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CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS HÉLICE CONTÍNUA

PREVISÃO POR MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS versus PROVAS DE CARGA

Carla Therezinha Dalvi Borjaille Alledi, Professora


CEFETES – Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo. borjaille@cefetes.br

Uberescilas Fernandes Polido, Diretor


GEOCONSULT – Consultoria de Solos e Fundações Ltda. geoconsult@geoconsult.com.br

RESUMO

Este trabalho apresenta e compara a capacidade de carga obtida por provas de carga estática e por
métodos semi-empíricos para estacas hélice contínua monitoradas. As estacas foram executadas numa área
experimental na região litorânea da cidade de Vitória-ES. O perfil geotécnico é formado por solos
sedimentares constituídos por camadas de areia entremeadas por camadas de argila mole de pequena
espessura, pertencentes ao Período Quaternário. Foram executadas duas estacas teste, de 0,40m de diâmetro,
com comprimento de 8,0m e 12,0m, instrumentadas em profundidade com strain-gages, em quatro níveis.
São analisados diversos métodos semi-empíricos de capacidade de carga com base no SPT, SPT-T, CPT e
DMT. Dentre os métodos analisados, o método Décourt-Quaresma (1978) modificado por Décourt (1996),
com base no SPT-T, apresentou cargas de ruptura total próximas as obtidas experimentalmente. Já os
métodos Alonso (1996), Décourt-Quaresma (1978) modificado por Décourt (1996) e Peixoto (2001), com
base no SPT-T e o método de Peiffer et al.(1991) com base nos resultados de DMT, mostraram-se bons
indicadores da parcela de carga por atrito lateral.
INTRODUÇÃO

A estaca hélice contínua monitorada tem sido cada vez mais utilizada por possuir uma tecnologia que
proporciona a execução das fundações de forma rápida e, o que é mais importante, com mínimo de vibração
e barulho, estabelecendo uma grande vantagem, nesse aspecto, quando comparada, por exemplo, com as
estacas cravadas.
No Estado do Espírito Santo, esse tipo de estaca foi executado, pela primeira vez, na cidade de Vitória,
em fevereiro de 1999, por uma empresa de São Paulo. Ao final do ano de 1999, uma empresa sediada em
Vitória-ES, iniciou a execução de estacas hélice contínua monitoradas tornando-as mais competitivas como
alternativa de fundação, comparativamente com outras estacas, usualmente, empregadas na região, como
estacas pré-moldadas de concreto, tipo Franki e estacas de trilhos usados. Atualmente, é crescente o emprego
de estacas hélice contínua monitoradas como fundação e também como contenção de terrenos vizinhos
(escoramentos) em obras de edificações, no Estado do Espírito Santo.
No entanto, estudos mais aprofundados sobre essas estacas e os métodos semi-empíricos existentes
para previsão de sua capacidade de carga foram estabelecidos com base em provas de carga realizadas em
solos residuais e/ou sedimentares do Período Terciário. Na opinião de Alonso [1], na engenharia de solos,
não existem “métodos universais”. Assim, os métodos de previsão de capacidade de carga de estacas devem
ser aplicados apenas aos solos da região onde esse método foi estabelecido. Sua extrapolação para outras
regiões deve ser feita com critério, procurando aferi-lo por meio de provas de carga estática.
Este estudo enfoca a capacidade de carga de estacas hélice contínua monitoradas, de 0,40m de
diâmetro, com comprimentos de 8,0 e 12,0m, em perfil geotécnico sedimentar pertencente ao Período
Quaternário. Os resultados da capacidade de carga obtidos, experimentalmente, por meio de provas de carga
instrumentadas, levadas até a ruptura foram comparados com as previsões de capacidade de carga dos
principais métodos semi-empíricos propostos na literatura. Foram analisados métodos que utilizam
resultados de ensaios SPT, SPT-T, CPT e DMT.

