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Pierre Bourdieu: esquema analítico e contribuição

para uma teoria do conhecimento


na sociologia do esporte
FRANCISCO XAVIER FREIRE RODRIGUES*

Resumo: O artigo descreve, define e aponta algumas possibilidades analíticas da teoria


sociológica do campo esportivo fundada na sociologia de Bourdieu. Expõe o esquema
explicativo da teoria do campo esportivo, propondo temas e possibilidades de sua utilização
nas investigações das práticas esportivas. O esquema analítico de Bourdieu divide-se em
funcional e estrutural. Em ambos, podem-se analisar as práticas e modalidades esportivas
como campos especiais, relativamente autônomos dos campos econômico, político, religioso
e social. A sociologia de Bourdieu identifica relações e associações entre o espaço social e
o espaço do esporte, aponta possíveis homologias entre as posições ocupadas por
determinados atores sociais em ambos os espaços, mesmo sem determinismo estrutural.
A proposta analítica de Bourdieu para o esporte é um convite para pensar e investigar, de
modo crítico, a economia, o Estado, a política e suas relações com o esporte, a cultura e a
vida cotidiana.
Palavras-chave: Pierre Bourdieu; sociologia do esporte; campo, habitus.

1 Introdução análise de situações concretas no universo do


futebol brasileiro.
Este trabalho tem por objetivo descrever, Algumas leituras na sociologia do esporte
definir e apontar algumas possibilidades analí- mostram-nos que o desenvolvimento dessa área
ticas de um dos principais paradigmas na socio- do conhecimento na França teve como base de
logia do esporte: a teoria de campo esportivo sustentação duas tradições teóricas: a primeira,
fundada na sociologia de Pierre Bourdieu. O baseada no trabalho de Pierre Bourdieu, pode
trabalho expõe o esquema explicativo da teoria ser denominada de sporting field theory, a
do campo esportivo, propondo temas e possibi- teoria do campo esportivo (Clément, 1995). A
lidades de sua utilização nas investigações das segunda tradição, “desenvolvida por Jean-Marie
práticas e modalidades esportivas. Brohm, é freqüentemente rotulada de teoria
Nossa pretensão é descrever inicialmente neomarxista, mas é denominada mais precisa-
o esquema analítico de Bourdieu e depois mente como uma teoria crítica de esporte”
mostrar como é possível utilizar o referencial (Vaugrand, 2001, p. 183).
teórico desse sociólogo nas investigações do O texto divide-se em quatro partes. A pri-
fenômeno esportivo. Busca-se mostrar como meira parte consiste em uma breve introdução.
utilizamos os conceitos de campo e habitus na A segunda apresenta o esquema analítico (fun-
cional e estrutural) de Bourdieu. A terceira parte
* Professor do Departamento de Sociologia da UCS. Mestre constitui uma tentativa de operacionalização dos
e doutorando em Sociologia pela UFRGS. conceitos de campo e habitus na análise de

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questões empíricas do futebol, procurando mos- dos corpos. Nesse sentido, o fenômeno esportivo
trar as possibilidades de aplicação de conceitos também é um vetor que nos permite perceber e
na construção de uma teoria do conhecimento analisar a formação do habitus. O esporte pode
na sociologia do esporte. A quarta e última parte ser entendido como um campo específico da vida
apresenta algumas considerações finais. moderna. Trata-se de um espaço social relati-
vamente autônomo, com regras de funcio-
2 O esquema analítico de Pierre Bourdieu namento, tendo atores sociais interessados em
definir essas regras e os valores dominantes.
A proposta sociológica de Pierre Bourdieu Mesmo sendo utilizada para orientar
(1998; 1995) permite-nos pensar a produção do pesquisas sobre o esporte, é válido ressaltar que
corpo com base na história incorporada pelas os jogos e as modalidades esportivas ocupam
disposições. A categoria habitus é capital nesse um pequeno espaço na teoria sociológica de
empreendimento, pois nos possibilita entender a Bourdieu. Pode-se até mesmo afirmar que o
corporificação da história, ou seja, a interna- esporte é apenas um subcampo na teoria
lização desta nos corpos dos indivíduos. Utili- sociológica desse importante sociólogo francês.
zando-se da categoria habitus, Bourdieu (1998; O esporte aparece na obra de Bourdieu talvez
1996) trata do papel do corpo no processo de muito mais pelo fato de que a teoria do campo
socialização do sujeito, preocupado em entender permite pensar o esporte como uma área
como as estruturas sociais, dentro de deter- relativamente autônoma, dotada de regras e
minadas condições sociais e históricas especí- atores sociais com interesses em disputar poder.
ficas, moldam o corpo do indivíduo, inscrevendo- Conforme Vaugrand (2001, p. 184): “This, of
lhes valores, significados e regras de conduta. course, is because of the theory of habitus,
Bourdieu (1998) considera que a dimensão which gives a great importance to human
cultural tem um importante papel na produção e bodies, even if sport is only a subfield in
manutenção de uma estrutura social dividida em Bourdieu’s theory”.
classes superiores e inferiores. Daí ser impor- A proposta analítica de Bourdieu para as
tante entender eventuais relações entre os temas práticas esportivas pode ser dividida em dois
da cultura, da dominação e da desigualdade na esquemas diferentes: (1) o esquema funcional
sociedade capitalista. Na análise de Bourdieu e (2) o esquema estrutural. Caracterizaremos a
(1998) acerca da dominação (esta como impo- seguir cada um desses esquemas.
sição de uma ordem simbólica dominante), a
relação entre a estrutura social e a posição ocu-
pada pelos atores sociais no sistema social ganha 2.1 Esquema funcional
um destaque especial. Os dominados são aque- As proposições de Bourdieu (1983; 1988;
les que têm vozes silenciadas e, às vezes, nem 1993; 1994; 1995; 1998) sobre as atividades
têm condições de participar ativamente da produ- desportivas, assim como as referentes a outros
ção simbólica, pois são moldados pelas estruturas campos de relação e fenômenos sociais, são
e valores dominantes. situadas dentro de um esquema estrutural-
Para Bourdieu, funcionalista. A cultura, em particular, tem uma
função importante. A cultura tende a funcionar
Os que ocupam as posições dominadas no
no sentido de preservar e reproduzir uma ordem
espaço social estão também em posições
social existente por meio da conservação e
dominadas no campo de produção simbólica e
não se vê de onde lhes poderiam vir os manutenção das posições e divisões no espaço
instrumentos de produção simbólica de que social e, mais particularmente, ela abriga
necessitam para exprimirem o seu próprio ponto posições dominantes. Mesmo sendo um fenô-
de vista sobre o social. (Bourdieu, 1998, p. 152) meno que pertence também à esfera cultural, o
esporte não necessariamente tem a função de
O esporte ocupa um importante lugar na preservar e reproduzir uma determinada ordem
sociedade moderna, seja na estruturação dos social. O esporte não aparece no pensamento
espaços e posições sociais, seja na construção de Bourdieu claramente como um vetor domi-

