Você está na página 1de 10
12 Historia das toorias da comunicagdo pela qual esses programas de diverséio de massa tra- tam as contradigoes da vida ¢ da experiéncia de ho- mens € mulheres de vastas camadas sociais, ¢ parti- cipam da construgao de um senso comum popular. No centro dessa linha de pesquisa, estao 0 estudo das representagies cle género feminino/masculino, de clas- se social, de grupos éinic A elapa seguinte vé se acentuar 0 deslocamento do estudo dos textos para o das audiéncias (ver eapi- tulo VI, 2) ECONOMIA POLITICA A economia politica da comunicagio comega a se desenvolver nos anos 60. Assume de inicio a forma de him questionamento sobre o desequilibrie dos fluxos ce informagao e produtos culturais entre os paises luados ce um lado ¢ de outro da linha demareatoria do “desenvolvimento”. A partir de 1975, a economia politiea se encami- hha para uma reflex que nao versa mais sobre a “inehistria cultural”, mas sobre as “inchistrias cultu- vais”, A passagem do singular ao plural revela o aban- slono de uma visdo demasiado genérica dos sistemas cle comunicacao. No momento em que as politicas xovernamentais de democratizacéo cultural e a idéia «le servigo e monopélio puiblicos sto confrontadas eom Jogica comercial num mereado em vias de inter- nacionalizagao, trata-se de penetrar na complexida- le dessas diversas indiistrias para tentar compreen- «ler © proceso crescente de valorizagio das ativida- les culturais pelo eapital. ns Historia des teorias: da comunicagio 1, A dependéncia cultural Integracdo mundial e troca desigual Marx e seus epigonos mencionavam 9 eardter“re- volucionario” do capitalismo, euja lei de sobreviven- cia 6 transformar continuamente as forgas produtivas. Devido a essa expansio e a esse progresso permanen- tes, esse regime cria, sem saber, as condigdes de sua prépria queda, desenvolvendo as forgas sociais ¢ agu- ando suas contradigdes. O“desenvolvimento” de cada sociedade espeeifica depende, antes de mais nada, da evolucdo de suas estruturas internas, Cada socieda- dle passa obrigatoriamente por etapas, ¢ a hist ada uma responde a um “modelo suce: A.essa visio du hist6ria, economistas ¢ historiado- res contrapdem um modelo sinerdnico e simultaneo, objetando que a historia do eapitalismo em numerosos paises ndo corresponde a esse esquiema e que o“desen- volvimento” nao ¢ inelutavel. Pois é mais ao “desenvol- vimento do subdesenvolvimento” que ste em muitas regides clo mundo, A unidade de anilise do capitalismo moderno nao pode ser a sociedade nacio- nal, mas 0 “sistema-mundo”, do qual as nagées so meros componentes. Kssa hipatese sobre a integracao mundial, formulada pelo economista Paul Baran, em 1957, em seu Economia politica do crescimento, vai a0 encontro da hipétese do historiador Immantel Wallerstein, em didilogo com 0 eoneeito de “ccono- mia-mundo” de Fernand Braudel. © conceito de “economia-mundo” define-se se~ gundo uma tripla realidade: um espago geogritico Beonomia polities 115, thudlo; a existéncia de um pélo, “centro do mundo”; ‘jonas intermediarias em torno desse pivd central ‘le margens bastante amplas, que na divisio do tra~ halio se acham subordinadas e dependentes das ne- cossidades do centro. Esse esquema de relagdes tem um nome: a troca desigual. O capitalismo € uma criagao da desigualdade do mundo” [Wallerstein, 1903] e 86 pode ser concebido num espaco desmedi- «lo, “universalista”. O mapa das “redes comerciais”, cisjas redes de comunicagao constituem parte essen cial, manifesta essa configuraedo centripeta do mun- «lo, com suas hierarquias ¢ a coexisténcia de modes de produgao diferentes. Resultado de uma ruptura com as teses sobre a historia do capitalismo mocerno defendidas pelos clas \cos do marxismo, a economia politica da eomunica- (to afasta-se também do esquema Leste-Oeste que rou a sociologia da