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Conceito de rede e as sociedades contemporâneas

The concept of network and the contemporary societies


Ana Lúcia S. Enne
Profa. Dra. do Departamento de Antropologia da UFRJ.
E-mail: anaenne@terra.com.br

Resumo

A proposta deste artigo é mapear algumas das principais abordagens referentes ao conceito de rede,
muito utilizado nas reflexões sobre as sociedades contemporâneas. 0 conceito é apresentado em sua
relação com osfluxosde bens e informações, a partir das práticas de interação social.
Palavras-chave: rede; fluxo de informação; sociedades contemporâneas

Introdução

' BARNES, 1: A. "Redes sociais e L u g a r c o m u m nas análises d a comunidade da Noruega, 2 e que, segundo
processo político". In: FELDMAN- sociedade contemporânea, o conceito de o autor, teria padecido de uma falta de
BIANCO, Bela (Org.). Antropologia das rede tem sido muito empregado para definição conceituai geradora de
Sociedades Contemporâneas. São definir as novas formas de socialização e
interpretações confusas por parte de alguns
Paulo, Global, 1987.
fluxo informacional dentro da chamada leitores/pesquisadores. Assim, ele vai tentar
rífsse trabalho é citado pelo próprio o r d e m g l o b a l i z a d a . N o e n t a n t o , tal indicar que a idéia de rede utilizada em seu
Barnes, no texto já citado. A referência conceito vem sendo trabalhado de formas trabalho está, antes de tudo, pensada como
é: BARNES, J.A. "Class and Committees distintas dentro das Ciências Sociais, em socialmente composta por indivíduos que
in a Norwegian Island Parish". Human especial n a A n t r o p o l o g i a e na
irão se articular a partir de interações, e
Re/ations, n° 7,1964.
C o m u n i c a ç ã o , e essa multiplicidade não por composições egocêntricas, como
3
MAYER, Adrian. "A importância dos conceituai nem sempre é levada em conta. irão propor outros. A rede com a qual
'quase-grupos' no estudo das A proposta deste artigo é mapear algumas trabalharia seria, portanto, a rede social totaL
sociedades complexas". In: FELDMAN- das principais abordagens referentes a essa O que Barnes se propôs a fazer - e
BIANCO, op. cit., 1987, p. 129. 0 categoria, p r o c u r a n d o dar conta das
nesse s e n t i d o é percebido c o m o u m
trabalho de FIRTH a que ele se refere
possibilidades teóricas geradas por esse precursor no uso do conceito de rede para
é "Social Organization & Social
Change", iournal of the Royal conceito para descrever determinados tipos pensar a n a l i t i c a m e n t e determinados
Anthopological Institute, n°84,1954. de relações sociais. contextos sociais em que a idéia de grupo
Sobre o papel de Raddiffe-Brown como não pareceria adequada — é transpor o
pioneiro no uso do termo rede para
pensar relações sociais, ver também Redes como sistemas de interação social conceito simbólico de rede, como utilizado
BOTT, Elizabeth. Família e Rede Social. primeiramente por Radcliffe-Brown, para
Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1976, usá-lo analiticamente, como instrumento
p. 294 O conceito de rede é pensado,
metodológico de compreensão de relações
muitas vezes, como um tipo de sistema de
sociais entre indivíduos. Assim, Radcliffe-
inter-relação social diferente Ao grupo, por
Brown teria pensado o conceito de rede
diversas características. O s autores que
como u m a simbologia para entender a
agora apresentaremos, considerados
estrutura social. Rede estaria, dessa forma,
clássicos nas Ciências Sociais por suas
ligada a situações de permanência, e não a
propostas de teorização do conceito, vão
articulações temporárias. Segundo explica
desfilar tais características e, mesmo com
Mayer, citando Firth, "Radcliffe-Brown
alguns pontos divergentes, irão convergir
usou a noção de rede para expressar de
no principal aspecto definidor do que seria
m o d o impressionista "o que sentia ao
uma rede: sua capacidade de articulação e
descrever metaforicamente o que via",
rearticulação permaíiente.
cabendo a Barnes dar ao termo u m a
N a década de 60, J . A. Barnes, em
definição mais precisa". 3
seu artigo " R e d e s sociais e processo
político", 1 procura ampliar as explicações Barnes prefere falar de dois tipos de
acerca do conceito de redejí utilizado por rede: "redes sociais totais" e "redes sociais
ele em um trabalho anterior sobre uma parciais". Sobre as primeiras, ele afirma:

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Quer a rede possa ou não ser associada
de maneira útil à estrutura social, não
podemos encontrá-la nem aqui nem
ali. Independentemente de qualquer
coisa, a rede é u m a abstração de
primeiro grau da realidade, e contém
a maior parte possível da informação
sobre a totalidade da vida social da
c o m u n i d a d e à qual corresponde.
Chamo-a de rede social total. 4

