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HOMERO: REVISÃO DOS TEXTOS Revisão feita pela
Monitora Rafaela Sabino
TEÓRICOS TRABALHADOS
TEXTO “CARACTERÍSTICAS
BÁSICAS DA EPOPEIA CLÁSSICA”,
DE NELY MARIA PESSANHA
“CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA
EPOPEIA CLÁSSICA”, DE NELY MARIA
PESSANHA
• “A palavra epopeia abriga a justaposição de duas
outras: toé pos e poiéo. Toé pos que, no singular, tem o
sentido primeiro de “palavra”, donde “discurso”,
“narrativa”, “verso”, é usado no plural – tàé pea– em
oposição a tà méle. Assim tàé pea, poesia épica, é a
palavra que narra algo em determinado tipo de verso,
cedo desvencilhado do acompanhamento musical. Opõe-
se à tà méle, poesia lírica, palavra cantada em metros
vários, ao som de um instrumento musical. Poiéo tem o
sentido denotativo de “fazer”, “criar”. Logo, do ponto de
vista etimológico, epopeia é a criação narrativa em
versos. Assim é que a epopeia clássica é toda ela tecida
no verso hexâmetro dactílico.” (Página 31);
“CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA
EPOPEIA CLÁSSICA”, DE NELY MARIA
PESSANHA
• “Para que este passado seja rememorado, a epopeia, forma narrativa que
é, não pode prescindir da mediação de um narrador. Onisciente e
onipresente, tudo sabe, tudo vê, a tudo assiste. Isto porque é ele o
intérprete do canto da Musa. Recebe a inspiração do Alto, visto que, não só
para os gregos homéricos, mas também para os de épocas posteriores, a
criação poética era dom das Musas. O narrador, reportando-se a fatos
acontecidos numa época remota, contempla-os maravilhado, extasiado.
Mantém-se à distância, numa atitude em que qualquer envolvimento lhe é
interdito. Face à matéria narrada assume uma visão objetiva e não crítica.
Registra, conta, apresenta os acontecimentos, mas se isenta de revelar seus
sentimentos ou de julgá-los. O narrador é onisciente, distanciado, porém, da
matéria-prima narrada. Para que este distanciamento possa
operacionalizar-se, predomina a narração em terceira pessoa.” (Página
34);
“CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA
EPOPEIA CLÁSSICA”, DE NELY MARIA
PESSANHA
• “Resta, por fim, enfocar a epopeia clássica quanto à sua linguagem, ou seja,
ao uso que faz ela da língua. A grandiloquência com que esta forma
narrativa apresenta o passado, se evidencia, na linguagem, pelo uso de
adjetivação intensa, de epítetos majestáticos, de metáforas e símiles que
buscam o segundo termo da comparação em elementos da natureza e
animais, símbolos de grandeza, de força ou de luz. São frequentes, ainda, as
repetições, os epítetos, o emprego do discurso direto, o que confere à
narrativa um certo traço de oralidade.” (Páginas 38 e 39).
TEXTO “HOMERO: INTRODUÇÃO AOS
POEMAS HOMÉRICOS”, DE JACQUELINE “Os deuses e o maravilhoso”
DE ROMILLY
“HOMERO: INTRODUÇÃO AOS
POEMAS HOMÉRICOS”, DE
JACQUELINE DE ROMILLY
• “Ora, uma apreciação análoga é igualmente válida para um outro
problema que nem mesmo os Gregos da época clássica apresentavam a si
mesmos tão claramente como nós e que não deixamos de suscitar a
propósito de Homero: o da dupla causalidade, divina e humana.” (Página
77);
• “Em Homero, tudo vem dos deuses: não só o resultado de empresa, mas a
própria ideia que a faz nascer. Um deus inspira o receio ou a cólera;
concede o ímpeto da ação, ou contém-no. E, todavia, temos o sentimento de
que os heróis são grandes e responsáveis, e que a sua vontade, o seu
caráter, a sua reflexão têm valor determinante.” (Página 77);
“HOMERO: INTRODUÇÃO AOS
POEMAS HOMÉRICOS”, DE
JACQUELINE DE ROMILLY
• “[...] o natural e o sobrenatural, o humano e o divino, se aproximam, se
combinam, se sobrepõem.” (Página 80)
• “Mas, se o uso de sobrenatural é o mesmo e serve, nos dois poemas,
para marcar com um brilho acrescido os momentos decisivos da aventura
humana, sucede que além disso a Odisseia ainda apresenta uma outra
forma de sobrenatural, que não revela da intervenção direta dos deuses,
mas de todo um mundo mágico, e povoado por divindades obscuras, que
como que estão a meio caminho entre os homens e os deuses do Olimpo.”