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nado e de dominação. Diferentemente de institui- determinado esporte e os interesses, os gostos,


ções como a escola, a universidade e a arte, e as preferências de uma categoria social defi-
que são envolvidas objetivamente e subjetiva- nida”.
mente nas relações de dominação de indivíduos As posições sociais dos atores no sistema
dominantes sobre os subordinados (Berthelot, social podem ser percebidas por suas noções
1996, p. 207). sobre o corpo. Os gostos, as preferências e os
Uma interpretação do fenômeno esportivo interesses por um determinado padrão compor-
como esfera de alienação e elemento utilizado tamental obedecem a determinadas classifi-
na produção e reprodução dos valores capita- cações predominantes em cada classe social.
listas pode ser encontrada em alguns autores Com isso, pode-se dizer que as preferências
marxistas, tais como Adorno (1973), Vinnai pelas práticas esportivas são relacionadas às
(1978), Brohm (1982, 1972) e outros. A crítica posições sociais ocupadas pelos indivíduos em
frankfurtiana ao esporte considera-o o ópio do cada sociedade.
povo, um instrumento utilizado pelas classes
dominantes para preservar a estrutura de orga- 2.2 Esquema estrutural
nização da produção e da sociedade capitalista.
O esporte teria o papel de coisificar e alienar o Bourdieu (1995) lembra-nos de que, para
homem. Tal perspectiva distancia-se da abor- entender o esporte moderno, é necessário estu-
dagem de Bourdieu. dar separadamente algumas modalidades
Bourdieu (1996) considera que as práticas esportivas a fim de melhor conhecer a posição
sociais empreendem algumas transformações ocupada por elas (no campo esportivo) no
sistêmicas que são criadas por meio de novas espaço dos esportes e a distribuição dos prati-
atividades que emergem do declínio de deter- cantes tendo em conta a sua posição social.
minadas atividades existentes. Tais transforma- É importante verificar também que existem
ções, se elas modificam o espaço das práticas diferenças na demanda por práticas esportivas
(no caso as práticas do campo esportivo), não entre as diferentes classes sociais. Geralmente,
necessariamente modificam o espaço social as classes sociais mais abastadas preferem os
homólogo ao que é reproduzido. Na verdade, a esportes individuais, nos quais a figura do sujeito
reflexão de Bourdieu tende a oscilar entre forma pode ser mais destacada (o golfe, o tênis). Os
e função do esporte: destaca a forma para os indivíduos de classe sociais superiores econômica
dominantes e a função para os dominados. e culturalmente tendem a praticar esportes que
Para determinados grupos sociais, esporte não demandam grandes sacrifícios corporais. Já
(praticado ou não, apreciado ou não) é uma as classes populares preferem as modalidades
figura, um prazer, uma questão, um meio e assim esportivas coletivas e que demandam uma maior
por diante. As práticas esportivas têm funções, quota de sacrifício corporal. Nesses casos, o
formas e valores diferentes para os indivíduos, futebol é um exemplo clássico (Bourdieu, 1995;
isso muitas vezes em consonância com a classe Boltanski, 1987). A diferença central da prática
social a qual pertence o indivíduo. Descobrir as esportiva de uma e/ou de outra classe social são
funções e os valores do esporte para seus as diferentes percepções e entendimentos em
praticantes é um empreendimento sociológico relação ao esporte e também do acesso que as
interessante. Nesse sentido, cabe ao investigador pessoas têm ao esporte.
social identificar e explicar as propriedades Bracht (1997), analisando a instituição
sociais importantes que são responsáveis por esportiva com base no esquema teórico de
uma certa prática esportiva e os gostos e prefe- Bourdieu, defende que o esporte amador é
rências de uma determinada categoria social. reservado à elite e o esporte-espetáculo produ-
Aqui reside uma tarefa dos sociólogos do espor- zido por profissionais para a massa de especta-
te. Conforme as palavras de Bourdieu (1988, p. dores, a um fim capitalista para as classes altas
154): “O trabalho do sociólogo consiste em lucrarem com o interesse do povo em assistir a
identificar as propriedades socialmente perti- esses espetáculos esportivos. Tal concepção
nentes que criam uma afinidade entre um sugere que existe uma determinada classe social,

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a burguesa, que tem preocupações estéticas Na hipótese de Bourdieu (1988), que liga
associadas à pratica esportiva, isso na busca da espaço esportivo e espaço social, há outros dois
construção e conservação de um corpo consi- espaços em uma relação praticamente homó-
derado socialmente “bonito” (sadio e muscu- loga, sendo as atividades esportivas, de um lado
loso), e que existe uma outra classe social, a (demanda), e os programas esportivos (oferta),
denominada classe popular, que tem na prática por outro lado. De acordo com essa hipótese, é
esportiva a tentativa de obtenção de uma necessário considerar que
compensação psíquica ou um mecanismo de
ascensão social por meio da profissionalização […] brings two other spaces into a homolo-
no esporte. gous relation — the sport activities on the
one hand (demand), and the sporting pro-
Bourdieu sugere a seguinte hipótese geral:
grammes on the other (supply). The possible
há uma homologia entre o espaço social e o limit is in the number of items, especially in
espaço das práticas esportivas. Com isso, o autor the number of pairs of opposing items (the
advoga que existem relações entre as posições finite number of which limit an investigation).
ocupadas pelos indivíduos no espaço social e a Replicating the work of Jean-Paul Clément,
preferência por determinadas práticas espor- Bourdieu (1988) demonstrated that the
tivas. Vejam as palavras de Bourdieu: internal contrasts in sporting activities such
as judo, wrestling and aikido can be asso-
ciated with significant characteristics in a
A correspondência, que é uma verdadeira
number of particular positions in social space.
homologia, é estabelecida entre o espaço das
In fighting sports, the contrast between ‘body-
práticas esportivas, ou, mais precisamente, o
to-body’ and ‘virility’ on the one hand, and
espaço das modalidades diferentes finamente
‘distanced’ and ‘light’ on the other (1988:
analisadas da prática de jogo esportivos
154), shows a connection with the body which
diferentes, e o espaço de posições sociais. Está stems from important economic and cultural
na relação entre estes dois espaços que as pro- capitals and tends to link practices to parti-
priedades pertinentes de cada prática esportiva cular dominant relations in the world which
estão definidas. (Bourdieu, 1988, p. 154) establish an important protective distance (for
example, use of the sabre prevents hand-to-
Na verdade, essa hipótese sugere que há hand fighting), and a reduction in violence
correspondência entre o espaço das práticas (which, for example, ensures possible practice
esportivas e o espaço das posições sociais, sendo of aikido at an older age, with a reduced
a relação entre esses espaços que define as possibility of trauma). (Vaugrand , 2001, p. 187)
propriedades de cada prática esportiva.
Bourdieu ainda apresenta outra hipótese: Percebe-se que Bourdieu (1988) procurou
explicitar que alguns contrastes internos em
Práticas esportivas [...] podem ser descritas determinadas práticas esportivas (tomando
como o resultado da relação entre uma oferta e como exemplos judô, lutas e aikido) podem ser
uma demanda, ou, mais precisamente, entre o relacionados com características importantes
espaço dos produtos oferecidos em um em diversas posições específicas no espaço
determinado momento e o espaço de dispo- social.
sições (associado com a posição ocupada no
espaço social) e que se expressa provavel-
mente em outro consumo em conexão com outra
3 Campo esportivo e habitus:
demanda espacial. (Bourdieu, 1988, p. 155) operacionalizando a teoria de Bourdieu
3.1 O futebol e a teoria dos campos
As práticas esportivas seriam o resultado
da relação entre oferta e procura, ou seja, Tendo em mente o esquema analítico
produto da relação entre o espaço dos produtos apresentado anteriormente, pode-se dizer que
oferecidos (em um determinado momento) e o Pierre Bourdieu fornece-nos elementos para
espaço das disposições (associado com a pensar o esporte moderno (o futebol) como uma
posição ocupada no espaço social). esfera específica da vida social. Seus conceitos

