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FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA EM NÍVEL DE PÓS-

GRADUAÇÃO: REFLEXÕES A PARTIR DO PNE 2014-2024

RESUMO: Objetivamos refletir sobre a formação de professores da educação básica em nível de


pós-graduação a partir da meta 16 do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024, a qual
enfatiza a formação de professores para esse nível de educação. Os dados com os níveis de pós-
graduação dos educadores foram coletados em pesquisa documental no Observatório do PNE. Os
resultados indicaram um baixo índice de formação docente na pós-graduação stricto senso, com
apenas 2,4 mestres e 0,4% de doutores (nacionalmente para redes públicas, privadas e federais).
Verificamos, portanto que para atingir a meta nacional para 2024, de 50% dos professores na pós-
graduação, a considerar a partir de 2017, os governos precisam atingir um crescimento de 1,99% ao
ano até 2024; contudo, têm crescido anualmente de 2014 a 2017 apenas 1,63%, inferior ao
crescimento anual necessário até 2024. Concluímos ser necessário que os governos evidenciem
esforços para se atingir números mais altos do que os atuais até o final de vigência do Plano, caso
pretendam cumprir tal Meta. Do contrário, docentes da Educação Básica continuarão privados dos
conhecimentos e habilidades proporcionados pelos cursos de pós-graduação, importantes para o
aperfeiçoamento de suas práticas pedagógicas e para sua valorização profissional.

Palavras-chave: Formação de Docentes da Educação Básica. Pós-Graduação. PNE 2014-2024.

BASIC EDUCATIONTEACHERS’ TRAINING IN POSTGRADUATE LEVEL:


REFLECTIONS FROM PNE 2014-2024

ABSTRACT: We aim to reflect on basic education teachers’ training at postgraduate level from the
16th goal in National Plan of Education (PNE) 2014-2024, that emphasizes teachers’ training to that
professional level. Data were collected in documentary research at the PNE Observatory (a strategy
to follow the intiatives to accomplish the Plan). Results indicated a low number of teachers Who
have the stricto senso postgraduate level, with only 2.4 masters and 0.4% of doctors (nationally for
public, private and federal networks). Thus, in order to reach the national target for 2024 (50% of
postgraduate teachers), as considered from 2017, governments must achieve a growth of 1.99% per
year until 2024; however, the rates have grown only 1.63% annually, from 2014 to 2017, in a lower
level than the annual growth required until 2024. We conclude that it is necessary for governments
to show efforts to reach higher numbers than the current ones by the end of the Plan, IF they intend
to fulfill such Goal. Otherwise, Basic Education teacher Will remain deprived of the knowledge and
skills provided by postgraduate courses, important for the improvement of their pedagogical
practices and for their professional appreciation.

Keywords: Basic EducationTeachers’ training. Postgraduate studies. PNE 2014-2024


Introdução

A educação constitui um direito humano fundamental de todos os cidadãos brasileiros. É por


meio dela que nos tornamos humanos, nos fazemos seres participantes dos frutos e da construção da
civilização, dos progressos da sociedade, resultado do trabalho dos homens. Com a educação somos
capazes de contribuir para o desenvolvimento econômico e social da nossa nação, promovendo paz,
tolerância e inclusão social. Ela é a chave para a erradicação da pobreza, pois permite que crianças e
jovens alcancem seu potencial, desde que garantidas às condições mínimas para o seu
progresso.Todavia, a educação no mundo, em especial nos países detentores de economias
emergentes, como China, Rússia, Argentina, México, Índia e Brasil, ainda caminha a passos lentos
em relação a índices satisfatórios de qualidade.
Em muitos lugares, as crianças ainda são privadas desse direito, ou o exercem com
dificuldade. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada há 70 anos, reconheceu a
educação como um direito fundamental, assim como em nosso país, em que ele é garantido
constitucionalmente, conforme artigo 205 da Constituição: “A educação, direito de todos e dever do
estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho.” (BRASIL, 1988).
Apesar de o direito constitucional existir, não temos a garantia que seja realizada uma
educação para muitos brasileiros. Desde o final do século XX e início do século XXI várias
políticas públicas foram criadas com vistas a garantir melhorias na qualidade da educação,
buscando atender tanto à educação básica, em suas várias modalidades, como à Educação Superior.
Um exemplo dessas políticas é o Plano Nacional de Educação (PNE), instituído pela primeira vez
em 2001 pela Lei nº 10.172/ 2001, o qual vigorou de 2001 a 2010, novamente reorganizado,
reformulado e atualizado para o decênio de 2014 a 2024 pela Lei nº 13.005/2014. Seu objetivo é
continuar articulando o sistema nacional de educação em regime de colaboração, definindo
diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e
desenvolvimento do ensino, em seus diversos níveis, etapas e modalidades, por meio de ações
integradas das diferentes esferas federativas.
O PNE, portanto, objetiva superar os enormes desafios da educação, os quais dificultam o
alcance de índices qualitativos satisfatórios, dentre eles a valorização e a profissionalização docente,
elementos de cunho significativo para garantia do aumento na qualidade da educação.
A formação docente adequada constitui a base para uma educação que objetiva alcançar sua
meta, ou seja, o pleno desenvolvimento do educando. Atualmente, em nosso país, ainda se admite a
formação na modalidade normal para professores da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino
Fundamental, conforme estabelece o art. 62 da Lei n.º 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior,
em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício
do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino
fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal (BRASIL, 1996).

