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MATEMÁTICA
APLICADA
AO ENSINO
1ª Edição - 2007
SOMESB
Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.
Gervásio Meneses de Oliveira
Presidente
William Oliveira
Vice-Presidente
Samuel Soares
Superintendente Administrativo e Financeiro
Germano Tabacof
Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão
Pedro Daltro Gusmão da Silva
Superintendente de Desenvolvimento e Planejamento Acadêmico
FTC - EaD
Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância
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Diretor Geral
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Diretor Acadêmico
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Diretor de Desenvolvimento e Inovações
Mário Fraga
Diretor Comercial
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Diretor de Tecnologia
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Diretor Administrativo e Financeiro
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Gerente Acadêmico
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Gerente de Ensino
Luis Carlos Nogueira Abbehusen
Gerente de Suporte Tecnológico
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Coord. de Softwares e Sistemas
Osmane Chaves
Coord. de Telecomunicações e Hardware
João Jacomel
Coord. de Produção de Material Didático
MATERIAL DIDÁTICO
Produção Acadêmica Produção Técnica
Jane Freire João Jacomel
Gerente de Ensino Coordenação
Equipe
Angélica de Fátima Jorge, Alexandre Ribeiro, Bruno Benn, Cefas Gomes, Cláuder Frederico, Danilo
Barros, Fábio Gonçalves, Francisco França Júnior, Herminio Filho, Israel Dantas,
Lucas do Vale, Marcio Serafim, Mariucha Ponte, Tatiana Coutinho e Ruberval da Fonseca
Imagens
Corbis/Image100/Imagemsource
GLOSSÁRIO _____________________________________________________________ 52
Prezado(a) licenciando(a),
APLICAÇÕES DA MATEMÁTICA
Introdução
Quando se fala em Modelagem, é possível que grande parte das pessoas associem com modelar
como sendo a arte de uma artista que esculpe um objeto. O escultor cria um molde de um elemento de
modo concreto, como uma pessoa. Chamamos essa obra de arte de modelo. Como veremos posterior-
mente, a Matemática também representa o mundo onde vivemos, ou seja, assim como usamos uma lin-
guagem materna para nos comunicar, para representar, também usamos linguagem matemática. E é assim
que surge a Modelagem Matemática.
Destaco como a professora Maria Salett Biembengut (1990) define a Matemática Aplicada e sua
relação com a Modelagem Matemática:
Você Sabia?
“A Matemática Aplicada estuda os modelos matemáticos ou, precisamente, a formulação de
modelos, o estudo dos problemas de caracteres estritamente matemáticos a eles associados, as in-
terpretações dos resultados obtidos através do problema ‘real’ a que se refere o modelo e, enfim, a
validação do próprio modelo. Assim, o caráter da Matemática Aplicada equivale ao da modelagem
matemática enquanto atitude de se analisar algo, utilizando como ferramenta conceitos e técnicas
matemáticas.” (BIEMBENGUT, 1990, p. 8).
Fernanda Tavares (1998), citando Lesh, atribui aos problemas do cotidiano ou de outras disciplinas,
as seguintes características:
Atenção
- não emergem de investigações facilmente identificáveis;
- a questão a ser investigada emerge de uma série de dados coletados, os quais possuem um
leque de informações;
- a seleção de informações, que são necessárias daquelas que são acessórias, é difícil. Aliando-
se a isto, é, muitas vezes, necessário recolher informações que não estão disponíveis de imediato.
Outro exemplo, seria dar um tratamento mais formal para termos como:
Para dar formalidade a estes termos, pensando na disciplina que identificamos como sendo a Análi-
se (Matemática), Karl Weierstrass trouxe, segundo Boyer (1993), a elegância e a precisão, através da defini-
ção de limite via “épsilon-delta” (ε e δ). Além disso, a idéia de aproximação foi substituída pela linguagem
numérica, ou seja, usando aspectos algébricos, como módulo, função e um número genéricos.
Relembrando
Diz-se que L é o limite da função f(x) para o valor x=a se, dado qualquer número positivo ε,
existe um número positivo δ tal que
Saiba Mais
“[...] o que realmente aconteceu, começando na primeira metade do século XIX, e se con-
solidando na segunda metade desse século e na primeira do século XX, foi um processo de pro-
fissionalização do matemático, um processo que culminou que estabelecer que o que define a
Matemática do matemático são certos modos – tomados então como legítimos – e de produção de
significados para a Matemática, um conjunto de enunciados.” (LINS, 2004, p. 99).
Por outro lado, o desenvolvimento científico e, mais recentemente o tecnológico, mantiveram sua
importância nas sociedades. Ou seja, a denominada “Matemática Utilitária” continuou presente, mesmo
com o estabelecimento da Matemática Formal. Isto diferencia, mas não de modo tão claro como pode
parecer sugerir, o matemático puro do matemático aplicado.
A Matemática Aplicada
O professor Rodney Bassanezi (2002), autor de livros e pesquisador sobre Modelagem Matemática,
destaca que a diferença consiste na atitude de pensar e fazer matemática.
Este autor destaca que o matemático aplicado tem por objetivo estudar um problema e construir
um modelo matemático dentro de uma teoria matemática já desenvolvida para a obtenção de resultados,
ou seja, resolver um problema de outras áreas do conhecimento, a partir das ferramentas matemáticas já
desenvolvidas, a menos que não exista a teoria matemática para tal desenvolvimento. Assim se configura
o que se denomina como Modelagem Matemática na perspectiva da Matemática Aplicada.
Atenção
Cabe a ressalva do que está se denominando modelo matemático: “[...] um conjunto de sím-
bolos e relações matemáticas que representam de alguma forma o objeto estudado” (BASSANEZI,
2002, p. 20).