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mais adequados para tal empreendimento são jogadores-operários e os negros da classe


os de campo, habitus e capital. operária defendendo a regulamentação da
A teoria dos campos (Bourdieu, 1983, 1993, profissão de jogador de futebol e, conse-
1994, 1995, 1996, 1998, 1999) auxilia-nos na qüentemente, o fim do semiprofissionalismo ou
investigação do esporte moderno como campo profissionalismo marrom (1923-1933) (Caldas,
especializado da sociedade contemporânea. 1990, p. 85). É para investigar essas disputas
Campo no sentido de um espaço de dife- que utilizaremos o conceito de campo de
renciação social, que funciona de acordo com Bourdieu, entendendo cada classe como atores
regras e normas próprias, dotado de autonomia sociais dotados de disposições e posições que
relativa diante da política, da economia e da tentam impor suas visões sobre o futebol,
religião. No campo existem atores sociais concretizando seus projetos e interesses espe-
estratégicos preocupados em maximizar seus cíficos (Rodrigues, 2003a, p. 64).
interesses e influenciar nas definições e divisões Uma outra questão relevante na temática
sociais. Existem disputas por poderes simbólicos futebolística que pode ser discutida à luz da
e materiais. teoria dos campos é exatamente a luta pela
definição legítima de um estilo de organizar e
No campo esportivo, ocorrem lutas de dife- jogar futebol no Brasil que se estabelece a partir
rentes modalidades. Algumas lutas giram em da Copa de 1974. Antes de prosseguir, é neces-
torno da definição e do uso legítimos do corpo,
sário frisar que, na Copa do Mundo de 1966,
lutas estas que podem ser traduzidas nas
realizada na Inglaterra, o paradigma dominante
disputas entre esporte amador versus esporte
profissional; esporte coletivo versus esporte no futebol brasileiro (tanto no que tange ao
individual, esporte de elite versus esporte de pensamento como a prática), o futebol-arte,
massa. O advento do esporte profissional entra em crise, pois o futebol-força europeu
implicou mudanças na forma e no significado venceu a arte brasileira. A seleção brasileira
social dos esportes. (Rodrigues, 2003a, p. 63) fez uma péssima campanha naquela Copa,
colocando em discussão a validade e a eficácia
Podemos analisar as lutas e disputas pela do futebol-arte, ou seja, do já consagrado estilo
autoridade de definição legítima no futebol brasileiro de jogar futebol, que havia vencido as
utilizando a teoria dos campos. Por exemplo, a Copas de 1958 e 1962. Na Copa de 1970, o
abordagem sociológica das disputas pela Brasil apresentou um belo e eficiente futebol,
profissionalização no futebol brasileiro (nas fortalecendo novamente o futebol-arte como
primeiras décadas do século XX), tendo, de um estilo de jogo representante da identidade
lado, a elite aristocrática defensora do regime nacional. No entanto, em 1974, a seleção bra-
amador (o futebol como símbolo de distinção sileira novamente revela o anacronismo do
social, esporte utilizado como lazer e mecanismo futebol-arte, pois este foi derrotado pelo futebol-
de construção do caráter da juventude) e, de força. Com isso, as questões em torno da
outro lado, segmentos da classe operária que definição de um estilo de jogo para o Brasil
reivindicavam a implementação do regime voltam à tona.
profissional (o futebol como trabalho, uma As disputas giravam em torno do anta-
profissão e, conseqüentemente, um esporte gonismo futebol-arte versus futebol-força. A
democrático, aberto à participação de diversas questão era impor o estilo de jogo considerado
classes sociais). A oposição entre futebol legítimo e mais adequado ao Brasil. A grande
profissional e futebol amador caracterizou o questão era: a seleção brasileira deveria jogar
cenário futebolístico brasileiro de 1900 a 1933, um futebol moderno (aplicação tática, muita
quando a profissionalização foi finalmente preparação física, com uma equipe defensiva)
institucionalizada. Segundo Caldas (1990, p. 55- ou jogar o futebol romântico (a arte brasileira
124), tal oposição representou disputas sociais em campo, habilidade, magia, individualidade,
e culturais entre duas classes sociais: a elite, futebol ofensivo)? O futebol brasileiro precisava
defensora do futebol amador (esporte elitizado) inserir-se na modernidade, no futebol compe-
como um esporte-lazer, e a classe proletária, os titivo, marcado pelo rigor nos esquemas táticos

