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Título: Óleo de semente de uva

ÓLEO DE SEMENTE DE UVA:


EFEITO DE PARÂMETROS SOBRE O RENDIMENTO NA EXTRAÇÃO

Irma Patrícia Kühn Arroyo, Aluna de Graduação


Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos da UFSC

RESUMO
O óleo de semente de uva possui características que o tornam muito superior aos óleos
comercialmente utilizados no consumo humano. Rico em ácido linoleico, possui grande poder
antioxidante em decorrência da presença de vitamina E em sua composição; é um produto muito
importante na prevenção de doenças coronárias e é amplamente utilizado na indústria cosmética
para produção de loções e cremes para fins estéticos.
As indústrias que processam a uva no Brasil são, na sua maioria, vinícolas que consideram
a semente de uva como um rejeito. Desta forma, pode-se considerar que o custo de produção do
óleo de semente de uva deve-se, basicamente, ao processo de extração. O processo típico de
extração é através de solventes como o n-hexano. O rendimento do processo bem como a
composição do produto final dependem da interação de diversas variáveis.
Este trabalho apresenta um estudo experimental realizado com o objetivo de otimizar as
condições de extração visando maximizar o rendimento. Os resultados são submetidos a um
tratamento estatístico e o óleo obtido tem sua composição determinada através de análises
cromatográficas.

1. INTRODUÇÃO
Os óleos e as gorduras têm sido reconhecidos como nutrientes essenciais tanto nas dietas
animais como na humana. Constituem a fonte de energia mais concentrada conhecida.
Comportam ácidos graxos essenciais (precursores de importantes hormônios, as
prostaglandinas), influem em grande medida sobre o sabor dos alimentos, transportam vitaminas
lipossolúveis e tornam os alimentos mais apetitosos. Os óleos e as gorduras estão presentes nos
alimentos em quantidades muito variadas. As principais fontes de gordura na dieta humana são:
carnes, produtos lácteos, frango, pescado, frutas secas e óleos e gorduras vegetais. A maioria
das verduras e frutas secas contém pequenas quantidades de gordura. Dados do Departamento
Norte Americano de Agricultura e do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (ZILLER,
1996) sugerem que o consumo anual de gorduras é responsável por cerca de 34% das calorias
totais na dieta humana. O conhecimento da composição química de óleos e de gorduras, e das
fontes a partir das quais são obtidos são essenciais para compreender a nutrição e a bioquímica
destes.
Este trabalho foi realizado objetivando determinar a influência das variáveis granulometria
da semente de uva, solvente e tempo de extração sobre o rendimento do processo. Foi utilizado o
planejamento estatístico dos experimentos, que mostrou eficácia tanto na otimização dos
resultados como na determinação da quantidade de experimentos necessários para tal.

2. ÓLEO DE SEMENTE DE UVA


Desde 1930 o óleo de semente de uva vem sendo usado como óleo comestível.
Alemanha, França e Itália foram os primeiros países a beneficiarem a semente de uva, enquanto
que na América do Sul foram Argentina e Chile. Os maiores produtores mundiais de óleo de
semente de uva são Estados Unidos, Espanha e Itália (MIGUEL, 1983).
No Brasil as sementes de uva eram usadas como ração para gado ou serviam como
aterro, não sendo destinadas a nenhum uso mais importante. Atualmente já se sabe do grande
potencial econômico que o óleo de semente de uva comporta.
Óleos e gorduras são constituídos predominantemente de triésteres de ácidos graxos e
glicerol (FENNOCHIO, 1972), chamados comumente de triglicerídeos. São insolúveis em água e
solúveis na maioria dos solventes orgânicos. São menos densos que a água e à temperatura
ambiente variam de consistência desde sólidos a líquidos. Quando são sólidos denominamos de
gorduras (saturadas) e quando são líquidos de óleos (insaturados).
O óleo de semente de uva é rico em tocoferol (vitamina E - antioxidante) principalmente
sob a forma de alfa-tocoferol. Também possui grandes quantidades de ácidos graxos,
destacando-se o elevado teor de ácido linoleico (ácido graxo essencial ao homem e que está
ausente na maioria dos outros óleos comumente usados como os de soja, milho e algodão)
(MORETTO et al, 1998).
Devido às suas excepcionais qualidades, o óleo de semente de uva pode substituir
praticamente todos os óleos vegetais tradicionalmente consumidos. As principais áreas de
aplicação do óleo de semente de uva são:
• Alimentos → como óleo comestível é de especial utilidade, substituindo com vantagens o
azeite. Sua digestibilidade é de 97,2% enquanto que a do azeite é de 95%;
• Indústria de tintas → empregado como óleo secante no preparo de tintas;
• Indústria Farmacêutica → possui grande potencial nos medicamentos para uso interno que
precisam de óleo como veículo (transporte). Por possuir vitamina E (alto poder antioxidante), o
óleo de semente de uva protege da degradação outras substâncias que estiverem, juntamente
com ele, inseridas nos medicamentos.
• Indústria Química → usado na fabricação de sabonetes finos e sabões e no preparo de
emulsões (loções e cremes). Seu uso resulta na obtenção de um produto de alta qualidade e com
vantagens econômicas, que inclusive substitui o tradicional óleo de amêndoas doces (importado
da Espanha). É usado também por gestantes para evitar “estrias” (rompimento do tecido adiposo
nas partes dilatadas pela gestação) (MIGUEL, 1983).
Recentemente extratos de óleo de semente de uva têm-se mostrado importantes por
possuírem bioflavonóide, complexo conhecido como Procyanidolic oligomeric (PCO ou OPC) que
foi descoberto ser vinte vezes mais potente que a vitamina C e cinqüenta vezes mais potente que
a vitamina E. Estes bioflavonóides atuam como limpadores dos radicais livres assim como as
vitaminas C, E e Beta Caroteno, porem sua função está num plano superior. (http://www.vitamin-
planet.com/nutrition/grape_seed_extract.htm)

