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DOI: 10.1590/1413-81232018236.

09022018 1937

Assistência Farmacêutica nos 30 anos do SUS

ARTIGO ARTICLE
na perspectiva da integralidade

Pharmaceutical Services and comprehensiveness


30 years after the advent of Brazil’s Unified Health System

Jorge Antonio Zepeda Bermudez 1


Angela Esher 1
Claudia Garcia Serpa Osorio-de-Castro 1
Daniela Moulin Maciel de Vasconcelos 1
Gabriela Costa Chaves 1
Maria Auxiliadora Oliveira 1
Rondineli Mendes da Silva 1
Vera Lucia Luiza 1

Abstract This article examines pharmaceutical Resumo Os autores analisam a Assistência


services and access to essential medicinesin Bra- Farmacêutica (AF) e o acesso a medicamentos
zilduring the 30 years since the advent of Brazil’s no Brasil na perspectiva do princípio da inte-
Unified Health System from acomprehensiveness gralidade nos 30 anos do SUS. A partir da sua
perspective. The following topics are addressed: inclusão no movimento de reforma sanitária,
the “realignment” of pharmaceutical services; foram selecionados temas relevantes, incluindo a
human resources in pharmaceutical services; the reorientação da AF, a questão de recursos huma-
essential medicines concept;the rational use of nos, o conceito de medicamentos essenciais, o uso
medicines; technological advances and drug ma- apropriado de medicamentos, o desenvolvimen-
nufacturing;and ethical regulation. With a strong to tecnológico e a produção industrial e a regula-
regulatory focus and a structural framework cen- ção ética. Com fortes componentes regulatórios e
tered on the National Medicines Policy, the past tendo a política nacional de medicamentos como
three decades represent a mixture of progress and eixo estruturante, as três décadas do SUS são
setbacks, considering the national complexities of confrontadas entre avanços e retrocessos, consi-
the healthcare system and the political, economic
derando a complexidade nacional, as mudanças
and social changes that have influenced policy
políticas, econômicas e sociais que impactaram
and access to medicines, which isa key concern
políticas públicas e o acesso a medicamentos,
even in the world’s richest countries, as the forums
tema que hoje mostra sua importância mesmo
of discussion on global health have demonstra-
nas economias mais ricas do mundo, a partir de
ted. We show that major steps forward have been
taken, highlighting that the recent fiscal austerity foros de discussão relacionados com Saúde Glo-
measures imposed by the government threaten to bal. As conquistas ao longo do tempo são desta-
seriously undermine social progress. cadas, considerando a preocupação decorrente
Keywords Pharmaceutical services; National do regime fiscal que compromete as áreas sociais.
Medicines Policy; Essential Medicines; Compre- Palavras-chave Assistência Farmacêutica, Po-
1
Departamento de Política
de Medicamentos e hensiveness in Healthcare; Unified Health System lítica Nacional de Medicamentos, Medicamen-
Assistência Farmacêutica, tos Essenciais, Integralidade em Saúde, Sistema
Escola Nacional de Saúde Único de Saúde
Pública Sergio Arouca,
Fiocruz. R. Leopoldo
Bulhões 1480, Manguinhos.
21041-210 Rio de Janeiro
RJ Brasil.
jorge.bermudez@fiocruz.br
1938
Bermudez JAZ et al.