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e na preparação física. Parecia que o nosso entretenimento que deve ser regulado pelas leis
futebol-arte estava ultrapassado diante da do mercado. O ministério decretou um sistema
eficiência física e tática do futebol-força. Este rigoroso de fiscalização e prestação de contas
consistia em dotar os atletas de elevado preparo por parte dos clubes) e os clubes (interessados
físico, sem cansaço, para ocupar o campo e em manter o sistema anterior, clubes como
anular o estilo sul-americano de jogar futebol. associações sem fins lucrativos) (Rodrigues,
O futebol moderno é feito de força, velocidade 2003b; Proni, 2000).
e resistência. Segundo Gil (1994, p. 107), a partir A profissionalização do jogador de futebol
de 1978 duas correntes de pensamento confron- é um processo de racionalização, diferenciação
taram-se no campo futebolístico brasileiro: (a) social e consolidação de um campo de trabalho
uma de orientação esquerdista, apoiada por específico e relativamente autônomo. A análise
João Saldanha, Nelson Rodrigues, torcedores e do processo de emergência e consolidação do
outros adeptos do futebol romântico, que futebol como um campo específico no esporte
desejava o retorno do futebol-arte na seleção brasileiro pode ser um belo exercício de opera-
brasileira (futebol alegre, de dribles, improviso, cionalização do conceito de campo. As lutas que
malandragem, magia) e criticava a imitação de possibilitaram o advento do futebol profissional
modelos e esquemas europeus de jogar futebol no Brasil nas primeiras décadas do século XX
(o futebol-força); (b) e outra que defendia são elementos da autonomização do campo
nossa integração ao futebol-força, uma forma futebolístico brasileiro (1894-1933). A consti-
de modernização do futebol brasileiro e sua tuição de um mercado de trabalho no futebol
inserção da elite do futebol mundial, por meio brasileiro consolida-se somente na década de
da adoção de um estilo racional, pragmático, 1930, quando a profissionalização é institu-
competitivo. Nessa corrente, encontram-se cionalizada. É nesse momento que surge um
técnicos estudiosos do futebol europeu, como mercado produtor e consumidor de futebol
Admildo Chirol, Cláudio Coutinho e Carlos organizado. Assim, a autonomia, a racionalização
Alberto Parreira, defensores da importação de e a especialização do campo futebolístico
modelos/estilos europeus. Na verdade, o debate resultam de um conjunto de conflitos entre duas
acima mencionado pode ser pensado com base ideologias: a do amadorismo e a do profis-
na velha oposição entre tradição e modernidade, sionalismo. A primeira era defendida pela elite,
sendo o futebol-arte um aspecto tradicional e o a qual tinha no futebol apenas um tipo de lazer.
futebol-força um elemento da modernidade. A elite praticava o futebol “puro”, símbolo de
O conceito de campo permite-nos ainda distinção social, um passatempo, um tipo de lazer,
investigar a superação do associacionismo como sem preocupações materiais (no futebol amador
forma de organização dos clubes e o advento nos anos 20 vencer uma partida não significava
do futebol-empresa. A Lei Zico (Lei no 8.672/ lucros, atração de patrocínios e investimentos,
93) estabeleceu a obrigatoriedade de os clubes nem os praticantes do futebol eram remunerados
transformarem-se em empresas, mas alguns para jogar). O futebol amador seria desvinculado
dirigentes esportivos, como Eurico Miranda, de interesses econômicos. Trata-se de um dos
Fábio Koff, entre outros, posicionaram-se pólos que marcaram o debate na sociologia do
contra, pois defendiam a manutenção do regime esporte entre “esporte de alto rendimento” e
de organização dos clubes de futebol como “esporte lazer”, entre jogo e esporte.
entidades futebolísticas não-comerciais, asso- A segunda ideologia era defendida pelos
ciações esportivas e/ou filantrópicas, livres de jogadores-operários, pressionando pela profis-
fiscalizações do governo. Na verdade, dois sionalização. Os jogadores de futebol eram
atores enfrentavam-se e enfrentam-se: governo trabalhadores, exerciam outras atividades além
(por meio do Ministério dos Esportes, defensor do futebol, pois não eram profissionais. Aqui vale
do fim da filantropia no futebol brasileiro, sob o lembrar dois exemplos clássicos de jogador-
argumento de que o incentivo estatal e as operário: Garrincha e Tesourinha. O primeiro
isenções fiscais seriam anacronismos, pois o começou sua carreira futebolística no Sport Club
futebol é um produto da indústria cultural de Pau Grande em 1949, time organizado pelos

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operários da tecelagem Cia. América Fabril de se o mesmo com a esfera cultural, retratada por
Pau Grande no Rio de Janeiro (Antunes, 1994, Bourdieu (1999). Consideramos que: (a) o futebol
p. 109; Castro 1995). Além de receber o salário ganha um mercado produtor: os jogadores e
como operário, ganhava presentes e gratifi- empresários que organizam o espetáculo tor-
cações como segundo salário. É ilustrativo por nam-se profissionais que instituem normas e
demais o caso de Tesourinha, um dos grandes regras para gerenciar esse negócio como um
jogadores do SC Internacional na década de ramo da indústria cultural, pertencente ao setor
1940. Ao assinar seu primeiro contrato profis- de serviços de entretenimento – multiplicam-se
sional por 200$000 mensais e mais dois litros de as instâncias de legitimação da prática fute-
leite e um quilo de carne diariamente, Tesourinha bolística (clubes, associações, confederações,
continuou no seu antigo emprego de artífice de ligas, federações) e de difusão do futebol (a
armeiro na Brigada Militar (Ostermann, 1999, imprensa); (b) emerge um mercado consumidor
p. 46). Os jogadores não viviam da profissão do do produto futebol: os torcedores pagam para
futebol exatamente porque não havia um campo ver o espetáculo e compram os produtos que
futebolístico autônomo de outras esferas sociais. levam as marcas dos clubes (Rodrigues, 2003a,
Em 1933, a profissionalização finalmente 2002a).
ocorre. A partir daí constitui-se um novo e Com a produção do futebol para o mercado,
promissor mercado de trabalho no Brasil.1 Os o futebol amador restringe-se a determinados
dirigentes esportivos agora têm o poder de tomar setores sociais. O elitismo também chega ao seu
decisões e legislar sobre o futebol. É também fim. A legitimidade do futebol parece derivar
nesse período que o jogador surge como um dos próprios organizadores, que ganham autono-
trabalhador que vive da carreira no futebol. As mia para criar normas, leis, decidir sobre regula-
lutas e os conflitos pela definição legítima da mentos e competições, sem levar em conta
prática futebolística podem ser entendidos como fatores externos. O campo futebolístico ganha
disputas por posições e imposições entre os contornos externos, tornando-se cada vez mais
defensores do amadorismo – “a elite tentando diferenciado e autônomo socialmente.
manter o privilégio de ser a única classe social
a praticar o futebol como forma de lazer”
3.2 Transformações na legislação do
(Caldas,1990, p. 59) – e a classe operária, adepta
campo futebolístico brasileiro: atores,
do profissionalismo, tentando institucionalizar o
disputas e o fim do passe
futebol como uma profissão. Essa oposição
amadorismo/profissionalismo configura-se como O futebol brasileiro pode ser entendido
um conflito de classes. como um subcampo do campo esportivo.
A autonomização do futebol, entendida aqui Considerando a noção de campo de Bourdieu,
como a formação de um campo, consolida-se entendemos que os principais atores (dotados
com o processo de profissionalização, momento de interesses em impor suas percepções, visões
no qual o futebol constitui uma esfera relati- e padrões de classificação) do campo futebo-
vamente separada da economia; os jogadores- lístico brasileiro são as instituições reguladoras
operários transformam-se em trabalhadores do (Ministério dos Esportes, CBF, federações esta-
futebol. Podemos até comparar o jogador com duais de futebol), clubes, empresários e joga-
um artista, produtor de bens culturais, livres de dores. Abordaremos aqui brevemente as dispu-
outras preocupações materiais, pois sua profis- tas, as lutas e os conflitos em torno do fim do
são lhe garante emancipação financeira. passe no futebol brasileiro, descrevendo e anali-
A organização do futebol agora deixa de sando algumas posições dos atores envolvidos.
ser negócio da elite política. Na realidade, deu- Da mesma forma que o estabelecimento
do “bicho”2 pelo Vasco da Gama em 1923 tor-
1. Para uma análise do processo de profissionalização do
futebol no Brasil, ver RODRIGUES, F. X. F. A sociologia
das profissões e a sociologia do esporte: profissionalização 2. Quantia em dinheiro paga aos jogadores como premiação
e mercado de trabalho no futebol gaúcho. In: ENCONTRO por vitórias. É muito comum após a conquista de campeo-
ANUAL DA ANPOCS, 26, 2002. Anais... Caxambu/MG, natos. Para uma definição de “bicho”, com base na lingua-
2002. gem utilizada no início do século XX, ver Rosenfeld (1993).