(a) (b) (c)


Figura 1 – Exemplos de produtos comerciais fabricados a partir do óleo de semente de uva. (a)
óleo comestível, (b) molho para saladas (http://grapeseedoilcorp.com/economy.html) e (c)
cápsulas de extrato de óleo de semente de uva para fins medicamentosos
(http://www.cibervitamins.com/pbiocom.htm).

3. MATERIAS E MÉTODOS
A semente de uva usada nestes experimentos era originária de plantações localizadas em
Videira/SC e destinadas à indústria de vinhos da Epagri.
A semente foi submetida à moagem nos tempos de 5 e 15 s e, posteriormente, 1 e 2 min,
utilizando-se para tal um moedor de café doméstico. Em seguida, procedeu-se à secagem da
mesma.
A medida da granulometria foi efetuada via peneiramento.
Foram realizadas extrações com solventes tipo sohxlet, especificamente n-hexano
(comercializável na maioria das indústrias) e éter etílico anidro. Os tempos de extração foram de 3
e 6 h.
O rendimento do processo foi definido como sendo a massa de óleo extraída em função da
massa de semente de uva usada na extração.
A seqüência dos experimentos seguiu um planejamento estatístico (NETTO et al, 1996). A
partir dos resultados preliminares, verificou-se o efeito de cada uma das variáveis de estudo
(granulometria da semente, solvente e tempo de extração), e direcionou-se a etapa subseqüente
de experimentos em função destas análises. Este procedimento foi novamente adotado quando
dos resultados da segunda etapa.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Variando-se o tipo de solvente e o tempo na extração, bem como a granulometria da
semente (tempo de moagem) de acordo com valores preliminarmente especificados, obtiveram-se
os rendimentos mostrados na Tabela 1.

Tabela 1 – Rendimento do processo em função do tempo de moagem, do tipo de solvente e do


tempo na extração. Solventes: 1 - n-hexano e 2 - éter etílico anidro.
solvente 1 1 1 1 2 2 2 2
tempo de extração (h) 3 6 3 6 3 6 3 6
tempo de moagem (s) 5 5 15 15 5 5 15 15
rendimento (%) 4.48 4.20 5.83 8.20 3.59 3.66 8.01 8.32

Através das interações entre os fatores S - solvente, T - tempo de extração e G - tempo


de moagem e da média dos resultados obtidos, obteve-se o modelo matricial mostrado na Tabela
2. O erro, calculado através da equação

S2= (1/n-1) Σ ( xi-xmed )2


é de 0,375. Os valores contidos na Tabela 2 que estejam próximos ao erro devem ser
desprezados, já que exibem uma influência da mesma ordem do erro. Valores maiores causam
algum tipo de influência na interação, ou seja, causam efeito sobre o experimento.
Os resultados indicam que o tempo de extração (T) e a interação TG exercem efetiva
influência sobre o rendimento do processo.
Calculando-se a variância dos resultados, nota-se que o fator tipo de solvente não tem
efeito significativo sobre o rendimento do processo: este praticamente permanece inalterado. Em
função desses resultados, decidiu-se pelo uso do n-hexano pelo fato deste solvente ser menos
volátil que o éter e já ser utilizado comercialmente nas indústrias de extração de óleo.

Tabela 2 – Cálculo matricial dos fatores de interação na extração do óleo de semente de uva para
o primeiro grupo de experimentos.

Significação dos símbolos


G – tempo de moagem
S - solvente
T – tempo de extração
5s
15 s

+
n-hexano
Éter etílico anidro

+
3h
6h

+

Figura 2 – Faixa de distribuição do tamanho do grão em função do tempo de moagem.

