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Editorial

Uma palavra define bem o que chamamos de vida:


“mudança”. Desde o momento em que somos gerados,
até o desaparecimento de nossos corpos depois que
morremos, passamos por mudanças, alterações externas
e internas que são fundamentais para a manutenção da
ordem natural das coisas.
Você não é a mesma pessoa que foi ontem: seu corpo
mudou, suas células têm morrido (e também se renovado)
a todo instante, e você ficou mais velho.
Uma das melhores coisas do mundo é que há mudanças
pelas quais podemos optar. Você pode mudar tanto para
pior, quanto para melhor. Não que a escolha seja fácil,
mas quando se toma a decisão correta, somente coisas
boas aparecerão em seu caminho.
Assim como você, a Rock Meeting também não é mais
a mesma. Mudanças positivas exigem tempo e dedicação,
e, pouco mais de um ano depois do nascimento da revista,
sabemos que mudamos para melhor, tanto como indivíduos,
quanto como equipe.
Para que isso acontecesse, precisamos passar por
maus bocados, encarar desafios assustadores, enfrentar
os nossos medos e superar muitos obstáculos. Mas tudo
bem, sem problemas: sabíamos que não seria um caminho
fácil, e perseverança é algo que temos de sobra.

E você, está preparado para mudar?
O tem aqui?

02 Darth Jeder (Nova Coluna)


04 World Metal
06 Diário de bordo
09Forfun
12 Mia Dolce Vendetta
19 EXCLUSIVO - Cruor
24 Perfil RM
25 Eu estava lá

12
Antonio Fon

Expediente

Direção Geral
Pei Fang Fon

Fotografia
Pei Fang Fon
Yzza Albuquerque

Revisão
Yzza Albuquerque

Capa
Lucas Marques
Pei Fang Fon

Equipe
Daniel Lima
Jonas Sutareli
Lucas Marques
Pei Fang Fon
Renato Tiengo
Yzza Albuquerque

Colaboradores nesta edição


Antonio Fon

Contato
Email: contato@rockmeeting.net
Orkut: Revista Rock Meeting
Twitter: http://twitter.com/rockmeeting

Veja os nossos outros links:


www.meadiciona.com/rockmeeting

As matérias não refletem, necessariamente,


a opinião da revista, e sim de quem assina.
Darth
Jeder Carta de Um Velho Roqueiro
a Um Jovem Guerreiro
Por Jeder Janotti Jr. (colunista
da Rock Meeting, Headbanger e
professor da UFAL-UFPE)

B em, cá estamos nós, em plena era do achavam que Heavy Metal era uma fase da
fim do CD, da fluidez musical, insistindo adolescência, que, como muitas coisas na
em colecionar música, camisetas, ir a vida, iria passar. Realmente, aquele tempo
shows em lugares “apertados” e sem infra- em que eu podia dedicar quase tudo em
estrutura, enfim; no tempo dos descartes, minha vida ao Heavy Metal passou, mas
continuamos a colecionar música. Mas, deixou suas marcas.
sou fã de Heavy Metal, e como tal, aprendi O sentimento de camaradagem, a
uma coisa que continuará comigo para descoberta do prazer de dedicar-se ao
o resto de meus dias: sou dono do meu mundo da música. Isso não é romantismo
tempo, pelo menos até que o famigerado desconectado do mundo. É um romantismo,
ceifador exija que se pague o preço. It´s sim, mas consciente de que ao comprar
heaven and hell. Mas até lá, quero ouvir a o ingresso de um show, ou os álbuns de
música que quiser sem maiores pressões, minha banda preferida, eu ajudo a mover
quero ser guiado por minha paixão pelo as engrenagens do mercado da música.
Rock. Com o Metal, aprendi que não Mas qual é o problema? Quero que minhas
preciso dedicar-me às modas da música bandas preferidas possam viver de suas
Pop. músicas. Quero que a
C o l e c i o n o cena local se fortaleça e
conhecimento musical, pois que muitas bandas de fora
não basta simplesmente possam aportar suas turnês
ouvir música. Escuto (mesmo que pequenas) em
música como um relojoeiro Maceió. Negócio e música
dedica-se ao mecanismo de boa qualidade devem
dos mais antigos relógios: andar juntos.
com paixão! Meus pais

02 Rock Meeting
A existência da cena de Metal depende de sua independência
musical e de sua profissionalização. Fazer a Rock Meeting exige de
suas editoras dedicação , abnegação de quem se dedica ao Rock,
mas isso também implica sacrifícios. Por isso vos digo, jovens
guerreiros, não confundam amor pela música com miséria. Dignidade
no underground significa exigir boas aparelhagens de som, bons
instrumentos, lugares legais para os shows, e isso não surge sem
profissionalismo, característica de qualquer grande música para além
dos gêneros musicais.
Por isso, do alto de minha pilha de álbuns (de minhas coleções
do Black Sabbath e Paradise Lost, aos últimos lançamentos do
Amorphis e Anathema), com a respiração embargada pelo tempo e
pelo álcool, eu vos saúdo, afinal como dizia aquela velha banda, de
lendários roqueiros: “For Those About Rock, We Salute You”.
Espero que os jovens passem por cima de minha geração,
exijam mais, cada vez mais, lembrando que no negócio da música,
manter sua paixão por um gênero musical que já foi diagnosticado
como moribundo, acabado e fora de moda, é manter vivas as nossas
possibilidades de escolha para além dos cartões postais e estereótipos
que abundam por essas praias.
Ozzy Osbourne: Slayer: Kerry King
participação toca “Rattlehead”
no WOA 2011 com Megadeth
confirmada em show

A participação de Ozzy No 21 passado,


Osbourne foi anunciada encerrou-se a turnê
para a edição do próximo ano americana conjunta de Megadeth e Slayer, com
do festival Wacken Open Air, um show em Los Angeles.
que acontecerá entre 4 e 6 de agosto de 2011, Para deixar claro que antigas desavenças ficaram no
passado, Dave Mustaine convidou Kerry King para
na pequena cidade de Wacken, em Schleswig-
tocar a música “Rattlehead”. Foi a 1ª vez que King
Holstein, norte da Alemanha. Bandas como
tocou com o Megadeth em 26 anos (ele fez parte da
Avantasia, Suicidal Tendencies, Apocalyptica e banda em 1984). Confira o vídeo:
Blind Guardian, entre outras, também foram http://www.youtube.com/watch?v=aVr4hvUX1ZI
confirmadas.

