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CEI-DPE’S
PREPARATÓRIO PARA AS DEFENSORIAS
PÚBLICAS ESTADUAIS
Prezado(a) aluno(a), é proibida a reprodução deste material, ainda que sem fins lucrativos. O CEI possui um
sistema de registro de dados que marca o material com o seu CPF ou nome de usuário. O descumprimento
dessa orientação acarretará na sua exclusão do Curso.
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
CORPO DOCENTE
COORDENAÇÃO DO CEI
Caio Paiva - caio.paiva@cursocei.com
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
DIREITOS HUMANOS
1. Disserte sobre a proibição do bis in idem no Direito Internacional dos Direitos Humanos,
abordando, necessariamente, os seguintes questionamentos: (a) diferença entre a vedação do
bis in idem na Convenção Americana de Direitos Humanos e no Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos, ressaltando qual instrumento normativo é mais benéfico e citando o precedente
da Corte Interamericana em que tal questão foi enfrentada; (b) se a vedação do bis in idem é
absoluta ou relativa, citando eventual correspondência normativa internacional, assim como o
entendimento da Corte Interamericana.
RESPOSTA
A proibição do bis in idem consiste no direito do cidadão de não ser julgado novamente pelos mesmos
fatos que ensejaram o julgamento anterior. Trata-se de garantia que encontra correspondência nos
Tratados Internacionais de Direitos Humanos, variando apenas o seu grau de abrangência. A CADH, por
exemplo, contém uma normativa mais benéfica ao cidadão do que a redação encampada pelo PIDCP, já
que estabelece a proibição de o cidadão absolvido por sentença transitada em julgado vir a ser submetido
a novo julgamento pelos “mesmos fatos”, ao passo que o PIDCP veda o segundo julgamento apenas pelo
“mesmo crime”. Tal diferenciação foi ressaltada pela Corte Interamericana no Caso Loayza Tamayo vs.
Peru (2007): reconheceu-se a violação do bis in idem pelo fato de a acusada ter sido julgada na Justiça
Comum pelos mesmos fatos a que já teria sido absolvida na Justiça Militar. Quanto à extensão da vedação
do bis in idem, a Corte IDH já decidiu que não se trata de uma garantia absoluta (Caso Almonacid Arellano
e outros vs. Chile), o que converge com a redação do Estatuto de Roma (art. 20.3), vedando-se, pois, que
se legitime a denominada “coisa julgada fraudulenta ou aparente”.
COMENTÁRIO
Questão dificílima, cuja resposta não é encontrada facilmente nos livros, ao menos de forma sistematizada,
como se esperava aqui. O nível das questões de Direitos Humanos em concursos das Defensorias tem sido
cada vez mais alto, exigindo do candidato um conhecimento aprofundado da matéria. Uma bibliografia
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básica da disciplina: Curso de Direitos Humanos e Processo Internacional de Direitos Humanos, ambos
do professor André de Carvalho Ramos, com edições recentes, de 2015, pela Saraiva. Para estudar a
jurisprudência dos Tribunais Internacionais de Direitos Humanos, também cada vez mais presente nas
provas das Defensorias, espero concluir em breve o livro que estou escrevendo com o amigo e professor
Thim Heemann, que conterá resumos e breves apontamentos de casos apreciados pela Comissão
Interamericana, Corte Interamericana, Corte Internacional de Justiça, TPI etc.
Pois bem. Conforme já antecipado na “simulação de resposta”, a proibição do bis in idem evita o duplo
julgamento pelos mesmos fatos. A diferença entre a Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH)
e o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) foi ressaltada pela Corte Interamericana no
julgamento do Caso Loayza Tamayo vs. Peru (1997), em que a acusada foi novamente processada na
Justiça Comum pelos mesmos fatos que ensejaram a sua absolvição na Justiça Militar, embora por outro
tipo penal. Diante deste contexto, a Corte entendeu que teria havido a violação da proibição do bis in
idem, já que a CADH, diversamente do PIDCP, proíbe o duplo julgamento pelos “mesmos fatos”, pouco
importando que a eles seja conferida nova capitulação jurídica.
Vejamos a redação dos Tratados. O art. 84 da CADH dispõe que “O acusado absolvido por sentença
transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos”. Já o art. 14.7 do
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) estabelece que “Ninguém poderá ser processado
ou punido por um delito pelo qual já foi absolvido ou condenado por sentença passada em julgado, em
conformidade com a lei e os procedimentos penais de cada país”.
Prosseguindo, tem-se que a garantia da vedação do bis in idem não é absoluta. No Caso Almonacid
Arellano e outros vs. Chile, a Corte Interamericana decidiu que “o princípio do ne bis in idem, ainda que
seja um direito humano reconhecido no artigo 8.4 da Convenção Americana, não é um direito absoluto
(...)”. A decisão da Corte está em conformidade – também – com o Estatuto de Roma (TPI), que admite
a possibilidade do novo julgamento quando o anterior “tenha tido por objetivo subtrair o acusado à sua
responsabilidade criminal por crimes da competência do Tribunal” ou “não tenha sido conduzido de forma
independente ou imparcial, em conformidade com as garantias de um processo equitativo reconhecidas
pelo direito internacional, ou tenha sido conduzido de uma maneira que, no caso concreto, se revele
incompatível com a intenção de submeter a pessoa à ação da justiça” (art. 20.3). A Corte reconhece
nestas hipóteses a ocorrência de uma “coisa julgada aparente ou fraudulenta”. Exemplo de “coisa julgada
aparente ou fraudulenta” repelida pela jurisprudência dos Tribunais Superiores brasileiros é a decisão que
declara extinta a punibilidade do acusado baseada em certidão de óbito falsa (HC’s 84525 e 104998 – STF;
e HC 143474 – STJ).
O Caso Loayza Tamayo já foi objeto de indagação na prova oral do 26CPR (MPF). Para eventual
aprofundamento, recomendo a leitura da íntegra do Caso, ao qual retornaremos noutro momento deste
curso para tratar de outro tema importante: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_33_esp.
pdf
MELHORES RESPOSTAS
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termo utilizado, uma vez que a Convenção fala em “mesmos fatos” e o Pacto utiliza uma fórmula mais
restrita, reportando-se ao “mesmo delito”. A Corte, no julgamento do caso Loayza x Peru, entendeu ser
mais amplo o termo previsto na CADH e, por isso, mais benéfico à vítima. Todavia, a vedação ao bis in
idem não é absoluta, mas sim relativa. Conforme entendimento da Corte, não haverá bis in idem nos
casos de fraude ao juízo, permitindo que um Tribunal julgue aquele mesmo indivíduo pelo mesmo fato já
julgado por Tribunal anterior, quando este tenha por objetivo subtrair o acusado de sua responsabilidade
ou não tenha conduzido o processo de forma independente e parcial. Além de ser entendimento da
Corte, a exceção ao ne bis in idem também é prevista no art. 20, item 3, alíneas “a” e “b” do Estatuto de
Roma do Tribunal Penal Internacional.
A vedação do bis in idem, entretanto, não é uma garantia absoluta, conforme se infere do disposto no art.