Introdução assegurar o acesso a tecnologias em saúde, diver-


sos dos quais serão discutidos neste trabalho4.
Ao olharmos para um Brasil contemporâneo, Comissões de inquérito, Decretos e Leis, reo-
conquistas sociais relevantes colocadas em risco, rientação das políticas públicas, propostas tecno-
é importante voltar para 1988 e lembrar o que lógicas não conseguiram ecoar na ideia de uma
significaram estes 30 anos da nossa Constituição indústria farmacêutica estatal, que receberia a
Cidadã, do SUS e do direito à saúde com acesso denominação de Farmoquímica Brasileira S.A
universal. A transição entre os 20 anos de regime (Farmobras S.A), que vinha sendo objeto de dis-
militar e a volta da democracia ensejou a organi- cussão ainda no regime militar. Entretanto, uma
zação de um movimento progressista, suprapar- série de propostas e iniciativas impactaram de
tidário, denominado de Reforma Sanitária e que maneira definitiva a AF no SUS, ao longo de três
pensou e idealizou a construção de um país justo, décadas.
equânime e com justiça social1.
Nesse movimento, a Assistência Farmacêuti- Reorientação da assistência farmacêutica –
ca (AF) foi incluída e viveu alterações profundas o paradigma da integralidade
ao longo dos últimos trinta anos que pretende-
mos percorrer neste artigo (Quadro 1). É nesse Essa Diretriz aglutinou elementos estratégi-
contexto, e com marcos principais, que preten- cos e estruturantes para consolidação do SUS.
demos discutir temas selecionados, tendo como Como nominado, na forma de “reorientação”,
eixo a Política Nacional de Medicamentos com isso já traz em si um significado inovador, para
suas diretrizes e prioridades e destacando, entre “dar nova orientação ou novo sentido” ao proces-
os princípios do SUS, a integralidade. so iniciado e em evolução.
Em determinados momentos vamos nos re- A expressão “assistência farmacêutica”
ferir a AF e em outros ao acesso a medicamentos, cunhou-se em um contexto focal para o abaste-
considerando que são dois conceitos inseridos cimento de medicamentos. Embora o decreto5
nos princípios do SUS e, na agenda internacio- criador da Ceme contivesse o termo AF, não ha-
nal, que devemos também considerar como um via até a promulgação da PNM, uma clara defini-
diferencial importante ao longo do tempo. ção de seu escopo de ação, objetivos e o conjunto
Considerando as diretrizes da Organização de atividades que a compunha. Logo, a reorien-
Mundial da Saúde (OMS) em trabalhos anterio- tação da AF da PNM correspondeu a proposta
res, ressaltamos a importância das discussões para de construção concreta de AF integrada ao SUS.
influenciar e pautar os diferentes países na imple- Isso permitiria pavimentar o processo instalado
mentação das ações voltadas a assegurar o acesso de promoção de cidadania, coerente com os prin-
de suas populações aos medicamentos2,3. Na atu- cípios constitucionais do direito à saúde.
alidade e com ampla revisão da literatura, a OMS A Diretriz Reorientação da Assistência Far-
aponta uma série de desafios relacionados com macêutica foi construída numa perspectiva

Quadro 1. Eventos selecionados da assistência farmacêutica no Brasil segundo decênios. Brasil, 1988-2017.
Diretrizes* 1988-1997 1998-2007 2008-2017
Aspectos 1990: Publicada a Lei 1998, Portaria MS/GM 3916/98: 2011, Lei 12401/11 e
gerais Orgânica da Saúde Política Nacional de Medicamentos Decreto 7508/11: Alterações
8080/90, que define o (PNM). importantes na organização
compromisso público 2003: Realização da 1a Conferência do Sistema Único de Saúde
da garantia assistência Nacional de Medicamentos e - SUS, no planejamento
integral à saúde, Assistência Farmacêutica (CNAF). da saúde, na assistência
inclusive a farmacêutica. 2003/2004: Aplicação da avaliação da à saúde e na articulação
1997, Decreto 2283/97: situação farmacêutica com método inter-federativa em aspectos
Extinção da CEME, da OMS. diretamente atinentes à
responsável, até então, 2004, Resolução. CNS 338/04: assistência farmacêutica.
pelo abastecimento Publicada a Política Nacional de 2013-2014, Portaria MS/
de medicamentos do Assistência Farmacêutica (PNAF). GM 2077/12: Pesquisa
sistema público de 2005: Realizado Diagnóstico da Nacional de Acesso e Uso de
saúde. farmácia hospitalar no Brasil. medicamentos
1939