Apesar de admitir a modalidade normal, a referida Lei também reafirma a necessidade de


formação docente superior para atuação na educação básica, ao mesmo tempo em que também
ressalta a formação continuada de educadores:

Garantir-se-á formação continuada para os profissionais a que se refere o caput, no


local de trabalho ou em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos
de educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos e
de pós-graduação (BRASIL, 1996).

A formação inicial prepara o profissional docente para seus primeiros anos de experiência,
seu contato inicial com a realidade escolar, enquanto a formação continuada proporciona a
atualização dos conhecimentos profissionais, dando o suporte necessário para a renovação dos
conteúdos e habilidades necessários para o atendimento das diferentes e imprevisíveis demandas do
contexto escolar. De acordo com o Censo Escolar de 2017, o percentual de professores do ensino
fundamental com habilitação em graduação foi de 82,1% e do ensino médio foi de 93,8% (INEP,
2018).Temos, portanto, a partir desses dados, um índice positivo em relação à formação em curso
superior.
E quanto à pós-graduação? Quais os percentuais atuais para esse nível de formação para os
professores da educação básica? O que aponta o novo PNE em relação à formação continuada em
nível de pós-graduação?O que representam o atendimento ou descumprimento dessa meta para a
Educação Básica? Diante de tais questionamentos, este trabalho tem como objetivo refletir sobre a
formação de professores da educação básica em nível de pós-graduação, a partir da meta 16 do PNE
2014-2024, a qual enfatiza a formação de professores em nível de pós-graduação.
A partir de tal proposta buscamos verificar o andamento do cumprimento dessa Meta desde
a implantação do PNE em 2014, observando dados atualizados sobre o andamento do seu
cumprimento, em pesquisa documental no Observatório do PNE, analisando os desafios a serem
superados em relação a tal Meta até final de vigência do Plano.

Valorização profissional e formação docente: perspectivas a partir do PNE 2014-2024

