos Babás Egungun mais famosos no eixo África - Brasil.
O Ítan em que Odé presenteia Oyá fica bem explicito no Orín Jeje de Odé:
"Oyà bere ké chá ou yà bere ke chá wá rà...Oyà gbogbo, Oyà bere ké chá Oyà
bere ke chá wá rà, Oyà gbogbo""
"Oyá curva-se, saúda o Rei de joelhos...Oyá é feliz, Oyá curva-se, Oyá curva-se,
Oyá é feliz!"
Os Apaaraká são Eguns, ainda mudos e sua roupas são as mais simples: não
tem tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente outra
atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar
status de Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao
povo.
O eku dos Babá são divididos em três partes: o alabá, que é uma armação
quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a
extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de pano coloridas,
formando uma espécie de largas franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de
mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos,
do qual, também caem muitas tiras de pano na altura do tórax; e o banté, que é
uma larga tira de pano especial presa ao kafô e individualmente decorada e
que identifica o Babá. O banté que foi previamente preparado e impregnado de
axé, é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele o
sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o
ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na
roupa, este ato é altamente benéfico. na Nigéria, os Agbá-Egun portam o
mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre
o alabá máscaras esculpidas de madeira chamadas de Erê Egungun;outros
entre o alabá e o kafô, usam peles de animais; alguns Babás carregam na mão
o opá iku e, às vezes, o ixan. Nesses casos, a ira dos Babás é representada
por esses instrumentos litúrgicos.
Continua.
Pesquisa: Editora Minuano, revista:Candomblé Mitos e Lendas.
Texto de Aulo Barretti Filho,O Culto dos Eguns no Candomblé.
Egun Sola
Egun Biyi
Egun Wale Oje Wale
Egun Gbami
Arugbo
Iyagba
Cada sociedade das descritas acima, promove a sua festa anual, que
pode durar de 7 a 21 dias. Nesses dias os olojés e a comunidade, se preparam
para organizar a festa onde o Egungun se materializa com o corpo coberto de
panos e a máscara mágica (força essencial do Egungun), onde ele vem para
abençoar toda a comunidade e os familiares. A única participação da mulher no
culto de Egungun é marcada na benção da Iya Agan (mulher velha que conhece
o culto de Egungun). Sem essa benção Egungun não sai pela comunidade. Eles
vão de casa em casa abençoando com o erukere os seus cultuadores, família e
comunidade na qual é o guardião, sempre acompanhado pelos Atokuns que
guiam o Egungun para todos os lados. Os atokuns usam um tambor para
direcionar o Egungun.
Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas
também seus ancestrais, principalmente os masculinos. A morte não é o ponto
final da vida para o iorubano, pois ele acredita na reencarnação (àtúnwa), ou
seja, a pessoa renasce no mesmo seio familiar ao qual pertencia; ela revive em
um dos seus descendentes. A reencarnação acontece para ambos os sexos; é
o fato terrível e angustiante para eles não reencarnar.
Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Iami Agbá (minha mãe anciã),
mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é
aglutinada de forma coletiva e representada por Iami Oxorongá, chamada
também de Iá Nlá, a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa
o poder de ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas "Sociedades
Geledê", compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e
manipulam este perigoso poder. O medo da ira de Iami nas comunidades é tão
grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino
ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características
femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia
entre o poder masculino e o feminino.
Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade,
em locais e templos com sacerdotes diferentes dos dos orixás. Embora todos os
sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma
só religião: a iorubana.
O Egum é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos
vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos
dos Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão
chamado ixã, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de
palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungum
ancestral individualizado está de novo "vivo".
A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás,
em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares
profanos, fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando
impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma
corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que
caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da
qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala
com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente
- característica de Egum, chamada de séègí ou sé, e que está relacionada com
a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria.
As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do
ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado
no culto de Egum) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os
mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo
não, Egum está entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética
ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egum.
O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação
quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a
extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de panos coloridas,
formando uma espécie de franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas
que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos; e o banté,
que é uma tira de pano especial presa no kafô e individualmente decorada e que
identifica o Babá.
Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo
após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da
cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através de
uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo.
Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do
grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé
(bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde
somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.
Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuxã até a porta
secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando
espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos ojê, pelo
som dos amuxã, brandindo os ixã pelo chão e aos gritos de saudação e repiques
dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de Egum). O clima é realmente
perfeito.
O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde
estão os tambores e seus alabê e várias cadeiras especiais previamente
preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem,
descansam por alguns momentos na companhia dos outros, sentados ou
andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade.
Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o
culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas
mulheres que são exceção, como se fosse a própria Oyá; elas são geralmente
iniciadas no culto dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo
hierárquico) no culto de Egum - estas posições de grande relevância causam
inveja à comunidade feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto,
fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão,
respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente
elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais para Egum,
elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos orixás; após esta
saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres. Elas
funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao transmitir suas
mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas manias, e
sabem como agradá-los.