20.3 do Estatuto de Roma que expressamente admite novo julgamento preenchidos alguns requisitos ali
delineados. Neste sentido foi o entendimento da Corte IDH no julgamento do caso Almonacid Arellano
e outros VS Chile, que, diga-se de passagem, tem diretriz semelhante na Convenção Européia de Direitos
Humanos no sentido de flexibilizar a proteção em comento.
JULIANA PEPEU
O mesmo fato não pode ser considerado duas vezes em prejuízo do mesmo agente, seja na concepção
processual, material ou na execução da pena. A vedação do bis in idem está prevista na Convenção
Interamericana de Direitos Humanos (art. 8.4), no Pacto de Direito Civis e Políticos (art. 14.7) e no Estatuto
de Roma (art. 20). A Convenção Interamericana traz conceito mais extensivo da vedação do bis in idem,
pois se refere aos mesmos fatos, enquanto que o PIDCP, faz referência aos mesmos delitos. Significa que
a proteção conferida pela CIDH é mais ampla e mais benéfica à vítima, pois a diferença, de fato, existe
e pode implicar em consequências práticas, como no Caso Loayza Tamayo, em que, embora os crimes
apurados na jurisdição militar e juízo comum fossem distintos, o contexto partia dos mesmos fatos. A
Corte Interamericana, em outras oportunidades, já se manifestou no sentido de que embora a vedação
do ne bis in idem seja um direito humano, é relativa, podendo ser excepcionada, por exemplo, quando
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usada como pretexto para subtrair a responsabilidade criminal do agente pelos fatos praticados, na
forma do art. 20.3, do Estatuto de Roma ou quando a decisão produzir coisa julgada fraudulenta, como
a extinção da punibilidade fundada em certidão de óbito falsa, como já se manifestou o STF.
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Humanos (CADH); e art. 14.7 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP). Com efeito,
a previsão da CADH é mais benéfica, pois impede que o acusado absolvido por sentença passada em
julgado seja novamente processado pelos mesmos fatos, ao passo que o PIDCP veda novo julgamento
por delito em relação ao qual tenha sido condenado ou absolvido por decisum definitivo e imutável,
conclusão esta alcançada em precedente da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) – caso
Loayza Tamayo versus Perú – em que o ne bis in idem foi aplicado para reconhecer que o julgamento na
via ordinária pelo mesmo fato já processado na justiça militar, ainda que por crimes diversos, violaria a
CADH. Por fim, ressalte-se que, no caso Almonacid Arellano e outros versus Chile, a CIDH admitiu que o
princípio do ne bis in idem não tem caráter absoluto, podendo haver novo julgamento em caso de coisa
julgada forjada, aparente ou fraudulenta, como prevê o art. 20.3 do Estatuto de Roma.
KARLA VIÇOSI
O princípio do ne bis in idem é amplamente reconhecido no cenário internacional. No âmbito americano,
a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 dispõe em seu art. 8, nº 4, in verbis que: “o
acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos
mesmos fatos”. Por sua vez, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, importante instrumento
que outorgou o caráter de princípio universal ao ne bis in idem, prevê em seu art. 14.7 que, “ninguém
poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi absolvido ou condenado por sentença
passada em julgado, em conformidade com a lei e com os procedimentos penais de cada país”. Diante
das duas previsões é possível verificar que a vedação encontrada na CADH é mais benéfica à vítima, vez
que não se restringe à duplicidade de processos criminais, mas impede também que o mesmo sujeito
seja processado pelos mesmos fatos mais de uma vez. Nesse sentido, entendeu a Corte Interamericana
no Caso Loazya Tamayo. Importante ressaltar que a vedação do bis in idem não é absoluta, como decidiu
a Corte Interamericana no Caso Almonacid Arellano. Tal entendimento encontra correspondência no art.
20.3 do Estatuto de Roma bem como na Convenção Europeia de Direitos Humanos.
RESPOSTA
A ‘disregard doctrine’ não anula a personalidade jurídica, mas a desconsidera episodicamente, em respeito
aos princípios da boa-fé, função social e autonomia patrimonial, diferenciando-se a desconsideração da
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despersonalização. Na desconsideração direta, os bens dos sócios são alcançados para o pagamento
das dívidas da pessoa jurídica, em face do abuso de direito caracterizado pelo desvio de finalidade (teoria
maior subjetiva) ou confusão patrimonial (teoria maior objetiva), nos termos do art. 50 do CCB. O
art. 28, §5º, do CDC adotou a teoria menor, bastando o obstáculo ao ressarcimento. Na inversa, é a
pessoa jurídica que responde pelas obrigações pessoais dos sócios, quando estes nela ocultam os seus
bens pessoais. A indireta ocorre, no âmbito de sociedades controladoras, controladas e coligadas, em
que uma delas, geralmente a controladora, se vale da outra, controlada, para perpretrar fraudes, no
âmbito do mesmo grupo econômico. A expansiva visa à responsabilização do sócio oculto que se vale
de terceiros para a constituição de uma pessoa jurídica, visando camuflar a sua real identidade de sócio.
O STJ admite a aplicação desta teoria diretamente pela Administração Pública com fulcro no artigo 14 da
Lei n° 12.846/2013.
COMENTÁRIO
O instituto da pessoa jurídica surgiu em benefício das pessoas físicas para que estas pudessem alcançar
resultados sociais, que sozinhas não conseguiriam, sendo importante veículo de desenvolvimento
econômico e social, gerando riquezas, postos de trabalho e circulação de mercadorias, donde emerge a
sua função social.
Constituída a pessoa jurídica, esta possuirá personalidade jurídica distinta das dos seus membros, de
que são corolários: a autonomia patrimonial e a limitação de responsabilidade. Assim, via de regra,
a pessoa jurídica não responde pelas dívidas pessoais dos seus sócios e administradores, e estes não
respondem por dívidas daquela com seus patrimônios pessoais.
Porém, a distinção entre as personalidades da pessoa jurídica e de seus membros pode ser relativizada
para impedir a utilização da primeira como escudo para a prática de ilícitos, com malferimento do princípio
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da boa-fé. Nesse sentido, o artigo 1.011 do CCB explicita que o administrador da sociedade deverá ter, no
exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar
na administração de seus próprios negócios.
Cumpre mencionar que a teoria da penetração não se confunde com a teoria ultra vires. A
desconsideração é instrumento subsidiário das normas de responsabilidade de terceiros, somente
aplicável, quando não houver previsão legal indicativa de solidariedade no adimplemento da obrigação.
Pela teoria ultra vires, o ato praticado pelos sócios ou administradores, em nome da pessoa jurídica,
mas com excesso de poder ou violação do estatuto é nulo, por ele respondendo diretamente o sócio
ou administrador. Ou seja, pela teoria ultra vires, a personalidade da pessoa jurídica não é obstáculo
à responsabilidade direta dos sócios, pois para alcançá-los, não se necessita levantar o véu da pessoa
jurídica.
Ademais, a aplicação da teoria da desconsideração, via de regra, demanda prova do abuso de direito, ao
passo que a teoria ultra vires pode ser aplicada apenas com a prova do dano.
