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BR2000005
E50;E15/B/M/V
ANON.
A CASA DO POVO: (SOCIOLOGIA RURAL; SINDICATO
; COOPERATIVA; BRASIL)
RIO DE JANEIRO, GB (BRAZIL)
1920 20 P.(PT)
/G514
SOCIOLOGIA RURAL; MICROECONOMIA; ASSOCIACAO RUR
AL; SINDICATO; COOPERATIVA DE CONSUMO; COOPERAT
IVA DE CREDITO
A CASA DO POVO
Esta cyclica instituição reme todas as actividades
moraes, economicas e politicas, que representam a vida
social, organizada, do proletariado, satisfazendo ao con-
junto das necessidades com a especialisação associativa
e a disciplina isenta de reguas categoricas que, pertur-
bam a evolução natural do homem no assimilar progres-
sivo de uma cultura collectiva.
As sédes das uniões, ou syndicatos operarios exis-
tentes numa cidade, devem reunir-se em blóco, formado
uma séde commum no edificio da «Casa do Povo», po-
rém conservando cada classe a sua secção autonoma,
perfeitamente apparelhada para servir ás particularidades
dos misteres e celeccionar os meios de defesa profissio-
nal, como os de aperfeiçoamento dos officios.
As subdivisões, proporcionadas ás necessidades pro-
prias, terão um caracter que imprima no ambiente os
fins conjugados para uma acção conjunta perfeitamente
delineada na direstiva moral como na material.
O edificio não pode deixar de occupar um grande
terreno, pois na sua area centraz, arborisada, devem es-
tabelecer-se créche, onde as mães que trabalham dei-
xam ficar os filhos aos cuidados da ssistencia á infan-
cia proletaria, e o jardim das crianças, fiscalisado com
todo carinho e apurado espirito educador.
As quatro alas terão andares sufficientes, reservan-
do-se os superiores aos commodos, dormitorios communs
para cada sexo, em que reine o mais caprichoso asseio,
e a ordem.
Na parte inferior acha-se-hão as cooperativas de pa-
nificação, consumo a credito, que darão origem a ou-
tras, a sala de conferencias, espectaculo e dansa, a de
gymnastica e duma lavanderia hygienica, o consultorio
medico e dentista a pharmacia, a typographia do or-
gão de informação geral e propaganda, com a livararia
annexa, a taberna certo onde os alimentos serão de-
vidamente analisados, sendo prohibidos o jogo e o al-
cool.
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A Bibliotheca e a Universidade Popular com o seu
laboratorio e amphitheatro proprio para as projecções
instructivas e scientificas, devem occupar o lado mais
silencioso do quarteirão e no primeiro andar.
Um pequeno museo artistico-scientifico, organisado
com estampas, deve ser franqueado ao publico, entre-
meando-se as suas salas com as de exposição de objectos
feitos pelos operarios.
No que respeita á collecção scientifica, será observada
uma ordem synthetica da evolução social, produzida pe-
las grandes descobertas que transformaram os costumes.
Quanto ás artes serão representadas pelos mais bellos
monumentos, conforme as epochas e as civilizações.
Já nos principaes centros socialistas existe esse am-
biente de cultura intensa, moral e pratica, sob os auspi-
cios da philosophia que se libertara dos dogmas cate-
goricos, deixando ao individuo espaço bastante para sen-
tir, pensar; exprimir por si proprio, livrando-se o es-
pirito humano da forma despotica que atropbia os senti-
dos, destrue a espontaneidade, avassala o pensamento,
enfraquece os instinctos proprios de defesa cordial e
galharda.
Porém, não resta duvida que, dentro da acção do
Socialismo doutrinario, ainda se sente a lacuna, que só
os congressos internacionaes, levados a effeito para fi-
xar as bases geraes e particulares da cultura, sob o ba-
fejo poderoso do collectivismo, poderiam encher.
Tambem a propaganda do verdadeiro cooperativismo
basico, resente-se da falta de congressos especiaes, pe-
riodicos.
A instrucção ministrada na «Casa do Povo» tem que
servir a todos e de maneira a facilitar o maximo de
conhecimentos.
Os homens livres que applicaram a sua intelligencia
nos estudos superiores, que tanto aprenderam nos livros
efficientes, sinceros, como na vida ou no decorrer duma
existencia de trabalho mental profundo, tem no Socialismo
um campo vastissimo para derramar a sua cultura sadia,
isenta da presumpção ou da morbidez das ambições
egolatras.
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Quanto aos «outros», os que são impellidos pelo mo-bil
da vaidade, não seriam elles perigosos revoluciona-
rios, caso soffressem os seus faceis pergaminhos os
mesmos vexames que o proletariado?...
Para aquelles, o Socialismo não é uma utopia, nem
tão pouco lhe negam a elevação theorica, tirada da
mais vital experiencia, tanto ou quanto como em qualquer
sciencia, ou como qualquer dellas applicavel ao desenvol-
vimento social, porém já no sentido de concretisar uma
estructura organica, geral, do mesmo modo que a philo-
sophia encerra todos os conhecimentos, polindo as ares-
tas dos degraus da civilisação, plasmando a forma que
harmonisa o ideal com a vida.
Para estes, o Socialismo representa um perigo para
os seus vãos desejos a quem os dogmas servem
restringindo o espaço da consciencia, cuja subtileza se
confunde com a liberdade de quem é sincero e culto.
