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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AJSN
Nº 71001539196
2007/CÍVEL

AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. TRANSPORTE


AÉREO. VIOLAÇÃO DE BAGAGEM COM
ALEGADA SUBTRAÇÃO DE DINHEIRO.
ELEMENTOS INDICIÁRIOS A DAR SUSTENTO À
VERSÃO DA AUTORA.
- Restando provado que efetivamente houve violação do
lacre da mala da autora, imediatamente constatado
quando da chegada do avião no destino, com alegada
subtração de numerário do interior, em quantia módica,
e tendo ficado igualmente comprovado o transtorno e
abalo sofrido pela autora com a circunstância, é possível
a identificação de danos morais, com arbitramento
eqüitativo de seu valor.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

RECURSO INOMINADO TERCEIRA TURMA RECURSAL


CÍVEL
Nº 71001539196 COMARCA DE PORTO ALEGRE

VIVIANE ROCHA LOPES RECORRENTE

BRA - TRANSPORTES AEREOS RECORRIDO


LTDA

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Juízes de Direito integrantes da Terceira Turma
Recursal Cível dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do
Sul, à unanimidade, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DR. EUGÊNIO FACCHINI NETO (PRESIDENTE) E DR.
EDUARDO KRAEMER.
Porto Alegre, 24 de junho de 2008.

DR. AFIF JORGE SIMOES NETO,


Relator.

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R E L AT Ó R I O

Trata-se de ação ajuizada por Viviane Rocha Lopes em face


da BRA Transportes Aéreos S/A. Alega a autora ter sido furtada de sua
bagagem a importância de R$ 500,00, no dia 03/06/2007, no vôo até Natal.
Disse que só verificou o furto no hotel. Postula o ressarcimento do valor
noticiado, mais o valor do lacre e da mala e danos morais, num total de R$
6.235,00.

Em audiência, foi inquiridas apenas uma testemunha (fl. 116)

Contestado o feito (fls. 44/59), alegou a inexistência de


obrigação de indenizar pela ausência de provas. Não há demonstração de
que a autora realmente possuía ou carregava o numerário apontado. Disse
que é orientação da companhia de que dinheiro e objetos de valor não
podem ser despachados pelos passageiros, devendo levar consigo. Alega
não poder se responsabilizar por qualquer dano na bagagem quando a
mesma já saiu da área de desembarque. Postulou a improcedência da ação.

Após a apresentação de memoriais, o feito foi sentenciado (fls.


128/132), com julgamento de improcedência do pedido inicial.

A autora recorreu (fls. 133/142), repisando o pedido formulado


inicialmente, pugnando a reforma da sentença e procedência da demanda.

Com contra-razões, vieram-me conclusos os autos.

É o relatório.

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VOTOS
DR. AFIF JORGE SIMOES NETO (RELATOR)

Merece parcial acolhida o recurso.

De fato, restou incontroverso nos autos que ocorreu a violação


do lacre da mala da autora. Isso está evidenciado pelas fotos juntadas, pela
declaração de fl. 37 e pelo depoimento de fl. 116.

Também foi demonstrado que a autora deu-se imediatamente


conta do fato de que sua mala fora violada, restando visivelmente abalada,
tentando solucionar a situação ainda no aeroporto, o que não foi possível
por não estar disponível o local da companhia aérea para reclamações do
gênero, já que o vôo chegara de madrugada. Também quanto a isso a
declaração e o depoimento acima referidos comprovam tal circunstância. E
por essa razão a autora, no dia seguinte, foi até uma Delegacia de Polícia e
registrou uma ocorrência policial, narrando todo o sucedido.

Assim, tenho como provado que a autora sofreu abalos que


superaram o simples nível dos quotidianos incômodos da vida de relação.
Sua bagagem foi violada – e a bagagem que carregamos conosco é também
um pouco de nós mesmos, podendo tal ato ilícito ser caracterizado também
como violador da própria privacidade – e dela subtraído (alegadamente)
numerário que fora levado para passar uma semana em Natal. A reação da
autora, narrada pelo depoimento e declaração trazido aos autos, foi
compatível com tais danos.

É verdade de que não há prova efetiva da existência de valores


na bagagem – sabendo-se, quanto a esse aspecto, que não é minimamente
recomendável a inclusão de numerário em malas despachadas. Todavia,
seria de difícil prova tal circunstância, caso a autora estivesse dizendo a
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verdade. Tratando-se de relação de consumo, e não sendo despropositada a


versão, é até possível a presunção de sua veracidade. Se fosse para mentir,
então provavelmente a autora referiria a existência de uma quantia superior
aos quinhentos reais que refere ter sido subtraído.

Também é duvidoso se o dano à mala a tornaria imprestável,


não sendo passível de conserto. Seria necessária a aquisição de nova
mala? Quanto a isso, a prova é frágil.

Assim, diante de tais circunstâncias, creio que a solução mais


razoável é aquela de usar a autorização para julgar por eqüidade, presente
tanto no CDC quanto na Lei 9.099/95, e arbitrar um valor razoável para a
globalidade dos danos sofridos pela autora. Para tal efeito, arbitra-se em
R$2.000,00 tal valor.

Destarte, VOTO em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO


RECURSO, para o fim de julgar parcialmente procedente a ação e
condenar a ré ao pagamento da importância de R$2.000,00 (dois mil
reais).

Caso não haja pagamento espontâneo, no prazo de 15 dias do


trânsito em julgado deste acórdão, tal valor será acrescido da multa de 10%
prevista no art. 475-J, do CPC.

Sem ônus sucumbenciais, ante o resultado do julgamento.

DR. EUGÊNIO FACCHINI NETO (PRESIDENTE) - De acordo.


DR. EDUARDO KRAEMER - De acordo.

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DR. EUGÊNIO FACCHINI NETO - Presidente - Recurso Inominado nº


71001539196, Comarca de Porto Alegre: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO,
UNÂNIME."

Juízo de Origem: 6.JUIZ.ESPECIAL CIVEL REG TRISTEZA PORTO


ALEGRE - Comarca de Porto Alegre

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