Portanto, a Matemática Aplicada é, na sua origem, interdisciplinar, pois possui conhecimentos que
nós podemos identificar como sendo de pelo menos duas áreas distintas. Devido a isto, algumas novas
áreas de pesquisa surgiram, como a Biomatemática e a Econometria. Este aspecto é sugerido pelo esque-
ma de Modelagem Matemática, apresentado por Berry e Houston, citado por Jonei Barbosa (2001). O
modelo sugere que o processo começa e termina no mundo real.
Esquema de Modelagem Matemática – as setas contínuas indicam a primeira aproximação. A busca de um modelo matemático
que melhor descreva o problema estudado torna o processo dinâmico, indicado pelas setas pontilhadas.
Há outros autores em Modelagem Matemática que propõem outros tipos de esquemas. Edwards e
Hamson (1990) propõem o seguinte:
Saiba Mais
Quer saber mais? Então, investiguem o site:
http://www.ime.unicamp.br/dma_grupos_de_pesquisa.html - trata dos grupos de pesquisa
em Matemática Aplicada da Unicamp.
Na seqüência, vamos ver um pouco mais de história da humanidade, a qual é permeada pelos mo-
delos matemáticos. Com isso, analisaremos o papel da Matemática na sociedade.
Saiba Mais
- Conforme Boyer, as tábuas que possuíam escrita cuneiforme dos caldeus e os papirus hie-
roglífos dos egípcios são os registros mais antigos que se têm dos conhecimentos científicos.
- Segundo Biembengut (1990): É antiga a noção de saber quando o sol estava visível ao povo
egípcio, com a duração de 365 e ¼ dias para um ano solar.
- Regras para nova medição de terra surgiram da necessidade após a inundação em determi-
nado período do Rio Nilo, segundo Biembengut (1990).
Apresentamos, abaixo, como ilustração, parte do prefácio Princípios Matemáticos da Filosofia Na-
tural (1686), (nome original: Philosophiae naturalis principia mathematica) ou Principia, como é conheci-
do, de Isaac Newton (1642-1727).
Atenção
“... consiste em pesquisa:
(1) as forças da natureza a partir dos fenômenos de movimento, depois, a partir destas for-
ças, em demonstrar o resto dos fenômenos. Partindo destas forças, por proporções matemáticas,
deduzem-se;
(2) os movimentos dos planetas, dos cometas, da lua e do mar. Praza aos céus que os outros
fenômenos da natureza possam ser derivados de princípios mecânicos por um raciocínio análogo;
(3) Pois eu tenho algumas razões de supor que todos poderiam bem depender de certas
forças pelas quais as partículas dos corpos, segundo causas ainda desconhecidas, ou se atraem
mutuamente e se agrupam em figuras regulares ou, ao contrário, se repelem e se separam uma da
outra e;
(4) É a ignorância destas forças que faz com que até o presente, os filósofos tenham interro-
gado em vão a natureza...” (BIEMBENGUT, 1990, p. 15-16, citando GRANGER).
Atenção
No ano de 2003, o governo federal propõe um aumento de R$ 11,00 para o salário mínimo.
Segundo Barbosa, o ministro utiliza argumentos utilizando aspectos econômicos para justificá-los,
como as metas de inflação e o índice de crescimento econômico. Assim, elementos de natureza
matemática sustentam as afirmações do ministro.
O governo busca vários argumentos técnicos, fundamentados em modelos matemáticos, para jus-
tificar o valor do aumento. É bom lembrar que o governo usa argumentos do tipo: “se aumentarmos um
real a mais do que este valor (proposto para ser o novo valor do salário mínimo), teremos um aumento
de x milhões de reais de despesas para os cofres públicos. Como não temos recursos para isto, acaba por
inviabilizar o aumento maior do que o previsto.” Com isso, a grande maioria das pessoas fica excluída das
discussões sobre esta e outras questões, uma vez que não conseguem ter um olhar crítico necessário para
intervir numa questão que pode fazer ou que faz parte do seu contexto.
Deste modo, os números formam a base da discussão, geralmente se omite os aspectos políticos
envolvidos, como nesta questão apresentada. Novamente temos a áurea de objetividade que a Matemática
impõe como poder para a tomada de decisões.
Estes argumentos tratam da questão da universalidade das Ciências Exatas, que não pode ser con-
fundida com neutralidade. Este aspecto importante é destacado pelo professor Nilson J. Machado (2001),
o qual destaca que o Princípio de Arquimedes pode ser estudado como válido em diferentes cidades,
como Tóquio ou Salvador. Por outro lado, não se deve considerar que, para questões práticas, ele deve
ser utilizado, sem as adaptações necessárias para os contextos citados, apenas baseados no fato de que a
Ciência se desenvolveria se isto ocorresse.
Há uma concepção da Matemática que a coloca como uma área que se desenvolve sem diferentes
questões externas. Os Pitagóricos defendem o fato de que “os números governam o mundo”, ou que
podemos dizer atualmente que há uma certa função exponencial.
Estes argumentos reforçam o que os autores Borba e Skovsmose (2001) denominam de ide-
ologia da certeza, pois reforçam o fato de que argumentos são validados por argumentos mate-
máticos, os quais possuem uma interpretação dada pela grande maioria das pessoas como sendo
argumentos incontestáveis! É verdade que a Matemática Formal Acadêmica é “exata”, quando digo
dois mais dois é igual a quatro é valida nesta Matemática, mas é possível que em outra, em outro
contexto, não seja.
Se considerarmos que estamos tratando de contexto não-acadêmico, outros aspectos devem ser
considerados. Será que contra números não há argumentos? Você já deve ter visto aspectos como:
Veja que devem ter tido algum aspecto de uma área da realidade que identificamos, que não a
Matemática, que se alia às estatísticas, e que deve ter influenciado mais para que justificasse a demissão
do técnico, por exemplo, uma convivência não harmônica entre o técnico e a torcida do time ou entre o
técnico e os jogadores de clube.
Estas questões serão retomadas posteriormente, no Bloco 2, quando tratarmos da Modelagem Ma-
temática na perspectiva da Educação Matemática. Por ora, vamos analisar alguns modelos matemáticos
na Matemática Aplicada.