Entende-se que a previsão do artigo 135 do CTN alberga a teoria ultra vires, pois não desconsidera a
pessoa jurídica devedora, ao revés, imputa aos terceiros indicados pelo legislador, e que no caso estão
vinculados à pessoa jurídica, a obrigação pelo pagamento dos débitos decorrentes de obrigações
tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social
ou estatutos. Trata-se, então, de imputação legal de responsabilidade solidária de terceiros, em
substituição ao devedor principal, de aplicação peremptória, pois não deixa margem ao julgador para
escolher se impõe ou não a responsabilização desses terceiros. Nas hipóteses descritas no artigo 135 do
CTN, a doutrina da desconsideração é incabível1.
1 BARCELLOS, Alvacir de Sá. A desconsideração da Personalidade Jurídica nas Execuções Fiscais.In: Revista da AGU 28, 2011, pág.
52.
2 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Volume 1. 12ª ed.- São Paulo: Saraiva. 2014, p. 559.
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Feita uma breve digressão sobre o tema, vamos à conceituação das modalidades de desconsideração.
Tem previsão nos artigos 50 do CCB, 28 CDC, 34 da Lei n° 12.529/11, 4° da Lei nº 9.605/98.
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou
pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público
CCB
quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento
do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando
CDC houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados
por má administração. (...) § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que
sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos
consumidores.
Art. 34. A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser
Lei n° 12.529/11 desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei,
fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social.
Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao
Lei n° 9.605/98
ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.
Art. 14. A personalidade jurídica poderá ser desconsiderada sempre que utilizada com abuso
do direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei ou
Lei n° 12.846/13 para provocar confusão patrimonial, sendo estendidos todos os efeitos das sanções aplicadas à
pessoa jurídica aos seus administradores e sócios com poderes de administração, observados o
contraditório e a ampla defesa.
O artigo 50 do CCB adota a teoria maior da desconsideração, reclamando para a sua incidência o
abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio da finalidade (teoria maior subjetiva) ou a
confusão patrimonial (teoria maior objetiva). Veja-se a lição de PABLO STOLZE: “Segundo a novel regra
legal, a desconsideração será possível, a requerimento da parte ou do Ministério Público, quando lhe
couber intervir, se o abuso consistir em: a) desvio de finalidade; b) confusão patrimonial. No primeiro caso,
desvirtuou-se o objetivo social, para se perseguirem fins não previstos contratualmente ou proibidos por
lei. No segundo, a atuação do sócio ou administrador confundiu-se com o funcionamento da própria
sociedade, utilizada como verdadeiro escudo, não se podendo identificar a separação patrimonial entre
ambos”. (2012, 14ª edição, p. 674).
Ao seu turno o §5° do artigo 28 adota a teoria menor, pois dispensa a presença do abuso da personalidade,
3 TOMAZETTE, Marlon, Curso de Direito Empresarial. Teoria Geral e Direito Societário. Volume 1. 5ª edição, Atlas, 2013, página
270.
4 TOMAZETTE, Marlon, Curso de Direito Empresarial. Teoria Geral e Direito Societário. Volume 1. 5ª edição, Atlas, 2013, página
239
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bastando para a sua aplicação que a pessoa jurídica seja um obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores, partindo do pressuposto que o risco da atividade empresarial não pode ser
transferido aos consumidores que são vulneráveis frente à pessoa jurídica.
A modalidade expansiva visa à responsabilização do sócio oculto que vale de terceiros para a constituição
de uma pessoa jurídica, visando camuflar a sua real identidade de sócio e poder de controle. É também
possível visualizá-la quando “alguns “empresários” mal intencionados fecham uma porta e abrem outra, às
vezes para exercer a mesma atividade com uma nova roupagem, deixando para trás todo um passivo que
contribui para prejuízos ou mesmo a quebra de terceiros de boa-fé, além de desfalcar os cofres públicos
5 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Volume 1. 12ª ed.- São Paulo: Saraiva. 2014, p. 573.
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do pagamento dos tributos decorrentes do exercício de sua atividade, através da simples constituição de
uma nova empresa, com ou sem o uso de “laranjas”, para iniciar um novo ciclo parasitário de utilização
dos instrumentos jurídicos de proteção de seus patrimônios pessoais, em prejuízo de toda a sociedade”6.
O STF tratou desta modalidade no que MS 32494 MC DF, onde a decisão do TCU, que aplicou a
desconsideração expansiva para permitir que a Administração Pública estende-se a proibição de licitar
proferida contra uma pessoa jurídica a outra constituída com os mesmos sócios e mesmo endereço, foi
suspensa.
A desconsideração realizada própria Administração Pública é prevista do art. 14 e 5° da Lei nº 12.846/2013: “Art. 14. A
personalidade jurídica poderá ser desconsiderada sempre que utilizada com abuso do direito para facilitar, encobrir ou
dissimular a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei ou para provocar confusão patrimonial, sendo estendidos todos
os efeitos das sanções aplicadas à pessoa jurídica aos seus administradores e sócios com poderes de administração,
observados o contraditório e a ampla defesa”. “Art. 5° Constituem atos lesivos à administração pública, nacional ou
estrangeira, para os fins desta Lei, todos aqueles praticados pelas pessoas jurídicas mencionadas no parágrafo único do
6 BARCELLOS, Alvacir de Sá. A desconsideração da Personalidade Jurídica nas Execuções Fiscais.In: Revista da AGU 28, 2011,
pág. 32.
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art. 1°, que atentem contra o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração pública ou
contra os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, assim definidos: IV - no tocante a licitações e contratos:
e) criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licitação pública ou celebrar contrato
administrativo”
JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA
A falta de citação dos sócios, em desfavor de quem foi superada a pessoa jurídica, por si só,
não induz nulidade, a qual apenas será reconhecida nos casos de efetivo prejuízo ao exercício
da defesa. (AgRg no REsp 1471665 / MS).
No caso dos autos, houve a arrecadação de bens dos diretores de sociedade que sequer
é a falida, mas apenas empresa controlada por esta, quando não se cogitava de sócios
solidários, e mantida a arrecadação pelo Tribunal a quo por “possibilidade de ocorrência de
desvirtuamento da empresa controlada”, o que, à toda evidência, não é suficiente para a
superação da personalidade jurídica. Não há notícia de qualquer indício de fraude, abuso
de direito ou confusão patrimonial, circunstância que afasta a possibilidade de superação da
pessoa jurídica para atingir os bens particulares dos sócios. (REsp 693.235/MT).
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A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico brasileiro, não pode ser
aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento
de suas obrigações.
Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode ser
suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou
administradores desta, ainda que estes demonstrem conduta administrativa proba, isto é,
mesmo que não exista qualquer prova capaz de identificar conduta culposa ou dolosa por
parte dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica.
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281 - Art. 50: A aplicação da teoria da desconsideração, descrita no art. 50 do Código Civil,
prescinde da demonstração de insolvência da pessoa jurídica.
282- Art. 50: O encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si só, não basta
para caracterizar abuso da personalidade jurídica.
284 – Art. 50: As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins não-
econômicos estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica.