ÁREA EXPERIMENTAL

A área experimental localizada na região litorânea da cidade de Vitória, Espírito Santo, apresenta
perfil geotécnico formado, basicamente, por solo sedimentar constituído por camadas de areia, entremeadas
por camada de solo argiloso mole, pertencentes ao Período Quaternário.
Para a investigação geotécnica da área experimental, foram executados diversos tipos de ensaios de
campo, compreendendo sondagens de simples reconhecimento com medida de torque (SPT-T), ensaio de
penetração estática com cone de Delph (CPT), ensaios dilatométricos (DMT) e ensaios de laboratório. Dados
dos ensaios podem ser obtidos em Alledi [2]. O perfil geotécnico individual das sondagens – SPT-T1 e
SPT-T6 – executadas no centro de cada estaca teste – EH1 e EH2, respectivamente – está apresentado em
Alledi et al [3].
Foram executadas oito estacas hélice contínua sendo duas estacas teste com 0,40m de diâmetro, com
comprimento de 8,0 e 12,0 m, instrumentadas em profundidade com strain-gages e seis estacas de 0,50m de
diâmetro e 10,0m de comprimento que serviram de reação durante a realização das provas de carga. Nas
estacas teste, além da armadura longitudinal, um tubo de aço galvanizado foi introduzido no centro da estaca
conforme procedimento recomendado por Albuquerque [4]. No interior desse tubo galvanizado foram
introduzidas as barras instrumentadas com strain-gages. Detalhes sobre execução das estacas e
instrumentação ao longo da profundidade estão apresentados em Alledi [2].

PROVAS DE CARGA

Apesar da evolução dos métodos semi-empíricos para se prever a capacidade de carga de estacas, o
meio mais confiável para se avaliar a carga que uma determinada estaca pode suportar é a prova de carga
estática. De acordo com Velloso [5], a prova de carga estática é o único ensaio que reproduz as condições de
trabalho de uma estaca.
Foram realizadas quatro provas de carga (PC) à compressão nas duas estacas teste para determinação
experimental da capacidade de carga das estacas hélice contínua monitoradas. Das quatro provas de carga
realizadas, duas foram executadas com carregamento lento (SML) e duas com carregamento rápido (QML).
As provas de carga do tipo rápida foram executadas após realização das provas de carga lenta tendo como
objetivo principal verificar a mobilização da resistência de ponta. As máximas cargas obtidas para as estacas
hélice contínua deste trabalho, nas PC lenta e rápida, ficaram próximas uma da outra.
As provas de carga foram executadas conforme recomendações da norma brasileira [6] e pelo
procedimento de carga controlada. O controle da carga na cabeça da estaca, para mantê-la constante em todo
o estágio, era feito pela leitura da célula de carga. Os carregamentos à compressão foram aplicados em
estágios sucessivos, até a ruptura do sistema solo-estaca tanto para o carregamento lento quanto para o
carregamento rápido. Os deslocamentos verticais sofridos pelas estacas teste – EH1 e EH2 – foram medidos,
simultaneamente, por quatro extensômetros mecânicos instalados no topo do bloco de coroamento e
dispostos em dois eixos ortogonais de acordo com o especificado pela norma brasileira. A descrição
detalhada das provas de carga, destacando-s a preparação, os equipamentos e os materiais utilizados, o
procedimento dos ensaios e as curvas carga x deslocamentos obtidas nas provas de carga lenta e rápida foi
apresentado em Alledi et al.[3]. Na Tabela 1 estão especificados os valores de carga e de deslocamento
máximos atingidos nos ensaios.

Tabela 1- Valores de carga e deslocamento máximos obtidos nas provas de carga


Estaca Ensaio Carga Máxima Deslocamento Máximo
(kN) (mm)
EH1 Lento 720 41,99
Rápido 756 40,79
EH2 Lento 1100 69,97
Rápido 1150 47,84

Conforme mostrado na Tabela 1, apesar de ter havido um recalque considerável (>10% do diâmetro
nominal da estaca) durante a realização das provas de carga, a forma das curvas carga x deslocamento nas
PC lentas [2], [3] e [7] não apresenta um pico caracterizando ruptura bem definida. Assim, determinou-se a
carga de ruptura das estacas EH1 e EH2 por meio de métodos matemáticos, cujos resultados estão na Tabela
2.

Tabela 2 – Carga de ruptura das estacas por meio de métodos matemáticos


Estaca Método Carga de Ruptura (kN)
Norma Brasileira 565
De Beer 700
EH1 90% Brinch - Hansen 705
Füller e Hoy 700
Norma Inglesa – 10% D 715
Norma Brasileira 845
De Beer 1000
EH2 90% Brinch - Hansen 1050
Füller e Hoy 1000
Norma Inglesa – 10% D 1020
D: diâmetro da estaca