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nou a profissionalização inevitável (Caldas, 1990, negociar melhor vai sair ganhando. (Proni, 2000,
p. 79-83), a Lei Pelé (Lei Pelé no 9.615/98, p. 200-1)
modificada pela Lei Pelé no 9.981/00) é o motor
do novo cenário de transformações no futebol O discurso acima representa a posição e
brasileiro, pois exige uma reestruturação aos os interesses de um dos atores estratégicos
moldes do futebol europeu, começando com a envolvidos nas disputas e nos conflitos em torno
flexibilização das relações de trabalho, ou seja, da nova legislação futebolística brasileira.
com o fim do passe (Proni, 2000). Percebe-se que determinados interesses estão
As transformações na legislação futebo- em jogo nesse campo. A análise das disputas
lística brasileira, nas últimas décadas do século em torno do fim do passe e pelo estabelecimento
XX, criaram condições para a emergência de dos novos critérios de contratação de jogadores
uma configuração pós-moderna (Giulianotti, e regulamentação do futebol brasileiro revela
que o Estado, os clubes, os empresários e os
2002) na organização e na produção do espe-
jogadores de futebol defendem interesses
táculo futebolístico em nosso país. Ocorreu a
divergentes.
liberalização nas transferências e nas relações
A visão de um dirigente da área sobre as
de trabalho no futebol, algo indicador das mudan-
mudanças na legislação do futebol brasileiro
ças no campo futebolístico brasileiro nos últimos
revela o que pensa esse segmento. Vejamos o
anos. O fim do passe representa uma faceta do
que diz o presidente da Federação Paulista de
sistema de acumulação flexível no futebol,
Futebol, Eduardo José Farah:
facilitando os contratos temporários e um reju-
venescimento da força de trabalho no futebol A Lei Pelé trouxe benefícios para o futebol, mas
brasileiro. O que, em outras palavras, pode ser há defeitos. A lei do passe, por exemplo. Não
o encurtamento da vida útil do atleta (Rodrigues, dá para os clubes investirem nos times se o
2003b, 2003c). jogador está regulado pela CLT. Como pagar
Dissemos em outro texto que “o discurso adicional noturno, horas extras, periculosidade,
defensor da lei do passe mostra uma sintonia por causa das viagens? É preciso uma legis-
lação específica, voltada para o futebol e que
com o neoliberalismo, modelo no qual o mercado
permita, também, a definição de uma multa
redefine as relações sociais de produção” rescisória, para não prejudicar os clubes que
(Rodrigues, 2003d, p. 89). Nesse sentido, é investem milhões em um jogador que pode
importante recuperar a opinião de Hélio Vianna, rescindir o contrato, pagar uma multa baixa,
o vice-presidente do Conselho Deliberativo do conforme a CLT, e ir embora. (Esporte S.A.!, 4
Idesp, na época da entrada em vigor da Lei Pelé. abr. 2000)
Ele defendia que o fim do passe viria acabar
com o paternalismo no futebol e modernizar as O dirigente, em defesa de interesses espe-
relações de trabalho e o sistema de transfe- cíficos, sugere alterações na legislação, tendo
rências de jogadores. em vista evitar eventuais perdas (sobretudo
financeiras) para os clubes com a formação de
Com a Lei, não vai ter mais clube vendendo jogadores. Percebe-se, em seu discurso, a defe-
jogador. Vai ser sempre como no caso do sa de uma legislação especial para o futebol,
Ronaldinho. O jogador recebe proposta melhor, pois considera que o futebol é uma modalidade
paga a multa e vai embora [...]. Não pode haver esportiva transformada em atividade industrial
paternalismo. Esse projeto não é para proteger de entretenimento que guarda muitas peculia-
jogador. É para colocar o futebol na moderni- ridades. Fica evidente aqui a idéia de autonomia
dade. [...], com os clubes-empresa, em um ano relativa desse campo diante de outros, princi-
somem os Euricos da vida. A relação vai ser
palmente quando se trata da regulamentação das
profissional. É claro que um ou outro [jogador]
vai assinar em branco. Mas depois aprende e relações e condições de trabalho. José Farah
não faz mais. [...] O mercado é sábio. Nele, os sugere que a profissão de jogador de futebol
jogadores são trabalhadores normais. Sem as não pode ser regulada pela CLT, pois é muito
leis especiais, a categoria vai crescer e vai se especial. Na verdade, outros interesses susten-
conscientizar. Como em toda parte, quem tam a posição do referido dirigente.

