A formação acadêmica do médico está voltada para o diagnóstico e tratamento das
doenças. Quando se trata de medicina paliativa, o foco passa a ser o cuidado do
doente e não da doença. Essa quebra de paradigma pode ser difícil, pois essa abordagem é relativamente recente e a formação médica atual nem sempre contempla a medicina paliativa.
O médico precisa rever os seus conceitos para atuar em equipe e abordar as
dimensões biológica, psicológica, familiar, social e espiritual do paciente, que podem influenciar tanto ou mais que a própria doença e os conhecimentos técnicos nem sempre são capazes de abranger o cuidado integral que a condição do paciente exige.
Historicamente, a equipe multidisciplinar é hierarquizada e o médico é detentor de
papel predominante e os membros dessa equipe têm reconhecimento social diferente. Na medicina paliativa, os profissionais devem ser vistos como integrantes de mesma importância para o sucesso da abordagem. A chave para o bom relacionamento, tanto com os profissionais quanto com o próprio paciente, é a comunicação.
Dentro da equipe multidisciplinar, o médico adquire a função de integração da
comunicação, sendo responsável por informar e aproximar a família das práticas realizadas pelos outros profissionais. É ele quem realiza o diagnóstico clínico e conhece a evolução natural da doença e os tratamentos disponíveis. Ele é responsável por propor tratamentos, medicamentosos ou não, que sejam compatíveis com o momento de vida do paciente e, se necessário, entrar em contato com outras especialidades médicas. O objetivo maior é não somente aliviar os sintomas desconfortáveis mas também garantir a dignidade até o fim da vida e evitar procedimentos que possam aumentar o sofrimento do paciente. Além disso, a expectativa cultural das famílias é a de "ouvir do médico" a informação que concerne a doença - seja ela diagnóstica, prognóstica ou de planejamento terapêutico, mesmo que esse envolva outros profissionais - esse espectro converge na imagem do médico como coordenador do cuidado. De acordo com essa organização, é de vital importância a boa comunicação do médico com os outros membros da equipe multidisciplinar, reconhecendo a importância de cada um dentro do processo do cuidar.
O planejamento da terapia leva em conta a opinião da equipe, dos familiares e com a
participação ativa do paciente. Garante-se a autonomia do doente e objetiva-se o atendimento individualizado, integral, com foco no bem-estar e qualidade de vida, independentemente do quão avançado seja o estado da doença.