Observando-se a Tabela 2, verifica-se que o valor da carga de ruptura obtido pelo método da norma
brasileira foi inferior aos demais métodos que apresentam valores próximos entre si. Portanto, a carga de
ruptura definida para a estaca EH1 foi 700kN e para a estaca EH2, 1000kN, valores estes que serão
utilizados para verificação dos métodos de previsão de capacidade de carga.
Como, neste trabalho, as estacas teste foram instrumentadas em profundidade com extensômetros
elétricos (strain-gages), foi possível, também, medir as deformações ao longo do fuste das estacas ensaiadas,
visando determinar como ocorre a transferência de carga da estaca para o solo ao longo da profundidade.
Assim, foi determinada, experimentalmente, parcela de capacidade de carga por atrito lateral e de ponta em
cada estaca teste. Resultados da instrumentação ao longo da profundidade podem ser obtidos em [2] e [7].
Nas Tabelas 3 e 4, estão apresentados, respectivamente, para as estacas EH1 e EH2, os valores de
carga no topo, carga em cada nível instrumentado e as percentagens de carga de ponta obtidos na prova de
carga lenta. A carga de ponta foi calculada por extrapolação dos valores de carga obtidos nos dois níveis
mais profundos.
Tabela 3 – Valores de carga no topo, nos níveis instrumentados e porcentagem de ponta – EH1 – (PC lenta)
Carga no Topo Carga no Nível (kN) % de Ponta
(kN) 3,7m 6,8m 7,4m Ponta *
0 0 0 0 0 0
100 57,4 35,3 20,6 13,2 13,2
200 113,3 54,4 35,3 25,8 12,9
300 179,5 64,7 45,6 36,1 12,0
400 248,7 73,6 53,0 42,7 10,7
500 320,8 79,5 63,3 55,2 11,0
600 398,8 88,3 73,6 66,2 11,0
700 454,6 103,3 89,6 82,7 11,8
720 458,8 111,6 97,8 90,9 12,6
* Valor extrapolado

Tabela 4 – Valores de carga no topo, nos níveis instrumentados e porcentagem de ponta – EH2 – (PC lenta)
Carga no Topo Carga no Nível (kN) % de Ponta
(kN) 5,85m 10,95m 11,55m Ponta *
0 0 0 0 0 0
100 73,2 10,8 3,2 0 0
200 148,6 26,9 15,1 9,2 4,6
300 200,3 35,5 22,6 16,2 5,4
400 247,7 44,1 29,1 21,5 5,4
500 296,1 51,7 35,5 27,5 5,5
600 346,7 61,4 43,1 33,9 5,7
700 408,1 73,2 50,6 39,3 5,6
800 471,6 88,3 62,5 49,5 6,2
900 537,3 107,7 76,5 60,8 6,8
1000 611,6 143,2 113,1 98,0 9,8
1100 698,8 217,5 210,0 206,2 18,7
* Valor extrapolado

Em todas as provas de carga realizadas neste trabalho, tanto da EH1 quanto da EH2, a ponta da estaca
começou a ser mobilizada desde os primeiros estágios de carregamento. Para a estaca EH1, analisando-se a
Tabela 3, verifica-se que a maior parte da carga aplicada no topo foi absorvida pelo atrito lateral com valor
percentual de 88% considerando a carga de ruptura definida de 700kN. Para a estaca EH2, analisando-se a
Tabela 4 verifica-se que a maior parte da carga aplicada no topo foi absorvida, também, pelo atrito lateral
com valor percentual de 90% considerando a carga de ruptura definida de 1000kN.
No ensaio lento, os valores percentuais obtidos para o atrito lateral nas duas estacas teste, 88% e 90%,
confirmam a faixa de valores (80% e 85%) obtidos por Evers et al.[8] em perfil de solos arenosos com
camadas de argila mole.

MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS ANALISADOS

Os resultados de previsão de carga de ruptura calculados com base em métodos semi-empíricos serão
apresentados e comparados com os resultados experimentais obtidos nas provas de carga realizadas com
carregamento lento. Neste trabalho, são apresentados métodos semi-empíricos desenvolvidos,
especificamente, para estacas hélice e outros que foram adaptados por seus autores e colaboradores com
parâmetros específicos para esse tipo de estaca.
Os métodos semi-empíricos desenvolvidos, especificamente, para estacas hélice são:
- Alonso [9] com base no SPT-T e adaptado ao SPT;
- Antunes e Cabral [10] com base no SPT
- Karez e Rocha [11] com base no SPT;
- Vorcaro e Velloso [12] com base no SPT;
- Gotlieb et al. [13] com base no SPT.
Dentre os métodos semi-empíricos adaptados a estacas hélice, serão apresentados para análise:
- Aoki e Velloso [14] com contribuição de Monteiro [15] com base no CPT e SPT;
- Décourt e Quaresma [16] modificado por Décourt [17] com base no SPT e adaptado ao SPT-T
- Peixoto [18] com base no SPT-T;
- Peiffer et al. [19] com base no DMT.
Para previsão dos valores de capacidade de carga pelos métodos semi-empíricos, foram adotados os
seguintes coeficientes:
- método de Alonso: rl ≤ 200kPa; α= 0,65; β=150kPa/kgf.m (areia argilosa – EH1) e
β=200kPa/kgf.m (areia – EH2) – Valores da Bacia Sedimentar de São Paulo;
- método de Antunes e Cabral: β1=5,0% (areia); β1=4,0% (areia siltosa); β1=3,5% (argila arenosa);
β1= 4,0% ( areia argilosa); β2=2,0 ( areia argilosa – EH1); β2 =2,5 (areia – EH2);
- método de Karez e Rocha: K=250 (areia argilosa – EH1); K=290 (areia – EH2);
- método de Aoki e Velloso: F1=3,0; F2=3,8 - Coeficientes propostos por Monteiro[15] e dados
do CPT-02 [2];
- método de Décourt e Quaresma: α=0,30; β=1,0; K = 260kN/m² (areia argilosa –EH1);
K = 400kN/m² ( areia – EH2);
- método de Peiffer: Dados do DMT-03 [2].

Análise da estaca EH1

Na Tabela 5, são apresentados os valores de carga de ruptura lateral, de ponta e total calculados por
meio dos métodos semi-empíricos com base na sondagem SPT-T1 [3] e os resultados experimentais obtidos
com a PC lenta para a estaca EH1. A Figura 1 mostra a variação dos valores para carga de ruptura total e a
Figura 2, cargas de ruptura lateral e de ponta.

Tabela 5 – Cargas de ruptura previstas pelos métodos semi-empíricos e obtidas na prova de carga lenta–EH1
Prevista Prova de Carga
Método Ensaio Pl Pp Prup Pl Pp Prup Prup-prev/Prup-pc
(kN) (kN) (kN) (kN) (kN) (kN)
Alonso [9] SPT-T 549 231 780 1,11
SPT 771 305 1076 1,54
Antunes e Cabral [10] SPT 907 101 1008 1,44
Karez e Rocha [11] SPT 1096 126 1222 1,75
Vorcaro eVelloso [12] SPT ---- ---- 1328* 1,90
Gotlieb et al.[13] SPT 907 392 1299 1,86
Aoki e Velloso [14] com CPT 879 108 987 1,41
contribuição Monteiro[15] 616 84 700
SPT 873 134 1007 1,44
Décourt e Quaresma [16] SPT 752 43 795 1,14
modificado por Décourt
SPT-T 527 114 641 0,92
[17]
Peixoto [18] SPT-T 500 65 565 0,81
Peiffer et al. [19] DMT 537 ---- ---- ----
* Valor médio

Analisando-se a Tabela 5 e a Figura 2 e tomando-se por base a prova de carga lenta, verifica-se que,
com exceção dos métodos de Peixoto [18] e Décourt e Quaresma [16] modificado por Décourt [17], com
base no SPT-T, os demais métodos analisados apresentaram valores de capacidade de carga total na
ruptura superiores à prova de carga. Os métodos que mais se aproximaram do resultado experimental
foram os de Décourt e Quaresma [16] modificado por Décourt [17] tanto considerando SPT quanto SPT-T e
o de Alonso [9] com base no SPT-T. Ressalta-se que o método de Alonso [9] adaptado ao SPT,
superestimou a carga de ruptura em 54%. Os métodos Karez e Rocha [11], Vorcaro e Velloso [12] e
Gotlieb et al. [13] forneceram valores da carga de ruptura muito superiores (75% a 90%) à prova de carga.
Figura 1 – Variação da carga de ruptura total prevista por vários métodos semi-empíricos x PC lenta – EH1

Figura 2 – Variação da carga lateral e carga de ponta prevista por vários métodos semi-empíricos e obtida na
prova de carga lenta – EH1