(Página 81);
• “Em contrapartida, parece-nos que este aspecto mágico e fantástico
está quase totalmente ausente da Ilíada; e apreciamos assim uma nova
prudência de Homero.” (Página 81);
• “Esta mistura de maravilhoso e de humanidade encontra-se assim a
todos os níveis.” (Página 84);
“HOMERO: INTRODUÇÃO AOS
POEMAS HOMÉRICOS”, DE
JACQUELINE DE ROMILLY
JACQUELINE DE ROMILLY
“HOMERO: INTRODUÇÃO AOS
POEMAS HOMÉRICOS”, DE
JACQUELINE DE ROMILLY
• “Na Ilíada Homero mostra bem uma tendência para a obstinação (face a
Aquiles) e para a incerteza (no seu papel de chefe das tropas). [...].”
(Página 96);
• “A glória dos heróis homéricos não é, então, o efeito de uma exaltação
arbitrária acima da condição humana: provém essencialmente do fato de o
poeta desconhecer as vilezas. Por outro lado, apesar do sentido que o
vocábulo heroísmo adquiriu, o seu mérito não é exclusivamente guerreiro,
longe disso. Talvez esteja aí a explicação do paradoxo que pretende que,
destas duas epopeias pejadas de batalhas e de mortos, ou de mortos e de
perigos, a impressão final, na leitura, deixe sobretudo emergir as cenas mais
humanas – [...]” (Página 97).
TEXTO “HOMERO: INTRODUÇÃO
AOS POEMAS HOMÉRICOS”, DE “Os heróis enquanto
<<mortais>>”
JACQUELINE DE ROMILLY
“HOMERO: INTRODUÇÃO AOS
POEMAS HOMÉRICOS”, DE
JACQUELINE DE ROMILLY
• “[...] E sem dúvida que este princípio, que associa a coragem à morte que se
vai seguir, é a explicação para todas essas profecias que, de todas as vezes,
anunciam ao herói aquilo que o espera: a sua reação sobressai com mais
brilho. [...] É também por isto que estes heróis ao morrer predizem a morte de
seu adversário. E até mesmo aqueles que duvidam ainda recebem sinais
indubitáveis: é assim que Heitor, que, no momento crítico, se vê enganado
pelos deuses, o compreende e aceita: [...] Aí está a morte próxima,
evidentemente; e é ela que, de todas as vezes, dá à coragem a sua
verdadeira medida.” (Página 101);
“HOMERO: INTRODUÇÃO AOS
POEMAS HOMÉRICOS”, DE
JACQUELINE DE ROMILLY
DONALDO SCHÜLER
“A CONSTRUÇÃO DA ILÍADA: UMA ANÁLISE
DE SUA ELABORAÇÃO”, DE DONALDO
SCHÜLER
• “[...] A noção de responsabilidade humana e da retribuição divina é
introduzida aqui (canto IX) num mundo que se lhe opõe e a rejeita.”
