Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Autoria Dto Penal Brasileiro Michele Alves Correa Rodrigues PDF
Autoria Dto Penal Brasileiro Michele Alves Correa Rodrigues PDF
CHAPECÓ, SC
2009
MICHELE ALVES CORREA RODRIGUES
CHAPECÓ, SC
2009
AGRADECIMENTOS
RODRIGUES, Michele Alves Correa. A autoria no direito penal brasileiro e a teoria do domínio
do fato. 2009. Trabalho de conclusão do Curso de Pós-Graduação (Lato Sensu) em Nível de
Especialização em Direito (público e privado): material e processual. Faculdade Exponencial – FIE,
Chapecó, 2009. Orientação: Professora Daniela de Ávila Zawadzki.
(INTRODUÇÃO) A teoria adotada pelo Código Penal brasileiro no tocante ao conceito de autoria
dentro do concurso de pessoas foi a teoria monista ou unitária. Não havendo uma definição dos
conceitos por parte do legislador, coube a doutrina essa tarefa. Mesmo aderindo à teoria unitária, o
legislador inseriu uma linha restritiva, fazendo uma referência à culpabilidade. Desse modo, a
conduta do agente na ação delituosa será analisada de acordo com o grau de reprovação para que
não ocorram excessos ou injustiças. O fato de a lei penal brasileira ter adotado a teoria unitária de
autor, como regra, não significa que inibiu a introdução de outros critérios de distinção entre autor
e partícipe, transformando o modelo monístico da teoria unitária em um modelo diferenciador,
admitindo o emprego de outras teorias mais recentes, como a teoria do domínio do fato, cujos
postulados são inteiramente compatíveis com a disciplina legal de autoria e participação no Código
Penal. A teoria do domínio do fato configura uma terceira via, ou seja, uma síntese entre a teoria
objetiva e a teoria subjetiva de autor. Referida teoria define o autor como sendo aquele que possui
o domínio do fato, tendo o poder de controlar a ação delituosa e de cessá-la, se for o caso. Cabe
ressaltar que não se trata de autoria mediata, embora haja muita semelhança entre ambas e
algumas doutrinas a mencionarem como complementação daquela. Na teoria do domínio do fato
os executores têm ciência da ilicitude de suas condutas e a realizam sob o comando ou chefia de
uma pessoa, o dominador. Diferentemente na autoria mediata em que o executor não possui
discernimento ou conhecimento da ilicitude da conduta, servindo apenas como mero instrumento
do homem de trás (do autor mediato). (OBJETIVOS) Demonstrar que apesar das críticas
existentes acerca desta teoria, seu reconhecimento no direito penal moderno é fundamental,
considerando que, atualmente, os crimes que mais incidem na orla criminal são aqueles cometidos
por várias pessoas, entre as quais, uma que domina toda a ação criminosa do grupo.
(METODOLOGIA) A técnica utilizada foi a pesquisa bibliográfica, consistindo na análise de
legislação, doutrina, jurisprudência, artigos científicos e sítios eletrônicos, utilizando-se no método
indutivo para formalizar o trabalho. (RESULTADO) O estudo proporcionou o aprendizado e
formação de conhecimento acerca da autoria no direito penal, principalmente da aplicação da
teoria do domínio do fato, a qual é aceita pela grande parte da doutrina brasileira, tendo aplicação,
inclusive, nos tribunais. (CONCLUSÃO) O cenário atual da criminalidade está mudando. Os crimes
contra a administração pública, o tráfico ilícito de entorpecentes, o tráfico de armas, de pessoas, a
pedofilia, o crime organizado e a lavagem de dinheiro, por exemplo, estão sendo praticados por
grupos ou bando organizados, e hoje são considerados a grande mazela da criminalidade pelos
efeitos que geram à população. A razão da opção pela empresa criminosa está relacionada a
vários motivos, dentre os quais podemos destacar a impunidade, a facilidade e acesso a
informações privilegiadas, o poder e o enriquecimento fácil e rápido. O mentor ou detentor do
domínio, é quem escolhe as vítimas, planeja as ações do grupo, financia e determina ordens a
serem executadas pelos subordinados. Diante disso, verificou-se que a doutrina e a jurisprudência
estão aceitando e aplicando a teoria do domínio do fato para considerar autor do delito aquele que
possui o controle e domínio da ação criminosa, embora não tenha executado materialmente
nenhuma conduta típica.