A docência é caracterizada por vastas responsabilidades, uma vez que o trabalho docente se
constitui numa atividade social com repercussões no conjunto de transformações da sociedade, mas
ainda com pouca valorização em seu status econômico e social.
Um dos grandes desafios da educação no Brasil é a valorização do magistério da educação
básica, tanto em termos salariais, como, sobretudo, na formação de educadores em nível de pós-
graduação stricto sensu, uma vez que mestrados e doutorados em instituições particulares
demandam investimentos financeiros altos, que muitas vezes não correspondem ao padrão
econômico da categoria profissional docente.
Gatti e Barreto (2009), ao analisarem as políticas educativas no Brasil, nos mostraram a
importância de se considerarem esforços, por parte do Estado, para melhorar as condições salariais
e de carreira dos professores, tendo em vista os inúmeros impasses e desafios a serem enfrentados,
no concernente à valorização salarial dos professores. Sobre esse aspecto pontuam que, se
comparados ao de outras profissões que exigem nível superior, não são atraentes; quanto à carreira,
afirmam que, apesar de a LDB 9.394/96 prever a valorização dos docentes da educação básica,
verifica-se a ausência de planos estruturados de modo a oferecerem horizontes promissores aos
professores, além da falta de perfil profissional claro. Para as autoras, as condições de remuneração
e carreira dos professores não correspondem à formação exigida e nem às responsabilidades sociais
implicadas em seu trabalho.
Apesar do reconhecimento difundido de que os professores são chave para atingir a
educação de qualidade para todos, a profissão docente ainda não é valorizada de forma ampla. Seu
baixo prestígio impede esforços para recrutar e manter professores, tanto nos países ricos como nos
pobres. Para resolver essa questão, os governos devem tomar medidas impetuosas para melhorar a
qualidade da formação de professores novos, bem como quem já está em atividade. Como lembra
Barretto (2015), disso depende a motivação para escolher a docência e nela permanecer: docentes
devem receber uma formação inicial de qualidade, bem como devem ter oportunidades para um
desenvolvimento profissional de alta qualidade em nível de pós-graduação, para aprimorarem suas
habilidades ao longo de suas carreiras.
Com efeito, observa ainda Barretto (2015, p.687), nem mesmo específica relação entre
formação na pós-graduação e aperfeiçoamento profissional conseguirá dar conta, isoladamente,
dessa adesão à docência na Educação Básica: “Se permanecerem contextos profissionais com
poucos estímulos [...], provavelmente nem os cursos de mestrado profissionalizante nas áreas
específicas do magistério [...] conseguirão reter os docentes por muito tempo em sala de aula”.
Logo, é preciso que os governos demonstrem à sociedade que a profissão docente é
importante, com pagamento de salários decentes, melhoria das condições de trabalho em todos os
níveis do sistema educacional, bem como oportunizando docente a seguir seus estudos também na
pós-graduação.
A Agenda 2030, com a qual a comunidade internacional se comprometeu, destaca como
meta a universalização da educação infantil, primária e secundária. Para alcançar esse objetivo, os
governos devem ampliar o acesso à educação de qualidade para todas as crianças e para todos os
jovens, acabar com a discriminação em todos os níveis do sistema educacional e melhorar de forma
substancial a qualidade da educação e os resultados da aprendizagem. Esses objetivos, por sua vez,
exigirão um aumento da oferta mundial de professores qualificados – cerca de 69 milhões a mais
(UNESCO, 2018). No Dia Mundial dos Professores de 2018, comemorado todo dia 5 de outubro, a
UNESCO escolheu como tema “O direito à educação significa o direito a um professor
qualificado”. Tal temática reflete o anseio da meta da Agenda 2030.
A fim de garantir que todas as crianças estejam preparadas para aprender e ocupar seu lugar
na sociedade, os professores devem receber formação e apoio efetivos, para qualificá-los a
responderem às necessidades de todos os estudantes, incluindo os mais marginalizados.Ter
profissionais devidamente qualificados em níveis de graduação e pós-graduação é condição mínima
para termos educação com resultados mais favoráveis.
Na busca de tais resultados, o novo Plano Nacional de Educação 2014-2024 foi aprovado
com força de lei em 2014, com novas metas e estratégias para a próxima década, visando novos
rumos para a educação brasileira. Constitui um instrumento de planejamento do Estado democrático
de direito, que deve orientar a execução e o aprimoramento de políticas públicas do setor
educacional. Esse documento contém objetivos e metas para o ensino em todos os níveis – infantil,
básico e superior. (BRASIL, 2014).
O PNE 2014-2024 traz dez diretrizes, entre elas: a erradicação do analfabetismo, a melhoria
da qualidade da educação, além da valorização dos profissionais de educação, um dos maiores
desafios das políticas educacionais, conforme já explicitado. Além dessas diretrizes, o Plano é
composto com 20 metas, cada uma contendo várias estratégias que visam alcançar as referidas
metas. Ora, a Meta 16 assume:
Formar, em nível de pós-graduação, cinquenta por cento dos professores da
educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos(as)
os(as) profissionais da educação básica formação continuada em sua área de
atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas
de ensino BRASIL,2014, p.79)