(Página 109);
• “[...] Encontramos hýbris a primeira vez no início da Ilíada. Aquiles,
ofendido por Agamênon, puxa da espada, pronto para investir
contra o ofensor. Atena, enviada por Juno, aparece a Aquiles para
impedir que o conflito dos chefes aqueus frustre a destruição de
Tróia. Quando o Pelida a percebe, pergunta: Por que vieste, filha de
Zeus, portador da égide, acaso para veres a hýbris do Atrida
Agamênon? Na denúncia de Aquiles, a hýbris de Agamênon é
transgressão culposa. A transgressão do chefe não atinge só Aquiles;
interessa, na opinião do ofendido, também aos deuses que fiscalizam
a conduta dos homens. Associar a presença de Atena à hýbris de
Agamênon é reação espontânea de Aquiles.” (Páginas 109 e 110);
“A CONSTRUÇÃO DA ILÍADA: UMA ANÁLISE
DE SUA ELABORAÇÃO”, DE DONALDO
SCHÜLER
• “No período arcaico, posterior a Homero, Zeus torna-se juiz universal, pune
com rigor toda hýbris do homem, empalidecem as vontades antagônicas dos
deuses em favor da autoridade absoluta do deus supremo. [...] Está claro
que em parte alguma da Ilíada se formula um princípio geral de culpa e
castigo. Não tivessem as deusas interesse pessoal no sucesso das armas
gregas, a ofensa de Agamênon lhes teria sido indiferente. Sublinhe-se a
embrionária consciência de culpa e a retribuição divina.” (Página 110);
• “Os substantivos hyperbasie e hýbris nos introduzem num mundo em que o
homem começa a sentir-se responsável a princípios que o excedem.”
(Página 110);
• “Hiperbasie é uma falta arriscada. Os moços, por serem irrefletidos, estão
expostos a ela; os velhos, ao contrário, comedidos, agem com a devida
cautela. O homem sabe que certas coisas lhe são proibidas e que é
castigado quem as comete. [...] Não importa que os próprios deuses o
tenham incitado a quebrar o juramento. [...]” (Páginas 110 e 111);
“A CONSTRUÇÃO DA ILÍADA: UMA ANÁLISE
DE SUA ELABORAÇÃO”, DE DONALDO
SCHÜLER
• “[...] A ira que acometeu (Aquiles) não foi obra de alguma cegueira
enviada pelos deuses. Aquiles tinha plena consciência de seus sentimentos e
lucidamente os alimentou até a morte de Pátroclo. A epopeia não surge do
decreto do destino, nasce da ira de Aquiles. Não são os deuses que agem
sobre Aquiles. É Aquiles que age sobre os deuses. [...] O destino é indiferente
à ação central da Ilíada. Os soldados que morrem no período compreendido
entre o princípio e o fim do poema também poderiam ter morrido sem que
tivessem brigado Agamênon e Aquiles. O destino determinara a destruição
de Tróia. Terminada a Ilíada, porém, Tróia ainda está de pé como antes. A
Ilíada toda se desenrola num período que o destino deixou livre.” (Páginas
114 e 115);
“A CONSTRUÇÃO DA ILÍADA: UMA ANÁLISE
DE SUA ELABORAÇÃO”, DE DONALDO
SCHÜLER
• “Dizer que o homem “só pode fazer o que o destino lhe predeterminou”
é que é colocar-se fora do mundo da Ilíada. A moira determinara para
Aquiles o que determina a todos os homens, a morte. Aquiles revela ter-
lhe sido dito que o destino (keres) lhe permitira escolher a modalidade da
morte: [...] O homem com suas ações pode apressar ou retardar o
irromper do previsto. [...]” (Página 115);
• “[...] O destino não anula a ação dos homens, o que tornaria impossível
uma epopeia de homens. A escolha de Aquiles não é diferente. Evitar a
morte não lhe é permitido. Morrer cedo ou em idade avançada está no
raio de suas opções.” (Páginas 115 e 116);
“A CONSTRUÇÃO DA ILÍADA: UMA ANÁLISE
DE SUA ELABORAÇÃO”, DE DONALDO
SCHÜLER