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 08
CAPÍTULO I
1 CONCURSO DE PESSOAS............................................................................... 10
1.1 Teorias sobre o concurso de pessoas............................................................. 11
1.1.1 Teoria monista ............................................................................................. 11
1.1.2 Teoria dualista (ou dualística)...................................................................... 13
1.1.3 Teoria pluralista............................................................................................ 14
1.2 Requisitos do concurso de pessoas............................................................... 15
1.2.1 Causalidade física e psíquica....................................................................... 15
1.2.2 Pluralidade de participantes e de condutas.................................................. 17
1.2.2 Relevância causal de cada conduta............................................................. 17
1.2.4 Liame subjetivo entre os agentes................................................................. 18
1.2.5 Identidade de delito.......................................................................................19
1.3 Autoria.............................................................................................................. 19
1.3.1 Teorias......................................................................................................... 20
1.3.1.1 Teoria unitária de autor ou do autor único................................................. 20
1.3.1.2 Teoria extensiva de autor ou conceito extensivo de autor........................ 21
1.3.1.3 Teoria restritiva de autor ou conceito restritivo de autor............................ 21
1.3.1.3.1 Teoria objetivo-formal............................................................................. 22
1.3.1.3.2 Teoria objetivo-material.......................................................................... 22
1.3.1.4 Teoria do domínio do fato.......................................................................... 23
1.3.2 Autoria mediata............................................................................................. 23
1.3.3 Autoria colateral, incerta e desconhecida..................................................... 24
1.4 Co-autoria........................................................................................................ 25
1.5 Participação..................................................................................................... 26
1.5.1 Teoria da participação na culpabilidade....................................................... 27
1.5.2 Teoria do favorecimento ou da causação.................................................... 28
1.5.3 Princípio da acessoriedade na participação................................................. 28
1.5.3.1 Teoria da acessoriedade mínima............................................................... 29
1.5.3.2 Teoria da acessoriedade limitada.............................................................. 29
1.5.3.3 Teoria da acessoriedade extrema............................................................. 30
1.5.3.4 Teoria da hiperacessoriedade................................................................... 30
1.5.4 Formas de participação................................................................................ 31
1.5.4.1 Participação em cadeia.............................................................................. 31
1.5.4.2 Participação sucessiva.............................................................................. 31
1.5.5 Participação impunível.................................................................................. 32
1.5.6 Participação de menor importância.............................................................. 33
1.5.7 Cooperação dolosa distinta.......................................................................... 33
1.6 Concurso de pessoas nos crimes culposos.....................................................35
1.7 Concurso de pessoas em crimes omissivos.................................................... 36
1.8 Multidão delinqüente........................................................................................ 37
1.9 Circunstâncias incomunicáveis........................................................................ 38
CAPÍTULO II
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 61
INTRODUÇÃO
1 CONCURSO DE PESSOAS
[...] teoria monista ou unitária foi a adotada pelo Código Penal de 1940 e
segundo ela, não haveria qualquer distinção entre autor, partícipe,
instigação e cumplicidade. Assim, todo aquele que concorresse para a
prática do crime responderia por ele integralmente. Com a reforma penal
de 1984, ela permaneceu acolhida pelo sistema brasileiro, entretanto,
estabeleceram-se diferentes níveis de participação, de modo que todos
os agentes responderiam pelo mesmo crime, mas na medida individual
da sua culpabilidade, conforme prescreve o artigo 29, caput do Código
Penal.
1
Art. 235. Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena: reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis)
anos. § 1.º Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo
essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
1.2 Requisitos do concurso de pessoas
Seja por tais motivos ou para satisfazer outros interesses pessoais dos
criminosos, o fato é que a co-delinqüência está presente e os seus problemas tem
sido objeto de estudo, no sentido de dotar os intérpretes e operadores do Direito,
de mecanismos seguros com os quais possam contar para uma aplicação justa e
eficaz da pena ao caso concreto.