Angra: lançamento oficial de novo vídeoclipe


O Angra oficializou recentemente
o lançamento do seu mais novo
clipe. A música escolhida foi
“Lease of Life”, e o material
contou com produção de Paulo
Calencci, fotografia de Kaue Zilli,
direção de Ricardo Guidara, além
da participação especial da atriz
Vanessa Cristina.
A banda disponibilizou o vídeo
em seu canal oficial no YouTube.
Confira:
h tt p : / / w w w. yo u t u b e . c o m /
watch?v=K3D_ENwGXrI

Apocalyptica: banda planeja Depois, é só esperar para baixar o pôster em


fazer o maior mosaico de fotos que sua foto aparece e imprimí-lo de graça,
de fãs do mundo assim que ele estiver concluído (uma vez que
10.000 imagens forem enviadas, ou quando a
Fãs de todo o mundo foram convidados data de encerramento for alcançada, em 30 de
a enviar fotos e tornar-se parte do novembro).
maior mosaico de fãs já feito. Todas as fotos dos fãs, quando
Juntas, todas as imagens unidas, se transformarão na
dos fãs formarão o “Mosaic capa do álbum mais recente
Symphony”. do Apocalyptica, o “7th
Para participar, basta ter Symphony”. Para ter uma
uma conta no Facebook, ideia melhor de como a
Twitter, MySpace, arte final ficará, acesse o
OpenID ou Yahoo, endereço a seguir:
escolher a foto e enviar. http://apocalypticamosaic.
sonymusic.de/home

04 Rock Meeting
Primal Fear: Gorgoroth:
datas da banda anuncia
turnê na novo álbum
América
do Sul A banda de
anunciadas Black Metal Gorgoroth
anunciou recentemente
Os alemães do Primal Fear agendaram um novo álbum, que
as seguintes datas para sua turnê sul-americana, será lançado em 2011 pela Regain Records. Ele
em fevereiro de 2011: ainda não tem título.
22/02 - Lima, Peru Também está sendo concluída, durante as
24/02 - La Paz, Bolívia sessões de gravação do novo disco, uma
25/02 - Buenos Aires, Argentina regravação do terceiro álbum da banda, “Under
26/02 - Rio de Janeiro, Brasil the Sign of Hell”, que será lançado no mesmo
27/02 - São Paulo, Brasil ano.

Death: cinco primeiros álbuns Thought Patterns” (1993) receberão novos


relançados no Brasil e longos encartes, contendo todas as letras e
um texto sobre a carreira do
Eis uma ótima notícia grupo. Ficaram de fora apenas
para todos os fãs brasileiros dois álbuns: “Symbolic” (1995)
da Death, um dos maiores e “The Sound of Perseverance”
nomes da história do Metal: (1998).
os cinco primeiros discos da Se você ainda não possui nada
banda, liderada pelo falecido da banda, esta é a oportunidade
Chuck Schuldiner, estão pela qual estava esperando.
sendo relançados no Brasil A Death é até hoje considerada
pela Shinigami Records. como uma das pioneiras do
“Scream Bloody Gore” Death Metal, embora os ex-
(1987), “Leprosy” (1988), membros não gostassem muito
“Spiritual Healing” (1990), do termo.
“Human” (1991) e “Individual

Foo Fighters: novo álbum, novo seis. No último um mês e meio, gravamos
show, e ainda por cima, um filme na minha garagem, num sistema analógico,
totalmente ‘old school’”, contou Grohl. “Todas
Em entrevista ao as músicas são barulhentas, não
programa do radialista Zane tem nenhum violão acústico”,
Lowe, da rádio britânica BBC 1, completou. O vocalista também
no dia 25 deste mês, o vocalista afirmou estar com saudades dos
do Foo Fighters, Dave Grohl, outros integrantes: “Os últimos
anunciou que o grupo já está dois anos e meio foram muito
gravando um novo disco, e legais, mas estava sentindo
revelou que a banda já tem falta de tocar com eles”. Outra
dois shows agendados na novidade sobre o Foo Fighters é
Inglaterra para junho de 2011. a ideia de rodar um filme sobre
A informação é do site Terra. a banda. “Já temos um diretor”,
“Já temos sete músicas prontas revelou Grohl.
e vamos fazer mais cinco ou

05 Rock Meeting
GORESLAVE & ANDRALLS EM ARACAJU
Diário de bordo

Goreslave NA ESTRADA
Por Messias Júnior

O dia começou infernal...


Após trabalharmos a manhã inteira, e depois de milhares de propostas de negociação para não
tomar uma falta no emprego (ou perde-lo, o que é pior), conseguimos enfim fugir de nossas
obrigações para celebrar o metal extremo em terras sergipanas. O passo seguinte foi conseguir
colocar metade de uma bateria, guitarra e baixo, junto com várias mochilas dentro de um Palio.
Detalhe: Ainda precisaríamos caber dentro dele.
A viagem foi bastante produtiva. Definimos pontos do show, alguns detalhes de letras e músicas,
conversamos diversas abobrinhas sobre os mais diversos assuntos. Interessante como a diversão e
a ansiedade estão sempre nos inquietando. Felizmente enfrentamos uma estrada sossegada, bem
sinalizada e com pouquíssimos pontos de congestionamento. Destaque especial para algumas cidades
pelas quais passamos: Algumas pareciam Silent Hill (os gamers sabem do que estou falando)... Com
direito a uma parada em um posto de gasolina abandonado, com apenas um frentista, armado.
Chegamos em Aracaju por volta das 18h30. O calor era infernal, as pernas queimavam, os músculos
doíam. Enfrentamos horas de trânsito infernal na capital sergipana (os semáforos de trânsito mais
lentos que já vi na vida!), até encontrarmos com Fábio da banda Sign Of Hate, e também organizador
do show. A essa altura da viagem, a fome e o cansaço da estrada já se mostravam impiedosos.
Um bom banho, seguido de lanches bem reforçados nos deixaram novos de novo para o show que
viria a seguir. A previsão de início do show era de 21 horas, mas como é praxe, o atraso normal
aconteceu.
O show aconteceu em um local chamado Espaço Cultiva, na orla de Aracaju. Um pouco afastado do
centro, sem muitas opções de locomoção, o que também explica a quantidade de público, abaixo
das expectativas. Muitos comentaram que pelo fato de ter sido um show feito em uma sexta-feira,

