Capitulo 3
Modernidade e
Meios de Comunicacdo
Pp forca de um costume que vem dos tempos de escola, divide-
se ahistéria da humanidade em quatro periodos. Sao eles a
Antigitidade, a Idade Média, a Idade Moderna e a Epoca Contem-
poranea, :
‘A Idade Moderna teria seu inicio em 1492, com a descoberta da
América) vindo a terminar, em 1789, com a Revolugio Francesa,
‘A sociedade moderna deve sua origem imediata as grandes con-
turbacdes que tiveram lugar no século XVIII, uma de ordem politica
e outra de natureza econdmica. Desde 0 Renascimento e da Reforma
Protestante, haviam sido estabelecidos no mundo ocidental padrdes
de desenvolvimento distintos do resto do mundo. O individualismo
¢, em tiltima instancia, 0 secularismo (uma heranga do protestantis*
mo) motivaram também progressos no dominio da ciéncia, seja como
método, seja como pratica. O primeiro provocou revolugées politi-
cas na América do Norte ¢ na Franga; 0 outro, ao criar uma atmosfe-
ra conducente a inovacio tecnolégica, viria a constituir-se no princi-
pal fator da Revolucdo Industrial inglesa, no final do século XVIII.
De um modo ou de outro — e sejam quais forem os limites cro-
nolégicos que se deseje propor (final do século XV, meados do sé-76 TEORIAS DA COMUNICACGAO
culo XVII ou desde fins do século XVIII) —a nogao de modernidade
se sustenta em pelo menos trés nticleos de significado
1. significagao cultural, cognitiva e ética — movimento racio-
nalista, filosofia iluminista, certeza do progresso, desenvolvi-
mento das ciéncias e das grandes narrativas ou teorias descri-
tivas (0 evolucionismo de Charles Darwin, 0 positivismo de
Auguste Comte, o ideal democratico, segundo Alexis de Toc-
queville, a teoria do materialismo histérico de Karl Marx etc. );
. significagao econ6mica e social — os processos de industriali-
zagao e urbanizacao crescente enfeixados em um s6 mercado
mundial, sob a égide do capitalismo;
. significagao politica — surgimento dos estados nacionais, va-
lorizagdo da democracia como “tipo ideal” de governo; eclosao
dos movimentos “de massa”, tendo por suporte os meios de
comunicacao.
Em plano elevado, o estado-nagéo emergente ter sido, a rigor,
o principal representante da Modernidade — época em que se edi-
ficam (ou adquirem enyergadura) mercados e Estados. Tais Estados,
que incentivam a criag4o de mercados nacionais, tém ensejado a
formagao supranacional de auténticas sociedades da informacao.
Esses estados nacionais encerraram tracos bem caracteristicos, en-
tre Os quais esta a intensa vigilancia que, com instrumentos que so
08 seus, jamais deixaram de exercer sobre os cidadaos. E essa, de
Testo, a base de sua complexa organizagao, uma vez que a eficiéncia
de funcionamento do mercado requer tal zelo. Isso quer dizer que
organizacao e observacio sistematica so irmas siamesas; ¢ que os
meios de comunicagdo sempre estiveram em medida de colaborar
para o éxito (social e politico) desse programa.
Afirma-se a autonomia da razéo humana; reforga-se a crenga no
progresso ilimitado de que o ser humano é capaz; toma-se, utopi-MODERNIDADE E MEIOS DE COMUNICAGAO 77
camente, 0 futuro como o lugar de plena realizacao das promessas
do presente; em um tempo fértil 4 proliferacao das ideologias, pro-
jeta-se a “ideologia do progresso”; com suas variantes, opdem-se
no plano das idéias e das praticas capitalismo e socialismo.
[As organizagdes datam da Primeira Revolucio Industrial. Seu
modelo mais conhecido € 0 burocratico-mecanicista, facilmente assi-
mildvel ao modelo de produgao taylor-fordista. O engenheiro ¢ eco-
nomista americano Frederick W. Taylor (1856-1915) fora o grande
tedrico da “organizacio cientifica do trabalho”; o industrial Henry
Ford (1863-1947), pioneiro da indistria automobilistica, criou a Ford
Motor Company, em 1903, nos Estados Unidos. Espirito afeito 3
inovacdo, H. Ford racionalizou os métodos de produgio ¢ sua em-
presa, introduzindo a “linha de montagem”. Passou, entao, a produ-
vir mais vetculos, diminuindo os custos de produgao e permitindo a
um significativo nimero de consumidores a compra de um Ford T.
Entre os principios organizacionais basicos desse modelo figu-
ram a estrutura hierdrquica, a centralizacao das decisbes a serem
tomadas, a divisio das fung6es, a padronizacao de procediment
a compartimentagao da produgao, 0 rigido planejamento, a super-
visao gerencial e a prioridade dada a obtengio de eficiéncia econd-
mica. Sobre tais principios ird assentar-se uma gama de atividades
humanas e praticas de troca que v4o da montagem de automéveis &
venda de hambiirgueres; do transporte aéreo de passageiros a expe-
digao de carteiras de habilitagao.
Com seus métodos, é possivel que F.W. Taylor ¢ H. Ford tenham
feito do homem um “ser biomecanico”, algo préximo a um “aut6-
mato humano”. Como dissemos, no filme Tempos Moderno3 foi fei-
to um comentario satirico a rigidez e A dificuldade adaptativa do
modelo taylor-fordista as exigéncias pr6prias a novos contextos de
civilizacao. Nesse seu filme, Charles Chaplin introduziu uma erftica
mordaz as insuficiéncias de coordenagio da atividade produtiva ¢,
pela tediosa repeticiio mecdnica, 4 baixa motivacio infundida aos