Embora algumas doutrinas não tragam este item como requisito para o
concurso de pessoas, neste trabalho será inserido como tal, pois entendo que se
não ocorrer o vínculo objetivo (contribuição causal) ou subjetivo (consciência da
participação) o concurso de pessoas não estará caracterizado.
2
Art. 248. Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada
pena de reclusão [...]. Art. 249. Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação,
auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime [...].
1.2.5 Identidade de delito
1.3 Autoria
Estabelece que autor não será aquele que realizar o verbo do tipo
penal, mas aquele que contribuir objetivamente para o resultado. A pergunta que
se faz é o que pode ser considerado “contribuição objetiva mais importante”.
Essa teoria, a exemplo da objetivo-formal, também não levou em
consideração os elementos subjetivos, naufragando-se pouco tempo depois, em
função das dificuldades práticas de distinguir causas e condições e, causas mais
ou menos importante.
Segundo Bitencourt (2002, p. 378), apesar de distinguir autoria de
participação, a teoria restritiva, mesmo complementada com a teoria objetiva da
participação, não contempla a figura do autor mediato e, eventualmente, casos de
co-autoria em que não haja uma contribuição importante.
Por outro lado, se no mesmo exemplo não for possível precisar quem foi
o autor do disparo que matou a vítima, estar-se-á diante de um caso de autoria
incerta, que não se confunde com autoria desconhecida, porque nesta não se
sabe quem praticou a ação enquanto que, naquela, sabe-se quem praticou a
ação, mas, não se sabe quem produziu o resultado, levando os dois, em face do
princípio “in dúbio pro reo” a condenação pelo crime tentado.
1.4 Co-autoria
1.5 Da participação
O partícipe, para esta teoria, deverá ser punido quando atuar sobre o
autor, seja na forma de instigação, induzindo, corrompendo ou contribuindo para
que ele se torne um agente culpável e merecedor de pena.
Para alguns doutrinadores, essa teoria não deve ser acolhida, pela
razão da culpabilidade ser pessoal de cada participante, não dependente da
culpabilidade dos demais.
A causa determinante para o afastamento desta teoria está no fato de
que, com a consagração da acessoriedade limitada, a conduta do partícipe se
aperfeiçoa com a tipicidade e a antijuridicidade da conduta, sendo desnecessário
o exame da influência da participação na culpabilidade do autor.
3
Art. 31. O ajuste, a determinação ou a instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em
contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.
quando, presente o induzimento (determinação) ou instigação do executor, sucede
outra determinação ou instigação. Exemplo: “A” instiga “B” a matar “C”. Após essa
participação, o agente “D”, desconhecendo a precedente participação de “A”,
instiga “B” a matar “C”. Se a instigação do sujeito “D” foi eficiente em face do nexo
de causalidade, é considerado partícipe do homicídio. Logo, a ação do partícipe
só terá relevância jurídica se o fato principal ocorrer ou permanecer na tentativa.
Cabe salientar que a instigação sucessiva (aquela que foi realizada
após o agente ter sido determinado ou estimulado a praticar a infração penal)
deve ter sido capaz de exercer alguma influência em seu ânimo, pois, caso
contrário, isto é, se este já estava completamente determinado a cometer uma
infração penal, e se a instigação sucessiva em nada o estimulou, não terá ele a
relevância necessária a fim de ensejar uma punição do partícipe.
Podemos comparar a participação sucessiva com a autoria colateral,
pois neste caso um partícipe instiga o autor ao cometimento de determinado delito
e, o outro partícipe, sem saber da atuação do primeiro, também instiga o mesmo
autor ao cometimento do mesmo crime.
Para Capez (2007, 337), autor é aquele que detém o controle final do
fato, tendo sob seu domínio toda a ação delituosa, ou seja, com o poder de decidir
pela prática, interrupção e forma de execução do ilícito penal.
Essa teoria exige, entretanto, que nos caso de autoria mediata o agente,
obrigatoriamente, deve reunir todos os elementos que o tipo exige em relação ao
autor, assim fica resguardado a impossibilidade de pessoas sem características
para tal se tornar autora de crimes próprios e, até mesmo, de mãos próprias como
ocorre no caso da teoria unitária de autor.
