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RESUMO
O óleo de semente de uva possui características que o tornam muito superior aos óleos
comercialmente utilizados no consumo humano. Rico em ácido linoleico, possui grande poder
antioxidante em decorrência da presença de vitamina E em sua composição; é um produto muito
importante na prevenção de doenças coronárias e é amplamente utilizado na indústria cosmética
para produção de loções e cremes para fins estéticos.
As indústrias que processam a uva no Brasil são, na sua maioria, vinícolas que consideram
a semente de uva como um rejeito. Desta forma, pode-se considerar que o custo de produção do
óleo de semente de uva deve-se, basicamente, ao processo de extração. O processo típico de
extração é através de solventes como o n-hexano. O rendimento do processo bem como a
composição do produto final dependem da interação de diversas variáveis.
Este trabalho apresenta um estudo experimental realizado com o objetivo de otimizar as
condições de extração visando maximizar o rendimento. Os resultados são submetidos a um
tratamento estatístico e o óleo obtido tem sua composição determinada através de análises
cromatográficas.
1. INTRODUÇÃO
Os óleos e as gorduras têm sido reconhecidos como nutrientes essenciais tanto nas dietas
animais como na humana. Constituem a fonte de energia mais concentrada conhecida.
Comportam ácidos graxos essenciais (precursores de importantes hormônios, as
prostaglandinas), influem em grande medida sobre o sabor dos alimentos, transportam vitaminas
lipossolúveis e tornam os alimentos mais apetitosos. Os óleos e as gorduras estão presentes nos
alimentos em quantidades muito variadas. As principais fontes de gordura na dieta humana são:
carnes, produtos lácteos, frango, pescado, frutas secas e óleos e gorduras vegetais. A maioria
das verduras e frutas secas contém pequenas quantidades de gordura. Dados do Departamento
Norte Americano de Agricultura e do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (ZILLER,
1996) sugerem que o consumo anual de gorduras é responsável por cerca de 34% das calorias
totais na dieta humana. O conhecimento da composição química de óleos e de gorduras, e das
fontes a partir das quais são obtidos são essenciais para compreender a nutrição e a bioquímica
destes.
Este trabalho foi realizado objetivando determinar a influência das variáveis granulometria
da semente de uva, solvente e tempo de extração sobre o rendimento do processo. Foi utilizado o
planejamento estatístico dos experimentos, que mostrou eficácia tanto na otimização dos
resultados como na determinação da quantidade de experimentos necessários para tal.
3. MATERIAS E MÉTODOS
A semente de uva usada nestes experimentos era originária de plantações localizadas em
Videira/SC e destinadas à indústria de vinhos da Epagri.
A semente foi submetida à moagem nos tempos de 5 e 15 s e, posteriormente, 1 e 2 min,
utilizando-se para tal um moedor de café doméstico. Em seguida, procedeu-se à secagem da
mesma.
A medida da granulometria foi efetuada via peneiramento.
Foram realizadas extrações com solventes tipo sohxlet, especificamente n-hexano
(comercializável na maioria das indústrias) e éter etílico anidro. Os tempos de extração foram de 3
e 6 h.
O rendimento do processo foi definido como sendo a massa de óleo extraída em função da
massa de semente de uva usada na extração.
A seqüência dos experimentos seguiu um planejamento estatístico (NETTO et al, 1996). A
partir dos resultados preliminares, verificou-se o efeito de cada uma das variáveis de estudo
(granulometria da semente, solvente e tempo de extração), e direcionou-se a etapa subseqüente
de experimentos em função destas análises. Este procedimento foi novamente adotado quando
dos resultados da segunda etapa.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Variando-se o tipo de solvente e o tempo na extração, bem como a granulometria da
semente (tempo de moagem) de acordo com valores preliminarmente especificados, obtiveram-se
os rendimentos mostrados na Tabela 1.
Tabela 2 – Cálculo matricial dos fatores de interação na extração do óleo de semente de uva para
o primeiro grupo de experimentos.