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transversal na PNM, produzindo impactos dire- retorno ao caráter centralizador do Ministério
tos no campo da saúde coletiva6. Destaca-se que da Saúde (MS) na provisão de medicamentos.
suas prioridades tomam por base o tripé forma- Trouxe à tona discussões sobre sua interlocução
do pela descentralização, financiamento e ações com o modelo público no SUS, traz dúvidas so-
logísticas7. Ademais, também norteou e reforçou bre sua ação complementar ou concorrencial,
o compromisso sanitário dos três níveis de gestão além dos seus maiores custos comparados em ce-
do SUS para com os elementos constituintes do nários públicos estudados11. Ainda, podemos ar-
campo da AF. guir em que medida esse modelo, com ênfase no
As características inerentes à Diretriz em sua consumo de medicamentos como promotor de
constituição histórica, ao longo dos três decê- acesso a medicamentos, dialoga com os nexos da
nios, refletem o cenário social e político brasi- integralidade, quando não se identifica no PFPB
leiro, reproduzindo o desenvolvimento sanitário ações de indução ao uso apropriado, acompa-
presente nestes intervalos (Quadro 2). nhamento farmacoterapêutico, etc.11.
Nos 10 primeiros anos do SUS, a AF foi ca- Por fim, o último decênio de 2008 aos dias
racterizada pela transição entre a extinção da atuais traz antigos e novos desafios. O fortaleci-
Ceme e a vigência da PNM. Nessa trajetória ini- mento no modelo de atenção primária, pela ex-
cial reimprimiu-se o Programa Farmácia Básica, pansão da Estratégia do Saúde da Família intro-
marcado pelo envio de kits de medicamentos a duziu, via Núcleos de Apoio à Saúde da Família,
municípios pequenos. Isso ainda refletia o cará- ações relativas à organização das atividades de
ter centralizador, com problemas e críticas seme- AF. Isso permitiu integração dos farmacêuticos
lhantes ao que antes havia verificado no período com os demais profissionais de saúde, com pos-
da Ceme8. sibilidade de ações, dentre outras, como as volta-
Entre 1998 e 2007, identifica-se princípios das ao uso apropriado de medicamentos, como
coerentes com o SUS, com foco na organização exemplo do cuidado integral, um valor do SUS.
da AF pautada na descentralização e na busca de Outros pontos recentes remetem aos riscos
recursos para acesso a medicamentos. Alterações de comprometimento ao funcionamento do
nas modalidades licitatórias e sistemas de aquisi- SUS, como as medidas de congelamento dos gas-
ção eficientes foram introduzidos, o que impelia tos públicos, que certamente contrapõem a ga-
os entes subnacionais ao desafio de fortalecer sua rantia do direito à saúde12.
capacidade de gestão e de planejamento. A extinção dos blocos de financiamento sem
Ainda no período, dois momentos centrais aumento nos recursos pode trazer fragilização
se destacaram. O primeiro, na recomposição do de áreas internas ao sistema público de saúde
financiamento do SUS, dividido em blocos, que que competirão entre si por recursos, como a
permitiu à AF um novo status com um bloco AF. Esses fatos atuais não permitem ainda ava-
particular. Isso não trouxe grande expansão nos liar seus reais impactos. No entanto, propomos
recursos para a AF, pois dados mais recentes dos alguns questionamentos: (1) qual será o papel
gastos do governo federal, entre 2010 e 2016, do MS como regulador, formulador e indutor de
mostraram crescimento médio de 21%, quando políticas públicas? (2) como ficará a situação de
somados os três componentes de dispensação do municípios brasileiros x sua capacidade de gestão
bloco9, onde o Componente Básico foi o único e de financiamento? (3) em que medida a capa-
que sofreu queda. cidade instalada com densidade tecnológica po-
Outra característica se refere à fragmentação derá drenar recursos de outros setores? (4) como
no cuidado com base na organização de serviços lidar com as diferenças regionais tão marcantes
farmacêuticos segundo os três componentes de no cenário brasileiro?
dispensação de medicamentos. Os modelos de No cenário histórico após 30 anos do SUS e
organização e gestão dos serviços, com foco no 20 anos da PNM, a AF historicamente se consti-
produto e não no serviço ao paciente, dificultam tuiu como uma área de suprimentos e logística,
a introdução do cuidado ao usuário e que, cer- voltada ao apoio das ações e serviços de saúde,
tamente, compromete a integralidade no SUS10. com baixa inserção às práticas sociais de cuidado
O segundo evento foi a introdução do Pro- e prestação de serviços farmacêuticos, dirigidas
grama Farmácia Popular do Brasil (PFPB), que ao uso correto de medicamentos. Isso remonta
ao longo de sua evolução passou por diversos aos desafios de se pensar que a Reorientação é
arranjos, tendo na sua parceria com o comércio um movimento contínuo, vivo e de transforma-
farmacêutico sua principal forma de consolida- ção positiva da realidade e não um fim na letra
ção e expansão. Esse modelo representou um fria da norma.
1940
Bermudez JAZ et al.

