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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


6ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO
Apelação Nº 1014257-58.2017.8.26.0053

Voto nº 28.104
Registro: 2018.0000836771

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº


1014257-58.2017.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante
JOSE MARIO SILVA JULIAO, é apelado ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 6ª Câmara de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em
parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


SIDNEY ROMANO DOS REIS (Presidente) e LEME DE CAMPOS.

São Paulo, 22 de outubro de 2018.

Maria Olívia Alves


RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
6ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO
Apelação Nº 1014257-58.2017.8.26.0053

Voto nº 28.104

Apelação nº 1014257-58.2017.8.26.0053
Recorrente: Jose Mario Silva Julião
Recorrido: Estado de São Paulo
Comarca: 12ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo
Juiz: Dr. Adriano Marcos Laroca

APELAÇÃO Ação declaratória Policial militar inativo


Reforma “ex officio” Cômputo do período de contribuição
previdenciária na iniciativa privada e reconhecimento de
promoção à graduação imediatamente superior, ainda em
atividade, ou no momento da inativação Sentença de
improcedência Pretensão de reforma Possibilidade, em
parte Contagem do tempo de contribuição na iniciativa
privada, que é assegurada constitucionalmente Indevida
distinção entre policiais reformados a pedido ou
compulsoriamente, sob pena de violação ao princípio da
isonomia Reconhecimento, ademais, do direito à promoção à
graduação imediatamente superior, no momento da inativação,
nos termos do art. 11 da Lei Estadual nº 4.794/1985 Pedido
parcialmente procedente - Precedentes Parcial provimento do
recurso de apelação.

Trata-se de ação declaratória ajuizada por Jose Mario


Silva Julião, policial militar inativo, contra o Estado de São Paulo, com o
objetivo de obter o cômputo do período de contribuição previdenciária na
iniciativa provada e o reconhecimento de promoção à graduação
imediatamente superior, ainda em atividade, ou no momento da inativação.
Conforme sentença de fls. 82/84, o pedido foi julgado
improcedente, condenado o autor no pagamento das despesas processuais,
mais honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) do valor
atualizado da causa, observada a gratuidade de justiça concedida.
Inconformado, apela o autor e pugna pela reforma do
julgamento. Sustenta, em síntese, que o cômputo do período de
recolhimento de contribuição previdenciária encontra-se previsto no art.

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201, §9º, da CF/88, e que não se pode admitir a diferenciação entre a
aposentadoria a pedido ou “ex officio”. Afirma que cumpriu ainda em
atividade os requisitos necessários para a promoção a Cabo PM, nos termos
da Lei Complementar nº 892/2001, e que deveria ter sido aposentado como
3º Sargento PM. Subsidiariamente, requer a promoção à graduação de
Cabo PM, em razão da reforma “ex officio”, com base no art. 11 da Lei
Estadual nº 4.794/1985 (fls. 88/99).
O recurso foi respondido (fls. 103/109).

É o relatório.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço


do recurso de apelação e lhe dou parcial provimento.
Ao que consta, o autor é policial militar aposentado
compulsoriamente, em 20/04/2014, como Soldado PM. Ele pretende obter
o cômputo do tempo de contribuição na iniciativa privada, para fins de
cálculo de seus proventos, e o reconhecimento de promoção à graduação
imediatamente superior enquanto ainda estava na ativa, nos termos da Lei
Complementar nº 892/2001, ou, ao menos, a promoção por ter sido
aposentado compulsoriamente, nos termos da Lei Estadual nº 4.794/1985.
E com razão.
É importante ressaltar que a Constituição Federal de
1988 dispõe expressamente que “Para efeito de aposentadoria, é
assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na
administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese
em que os diversos regimes de previdência social se compensarão

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financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei” (art. 201, §9º).
Do mesmo modo, aliás, prevê a Constituição Paulista,
em seu art. 132.
Diante disso, respeitado o posicionamento em sentido
contrário, como a própria norma constitucional prevê o direito ao cômputo
do tempo prestado na iniciativa privada, indistintamente, as disposições
infraconstitucionais e anteriores à própria Constituição Federal, como é o
caso da LC 269/81 e do Decreto-lei 260/70, não podem ser interpretadas de
modo a restringem aquele direito, ou seja, conferir o cômputo apenas aos
policiais militares que requereram voluntariamente sua aposentadoria, sob
pena de ofender o princípio da isonomia.
É como tem julgado esta Col. Câmara: “Descabida,
por outro lado, a alegação aventada de que o impetrante não faz jus ao
reconhecimento do tempo de contribuição lavorado na iniciativa privada
por ter sido reformado compulsoriamente, em razão de sua idade. A
distinção invocada pela apelante, além de desprovida de lógica
hermenêutica, ainda fere o princípio da isonomia (...)” (Ap. nº
0032788-88.2012.8.26.0053; Rel. Des. REINALDO MILUZZI, j.
16/09/2013).
Por outro lado, o autor também tem direito à promoção
à graduação imediatamente superior, no momento de sua inativação, nos
termos da Lei Estadual nº 4.794/1985.
É certo que o i. magistrado a quo apurou que o autor
ainda pleiteava a promoção enquanto estava na ativa, nos termos da Lei
Complementar nº 892/2001, de modo que sua inativação compulsória, por
ter atingido a idade limite, o impediu de concluir o procedimento de análise