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SOCIEDADE E CULTURA, V. 8, N. 1, JAN./JUN. 2005, P. 111-125

A opinião de Edson Arantes do Nasci- Alguns atletas defendem uma perspectiva


mento, o Pelé, sobre o fim do passe merece uma diferente da visão acima destacada:
análise:
Será melhor não só para o jogador, mas para o
O fundamental é a liberdade de ir e vir de um clube também, porque o jogador fica na
profissional como em todas as profissões. Os obrigação de estar sempre bem, sempre
dirigentes alegam que, perdendo a posse do trabalhando para que consiga sempre contrato,
jogador, os clubes irão à falência. Entretanto, sempre clubes interessados e com certeza vai
no regime atual [o passe na havia sido extinto ser bom para o jogador e para o clube. Essa lei
ainda], mesmo detendo os passes dos jogado- faz com que o jogador trabalhe e fique sempre
res, o que vemos são os clubes brasileiros em boas condições para que sempre tenha
totalmente endividados. (O Globo, 29/12/96) portas abertas e clubes interessados, porque
pode ser que ele fique desempregado e esque-
O Clube dos 13, uma organização dos cido do mercado. (Atleta, B)
grandes clubes brasileiros de futebol, tem Negativo, alguns jogadores ficam sem clube
manifestado interesse em mudar a legislação do de futebol onde trabalhar. (Atleta, D)
futebol brasileiro, alegando que a liberalização
Negativo, porque prejudica a maioria dos
das relações de trabalho no nosso mercado atletas e favorece apenas os grandes jogado-
futebolístico contribuiu para provocar uma crise res. (Atleta, E)
financeira nos clubes brasileiros. O presidente
do Clube dos 13, Fabio Koff, manifestou As diferenças entre as visões dos jogadores
preocupação com o crescente êxodo de jovens sobre as alterações na legislação do futebol
jogadores brasileiros para o exterior, conside- brasileiro podem ser entendidas pelo fato de que
rando que o futebol no país tende a entrar na os jogadores também ocupam posições sociais,
fase de “africanização”, ou seja, o fenômeno técnicas e até políticas diferentes nos clubes de
de fuga e transferência de jovens atletas para o futebol e no sistema social como um todo. Aqui
futebol europeu, alguns formados e outros em cabe lembrar o esquema analítico estrutural de
fase de formação profissional. Bourdieu para pensar o esporte. Existe relação
Os jogadores de futebol, na condição de entre as percepções e posições ocupadas pelos
atores sociais diretamente envolvidos e interes- atores no campo esportivo e no sistema social.
sados na definição e imposição de um modelo Os jogadores já consagrados no mercado
de regulação das relações entre clubes, joga- futebolístico desfrutam de situações e posições
dores e empresários que seja o mais adequado mais privilegiadas, por isso tendem a expressar
neste momento de modernização do futebol em uma visão positiva das mudanças que estão
escala global, apresentam opiniões que oscilam surgindo. Já os jogadores iniciantes temem que
entre os aspectos positivos e negativos do fim as alterações no sistema de regulação da
do passe. Vejamos alguns depoimentos dos profissão de jogador de futebol sejam prejudiciais
atletas entrevistados. ao seu futuro. Portanto, as opiniões são muito
heterogêneas, mesmo entre os profissionais do
[...] acho que a Lei do Passe é muito boa para futebol.
quem já tem seu nome feito no mercado do Em suma, vimos que os dirigentes espor-
futebol, porque ele vai ficar livre, vai para o tivos, os órgãos governamentais de regulação
time que quiser. Mas para jogadores do interior
do futebol, os empresários e os jogadores de
que não têm seu nome feito, que ainda não
futebol apresentam interesses e visões distintas
jogou em equipes boas, como a equipe do Inter,
vai ser muito ruim porque eles não têm seu nome sobre o processo de mudanças na regulamen-
feito, então vão ter que correr atrás de clubes. tação do futebol brasileiro. Deve-se ter em mente
Eu acho que para esses jogadores mais que os atores sociais tendem a expressar
humildes, mais simples, vai ser muito ruim. concepções condizentes com seus interesses
(Atleta A) específicos e com suas posições ocupadas no
campo futebolístico.

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RODRIGUES, FRANCISCO XAVIER F. Pierre Bourdieu: esquema analítico e contribuição...

3.3 Habitus e futebol a que pertence em suas trajetórias. Consciente


ou inconscientemente, eles reproduzem a manei-
O habitus pode ser entendido como ra e o estilo de jogar do clube formador, ou no
qual estão atuando. Os treinamentos excessivos
[...] sistemas de disposições duráveis, estru-
e as palestras permitem ao jogador incorporar
turas estruturadas predispostas a funcionar
como estruturas estruturantes, quer dizer, um determinado padrão de jogo. Este é um dos
enquanto princípio de geração e de estrutu- argumentos básicos deste trabalho. O habitus
ração de práticas e de representações que futebolístico do SC Internacional resulta de uma
podem ser objetivamente “reguladas” e “regu- formação teórico-prática recebida pelo jogador
lares” sem que, por isso, sejam o produto da ao longo de sua trajetória no clube (Rodrigues,
obediência a regras, objetivamente adaptadas 2003a, p. 66).
a seu objetivo sem supor a visada consciente É importante inserir a noção de conjuntura
dos fins e o domínio expresso das operações na análise da reprodução do habitus. Tal noção
necessárias para atingi-las e, por serem tudo indica que o indivíduo é capaz de criar, inventar
isso, coletivamente orquestradas sem serem o
e modificar o habitus conforme o contexto e a
produto da ação combinada de um maestro.
(Miceli, 1999, p. XL) situação social. Por exemplo, os jogadores, quan-
do são contratados por outros clubes que têm
O habitus (conjunto de esquemas de ação, estilos de jogo diferentes, tendem a mudar
percepção e avaliação) pode variar de acordo algumas formas de jogar futebol.
com cada classe social. Tal variação torna Como esquema de ação, o habitus permite
possível compreender por que as classes popu- a reprodução de estruturas inscritas na trajetória
lares têm preferências esportivas distintas dos atores sociais. No entanto, permite também
daquelas das classes dirigentes. Para alguns ajustamentos e inovações por parte dos indiví-
indivíduos, a prática esportiva serve para desen- duos. Ele media as relações entre as estruturas
volver a musculatura, a beleza e a elegância. objetivas e as práticas. Serve de interiorização
Para outros, o esporte é lazer, saúde e compen- e de exteriorização das estruturas. É nesse
sação do cansaço do trabalho. Para as classes sentido que tentaremos perceber como os atle-
sociais abastadas, o esporte apresenta importante tas incorporam o sistema de códigos, técnicas,
valor estético. Para alguns segmentos da socie- habilidades ensinadas no clube (aprendem o
dade, o esporte é profissão, por exemplo, os estilo de jogar futebol de um determinado clube)
atletas profissionais. e reproduzem esse estilo. Precisamos questionar
Habitus designa as capacidades inventivas em que condições isso se dá. É importante
e criativas dos agentes sociais. Significa as observar a margem individual, a inovação e a
disposições carregadas pelos atores nas suas capacidade criativa do jogador na reprodução
trajetórias de vida, nos corpos, sendo também do habitus futebolístico. No caso, como se dá o
as estruturas estruturantes, incorporadas pelos processo de incorporação do habitus futebo-
agentes em cada campo da vida social. É a lístico e sua exteriorização. Trata-se de analisar
capacidade do indivíduo para atuar como agente a relação entre estrutura e práticas sociais, um
da estrutura social, como criador e não apenas velho debate sociológico.
simples reprodutor das estruturadas dadas Nossa tarefa como investigador é apreen-
(Bourdieu, 1996). der a gênese do habitus futebolístico e compre-
Entendemos a formação profissional do ender como os jogadores constroem e repro-
jogador como a construção de um determinado duzem esse habitus. Utilizando a perspectiva
habitus. A formação do jogador de futebol relacional, verificaremos as relações objetivas
consiste na incorporação de estruturas, estra- e subjetivas no processo de aprendizagem do
tégias e modelos de agir, técnicas e esquemas futebol, observando os treinos físicos, técnicos,
de jogo. A aprendizagem do jogador compreende táticos e os condicionamentos psicológicos
um habitus, ou seja, um capital com o qual ele (Rodrigues, 2003a).
joga, toma decisões, classifica e constrói reali- Devemos considerar que, no processo de
dades. Os jogadores levam a estrutura do clube construção do habitus, a mídia é um agente