Quadro 2. Eventos selecionados relacionados a reorientação da assistência farmacêutica, desenvolvimento e capacitação de recursos
humanos no Brasil segundo decênios. Brasil, 1988-2018.
Diretrizes* Prioridades* 1988-1997 1998-2007 2008-2018
Reorientação Garantia de 1997: O 1999, Portaria MS/GM 176/99: É 2008, Portaria 154/2008: São
da assistência recursos pelas Programa iniciada a descentralização da AF. criados o Núcleos de Apoio
farmacêutica 3 esferas para Farmácia 2000, Decreto 3555/00 - O a Saúde da Família (NASF),
distribuição direta Básica busca Pregão, nova modalidade de onde são estabelecidas as Ações
ou descentralizada viabilizar licitação, é regulamentada a fim esperadas da AF.
Descentralização o acesso a de promover maior celeridade 2011: Estabelecida gratuidade
plena da aquisição medicamentos aos processos licitatórios, com para três grupos terapêuticos no
e distribuição de nos municípios importante impacto nas compras Programa Farmácia Popular, com
medicamentos de pequeno de medicamentos. o programa denominado Saúde
Financiamento porte no 2004, Portaria MS/GM 1651/04: Não Tem Preço.
específico para os período entre Criação do Programa Farmácia 2016: Aprovação da Emenda
medicamentos da a extinção da Popular do Brasil, com expansão Constitucional no 95 de
atenção básica CEME. para a Rede Privada em 2006. 15/12/2016, que trouxe o
Atenção especial 2006: Projeto nacional (Planejar congelamento de gastos.
aos medicamentos é Preciso) visava promover o 2017, Portaria MS/GM 3992/17:
de alto custo planejamento da AF no nível São estabelecidas profundas
municipal. alterações no financiamento
2007, Portaria MS/GM 204/07: São do SUS, incluindo a assistência
definidos blocos de financiamento farmacêutica, com a extinção dos
no SUS, e são estabelecidos três blocos.
blocos para os medicamentos, além
de financiamento de infraestrutura.
Desenvolvimento Treinamento 1999-2000: Realização de uma 2008, Portaria MS/GM 362/08:
e capacitação de de RH série de oficinas de treinamento Inclusão do curso de Farmácia
recursos humanos (gerenciamento de oferecidas pelo MS no país no Programa Pró-Saúde, cujo
sistemas de saúde para treinamento dos gestores objetivo é capacitar estudantes
e de informação; municipais de AF visando a e profissionais farmacêuticos
guias terapêuticos viabilização da descentralização a atender as necessidades
padronizados; da AF. da população brasileira e a
farmaco- 2001 a 2002: Cursos do operacionalizar o SUS. Para tal,
vigilância) Projeto Sentinela, iniciados foram aprovados incentivos
em 2002, com foco em gestão financeiros, dependentes de
da AF, farmacovigilância e aprovação, para projetos ligados
URM. Importante iniciativa a reestruturação física de serviços
paraconsolidação de uma rede de da rede pública e para capacitação.
hospitais sentinelas capacitados 2008: Vários cursos foram
para o gerenciamento de riscos a promovidos pelo DAF (Mestrado
saúde. Profissionalizante UFRGS,
2005: Criação do Mestrado Especialização em Gestão, curso
Profissional em Gestão da do Sistema Hórus na modalidade
Assistência Farmacêutica, através a distância, curso com simulação
de Termo de Cooperação entre realística em Farmácia Hospitalar)
DAF e Faculdade de Farmácia do 2012, Portaria MS/GM
Rio Grande do Sul, formação de 31 1214/12, : Criado programa
mestres de 2005 a 2007. para qualificação da assistência
2007, Portaria MS/GM 204/09: farmacêutica no Brasil, sendo a
É estabelecido que até 15% dos educação um de seus quatro eixos
recursos financeiros municipais, 2013: Curso de Aperfeiçoamento
estaduais e do Distrito Federal do em Atenção Básica/Primária à
Componente Básico da AF poderão Saúde – AB/APS, ofrecido para
ser utilizados para estruturação toda a America Latina.
e atividades ligadas a educação 2017, Resolução MEC 06/17:
continuada. Definidas pelo MEC as diretrizes
curriculares do curso de Farmácia.
1941