A teoria do domínio do fato tem sua aplicação restrita aos crimes
dolosos em face do conceito restritivo de autor que adotou. Ademais, não se pode
olvidar que, somente nos crimes dolosos se pode falar em domínio final do fato,
até porque, a principal característica dos crimes culposos é exatamente a perda
desse domínio.
Atualmente é objeto de preocupação tanto da dogmática penal, quanto
das políticas criminais, a penalização do mentor ou chefe da quadrilha ou crime
organizado. A associação para o crime sempre existiu. No entanto, esse
fenômeno da criminalidade organizada alcançou proporções nunca antes
atingidas. Se antes a co-delinqüência organizada operava nos limites de um único
Estado, hoje existem diversas atividades criminosas ordenadas com ramificações
internacionais, como, por exemplo, o tráfico ilícito de entorpecentes, pedofilia e o
comércio clandestino de pessoas e animais silvestres.
A criminalidade está cada vez mais organizada, estando à margem do
Estado formando um ‘poder paralelo’. Nessa margem ou marginalidade o poder
está dividido entre os chefes do tráfico e as milícias, os quais comandam as
favelas da forma como acham convenientes, meio em que o Estado não se faz
presente, reinando as normas impostas por eles. Essa co-delinquência organizada
está voltando-se aos aparatos tecnológicos e prática de atividades voltadas para o
mercado internacional, pois a vantagem e a impunidade ainda são maiores.
É necessário que os operadores do direito se atentem as mudanças de
paradigma criminal, pois a marginalidade está se especializando, ultrapassando
fronteiras e desafiando o jus puniendi do Estado. Cabendo, portanto, uma
aplicação mais rigorosa das modalidades de autoria, para que os verdadeiros
autores sejam penalizados da forma merecida.
Observa-se que essa teoria surgiu não para ocupar o lugar da teoria
restritiva, mas sim para completá-la, fazendo com que juntas possam resolver
todos os problemas com relação à autoria e à participação.
Por isso, como escreve Damásio (1988, p. 355), "sob rigor científico, é
mais um requisito da autoria que uma teoria do concurso de pessoas".
BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal. Parte geral. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2001.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. Parte Geral. 13. ed. São
Paulo: Saraiva, 2008. Vol. I.
BRASIL. Lei nº. 9.034/98, de 03 de maio de 1995. Dispõe sobre a utilização dos
meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por
organizações criminosas. Brasília, 03 mai 1995. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9034.htm. Acesso em 08 jun. 2009.
BRUNO, Aníbal. Direito penal. Parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 1967. Vol. II.
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. São Paulo: Saraiva, 2007. Vol. I.
DELMANTO, Celso. Código penal comentado. 6. ed. São Paulo: Renovar, 2002.
DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal. Parte geral. Rio de Janeiro: Forense,
2001.
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal. Parte geral. 15. ed. rev. e
atual. por Fernando Fragoso. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
FRANCO, Alberto Silva. Crimes comissivos por omissão. In: FRANCO, Alberto
Silva. Temas de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 1986.
GRECCO, Rogério. Curso de direito penal. 8. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007.
GOMES, Luiz Flávio, Curso de direito penal. Parte Geral. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2007. Vol. II.
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal. Parte geral. 15. ed. rev. e ampl.
São Paulo: Saraiva, 1991.
LOPES, Jair Leonardo. Curso de direito penal. Parte Geral. 3. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1999.
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Direito penal. Parte Geral. 3. ed. rev.
atual. e ampl. Bauru: Edipro, 2002.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal. Parte Geral. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 1986. Vol. I.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal. 15. ed. São Paulo: Atlas,
1999.
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. Parte geral. 3. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
ROXIN, Claus. Autoría y dominio de hecho en derecho penal. Tradução de
Joaquín Cuello Contreras e José Luis Serrano Gonzáles de Murillo. Madri: Marcial
Pons, 2000.
SANTOS, Juarez Cirino dos. A moderna teoria do fato punível. 3. ed. Curitiba:
Fórum, 2004.