Um pouco de História sobre a semelhança de triângulos
Os gregos são conhecidos por medir objetos de altura inalcançável a partir da sua sombra. Tales
de Mileto, como relatei acima, utilizando a semelhança de triângulos comprova, matematicamente, que é
possível isto, em aproximadamente 600 a.C.
Ele calculou uma pirâmide de base quadrada
Para saber mais informações e ver problemas semelhantes que podem ser realizados atualmente, de
medição de objetos que a altura está inalcançável ou que é difícil de ser medida, visite os sites:
http://www.prof2000.pt/users/kika/pag3.html
http://www.matematica.br/historia/calpiramide.html
E saiba um pouco mais sobre Tales de Mileto no site:
http://www.matematica.br/historia/tales.html
A Modelagem Matemática é um método cientifico que é parte das pesquisas do matemático aplicado, a
qual consiste em resolver problemas de outras áreas do conhecimento, ou seja, resolver problemas aplicados.
Classificação dos Modelos Matemáticos
Já definimos anteriormente o que é um modelo matemático, com a definição de Bassanezi (2002),
o qual também apresenta, no mesmo livro, algumas classificações dos modelos matemáticos, conforme a
natureza da matemática utilizada:
Atenção
a) Linear: o modelo tem equações com a característica linear, ou seja, a taxa de variação é constan-
te; ou Não-linear: se a taxa de variação não é constante.
b) Estático: quando se molda ao formato do objeto que o constitui – por exemplo, a forma
geométrica do favo de mel; ou
Dinâmico: quando simula variações de diferentes momentos do fenômeno estudado – por
exemplo: crescimento populacional.
c) Educacional: é um modelo que se exclui algumas variáveis para que se possa compreender
o processo de Modelagem Matemática. O modelo presa-presador de Lotka-Volterra é um exemplo
de tais modelos. Assim, usam-se apenas poucas variáveis para que compreensões do fenômeno
possam ser feitas. Geralmente, podem-se encontrar soluções analíticas. É importante ter cuidado,
pois estas simplificações quase sempre resultam modelos matemáticos que não descrevem a reali-
dade investigada; ou
Aplicativo: é um modelo matemático que utiliza, geralmente, muitas variáveis e sistemas de
equações com numerosos parâmetros. Assim, é praticamente impossível o tratamento analítico,
sendo importante o uso das TIC para encontrar as soluções.
d) Determinístico: é baseado na hipótese de que se há informações sobre um determinado
instante ou num estágio do processo, então previsões podem ser feitas de modo preciso;
e) Estocástico: é aquele que descreve a dinâmica de um sistema em termos probabilísticos.
Na sequência deste material, daremos ênfase nos modelos determinísticos. A escolha é mais pelo
fato de serem modelos que possuem uma praticidade didática.
Um exemplo: se considerarmos uma população sujeita a um crescimento exponencial (como a
população do Brasil, a qual, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, cresce
a uma taxa de cerca de 1,2% ao ano). A teoria dos modelos matemáticos determinísticos indica que
dP
a taxa de crescimento populacional é proporcional ao número de individuos da população (P)
dt
em cada instante “t”. Se “k” (um número real constante) é o coeficiente de crescimento desta popu-
dP
lação, então = k.P é o modelo matemático, cuja solução é P (t) = Po . e k .t , onde Po = P(0) é a
dt
população inicial. Assim, o valor da população em cada instante t é dada por um modelo matemático
determinístico. Por outro lado, se o valor de “k” for variável, teremos um modelo estocástico.
Atividade Complementar
Professor, agora é a sua vez: escreva sobre as suas reflexões, analisando a prática de sala de aula e
para o texto escrito neste bloco!
1. Escreva, com suas palavras, o que você entende ser a Modelagem Matemática na perspectiva da
Matemática Aplicada.
2. Qual é, na sua opinião, o modelo matemático mais importante para a humanidade? Por quê?
3. Na sua opinião, qual é a importância dos modelos matemáticos para a evolução da huma-
nidade? Explique.
Os Modelos Matemáticos
Alguns autores fazem distinções entre modelos físicos e modelos teóricos. Para eles, os modelos fí-
sicos são como réplicas de objetos concretos e os modelos teóricos são considerados como um conjunto
de leis que podem representar, para o observador, um objeto ou um fenômeno da realidade. Os modelos
matemáticos podem ser incluídos na categoria dos modelos teóricos, uma vez que é um modelo teórico
que tem base matemática.
Cabe relembrar que modelo matemático, para Bassanezi (2002, p. 20), é:
“um conjunto de símbolos e relações matemáticas que representam de alguma forma o
objeto estudado.”
Os autores Edwards e Hamson (1990) definem o modelo matemático como uma forma simplifica-
da de representar determinados aspectos de um sistema real.
O professor João Felipe Matos (1997) define o modelo matemático como o que inclui o uso de
variáveis e relações entre elas, e que, muitas vezes, é concretizado usando funções. Esta definição poderia
A função equivale a ou
Atenção
“População brasileira decuplicou no século XX
Desde 1970, quando os brasileiros eram ‘90 milhões em ação’ (ou, mais exatamente, 93.139.037, se-
gundo o Censo daquele ano) e a seleção brasileira conseguiu o tricampeonato mundial de futebol, a popu-
lação do País cresceu 82%. Ao longo do século XX, ela tornou-se quase dez vezes maior: o Censo de 1900
contou mais de 17.438.434 de residentes. Na primeira metade do século, a população triplicou (51.941.767
residentes em 1950) e, na segunda metade, mais que triplicou. Em 2000, já éramos 169.590.693 pessoas.