Q u a n t o às redes parciais, seriam


"qualquer extração de u m a rede total, c o m
base e m algum critério q u e seja aplicável à
rede t o t a l " . 5 A s s i m , p o r s u a p r o p o s t a ,
qualquer indivíduo (que ele irá trabalhar
genericamente c o m o Alfa) dentro de u m a
rede p o d e ser t o m a d o c o m o referência para
pensar a sua composição, e não u m ego e m
especial. A parar de u m Alfa qualquer, seria
possível medir graus d e associação entre
os c o m p o n e n t e s d e u m a rede, cuja
grandeza poderia ser m e d i d a a partir d a
metáfora de u m a constelação. O u seja, o s
indivíduos que estivessem e m relação direta
seriam estrelas de u m a ordem de primeira
grandeza, enquanto aqueles q u e não fossem
medir a densidade das relações entre as 4 BARNES, op. at, p. 166. Carl Landé
diretamente ligados a Alfa, m a s estivessem também sugere que, ao estudar uma
estrelas e suas grandezas, e m termos de
ligados a u m agente d i r e t a m e n t e a ela parte da rede, o pesquisador seja
c o n e x ã o . S e g u n d o ele, o correto seria
relacionado (por exemplo, Beta), poderiam capaz de compreender a lógica da
definir "esta medida, a densidade d a zona,
rede de forma mais ampla. Mas ele
ser acionados para u m contato através d a
c o m o sendo a proporção das linhas diretas, sugere o termo "web" para substituir
intermediação de Beta. Seriam, então, de teoricamente possíveis, que de fato as idéias de "estrela" e "grandeza"
u m a ordem de segunda grandeza. Urna rede existem" entre as diversas estrelas q u e propostas por Barnes. Cf. LANDÉ, Carl.
seria, portanto, uma construção social de "Introduction: the dyadic basis of
c o m p õ e m u m a rede. Por isso, questões
relações de grandezas distintas, mas que dientelism". In: SCHMIDT, Steffen et alii
c o m o a flnitude o u o limite d a rede (ed.). Friends, Fottouers, andFactions.
possibilitariam o contato entre os diversos ocupariam posições de destaque nos seus A reader in political dientelism.
elementos que iriam gerar sua composição trabalhos. M a s , independentemente d a Berkeley, University of Califórnia Press,
(por exemplo, parentesco, vizinhança, laços densidade de u m a rede, o estudo das redes 1977, p.xxxiii.
políticos, dentre outros). Esse conceito de parciais levaria, necessariamente, à 5
BARNES, /ófe/77,p. 166.
rede poderia ser aplicado p a r a diversos compreensão d a rede total. 7
estudos sociais, sendo útil Mayer vai partir d a formulação d o ® /oísot, p. 161.
conceito de rede por Barnes — e t a m b é m 7
na descrição e análise de processos Segundo Barnes, "se examinarmos
por Bott — e propor u m a distinção dessa
políticos, classes sociais, relação entre uma rede qualquer, quer seja limitada
categoria face a de conjunto, por achar q u e ou ilimitada, fMa ou infinita, total ou
um mercado e sua periferia, provisão
o termo rede, usado para todos os contextos parcial, e concentrarmos nossa
de serviços e circulação de bens e
d e interação, não permite u m a depuração atenção numa pessoa particular como
informações num meio social não- ponto de referênda, descobriremos as
dos diversos níveis de contato. Assim, para
estruturado, manutenção de valores e várias propriedades egocêntricas da
normas pela f o f o c a , diferenças Mayer, rede deveria ser pensada de f o r m a
rede. Isto é bastante diferente do que
estruturais entre sociedades tribais, mais abrangente, c o m o algo ilimitado e q u e simplesmente dizer que a rede em si
rurais e urbanas, e assim por diante. 6 correspondesse à estrutura social (no mesma é egocêntrica: ela não o é."
sentido proposto por Radcliffê-Brown). J á Idem, p. 180.

O trabalho do pesquisador, ao o termo conjunto (derivado d e action-set,


etnografàr as redes, deveria ser t a m b é m , conjunto-de-ações) seria m a i s a d e q u a d o
c o m o apoio de teorias matemáticas, o de para pensar situações de contato