06 Rock Meeting
muitos não puderam ir por conta de seus trabalhos, o “rock maneiro”. Para minha surpresa, não tive
era também véspera de eleição... Problemas e espaço para montar todo o set, e tive que limar
realidades não muito diferentes entre as capitais. alguns pratos e estantes. Não fomos surpresa
Organizar eventos é sempre uma roleta-russa. para a maioria, pois já nos conheciam, inclusive
Bem legal o espaço, amplo, aparelhagem de som cantando algumas de nossas músicas mais antigas,
muito boa. Só a altura do palco não nos favoreceu. o que nos deixou bastante felizes. Um destaque
Particularmente para nós, que temos uma formação para esse dia foi mesmo o calor, impressionante
em trio, e com um baterista/vocalista. Mas nada e muito forte, mesmo estando a metros da praia.
que impeça de fazermos algumas cabeças se Derretemos literalmente no palco. O público
movimentarem... mas quase ninguém vê que é o de Aracaju é sempre insano. Curtem o estilo e
baterista que canta... aprontam diversas rodas durante o show. Fizemos
Reencontramos lá grandes amigos e amigas que um apanhado de músicas, mesclando faixas novas
fizemos nas três vezes em que tocamos lá. Depois com antigas, mais os covers que sempre gostamos
de uma boa espera, a primeira banda da noite, de fazer. É um show a parte, e uma homenagem os
Irrisório, sobe ao palco abrindo o show. O som nossos “professores”: Tocar um Cannibal Corpse
dos caras é bem pesado, e bastante agressivo. ou um Morbid Angel é sempre uma alegria a parte
Enquanto isso, encho minhas garrafas de “suco para quem nos vê.
gummi” (mentira, somente água...) e me posiciono 50 minutos depois, saímos do palco com a
com minhas tralhas ao lado do palco. Já estou sensação de dever cumprido, e prontos para
ficando com trauma de palcos altos. Toda vez eu descansar. Muitos e muitos litros de H2OH e
necessariamente preciso cair ou tropeçar em algum isotônicos pra segurar o calor. Depois vem a pior
deles. Se ele tem mais de um metro de altura, já parte: desmontar e guardar tudo. Na próxima
fico nervoso. encarnação, quero vir flautista, gaitista, ou alguém
Pratos travados, cabos conferidos, pedais que toque apito, reco-reco... algo que caiba nos
encaixados, tudo afinado... hora de subir e fazer bolsos, de preferência.
Depois sobe ao palco a Sign Of
Hate, banda de Death Metal de
Sergipe. Sempre competentes,
fizeram um show bastante
pesado, com musicas bem
rápidas e técnicas. Fábio e sua
trupe mantém a chama do
metal extremo acesa. Já bem
conhecidos do público, notou-
se uma clara interação entre
banda e público. Brutal e rápido,
como sempre, cada dia mais
entrosados, a banda melhora
cada vez mais.
Chega o momento do Andralls
subir ao palco. Acompanhei a
passagem de som dos caras, e
dali já tinha visto que a porradaria
seria grande. Os anos de estrada
fizeram muito bem ao trio, que
executa o que eles chama de
“Fasthrash”: um Thrash Metal
muito rápido, direto, sem firulas.
Chega o momento do Andralls
subir ao palco. Acompanhei a
passagem de som dos caras, e
dali já tinha visto que a porradaria
seria grande. Os anos de estrada
fizeram muito bem ao trio, que
executa o que eles chama de
“fasthrash”: um Thrash Metal
muito rápido, direto, sem firulas.
O vocalista tem uma ótima
presença de palco, e a interação
entre eles e o público era muito
boa. Um influencia clara de
Sepultura das antigas e muito da
cena alemã. Cerca de 1 hora de
show depois, e muitos pescoços
destruídos, o evento acaba.
Parabéns ao Andralls, pela
atitude, humildade, mostrando
como se faz um Thrash Metal
ignorantemente direto e com
qualidade.
O dia já estava amanhecendo
quando finalmente achamos
uma pousada interessante pra
ficar. Daí foi dormir, acordar, e
pegar a estrada de volta. Quase
600km percorridos, em pouco
mais de 24 horas. Chegando em
Maceió, de volta a realidade, ao
trabalho...
E aos puxões de orelha do chefe.
Polisensitividade,
positividade e
rock
Jonas Sutareli (@sutareli | Misturando essas vibes, o ForFun forma seu
jonas@rockmeeting.net) som. Na capital alagoana, numa casa de shows
Fotos: IZP (Flickr For Fun) à beira da praia, a banda não decepcionou os fãs
que foram prestigiar o grupo.

O evento, marcado para as 16h, começou com um pouco de atraso,


o que é comum em qualquer lugar que se vá. Acontecem imprevistos e
assim segue. Sem mais delongas, a banda que abriu o show foi a Deskarte.
Lançaram um CD recentemente, têm músicas próprias, fizeram um show
curto para poucas pessoas, a maioria ainda não tinha entrado. Logo após,
subiu ao palco a banda de Power Pop Wake Up. Fazendo também um
show não muito longo, pelo atraso, horário avançado, as coisas tinham
que ser mais corridas. Também com músicas próprias e fazendo um cover
de “Divina Comédia” da banda Scracho, a Wake Up fez também um show
pra poucas pessoas. A fila estava enorme e o pessoal ainda entrava.