As taxas médias de crescimento da população brasileira durante o século XX eram de 2,91%
ao ano nas duas primeiras décadas e caíram para 1,49% nas duas décadas seguintes. A partir da
década de 1940, o ritmo de crescimento da população voltou a se intensificar e atingiu um pico
histórico de 2,99% ao ano entre 1950 e 1960, antes de declinar para seu valor mínimo, de 1,63%,
na década de 1990. Tudo indica que a trajetória descendente deverá permanecer no futuro, e a taxa
de crescimento populacional projetada para 2020 é de 0,71% em média ao ano.”
Transcrito do site do IBGE. Para saber mais dados estatísticos comentados sobre o século XX,
acesse: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/29092003estatisticasecxxhtml.shtm.
O ajuste de curvas pode ser linear, como já discutimos anteriormente. Para funções não lineares, o
método do ajuste linear pode ser usado, se conseguirmos escrever as funções no modelo linear. Para tal,
é necessário fazer uma mudança de variável.
Iniciaremos vendo um exemplo do ajuste linear do modelo exponencial assintótico.
Exemplo: Adubação x Produção de Cana de Açúcar
Este exemplo foi retirado do livro de Bassanezi (2002, p. 73-75).
A tabela mostra os dados coletados experimentalmente sobre a produção-de-cana de açúcar para
diversas dosagens de nitrogênio (na forma de sulfato de amônia):
O gráfico acima foi feito no Excel, para que se possa ter uma noção geométrica dos pontos.
Poderíamos fazer simulações iniciais, usando os pontos e substituindo-os em um dos modelos
matemáticos apresentados anteriormente, segundo aquele que identificamos como o que melhor repre-
sentaria a situação. Com isso, encontraríamos uma fórmula por um método de tentativas.
Outra simulação poderá ser feita encontrando algebricamente a equação que descreve a situação.
Para a simulação, deve ser considerado que a tendência da produção por hectare de cana-de-açúcar deve
ser estabilizar, relativamente à aplicação de nitrogênio.
Para tal, faremos uso do Método de Ford-Walford. Para encontrá-lo, vamos acrescentar uma nova
coluna da tabela:
Relacionando e , percebe-se que eles são aproximadamente iguais, quando aumentamos os va-
lores de i. Ou seja, as duas últimas colunas da tabela sugerem que há um valor que podemos considerar
para sendo o valor de estabilidade. Consideremos uma função f que ajusta os pares , isto é: . Pode-se
ajustar a função f através de uma equação linear, usando o Excel.
O valor é o que representa que, a partir de um determinado valor de x, os valores de y são apro-
ximadamente iguais.
Agora, considerando um ajuste exponencial entre e , obtemos a tabela e o gráfico seguin-
tes, feitos no Excel:
Saiba Mais
Para saber mais sobre o modelo exponencial assintótico, consulte o site:
http://www.vps.fmvz.usp.br/promat/exponencial.html - neste site você encontra informa-
ções sobre modelos matemáticos com uma linguagem simples. Além disso, você poderá fazer
simulações usando o aplicativo em linguagem Java.
O MODELO LOGÍSTICO
Outro ajuste de curvas, de uma função não linear, é o ajuste do Modelo Logístico. Inicialmente, esse
modelo foi proposto para modelar a dinâmica de populações, a qual pode ser representada pelos gráficos:
Do mesmo modo que no caso do modelo exponencial assintótico, vamos fazer uma mudança de
variável para realizar um ajuste linear. Vamos analisar um exemplo:
Exemplo: Crescimento de uma árvore
Este exemplo é adaptado de Bassanezi (2002, p. 77-79).
A tabela a seguir possui dados do crescimento médio de uma árvore. A variável é o tempo (em
anos) e a variável é a altura da árvore (em decímetros):
Agora, usando a mudança de variável, para fazer uma estimação da curva logística para um ajuste
linear, temos:
Novamente usando o comando inserir linha de tendência do Excel, usando os pontos ( ), te-
remos o gráfico:
Atividade Complementar
Prezado licenciando,
1. Para você, qual é a importância da informática no tratamento dos dados quantitativos coletados,
especialmente para que os modelos matemáticos possam ser encontrados, ou seja, para o ajuste de curvas.?
MODELAGEM MATEMÁTICA NA
PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO
MATEMÁTICA
A professora Biembengut iniciou a fazer seu mapa pessoal, os caminhos que percorreu para esboçar a
sua própria trajetória como pesquisadora nesta área de inquérito. Ela relata que teve que se lembrar de momen-
tos, fatos, lugares visitados, procurar por documentos (como cartas, bilhetes, certificados e fotos) que estavam
em pastas e caixas do seu arquivo. Ela também iniciou uma pesquisa sistemática na tentativa de fazer um mapa
sobre as pesquisas em Modelagem Matemática no Brasil. Ela iniciou por buscar seus precursores, identifican-
do-os como os pais da Modelagem Matemática: Ubiratan D’Ambrosio, Rodney Bassanezi e Aristides Barreto.
Neste momento, ela identificou que não há uma história escrita sobre o início deste movimento.
As discussões sobre Modelagem Matemática na perspectiva da Educação Matemática têm sido desen-
volvidas no nosso país desde o final dos anos 70, fortalecendo-se nas duas décadas finais do Século XX.
Desde o ano de 1999, vem ocorrendo a Conferência Nacional sobre Modelagem e Educação Mate-
mática (CNMEM). Esta conferência está ocorrendo a cada dois anos, reunindo pesquisadores em Modela-
gem Matemática e professores de Matemática que se interessam pelo tema. Ela é uma iniciativa que reúne os
interessados com a Modelagem Matemática, preocupados com o ensino e a aprendizagem da Matemática.
Esse movimento, que se denomina Modelagem Matemática na Educação Matemática, por ter sido cons-
tituído a partir de idéias recorrentes de outras áreas, acaba tendo conseqüências nos dias atuais. Isto se deve ao
fato de haver, apontadas por autores da área (como Barbosa (2001), Jussara de L. Araújo (2002) e Ana Paula
dos S. Malheiros (2004)), diferentes interpretações e perspectivas de Modelagem Matemática, após ser moldada
de diferentes áreas. Barbosa (2001) relata que, para diferenciar do movimento da Modelagem Matemática na
Matemática Aplicada, alguns autores tentaram denominar esta área de Modelação. Este termo é o utilizado
em Portugal, no sentido de Modelagem Matemática no ensino e aprendizagem, porém no Brasil não vingou.