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surgir u m a série de relações entre
indivíduos que, posteriormente,
poderiam fundar u m partido político). O
ideal, para esses casos, seria o conceito já
citado de quase-grupos, que surgiriam em
conjuntos-de-ação específicos. E
importante notar que Mayer sugere duas
categorias de quase-grupos. U m a primeira,
dos quase-grupos classificatórios, em que "a
classificação, aqui, poderia ser feita em
função de interesses comuns que estão
subjacentes ao que poderíamos chamar de
'grupo potencial'." A outra, dos quase-
grupo interativos, seria baseada em "um
conjunto de indivíduos em interação". E
c o m esta q u e Mayer pretende trabalhar,
definindo assim os quase-grupos:
8
MAYER, op. cit., p. 127.
Estes quase-grupos diferem
9 /ofew.p. 128. fundamentalmente do grupo e da
,0 conjunturais, que aconteceriam em associação. Em primeiro lugar, estão
80TT, op. at. O texto a que me refiro
centrados em um ego, no sentido de
é "A História do Conceito de Rede desde d e t e r m i n a d a s s i t u a ç õ e s ( u m p l e i t o
1957", presente na obra citada. eleitoral, por exemplo), criando u m a série que sua própria existência depende
de relações, mas sem caráter de um indivíduo específico como
n e c e s s a r i a m e n t e p e r m a n e n t e . E l e vai foco organizador central: é diferente
de um grupo, onde a organização
procurar mostrar c o m o esses conjuntos-de-
pode ser difusa. Em segundo lugar,
ação c o n f i g u r a r i a m quase-grupos, ou
as ações de qualquer membro
melhor, indivíduos articulados por
tornam-se relevantes apenas na
interesses comuns a partir de u m ego, mas medida em que são interações com o
q u e não poderiam ser pensados c o m o próprio ego ou seu intermédio. O
g r u p o s não só p o r seu caráter aberto critério de associatividade não inclui
(típico das redes), mas pela ausência de a interação com outros membros do
características típicas de u m grupo, que quase-grupo em geral.'
seria constituído "por um n ú m e r o
determinado de membros que mantêm Bott, ao historiografar o conceito
alguma forma de interação esperada entre de rede em u m texto bastante
si — q u a n d o não em termos de direitos e esclarecedor, 10 sugere que o termo quase-
obrigações" 8 . Para ele, parte dos estudos grupo p r o p o s t o p o r M a y e r ( n a s u a
sobre redes sociais deveria ser o estudo dos acepção, u m novo n o m e para o termo
quase-grupos que, em conjuntos-de-ações, agrupamento) resolve alguns problemas
estão sendo montados mediante relações de d e n o m i n a ç ã o - principalmente por
diretas ou subjacentes, as quais denomina substituir este último termo mas acaba
de laterais (contatos entre os respondentes se m o s t r a n d o " o b s c u r o " q u a n d o se
de u m determinado ego, os quais mantêm prende à idéia d e q u e o quase-grupo seria
relações t a m b é m entre eles, sem resultado necessariamente de conjuntos-
necessariamente passar pela figura deste). de-ações. Ela cita o uso, por exemplo, que
Assim, para ele, o conceito de rede Boisseivan faz d a categoria de quase--'
proposto por Barnes serviria mais para grupo, q u e seria " u m termo genérico para
situações permanentes, não sendo qualquer espécie d e coalizão recrutada a
adequado para contextos de conjunções partir de rede. Pode ser u m conjunto-de-
momentâneas, ainda que algumas ação, u m a facção ou u m a clique (...)".
pudessem, posteriormente, adquirir u m A s s i m , ela, c o m o B a r n e s , o p t a p e l o
caráter mais permanente (por exemplo, conceito de rede para tratar de redes totais
u m determinado período eleitoral faz o u parciais, afirmando que, em sua tese