09 Rock Meeting
Quando a maioria já tinha adentrado no recinto, a banda Belt sobe ao
palco com seu Hardcore misturado com MPB. Tocando músicas autorais, a
Belt fez um show consistente e legal. Encerraram com um cover de “Bem-
vindo ao Clube”, da aclamada banda de Hardcore, Dead Fish. O público, que
curtia muito Dead Fish, pediu bis. Todavia, não foi possível, justamente por
conta dos atrasos e da hora corrida.
Após a Belt, sobe ao palco a atração pernambucana Bon Vivant. Com
um Rock mais popular, uma pegada mais ao estilo Los Hermanos, a Bon
Vivant mostrou que tem um público aqui e agitou a galera em seu show.
Em seguida, a banda De$lucro sobe para fazer sua apresentação. A banda
tem um excelente público na cidade, é bastante conhecida, toca apenas
músicas autorais e fez um bom show. Músicas bem executadas, as canções
agradaram ao público, que cantou praticamente todas elas músicas junto
com a banda.
Depois de muita espera, após todas essas atrações, sobe ao palco o
Forfun. A banda interagiu com o público, que correspondeu satisfatoriamente.
Executando a maioria das músicas do disco “Polisenso”, além do hit “História
de Verão” e a primeira faixa do disco “Teoria Dinâmica Gastativa”, o Forfun
fez um show consistente, bem executado, relativamente longo e agitado.
Além de tudo, homenagearam Bob Marley e o alagoano Djavan, tocando
um cover de cada, além de dedicar a música “Sigo o Som” para Heloísa
Helena.
No saldo geral, Forfun foi bastante satisfatório, alegre e agitado. Quem
gosta da banda e foi prestigiá-los, não se arrependeu nem um pouco por
ter ido.

10 Rock Meeting
MIA DOLCE VENDETTA
CAPA

Pei Fang Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)


Yzza Albuquerque (@yzzie | yzza@rockmeeting.net)
Fotos: Antonio Fon (@antoniofon | www.fotofon.com.br)
Apesar do pouco tempo de existência, a Mia Dolce Vendetta
tem dado o que falar na cena local. Confira a conversa que
tivemos com os caras.

Inicialmente, obrigado pela Thrash, Death Metal, Hardcore NY. A proposta


entrevista. Bom, apresentem a Mia da MDV é não ficar limitada a nenhum rótulo, e
Dolce Vendetta e a função de cada continuar fazendo um som pesado e trabalhado.
um na banda.
Saulo - Nós é que agradecemos a oportunidade Sabemos que a banda de vocês é bem
oferecida. A Mia Dolce Vendetta é composta por nova. O que os levou a formá-la?
Carlos Peixoto (baixo), Igor Calado (guitarra), Há quanto tempo exatamente estão
Hudson Feitosa (guitarra), Diogo Borges juntos?
(bateria), Saulo Lessa (berros). Saulo - O que levou a MDV a ser formada, foi
mesmo a junção de ideias iguais e vontades
A pergunta é bem clichê, mas qual o semelhantes. Estamos na ativa há seis meses.
motivo por trás do nome Mia Dolce Diogo - Certamente a banda é bem recente.
Vendetta? A banda surgiu espontaneamente, quando os
Saulo - Bom... Cansado de ver todas as bandas respectivos fundadores, Diogo e Igor, haviam
com nomes em inglês, resolvi pensar em um se encontrado para testar um amplificador de
nome em outra língua, com algo relacionado a guitarra. Então, a partir de um diálogo entre
vingança. Testei várias, mas não curti nenhuma. nós, decidimos montar um projeto dentro da
Foi quando veio na minha cabeça o filme “V for vertente Metal, sem fragmentar ou rotular
Vendetta” (V de Vingança), e eu achei que o nome minuciosamente. (risos)
soou muito bem. Então resolvi traduzi Minha Carlos - Fui o último a entrar na banda. Fui
Doce Vingança para o italiano. E o resultado foi convidado pelos caras, que já tinham começado a
bastante interessante. ensaiar sem baixista. Eu já estava querendo fazer
essa linha de som há muito tempo, e quando
O estilo adotado pela MDV é recebi o convite, não pensei duas vezes. A banda
relativamente moderno para os mais é nova, tem aproximadamente seis meses de
conservadores. Por que a escolha vida, mas é formada por músicos experientes,
do estilo Metal/Hardcore como o que estão na correria há anos e já tocaram em
som base para as canções? muitos projetos, o que facilitou muito no processo
Saulo - Todos da banda curtem muito o de composição das músicas. O entrosamento foi
verdadeiro Metal. O Metal de origem, de fato. muito rápido, e isso me deixou bastante motivado
Mas queríamos associar o Metal raiz ao Hardcore. com o projeto.
Esse “tempero” é mais uma estética, tendo em
vista que a Mia Dolce Vendetta é basicamente A estreia da MDV foi no final de julho
Metal. Em poucas oportunidades você irá ouvir passado. Quais eram as expectativas
Hardcore no nosso som, embora eu goste muito. do momento pré-show? E do pós
Diogo - De fato, sim, é atual, pois somos show?
influenciados por bandas relativamente atuais Saulo - Bom, basicamente, nervosismo. Embora
(risos), porém não nos consideramos uma mistura todos os integrantes da banda sejam acostumados
de Metal com Hardcore, mas sim um Metal com shows, só nós sabemos o quão pouco tempo
genuíno, nos moldes da contemporaneidade. tivemos para deixar a banda “redonda”, tendo
E a escolha do estilo é por ser um estilo em vista que o show de estreia de uma banda
substantivamente expressivo, entre outros é muito importante! É literalmente o cartão de
fatores. visita. Então, foi pouco tempo antes do show. Mas
Carlos - A ideia da gente foi fazer um som tudo rolou bem, e a repercussão foi maravilhosa.
pesado, extremo, com afinação Baixa (A) e letras Depois, o sentimento era de segurança, afinal, o
fortes, sem privações, por isso nunca pensamos nosso papel estava sendo feito com vigor.
em rotular o som da MDV. Até porque são muitas Diogo - A expectativa pré-show era ingênua:
as nossas influências. Quem escuta as nossas apenas surpreender o público presente com um
músicas logo percebe elementos de Grindcore, som extremamente pesado. E o momento pós-

14 Rock Meeting
show, foi só aguardar a diversidade de opiniões,
para que pudéssemos melhorar o nosso som
cada vez mais.
Carlos - O primeiro show foi no Banga Metal Fest,
evento que o Igor e o Saulo organizaram. Foi um
show curto - nosso set ainda era pequeno, na
época -, mas o público nos recebeu muito bem.
O show foi bastante enérgico, a repercussão foi
muito boa e logo apareceram vários convites
para outros eventos.