Assim, Borba e Villarreal (2005) dizem que Modelagem, na perspectiva da Educação Matemática, seria uma
metáfora para Projetos na aula de matemática. Por sua vez, Barbosa (2001) afirma que Modelagem pode ser
considerada como um abuso de linguagem. Vamos tratar a seguir diferentes elementos que compõem a inser-
ção da Modelagem Matemática nas aulas de Matemática, compondo parte do currículo.
Atenção
(1) Motivação: os alunos se sentiriam mais interessados para estudarem Matemática, uma vez
que poderiam ver que o que estudam na escola poderia ser aplicado em situações do cotidiano.
(2) Facilitação da aprendizagem: como a Modelagem Matemática relaciona a Matemática com
outras áreas da realidade, os alunos teriam maior facilidade para entender conteúdos matemáticos;
(3) Preparação para utilizar a Matemática em diferentes áreas: os alunos teriam habilidades
exigidas no seu cotidiano e no mundo do trabalho, já que eles teriam possibilidades para realizarem
desenvolvimento de fato de aplicar a Matemática em outras áreas da realidade;
(4) Desenvolvimento de habilidades gerais de exploração: os alunos teriam a habilidade de se
envolver em um ambiente investigativo e dos elementos que os compõem;
(5) Compreensão do papel sócio-cultural da Matemática: os alunos investigariam como a
Matemática é utilizada na sociedade, nas suas diversas práticas.
Concordo com Barbosa (2003a), esses argumentos não estão num mesmo nível de importância.
Ele coloca a ênfase da Modelagem Matemática no último argumento, o qual está associado com o fato
de formar cidadãos críticos para atuarem na sociedade, compreendendo e refletindo sobre como a Mate-
mática é utilizada nas práticas sociais e, de modo particular, na tomada de decisões, aspecto já destacado
no bloco 1. Retomaremos esta questão importante posteriormente, uma vez que ela fundamenta parte
das nossas discussões.
A Modelagem Matemática como um Ambiente de Aprendizagem
Iniciamos este bloco propondo a Modelagem Matemática como um ambiente de aprendizagem.
Skovsmose (2000) e Helle Alrø e Ole Skovsmose (2006) tratam deste aspecto. Antes, vamos analisar o
que é um ambiente de aprendizagem.
Para os autores, o ambiente de aprendizagem refere-se às condições que os professores colocam
para que as atividades possam ser realizadas. Assim, a resolução de problemas, o uso de jogos, os mate-
riais concretos e manipuláveis, o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação, a aula centrada na
exposição de conteúdos pelo professor, a História da Matemática como recurso didático e a Modelagem
Matemática são alguns ambientes de aprendizagem.
No ambiente de aprendizagem, dois paradigmas de práticas de sala de aula são considerados por Alrø
e Skovsmose (2006) e Skovsmose (2000). No paradigma do exercício, as atividades propostas pelo professor
ocorrem de modo que praticamente tudo é controlável, previsto e previsível, seguindo o roteiro: definição,
exemplos e exercícios. As questões propostas sempre possuem uma resposta única para resolvê-las.
A professora Maria Cecília de Oliveira Micotti (1999) ressalta o momento de crise que estamos passando
na Educação. O ensino é criticado a partir de resultados divulgados amplamente na imprensa, sobre o baixo
desempenho dos alunos, os quais, na grande maioria das vezes, os professores propõem apenas o ambiente de
aprendizagem (de prática de sala de aula) do paradigma do exercício, como descrito anteriormente.
Assim, a professora comenta sobre as reformas curriculares e as novas propostas educacionais que
estão presentes ao nosso acesso. De modo geral, há, por parte dos professores, interesse e sensibilidade
por elas, mas eles encontraram vários tipos de dificuldades, incluindo a resistência para as mudanças.
Atenção
I) é suficiente o professor saber os conteúdos matemáticos para que ele ensine bem;
II) espera-se que os alunos decoram fórmulas e regras, buscando repetir as informações
transmitidas pelo professor. Vale destacar que muitas vezes a “decoreba” existe sem a compreen-
são, o que faz com que a informação não tenha nenhum sentido para o aluno;
III) de modo geral, as pessoas afirmam, neste paradigma, que aqueles que não aprendem é
pelo fato de não saber raciocinar. Do outro lado da moeda, quem aprendeu é (muito) inteligente;
IV) de modo geral, as dificuldades ou fracassos geralmente são postos como culpa exclusiva
dos alunos, por “falta de base” ou condições de aprender, por ter problemas na família, por ter
deficiência mental, etc.
Atenção
“Os alunos podem formular questões e planejar linhas de investigação
de forma diversificada. Eles podem participar do processo de
investigação. Num cenário para investigação, a fala ‘o que acontece
se...’ deixe de pertencer apenas ao professor e passa a poder ser dita
pelo aluno. E outra fala do professor, ‘Por que é dessa forma...?’,
pode desencadear a fala do aluno ‘Sim, por que é dessa forma...?’.”
(ALRO; SKOVSMOSE, 2006, p. 55-56).
Deste modo, nos cenários para investigação, os alunos são convidados a levantar questões e pro-
curar explicações. A partir do engajamento dos alunos neste processo, o cenário para investigação se
estabelece como um ambiente de aprendizagem. Nestes cenários, não existem algoritmos que facilmente
resolvem as questões. Isto sugere que as informações para a solução das atividades (neste paradigma) não
estão inseridas no texto da Atividade proposta.