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sobre famílias e relações de parentesco, deveria ser pensado como associado a
"as famílias, c o m o totalidades sociais, qualquer sistema de relações sociais,
não estavam contidas em grupos citando o próprio Barnes como tendo
organizados mas, somente, em redes". 1 1 repensado o seu conceito original e
Segundo Bott, a pluralidade de concluído que "as redes atravessam todos
formulações utilizadas para se pensar o os campos sociais". 1 5
conceito de rede não invalida o seu uso,
mas requer u m a reflexão acerca das
Redes como fluxos de mercadoria e
diversas apropriações que o termo tem
gerado. Assim, o conceito de rede tem
informação
tido, segundo as observações da autora,
três a c e p ç õ e s : u m a p r i m e i r a , m a i s Sugerindo a utilização do conceito
metafórica, na j á citada referência a de rede para o estudo de sociedades
Radcliffe-Brown; u m a segunda, no c o m p l e x a s e u r b a n a s , M i t c h e l l vai
s e n t i d o d e rede total, s u g e r i d o p o r apontar para a existência de dois tipos
Barnes; e u m a terceira, em que a rede é de redes: uma envolvendo a troca de bens
pensada como sendo "pessoal" ou e serviços, e outra englobando a troca
"egocêntrica", c o m o proposto, por de informações, sendo esta segunda u m
" Idem, p. 67.
exemplo, por Mayer. Assim, processo de c o m u n i c a ç ã o . A s s i m ,
"praticamente todos" — incluindo a comentando essa segunda propriedade ,2
Idem, p. 300.
própria Bott—, "com exceção de Barnes", das redes, Mitchell afirma que:
13
" ,.. a idéia de rede é necessária
estariam usando tanto o conceito de rede porque o conceito familiar de grupo e
total quanto o de rede egocêntrica nos So far sociologists who have used the
de grupo corporativo da antropologia
notion ofpersonal networks to analyse tradicional não era inteiramente
seus diversos estudos. 1 2
their fíeld material have done so in adequado para os dados de campo
Segundo Elizabeth Bott, o relation of two different problems. com os quais eu estava lidando. As
conceito d e rede é f u n d a m e n t a l e m The first of these relates of the flow of famílias pesquisadas não viviam em
situações em que a categoria grupo não communication through networks, grupos. Elas "viviam" em redes, se é
consegue dar c o n t a da c o m p l e x a especially in relation to the definirion que podemos usar o termo "viviam
mobilidade entre os sujeitos que estão of norms, in what we might call a em" para descrever a situação de estar
em contato com um conjunto de
se relacionando socialmente. Assim, em communication-set.16
pessoas e organizações, algumas das
seu estudo sobre famílias e laços d e quais estavam em contato umas com
parentesco, ela resolve adotar o conceito Também A. L. Epstein vai utilizar as outras, ao passo que Outras não
por considerá-lo m e t o d o l o g i c a m e n t e essa idéia de pensar a rede como um sistema estavam." Idem, p. 294.
adequado. 1 3 de trocas de informações, capaz de gerar 14
Afirma Mitchell: "This striking and
Mitchell, também em u m texto padrões normativos para as condutas dos
stimulating study should have the effect
que contribuiu enormemente para grupos e, conseqüentemente, padrões de of associating the notion of social
organizar o debate acerca do conceito de identificação, em seus estudos urbanos. networks almost exdusively with
rede, destaca a importância d o trabalho Essa apropriação é explicitada por Mitchell, conjugai roles". Cf. MITCHELL,
ao referir-se a Epstein, 1 7 mas pode ser op A, p. 6.
desenvolvido por Bott, mas lamenta que
a apropriação d e Bott, a s s o c i a n d o o percebida mais claramente na leitura que l5
B0Tr, op. d., p. 303. Grifo da autora
conceito de rede ao e s t u d o das fazemos do texto do próprio Epstein,
composições familiares, tenha, por u m quando ele aponta para a importância das " Idem, p. 37.
período, se cristalizado como a referência configurações da rede em termos de seus
17
fluxos comunicacionais, no sentido de Idem, p. 27. "The flow of information
predominante sobre o uso d o conceito, is also the point that Epstein selects
Umitando-o.14 Para resolver tal gerar prestigio entre os agentes que a as the aspect of the personal network
problema, ele irá propor, juntamente compõem. Assim, ele afirma que toda to emphasize in his study of networks
com outros autores, c o m o Epstein, que relação social envolve a idéia de troca, e in towns", indica Mitchell.
o conceito possa ser relacionado também cabe ao pesquisador mapear quais são os
a diversas outras situações características tipos de informação que são trocadas por
de sociedades complexas e urbanas. D e meio de práticas imagéticas e discursivas. 18
certa forma, a própria Elizabeth Bott Epstein vai utilizar a proposta de
procurou deixar bem claro que o Bott de dividir as redes sociais em "abertas"
conceito de rede, utilizado n o seu caso ou "fechadas", de acordo com o
para o estudo d e relações familiares, estreitamento ou a frouxidão dos laços