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importante. Tendo em vista que os meios de em futebol brasileiro e em futebol argentino


comunicação de massa participam da produção como tipos distintos de praticar esse esporte.
e veiculação do espetáculo esportivo, é válido Damo (2002) aponta algumas razões
salientar que a criação do “esporte telespetáculo” geográficas e culturais que podem contribuir para
influencia na produção do habitus. Então, explicar o estilo gaúcho de jogar futebol,
quando se busca entender a produção do ressaltando ainda que se trata muito mais de
habitus, o pesquisador social necessita questio- um culto às tradições do que a forma como
nar sobre como e em que medida a mídia realmente os times do Sul jogam em campo. O
influencia no habitus quando enfatiza demasia- isolamento geográfico do Rio Grande do Sul em
damente a história dos ídolos. Como os “ídolos relação aos outros estados brasileiros onde se
do esporte”, com suas vitórias e conquistas, pratica um futebol diferente, fundado mais na
interferem na construção do habitus dos habilidade individual do que na preparação física
espectadores? e na aplicação tática, como Rio de Janeiro, São
Paulo, Pernambuco e Bahia, deve ser levado
3.4 O habitus futebolístico no Sport Club em conta como variável explicativa das peculia-
Internacional ridades regionais. Além disso,

Para compreendermos o habitus dos Outros fatores como o clima hostil – frio,
jogadores de futebol formados no SC Interna- chuvoso, etc. –, por extensão, os gramados
cional, é necessário um breve esclarecimento enlameados do interior do estado, exigiriam
mais ênfase na preparação física dos jogadores
acerca das peculiaridades do futebol do Rio
em detrimento da técnica e, conseqüentemente,
Grande do Sul, ou seja, algumas notas sobre o isso teria sido determinante para o estilo
contexto no qual se insere a escola de futebol diferenciado do futebol gaúcho, mais europeu
do referido clube gaúcho. e portenho do que propriamente brasileiro.
Sabe-se que, historicamente, o futebol do (Damo, 2002, p. 132)
Rio Grande do Sul tem sido caracterizado pela
disposição de luta, aplicação tática, pelo futebol- O autor argumenta que o tipo de clima do
força, pela marcação e pelo excessivo discipli- Rio Grande do Sul tem influência marcante na
namento. É consenso entre os especialistas em formação de um estilo de jogar futebol
futebol, sejam jornalistas (Ostermann, Falcão, diferenciado do restante do país, sendo muito
Casagrande), sejam acadêmicos (Toledo, 2002; mais próximo dos padrões de jogo do futebol
Damo, 2002; Leite Lopes, 1994; Rodrigues, europeu e dos demais países latino-americanos.
2003a) o fato de que o futebol gaúcho valoriza Concordamos com esse argumento, por acre-
demasiadamente a preparação física e a ditarmos que os fatores geográficos também
aplicação tática. Portanto, a “escola gaúcha” incidem sobre o tipo de jogador produzido na
de jogar futebol apresenta peculiaridades que a escola do SC Internacional, mesmo sem se
diferenciam das escolas “carioca”, “paulista” e tratar de determinismo geográfico. Pois somos
“baiana” (Toledo, 2002). A valentia e a força contra explicações monocausais baseadas no
são traços da identidade social gaúcha, atributos argumento do determinismo, seja ele geográfico,
historicamente valorizados pelos gaúchos. racial ou cultural. A idéia de considerar múltiplas
Levando em conta o que foi dito acima, pode- influências causais é mais importante nas
se dizer que o futebol é também um excelente explicações sociológicas.
tema para discutir a identidade regional. Pois, Os técnicos e os jogadores dos times
no futebol de cada estado, região ou nação, gaúchos argumentam que para se obter sucesso
inscrevem-se traços sociais típicos da identidade no campeonato estadual, quando se referem aos
social e cultural. Na verdade, o futebol é um clubes do interior, é necessária força, vontade e
produto cultural que tem regras universais, mas muita preparação física, pois os campos ruins
recebe um banho do caldo cultural das diferentes do interior e as constantes chuvas são obstáculos
regiões, estados e nações onde é praticado. Isso à habilidade e ao jogo leve, técnico. Com isso,
fica claro quando se fala em futebol alemão, procuram justificar o primado pela força e

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RODRIGUES, FRANCISCO XAVIER F. Pierre Bourdieu: esquema analítico e contribuição...