Alrø e Skovsmose (2006) e Skovsmose (2000) combinam os paradigmas com três tipos de referên-
cias: matemática pura, semi-realidade e realidade, como pode ser visto na tabela a seguir:
Ambientes de aprendizagem propostos por Skovsmose (2000, p. 75) e Alro e Skovsmose (2006, p. 57).
Atenção
(1) argumento formativo: os alunos se desenvolvem nas habilidades de explorar, resolver
problemas e ser criativo;
(2) argumento da competência crítica: os alunos têm habilidade de compreender e analisar
exemplos de situações que envolvam o uso da Matemática na sociedade;
(3) argumento da utilidade: os alunos são preparados para fazerem uso da Matemática em
outras áreas da realidade;
(4) argumento intrínseco: os alunos percebem uma das facetas da Matemática;
(5) argumento da aprendizagem: os alunos se motivam e vêem a relevância para o envolvi-
mento e para a sua aprendizagem, nas atividades da disciplina Matemática;
Barbosa (2001) acrescenta um outro argumento, baseado em pesquisas realizadas por Bassanezi:
Tabela adaptada de Barbosa (2001, p. 40): tarefas dos alunos e professores nos casos de Modelagem Matemática.
Atenção
Aqui, apenas apresentei uma brevíssima discussão sobre o tema. Caso tenha curiosidade para
ler mais sobre o tema, busque as referências citadas e no artigo:
Trabalho com Projetos na Escola: perspectivas dos professores de Matemática. Artigo da
Professora Maria Dirlene da Silva Cattai (2006), apresentado no X Encontro Brasileiro de Es-
tudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática (EBRAPEM), realizado na UFMG, Belo
Horizonte, MG.
Disponível em: http://www.fae.ufmg.br:8080/ebrapem/completos/01-15.pdf
Nesta parte, iremos reportar duas experiências que vivenciamos com meus alunos de uma escola
pública em Salvador, BA. Elas ocorrem nos anos de 2003 e 2004, com alunos do 1º ano e 3º ano do En-
sino Médio, respectivamente.
Experiência 1
No ano de 2003, estava cursando Especialização em Educação Matemática. Um dos professores
destacou a importância de ouvirmos os alunos. As turmas do 1º ano do Ensino Médio (que trabalhava à
época) falavam bastante sobre a questão da violência próximo à escola, nas localidades onde moravam (al-
guns moravam perto e outros um pouco distantes). A escola fica na região da Liberdade, bairro bastante
populoso de Salvador e que a população, em sua grande maioria, possui pele negra e é pobre.
Assalto, seqüestro, roubo e tiroteio na rua onde um aluno morava com morte eram questões que
os alunos comentavam durante um intervalo da aula de Matemática. Percebi que falar do tema violência
era algo que eles gostavam.
Tinha lido, em 2002, uma reportagem, de um jornal de grande circulação em Salvador, sobre a vio-
lência em Salvador e Região Metropolitana (A TARDE, 2002). Guardei-a, pois tinha gráficos estatísticos e
informações estatísticas sobre, por exemplo, os dias da semana, meses do ano, período do dia que ocorriam
os assassinatos e a quem o crime foi atribuído, comparando os números com os da guerra da Iugoslávia.
A reportagem tratava da questão da insegurança das pessoas, especialmente sobre o perfil da vítima
(mais de 90% dos casos): homem, da raça negra, que tinha idade entre 15 e 35 anos, trabalhador, morador
de bairro pobre e sem antecedentes criminais. Ela tratava, também, da geografia da violência, destacando
os bairros mais violentos. Isto me fez associar a reportagem ao contexto dos alunos, uma vez que pode-
riam fazer novas reflexões, através de informações matemáticas, que se aliariam às informações que eles
conheciam a partir do que vivenciaram.
Assim, trouxe a reportagem para os alunos. Solicitei que eles formassem equipes de quatro ou cinco
alunos, lessem a reportagem e destacassem o que chamaram a atenção deles, por qualquer motivo. Eles de-
veriam discutir em grupo depois dentro da equipe. Dicionários foram disponibilizados para os alunos.
Os alunos leram e cumpriram o solicitado pelo professor, aceitando o convite para investigarem
para compreenderem melhor a realidade que os cercava.
No momento do debate com os grupos da sala, solicitei que eles falassem o que havia chamado a
atenção dos grupos, sempre perguntando se algum outro grupo tinha destacado o mesmo aspecto, e o
que discutiram. Mostro dois argumentos dos alunos:
Argumento 1: Teve uma aluna que me disse o seguinte: professor, vou dizer a verdade: no início
eu não tava gostando disso não, mas depois fui me envolvendo, fui gostando. A visita [a estação de tra-
tamento de água da companhia do estado da Bahia] foi ótima. Ver como as coisas funcionam foi massa
[...]. Eu não esquecerei mais deste trabalho.
Argumento 2: Ela também comentou sobre o modelo do relatório escrito fornecido: minha prima
disse que é igual ao modelo que ela tem que usar na faculdade [...]. Eu gostei de saber disso. De fato, era
um modelo semelhante ao que você vem usando nos trabalhos que desenvolve, mas não era exatamente
igual ao modelo sugerido pelas normas da ABNT.
Saiba Mais
Quer saber mais sobre os quatro momentos (a escolha do tema, as reuniões em grupo, a
apresentação oral e os relatórios escritos) de organização e condução dos Projetos de Modelagem
Matemática? Então, leia o artigo:
Modelagem Matemática: quatro momentos de organização e condução, do professor Carlos
Alberto do Patrocínio Júnior (2005).
Este artigo está publicado na IV Conferência Nacional sobre Modelagem na Educação Ma-
temática (CNMEM), na UEFS, Feira de Santana, BA. Disponível em: http://br.geocities.com/ca-
patrociniojr/m_m_quatro_momentos.pdf
Atividade Complementar
1. Será que a aula de Matemática pode ser um espaço para convidar os alunos para essas discussões?
Se você já faz isto, escreva esta experiência; se não, descreva como poderia ser feito este convite para os
alunos na escola onde você trabalha ou, se você não é professor, na comunidade onde você mora?
