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Em termos atuais, isto equivale a indagar se tais termos ditos universais possuem um
significado e\ou referente efetivos, ou seja, se está associado, a cada um deles, um
conceito significado e\ou um ente referencial.
Porém, se a questão não era nova, certamente o foram a sua reproposição a sua ascensão
ao cerne das reflexões, a sua centralidade em face das discussões intelectuais do mundo
cristão, a partir de Boécio. Fora este quem inaugurou este longo debate medieval, a
partir de sua meditação a respeito da Isagoge de Porfírio, obra que constitui uma espécie
de introdução ao estudo do Organon aristotélico.
Embora o Organon constitua uma coletânea de tratados hoje classificáveis como lógico-
linguísticos, ela incorpora certos princípios filosóficos comuns a todo o pensamento
aristotélico (ainda que se postule uma evolução diferencial da filosofia de Aristóteles).
Um destes elementos basilares é o chamado primado da substância, a qual,
na Metafísica (1028a 12-15), assume o papel de significado fundamental do ser,
enquanto os demais significados\sentidos a ela se refeririam como sua realidade
primordial.
É justamente por esta razão que os universais não possuem, para Aristóteles,
independência ontológica em face dos entes sensíveis, das substâncias individuais.
Universais, gêneros e a noção de verdade seriam relativos a elas, predicáveis ou
atribuíveis a elas.
Mas, qual seria a importância de distinções tais para o pensamento cristão? Ora, Boécio
se situa, precisamente, num momento de transição entre o período patrístico, da
primeira elaboração teológica da Igreja, e o período Escolástico, segundo momento da
História intelectual da Igreja.
Esta segunda tese, aliás, é crucial para o entendimento da querela; afinal, além de
universais, as Idéias, se existissem, seriam eternas, imutáveis e incorruptíveis, uma vez
que se distinguiriam dos entes sensíveis, sujeitos à geração e à corrupção, de modo que,
para além dos diversos cavalos concretos, haveria uma Idéia eterna do cavalo (ou da
"cavalidade"), e assim por diante.
Tomados assim tal como expostos pelos dois sábios gregos, os universais haveriam de
ser ou transcendentes aos entes, ou imanentes a eles. Obviamente, houve tentativas de se
pensar alternativas a isto, uma vez que a polarização extrema entre ambos criava uma
significativa aporia ou dilema. Por um lado, havia o postulado gnosiológico realista,
compartilhado por quase todas as correntes filosóficas da época, segundo o qual "só
existe sensação ou experiência de entes sensíveis"; ou seja, é impossível ter uma
sensação universal. Por outro lado, há um princípío de origem neoplatônica, mas
igualmente difundido e aceito, que preconiza Deus como ser individual plenamente real
(ens realissimum).
Este segundo postulado ainda criava outros problemas. Em primeiro lugar, se Deus é
um ente individual, resta saber se ele também pode ser simultaneamente universal. Para
fazê-lo, existem duas possibilidades. A primeira é admitir a ambivalência ontológica de
um Deus individual e universal, coisa não muito difícil ao pensamento católico
acostumado com a co-validade dos dogmas da Unidade e da Trindade. A segunda
alternativa consiste em admitir a Sua universalidade e negar a realidade última do
sensível.
Uma terceira via, escapando aos termos da aporia, consistia em admitir universais e
sensíveis numa cadeia hierarquizada de seres.
Contudo, para além das consequências teológicas, importa ressaltar outras interessantes
proposições medievais sobre o tema. Assim, além dos partidos já citados, da imanência
e da transcendência do universal, ou seja, das correntes realistas, ainda havia dois outros
grupos.
a) Sentido ontológico: universal ante rem - transcendente, real e existente em ato para
além do ente singular. Universal como ente.
c) Sentido lógico: universal post rem – universal como gênero conceitual ou nome
coletivo (classe ou coleção). Universal como conceito, entidade conceitual.
IN: http://paragensfilosoficas.blogspot.com.br/2012/03/querela-dos-universais.html