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existentes entre os diversos indivíduos que H a n n e r z está partindo d a idéia de
compõem essa rede. Para ele, como para q u e a cultura não é univocal, e sim u m
outros autores já abordados neste artigo, complexo processo polifônico, em
tais laços vão permitir que os membros de constante fluxo de interações. Assim, a
uma rede, mediante processos c u l t u r a teria três d i m e n s õ e s : uma
interacionais, possam trocar tanto bens em relacionada ao c a m p o das idéias e aos
forma de materiais e serviços como bens modos de pensar; uma segunda
e m caráter simbólico, c o m o informações. relacionada às formas de externalização
Tais trocas, c o n f o r m e sugere Epstein, dessas idéias, o u seja, c o m o torná-las
p a s s a m a ser f u n d a m e n t a i s p a r a a públicas; e u m a terceira relacionada à
configuração de status e prestígio para os distribuição social dessas idéias e formas
membros d a rede.' 9 de pensar. S e g u n d o o autor, as Ciências
A idéia de fluxos culturais aparece Sociais, d e forma geral, tem pensado a
d e m a n e i r a clara n o trabalho d e U l f cultura privilegiando essa ordem para
Hannerz, t a m b é m u m a referência lidar c o m o c o n c e i t o de cultura. Ele
f u n d a m e n t a l q u a n d o se p e n s a e m propõe u m a inversão, indicando que, a
sociedade em rede. S e g u n d o H a n n e r z , s e u ver, o c a r á t e r d i s t r i b u t i v o d a s
18
EPSTEIN, A. L. "Gossip, norms and p a r t i l h a n d o d e p o n t o s d e v i s t a d e informações culturais é o mais relevante
social network". In: FELDMAN-BIANCO, F r e d e r i c k B a r t h , 2 0 as s o c i e d a d e s para entendermos c o m o a cultura é
op. cit„ p. 124. complexas não p o d e m ser percebidas a construída a partir das interações e c o m o
13 partir de u m a dicotomia entre a estrutura os fluxos são capazes de gerar as idéias e
No caso da "Babada Fluminense",
este me parece um aspecto bem rico social e a estrutura cultural, pois os fluxos formas de pensar. Portanto, seu interesse
para pensarmos a formação de uma d e informações e idéias, sua
recai sobre os fluxos e as estratégias de
rede de memória e história, como materiaiização e distribuição, são fatores
demonstrei em minha tese de o r d e n a d o r e s e r e o r d e n a d o r e s d a s gestão cultural ("cultural management"),
doutorado. Cl ENNE, 2002. p o r parte dos atores e agências sociais,
composições sociais, fazendo c o m que
d o q u e deve ser distribuído, em q u e
^Hannerzcita Barth em HANNERZ, Ulf. estas sejam marcadas p o r u m a constante contexto e a q u e m , pois o controle sobre
m o b i l i d a d e . S e g u n d o ele, a g r a n d e
Cultural Compíexity. Columbia University
tais i n f o r m a ç õ e s é garantia de poder,
Press, New York. 1992, pp.13- p r e o c u p a ç ã o d o s a t o r e s sociais
14.Também Barth, em "A Análise da envolvidos n a construção das sociedades prestígio, autoridade e, correlatamente,
Cultura nas Sociedades Complexas", f u n d a m e n t a l na configuração das
complexas diz respeito à administração
indica ter encontrado "ecos dessa identidades sociais. Nesse sentido, como
perspectiva no trabalho de Hannerz, desses fluxos de informação, q u e devem
agente f u n d a m e n t a l nesse processo, a
em suas explorações da antropologia ser materializados, tornados públicos e
urbana em termos de geração de distribuídos de acordo c o m as demandas m í d i a é u m poderoso instrumento para
significados partilhados". Ver BARTH, o controle d o q u e deve ser informado
dadas pelas interações sociais.
F "A análise da cultura nas sociedades plenamente, parcialmente ou totalmente
complexas". In: O guru, o iniciadore omitido.
outras variações antropológicas. "As actors and as networks of actors,
Organização de Tomke Lask. Rio de they are constandy inventing culture A s reflexões de Hannerz apontam
Janeiro, Contracapa, 2000, p. 127. or maintaining it, reflecting on it, para a questão central que permeia seu
21 experimenting with it, remembering texto: os fluxos culturais são fundamentais
HANNERZ, op. cit, p. 17.
it or forgetting it, arguing about it, n a construção de significados públicos
or passing it on. There are not only para diversas dimensões do social, dentre
static distribuitions o f factual elas, a memória. S u a definição de fluxo
knowledge but also different ways of nos parece de extrema relevância para este
doing things with meanings, likewise
trabalho:
unevenly spread out among people
and situations. We speak of common
sense and consciousness raising, of The cultural flow thus consists of the
experts and dilettants, of ritual, play, externalizations of meanings which
and critique, of fads and fashions. individuais p r o d u c e through
The covering terms I shift between, arrangements of overt forms, and the
in suggesting this processual view of interpretations which individuais
culture as activity, are 'the make of such displays — those of
management of meaning', or 'the others as well as their own. (...) More
management o f culture', or just precisaly, the flow occurs in time and
'cultural management'." 21 has directions. As a whole, it is

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endless; externalizations depend on conflitos e transformações devem ser
previous interpretations, depending vistos como inerentes e constitutivos
on previous externalizations. A n d the das relações, sendo fundamentais para
externalizations occurring now will as c o n f i g u r a ç õ e s e r e c o n f í g u r a ç õ e s
bring about interpretations which in
dessas sociedades, e não uma ameaça a
their turn lead to further
um padrão estático de cultura.
externalizations in the future. 2 2

E s s a d i v e r s i d a d e d e s c o n e x a (ao
A s s i m , as redes de i n t e r a ç ã o
menos aparentemente) de atividades
social que podem ser encontradas nas e a mistura do novo com o velho,
sociedades c o m p l e x a s são t a m b é m formando um cenário cultural
redes de interação cultural, e m que as sincrético, são características
trocas vão se dar em m o v i m e n t o s d e s c o n f o r t á v e i s c o m as q u a i s o
c o n t í n u o s entre atores sociais q u e antropólogo irá se defrontar em quase
estarão se relacionando em fronteiras todo lugar. S o m o s treinados a
suprimir os sinais de incoerência e de
fluidas, que tenderão a se reordenar de
multiculturalismo encontrados,
acordo com os contextos interativos.
t o m a n d o - o s c o m o a s p e c t o s não-
Nesse sentido, o trabalho de Frederick essenciais decorrentes da 21 Idem, p. 4.
B a r t h , j á c i t a d o de p a s s a g e m modernização, apesar de sabermos
23
anteriormente, se apresenta aqui como que não há cultura que não seja u m Ver BARTH, Fredrik. "Introdution". In:
fundamental. conglomerado resultante de Ethnic Groups and Boundaries: The
acréscimos diversificados. 24 social organization of cultural
Barth marcou uma ruptura nos difference. London, George Allen íi
estudos tradicionais acerca das relações Unwin, 1969.
interétnicas ao propor uma mudança Podemos então dizer que, para
24
no paradigma conceituai que indicava Barth, as práticas interativas são o motor BARTH, op. àt., 2000, p. 109.