285 –Art. 50: A teoria da desconsideração, prevista no art. 50 do Código Civil, pode ser
invocada pela pessoa jurídica, em seu favor.
O novo CPC, Lei n° 13.105/2015, prevê em seus artigos 133 a 137 o chamado “incidente de desconsideração
da personalidade jurídica”, que poderá ocorrer em qualquer do processo de conhecimento, cumprimento de
sentença ou da execução.
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O §2° do artigo 133 da Lei n° 13.105/2015 passa a admitir expressamente a desconsideração inversa, que até
então não contava com previsão legal, em nosso ordenamento jurídico.
Instaurado o incidente, o processo será suspenso, sendo o sócio ou a pessoa jurídica citados para, no
prazo comum de quinze dias, se manifestar e requerer as provas cabíveis. Após a conclusão da instrução,
se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória impugnável por agravo de instrumento.
Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de execução,
será ineficaz em relação ao requerente.
MELHORES RESPOSTAS
As respostas dos alunos foram muito parelhas na sua qualidade. Por isso, optamos por selecionar aquelas que
respeitaram o número de linhas, mas vários alunos responderam a questão de forma satisfatória.
BEATRIZ CUNHA
A desconsideração da personalidade jurídica afasta os efeitos da personalidade jurídica (autonomia patrimonial
e limitação da responsabilidade), tornando os sócios responsáveis por débito da pessoa jurídica (PJ). Requisitos:
constituição regular da PJ, prova inequívoca de abuso ou fraude, prejuízo a terceiros e inexistência de outra sanção
menos gravosa. É a desconsideração propriamente dita: art. 50 do CC, que adotou a Teoria Maior, exigindo desvio
de finalidade (teoria maior subjetiva) ou confusão patrimonial (teoria maior objetiva). O art. 28, § 5º, do CDC adotou a
Teoria Menor, bastando obstáculo ao ressarcimento. É eficaz para tutela do consumidor vulnerável, mas criticada pelo
direito empresarial, por dificultar o desenvolvimento econômico e não ter semelhança com o direito comparado. A
Teoria Inversa atinge o patrimônio da PJ por dívidas particulares do sócio ou fraude à meação; Teoria Indireta aplica-se
perante PJ que integre um grupo econômico, responsabilizando as demais pela dívida de uma delas; a Teoria Expansiva
aplica-se quando é criada PJ semelhante, análoga à que está em débito, tornando a nova também responsável pelos
débitos da antiga (teoria da aparência); e a da Administração Pública aplica-se quando determinada PJ participante
de licitação é, faticamente, a mesma que outra que sofre de impedimento para tanto (v.g., declaração de idoneidade).
SHEYLA SOARES
O instituto (“disregard of the legal entity”) surgiu para coibir abusos das pessoas físicas que se valem da pessoa jurídica
para lesar terceiros. A propriamente dita está prevista, no art. 4º da L. 9.605/98, art. 28 (CDC) e art. 50 (CC), pela
qual bens particulares dos sócios podem ser utilizados para pagar dívidas da pessoa jurídica, mitigando a autonomia
patrimonial. O Direito Civil adota a teoria maior, que necessita de prova do desvio de finalidade (maior subjetiva) ou a
confusão patrimonial (maior objetiva). Portanto deve-se comprovar a insolvência e o abuso da personalidade. O CDC
e a Lei Ambiental adotam a teoria menor, que prevê a necessidade de prova da insolvência, apenas. A inversa cuida
da responsabilização da empresa por dívida do sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar bens pessoais em
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prejuízo de terceiros (En. 283 CJF), com previsão no art. 133, §2º no novo CPC. A indireta ocorre nos casos de sociedades
controladoras, controladas e coligadas (1.097 a 1.101 do CC) em que uma se vale da condição dominante para fraudar
seus credores. A expansiva tem a finalidade de responsabilizar o sócio oculto que se vale de um “laranja”. A exercida
pela Administração Pública (art. 14 da L. 12.846/13), prevê a responsabilização administrativa/civil de pessoas jurídicas
pela prática de atos contra a Administração Pública nacional ou estrangeira.
BRUNO LIMA
RESPOSTA
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A partir desta premissa, é possível afirmar com tranquilidade a existência de uma autonomia orçamentária
da instituição.
Nesta mesma linha de raciocínio, o fato de a LC n° 80/94 permitir que a Defensoria Pública rode sua
própria folha de pagamento, somada a iniciativa legislativa conferida ao Defensor Público Geral para
veicular projeto de lei que trate da fixação do subsídio da carreira evidencia a autonomia financeira da
instituição, intimamente correlacionada a previsão orçamentária da instituição.
COMENTÁRIO
O candidato deveria traçar a distinção entre a autonomia financeira e orçamentária, sem deixar de destacar
a concessão da autonomia funcional e administrativa da Defensoria Pública.
O processo de reforma constitucional iniciado em 2004 e encerrado em 2014, por meio das emendas
constitucionais n° 45, 69, 74 e 80, implementou a autonomia funcional, administrativa e a iniciativa da
proposta orçamentária no âmbito da Defensoria Pública da União, dos Estados e do Distrito Federal.
A interpretação do art. 97-A, V, da LC n° 80/94 que trata da possibilidade de a Defensoria Pública rodar
sua folha de pagamento, somada a legitimidade do DPG para fixar a remuneração da carreira por meio da
norma constante do art. 134, §4° combinada com o art. 96, II, ‘b’ da Constituição Federal, são informações
essenciais a serem indicadas pelo candidato, de modo a evidenciar a autonomia financeira da instituição.
No que concerne à autonomia orçamentária, o tema perpassa sobre a interpretação do art. 134, §2°,
da CRFB, art. 97-B da LC n° 80/94 e recente precedente do STF na ADPF n° 307 que decidiu pela
impossibilidade de o Executivo efetuar alterações na proposta orçamentária da Defensoria Pública nos
leva a concluir que a Defensoria Pública dispõe de autonomia orçamentária. Neste sentido, o STF afirmou:
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
A autonomia orçamentária não pode ser confundida com a autonomia financeira, apesar de ambas
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
estarem intimamente relacionadas. A primeira refere-se ao envio da proposta orçamentária pela Defensoria
Pública, cuja elaboração deverá levar em consideração o plano de atuação previsto no art. 102, §2º da LC
n° 80/94.
Assim como ocorre com Poder Judiciário e no Ministério Público, que também encaminham suas propostas
orçamentárias ao Poder Executivo, para simples consolidação, sem qualquer recorte por parte do Poder
Executivo, que deve respeitar a proposta orçamentária da instituição.
Neste ponto, a autonomia financeira consiste na liberdade prevista em lei e na Constituição para que a
Defensoria Pública possa exercer sua iniciativa legislativa para veicular na casa legislativa os interesses
financeiros da carreira (fixação de subsídios), bem como o dever de rodar sua própria folha de pagamento,
sem qualquer ingerência por parte do Poder Executivo. Eventual desídia na instituição pode, inclusive,
gerar a impetração de Mandado de Segurança, conforme se denota do seguinte precedente:
A relação entre a autonomia financeira e orçamentária estabelece-se no ponto em que não há como
almejar benefícios vencimentais se não houver previsão orçamentária.