Quanto aos valores de carga lateral e de ponta (FIGURA 2), verifica-se que o método de Alonso [9]
com base no SPT-T foi o que mais se aproximou do valor de atrito lateral, porém superestimou o valor da
ponta. O método de Décourt e Quaresma [16] modificado por Décourt [17], com base no SPT, apesar de ter
fornecido um valor próximo à carga de ruptura total superestimou o atrito e subestimou a ponta. O método de
Peixoto [18] subestimou os valores de ponta e atrito lateral. Com relação à carga lateral, no geral, os métodos
com base no SPT-T, Alonso (SPT-T), Décourt e Quaresma (SPT-T) e Peixoto (SPT-T) e o método de
Peiffer et al. (DMT) apresentaram resultados de atrito lateral a favor da segurança e próximos ao obtido
experimentalmente. Os demais métodos apresentaram valores contra a segurança. O método de
Karez e Rocha (SPT) foi o que mais se afastou do valor da prova de carga, superestimando o atrito,
aproximadamente, em 80%. No geral, no que se refere à carga de ponta, os métodos Antunes e Cabral (SPT),
Aoki e Velloso (SPT e CPT) e Décourt e Quaresma (SPT-T) apresentaram resultados próximos ao obtido
experimentalmente. O método Antunes e Cabral [10], com base no SPT, foi o que apresentou melhor
resultado do valor de ponta e o método de Gotlieb et al. (SPT) superestimou essa carga em cerca de
quatro vezes e meia.

Análise da estaca EH2

Na Tabela 6, são apresentados os valores de carga de ruptura lateral, de ponta e total calculados por
meio dos métodos semi-empíricos com base na sondagem SPT-T6 [3] e os resultados experimentais obtidos
com a PC lenta para a estaca EH2. A Figura 3 mostra a variação dos valores para carga de ruptura total e a
Figura 4, cargas de ruptura lateral e de ponta.

Tabela 6 – Cargas de ruptura previstas pelos métodos semi-empíricos e obtidas na prova de carga lenta–EH2
Prevista Prova de Carga
Método Ensaio Pl Pp Prup Pl Pp Prup Prup-prev / Prup-pc
(kN) (kN) (kN) (kN) (kN) (kN)
Alonso [9] SPT-T 952 302 1254 1,25
SPT 1194 327 1521 1,52
Antunes e Cabral [10] SPT 1261 346 1607 1,61
Karez e Rocha [11] SPT 1496 401 1897 1,90
Vorcaro eVelloso [12] SPT ---- ---- 2396 * 2,40
Gotlieb et al. [13] SPT 1280 196 1476 1,48
Aoki e Velloso [14] com CPT 1050 270 1320 1,32
contribuição de Monteiro 900 100 1000
[15] SPT 1280 461 1741 1,74
Décourt e Quaresma [16] SPT 1113 181 1294 1,29
modificado por Décourt
[17] SPT-T 849 230 1079 1,08
Peixoto [18] SPT-T 870 181 1051 1,05
Peiffer et al. [19] DMT 746 ---- ---- ----
* Valor médio

Analisando-se a Tabela 6 e a Figura 3 verifica-se, de uma forma geral, que os métodos analisados
apresentaram valores superiores à capacidade de carga total na ruptura obtida na prova de carga. Os métodos
que mais se aproximaram do resultado experimental foram os métodos com base no SPT-T. Os métodos de
Décourt e Quaresma [16] modificado por Décourt [17] e Peixoto [18] apresentaram os melhores resultados.
Ressalta-se que o método de Alonso [9], adaptado ao SPT, superestimou a carga de ruptura em 52%. Os
métodos Karez e Rocha [11], Vorcaro e Velloso [12] e Aoki e Velloso [14] com contribuição de
Monteiro [15], com base no SPT, forneceram resultados superiores a 75% ao da prova de carga.
Quanto aos valores de carga lateral e de ponta (FIGURA 4), verifica-se que o método de Peixoto [18]
e Décourt e Quaresma [16] modificado por Décourt [17], com base no SPT-T, foram os que mais se
aproximaram dos valores de atrito lateral e ponta obtidos experimentalmente. Os métodos com base
no SPT de Gotlieb et al. [13] e Décourt e Quaresma [16] modificado por Décourt [17], apesar de terem
fornecido um bom valor para a carga de ponta, superestimaram o atrito. Com relação à carga lateral, no
geral, os métodos com base no SPT-T, Alonso (SPT-T), Décourt e Quaresma (SPT-T) e Peixoto (SPT-T) e o
método de Peiffer et al. (DMT) apresentaram resultados de atrito lateral próximos ao obtido
experimentalmente. Os demais métodos apresentaram valores superiores ao da prova de carga e o método de
Karez e Rocha (SPT) apresentou resultado 67% maior que o obtido na prova de carga.
Figura 3 – Variação da carga de ruptura total prevista por vários métodos semi-empíricos x PC lenta – EH2