O que pensam da cena do Metal/


Hardcore do Nordeste? E a nível
nacional?
Saulo - Confesso que sou meio leigo quando
se fala de bandas do Nordeste. Aprecio bastante
uma banda do nosso estado, a Never Say Die
Julieet. Mas a nível nacional, tem uma banda
que eu gosto bastante, que é a Confronto.
Diogo - Bom, a cena Metal/Hardcore daqui, não
tenho competência suficiente para aprofundar a
opinião, mas a cena do Metal de Maceió é bem
oscilante, no sentido de que hora está constante,
e em outros momentos não, o que acaba
dificultando o lado das bandas, que precisam
se apresentar para o público daqui. E a cena
de Metal do Brasil sempre foi substancialmente
significativa e forte, isso posso dizer com toda
certeza.
Carlos - A nível nacional, é bastante forte, já que
a Liberation tem promovido muitos eventos com
bandas do estilo (nacionais e gringas). Confronto
é uma banda que eu curto bastante, em nível de
Brasil. Na cena do Nordeste, eu posso destacar
duas bandas que fazem a correria: Andragma
(Salvador) e A Trigger to Forget (Fortaleza).

Quais bandas mais influenciam o som


de vocês?
Saulo - No meu caso, Suicide Silence, Waking
the Cadaver, Job for a Cowboy e tudo que for
“Grind”.
Diogo - As bandas que influenciam os
integrantes da MDV são inúmeras, amplamente,
desde outros estilos de Rock como de Metal, por
exemplo: curtimos de Motörhead a Meshuggah.
Carlos - No meu caso, as bandas que me
influenciaram diretamente para tocar nesse
projeto foram Napalm Death, Six Feet Under,
Unearth, Lamb of God, Job for a Cowboy...

16 Rock Meeting
Vocês curtem algum estilo musical
fora do Rock/Metal? O que mais
vocês ouvem?
Saulo - Com certeza! Curto muito Rap, Pop,
Samba... Não tenho a cabeça fechada.
Dentro do Rock, curto bastante Grunge,
Hardcore, Power pop...
Diogo - Sim, a maioria dos integrantes escuta
Rock e Metal, mas dois ou três integrantes
escutam desde a música clássica ao Fusion.
Carlos - Ouço muitas coisas diferentes: música
experimental, Eletrônica Industrial, curto muito
Johnny Cash, Joe Strummer (The Clash),
Depeche Mode, Nine Inch Nails...

Como é o processo de criação das


canções da Mia Dolce Vendetta?
Saulo - No início, eram criados arranjos e
melodias no computador. Depois, eram passados
para cada um, e a música ia ganhando vida. Mas
agora, estamos construindo nossas músicas nos
ensaios, sempre quando alguém vem com uma
nova ideia.
Diogo - O processo de composição é bem
complexo: algumas vezes, um só integrante faz
a música. Mas normalmente compomos todos
na hora do ensaio, expondo nossas opiniões e
diversidades idealísticas.
Carlos - No início, o Igor e o Hudson criaram
juntos algumas bases de guitarra. Nós gravamos
tudo no PC e criamos todos os arranjos e linhas
de vocais em cima dessas ideias iniciais. As
duas primeiras músicas da MDV saíram dessa
forma. As composições seguintes foram saindo
naturalmente, alguém vem com uma ideia e
todos vão dando suas opiniões e criando os
arranjos de uma forma bem natural.

O que podemos esperar ainda para


este ano da MDV? Algum EP ou Demo?
Saulo - Nós já estamos em fase de finalização
do EP. Não sei se sai este ano ainda. No meu
caso, é uma dúvida. Não posso adiantar nada.
Mas a MDV fará alguns shows ainda este ano, é
isso que eu posso adiantar.
Diogo - Por enquanto, neste fim de 2010,
apenas shows irão acontecer, resumindo-se em
simbólicas apresentações. Registros como CD e
EP, possivelmente em 2011.
Carlos - Estamos finalizando o nosso EP, falta apenas uma música. Queremos lançar esse trabalho
até dezembro. Mas já disponibilizamos duas músicas do EP no nosso PureVolume: www.purevolume.
com/miadolcevendetta

Qual seria o top 5 das músicas que mais representam os integrantes da MDV?
Saulo - Para mim:
Suicide Silence – “The Price of Beauty”
Waking the Cadaver – “Blood Splattered Satisfaction”
August Burns Red – “Back Burner”
Confronto – “Vale da Morte”
Realidade Cruel – “O Resgate”
Carlos - Motörhead – “Ace of Spades”
Anthrax – “Caught in a Mosh”
Suicidal Tendencies – “You Can´t Bring Me Down”
Lamb of God - “Laid to Rest”
Killswitch Engage – “My Last Serenade”

Antes de finalizar, algum show previsto para os próximos meses? Mais uma
vez, muito obrigado pela entrevista. Sucesso!
Saulo - Iremos tocar em Salvador em dezembro. Há algumas especulações sobre shows aqui, mas
só serão citados quando concretizados...
A revista Rock Meeting está me surpreendendo com tamanhos profissionalismo, ética e seriedade.
Parabenizo-os mais uma vez por esta iniciativa. Obrigado! E que venham muitas outras edições!
Diogo - Sem dúvida, em novembro iremos nos apresentar aqui em Maceió, e também na Bahia. Desde
já, agradecemos o suporte oferecido pela revista à Mia Dolce Vendetta. Sinceros agradecimentos.
EXCLUSIVO

A RM entrevista u
antigas do cenár
perna
a cruor Já abriu
agora para

confira com exc


banda tem pa

Pei Fang Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)


Yzza Albuquerque (@yzzie | yzza@rockmeeting.net)
Fotos: Dudu Schnaider (Raio Lazer)
uma das bandas mais
rio underground DE
ambuco.
u para o megadeth, e
o death angel.

clusividade o que a
ara NOS contar!
Como é o nosso primeiro contato,
gostaríamos de agradecer pelo
tempo reservado para a Rock
Meeting. Comecem nos contando
quem faz o Cruor. Apresentem-se!

Aí vai: Túlio Falcão, guitarra; Jairo Neto, baixo;


Wilfred Gadêlha, vocal; Bruno “Bacalhau”
Montenegro, bateria.

Esta pergunta é clichê, mas não


podemos deixar de fazê-la. Como
surgiu o nome da banda? Algum
detalhe em especial? Contem-nos.

Jairo – Está lá no dicionário: “Cruor s.m.