Diante destas premissas, torna-se necessário que o candidato tenha conhecimento das 4 vertentes da
autonomia da instituição (funcional, administrativa, financeira e orçamentária). Para tanto, sugerimos a
leitura das obras:
ESTEVES, Diogo; SILVA, Franklyn Roger Alves. Princípios institucionais da defensoria pública. Rio de Janeiro:
Forense, 2014.
MELHORES RESPOSTAS
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CEI-DPE’S
ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
JULIA BARANSKI
As Emendas Constitucionais 45/2004, 69/2012 e 74/2013 introduziram na CRFB/88 as autonomias
administrativa, funcional e a iniciativa de proposta orçamentária das Defensorias Estaduais, do DF e da
União, respectivamente (art. 134 § 2º CRFB/88), reforçando a independência e a autogestão da DP frente
aos demais Poderes. A iniciativa de lei orçamentária é a feição das autonomias administrativa e funcional
no âmbito financeiro, tratando-se da outorga à DP de delimitar os recursos necessários para atender as
suas despesas, prover suas atividades e serviços, garantindo-lhe liberdade na gestão de recursos. Com a LC
n°132/09, restou consolidada nos artigos 97-A e 97-B da LC 80/94 a autonomia financeira das Defensorias
Estaduais, nos seguintes termos: a Defensoria deve elaborar a sua proposta orçamentária atendendo aos
seus princípios, às diretrizes e aos limites da lei de diretrizes, encaminhando-a ao Chefe do Poder Executivo
para consolidação e encaminhamento ao Legislativo. Apenas se não encaminhar a respectiva proposta
no prazo previsto na LDO, poderá o Executivo apresentá-la, baseando-se na proposta do ano anterior
e aplicando-lhe os índices de crescimento. Assim sendo, o Executivo não pode interferir diretamente
na elaboração do orçamento, mas apenas de modo supletivo. A autonomia financeira da Defensoria
foi objeto de discussão recente no STF em duas ocasiões, com concessão de liminar favorável à DP em
ambas. A ANADEP questionou a constitucionalidade via ADI da LC 180/2014 que alterou a Lei Orgânica
da DP do Paraná, a qual revogava a autonomia financeira da Instituição permitindo a redução de seu
orçamento pelo Governador a qualquer momento. Em 2014, a DPU impetrou MS no após o corte de 95%
de seu orçamento pela Presidenta, requerendo que sua proposta orçamentária para 2015 fosse apreciada
pelo Congresso Nacional sem nenhuma alteração pelo Poder Executivo. Posto isto, há entendimento
assentado na Suprema Corte que qualifica como preceito fundamental a autonomia administrativa e
financeira da DP, considerando inconstitucional qualquer medida que subordine a Instituição ao Poder
Executivo.
FABIANA CARUSO
A autonomia funcional, administrativa, e a iniciativa de proposta orçamentária das Defensorias Públicas
Estaduais, possuem previsão no art. 134, §2º, CR, tendo sido estendidas pela EC 74/2013 à Defensoria
Pública da União e do Distrito Federal, na forma do § 3º do citado artigo.
A LC 80/94, por sua vez, sofreu alteração pela LC 132/2009 que acrescentou, no âmbito das Defensorias
Públicas Estaduais, os artigos 97-A e 97-B, esmiuçando o tema da iniciativa de proposta orçamentária.
Cumpre ressaltar, que tal previsão, por força da norma de extensão do art. 134, §3ª, aplica-se igualmente
às Defensorias da União e do Distrito Federal.
Dessa forma, tem-se que a Defensoria Pública é quem elabora sua proposta orçamentária, encaminhando
ao Executivo, que por sua vez encaminha ao Legislativo. Sobre este tema, inclusive, o STF foi instado a
se manifestar em sede de ADPF, tendo firmado o entendimento em medida cautelar de que a proposta
orçamentária enviada pela Defensoria Pública não pode ser alterada pelo Executivo, uma vez que a
análise da mesma compete ao Legislativo.
Por todo o exposto, tendo em vista que é a Defensoria Pública quem elabora a sua própria folha de
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CEI-DPE’S
ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
pagamento e encaminha a proposta orçamentária, devendo esta chegar íntegra ao Legislativo, não resta
dúvida de que a instituição possui autonomia financeira e orçamentária.
THIAGO CRUZ
A autonomia financeira e orçamentária das Defensorias Públicas Estaduais pode ser fundamentada nos
seguintes dispositivos: Art. 134 parágrafo 4º da CF/88, incluído pela Emenda Constitucional 80 de 2014,
que determina a aplicação, no que couber, do disposto no art. 96, II também da CF/88. Portanto, caberá
ao Defensor Público Geral iniciativa legislativa para fixar o subsídio dos membros da carreira; art. 97-
A, inciso V, da Lei Complementar 80 de 1994, incluído pela LC 132/2009, que trata da organização das
Defensorias Estaduais e determina que a estas caberá a elaboração de sua folha de pagamentos.. Além
das modificações normativas, podemos mencionar também recente decisão do STF, em sede de ADPF, que
reconheceu o descumprimento a preceito fundamental no ato de Governador que, ao receber a proposta
orçamentária da Defensoria Pública, teria realizado diversas reduções na mesma antes de encaminhar
para aprovação do Poder Legislativo. Ocorre que, conforme decidiu o STF, não é papel do Poder
Executivo realizar tais reduções, por ferir a autonomia da Defensoria. Além disso, cabe ao Legislativo fixar
remuneração. Portanto, deveria o Governador tão somente ter consolidado e encaminhado a proposta
ao Legislativo, este sim competente para modificar a proposta orçamentária apresentada pela Defensoria
Pública, caso assim entendesse necessário.
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
Juliano foi preso em flagrante pela Polícia Militar quando acabara de sair do Metrô de São Paulo/SP, tendo com
ele sido encontrado 5kg da substância entorpecente “cocaína” que estava acondicionada em sua mochila.
Passada a fase investigativa, o Ministério Público do Estado de São Paulo denunciou Juliano como incurso
nas penas do art. 33, caput, cumulado com a majorante prevista no art. 40, III, ambos da Lei 11343/2006,
considerando, pois, que trazia a droga consigo em transporte público de passageiros.
O procedimento se desenvolveu sem nenhuma aparente irregularidade, tendo o acusado passado o processo
todo preso, muito embora a Defensoria Pública do Estado de São Paulo houvesse apresentado diversos
pleitos de liberdade, todos negados pelo Poder Judiciário sob o argumento de que Juliano apresentava risco
de reiteração da conduta, já que havia sido condenado pela mesma modalidade criminosa, com pena extinta
há sete anos.
Concluída a instrução, as partes apresentaram seus memoriais. Juliano foi condenado a uma pena definitiva
de 5 anos e 10 meses de reclusão, sendo que foi fixada a pena-base no mínimo legal, acrescida, depois, de 1/6
em razão da majorante de pena. O juiz não acolheu o pedido da DPE/SP de aplicação da causa de diminuição
de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11343/2006, pois, embora tenha concordado que o acusado não
se dedicava às atividades criminosas nem integrasse organização criminosa, a existência de antecedente
(condenação com pena extinta há sete anos) impedia a aplicação da minorante.