Figura 4 – Variação da carga lateral e carga de ponta prevista por vários métodos semi-empíricos e obtida na
prova de carga lenta – EH2

No geral, no que se refere à carga de ponta, os métodos de Peixoto (SPT-T), Décourt e Quaresma
(SPT e SPT-T) e Gotlieb et al. (SPT) apresentaram resultados próximos ao obtido experimentalmente. Os
demais métodos superestimaram a carga de ponta sendo Aoki e Velloso (SPT) o que mais se afastou do valor
da prova de carga.
CONCLUSÕES

Ao se comparar os resultados de previsão de capacidade de carga obtidos por métodos semi-empíricos


com os resultados experimentais de provas de carga lenta, para estacas hélice continua com comprimentos de
8,0 e 12,0m, conclui-se:
- O método semi-empírico de Alonso [9], adaptado ao SPT, forneceu valores de carga total na
ruptura, cerca de 50% superiores aos valores experimentais.
- Para as duas estacas teste, o método Décourt e Quaresma [16] modificado por Décourt [17], com
base no SPT-T, apresentou cargas de ruptura total próximas às obtidas experimentalmente.
- Os métodos probabilísticos de Karez e Rocha [11] e Vorcaro e Velloso [12] foram os que mais se
afastaram dos resultados das provas de carga, apresentando valores de carga de ruptura superestimados em
mais de 75%.
- Os métodos de Alonso [9], Décourt e Quaresma [16] modificado por Décourt [17] e
Peixoto [18], com base no SPT-T, e o método de Peiffer et al. [19], com base nos resultados de DMT,
mostraram-se bons indicadores da parcela de carga de atrito lateral.
Considerando os resultados das duas provas de carga e examinando a carga de ruptura total, ponta e
atrito lateral, verifica-se que o método que mais se aproximou dos valores obtidos nas PC lentas, mantendo
segurança, foi o de Décourt e Quaresma [16] modificado por Décourt [17], com base no SPT-T. É
importante ressaltar, no entanto, que a quantidade de provas de carga realizadas não é, estatisticamente,
representativa, para conclusões definitivas com relação aos métodos de previsão de capacidade de carga para
estacas hélice contínua monitoradas, com de 0,40m de diâmetro e comprimentos de 8,0 e 12,0m, executadas
em solos sedimentares arenosos entremeados com camadas de argila mole de pequena espessura.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem às empresas DACAZA Engenharia, BRASCONTEC, CONCREVIT, STAN


Fundações e Construções Civis, STACA, às instituições UFES, UFV, UNICAMP, às fundações
FUNCEFETES, Fundação Ceciliano Abel de Almeida e a todas as pessoas que tornaram possível a
realização deste trabalho.
 

REFERÊNCIAS

[1] ALONSO, U. R. Reavaliação do método de capacidade de carga de estacas hélice contínua proposto por
Alonso em 96 para duas regiões geotécnicas distintas. In: SEMINÁRIO DE ENGENHARIA DE
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p. 425-429.

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Universidade Federal do Espírito Santo, Espírito Santo, 2004.

[3] ALLEDI, C.T.D.B.; POLIDO, U.; ALBUQUERQUE, P.J.R. Provas de Carga em estacas Hélice
Contínua Monitoradas em solos Sedimentares. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS
SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA, 13., 2006, Curitiba. Anais... Curitiba: ABMS, 2006. v. 2, p.
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[4]  ALBUQUERQUE, P.J.R. Estacas Escavadas, Hélice Contínua e Ômega: Estudo do Comportamento
à Compressão em Solo Residual de Diabásio, através de Provas de Cargas Instrumentadas em
Profundidade. 2001. 263 f. Tese (Doutorado em Engenharia) - Escola Politécnica, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2001.

[5] VELLOSO, D.A. Ponto de vista: a engenharia de fundação, hoje. Encarte 5, Boletim ABMS, n. 68,
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[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 12131: Estacas: prova de
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[8]    EVERS et al. Comparative performances of continuous flight auger and driven cast in place piles in
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[9] ALONSO, U. R. Estacas hélice contínua com monitoramento eletrônico: previsão da capacidade de
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