2. Com suas palavras, escreva o que você considera ser a Modelagem Matemática na perspectiva
da Educação Matemática.
5. É comum ouvirmos, da grande maioria dos professores, que qualquer estratégia diferente do
ensino tradicional motiva os alunos.
- Se tal afirmação for verdadeira, o uso de jogos na aula de Matemática motivaria os alunos para
aprender números negativos, por exemplo. E se o aluno não gostar de jogos? Será que podemos afirmar
que o uso de jogos, nas aulas de Matemática, motivam os alunos?
- E os alunos que gostam (por já estarem adaptados) do ensino tradicional estariam motivados?
Um dos argumentos destacado no texto, no conteúdo 1, para incorporarmos a Modelagem Mate-
mática nos currículos escolares, nas aulas de Matemática, é a motivação. Concordo com este argumento,
entretanto, afirmo que é importante destacar o cuidado que devemos ter com o termo motivação, pela
que afirmamos anteriormente.
Por que falar em motivação em atividades de Modelagem Matemática é compreensível?
Como apontei anteriormente, Borba e Villarreal (2005) destacam a falta de uniformidade entre os
autores que pesquisam em Modelagem Matemática. Com isto, os autores identificam quatro perspectivas
quanto aos objetivos, que analisamos a seguir.
Problema Aplicado no Livro Didático Tradicional
Atenção
- interação: é uma familiarização com o tema pesquisado;
- matematização: é a transformação da linguagem natural para a linguagem matemática;
- modelo: é a representação matemática da situação investigada.
Atenção
- Que aplicações podem ser trabalhadas com temas da realidade dos alunos?
- Como a Modelagem Matemática pode contribuir para este aspecto?
- Como a pesquisa na Internet pode se aliar a este processo?
Assim, os alunos terão nas mãos a possibilidade de direcionarem o que é relevante para eles estu-
darem, contribuindo efetivamente com o currículo das aulas de Matemática. A isto Skovsmose (2001)
nomeia de engajamento crítico.
Com isto, podemos reconsiderar a questão do poder formatador da matemática, pois estaremos pro-
porcionando para nossos alunos possibilidades de ingressar nos debates, uma vez que eles terão um olhar
questionador sobre os argumentos matemáticos que a impressa e as pessoas, de modo geral, impõe através
da ideologia da certeza, que gostamos de resumir na frase: “contra números não há argumentos”.
Desta forma, eles poderão, de fato, atuarem como cidadãos nas suas comunidades. Borba e Sko-
vsmose (2001), citam Franskenstein, o qual define esta questão como sendo dar poder aos alunos, ou no
original empowerment, que podemos definir como proporcionar aos alunos uma visão crítica do mundo,
tão defendida por Paulo Freire, no nosso caso, por meio da Matemática!
Os conhecimentos relacionados a um processo de Modelagem Matemática
A autora Kaiser-Messmer (1991) propõe duas perspectivas de Modelagem Matemática ob-
servadas por ela no âmbito das pesquisas internacionais da área:
- A corrente científica-humanista;
- A corrente pragmática.
Na perspectiva científica-humanista, Kaiser-Messmer (1991) destaca que os trabalhos desenvolvi-
dos em Modelagem Matemática têm a finalidade de criar condições para que os alunos possam aprender
Matemática, com foco no programa da disciplina. Isto é semelhante ao objetivo de trabalhar Modelagem
Matemática para tratar os tópicos matemáticos, destacada anteriormente, quando nos baseamos em Bor-
ba e Villarreal (2005) para apontarmos os objetivos para o trabalho com a Modelagem Matemática.
A autora pontua que na a perspectiva pragmática usa-se a Modelagem Matemática para que o aluno
aprenda as habilidades de resolver problemas, justificadas pela necessidade dos alunos em resolver pro-
blemas no seu dia-a-dia. Esta perspectiva se aproxima do primeiro objetivo para trabalhar as atividades
de Modelagem Matemática analisados anteriormente.
Barbosa (2003b) argumenta pela legitimidade de associar a perspectiva científica-humanista com o
conhecimento matemático e a perspectiva pragmática com o conhecimento técnico, ambos os conheci-
mentos são propostos por Skovsmose. O autor define o conhecimento técnico como o que é necessário
para construir e usar um modelo matemático.
Relembro que como os objetivos não são excludentes, ou seja, é uma prioridade que caba ao professor
optar por eleger um objetivo como aquele que é mais importante, aqui também podemos estender esta idéia.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS EM
MODELAGEM MATEMÁTICA
Durante todo o texto do material impresso, já propomos novos olhares para o professor de Mate-
mática, através da Modelagem Matemática. Por exemplo, discutimos sobre a organização e condução das
atividades propostas por Patrocínio Júnior (2005) e Barbosa (2001), quando propõe a tabela com os três
casos para operacionalizar as atividades na sala de aula.
Neste material, pensamos numa discussão importante: e o professor, onde ele fica no meio de
tantas propostas pedagógicas alternativas ao paradigma do exercício? Focamos na introdução das
atividades de Modelagem Matemática nas práticas dos professores. Para isto, as pesquisas apontam
a necessidade deles conhecerem alguns modelos matemáticos clássicos, como os que destacamos
no bloco 1, vivenciar atividades de Modelagem Matemática enquanto aluno, constituindo grupos,
analisando relatos de experiências e fazendo algumas reflexões teóricas. Assim poderá optar pela
adoção ou não das atividades de Modelagem Matemática no currículo (que está desenvolvendo con-
juntamente com seus alunos nas aulas) de Matemática.
Os professores Leandro Diniz, Ana Paula Malheiros e Maria Helena Barbosa (2005) propõem que
os professores dêem diferentes visões para encaminhamentos de um Projeto de Modelagem Matemática
desenvolvido numa turma de alunos ingressantes do Curso Superior em Ciências Biológicas, em que o
professor utiliza a Modelagem Matemática como uma estratégia pedagógica, na perspectiva dos Projetos
de Modelagem Matemática.
