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PAULA KIMOTUKI
SÃO PAULO
1998
CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
MOTRICIDADE ORAL - FONOAUDIOLOGIA HOSPITALAR
PAULA KIMOTUKI
SÃO PAULO
1998
RESUMO
Neste final de século, uma das enfermidades mais temidas e pesquisadas é, sem
crianças. Em nosso país, existem mais de 652 casos notificados de crianças até
13 anos de idade infectadas pelo vírus HIV, sendo que este número tende a
aumentar.
Portanto, frente a este fato, o presente estudo tem como objetivo realizar um
possa atuar com mais consciência e oferecer, dentro de nossa área de atuação,
In the final of this century, one of the diseases more fearful and studied is, beyond
doubt, AIDS. Actually, all around the world, included Brazil, its dissimination has been
quick, reaching indiscriminate men, women and children. In our country, it has been
notificated more than 652 cases of children until 13 years old infected with HIV , and
So, at the head of this fact, the present study aim to realize a bibliographic survey
Thus, we acquired important informations to the speech therapist can act with more
conscience and offer, in our area of actuation, a quality of life every time better to this
patients.
Dedico esta pesquisa aos meus pais que,
AGRADECIMENTO
minha profissão!
Para Patri, Pé e Dé, pelo apoio e carinho recebidos durante estes anos. Para
Paracelso
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO....................................................................................................1
Uma das mais importantes e pesquisadas doenças dos últimos anos é sem
havia apenas um caso de AIDS registrado oficialmente no Brasil, que era do sexo
masculino.
geradas. Em nosso país, há registrado 652 casos de crianças até 13 anos de idade, cuja
relação aos recém -nascidos ( R.N.), seu desenvolvimento e a AIDS, pouco sabemos e não
“posso orientar a mãe a amamentar seu filho?”, “será que estes bebês geralmente nascem
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prematuros, será que o vírus provoca alterações que se relacionam com nossa área?”, “o
presentes no R.N. de mãe portadora do vírus HIV tipo1 ( HIV-1) e levantar dados importantes
Por ser a AIDS um assunto atual e que podemos nos defrontar durante a
rotina hospitalar, acredito ser imprescindível estarmos bem informados a respeito, podendo
melhor atender tais pacientes e também eliminar o preconceito ainda existente com relação
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Para intervir eficientemente é imprescindível que tenhamos o máximo de
conhecimento possível a respeito do assunto a ser lidado. Por isto, irei inicialmente falar a
A quantidade destas células no sangue serve também para medir a evolução da infecção
pelo vírus, portanto quanto mais avançada a infecção, menor é o número de CD4.
Existem dois tipos de HIV, o tipo 1 e o tipo 2, sendo que ambos causam a AIDS e
são transmitidos da mesma forma. O HIV tipo 1 é o responsável pela maioria dos casos de
AIDS em todo o mundo, o tipo 2 foi detectado em vários países da costa oeste da África e
Panamericana da Saúde, 1993). O presente estudo irá referir-se ao vírus HIV tipo 1 por ser
sendo que alguns pesquisadores verificam que outros indivíduos permanecem infectados
pelo vírus durante 20 anos sem apresentar doenças sérias ( Dossiê Panos, 1993).
O HIV pode ser transmitido apenas através do contato com o sangue, sêmen e,
que estas secreções entrem em contato com a circulação sangüínea de outra pessoa,
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através de lesões de pele ou em mucosas ( Vasconcelos & Gewandsznajder,
1989; Dossiê Panos, 1993). Conseqüentemente, ele pode ser transmitido através da
uso subcutâneo - ou da mãe soropositiva para seu bebê durante a gestação ( através do
cordão umbilical), durante o parto ( pelas secreções vaginais e sangue do cordão umbilical)
abraços, beijos na boca, carícias, tosse, espirros, picadas de mosquitos ou outros insetos,
alimentando outra pessoa, usando o mesmo vaso sanitário, roupas, toalhas, copos, talheres
Verifica-se que cerca de 25% a 50% de todas as mães transmitem o vírus para
seus filhos ( Blanche et al, 1989; Dossiê Panos, 1993; Abrams, 1995).