Parte do sangue que se coagula (por opos. ao
soro). / Matéria corante do sangue. / Sangue
derramado fora dos vasos. (poetic.) Sangue
de inocentes derramado”. Há, na verdade,
duas histórias de como chegamos ao nome.
A primeira vez que surgiu para nós foi via
Marcelo Demo, guitarrista fundador da banda,
e RogerMan - que ia tocar guitarra também e hoje é o frontman do Bonssucesso Samba Clube
e grande irmão -, que chegaram a esse nome através de outro brother, Budega. Havia um zine
chamado Acclamatur, de Gustavo Buckardt, que iria se chamar Cruor. Aí, juntou a fome com a
vontade de comer.

Assim como a banda Morcegos, de Maceió, vocês estão há bastante tempo


dentro do cenário underground de Pernambuco: já são 23 anos de história
para contar. Seguir o Thrash/Death por tanto tempo pode se tornar
cansativo. O que tem mantido o Cruor vivo por mais de duas décadas?

Túlio - Eu, particularmente, comecei a tocar meus primeiros acordes ouvindo discos de Thrash.
Isso entre 1986 e 1987. Está no sangue! Continuo ouvindo Metal em geral, principalmente Thrash
e Death, e adoro tocar esse estilo de música. Também houve, durante os anos 1990, uma ótima
leva de bandas que renovaram o estilo e o tornaram atrativo novamente, mostrando que ainda era
um campo fértil e criativo. E acho que o Cruor se encaixa neste montante, modestamente falando.
O Morcegos ainda existe? Que legal, cara! Eu e o Wilfred tocamos com eles em Maceió, acho que
em 1992, quando tocávamos no Dark Fate. O Nephastus da Paraíba também tocou... Lembram
disto?

Jairo - Acho o que faz uma banda durar, além do apoio dos amigos, é quando a música,
particularmente o Metal, corre dentro de suas veias. Também acreditamos no que fazemos, por
isso ainda vão ter que tolerar o Cruor pelo menos por mais 23 anos!

Wilfred – Cara, acredito que é a instigação para tocar que mantém a banda junta até hoje. Passar
por maus bocados, todo mundo passa, mas continuar focado em um objetivo, mesmo que ele
pareça intransponível, é para poucos. E, claro, sempre ter na cabeça que fazer o que a gente está
a fim de fazer é a chave para a longevidade e tal. Ah, sobre o Morcegos, acho que não agradeci
direito ao batera deles pelos bumbos e pelos pratos naquele show de Maceió, quando eu então
tocava bateria...

22 Rock Meeting
Muitos músicos já passaram pela nesse processo foi que algumas pessoas que
banda neste período. Qual o não curtiram nosso primeiro disco, hoje são
motivo dessas mudanças e o que nossos amigos e fãs, a quem eu aproveito
elas trouxeram de positivo? o espaço para agradecer pela força e pelo
apoio que estamos recebendo.
Jairo - É difícil hoje você encontrar uma
banda com mais de 20 anos de estrada que Túlio – Melhor, impossível. O público hoje está
não tenha tido pelo menos uma mudança no mais exigente, e ter uma boa receptividade é
line-up original. Todos que passaram pelo bastante lisonjeiro e compensador. Fizemos
Cruor trouxeram suas influências, o que é uma mostra sincera do que era o novo Cruor
sempre bem-vindo para evolução individual e acho que todos conseguiram captar a
como músicos e da banda como um todo. energia desta nova formação, aprovando-a.
Estamos todos aprendendo um com outro
sempre, e a maioria que saiu da banda foi Wilfred – Rapaz, faço minhas as palavras
para seguir seu próprio caminho, visto que de Túlio. A galera tem sido foda no que diz
quando começamos éramos adolescentes de respeito à reação às músicas do “Unburied”.
12, 13 anos. Conforme crescemos, temos que Colocamos o nosso melhor nelas, e o que
dar rumo à vida, mas todos que passaram mais nos gratifica é justamente olhar no
pelo Cruor, consideramos como irmãos para olho de cada banger que está no moshpit e
sempre. Então, sempre que alguém sai ou ver que ele está se divertindo. Um site de
entra, a família aumenta... Pernambuco disse que são músicas para
Wilfred – Posso dizer pela minha experiência: ressuscitar bêbados. Inclusive nós...
no ano passado, meus compromissos
profissionais (sou editor-assistente de Em abril, vocês tocaram no mesmo
Internacional do Jornal do Commercio) palco que o Megadeth. Como foi
estavam entrando em rota de choque com o a experiência de ver o quinteto
Cruor. Conversei com os caras e decidi sair, americano na sua cidade e ainda
porque eu estava atrapalhando a banda. tocar no show? Contem-nos um
Mas, logo depois, voltamos a conversar e pouco a respeito.
eu voltei. Acredito que alguns ex-membros
tenham passado pelo mesmo, como nosso Túlio - Bicho, vou responder essa sem medo
ex-guitarrista Georgius Vassilius, o popular de ser piegas. Eu tinha uns 12 anos quando
Galego, que foi morar em Nova Iorque. comprei o “Peace Sells...” e ainda começava a
aprender a tocar. Então ouvia aquilo, pegava
Este ano, vocês lançaram o EP uma vassoura e me imaginava em cima de
“Unburied”. Cinco faixas. Um um palco, tocando e batendo cabeça. Já
trabalho pronto. Qual foi a era difícil você ter algum material em vídeo
reação do público? naquela época, quiçá ter uma banda gringa
em sua cidade. Ter uma banda do sul do país
Jairo - Esse EP só veio para confirmar para em sua cidade já era difícil, e uma banda
que estamos aqui. Considero a crítica uma estrangeira beirava o impossível. Bom, os
questão de gosto, e devido a excelência do anos se passaram e aquele menino que fazia
Metal nordestino e a tecnologia de informação, air guitar ouvindo “Wake Up Dead”, batendo
a quantidade de público aumentou, mas a cabeça no pouco espaço disponível na sala e
qualidade também. Hoje em dia, você fazer que nunca tinha visto o Megadeth tocando
um trabalho que só recebeu críticas positivas, nem em VHS, estava tocando no mesmo
acho que é muito recompensador. Afinal de palco, olhando o pano de fundo do Megadeth,
contas, no final quem julga seu trabalho é sem acreditar no que estava vendo... Deu pra
o seu público, e o que mais me emocionou sentir o drama?