Ao serem questionados sobre o número de viagens que um elevador teria que fazer para transportar 22
pessoas, sabendo que ele possui capacidade para levar 5 pessoas por vez, os alunos responderam 4,4. Essa res-
posta não é apropriada para responder este problema, pois o que significa fazer 0,4 de viagem do elevador?
Barbosa (2004a) argumenta que os estudos têm convergido para o fato da Modelagem Matemáti-
ca estar moldando as concepções de Matemática dos professores, pois tomando por base a perspectiva
sócio-crítica, eles começam a ver um currículo mais dinâmico, o que acaba sendo estendido para a visão
que eles possuem da disciplina. Além de associarem com a realidade, percebendo o papel social da Mate-
mática, re-significando suas práticas. E isto vem ocorrendo mesmo quando os professores não trabalhem
ou não vislumbrem possibilidade imediata de inserir a Modelagem Matemática nas suas aulas.
Atenção
- Falta de clareza para os professores operacionalizarem estas atividades na escola, pois elas
se distanciam das atividades do paradigma do exercício, padrão conhecido das atividades propostas
pelos professores, de modo geral. É uma rotina bem diferente destas últimas atividades, o que cria
dificuldades, especialmente se nos referirmos a perspectiva sócio-crítica;
- Dúvidas sobre como conduzir as atividades. Quais são os conhecimentos necessários para
os professores atuarem como orientadores, do modo como argumentamos aqui?
- Como os alunos, colegas professores da escola, coordenadores, pais e direção receberão
esta proposta? Isto é uma dúvida dos professores.
Podemos notar que os três aspectos propostos por Barbosa (2004a) têm fortes relações com as
práticas, especialmente com a falta de aspectos que a sua formação inicial muitas vezes não contempla.
Tentamos neste texto alertá-lo para a importância de estudos durante a disciplina e estudo posteriores,
para superar estes aspectos.
Outros aspectos presentes nas pesquisas devem ser observados pelos professores. Diniz (2007)
analisa como os alunos utilizam a informática quando estão desenvolvendo Projetos de Modelagem Ma-
temática, a partir da escolha de temas que eles fazem, reunidos em grupos.
Os resultados encontrados por Diniz apontam para o modo como o professor pode fornecer papel
importante para as mídias informáticas, desde o uso da Internet na coleta dos dados, que nos trazem dú-
vidas como: o que é um site confiável na Internet? Como estabelecer critérios para isto? Diniz sugere que
os sites oficiais são os confiáveis, como os de revistas, jornais, instituições que têm nome a zelar, como o
IBGE, INCA (Instituto Nacional do Câncer) e os sites de universidades e dos professores das mesmas.
O autor cita o cuidado que devemos ter para que os alunos não copiem páginas WWW e entreguem ao
Atenção
Prezado licenciando:
Quer saber mais sobre Modelagem Matemática, interagir com outros professores e pesqui-
sadores da área, participar de chats temáticos, tirar dúvidas, fazer download e upload de artigos,
dissertações e teses sobre Modelagem Matemática?
Então acesse:
- Centro Virtual de Modelagem (CVM).
Site: http://tidia-ae.usp.br.
Para acessá-lo, é necessário ter login e senha, que podem ser adquiridos gratuitamente através
do e-mail: cvm@rc.unesp.br.
- Centro de Referência de Modelagem Matemática no Ensino (CREMM).
Site: http://www.furb.br/cremm/
E-mail para contato: cremm@furb.br.
Acesse também sites de grupos de pesquisa em Modelagem Matemática na perspectiva da
Educação Matemática do Brasil:
- Grupo de Pesquisa em Informática, outras Mídias e Educação Matemática (GPIMEM),
coordenado pelo professor Marcelo Borba:
http://www.rc.unesp.br/igce/pgem/gpimem.html.
Atividade Complementar
1. Teça considerações sobre a mudança de postura que o educador matemático deve ter, especial-
mente quando incorpora a Modelagem Matemática nas atividades de sala de aula.
2. Você tem feito atividades nas aulas de Matemática ( ou implementa-las ), que possuem temas do
cotidiano dos alunos e que propiciem discussões envolvendo competência crítica, distância crítica e engaja-
mento crítico, termos propostos por Skovsmose (2001)? Comente.
4. Você deve ter lido a experiência 1, anteriormente apresentada (no bloco 2, tema 3), quando
apresentamos uma atividade do caso 1 de Modelagem Matemática proposto por Barbosa (2001), a partir
de um tema de interesse dos alunos (violência). A sala de aula virou um palco de discussões de temas
com referência na realidade da comunidade dos alunos. Tente organizar uma lista de cuidados que você,
enquanto professor, deve ter no planejamento e execução desta atividade com os alunos (ou organização
e condução, como sugere Patrocínio Júnior (2005)).
5. O que você entende por Modelagem Matemática? Compare com a sua opinião antes da disci-
plina, ou seja, como você entendia a relação entre Matemática e outras áreas do cotidiano e outras disci-
plinas. Compare com as opiniões que você foi tendo durante a disciplina. As aulas fizeram com que você
pudesse (re)pensá-las e/ou alterá-las? Você considera um ambiente de aprendizagem viável para as aulas
de Matemática? Explicite sua opinião.
6. Você já havia pensado antes sobre a ideologia da certeza e o papel formatador da Matemática,
conceitos concebidos pelos professores Borba e Skovsmose (2001)? Comente o que você acha se nas
aulas de Matemática você valoriza estes conceitos ou analisa-os criticamente.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, L. M. W.; DIAS, M. R. Um estudo sobre o uso da Modelagem Matemática como
estratégia de ensino e aprendizagem. Bolema – Boletim de Educação Matemática, Rio Claro, n. 22, p.
19-35, set. 2004.
www.ead.ftc.br
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