que a manutenção dos limites étnicos da produção da cultura, fazendo com


seria uma coisa natural, resultante do que existam múltiplas possibilidades de
isolamento. Para Barth, é o contato, ao arranjos e negociações, dependendo do
c o n t r á r i o , q u e i m p õ e os l i m i t e s potencial de contatos e fronteiras que os
étnicos. Etnicidade seriai p o r t a n t o , agentes sociais envolvidos e m tais
resultado das interações. O s próprios processos p o d e m estabelecer. Nesse
atores, nessas interações, definiriam as sentido, seria impossível perceber a
fronteiras étnicas. A c u l t u r a seria, sociedade como uma unidade fechada,
então, u m a constante construção. É com suas características dadas, mas sim
fundamental a idéia de processo para c o m o um processo p e r m a n e n t e de
demonstrar como se dá interações sociais e culturais, em que estas
constantemente a construção das seriam constantemente construídas e
culturas. Os atores sociais delimitariam descònstruídas, obedecendo a demandas
as fronteiras sociais e seus critérios contextuais. Sua proposta metodológica
identificatórios pode ser resumida neste trecho:

A p r o p o s t a de B a r t h p a r a o
Abordar essa áspera cacofonia de vozes
estudo de g r u p o s étnicos d e f i n i d o s
autorizadas com a expectativa de que
t a m b é m p o d e ser a m p l i a d a para os
suas mensagens e ensinamentos sejam
estudos acerca de sociedades
coerentes, qualquer que seja o sentido
complexas, c o m o p r o p õ e o p r ó p r i o q u e se d ê a essa p a l a v r a , s e r i a
autor em um texto hoje consagrado. característico de u m a n t r o p ó l o g o
Ele critica as correntes antropológicas bastante dogmático. N ã o afirmo que
q u e se e s f o r ç a r a m p a r a m a p e a r os o que é dito e feito não siga padrão
padrões culturais das sociedades e se algum: apenas que devemos esperar
recusaram, c o n f o r m e sua crítica, a uma multiplicidade de padrões
perceber que as mudanças sociais não parciais, que interferem uns sobre os
outros, e se estabelecem em diferentes
são uma contradição em face de uma
graus nas diferentes localidades e nos
estrutura fechada, mas um indicativo
diferentes campos; e que devemos
de uma lógica processual, em que os

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Comunicação e Informação, V 7, n° 2: pág 264 - 273. - jul./dez. 2004.
duvidar de toda a afirmação de d o q u e estamos c h a m a n d o aqui de rede:
coerência, salvo quando tiver sido trata-se d e u m t i p o d e c o n f i g u r a ç ã o
devidamente demonstrada.25 social q u e não p o d e ser considerado u m
g r u p o o u agrupamento, por seu caráter
Assim, o trabalho do pesquisador fluido e pela ausência de u m a unidade
deveria ser o d e perceber a "estrutura entre os m e m b r o s , pois estes não estão
profunda", que se esconderia por sob u m a necessariamente todos em contato uns
estrutura m a i s visível, aparentemente c o m os outros, de f o r m a direta, em prol
padronizada. N a estrutura mais profunda d e u m objetivo c o m u m , c o m o n o caso
s e r i a p o s s í v e l p e r c e b e r as m ú l t i p l a s d e u m g r u p o ; as relações se dão através
correntes de tradições culturais (streams) d e links e n t r e o s a g e n t e s , de f o r m a
que formariam o que o autor está interpessoal, marcados por u m fluxo de
chamando de pluralismo cultural. Essas informações, bens e serviços, que irão
culturas deveriam ser percebidas c o m o resultar em processos d e interação cujas
campos de discurso, com algum grau de f r o n t e i r a s n ã o s ã o e s t á t i c a s , m a s se
coerência, q u e iriam se constituir e se encontram e m permanente construção
reproduzir de fôrmas diversas, mas estariam e desconstrução. Nesse sentido, torna-
25
Idem, p. 120. em constante processo de interação, com se fundamental a conceituação de díades,
26 possibilidades de misturarem-se. Assim, c o m o proposto por Carl Landé. Segundo
Idem, p. 126-127.
ele, "a dyadic relationship, in its social
27
BARTH, op. cit, 2000, pp. 128-129. Devemos abordar as várias correntes science sense, is a direct relationship
que identificarmos, tomando cada involving s o m e form of interaction
2!
"A network is made up of pairs of uma delas como universo de discurso, between two individuais". 2 9 Assim, as
persons who interact with one another e: (i) caracterizar seus padrões mais
in terms of social categories, and who relações diádicas estariam na base dos
destacados; (ii) mostrar como ela se
regard each other therefore as grupos não-corporados e,
produz e reproduz, e como mantém
approximate social equals, ignoring in principalmente, das redes sociais, q u e
suas fronteiras; (iii) ao fazê-lo,
this context the slight differences in p o r ele s e r i a m d e f i n i d a s d a seguinte
social status there may be between descobrir o que permite que haja
them. Since it is essentialfy 'personal' coerência (...). Devemos também forma:
the network allows of many different identificar os processos sociais pelos
configurations, and these in turn may quais essas correntes se misturam, Larger and more inclusive than
provide the basis for a typology of ocasionando por vezes interferências, dyadic relationship or dyadic non-
networks". Epstein, distorções e mesmo fusões. 26 corporate groups, are social networks.
o p A , $ . 110. Networks have been defined as
25 E m sua busca por reconceitualizar 'matrices of social links' or as 'social
LANDÉ, op. A, p. xiii.
a cultura, Barth propõe u m conjunto de fields m a d e up o f relationship
between people'. They include ali
asserções q u e devem orientar o trabalho
individuais who find themselves in a
d o pesquisador: 1) " O significado é uma
given field, and who are within direct
relação entre u m a configuração ou signo or indirect contact reach of each
e u m observador, e não a l g u m a coisa other. That is to say, they include ali
sacramentada em u m a expressão cultural individuais who are connected
particular"; 2) " E m relação à população, directly with at least one other
a cultura é distributiva; compartilhada member of network.30
p o r alguns e não p o r outros"; 3) " O s
atores estão (sempre e essencialmente) A conceituação de díades proposta
posicionados."', 4) "Eventos são o por Landé foi explorada por Marcos
resultado d o j o g o entre a causalidade Otávio Bezerra e m sua dissertação sobre
material e a interação social, e corrupção e política no Brasil. Assim, ele
conseqüentemente sempre se distanciam irá indicar q u e as relações diádicas "são
das intenções d o s atores individuais." 2 7 concebidas c o m o a menor estrutura, visto
Antes, porém, para fecharmos esta que por definição envolvem somente duas
reflexão, p o d e m o s utilizar o conceito de pessoas". 3 1 U m a rede social, portanto,
rede proposto por Epstein 2 8 , juntamente seria u m a estrutura maior, composta por
c o m os p o n t o s abordados até aqui, para u m a série de relações diádicas, o u seja,
apresentar algumas idéias centrais acerca seria formada "por todas aquelas pessoas