Visando isolar o efeito de cada uma das variáveis significativas no processo, procedeu-se
a uma segunda etapa de experimentos onde apenas a granulometria foi variada, aumentando-se
o tempo de moagem para tal. A Figura 2 apresenta os valores de granulometria em função do
tempo de moagem. Note-se que menores tempos de moagem levam a uma expressiva
concentração de partículas dentro de uma pequena faixa de variação de tamanho. Maiores
tempos de moagem não só diminuem o tamanho de partícula bem como aumentam a faixa de
distribuição de tamanhos. A Tabela 3 mostra o rendimento do processo de extração em função da
granulometria da semente enquanto que a Tabela 4 apresenta os resultados das interações entre
os fatores de estudo.
Como pode ser constatado nas Tabelas 3 e 4, houve um significativo aumento do
rendimento e da interação GT quando da redução da granulometria da semente de uva. Buscando
um possível rendimento máximo, decidiu-se por aumentar o tempo de extração e refinar ainda
mais a granulometria numa terceira etapa de experimentos. As Tabelas 5 e 6 apresentam os
resultados então obtidos.

Tabela 3 – Rendimento do processo em função do tempo de moagem da semente e do tempo de


extração. Solvente: n-hexano.
tempo de extração (h) tempo de moagem rendimento (%)
1.5 5s 7.7
1.5 15 s 6.47
1.5 1 min 10.286
3 5s 8.80
3 15 s 7.8
3 1 min 11.3

Tabela 4 – Cálculo matricial dos fatores de interação na extração do óleo de semente de uva para
o segundo grupo de experimentos.
Tabela 5 – Rendimento do processo em função do tempo de moagem da semente e do tempo de
extração. Solvente: n-hexano.
tempo de extração (h) tempo de moagem (min) rendimento (%)
3 1 11.94
6 1 11.69
3 2 11.06
6 2 11.54

Tabela 6 – Cálculo matricial dos fatores de interação na extração do óleo de semente de uva para
o terceiro grupo de experimentos.

Tabela 5 – Resultados obtidos das análises feitas com o óleo extraído.


Ácido Graxo % m/m
Mirístico 0,32
Palmítico 8,16 Índice de acidez : 2,71
Palmitoléico 0,24 Acidez em ácido oléico : 5,89
Esteárico 3,39 Acidez em solução normal por cento : 20,90
Oléico 17,46 Teor de tocoferol em mg/100g de óleo : 413,18
Linoléico 70,10
Linolênico 0,33

Estes resultados indicam que não se verificam ganhos substanciais em rendimento com o
aumento do tempo de extração ou com a diminuição da granulometria.
A Tabela 7 apresenta os resultados das análises de composição do óleo de semente de
uva obtido nestes experimentos, realizadas pelo método Hartman & Lago (1973).

5. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos permitem concluir que
• o planejamento estatístico é uma ferramenta eficaz que conduz não apenas a otimização da
experimentação bem como a redução da quantidade de experimentos;
• dentre as variáveis estudadas – granulometria da semente de uva, tempo e solvente de extração
– apenas as duas primeiras mostraram-se influentes sobre o rendimento do processo de extração;
• a redução da granulometria (e conseqüente aumento da área de superfície) leva ao aumento do
rendimento do processo;
• efeito similar tem o tempo de extração;
• os melhores resultados foram obtidos para tempos de extração de 3 horas e granulometria
correspondente a um tempo de moagem de 1 minuto. Maiores tempos ou menores tamanhos de
partícula não resultam em ganhos de rendimento significativos.
Como o tipo de solvente não se apresentou como variável significativa no processo, optou-
se pelo uso de n-hexano uma vez que este possui uma volatilidade menor que o éter além de ter
custo inferior (aproximadamente U$5,78 por litro contra U$24,34 por litro do éter etílico anidro).
Além do mais, o n-hexano é o solvente comercialmente usado em indústrias de extração de óleo
(como por exemplo, óleos de soja, milho e girassol).

BIBLIOGRAFIA

FENOCCHIO, P., Teor em óleo em sementes de uva, BT no 80, DNPA/MA, Pelotas, jul/72.
HARTMAN & LAGO, Laboratory Practice, Vol. 22 no 8, 1973, 475-476.
MIGUEL, L., Formulações com óleo de sementes de uva “Suvalan”. Porto Alegre: Fac. de
Farmácia da UFRS, jun/83.
MORETTO E., FETT R., Tecnologia de óleos e gorduras vegetais na indústria alimentícia. São
Paulo: Livraria Varela ,1998.
NETTO, B. B., Scarminio, I. S., Bruns, R. E., Planejamento e otimização de experimentos.
Campinas: Editora da UNICAMP, 1996.
ZILLER S., Grasas y aceites alimentarios. Zaragoza: Ed. Acribia, 1996.
http://www.cibervitamins.com/pbiocom.htm
http://grapeseedoilcorp.com/economy.html
http://www.vitamin-planet.com/nutrition/grape_seed_extract.htm

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