23 Rock Meeting
Jairo - Infelizmente, não tem como não ser piegas... Mas quando eu pisei no palco montado para
o Megadeth e ouvi os bangers gritando “Cruor”, foi minha maior emoção como musico de Metal.
É indescritível, não éramos só nós que estávamos naquele palco, e sim todos os headbengers do
Nordeste que ansiavam pelo Megadeth. Isso é que ficou gravado para sempre na minha memória! No
final do show, me lembrei de quando tinha uns 13 ou 14 anos, e ouvi pela primeira vez um “Peace
Sells...” pirata argentino... Se alguém me dissesse que 20 anos depois eu estaria abrindo o show do
Megadeth e no Recife, eu diria para ele parar de se drogar.

Wilfred – Cara, confesso que na hora deu um frio na barriga. Mas a produção da banda e do show
foram extremamente profissionais conosco. Fomos muito bem tratados e isso se refletiu no show.
Quando terminou e ouvimos os bangers gritando “Cruor, Cruor!”, foi uma sensação de dever cumprido.

O estilo com que o Cruor conseguiu cativar a audiência pernambucana foi


o “Fuckin’ Thrash Metal”. Mas o que seria este estilo para vocês? Qual é a
pegada principal do som da banda?

Jairo - Desde que começamos com a banda, a meta principal era fazer um som coeso, mas que ao
mesmo tempo não parecesse com nada que tivéssemos ouvido antes. Isso nos levou a uma viagem
através da mente, atravessando o deserto de nossa realidade mortal até chegar a harmonias insanas,
o que culminou no primeiro disco. Mas, mesmo com a nova formação, o princípio continuou o mesmo,
sem medo de ousar, só que agora queríamos algo mais agressivo e direto, sem perder o feeling do
Thrash Metal dos anos 1980, que foi o que nos colocou nesse caminho. Então numa cachaça com
amigos - e a galera, como sempre, querendo te arrumar um rótulo -, surgiu a expressão do “Thrash
Metal Fudido (sic) Oitentista”, que logo virou “Fuckin’ Thrash Metal”: um som rápido, coeso, agressivo,
mas sem perder a característica tão própria do Thrash dos anos 1980. Já tive a oportunidade de saber
que algumas bandas se dizem de “Fuckin’ Thrash Metal”, o que não significa parecer com o Cruor, e
sim ter características próprias e originais, sem imitar ou querer soar como algo conhecido, e seguir
alguns conceitos já mencionados.

Falando em estilo musical, o que vocês escutam fora do Metal? Citem alguns
exemplos.

Túlio - Acho que da banda, eu sou o de gosto


mais abrangente e bizarro! Escuto desde a música
renascentista de Orlando di Lasso e Monteverdi, até
grupos de Harsh Noise, tipo Merzbow, Prurient e outros.
Gosto bastante de música experimental e tenho um
projeto solo (www.myspace.com/tuliofalcao) e um
duo de música eletroacústica chamado HRÖNIR, que
inclusive tocou em um festival em São Paulo este ano.
Ultimamente, estou ouvindo (fora Metal) John Zorn,
Daniel Menche, Morton Feldman, Iannis Xenakis,
Merzbow, Prurient, Umlaut, Zbigniew Karkowski, e
por aí vai...

Wilfred – Túlio realmente é o responsável pelas


bizarrices na banda... Já eu cresci ouvindo muito
Luiz Gonzaga, Trio Nordestino e Alceu Valença. Gosto
muito ainda de todos eles e até já toquei alfaia,
triângulo e agogô em uma banda que investia em
maracatu, ciranda e forró. Gosto de brega clássico
(Carlos Alexandre, Reginaldo Rossi, Evaldo Braga), de
Beastie Boys, de Duran Duran, da Nação Zumbi, do
Sigue Sigue Sputnik e de Paco de Lucia. especial. O Metal brasileiro cada vez mais conquista
espaços pela sua qualidade, em especial as bandas
Jairo – Bem, eu comecei em 1975 ouvindo Elvis e do Nordeste, como Cangaço, Decomposed God,
Beatles, até conhecer bandas como Módulo 1000, Infested Blood, dentre outras que ainda não
Deep Purple, Floyd, Hendrix, Zeppelin e Sabbath. conseguiram espaço fora do Nordeste, mas que
Aí vieram os anos 1980... Tenho um gosto também são de qualidade ímpar, como Inner
extremamente eclético, já atuei como violoncelista Demons Rise, Firetomb, Carrasco, Extreme Death e
tocando música erudita, que estudei durante Psych Acid, Infected Mind (PB) e muitas outras que
quatro anos. Sou guitarrista solo de uma banda de eu talvez nem tenha tido a oportunidade de ouvir...
reggae e estou concluindo a gravação de um disco
de blues como guitarrista (Gê Domingues). Acho Wilfred – Vejo uma espécie de “reacomodação”
que qualquer música bem feita merece ser ouvida. da cena. Bandas antigas ressurgindo, outras
Mesmo que depois de ouvir eu ache uma merda continuando e muitas, mas muitas mesmo, bandas
ou não curta o estilo, procuro a musicalidade dos novas aparecendo. Eu enxergo tudo isso como um
envolvidos naquele trabalho, e quem sabe, possa ponto positivo. O que acho que falta? Reclamar
me acrescentar algo inusitado. Mas escuto Metal da falta de apoio? É fácil fazer isso. Muitas vezes
praticamente todo dia. a rapaziada fala do governo e tal, mas a maioria
nem sequer pediu. Claro, portas fechadas na cara a
gente já está cansado de levar, mas a cobrança tem
O que podem nos falar sobre shows que que ser concreta e não apenas no Orkut. No Recife,
já tenham feito fora de Pernambuco? eu aplaudo várias bandas novas e tenho visto que
Já tocaram em algum local fora do a cena está mais forte, apesar de a galera não
Nordeste? comparecer aos shows como eu acho que deveria.