Este espaço sagrado é o mundo do Egum nos momentos de encontro com seus
descendentes. Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os amuxã
colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e ritual
dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do ixã que se evita o
contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o
invoca e o controla. às vezes, os mariwo são obrigados a segurar o Egum com
o ixã no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro
dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e
rispidamente, pois é o ojê que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande
respeito.
Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a
todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um
possível iorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. Babá-Egum
começará perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos
oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas
que ali chegaram pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e
punindo, se necessário, fazendo o papél de um verdadeiro pai, presente entre
seus descendentes para aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral
disciplina comum às suas comunidades, funcionando como verdadeiro mediador
dos costumes e das tradições religiosas e laicas.
Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egum
parte, a festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá
partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.
Esta é uma breve descrição de Egungum, de uma festa e de sua sociedade, não
detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este
importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida
através das ancestralidades cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como
um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria.
Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas
também seus Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas
divindades, mas também seus ancestrais, principalmente os masculinos. A
morte não é o ponto final da vida para o iorubano, pois ele acredita na
reencarnação (àtúnwa), ou seja, a pessoa renasce no mesmo seio familiar ao
qual pertencia; ela revive em um dos seus descendentes. A reencarnação
acontece para ambos os sexos; é o fato terrível e angustiante para eles não
reencarnar.
Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Iami Agbá (minha mãe anciã),
mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é
aglutinada de forma coletiva e representada por Iami Oxorongá, chamada
também de Iá Nlá, a grande mãe.
O Egum é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos
vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos
dos Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão
chamado ixã, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de
palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungum
ancestral individualizado está de novo "vivo".
A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás,
em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares
profanos, fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando
impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma
corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas,
que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos,
da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa.
Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e
estridente - característica de Egum, chamada de séègí ou sé, e que está
relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria (veja
lendas de Oyá).
As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do
ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo
(iniciado no culto de Egum) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do
culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim
ou pelo não, Egum está entre os vivos, e não se pode negar sua presença,
energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egum.
Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo
após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da
cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através
de uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo
externo.
Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do
grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé
(bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde
somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.
Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuxã até a porta
secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando
espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos ojê, pelo
som dos amuxã, brandindo os ixã pelo chão e aos gritos de saudação e
repiques dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de Egum). O clima é
realmente perfeito.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o
culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas
mulheres que são exceção, como se fosse a própria Oyá; elas são geralmente
iniciadas no culto dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo
hierárquico) no culto de Egum - estas posições de grande relevância causam
inveja à comunidade feminina de fiéis.
São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios, confeccionando
as roupas, mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os cânticos ou
puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar para os
Babá. Antes de iniciar os rituais para Egum, elas fazem uma roda para dançar
e cantar em louvor aos orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas
junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre os
atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem
todos os Babá, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los(ver quadro:
oiê femininos).
Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e vindo com
Egum, ele terá em suas vestes as características de Xangô, puxando pelas
cores vermelha e branca. Portará um oxê (machado de lâmina dupla), que é
sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o ritmo
preferido de Xangô, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas
e excitantemente marcadas pelo oiê femininos, que também responderão aos
cânticos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes.
Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a
todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um
possível iorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. Babá-Egum
começará perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos
oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas
que ali chegaram pela primeira vez.
Índice
[esconder]
1África
2Brasil
o 2.1História
o 2.2Hierarquia
o 2.3Ritual
o 2.4Calendário Litúrgico
3Bibliografia
4Referências
5Páginas externas
Candomblé
Religiões afro-brasileiras
Princípios
Básicos Deus queto | Olorum | OrixásJeje | Mawu | Vodun Banto | Nzambi |
Nkisi
um espaço público, que pode ser frequentado por qualquer pessoa, e que
se localiza numa parte do barracão de festas;
uma outra parte desse salão, onde só podem ficar e transitar os iniciadores,
e para onde os eguns vêm quando são chamados, para se mostrar
publicamente;
uma área aberta, situada entre o barracão e o Ilê Igbalé (ou Ilê Awô - a
casa do segredo), onde também se encontra um montículo de terra
preparado e consagrado, que é oassentamento de Onilé;
Terreiro de Vera Cruz: fundado por volta de 1820 por um africano chamado
"Tio Serafim", em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica. Ele trouxe, da África, o
egum de seu pai, invocado até hoje como Egun Okulelê. Faleceu com mais
de cem anos.
Sixteen Cowries: Yoruba Divination from Africa to the New World, Por
William Russell Bascom(em inglês)
Encyclopedia of African Religion, Volume 1 editado por Molefi Kete Asante,
Ama Mazama(em inglês)
Ancestralidade Africana no Brasil: Mestre Didi, 80 anos, Juana Elbein dos
Santos, SECNEB, Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil,
1997(em português)
Marco Aurélio Luz, Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira,
Editora da Universidade Federal da Bahia, 2000(em português)
Referências