De acordo com o art. 7º dessa nova lei, a União, os estados, o Distrito Federal e os
municípios atuarão em regime de colaboração para atingir seus objetivos e implementarem as
estratégias previstas no texto. (BRASIL, 2014). Ora, tal Meta foi pensada em função de supor-se
que a elevação do número de docentes da educação básica possibilitará a presença de profissionais
com melhor aperfeiçoamento, bem como a atuação de professores pesquisadores no campo da
educação básica. Tal perfil permite aos docentes a caracterização de que Pimenta e Lima (2012)
chamaram de “professor pesquisador”, ou seja, aquele professor capaz fazer do seu trabalho uma
verdadeira epistemologia da prática, transformando seu fazer profissional em momentos de
construção de conhecimento por meio da reflexão, análise e problematização de sua prática.
Discutindo a relação entre docência e pesquisa, que incide diretamente sobre os índices de
formação de docentes da Educação Básica na pós-graduação, Corrêa e Ribeiro (2013), numa
perspectiva bourdieusiana, fazem uma incisiva crítica, que, mesmo originalmente pensada para a
docência universitária, aplica-se perfeitamente à análise aqui desenvolvida:
[...] a formação pedagógica não parece constituir-se como um objeto de interesse
para o campo científico, não se apresenta como um capital relevante aos agentes,
ou mesmo como um habitus (pois que é geradora de práticas) que se ajustaria ao
campo, permitindo aos agentes alcançarem posições importantes (p.325).

Logo, no que tange à pós-graduação de docentes da Educação Básica, os indicadores


explicam-se pela cisão e hierarquização entre ensino e pesquisa, ficando esta última, na pós-
graduação, com um lugar de prestígio que não se transmite ao ensino – inclusive, como indicou
Barretto (2015), nem para agregar valor simbólico ou financeiro (valorização salarial por meio dos
planos de carreira) à carreira docente.

MÉTODO

Este estudo de natureza qualitativa apresenta dados de pesquisa documental realizada no


Observatório do PNE.

Caracterização do observatório do PNE e coleta de dados

O Observatório do PNE foi criado em 2013e constitui uma plataforma de monitoramento do


Plano Nacional de Educação. Esse site tem como objetivo contribuir para que o Plano se mantenha
“vivo”, atualizando constantemente o andamento do cumprimento das metas e estratégias, tendo o
papel de uma agenda norteadora das políticas educacionais no País. A iniciativa conta com um site
(www.opne.org.br), que traz indicadores de monitoramento das metas e estratégias do Plano, além
de análises, um extenso acervo de estudos, pesquisas, notícias relacionadas aos temas educacionais
por ele contemplados e informações sobre políticas públicas educacionais. O objetivo é que essa
ferramenta seja instrumento de controle social - para que qualquer cidadão possa acompanhar o
cumprimento de metas estabelecidas para o PNE ao longo do decênio - e também apoiar gestores
públicos, educadores e pesquisadores. Então, dessa Plataforma foram coletados, entre os dias 12 e
13 de outubro de 2018, dados referentes à Meta 16 do PNE, objeto deste estudo, sendo interpretados
seu andamento e percentuais a serem atingidos até o fim da vigência do Plano.
Resultados e discussões
Formação docente em nível de Pós-Graduação e os desafios para PNE 2014-2024

A deficiência na formação inicial de nossos docentes é um dos grandes entraves na melhoria


da qualidade da educação. Nesse sentido, a formação continuada representa uma grande aliada, na
medida em que possibilita que o professor supra lacunas na sua formação inicial, ao mesmo tempo
em que se mantém em constante aperfeiçoamento em sua atividade profissional. Segundo Saviani
(2001), o objetivo da pós-graduação consiste, sobretudo, na formação de pesquisadores, sendo uma
importante habilidade a ser desenvolvida em muitos dos nossos docentes caso a Meta 16 seja
cumprida.
Como lembram Corrêa e Ribeiro (2015, p. 324), “a pós-graduação stricto sensu é
caracterizada pelo mestrado acadêmico e profissional e pelo doutorado acadêmico” e, nas práticas
de formação docente em vigor, “não é absurdo falar em um senso prático do jogo voltado para a
pesquisa, um habitus menos de professor do que de pesquisador”, de sorte a se explicar, então, o
cenário identificado a partir dos dados a seguir referidos.
De acordo com os dados do Conservatório do PNE, o indicador da Meta 16 do Plano
Nacional de Educação (PNE) mostra que a porcentagem de funções docentes da Educação Básica
com pós-graduação está em constante melhora, no país no período depois de 2009. Na tentativa de
avançar ainda mais, o novo PNE 2014-2024 traz em sua Meta 16 um conjunto de seis estratégias
que visa mudar a realidade nacional atual conforme dados do Conservatório do PNE atualizados
para o ano de 2017, indicados abaixo.