Jairo - Nos anos 1990, fizemos uma micro tour na 2010 já terminando. O que há para fazer
ocasião do lançamento do primeiro disco. Tocamos ainda este ano e quais os projetos para
no Black Jack (SP), Garage (RJ), Baratos (Santo o ano novo?
André–SP), Salvador (UFBA), e terminamos a tour Túlio - Neste ano, a prioridade é compor o próximo
em Recife, com o Overdose. Mas já abrimos shows álbum e continuar divulgando o “Unburied”. No ano
em Recife de bandas como Chakal, Sepultura, RDP, que vem, queremos gravar o disco novo e tentar
Attomica, Megadeth e agora Death Angel. divulgá-lo com shows no Brasil e no exterior.
Túlio - Ainda não tive o prazer de tocar com o Wilfred – Há projetos em andamento para
Cruor fora do Nordeste. um documentário contando a história do Cruor.
Wilfred – Eu entrei em 2008, fiz meus 3 primeiros Queremos ainda investir em um clipe legal. Eu
shows em 2009. Em 2010 já se vão oito. Priorizamos estou indo para a França agora em novembro e vou
o nosso Estado neste momento e agora é a hora de levar material nosso para lá. Quem sabe os gringos
sair. Há algumas negociações em andamento. Mas, se interessam? Até porque algumas músicas nossas
quem sabe, a gente dá o pontapé inicial na parte já foram veiculadas por lá.
externa da Unburied Tour em Maceió?
E para finalizar, alguma mensagem para
Como veem a cena do Metal brasileiro? os leitores da Rock Meeting? Obrigado
O que há de bom, e o que acreditam que pela entrevista, mais uma vez! Sucesso!
falta nela? Túlio - Muito obrigado pela oportunidade e um
grande abraço a todos os leitores e para todos vocês
Jairo - Graças ao público, que como já comentamos da Rock Meeting! Quem sabe não nos veremos em
anteriormente, melhorou exponencialmente, e algum show por aí e tomaremos bastante cerveja,
a produtores como Lula Vieira (Raio Lazer), João hein?
(Blackout Records) e Paulo André (Abril pro Rock), Jairo - Queria agradecer a todos que diretamente
Pernambuco se consolida como pólo para shows ou indiretamente nos apóiam e acreditam em nosso
de Metal internacional, o que tem levado outros trabalho, e dizer que estamos disponíveis para tocar
produtores, como no exemplo da Paraíba (vide o em todos os lugares possíveis e imagináveis...
show do Scorpions), a acreditarem num sonho e Wilfred – Fazer Metal no Brasil é dureza, mas no
transformarem nossos desejos em realidade. Para Nordeste é ainda mais complicado. Apoios como os
nós, principalmente, que vimos praticamente o de vocês da Rock Meeting são primordiais para o
Metal nascer no Nordeste, é muito reconfortante e fortalecimento da cena. Obrigado!
Sorteamos esta coluna no mês passado, durante
a festa de aniversário de um ano da RM, no
Kfofo. O resultado está aqui. Conheça agora
Jéssica de Oliveira Fernandes, a ganhadora do
sorteio que fizemos.

Apresente-se. Movies”, do Dire Straits, são os que eu mais


Chamo-me Jéssica de Oliveira gosto de ouvir. Não tem muito o que falar, são
Fernandes, nasci em Piedade, São Paulo. Tenho os que mais me deixam em êxtase.
17 anos e gosto de ouvir Rock Progressivo. É
com o que me identifico mais. Quais as bandas alagoanas que
você vê que se destacam mais?
De onde veio o interesse em Ah, destaque assim, eu não sei muito.
ouvir música? Quais as suas Estou aqui há um ano e não sei exatamente dizer
as bandas mais de destaque. Posso falar algumas
influências? que eu gosto e vejo que são boas e que, para
Acho que o interesse em ouvir musica mim, se destacam, que são a Mopho e a $ifrão.
é algo que nasce com você. Você só vai
descobrindo ao decorrer de sua vida quais as Conte-nos quais os shows que
PERFIL RM

coisas que você realmente gosta. Mas, meu


você mais quer ver, mesmo que
pai é um grande influencia musical para mim.
não tenham nenhuma data
Mostrou-me muitas coisas que ouço hoje.
Acho que é isso.
prevista.
Os shows que eu mais gostaria de ver são:
Roger Waters, Metallica (não posso morrer sem
Quais as suas bandas favoritas? vê-los ao vivo), Ludov, Kansas e Uriah Heep.
Nossa, são tantas! Mas acho que Pink
Floyd, Los Hermanos, Kansas, Dire Straits e O que você acha da rivalidade
Led Zeppelin são as que eu mais ouço. entre as diferentes vertentes do
Rock?
Como está o cenário do Rock Por mim, as coisas seriam do meu jeito.
alagoano, no seu ponto de vista? Seria legal se gostassem do que gosto, mas isso
Depende muito do segmento, sabe? é irracional, cada um tem o direito de gostar do
Eu acho que o cenário alternativo tem umas que der na telha e, por educação, não devemos
bandas boas e até uma frequência legal, eu julgá-los.
vejo um bom cenário do Rock alternativo
aqui no estado. Já do Metal, deixa muito a Você acha que tem espaço para
desejar. Tem pouca coisa, abrem mais espaço todas as cenas?
para as bandas de Death Metal e Metalcore... Sim, claro. Se todos se respeitassem,
Deveriam abrir mais espaço para as outras a coisa seria bem mais legal. Tem espaço para
vertentes do Metal. Falta muito ainda para ser todos desde que haja respeito.
um bom cenário.
Deixe sua mensagem para os
Quais os seus 5 álbuns prediletos? leitores da Rock Meeting.
Justifique em poucas palavras. Ah, não sei o que dizer. Escutem muito
Pink Floyd! Isso!
Só cinco? Difícil... Mas acho que o “The
Dark Side of the Moon” e “Animal”, ambos do
Pink Floyd, “Leftoverture”, do Kansas, “House
of the Holy”, do Led Zeppelin, e “Making
26 Rock Meeting
ESTAVA LÁ
EU
Foram cinco longos anos longe do Brasil, mas que foram recompensados da
forma mais espetacular possível. A banda finlandesa The 69 Eyes literalmente
levou os fãs à loucura com um repertório abarrotado de clássicos. O show,
realizado no último sábado, 25 de setembro, no Carioca Club, em São Paulo,
teve todo o requinte do metal escandinavo.
Costábile Salzano Jr. | Fotos: Mia Ramos

27 Rock Meeting

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