Em razão da quantidade de pena, foi fixado o regime inicial semiaberto, negando-se ao acusado o direito
de apelar em liberdade, já que teria permanecido preso durante toda a persecução penal, continuando
presentes os requisitos autorizadores da prisão cautelar.
A DPE/SP interpôs tempestivamente recurso de apelação. Os autos retornaram para que você, defensor(a)
público(a), apresente as razões de apelação. Não há necessidade de datar a petição (apenas insira XX/XX/
XXXX). Não crie fatos novos.
RESPOSTA
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
Colenda Câmara
Apelante: JULIANO
1. SÍNTESE DO PROCESSO7
Breve narração tanto dos fatos quanto dos principais eventos procedimentais (recebimento da denúncia,
audiência de instrução, alegações finais etc.). Imprescindível que este tópico se encerre com uma síntese
da sentença recorrida.
Como não havia preliminar a ser discutida nem espaço para abordar eventual tese absolutória, o aluno
já deveria partir para a discussão em torno da aplicação pelo magistrado da causa de aumento de
pena prevista, no art. 40, III, da Lei n° 11.343/2006, relativa ao tráfico de drogas em transportes públicos.
Desnecessário prolongarmos o debate aqui, pois “O entendimento de ambas as Turmas do STF é no
sentido de que a causa de aumento de pena para o delito de tráfico de droga cometido em transporte
público (art. 40, III, da Lei 11.343/2006) somente incidirá quando demonstrada a intenção de o agente
praticar a mercancia do entorpecente em seu interior. Fica afastada, portanto, na hipótese em que o veículo
público é utilizado unicamente para transportar a droga” (HC 119811, rel. min. Teori Zavascki, 2ª Turma, DJe
01/07/2014). O STJ acompanhou este entendimento do STF a partir do julgamento do REsp 1345827.
Assim, considerando que o recorrente JÚLIO apenas trazia consigo a droga em transporte público, sem
qualquer atividade de comércio naquele ambiente, agiu incorretamente o magistrado ao majorar a pena.
Dispõe o art. 33, §4º, da n° Lei n° 11.343/2006: “Nos delitos definidos no caput e no §1º deste artigo, as penas
poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes,
não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa”. No caso em exame, o juiz
deixou de reduzir a pena unicamente porque o acusado apresentava uma condenação com pena extinta
há sete anos. Pergunta: agiu corretamente o juiz? Uma condenação com pena extinta há sete anos pode
ser considerada “mau antecedente”? De forma alguma. O aluno deveria sustentar, aqui, o “direito ao
esquecimento”, que serviu como fundamento do voto do Min. Dias Toffoli no julgamento do RHC 118977
7 Insiram aqui apenas o “essencial”. Hora de treinar e usar o poder de síntese! Em provas dissertativas, o candidato geralmente
corre contra o tempo e também contra o número de linhas. Não se iludam: o examinador quer objetividade!
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
(impetrado pela DPU), em 2014: “O homem não pode ser penalizado eternamente por deslizes em seu
passado pelos quais já tenha sido condenado e tenha cumprido a reprimenda imposta em regular processo
penal. Faz ele jus ao denominado ‘direito ao esquecimento’, não podendo perdurar indefinidamente os
efeitos nefastos de uma condenação anterior, já regularmente extinta. Para tanto delimitou expressamente
o legislador o prazo de cinco anos para o desaparecimento dos efeitos da reincidência (CP, art. 64). Se
essas condenações não mais prestam para o efeito da reincidência, que é o mais, com muito maior razão
não devem valer para os antecedentes criminais, que é o menos”. O voto do Min. Toffoli foi acolhido pela
2ª Turma, restando tal fundamento veiculado na ementa da seguinte forma: “Quando o paciente não
pode ser considerado reincidente, diante do transcurso de lapso temporal superior a cinco anos, conforme
previsto no art. 64, I, do CP, a existência de condenações anteriores não caracteriza maus antecedentes”.
Ainda está pendente de julgamento pelo STF o RE 593818.
Deste modo, eliminando-se o óbice do mau antecedente, o caminho ficaria aberto para aplicação da
aludida causa de diminuição da pena.
Com o afastamento da majorante de pena e aplicação da causa de diminuição, o aluno deveria requerer a
alteração do regime inicial de cumprimento da pena para o regime aberto e, consequentemente, ficando
a pena definitiva igual ou inferior a quatro anos, a conversão em restritiva de direitos, nos termos do art.
44 do Código Penal.
Por fim, o aluno deveria acompanhar o recente entendimento do STJ e defender que “É incompatível a
imposição/manutenção de prisão preventiva na sentença condenatória a réu condenado a cumprir a pena
no regime inicial diverso do fechado, notadamente quando não há recurso da acusação quanto a este
ponto”. E ainda, que “A tentativa de compatibilização da custódia cautelar com as regras do regime aberto
ou semiaberto, neste caso, implica indevida execução provisória da pena”. Foi o que restou decidido no
julgamento do RHC 52407, rel. min. Felix Fischer, j. 09/12/2014, DJe 18/12/2014. Logo, imprescindível o
pleito de revogação da prisão preventiva, sob pena de ofender-se o princípio da proporcionalidade e da
vedação da execução provisória da pena.
6. PEDIDOS
Ante o exposto, requer-se o conhecimento do presente recurso8 a fim de que, no mérito, seja reformada
a sentença proferida pelo juízo de primeira instância para9:
a) Afastar-se a causa de aumento de pena prevista no art. 40, III, da Lei n° 11.343/2006;
b) Aplicar-se a causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n° 11.343/2006, e,
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
consequentemente, alteração do regime inicial de cumprimento da pena para o regime aberto, com
posterior conversão para restritiva de direitos, nos termos do art. 44 do Código Penal;
Requer-se, ainda, seja concedido o benefício da justiça gratuita ao recorrente e respeitadas as prerrogativas
dos membros da Defensoria Pública.
XX/XX/XXXX
Nome
Defensor Público
COMENTÁRIO
Repararam bem na estrutura da peça “razões de apelação”? Não há uma fórmula estética que deve
obrigatoriamente ser seguida. Devemos ter o cuidado de apresentar uma peça bem organizada, com
argumentos objetivamente apresentados. A sequência dos pleitos de mérito (considerando que não
tivemos preliminares neste recurso) deve ser apresentada em ordem de benefício para o acusado/assistido,
iniciando pela tese mais benéfica (absolvição) e caminhando para pedidos secundários (aspectos relativos
à dosimetria da pena, revogação da prisão etc.).
Conseguimos estudar nesta peça três temas importantíssimos e muito presentes na atuação criminal das
DPE’s: (1) a não aplicação da majorante de pena do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, quando o acusado
somente trouxe a droga consigo em transporte público e não a comercializou naquele ambiente; (2) a
aplicação do “direito ao esquecimento” na área penal, mais especificamente no período depurador do
que se pode considerar como maus antecedentes; e (3) a incompatibilidade da prisão preventiva com a
fixação de regime inicial de pena diversa do fechado na sentença condenatória.