Ciência & Saúde Coletiva, 23(6):1937-1951, 2018


A amplitude de atividades e ações também portância e o esforço que o Ministério da Saú-
confere a AF caráter polissêmico, semelhante a de empregou, nas últimas duas décadas, após a
integralidade. Por isso é preciso conjugar ações publicação da PNM. No Quadro 2 verifica-se as
concretas nas práticas assistenciais dos profissio- diferentes iniciativas do Ministério da Saúde para
nais, na organização dos serviços farmacêuticos o fortalecimento da AF mediante capacitação dos
e nas respostas governamentais sensíveis às ne- recursos humanos envolvidos, principalmente os
cessidades de saúde, à perspectiva de defesa desse farmacêuticos19,20. Para profissionais médicos,
valor doutrinário9,13. destaca-se o Primeiro Curso Nacional sobre o
Ensino em Uso Racional de Medicamentos, reali-
Recursos humanos em assistência zado em 2002, com foco na prescrição médica. É
farmacêutica importante também frisar a realização de capaci-
tações locais e regionais.
Um dos fatores críticos para os sistemas e ser- Entretanto, em contraste com todo o esfor-
viços de saúde são os recursos humanos. É ne- ço supracitado, ainda persistem situações que
cessário que estejam disponíveis em quantidade precisam de atenção, estratégias e esforços para
e qualidade para operacionalizar as políticas de contorná-las. A concentração de farmacêuticos
saúde. Os guias da OMS e Organização Pan-A- nas capitais21, os serviços de farmácia com estru-
mericana da Saúde (OPAS) consideram os recur- tura inadequada e com falta de pessoal capaci-
sos humanos como um dos componentes chave tado22 e, muitas vezes, a dificuldade de priorizar
de uma PNM, levando em conta tanto o desen- a capacitação frente a demanda da presença do
volvimento quanto a gestão do trabalho14,15. farmacêutico no serviço, são situações presentes
A PNM brasileira tem como uma de suas di- e frequentes23. Ainda, há barreiras que não serão
retrizes o desenvolvimento de recursos humanos derrubadas apenas com esforços de capacitação.
visando a disposição dos mesmos em qualidade
e quantidade, chamando a responsabilidade para Medicamentos essenciais – eficácia,
os três entes federativos à provisão adequada e efetividade, qualidade e segurança
oportuna dos mesmos (Quadro 2). A atual po-
lítica cita a necessidade de capacitação em áreas A trajetória dos medicamentos essenciais
específicas como promoção do uso racional de (ME) no Brasil, de 1988 a 2018, pode se confi-
medicamentos, desenvolvimento tecnológico, as- gurar como uma aproximação da trajetória da
sistência farmacêutica e vigilância sanitária16. própria PNM (Quadro 3).
Azeredo16, quando estuda a implementação O princípio da integralidade teve evolução
da política, demonstra que a diretriz em ques- durante o período de construção do SUS. Nos
tão foi uma das poucas diretrizes com menos anos 1980-1990 a integralidade era vista como
normas publicadas, num contexto de esforços identificação e resposta a necessidades de saúde24.
de estabelecimento de normativas para as de- Sob esta égide observou-se a implementação do
mais diretrizes, com vistas à sua implementação. conceito dos ME como aqueles que satisfariam às
Como interpretações possíveis, o autor aponta a necessidades de saúde de uma população25, con-
baixa importância dada à diretriz e a dificulda- ceito que preponderou na PNM de 1998, com a
de de articulação com o Ministério da Educação adoção e revisão permanente da Relação Nacio-
para propor as mudanças necessárias16. A situa- nal de Medicamentos Essenciais (Rename).
ção parece melhorar com a criação da Secretaria Desde 1964 existia uma lista nacional de me-
de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, dicamentos e insumos. Durante a época da Ceme,
com a ampliação do programa Pró-Saúde para a Rename era a lista que fundamentava a escolha
a Assistência Farmacêutica, com a publicação da de medicamentos comprados e distribuídos de
Portaria Nº 2.981/200917, que estabelecia a utili- forma centralizada. Em 1996, já no escopo da ela-
zação de determinada porcentagem de recursos boração da PNM, nasceu a primeira lista de ME
financeiros do Componente Básico da AF, para do Brasil, baseada em evidências, dando início a
estruturação e atividades ligadas a educação con- um intenso processo de revisões consecutivas26.
tinuada e com o estabelecimento do programa A partir de 2002, a própria OMS passou a de-
Qualifar-SUS. Este último, com o objetivo de finir ME como aqueles orientados a dar respos-
promover educação permanente, oferece em seu ta às prioridades sanitárias de uma população27,
eixo educação cursos presenciais e a distância18. mostrando que os conceitos de ‘essencialidade’
Apesar do quadro exposto acima, pensan- e ‘prioridade’ se complementavam. No Brasil, a
do no decênio 1998 a 2007, vislumbra-se a im- condução da revisão da lista passou à Comissão
1942
Bermudez JAZ et al.