algumas vezes persistir por mais de 15 meses no sangue da criança. Para o Dossiê Panos (
1993), todos os bebês nascem com os anticorpos que suas mães produziram, além de
produzir os seus próprios. Após 18 meses, eles vão perdendo tais anticorpos, sendo
possível detectar com segurança se a criança foi contaminada ou não. Segundo Blanche e
do parto ou após o mesmo é algo difícil porque não há testes diagnósticos definitivos para
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detectar a presença do HIV ao nascimento ( Katz & Wilfert,1989; Dossiê Panos, 1993;
CDC ( Centers for Disease Control), o nível em que se encontra a infecção do mesmo. O
CDC é uma entidade responsável pelas notificações de casos de AIDS nos Estados Unidos
pela área médica, sendo que irei referir-me a ele somente como mais um dado informativo
Classe P-0 : Infecção indeterminada, ou seja, inclui crianças expostas no período peri-natal
e crianças com mais de 15 meses de idade que não podem ser classificadas como tendo
sido definitivamente infectada ( não soroconverteu), mas que possui anticorpos para o HIV,
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Classe P-2 : Infecção sintomática, correspondem àqueles pacientes que possuem o vírus e
que apresentam sinais e sintomas de infecção. Possui também subclasses que se baseiam
enfermidades precedem a infecção pelo HIV ou coexistem com ela, ou, então, quando o HIV
Gibb ( 1995), a infecção pelo HIV é geralmente considerada mais severa em crianças do
Peckham & Gibb ( 1995), cerca de um quarto das crianças infectadas, a infecção pelo HIV
progride rapidamente para a AIDS ou leva a óbito no primeiro ano de vida. Nas demais, a
Estima-se que aproximadamente 50% das crianças infectadas morrem antes dos
Gibb, 1995).
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3. DISCUSSÃO TEÓRICA
maior nos países em desenvolvimento, onde o vírus é transmitido principalmente através das
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Desta maneira, percebe-se que o perfil dos pacientes portadores do vírus vem
Segundo vários autores ( Goedert et al, 1989; Dossiê Panos, 1993; Abrams et al,
Sabe-se que o vírus pode ser transmitido da mãe para o bebê durante a
pode ocorrer através do sangue do cordão umbilical ou das secreções vaginais da mãe (
transfusões sangüíneas após o parto, para seus bebês pelo aleitamento materno. Verificou-
período em que estas mães amamentavam seus filhos, as taxas de vírus em circulação no
para o R.N. está associada também ao estado clínico e imunológico da mãe, sendo que o
risco de infecção é maior ainda quando estas crianças são amamentadas e quando nascem
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pré-natal podem ter menos chances de terem sido contaminadas pelo aleitamento materno
devido a aquisição de anticorpos da mãe via placenta e por suas mães serem menos
para tais crianças ( Organização Panamericana da Saúde, 1993). Outros não consideram a
amamentação como um risco para o bebê ( Baumslag, 1987; Jelliffe & Jelliffe, 1992; Dossiê
Panos, 1993).
alternativas seguras e efetivas não seja possível. Em muitos países, as mães soropositivas
são aconselhadas a substituir o aleitamento pela mamadeira. Esta conduta pode ser
Panos, 1993).
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Em nosso país, onde a AIDS atinge todas as camadas sociais, principalmente
a vários fatores: bebês prematuros podem ter maior risco de infecção do HIV devido a alta
sugerindo que seja por infecção intra-útero do HIV-1. Referem também que a prematuridade
1997), verificou-se que a gestação aumenta a mortalidade das mães aidéticas ( com
médio de vida das mulheres aidéticas e não grávidas. Alguns destes recém-nascidos
Além disto, os dados de Abrams e col ( 1995) indicam que entre os R.N.
de mortalidade dos neonatos está intimamente associado à sua idade gestacional, quanto
clinicamente detectáveis ao nascimento entre R.N. infectados pelo HIV e os não infectados,
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como: prematuridade, retardo no crescimento intrauterino, baixo peso e estatura pequena
para a idade gestacional. Foi observado que os bebês nascidos de mães com AIDS
apresentam maior risco de infecção do que aqueles nascidos de mães soropositivas com
que o estágio da infecção materna pelo HIV não interfere significativamente na mortalidade
peri-natal e neonatal, nem na prematuridade. Tal pesquisa também revelou que os R.N. de
soronegativas.
geralmente pequenos e apresentam menor peso do que os demais ( Blanche et al, 1989;
(1995), mães soropositivas que realizaram durante a gestação tratamento com a droga
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risco para apresentar problemas cognitivos e auditivos ( Azevedo, M. F., 1991).