Gráfico 1: Formação de professores em nível de pós-graduação e meta do PNE para o decênio 2014-2024.

Fonte: http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/14-pos-graduacao
Os dados do Conservatório nos revelam que o percentual de professores da Educação Básica
com Pós-Graduação é de 36,2% em 2017, com o valor absoluto de 813.923 docentes com prós-
graduação, incluindo especialização, mestrado e doutorado, com os seguintes dados para cada um
desses níveis, conforme Gráfico 2.

Gráfico 2: Números para cada nível de pós-graduação para o ano de 2017 dos professores da educação básica
900.000
773.159
800.000
700.000
600.000
500.000
400.000
300.000
200.000
100.000 53.899
34,4 2,4 9.713 0,4
0
Especialização Mestrado Doutorado

Fonte: http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/14-pos-graduacao

Os dados do Conservatório nos indicam uma baixa procura pela pós-graduação por docentes
da Educação Básica, o que pode ser interpretado em três direções: a desvalorização socioeconômica
da carreira docente (BARRETTO, 2015) e a hierarquização interna que submete, nas universidades,
o ensino à pesquisa (CORRÊA; RIBEIRO, 2013); mas, também, a considerável improbabilidade do
cumprimento da Meta 16 do PNE, uma vez que teria que elevar-se em 13,8% o número de
professores da educação básica com pós-graduação. Considerando os dados de 2017 até o fim do
plano, temos o equivalente a sete anos de vigência: dividindo-se o percentual que falta (13,8%) pelo
total de anos até o final do Plano, teremos uma média anual de 1,97% até 2024. Ao observarmos o
crescimento anual a partir da implementação do PNE em 2014, verificamos que o índice para esse
ano foi de 31,3%, chegando em 2017 com 36,2%, um crescimento em 4,9 pontos, com média de
crescimento anual de 1,63%, inferior ao crescimento anual necessário até 2024.
Percebemos que os números diminuem conforme aumenta o nível de pós-graduação, sendo
o maior desafio estando na elevação do número de professores doutores, que atualmente atinge,
menos de 1% do total de professores da educação básica, (0,4%). Os níveis de mestrado também
ainda representam um percentual mínimo, apenas 2,4% dos professores, o que enfatiza também a
necessidade de mais investimentos para esse nível com vistas a melhores resultados. Os mestrados
profissionais têm sido uma alternativa Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) para elevar o número de mestres, principalmente na educação. Assim, Silva Neto
(2017) enfatiza que a partir de 2011, a Capes aprovou a implantação de 4 (quatro) mestrados
profissionais para professores da educação básica, em parceria com universidades públicas no
âmbito do Sistema UAB. Há também outros 3 (três) mestrados, os quais foram lançados em 2014,
nas áreas de Artes, História e Administração Pública, mas, como já mencionamos através de
Barretto (2015), nem isso parece ser suficiente para garantir a consecução da Meta 16 do PNE.
A significativa diferença entre os índices e os níveis da pós-graduação explica-se também
pela viabilidade do acesso e conclusão das especializações (que, além de serem mais curtas, muitas
delas podem ser feitas em fins de semana, distintamente de mestrados e doutorados). Docentes da
Educação Básica, desse modo, seja por desejarem manter-se nesse nível de trabalho docente, seja
por encontrarem dificuldades para chegar aos cursos stricto sensu (com seleções mais rígidas,
menos vagas, maior controle da qualidade dos cursos), não ultrapassam esse nível inicial de pós-
graduação.
A Especialização, embora apresente um percentual mais expressivo em relação à formação
de mestrado e doutorado, também ainda precisa elevar seu índice para atingir a meta do PNE, uma
vez que representa o percentual de 34,4% de docentes. As especializações são cada vez mais raras
nas instituições públicas, e o aumento desse índice em relação aos demais níveis de pós-graduação
(mestrado e doutorado) pode ocorrer, não pela demanda pública, mas investimento financeiros dos
próprios docentes, uma vez que, várias instituições particulares oferecem pós-graduação com
valores acessíveis e há algum aumento salarial com essa titulação.
Uma forma para aperfeiçoar a meta em busca de melhores resultados talvez esteja em seu
melhor detalhamento, ou mesmo em acrescentar-se, em suas estratégias, objetivos descritos
numericamente para cada nível de pós-graduação, uma vez que tal estratégia pode melhor o
direcionamento no cumprimento da meta, conforme feito em na Meta 14 quando se refere ao
aumento de doutores e mestres para todas as áreas de conhecimento: “elevar gradualmente o
número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de
sessenta mil mestres e vinte e cinco mil doutores” (BRASIL, 2014, p.76). Cabe ao poder público,
portanto investir em pós-graduações com ofertas gratuitas para os docentes, oferecendo não apenas
a oportunidade de novas aprendizagem, mas também valorização profissional.