Vimos que o STF pacificou o seu entendimento pelo afastamento da referida majorante da pena quando
o agente não comercializa a droga em transporte público, mas apenas a traz consigo. Revisamos, ainda,
que o STF invocou o “direito ao esquecimento” para impedir que uma condenação com pena extinta
há mais de cinco anos possa ser considerada como maus antecedentes. E por isso, então, foi possível
demonstrar que o réu preenchia todos os requisitos do art. 33, § 4º, da Lei 11343/2006, para que lhe fosse
aplicada a causa de diminuição da pena. Finalmente, trabalhamos um recente entendimento do STJ no
sentido da incompatibilidade da prisão preventiva com a fixação na sentença condenatória de regime
inicial de pena diverso do fechado.
Para quem ficou se perguntando: mas o réu permaneceria preso enquanto o recurso de apelação não
fosse julgado? Anotem, portanto, uma dica de natureza eminentemente prática: nestes casos, em que o
vício contido na sentença desafiada também provoca uma grave restrição de liberdade, a Defesa deve
manejar tanto o recurso de apelação quanto um Habeas Corpus, o qual naturalmente não poderia ser
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
exigido aqui, pois nenhuma prova de concurso cometeria o abuso de cobrar do candidato duas peças
para um mesmo problema.
Recomendo a leitura do inteiro teor do citado precedente do STJ acerca da prisão preventiva vs. regime
inicial de pena diverso do fechado (RHC 52407), assim como do precedente do STF sobre a aplicação do
“direito ao esquecimento” no âmbito da dosimetria da pena (RHC 118977).
MELHORES RESPOSTAS
Apelante: Juliano
I – Dos Fatos
O réu foi preso em flagrante pelo crime incurso no artigo 33 da Lei 11343/2006. Recebeu a majorante
do artigo 40, III, da referida Lei sem estar efetivamente comerciando a droga no veículo de passageiros.
Ademais o julgador não lhe concedeu a atenuante prevista no artigo 33, § 4º, mesmo atestando que que
o réu integrasse organização criminosa nem se aplicava à atividade delitiva.
O réu fora condenado a 5 anos e 10 meses em regime semiaberto, entretanto permaneceu recluso
durante todo o procedimento o que ainda se mantém.
A fundamentação do Nobre julgador não acusa quaisquer requisitos da prisão preventiva prevista no
artigo 312 do CP, fundamentando única e exclusivamente quanto a uma suposta reincidência do agente
(apesar de já ter se passado 7 anos da extinção da pena) a qual sequer é requisito para a concessão de
prisão preventiva.
Tendo em vista o atual contexto constitucional ao qual estamos inseridos, a prisão deve ser considerada
a medida extrema de “ultima ratio”, sendo a regra a liberdade do acusado durante a instrução processual,
sob pena de ferir o Princípio da Presunção da Inocência, resultando em cumprimento antecipado da
pena, o que violaria ainda o Sistema Acusatório vigente.
No caso em tela, ante a ausência dos requisitos da prisão preventiva, deve o magistrado aplicar o disposto
no artigo 321 do CPP, concedendo ao réu a liberdade provisória sem fiança podendo Vossas Excelências,
caso entendam necessário, as medidas previstas no artigo 319 do CPP.
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
Ademais, também os Tribunais Superiores decidem que deve haver compatibilidade entre regimes,
não sendo em absoluto proporcional que alguém já declarado em regime semiaberto permaneça
PROVISORIAMENTE aguardando julgamento no regime fechado.
II – Do Direito
Dispõe a Lei 11.343/2006, artigo 40, III, da Lei 11.434/2006 que caso o delito seja praticado nas dependências
de transportes públicos, haverá aumento de pena de 1/6 a 2/3 e assim ocorreu no caso do réu, já que
recebeu um aumento de pena de 1/6 sobre a pena base.
Entretanto, houve um equívoco interpretativo, eis que o direito penal deve ser interpretado restritivamente
quando for trazer prejuízos ao réu. O inciso III do referido dispositivo legal prevê que a PRÁTICA do delito
deve ocorrer nas dependências de transportes públicos e não que o simples transportar da droga enseje
a majorante.
Assim é a posição atual do STF e STJ, portanto, o simples transportar da droga não enseja em absoluto a
majorante.
b) Da Reincidência
Ora, recente decisão do STF superou o entendimento existente no STJ ao prever que uma vez passados
5 anos de período depurador, não há que se falar em reincidência, sequer em maus antecedentes,
culminando com a frase no Ministro Dias Toffoli : “ o réu tem direito ao esquecimento”. Não seria condizente
com o Regime Democrático punir o sujeito pelo mesmo fato duas vezes porque em verdade, caso o réu
seja mantido preso, é um real “bis in idem”.
Deve ter fundamentação concreta ainda, de forma que a simples citação de periculosidade do agente não
demonstra efetivamente “rico de reiteração de conduta” uma vez que como já relatado, muito embora
tenha sido condenado pela prática anteriormente, tal não pode ser levado em consideração sequer para
maus antecedentes, que dirá para a reincidência.
O magistrado deixa de acatar a diminuição de pena do artigo 33, §4º, da Lei 11.343/2006 sem, contudo,
fundamentar devidamente o motivo, contrariando o bom senso, visto que expressamente concorda com
a defesa do acusado no sentido de este não integrar organização criminosa, muito menos que se dedique
a atividades criminosas.
Alega, resumidamente, contrariando o direito pátrio, que não concederá a diminuição porque o autor
é reincidente. Ora, como já amplamente discutido, já se passaram mais de 7 anos desde a extinção
da punibilidade do delito anteriormente praticado e portanto, conforme o STF, não será considerado
reincidente e sequer se considerará maus antecedentes. Logo, a fundamentação do Nobre Magistrado
não se faz idônea, nos termos do artigo 93, IX, da CF.
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
Ademais, como este mesmo expressamente, com base nas provas dos autos, rechaça a ocorrência de
atividade criminosa por parte do réu, muito menos que este participe de organizações criminosas, não
existe empecilho para o deferimento da diminuição.
Ressalta-se ainda que não é faculdade do magistrado a aplicação de institutos que beneficiem o réu, ao
contrário, se torna obrigação e portanto, como decidiu o STF, a benesse é passível inclusive de ser dada
de ofício pelo Tribunal.
Desta forma, deve esta ser concedida em sua máxima valoração para atenuar a pena imposta na
proporção total da atenuante, ou seja, 2/3 da pena base, eis que não contém o réu qualquer circunstância
que o desabone.
Ademais, tal deve ser assim interpretado como forma de solução processual muito citada por Aury Lopes
Jr. E Gustavo Badaró quando a solução processual é utilizada para compensar o autor pelo período que
permaneceu enclausurado quando a Lei lhe permitia o contrário. Logo, necessário conceder a proporção
máxima da atenuante, já que fora admitida no caso uma reincidência que não existe no sistema penal, como
já amplamente relatado e esta ainda foi a justificativa para manter o réu preso durante o procedimento.
d) Do recálculo da pena
Considerando-se todo o acima exposto, o réu não deve permanecer com a pena a ele atribuída, qual seja,
5 anos e 10 meses. Por força da aplicação da diminuição de pena, tendo os Desembargadores analisado
com parcimônia e dedicação o caso, chegarão à conclusão inevitável que o réu é merecedor de uma
pena menor que 4 anos (dada incidência utilizada para configurar a diminuição prevista no artigo 33, § 4
º, da Lei 11. 343/2006).