de risco para o HIV dos demais. O uso de avental e de luvas é recomendado para os
profissionais atuantes, sendo que o uso de máscara é recomendado somente nos casos em
que o R.N. tiver uma infecção transmitida por via aérea e que não estiver em incubadora
congênitas, mas foi verificado que a presença de fissura lábio-palatina estava associada a
presença do HIV ( Blanche et al, 1989; Bulterys, 1994). Sabe-se que o vírus HIV é
de soroconversão ( Amato Neto & col, 1996). Geralmente, o sistema nervoso central é
mais afetado do que o periférico ( Katz & Wilfert, 1989) e observa-se que as lesões
neurológicas são uma causa comum da mortalidade nas crianças infectadas pelo HIV (
microcefalia adquirida ou redução do perímetro cefálico. Além disto, foram relatados casos
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Em crianças maiores, verifica-se quadriparesia em graus variados de severidade e
motores não-progressivos e microcefalia. Estas alterações são as mesmas nas que podem
infecciosos, fatores genéticos e que tiveram trauma crânio-encefálico (Schmitt et al, 1991;
crianças portadoras do vírus, 26( 27%) apresentavam déficites articulatórios, das quais
de linguagem era alto e que vários fatores contribuíram para tal alteração como: fatores pré-
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gestos. Com a evolução da encefalopatia, os pacientes começaram a perder a linguagem
receptiva e passaram a utilizar poucas palavras e a formar frases curtas ( apesar disto, a
prejudicada, caracterizando uma disartria, que não foi alterada com a intervenção
terapêutica.
20,8 %) apresentavam disfagia, cujos graus variaram de acordo com a condição geral do
pacientes aceitavam melhor líquidos frios, purês ou pudins e recusavam suco e alimentos
cítricos.
Ë importante salientar que muitos outros fatores, além da presença do vírus HIV,
podem provocar alterações no sistema nervoso, como é o caso das infecções oportunistas (
7 anos e meio. Pressman ( 1992) verificou em seu estudo que 3 dos 96 sujeitos avaliados (
este fato não foi relacionado à presença do HIV. Neste último estudo, não foram referidas
quais as idades das crianças com perda auditiva. Este dado nos é importante, pois
sabemos que a maturação das vias auditivas centrais deve ser levada em consideração ao
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O uso de AZT constante, promove bons resultados, fazendo com que seja inibida
estudos, como o de Abrams e col (1995) e de Peckham & Gibb (1995), mães soropositivas
que realizaram durante a gestação tratamento com a droga AZT- zidovudine- tiveram menor
índice de transmissão para seus bebês. Segundo Schmitt ( 1991), foi observado em seu
estudo que o uso de AZT diminui o comportamento autístico associado a perda das funções
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta maneira, cada vez mais sentimos em nossa atuação diária a necessidade de
transmissão do vírus HIV da mãe para o bebê, das possíveis manifestações clínicas
Assim sendo, tentou-se entrar em contato com fonoaudiólogos, que atuassem com R.N’s
um hospital público, que nos forneceu dados interessantes com relação à sua experiência
com tal população. Em seu local de trabalho, tais bebês permanecem em berçário de
risco, sem serem isolados, até que as doses de AZT sejam completadas, o que ocorre
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sendo orientadas então a oferecerem os alimentos através da mamadeira. Orienta-se
uso de paramentos especiais não é obrigatório, usa-se luvas para manipulação intra-oral
dos bebês. Não foi percebida relação entre o HIV e problemas associados como
presente.
Obviamente, estes dados não são regra geral, sendo que outros serviços hospitalares
possuem suas próprias condutas com relação a estes pacientes, assim como cada
fonoaudiólogo os têm.
gestação das mães soropositivas com AIDS ou não, até na reabilitação de suas crianças.
manifestações presentes.
orientação, prevenindo futuras alterações, como é feito com as demais. Ou seja, orientar
natural, uma vez que as chances de contaminação, mesmo que pequenas existem. Desta
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maneira, a troca de informações entre os profissionais da equipe hospitalar deve ocorrer
bebês de risco para o HIV é importante. Nestes locais podemos intervir precocemente,
promovendo condições para a evolução do quadro clínico deste neonato durante sua
melhor qualidade de vida durante seu desenvolvimento e, até mesmo quem sabe, maior
expectativa de vida.
neurológicas das quais nem sequer imaginamos que as suas dificuldades possam ser
esta criança possui risco de ter o vírus ( mãe soropositiva, usuária de drogas, promíscua,
criança que recebeu transfusão de sangue). Assim poderemos ter uma noção quanto ao
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Manter-nos informados a respeito desta patologia é primordial para que nosso
vírus HIV, a AIDS, seus meios de transmissão entre mãe-bebê, suas manifestações e suas
possíveis seqüelas em crianças. Acredito que muitas dúvidas ainda surgirão e, por isto, o
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1. ABRAMS, E. J.; MATHESON, P. B.; THOMAS, P. A.; et al - Neonatal predictors
of infection status and early death among 332 infants at risk of HIV-1
infection monitored prospectively from birth. Pediatrics, 96: 451- 58, 1995
cohort study in Butare,Rwanda. Pediatr Infect Dis J., 13(2): 94-100, 1994.
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immunodeficiency virus infection in children under 13 years of age.
10. DUNN, D. T.; NEWELL, M.L.; ADES, A.E.; PECKHAM, C. S. - Risk of human
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15. KATZ, S.L.; WILFERT, C.M. - Human immunodeficiency virus infection of
1997.
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