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Esta constatação desperta certa atitude filosófica, visando aprofundar, ampliar, solidificar, e
descortinar o enigma da superpropriedade presente nos seres. Ou seja, o que é a vida? Na
realidade, a definição da vida “não é uma noção de ciência natural, mas sim, da metafísica”
(BOSTI, apud IMBAMBA, 2010, p. 201). Com efeito, no plano metafísico existem duas
concepções que procuram responder esta questão: por um lado, os mecanicismos (moderno e
actual) que explicam a vida pelas propriedades físico-químicos da matéria, neste caso, “a vida é
um fenómeno derivado que encontra na matéria todas as razões suficientes do seu manisfestar-
se” (MONDIN, apud IMBAMBA, 2010, p. 204), e noutro lado, o vitalismo que explica a vida
pela direcção e finalidade manifestada no comportamento e na estrutura dos seres, desta feita, a
vida é “um fenómeno absolutamente originário, portanto, irredutível à matéria” (MONDIN, apud
IMBAMBA, 2010, p. 203).
Outrossim, apesar dela reconhecer a vida nos minerais, vegetais, animais, antepassados e em
Deus a ética Bantu e particularmente angolana é antropocêntrica, visto que, o homem é
considerado aqui como “a força suprema, a mais poderosa entre os seres criados” (ALTUNA,
2014, p. 253), pois o “muntu”, a pessoa humana e, por conseguinte, o único ser somático que
possui vida com inteligência encontra-se no centro da pirâmide vital, ou seja, os antepassados, os
animais, as plantas e os minerais estão destinados a realizar a plenitude humana. Contudo, quem
domina a pirâmide vital é Deus; Ele que é a fonte da vida.
Embora, a tradição angolana colocar a centralidade no homem, ela valoriza mais a comunidade,
a participação e a interacção vital, ou seja, o homem “torna-se menos pessoa quanto mais se
individualiza, singulariza, materializa e desagrega em egoísmos agrestes”. (ALTUNA, 2014, p.
255).
Cabe a família, a tradição e as decisões comunitárias ensinar o indivíduo o que deve evitar e
cumprir, herarquizar os valores, medir a responsabilidade, amadurecer a sua sabedoria. Pode-se
notar uma vertente existencialista na concepção ética angolana, pois concebe que o “homem não
é por natureza nem bom nem mau. É aquilo que faz”. (ALTUNA, 2014, p. 503), isto é, ele
ultrapassa todos arquétipos, todas essenciais que tendem aprisioná-lo actuando mediante as
regras e os costumes da comunidade bem ou mal.
Logo, “ser pessoa não é uma realidade inata, mas adquirimo-lo na comunidade na medida em
que agimos intencionalmente, desta forma as crianças e os jovens não são pessoas, pois não têm
intencionalidade moral”. (MENKITI, apud SILVA, 2017, p. 9). Ora, cabe fazer a seguinte
constatação, a responsabilidade, a liberdade, a vontade e a consciência social é o que confere o
estatuto de “muntu”, por isso, um jovem ou um mais velho que não tem estas qualidades, que
não é circuncisado e não passou nos ritos de iniciação não é considerado pessoa. No nosso país,
“há grupos que desconhecem e outros que praticam parcialmente. Por isso, as nossas afirmações
referem-se só aos grupos que exigem os ritos de iniciação”. (ALTUNA, 2014, p.279).