midia americana. A polarizagao vovocada pela guerra fria marea as elivagens operadas has eiéneias sociais da comunicagio, Lazarsfeld reco hece-o ao inaugurar diante de seuis colegas da Assoc (ao Americana de Pesquisa da Opinio Piibliea (AAPOR) © novo campo de pesquisas batizado de internacional”, ¢ ineita-os a reforgar setis lagos com os uNupos € instituigdes que S40 os atores desse cendrio wvcial” [Lazarsteld, 1952].A visdo do espaco internacio- nal como lugar de confronto entre dois blocos, entre «luas ideologias, que anima a pesquisa ¢ o cesenvolvi- inento industrial e militar das novas teenologias da infor 10 € da comunieagao (do computacor do satélite), mobiliza também a maior parte da pesqutisa funcio- 116. Histdria das teorias da comunicucao nalista sobre a comunieaedo internacional, como de- monstra com elogiiéneia a pesquisa administrativa sobre as ridios governamentais. A propria aborda- gem difusionista dos problemas da comunicagao, as- sotiada as estratégias de desenvolvimento-moderni- zagao no Terceiro Mundo, é inexplicdvel sem 0 pano de fundo dessa abordagem maniqueista ditada pelo imperativo da seguranga nacional” (ver capitulo I, 2). E o que explica por que a analise funcionalista reme- te a doutrina do departamento de Estado sobre 0 free {flow of information, ealeado sobre o principio intan- givel da liberdade de circulagao das mereadorias, assimilando pura simplesmente a liberdace de ex- pressao comercial dos atores privados do mereado a Tiberdade de expressio em geral 0 imperiatismo cultural A nova visio do espaco mundial leva # uma reno- vago do estuo das relagoes internacionais em ma- téria de cultura e comunicagdo. Suseita indmeras pesquiisas que exemplificam a troca desigual dos di- versos produtos culturais, Nos Estados Unidos, entao as voltas com os con flitos do sudeste asidtico e as hitas contra-insurre- cionais em varios paises do Tereeiro Mundo, a ques~ to da dependéncia cultural alimenta a reflexao de um pesquisador como Herbert Schiller. Sua primeira obra, Mass Communications and American Empire, publicada em 1969, mas que contém artigos publica- dos desde 1965, inaugura uma longa série de pesqui- sas que, a partir da anélise da imbricagao entre 0 vomplexo militar-industrial e a inddstria da comu- nicagao, resultam numa vasta dentincia da crescente privatizagaio do espago piiblico nos Estados Unidos, No mesmo ano, Thomas Guback, professor na Uni- dade de Mlinois, publica The International Film Industry, que se tornou um clissico da anélise das estratégias de penetragao das grandes firmas cine- matograificas americanas nos mereados europeus desde 1845, Schiller, professor da Universidade da Califo: hia, préximo a tradi¢ao inaugurada por Wright Mills, definiu um conceito que animou tanto a pesquisa como @ aga, o de “imperialismo cultural”: “O con- junio dos processos pelos quais uma sociedade é in- troduzida no sistema moderno mundial, ¢ a maneira pela qual sua eamada dirigente é levada, por fascinio, pressdio, forca ou corrupedo, a moldar as instituigdes suviais para que correspondam aos valores ¢ estrutu- ras do centro dominante do sistema, ou ainda para Ihes servir de promotor dos mesmos” [Schiller, 1976]. Um «los mais prestigiosos periddieos especializados dos Es- tos Unidos, o Journal of Communication, fundado em 1150, muda de orientagao sob a diregao de George iorbner, professor da Universidade da Pensilvania, e ppsssa a conceder em suas paginas amplo espaco aos de- hates sobre os grandes desequilibrios mundiais em ma- cvia de comunieagaa e sobre as mudangas ocorridas nos enoques teérieos [Gerbner, 1983}. Nos anos 70, a perspectiva critica americana se nuriquece com as contribuigdes de Stuart Ewen, que publica uma histéria do dispositive publicitario, ‘la um dos raros estudos sobre os fundamentos da

Você também pode gostar