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que estão ligadas umas às outras direta apresentamos essas questões aqui mais
ou indiretamente". como referências potenciais do que como
modificações de fato, já que, como nos
lembra Z. Bauman, "turistas" e
" v a g a b u n d o s " movem-se (ou n ã o
Globalização: redes mundiais de
c o n s e g u e m se m o v e r ) d e f o r m a s
socialização diferenciadas dentro desse modelo de
sociedade sem fronteiras que se apresenta
A partir desse esforço conceituai, como a nova ordem mundial. Portanto,
podemos fazer algumas observações para sabemos que o mesmo modelo que gera
concluir este artigo e propor algumas inclusão também é p r o f u n d a m e n t e
reflexões sobre a idéia de rede associada gerador de exclusões, O que nos interessa,
às s o c i e d a d e s c o n t e m p o r â n e a s , e m no e n t a n t o , é l e v a n t a r a q u i q u e
especial nos estudos de Comunicação. características, ao menos potencialmente,
E m p r i m e i r o lugar, c o n f o r m e são evidenciadas nas sociedades
p o d e m o s perceber pelas diversas contemporâneas para q u e elas sejam
conceituações apresentadas, redes podem classificadas como sociedades em rede.
ser pensadas em sentidos diversos: ou U m a dessas características, c o m o 30
LANDÉ, op. at, p. xxxiii.
como sistema de integração entre indicamos, é a possibilidade de um maior
pessoas, mediante práticas de interação, fluxo de pessoas por meio de sistemas de " BEZERRA, Marcos Otávio. Corrupção
em um sentido mais social; ou como u m transporte e telecomunicação mais Um estudo sobre poder público e
sistema de troca de mercadorias e bens relações pessoais no Brasil. Rio de
abrangentes.
Janeiro, Reiume-Dumará, ANPOCS,
m a t e r i a i s , em u m s e n t i d o m a i s
D a mesma forma, como explica N . 1995, p. 38.
e c o n ô m i c o ; ou c o m o trocas de
Canclini, as práticas comerciais da nova
informações e bens simbólicos, em u m
ordem mundial substituem a tradicional
sentido mais cultural.
d i s t i n ç ã o entre p r ó p r i o e alheio. A
Q u a n d o v a m o s pensar, c o m o proliferação de produtos importados nas
propôs, por exemplo, M . Castells, as prateleiras indica, ao menos em tese, a
sociedades contemporâneas como possibilidade cada vez mais acentuada de
sociedades em rede, é preciso levar em trocas de bens materiais e mercadorias em
consideração todos os sentidos propostos e s c a l a p l a n e t á r i a . N o v a m e n t e , as
acima. A globalização traz, c o m o u m dos facilitações no campo dos transportes e
seus efeitos mais perceptíveis, a das telecomunicações (permitindo, por
p o s s i b i l i d a d e d e se estabelecer exemplo, maior rapidez n o envio de
explicitamente sistemas d e interação mercadorias de lugares distantes tanto
social em rede, em que sujeitos, através quanto no próprio poder do consumidor
de links, participam de trocas econômicas de agilizar suas compras internacionais
e culturais em amplas escalas, que p o r m e i o d a Internet) t a m b é m s ã o
extrapolam limites espaciais e temporais fundamentais para a compreensão do que
antes rígidos. se entende como uma sociedade em rede.
As transformações tecnológicas no Por f i m , a t r a n s m i s s ã o d e
campo do transporte e das telecomunicações informações e bens simbólicos (desde o
evidenciam uma alteração nas possibilidades dinheiro volatizado nas bolsas de valores
reais de interação social, atuando como um i n t e g r a d a s a t é os s i s t e m a s de
facilitador nas trocas interpessoais, ao vivo comunicação digitalizados que atuam no
ou virtualmente, on-line ou com intervalos m u n d o inteiro) aponta claramente para
temporais. D a mesma forma, a a efetivação de um fluxo de comunicação
implantação de sistemas d e mercado em rede de proporções inéditas. Este
integrados e a produção de cidadanias ú l t i m o a s p e c t o , inclusive, tem s i d o
extraterritoriais, c o m o no caso europeu, objeto reflexivo de inúmeros trabalhos
também atuam c o m o agilizadores para no campo da comunicação nas últimas
promover u m a maior mobilidade dos décadas, motivando inúmeras discussões
sujeitos contemporâneos para além de acerca d a relação entre o global e o local
seus locais de o r i g e m . O b v i a m e n t e , no campo da cultura.

