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Ensinar e aprender música:

por uma ecologia da ação


educativo-artística e musical

António Ângelo Vasconcelos


Instituto Politécnico de Setúbal
CIPEM/INET-md||CIEF-IPS
ESMAE, 26 de outubro 2017
Introdução

• História do ensino de música

- espaços de utilidade

- sentido de marginalidade

- excesso de passado e de futuro

- sentido cosmopolita e crítico


Introdução

• Múltiplas formas de colonialismos de


hierarquizações e de subserviências
Introdução

• Músicos do século XXI

- diversidade de competências e de
conhecimentos

- atividade policentrada e multi-situada


Introdução
• Questão de partida
-Considerando que ensinar e aprender música é
um acto compósito, i.e. multi-referencial e multi-
situado, por um lado, e, por outro, considerando
os desafios que se colocam ao ensino de música
em Portugal, em particular na suas dimensões
político-formativas, como pensar uma ação
educativo-artística que incremente as dinâmicas
criativas, a historicidade dos fenómenos musicais
e a formação das crianças, jovens e adultos
inscritas em contextos sociais, culturais e
económicos diferenciados?
Introdução
• Organização da intervenção
- Entre modelos centrados no professor e nos
saberes escolares e a aprendizagem pela
descoberta

- Ensinar e aprender música: um campo


compósito

- Por uma ecologia de ação educativo-artística


e musical

- Dos desafios da ecologia da ação: pensar e


agir na complexidade

- Considerações finais
Entre modelos

• As complexidades da pedagogia artística

- saberes de natureza técnica

- saberes relacionados com a


interpretação

- saberes relacionados com a criação e a


experimentação

- saberes relacionados com a


criatividade
Entre modelos

• As complexidades da pedagogia artística

- saberes relacionados com os contextos


de referência

- saberes relacionais

- saberes relacionados com a apresentação


pública do trabalho
Entre modelos

• Modalidades dominantes

- centralidade da técnica

- descontextualização dos saberes

- fragmentação dos saberes

- centralidade do professor e dos saberes


escolares
Entre modelos

• A importância de um tabalho mais


colaborativo e da aprendizagem pela
descoberta

• A profissionalidade e a formação docente

- do mestre e da transmissão ao
profissional que orienta e operacionaliza
as aprendizagens numa rede diferenciada
de interdependências
Ensinar e aprender música: um campo
compósito

- Entre subjectividades educativas e


artísticas diferenciadas

- Entre diferentes saberes, técnicas,


convenções e os indivíduos

- Entre a formação, a experimentação, a


fruição e a produção

- Entre a tradição e a inovação


Ensinar e aprender música: um campo
compósito

- Problemáticas contextuais: a escola e a


sala de aula não são os únicos espaços
onde é realizada a aprendizagem

- Problemáticas pedagógicas e
metodológicas: transpor a inadequação
entre os saberes fragmentados e
compartimentados entre disciplinas e áreas

- Problemáticas artísticas e criativas:


ativar os recursos do imaginário
Por uma ecologia de ação educativo-
artística e musical
• Cultura: para além das dicotomias e das hierarquias
“Com as discussões sobre o
conceito de cultura, o analfabeto
descobriria que tanto é cultura o
boneco de barro feito pelos
artistas, seus irmãos do povo,
como cultura também é a obra de
um grande escultor, de um grande
pintor, de um grande místico, ou de
um pensador. Cultura é a poesia
dos poetas letrados de seu país,
como também a poesia de seu
cancioneiro popular. Cultura é toda
criação humana” (Paulo Freire, 1983)
Por uma ecologia de ação educativo-
artística e musical
• Cultura: para além das dicotomias e das hierarquias
“Quem olha para a música de tradição ocidental e se
considera no topo de uma hierarquia cultural e social
está a cometer um erro porque isso era a visão do
europeu do séc. XIX, é uma forma de pensamento
eurocêntrico. Neste momento, eu não tenho nenhuma
razão para achar que a música da Europa é melhor que a
da China, da Índia e a muçulmana. São músicas
diferentes e todas têm a sua qualidade. Eu sou
ocidental, não posso renegar isso. Não vou, de repente,
passar o dia todo a ouvir música chinesa porque a
minha posição no mundo é ocidental. Mas daí não retiro
nenhuma espécie de complexo de superioridade, o que
eu retiro é apenas uma noção de pertença a uma cultura,
mas não devo desqualificar as outras.” (António Pinho Vargas,
2016)
Por uma ecologia de ação educativo-
artística e musical

• Ecologia aprendente

- diversidade epistemológica

- reconhecimento de outros modos de


ser, fazer e de saber,
Por uma ecologia de ação educativo-
artística e musical
Por uma ecologia de ação educativo-
artística e musical
Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade

• Estrutura rizomática (B. Wilson)

• Rearticular interativamente as práticas


artísticas no ensino de música

• Aventura do espírito e a liberdade


de nos movermos e de arriscarmos
(Paulo Freire)
Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade

Ecologia
de ação
Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade
• Conhecimento: compreender, intervir e
lidar com as complexidades
3. Descolonizar o pensamento e a acção
• Saberes e conhecimentos hesitantes
“Não em linha recta mas numa espécie de
linha exaltada, que se entusiasma, que vai
atrás de uma certa intensidade sentida;
avanço que já não tem um trajecto
definido mais um trajecto pressentido,
trajecto que é constantemente posto em
causa; quem avança hesita porque não
quer saber o sítio para onde vai. Se
soubesse já, para que caminharia ele?
Que pode ainda descobrir quem conhece
já o destino? Hesitar é um efeito da acção
de descobrir; só não hesita quem já
descobriu, quem já colocou um ponto final
no seu percurso de investigação”
(Gonçalo M. Tavares, 2013)
Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade
• Criatividade: potenciar os imaginários
- Encontro estratégico de um processo poliédrico
• “o potenciar o imaginário”, o motor do início de
algo

• a “exploração e experimentação”, adequação das


ideias, processos, objectos, técnicas.

• o “passar do imaginado ao fazer o imaginado”,


criando “novas coisas”

• o “passar do imaginado ao fazer o imaginado”,


confronto com o outro
Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade
• Cosmopolitismo: imaginação dialógica

- Atividade artística é plural (Nicolas-Le Strat)

- Convivialidade entre mundos diversos


(Gliroy)

- Imaginação dialógica (Ulrich Beck)


Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade
• Cosmopolitismo: imaginação dialógica
“[…] As artes alargam a
possibilidade […] de trabalhar
diferentes códigos culturais. A
escola deve trabalhar com
diversos códigos, não só com o
europeu e o norte-americano
branco, mas com o indígena, o
africano e o asiático. Ao tomar
contato com essas diferenças, o
aluno flexibiliza suas percepções
visuais e quebra preconceitos.”
(Ana Mae Barbosa,2016)
Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade
• Comunidade: localismos cosmopolitas

- Das “comunidades fortaleza” às


“comunidade amiba” (Boaventura Sousa Santos)

- Das “comunidades cívicas” e das


“comunidades de práticas artísticas”
Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade
• Comunidade: localismos cosmopolitas

- Das “comunidades cívicas”


“Cidadãos atuantes e imbuídos de espírito público, por
relações políticas igualitárias, por uma estrutura social firmada
na confiança e na colaboração”. Este autor salienta que que os
hábitos democráticos derivam de relações horizontais, espírito
de reciprocidade e de cooperação em que o “capital social”,
isto é a conexão entre indivíduos, redes sociais e as normas de
reciprocidade e lealdade que nascem deles, contribuem para
alimentar perspectivas menos individualistas de viver em
conjunto. O capital social, chama atenção para o fato de que a
virtude cívica é mais poderosa quando imersa numa rede
densa de relações sociais recíprocas. “Uma sociedade de
muitos indivíduos virtuosos, mas isolados, não é
necessariamente rica em capital social” (Robert Putnam, 2000)
Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade
• Comunidade: localismos cosmopolitas

- Das “comunidades de
práticas artísticas”
Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade
• Colegialidade: da cultura de colaboração
- Estratégias promotoras do desenvolvimento
pessoal, coletivo e organizacional

pós burocrática, “em que cada


- Perspectiva
um assume a responsabilidade pelo
sucesso do todo” (Heckscher,1994)
Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade
• Colegialidade: da cultura de colaboração
- Trabalho docente “grande parte das nossas intenções
é inconsequente se a profissão continuar marcada por
fortes tradições individualistas ou por rígidas
regulações externas. Hoje, a complexidade do trabalho
escolar exige o desenvolvimento de equipes
pedagógicas. A competência coletiva é mais do que o
somatório das competências individuais. […] A
colegialidade, a partilha e as culturas colaborativas
não se impõem por via administrativa ou decisão
superior. A formação de professores é essencial para
consolidar parcerias no interior e no exterior do
mundo profissional e para reforçar o trabalho
cooperativo” (António Nóvoa, s.d.)
Dos desafios da ecologia da ação:
pensar e agir na complexidade
• Colegialidade: da cultura de colaboração
“Precisamos de utilizar a
colegialidade não para nivelar as
pessoas por baixo, mas para unir a
força e a criatividade. Temos,
portanto, de lutar pela colegialidade,
mas não o façamos de forma
ingénua: também precisamos de
proteger e promover o indivíduo. […]
as culturas colaborativas fortes não
são possíveis sem um
desenvolvimento individual
igualmente forte.” (Fullan e Hargreaves, 2001)
Considerações finais

• Três ideias

-o que é evidente mente

- complementaridade

- do pensamento e das utopias


Considerações finais
• Escolas e educação
Considerações finais

Tornar mais sábias as


nossas incompletudes e
ignorâncias

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