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O golpe de 1964 em produções cinematográficas: uma breve análise dos

filmes pra frente, Brasil e Batismo de sangue


Júlio César Miguel de Aquino Cabral – 141448520

Este trabalho foi feito com o objetivo de cumprir com os


requisitos da disciplina Brasil República II ministrada
pela professora Edna Maria Nóbrega de Araújo no curso
de História da UEPB - Campus III. Turma: 2014.1.
Turno: Noite.

Introdução

Este trabalho foi construído tendo com a base a experiência áudio visual obtida
por meio dos filmes Pra frente, Brasil e Batismo de Sangue. Optei por não elaborar
uma discussão historiográfica sobre o momento de produção dos filmes e sobre as
relações de seus produtores com o regime militar. Ao invés disso, farei alguns
apontamentos gerais sobre cada um dos filmes e buscarei, nos limites deste trabalho,
estabelecer as devidas relações com as discussões feitas em sala de aula. O texto
complementar utilizado para desenvolver este trabalho é O carnaval das direitas; o
golpe civil (Segundo capítulo do livro 1964: História do regime militar de Marcos
Napolitano).

Desenvolvimento

O filme Pra frente, Brasilfoi produzido em 1982. O filme, em síntese, narra à


história do personagem Jofle que, apesar de ser neutro no que diz respeito ao regime
militar, acaba sendo preso e torturado por um grupo de extrema-direita ligado ao
governo. A princípio é notável a intenção do diretor do filme de estabelecer o contraste
entre a euforia provocada pela copa do mundo de 1970 e o acirramento político dentro
do regime militar.
Uma das questões que podem ser percebidas, ao assistir o filme citado, é a
complexidade do regime militar. Ao contrário da visão simplista que acredita que a
máquina governamental prendia e torturava seus oponentes políticos, o filme nos mostra
um sistema de repressão que se estruturava a partir de diversos segmentos sociais.
Empresários, informantes, grupos para militares e o governo faziam parte deste sistema.
Esta questão nos leva ao texto de Napolitano em que o autor mostra que o regime
militar não foi apenas uma imposição de uma elite militar e política, mas fruto de
consensos sociais envolvendo grande parte da população brasileira.
O filme também ilustra muito bem a atmosfera paranoica que rodeava as
relações sociais durante o regime militar. Qualquer palavra de teor politico, que fugisse
dos clichês governamentais, era tida como sintoma de subversão e terrorismo. A
situação se agravava com as desconfianças sobre a imprensa (podemos notar isso na
cena em que Miguel conta para Marta - esposa de Jofre – sobre censura que imprensa
estava sofrendo). Algumas cenas mostram a desconfiança no ambiente de trabalho.
No filme também é possível perceber a força estudantil na luta contra o regime.
A universidade era um centro canalizador de ideias – subversivas para o governo –
revolucionarias para a esquerda. O alistamento de estudantes em grupos de esquerda
(inclusive grupos que utilizavam armas, sequestros e roubos como forma de combate)
mostra a radicalização de ideologias políticas. Dentro desta conjuntura, o movimento
estudantil mostrou sua força de articulação e, sobretudo a coragem de alguns sujeitos
em denunciar e lutar pelo fim da ditadura.
A forma como o filme constrói a identidade do protagonista é bastante
significativo. Cidadão aparentemente pacato, classe média, sem envolvimento com
grupos políticos (de direita ou esquerda) e funcionário dedicado. Preso por engano e
torturado sem ter algo significativo para confessar, o personagem me fez refletir sobre a
seguinte questão: Em momentos políticos de extrema tensão (como foi o caso do regime
militar) a neutralidade pode ser percebida como virtude? Apesar de ser uma questão
complexa podemos perceber, ao longo do filme, que mesmo alheio à conjuntura
politica, o personagem não escapou da tortura e consequentemente da morte. Isto mostra
que o silêncio diante de regimes totalitários também custa um preço. Uma hora ou outra
todos os cidadãos pagam por viver dentro de um regime de repressão e de extremismo
ideológico.
Diferentemente do filme Pra frente, Brasilos protagonistas do filme Batismo de
sangue, lançado em 2007, tinham envolvimento com os movimentos políticos de
esquerda. O filme, baseado no livro com o mesmo titulo escrito por Frei Beto, narra a
historia de jovens frades, membros da igreja católica, que se envolvem em movimentos
de resistência ao regime militar. O grupo de religiosos dava apoio logístico ao grupo de
esquerda denominado Ação Libertadora Nacional.Descobertos que tinha como uma de
suas principais lideranças Marighela. Descobertos, os frades pelo regime são presos e
torturados.
Por meio deste filme podemos perceber as contradições dentro da instituição
católica. De um lado sacerdotes que apoiaram diretamente o regime militar como é o
caso do padre paraibano Luís Gonzaga de Oliveira e de outros militantes que, baseados
em ideais cristãos, lutavam contra as injustiças da ditadura. Enquanto historiadores, isto
nos mostra os perigos das generalizações e junto a isto da demonização de determinadas
instituições. Como é perceptível no texto de Napolitano, havia jornais a favor e contra o
regime (mesmo que estes últimos devido à conjunta desfavorável fossem minorias).
Havia militares que não apoiaram o regime.
Uma das características fundamentais do filme, em minha opinião, é a
capacidade de evidenciar os danos da tortura não apenas em seu aspecto material
(machucados, sangue, agressões), mas também psicológicos. Podemos ver os impactos
posteriores das torturas em algumas cenas de Frei Tito. As memórias se faziam presente
a todo o momento, dificultando coisas normais do cotidiano de um católico como o ato
de comungar. Algumas cenas mostram o Frei fugindo para uma floresta, como se isto
simbolizasse a fuga das próprias memórias que só pode definitivamente acontecer
mediante a morte. Frei Tito se suicida.

Considerações finais

De uma forma geral dos dois filmes potencializaram nossa capacidade de análise
da conjuntura política e social do regime militar no Brasil. Unidos aos textos e as
discussões em sala de aula, nos foi possível ter uma visão ampliada do regime, fugindo
dos chavões e simplificações. Produzidos em períodos históricos distintos os filmes nos
fazem ver as múltiplas leituras de um mesmo período histórico. Nesta perspectiva,
podemos afirmar que os filmes são ótimas ferramentas de análise, vindo a somar em
nossa formação enquanto historiadores.

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