Considerações finais
Refletimos sobre a formação de professores da educação básica em nível de pós-graduação a
partir da meta 16 do PNE 2014-2024, a qual enfatizou a formação de professores em nível de pós-
graduação. Observarmos a partir de dados coletados em pesquisa documental no Observatório do
PNE, dados gerais dos índices de pós-graduação dos professores do Brasil e verificamos que, a
partir do quadro atual de 2017, o país precisará avançar 1,99% ao ano para atingir seu objetivo.
Contudo, seu crescimento anual médio desde a implantação do Plano em 2014 tem sido inferior
àquele percentual, o que evidencia a necessidade avançar nas políticas de pós-graduação para
professores, do contrário, provavelmente essa meta não será cumprida.
Observamos ser preciso melhor detalhamento da meta, principalmente, destacando metas
numéricas para cada nível de pós-graduação, uma vez que tal estratégia pode melhor direcionar o
cumprimento da meta.
A elevação dos níveis de pós-graduação stricto senso é fundamental, sobretudo para essa
valorização salarial dos professores, uma vez que cada estado município possui seus planos de
carreira, que dentre suas estratégias está progressão salarial a partir dos níveis de estudo dos
docentes. Aumentar esses níveis constitui, portanto, um passo importante não apenas para a
atualização dos conhecimentos e habilidades docentes, mas também para a valorização social e
econômica da categoria, colaborando para a autoestima docente e seu reconhecimento na sociedade.
Por fim, concluímos que o Plano Nacional de Educação avançou por vislumbrar novos
horizontes para a formação de professores, em especial na pós-graduação. Todavia, ainda precisa
focar mais impetuosamente em suas metas e estratégias, para melhor atingir seu cumprimento, em
especial a Meta 16, aqui analisada, a qual precisa acelerar seu ritmo anual para seu efetivo
cumprimento em 2024, ano final de vigência do Plano. Acima de tudo, porém, cumpre reconhecer
que a cultura de inferiorização da docência ajuda a entender esse distanciamento entre Educação
Básica e Pós-Graduação na formação de docentes.
Referências
BARRETO, Elba S. S. Políticas de formação docente para a educação básica no Brasil: embates
contemporâneos. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, v. 20, n. 62, p. 679-701, set. 2015.

BRASIL. Lei Nº. 10.172, de 09 de Janeiro de 2002. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá
outras providências. Jan.2001.
BRASIL. Lei Nº 13.005, de 25 de Junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras
providências. Jun.2014.
CORREA, Guilherme T.; RIBEIRO, Victoria M. B. A formação pedagógica no ensino superior e o
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SAVIANI, Dermeval. A pós-graduação em educação no Brasil: pensando o problema da orientação.
São Paulo: Unicamp, 2001. Disponível em https://www.fe.unicamp.br/dermeval/texto2001-3.html
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GATTI, Bernadete A.;BARRETO, Ela Siqueira de Sá. Professores do Brasil: impasses e desafios.
Brasília: UNESCO, 2009.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria do Socorro Lucena. Estágio e Docência. 7ª ed. São
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UNESCO. Mensagem conjunta para o Dia Mundial dos Professores. Out.2018 Disponível em
<http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-
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