Visando isolar o efeito de cada uma das variáveis significativas no processo, procedeu-se
a uma segunda etapa de experimentos onde apenas a granulometria foi variada, aumentando-se
o tempo de moagem para tal. A Figura 2 apresenta os valores de granulometria em função do
tempo de moagem. Note-se que menores tempos de moagem levam a uma expressiva
concentração de partículas dentro de uma pequena faixa de variação de tamanho. Maiores
tempos de moagem não só diminuem o tamanho de partícula bem como aumentam a faixa de
distribuição de tamanhos. A Tabela 3 mostra o rendimento do processo de extração em função da
granulometria da semente enquanto que a Tabela 4 apresenta os resultados das interações entre
os fatores de estudo.
Como pode ser constatado nas Tabelas 3 e 4, houve um significativo aumento do
rendimento e da interação GT quando da redução da granulometria da semente de uva. Buscando
um possível rendimento máximo, decidiu-se por aumentar o tempo de extração e refinar ainda
mais a granulometria numa terceira etapa de experimentos. As Tabelas 5 e 6 apresentam os
resultados então obtidos.
Tabela 4 – Cálculo matricial dos fatores de interação na extração do óleo de semente de uva para
o segundo grupo de experimentos.
Tabela 5 – Rendimento do processo em função do tempo de moagem da semente e do tempo de
extração. Solvente: n-hexano.
tempo de extração (h) tempo de moagem (min) rendimento (%)
3 1 11.94
6 1 11.69
3 2 11.06
6 2 11.54
Tabela 6 – Cálculo matricial dos fatores de interação na extração do óleo de semente de uva para
o terceiro grupo de experimentos.
Estes resultados indicam que não se verificam ganhos substanciais em rendimento com o
aumento do tempo de extração ou com a diminuição da granulometria.
A Tabela 7 apresenta os resultados das análises de composição do óleo de semente de
uva obtido nestes experimentos, realizadas pelo método Hartman & Lago (1973).
5. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos permitem concluir que
• o planejamento estatístico é uma ferramenta eficaz que conduz não apenas a otimização da
experimentação bem como a redução da quantidade de experimentos;
• dentre as variáveis estudadas – granulometria da semente de uva, tempo e solvente de extração
– apenas as duas primeiras mostraram-se influentes sobre o rendimento do processo de extração;
• a redução da granulometria (e conseqüente aumento da área de superfície) leva ao aumento do
rendimento do processo;
• efeito similar tem o tempo de extração;
• os melhores resultados foram obtidos para tempos de extração de 3 horas e granulometria
correspondente a um tempo de moagem de 1 minuto. Maiores tempos ou menores tamanhos de
partícula não resultam em ganhos de rendimento significativos.
Como o tipo de solvente não se apresentou como variável significativa no processo, optou-
se pelo uso de n-hexano uma vez que este possui uma volatilidade menor que o éter além de ter
custo inferior (aproximadamente U$5,78 por litro contra U$24,34 por litro do éter etílico anidro).
Além do mais, o n-hexano é o solvente comercialmente usado em indústrias de extração de óleo
(como por exemplo, óleos de soja, milho e girassol).
BIBLIOGRAFIA
FENOCCHIO, P., Teor em óleo em sementes de uva, BT no 80, DNPA/MA, Pelotas, jul/72.
HARTMAN & LAGO, Laboratory Practice, Vol. 22 no 8, 1973, 475-476.
MIGUEL, L., Formulações com óleo de sementes de uva “Suvalan”. Porto Alegre: Fac. de
Farmácia da UFRS, jun/83.
MORETTO E., FETT R., Tecnologia de óleos e gorduras vegetais na indústria alimentícia. São
Paulo: Livraria Varela ,1998.
NETTO, B. B., Scarminio, I. S., Bruns, R. E., Planejamento e otimização de experimentos.
Campinas: Editora da UNICAMP, 1996.
ZILLER S., Grasas y aceites alimentarios. Zaragoza: Ed. Acribia, 1996.
http://www.cibervitamins.com/pbiocom.htm
http://grapeseedoilcorp.com/economy.html
http://www.vitamin-planet.com/nutrition/grape_seed_extract.htm