preparação física. A proximidade de países


como Argentina, Uruguai e Paraguai é constan-
temente evocada pelos especialistas para
explicar o estilo gaúcho de jogar futebol
(Rodrigues, 2003a, p. 165-168) .
Entendemos que o estilo de jogo do SC
Internacional pode ser analisado com base na
noção de habitus. Em trabalho anterior,3
construímos um esquema na tentativa de apreen-
der, pela análise histórica e entrevistas com
jogadores, o padrão/modelo/estilo4 de jogo do
SC Internacional. Consideramos que o estilo de
jogar futebol desse clube é formado por sua
história, tradição, identidade, suas práticas e
representações de formas de jogar. Os esque-
mas táticos são colocados em prática somente
quando os atletas os internalizam, incorporam-
nos em seus corpos, tornando-os disposições e
esquemas de ação. Sendo assim, sugerimos a
tese de que os atletas incorporam um deter-
minado habitus, ou seja, regras, normas, formas
de ação, percepção e representações neces-
sárias para atingir determinado fim, sendo elas
orquestradas coletivamente, o que lembra o
conceito de Bourdieu (1999). Com isso, argu-
mentamos que algumas formas de jogo consti- Ao tentar definir esquematicamente um
tuem um habitus, o qual é incorporado pelos estilo de jogo e a identidade do SC Internacional,
atletas ao longo dos treinamentos (formação), elaboramos algumas questões referentes aos
durante a preparação física, nos ensinamentos aspectos que melhor caracterizam esse clube.
táticos e exteriorizados nos jogos. De fato, o Tais questões serão fundamentais quando tratar-
processo de formação do jogador de futebol mos especificamente da construção de um
constitui também a produção de um habitus habitus futebolístico típico do mais popular time
típico de cada time de futebol. Esta é uma das gaúcho.
conclusões do nosso já mencionado trabalho rea- O Gráfico 1 apresenta quatro dos principais
lizado no Mestrado em Sociologia na UFRGS. traços que constituem a identidade futebolística
Os atletas são agentes da estrutura social do SC Internacional. Valentia, força de vontade,
(esquemas/estilo de jogo do clube) e criadores disciplina, típicos da identidade gaúcha e,
desta (Bourdieu, 1999). conseqüentemente, da escola gaúcha de futebol
Os gráficos 1 e 2 ilustram os principais podem ser entendidas como “raça”. Esta é o
traços que caracterizam o estilo de jogo do SC que melhor caracteriza o estilo do SC Interna-
Internacional, ou seja, seu habitus futebolístico, cional, segundo 55% dos entrevistados. Outros
tendo como base as entrevistas realizadas com aspectos revelados pelo gráfico são condizentes
os atletas. com o que havíamos dito acima, sendo elementos
que sintetizam o padrão de jogo do clube em
3. RODRIGUES, F. X. F. A formação do jogador de futebol estudo: força (23%), técnica (11%) e habilidade
no Sport Club Internacional (1997-2002). Porto Alegre: (11%) (Rodrigues, 2003a, p. 165-168).
PPGS/UFRGS, 2003a (ver especialmente o capítulo 5).
Com o objetivo de sintetizar ainda mais essa
4. Essas expressões são utilizadas aqui como sinônimos,
designam a forma de jogar futebol no SC Internacional no mesma questão, organizamos o Gráfico 2. Os
caso analisado. dois elementos que mais caracterizam o estilo

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de jogo, a identidade e os esquemas de formação futebol brasileiro (novo jogador, novo tipo de
e trabalho do SC Internacional são “raça” (70%) empresário, de dirigente).
e disciplina (18%).
Consideramos necessário definir o que se 4 Considerações finais
entende por “raça” e disciplina na sociologia do
futebol. “Raça” é utilizada aqui no sentido de Este trabalho teve por objetivo descrever e
empenho, disposição para lutar, força de vontade, definir o esquema analítico de Bourdieu como
dedicação. Portanto, “raça” significa um pouco um dos principais paradigmas na sociologia do
de paixão e empenho em campo para buscar a esporte. Realizamos um exercício analítico
vitória. Esta paixão não é exatamente o amor à utilizando os conceitos de campo e habitus com
camisa nem a devoção ao clube. Mas “[...] se base na investigação de casos concretos no
refere à disposição que todo jogador precisa futebol brasileiro.
ter para lutar o máximo possível pela vitória das Temos consciência de que a natureza deste
‘cores’, quaisquer que elas sejam” (Araújo, 1980, trabalho não permite algo mais do que simples
p. 51). Raçudo é aquele jogador que luta, é herói, indicações gerais acerca dos temas e questões
joga mesmo contundido, arrisca sua forma física discutidos. As análises e interpretações elabo-
radas aqui são provisórias, não devem ser
para jogar pelo seu time. “Raça” está ligada
tomadas como conclusões, visto que nossa
também à coragem. “Raça” pode se tornar
pretensão era fazer um simples exercício.
violência quando levada ao extremo (Rodrigues,
Portanto, nossa reflexão deve ser entendida
2003a, p.167).
como indicações para trabalhos posteriores na
Disciplina significa obediência aos esque-
sociologia do esporte.
mas, aplicação técnica e tática, atender ao
Sintetizando, vimos que o esquema analítico
técnico e fazer o que foi ordenado. Trata-se
de Bourdieu pode ser dividido em dois: funcional
basicamente da aplicação tática, do jogo em e estrutural. Em ambos, podem-se analisar as
conjunto, no qual o grupo é maior do que o práticas e as modalidades esportivas como
indivíduo. O coletivo sobrepõe-se ao individual. campos especiais e relativamente autônomos
Disciplinamento também significa aprendizagem dos campos econômico, político, religioso e
de técnicas futebolísticas por meio de diferentes social. Entretanto, a perspectiva de Bourdieu
tipos de treinamentos pelos quais passam os sugere que há relações e associações entre o
jogadores. espaço social e o espaço do esporte, podendo
As transformações pelas quais está passan- haver homologia entre as posições ocupadas por
do o mercado futebolístico brasileiro permitem determinados atores sociais em ambos os espa-
perceber a emergência de um novo jogador de ços. Não se trata de determinismo estrutural.
futebol, dotado de um habitus típico do futebol Vimos também que o paradigma de
profissional, empresarial, burocrático. As mu- Bourdieu abre inúmeras possibilidades de aná-
danças no sistema de regulação das relações lises na sociologia do esporte, incluindo uma
de trabalho no futebol europeu criaram condi- variedade de temas. Os estilos de jogo, a profis-
ções para o advento de um jogador de futebol sionalização do jogador de futebol, o fim do
mais politizado, consciente de seus direitos e passe, a modernização, a flexibilização das rela-
participativo. O crescimento nos índices de ções de trabalho no futebol, as disputas adminis-
sindicalização dos jogadores na Europa e na trativas e organizacionais travadas nos clubes,
Argentina indica que o jogador de futebol da federações e governo são alguns dos temas que
era pós-moderna (Giulianotti, 2002, p. 9) é dotado podem ser investigados à luz da teoria de
de uma nova ética, um habitus profissional Bourdieu.
distinto dos comportamentos predominantes na Em suma, podemos assegurar que a pro-
época do associacionismo como padrão de posta analítica de Bourdieu para o esporte é um
organização dos clubes. Em nossa agenda de convite para pensar e investigar, de modo crítico,
pesquisa consta a tentativa de apreender e a economia, o Estado, a política e suas relações
analisar a construção desse novo habitus no com o esporte, a cultura e a vida cotidiana. Trata-

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RODRIGUES, FRANCISCO XAVIER F. Pierre Bourdieu: esquema analítico e contribuição...

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