Dessa feita, como o próprio STF já considerou o dispositivo que previa a impossibilidade de aplicação de
pena restritiva de direito em caso de controle difuso como inconstitucional, gerando posteriormente a
Resolução nº 5 do Senado que possibilita a conversão da pena. Logo, o réu faz jus a esta, nos termos do
artigo 44, I, do CP.
Ademais, caso não seja este o entendimento de Vossas Excelências, que adotando a sistemática requerida
nesta peça, o nobre Julgador possa conceder uma pena menor que 4 anos e portanto, passível de regime
aberto, nos termos do artigo 33, § 2º, “C”.
Preliminarmente, a concessão de liberdade provisória sem fiança com o competente alvará de soltura.
Que não seja acatada a majorante do artigo 40, III, da Lei de Drogas, afastando a reincidência, bem como
que lhe seja reconhecida a aplicação da causa de diminuição de pena do artigo 33, § 4º, da Lei de Drogas
dando o direito ao réu ao cumprimento de penas restritivas de direito e subsidiariamente o cumprimento
da pena privativa de liberdade inicialmente no regime aberto.
Local, XX/XX/XX
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JULIANA PEPEU
Razões de Apelação
Apelante: Juliano
O acusado foi processado como incurso nos artigos 33, caput, c/c art. 40, inciso III, da Lei 11.343/06, tendo
o réu sido flagrado na posse de substância supostamente identificada como cocaína, ao sair do metrô
em São Paulo/SP. A denúncia foi oferecida pelo Ministério Público, sendo recebida pelo d. juízo, que ao
sentenciar a lide, condenou o recorrente à pena privativa de liberdade, fixando-a em cinco anos e dez
meses de reclusão, incluído um sexto da causa de aumento, devendo iniciar o cumprimento da pena em
regime semiaberto, outrossim, sendo negado seu direito de recorrer em liberdade.
Como ficou comprovado ao longo da instrução criminal o réu preenche todos os requisitos para incidência
da referida causa de diminuição de pena, não podendo pena já extinta impedir a concessão do benefício.
Trata-se de réu primário uma vez que já transcorrido o período depurador da reincidência. Ocorre, contudo,
que o juiz de piso negou a aplicação da minorante com fundamento nos supostos maus antecedentes
do acusado.
Ora, se essas condenações não mais servem para o efeito da reincidência, com muito maior razão não
devem valer para fins de antecedentes criminais, pelos efeitos deletérios da reincidência.
A sentença, portanto, merece reforma ao considerar a anterior condenação cuja pena já foi extinta pelo
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
cumprimento da pena, há mais de sete anos, não podendo, assim, fundamentar as razões apresentadas
pelo magistrado para impedir a concessão da redução da pena, que avaliou abstratamente a gravidade
da conduta, sem que houvesse qualquer indício verossímil para tanto.
O impedimento criado pelo magistrado não tem fundamento legal, sendo, portanto, arbitrário e ilegal.
Como constatado, o réu preenche todos os requisitos para a concessão da minorante no seu máximo: é
primário, de bons antecedentes, já que a condenação superior a cinco anos não pode ser considerada
maus antecedentes, não se dedica às atividades criminosas nem integra organização criminosa.
Portanto, a pena deve ser fixada no mínimo de um ano e oito meses, em regime aberto, na forma do art.
33, §2º, c, do Código Penal.
O juiz sentenciante aplicou a majorante considerando que o réu trazia a droga consigo em transporte
público de passageiro. Ocorre que, o réu foi flagrado fora do metrô, não estando sequer dentro de
transporte coletivo.
Como vem decidindo recentemente o Supremo Tribunal Federal, para que incida a majorante do inciso III,
do art. 40 no caso em questão, seria preciso que o acusado estivesse difundindo a droga dentro transporte
coletivo, o que não restou configurado, já que o réu sequer se encontrava dentro do transporte, quando
foi surpreendido em flagrante.
Dessa forma, a mera utilização do transporte público para o carregamento comercialização da droga não
leva à aplicação da causa de aumento do referido dispositivo, devendo, portanto, ser desconsiderado o
aumento de um sexto, devendo ser aplicada no seu mínimo legal.
O réu respondeu todo o processo privado da sua liberdade, ocorrendo no caso verdadeira inversão dos
valores constitucionais que regem o processo penal.
Ausentes os requisitos que autorizam a prisão preventiva, o réu responde o processo em liberdade. No
caso em tela, não há qualquer razão para que o réu permanecesse preso, além da gravidade abstrata do
delito. Nenhum requisito do art. 312 e 313, do CPP ficou evidenciado para justificar a segregação cautelar
do réu.
Conforme farta jurisprudência dos Tribunais Superiores, o que realmente influencia para que se mantenha
ou não a prisão é a existência de indícios concretos de que a custódia é necessária para a garantia da ordem
pública, para a conveniência da instrução criminal ou para evitar riscos à aplicação da lei penal. Trata-se
da aplicação do princípio da homogeneidade da prisão, a qual demanda que haja proporcionalidade
entre a pena provisoriamente cumprida e a pena final a ser definitivamente aplicada na sentença.
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ESPELHO DE CORREÇÃO DA 1ª RODADA
Não obstante, o Supremo Tribunal Federal, desde 2012, declarou inconstitucional a vedação da concessão
da liberdade provisória para o crime de tráfico de drogas, dando interpretação conforme à Constituição
do caput do art. 44 da Lei 11.343/06 para excluir a referida vedação, sob pena de lesão ao princípio da
individualização da pena.
A restrição da liberdade deve ser aplicada como ultima ratio, ainda após a reforma da Lei 12.403/11, a qual
previu a imposição de medidas cautelares pessoais diversas da prisão, justamente para evitar o cárcere.
A sentença, portanto, merece reforma ao considerar a anterior condenação cuja pena já foi extinta pelo
cumprimento da pena, há mais de sete anos, não podendo, assim, fundamentar as razões apresentadas
pelo magistrado para impedir a concessão da liberdade ao réu, avaliando abstratamente o risco de
reiteração da conduta, sem que houvesse qualquer indício verossímil e concreto para tanto.
VI – Do pedido:
Ante todo o exposto, requer sejam admitidas as presentes razões e providas para:
a) seja reformada a sentença para ser aplicada a minorante do art. 33, §4º, fixando a pena base em
um ano e oito meses, para ser cumprida em regime aberto;
b) seja reformada a sentença para que afastar a majorante do inciso III, art. 40 da Lei 11.343/06;
c) seja concedida a liberdade provisória ao réu até o transito em julgado da sentença, requerendo
sejam fixadas medidas cautelares diversas da prisão, a qual deve ser aplicada apenas um último caso,
presentes os requisitos autorizadores;
Pede deferimento.
Defensor Público.
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