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dos requisitos legais para a obtenção do benefício.
Como foi decidido: “No caso, o autor ingressou na
relação de acesso, o que em tese conferia a possibilidade de promoção em
21/04/2014, no entanto, foi reformado ex officio em 20/04/2014, deixando
de satisfazer ao requisito previsto no inciso V, do artigo 2º, da LC nº.
892/2001. Em uma primeira análise, a situação parece injusta, entretanto,
como bem destacado no ofício da Polícia Militar, a promoção não é um
prêmio para o serviço prestado. Consiste, na verdade, na elevação da
graduação dos membros que satisfaçam as condições necessárias ao
desempenho das funções exigidas no novo cargo, que jamais foi exercido.
Como o autor já estava inativo quando da publicação da promoção, não
há respaldo legal para o acolhimento do pedido. Além disso, a promoção
depende do preenchimento de outros requisitos previstos na lei
complementar, cuja análise não incumbe ao Poder Judiciário” (fl. 83).
Assim, não há como se acolher o pedido formulado
pelo autor para que ele seja considerado promovido ainda em atividade à
graduação de Cabo PM, de modo a possibilitar mais uma promoção no
momento da inativação, a 3º Sargento PM, pela reforma “ex officio”.
Mas, não se pode perder de vista que o autor requer na
inicial, de forma subsidiária, apenas a promoção conferida em razão da
aposentadoria compulsória, com base na Lei Estadual nº 4.794/1985, que
assim dispõe: “Os Cabos PM e Soldados PM que forem atingidos pelas
idades-limites de permanência no serviço ativo da Corporação, previstos
nos incisos I e II do artigo 30 do Decreto-lei nº 260 de 29 de maio de
1970, e que não forem beneficiados pelos incisos II e III do artigo 1º,
combinado com os incisos II e III do artigo 7º, todos desta lei, serão

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apostilados 'ex officio' na graduação imediatamente superior, quando da
passagem para a inatividade” (art. 11).
A propósito, não se ignora que a referida norma, ao
tratar de promoção a pedido no art. 1º, restringe sua aplicação às praças do
serviço ativo da Polícia Militar que integravam os quadros em 09/04/1970.
Todavia, respeitado entendimento em sentido
contrário, a hipótese dos autos é diversa, uma vez que trata de promoção
em decorrência de reforma compulsória, e não há qualquer restrição
temporal nesse ponto.
Conforme já dito, o autor aposentou-se na função de
Soldado PM por ter atingido a idade limite e, pelos documentos acostados
à contestação, é possível verificar que ele não foi beneficiado pela
promoção à graduação imediatamente superior de Cabo PM, no momento
de sua inativação compulsória, nos termos da norma supramencionada (fls.
56/62 e 64/68). Aliás, cumpre registrar que o Estado nem mesmo impugna
este pedido subsidiário.
Assim, é forçoso reconhecer que o autor tem direito à
promoção prevista na Lei Estadual nº 4.794/1985.

Nesse sentido, confira-se julgado desta Col. Câmara:

EMENTAS

ILEGITIMIDADE PASSIVA - Não ocorrência -


Responsabilidade da Fazenda Pública pelo repasse da verba
ao Instituto de Previdência - Preliminar rejeitada.

CABO DA POLÍCIA MILITAR - Reforma compulsória em


razão do atingimento da idade limite - Proventos pagos na

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proporção 27/30 avos - Pretensão ao cômputo do tempo de
contribuição na iniciativa privada Possibilidade Artigo
201, §9º, da CF - Direito à integralidade dos proventos (arts.
29, II, “f”, 30, II, 31, II, do DL 260/1970) - Direito à promoção
à patente imediatamente superior (art. 11 da LE 4.794/1985) -
Sentença de procedência - Recurso não provido.

(TJSP. Apelação nº 1024468-96.2015.8.26.0224. 6ª Câmara de


Direito Público; Rel. Des. REINALDO MILUZZI, j.
11/12/2017).

A hipótese, portanto, é de procedência parcial do


pedido, para se determinar o cômputo do tempo de contribuição
previdenciária do autor, enquanto esteve na iniciativa privada, com os
devidos reflexos nos proventos de aposentadoria, bem como reconhecer o
seu direito de obter a promoção à graduação imediatamente superior, no
momento de sua inativação, nos termos da Lei Estadual nº 4.794/1985,
com o pagamento das diferenças vencidas, acrescidas de correção
monetária pelo IPCA-E, desde o momento em que deveriam ter sido pagas,
mais juros de mora, a partir da citação, nos termos da Lei Federal nº
11.960/09 (Temas 810 do STF e 905 do STJ).
Em consequência, deve ser compreendido que o
requerido ficou vencido em maior parte na demanda e que, portanto, deve
ser condenado no reembolso de eventuais despesas processuais, mais
honorários advocatícios a serem fixados sobre o valor da condenação, em
percentual a ser definido oportunamente na fase de liquidação, nos termos
do art. 85, §4º, II, do CPC/15.

Ante o exposto, pelo meu voto e para os fins acima,

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MARIA OLÍVIA ALVES


Relatora

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