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Resumo
A proposta deste artigo é mapear algumas das principais abordagens referentes ao conceito de rede,
muito utilizado nas reflexões sobre as sociedades contemporâneas. 0 conceito é apresentado em sua
relação com osfluxosde bens e informações, a partir das práticas de interação social.
Palavras-chave: rede; fluxo de informação; sociedades contemporâneas
Introdução
' BARNES, 1: A. "Redes sociais e L u g a r c o m u m nas análises d a comunidade da Noruega, 2 e que, segundo
processo político". In: FELDMAN- sociedade contemporânea, o conceito de o autor, teria padecido de uma falta de
BIANCO, Bela (Org.). Antropologia das rede tem sido muito empregado para definição conceituai geradora de
Sociedades Contemporâneas. São definir as novas formas de socialização e
interpretações confusas por parte de alguns
Paulo, Global, 1987.
fluxo informacional dentro da chamada leitores/pesquisadores. Assim, ele vai tentar
rífsse trabalho é citado pelo próprio o r d e m g l o b a l i z a d a . N o e n t a n t o , tal indicar que a idéia de rede utilizada em seu
Barnes, no texto já citado. A referência conceito vem sendo trabalhado de formas trabalho está, antes de tudo, pensada como
é: BARNES, J.A. "Class and Committees distintas dentro das Ciências Sociais, em socialmente composta por indivíduos que
in a Norwegian Island Parish". Human especial n a A n t r o p o l o g i a e na
irão se articular a partir de interações, e
Re/ations, n° 7,1964.
C o m u n i c a ç ã o , e essa multiplicidade não por composições egocêntricas, como
3
MAYER, Adrian. "A importância dos conceituai nem sempre é levada em conta. irão propor outros. A rede com a qual
'quase-grupos' no estudo das A proposta deste artigo é mapear algumas trabalharia seria, portanto, a rede social totaL
sociedades complexas". In: FELDMAN- das principais abordagens referentes a essa O que Barnes se propôs a fazer - e
BIANCO, op. cit., 1987, p. 129. 0 categoria, p r o c u r a n d o dar conta das
nesse s e n t i d o é percebido c o m o u m
trabalho de FIRTH a que ele se refere
possibilidades teóricas geradas por esse precursor no uso do conceito de rede para
é "Social Organization & Social
Change", iournal of the Royal conceito para descrever determinados tipos pensar a n a l i t i c a m e n t e determinados
Anthopological Institute, n°84,1954. de relações sociais. contextos sociais em que a idéia de grupo
Sobre o papel de Raddiffe-Brown como não pareceria adequada — é transpor o
pioneiro no uso do termo rede para
pensar relações sociais, ver também Redes como sistemas de interação social conceito simbólico de rede, como utilizado
BOTT, Elizabeth. Família e Rede Social. primeiramente por Radcliffe-Brown, para
Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1976, usá-lo analiticamente, como instrumento
p. 294 O conceito de rede é pensado,
metodológico de compreensão de relações
muitas vezes, como um tipo de sistema de
sociais entre indivíduos. Assim, Radcliffe-
inter-relação social diferente Ao grupo, por
Brown teria pensado o conceito de rede
diversas características. O s autores que
como u m a simbologia para entender a
agora apresentaremos, considerados
estrutura social. Rede estaria, dessa forma,
clássicos nas Ciências Sociais por suas
ligada a situações de permanência, e não a
propostas de teorização do conceito, vão
articulações temporárias. Segundo explica
desfilar tais características e, mesmo com
Mayer, citando Firth, "Radcliffe-Brown
alguns pontos divergentes, irão convergir
usou a noção de rede para expressar de
no principal aspecto definidor do que seria
m o d o impressionista "o que sentia ao
uma rede: sua capacidade de articulação e
descrever metaforicamente o que via",
rearticulação permaíiente.
cabendo a Barnes dar ao termo u m a
N a década de 60, J . A. Barnes, em
definição mais precisa". 3
seu artigo " R e d e s sociais e processo
político", 1 procura ampliar as explicações Barnes prefere falar de dois tipos de
acerca do conceito de redejí utilizado por rede: "redes sociais totais" e "redes sociais
ele em um trabalho anterior sobre uma parciais". Sobre as primeiras, ele afirma:
E s s a d i v e r s i d a d e d e s c o n e x a (ao
A s s i m , as redes de i n t e r a ç ã o
menos aparentemente) de atividades
social que podem ser encontradas nas e a mistura do novo com o velho,
sociedades c o m p l e x a s são t a m b é m formando um cenário cultural
redes de interação cultural, e m que as sincrético, são características
trocas vão se dar em m o v i m e n t o s d e s c o n f o r t á v e i s c o m as q u a i s o
c o n t í n u o s entre atores sociais q u e antropólogo irá se defrontar em quase
estarão se relacionando em fronteiras todo lugar. S o m o s treinados a
suprimir os sinais de incoerência e de
fluidas, que tenderão a se reordenar de
multiculturalismo encontrados,
acordo com os contextos interativos.
t o m a n d o - o s c o m o a s p e c t o s não-
Nesse sentido, o trabalho de Frederick essenciais decorrentes da 21 Idem, p. 4.
B a r t h , j á c i t a d o de p a s s a g e m modernização, apesar de sabermos
23
anteriormente, se apresenta aqui como que não há cultura que não seja u m Ver BARTH, Fredrik. "Introdution". In:
fundamental. conglomerado resultante de Ethnic Groups and Boundaries: The
acréscimos diversificados. 24 social organization of cultural
Barth marcou uma ruptura nos difference. London, George Allen íi
estudos tradicionais acerca das relações Unwin, 1969.
interétnicas ao propor uma mudança Podemos então dizer que, para
24
no paradigma conceituai que indicava Barth, as práticas interativas são o motor BARTH, op. àt., 2000, p. 109.
A p r o p o s t a de B a r t h p a r a o
Abordar essa áspera cacofonia de vozes
estudo de g r u p o s étnicos d e f i n i d o s
autorizadas com a expectativa de que
t a m b é m p o d e ser a m p l i a d a para os
suas mensagens e ensinamentos sejam
estudos acerca de sociedades
coerentes, qualquer que seja o sentido
complexas, c o m o p r o p õ e o p r ó p r i o q u e se d ê a essa p a l a v r a , s e r i a
autor em um texto hoje consagrado. característico de u m a n t r o p ó l o g o
Ele critica as correntes antropológicas bastante dogmático. N ã o afirmo que
q u e se e s f o r ç a r a m p a r a m a p e a r os o que é dito e feito não siga padrão
padrões culturais das sociedades e se algum: apenas que devemos esperar
recusaram, c o n f o r m e sua crítica, a uma multiplicidade de padrões
perceber que as mudanças sociais não parciais, que interferem uns sobre os
outros, e se estabelecem em diferentes
são uma contradição em face de uma
graus nas diferentes localidades e nos
estrutura fechada, mas um indicativo
diferentes campos; e que devemos
de uma lógica processual, em que os