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N ã o há dúvida, portanto, de que Abstract:
a idéia de uma sociedade em rede, a partir
das transformações citadas acima, é T h e propose of this article is to
pertinente e adequada aos novos estudos indicate some ô f the main reflections on
sobre as sociedades contemporâneas. the network concept, much used in the
M a s , e m u m m i s t o de conclusão e analyses on the contemporaries societies.
inquietação, colocamos aqui duas T h e concept is presented in its relation
ordens de problemas que nos parecem with the flows o f good and information.
i m p o r t a n t e s de serem l e v a d a s em Key words: network; information
consideração e que, no entanto, têm flow; contemporaries societies
sido relegadas de uma forma geral.
E m primeiro lugar, gostaríamos
de chamar a atenção para a necessidade
Bibliografia
de r e f i n a r o c o n c e i t o d e rede^
procurando buscar suas matrizes antes
de usá-lo aleatoriamente. C o m o vimos B A R N E S , J.A. "Class and Committees
no texto aqui apresentado, trata-se de in a Norwegian Island Parish". Human
um conceito polissêmico, com sentidos Relations, n ° 7, 1964.
diversos. N o entanto, ele vem sendo . "Redes sociais e processo
t r a t a d o c o m o d a d o , sem q u a l q u e r político". In: F E L D M A N - B I A N C O ,
esforço de localizá-lo historicamente e Bela (org.). Antropologia das Sociedades
mesmo de conceituá-lo minimamente. Contemporâneas. São Paulo, Global,
Há, portanto, em nossa compreensão, 1987.
um uso generalizante do conceito que B A R T H , F. "A análise da cultura nas
só tende a esvaziá-lo, em detrimento de sociedades complexas". In: LASK, Tomke
sua riqueza e adequação. (org.). Oguru, o iniciador e outras variações
E m segundo lugar, exatamente antropológicas. R i o de J a n e i r o ,
pela ausência de um esforço de Contracapa, 2000.
historicização, percebemos uma . "Introdution". In: BARTH,
tendência a considerar que o conceito F. (org.) Ethnic Groups and Boundaries:
d e rede seria a d e q u a d o somente às The social organization of cultural
sociedades contemporâneas difference. L o n d o n , George Allen &
globalizadas. C o m o vimos no breve Unwin, 1969.
levantamento aqui apresentado, o B A U M A N , Z . Globalização, as
conceito é a d e q u a d o para qualquer
conseqüências humanas. RJ, Jorge Zahar,
sociedade. O que poderíamos destacar,
1999.
no caso contemporâneo, em face d o
B E Z E R R A , Marcos Otávio. Corrupção.
processo de globalização, é a expansão
da rede, sua potencialização ampliada e Um estudo sobre poder público e relações
sua explicitação. Nesse sentido, o pessoais no Brasil. Rio de Janeiro, Relume-
conceito nos parece multo pertinente, Dumará, A N P O C S , 1995.
p o i s trata-se, s e m d ú v i d a , de u m a B O L T A N S K Y , L u c . Les cadres, la
conjuntura histórica em que os sentidos formation d'un groupe social. Paris, Les
p r o p o s t o s p a r a o conceito de rede Editions de Minuit, Í 9 8 2 .
(interação entre indivíduos, troca de B O T T , Elisabeth. Família e rede social.
mercadorias e fluxo de informações) RJ, Francisco Alves, 1976.
estão evidenciados e acabam ocupando C A S T E L L S , M a n u e l . A Era da
u m l u g a r c e n t r a l na c o n f i g u r a ç ã o Informação: Economia, Sociedade e
cultural, política, econômica e social. Cultura. O poder da Identidade. Volume
Mas é preciso cuidado para não cairmos 2. São Paulo, Paz e Terra, 1992.
em um reducionismo histórico, C A N C L I N I , Nestor. Consumidores e
negando o quanto as questões que hoje
Cidadãos. Rio de Janeiro, Ed. U F R J ,
n o s i n q u i e t a m fazem parte d e u m
1997.
processo de longa duração.

Ana Lúcia S, Enne. Conceito de rede eas sociedades contemporâneas


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