E’ inutil accrescentar que a maior cordialidade deve
reinar nesse ambiente aberto a todos os adventicios, sem
que sejam desviadas as vistas do que interessa aos
mais necessitados, e representa a principal acção do So-
cialismo systematico, expansionista e pacifico.
Eis a pedra angular da evolução, a ser collocada pelas
mãos dos operarios em cada cidade do Brasil.
Na «Casa do Povo» é que se apuram, além do mais,
os direitos e deveres dos proletarios, combinam-se as
medidas geraes de defesa mutua, collectiva e individual,
trata-se com os «patrões» os meios e modos de estabelecer
o regimen equitativo, como uma «bolsa de trabalho»,
inspiram-se as leis que o devem regulamentar desassomi-
bradamente, dando autonomia aos institutos economicos
e politicos, proletarios, emfim, estabelece-se o pleito
debaixo dum controle e programma explicito e não
conforme as vicissitudes reinantes...
Se os operarios em tudo já tiveram capacidade para
fundar as suas multiplas sociedades actuaes, lhes não ha
de ser difficil reunir todas ellas numa unica, qual a
«Casa do Povo».
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A ACÇÃO ORGANISADORA
SYNDICALISMO COOPERATIVISTA
AS COOPERATIVAS DE CONSUMO
NAS FAZENDAS
E’ notavel a boa vontade que alguns (bem poucos!)
fazendeiros têm para melhorar a sorte dos seus operarios,
nas fabricas e lavouras. Porém não há modo mais intel-
ligente e prompto que o da fundação de pequenas co-
operativas de consumo nas grandes fazendas e usinas, ser-
vindo tanto aos que trabalham na fabrica como na la-
voura, cooperativas essas que sejam criadas pelos pro-
prios operarios, que as devem dirigir, depois de iniciados
pelos fazendeiros ou pessoa competente por elles indicada
para esse fim tão nobre, patriotico, humanitario e econo-
mico, o qual representa um augmento de salario indiricto,
sem pesar na bolsa dos proprios fazendeiros que tambem
podem sorti-se nesses estabelecimentos sociaes, onde não
sómente se cuida da alimentação de primeira ordem para
o operario, como da educação deste nos misteres da nossa
primeira industria e lavoura annexa.
O fazendeiro de certo não deve temer esses institutos
onde só se propaga o bem e amor ao trabalho, como
o respeito mutuo e que é a melhor escola para a familia
de trabalhadores que moureja nos serviços proprios da
nossa maior fonte de riqueza.
Nos estatutos duma cooperativa precisa-se toda mo-
ralidade social e civica. Dest'arte é natural que esse
beneficio enorme, obtido pelo rendimento do trabalho col-
lectivo e a grande harmonia conferida pelas cooperativas
de consumo, na vida trabalhosa dos campos, seja com-
pensado não sómente pela boa vontade em formal-as de-
baixo das puras regras cooperativistas, expostas na «A
cooperação é um Estado», como tambem nas percenta-
gens que as fabricas e fazendas devem dar ás cooperativas
de consumo de seus operarias, que representa tambem
o unico meio de fixar o operario no lugar onde trabalha,
sendo até um digno attractivo para os que luctam nas
cidades com a falta de emprego.
As cooperativas de consumo, deixando tambem por-
centagens para obras futuras, distribuidas as bonificações
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annuaes aos seus socios, e concorrem assim para um con-
forto tão real da vida operaria, que ninguem poderá
mais queixar-se de privações, desde que faça parte dellas.
E assim, pouco a pouco, o operario terá o seu credito
cooperativo, organisado pelas cooperativas, como assisten-
cia (medico, dentista e pharmacia), do mesmo modo que
se irá tratando de obter casa rustica, hygienica, dum as-
pecto agradavel, rodeada de hortas, pomares e flores, para
as familias dos trabalhadores, cuidando-se de ensinar ás um-
lheres e ás crianças os officios que convenham ás suas
forças de modo a estimular no maximo a vida activa e
alegria dos campos, onde os divertimentos tambem de-
vem ser orientados de maneira a cultivar o gosto das
massas mourejantes, abolindo-se o alcool, o jogo e todos
os preconceitos que difficultam os laços sinceros e que
atrophiam a juventude sadia e impedem á prole de in-
tensificar-se galhardamente, cheia de saude e confiança
num futuro grandioso que será a gloria bem solida do
nosso esplendido e amado Municipio.
O Partido Socialista ha de abençoar esta iniciativa dos
fazendeiros e industriaes, pois a elevação de principios
se encontram em todas as boas intenções. São os maiores
amigos do Socialismo Patrio, os que praticam abertamente
o bem para a humanidade, que Deus ajuda em tudo
que é sincero e que provem do bom senso e do amor.
A imprensa socialista, ao alcance da theoria pro-
gressiva como da pratica, é que estuda os factos, racio-
cina dentro da experiencia, tira do empirico para o ideal,
por isso é quem exerce a propaganda effectiva e deve
ser acceita por todos que presam quem se bate pela
ordem, paz e justiça, qual bom soldado de ferramenta
ás costas e livro pratico debaixo do braço, a marchar
para a Chanaan duma vida melhor, florida em institui-
ções alviçareiras, na maior concordia, estimulado não
pelas fanfarras mas pela consciencia dum patriotismo
substancioso, qual o que ha de tornar, a Patria boa e
bella para todos».
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