Quadro 3. Eventos selecionados relacionados a seleção e uso apropriado de medicamentos no Brasil segundo
decênios. Brasil, 1988-2018.
Diretrizes* Prioridades* 1988-1997 1998-2007 2008-2017
Adoção de Revisão 1997: Inicia-se 2002 e 2006: São 2009 a 2017: São publicadas cinco
relação de permanente a adoção do publicadas duas atualizações da RENAME e dois
medicamentos paradigma de atualizações da Formulários Terapêuticos Nacionais.
essenciais evidências, RENAME. 2011, Lei 12401/11: A
buscando 2006: Programa responsabilidade de atualização
modernizar Nacional de da RENAME é transferida da
o processo de Plantas Medicinais COMARE para a CONITEC, que
atualização da e Fitoterápicos, insere a RENAME no contexto da
RENAME. com a publicação incorporação de tecnologias em
da Rename Fito. saúde.
Promoção do Campanhas 1989: Publicação 2007, Portaria 2008, RDC ANVISA 96/08:
uso racional de educativas da 2 Ed. Do MS/GM 1555/07: Atualizadas normativas sobre
medicamentos Registro Memento Criado o Comitê propaganda, publicidade, informação
e uso de terapêutico da Nacional para e outras práticas cujo objetivo seja a
medicamentos CEME. a Promoção do divulgação ou promoção comercial
genéricos 1999, RDC Uso Racional de de medicamentos.
Formulário ANVISA 328/99: Medicamentos. 2009, RDC ANVISA 44/09:
terapêutico São estabelecidos 2001: Entrada Estabelecidas Boas Práticas
nacional pela ANVISA no Brasil no Farmacêuticas para o controle
Farmaco- requisitos para programa de sanitário do funcionamento, da
epidemiologia dispensação de Farmacovigilância dispensação e da comercialização de
e farmaco- produtos de da OMS. produtos e da prestação de serviços
vigilância interesse à saúde farmacêuticos em farmácias e
em farmácias e drogarias.
drogaria. 2009, RDC ANVISA 47/09:
Harmonização da forma e conteúdo
das bulas de medicamentos,
estabelecendo regras para sua
elaboração, atualização, publicação,
diferenciando bula para pacientes e
bula para profissionais de saúde.
2011, RDC Anvisa 20/11:
Estabelecidas normativas para
o controle da prescrição e
comercialização de antimicrobianos.

Multidisciplinar de Atualização da Relação Na- acessível – refletia a integralidade. Até 2006, duas
cional de Medicamentos Essenciais (COMARE), novas atualizações da lista foram realizadas26.
com regimento próprio, critérios explícitos de Nos anos 2000, teve início o descompasso
inclusão e exclusão de medicamentos28. O con- entre o conceito de ME e aquele regendo a lista
ceito de ME institucionalizou-se nos entes sub- nacional. Intensificaram-se as pressões para ino-
nacionais, calcados nas necessidades sanitárias e vação no âmbito do SUS. Com oferta e implanta-
adaptados às necessidades locais pela implemen- ção de novas tecnologias, objetivou-se conduzir
tação das Relações Municipais de ME (Remume) o usuário por níveis de atenção, de forma ‘regula-
e Estaduais (Resme). A construção da integralida- da’. As necessidades seriam atendidas, mas no in-
de passava pela efetivação de um sistema hierar- terior de linhas de cuidado, condutoras da oferta
quizado, no qual as escolhas locais e estaduais su- no sistema17. Ao mesmo tempo, a organização do
pririam, de forma complementar, as necessidades financiamento da AF passou a balizar a provi-
orientadas pela Rename. A noção de essencialida- são e exercer pressão sobre a seleção. A Rename
de – medicamento eficaz e seguro, efetivo no tra- tornou-se vulnerável à capacidade municipal de
tamento a que se destina, com qualidade, e custo abastecimento. Desde a descentralização da AF29
1943

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as fragilidades da gestão local já se faziam sen- mais uma lista de ME. Paradoxalmente, foram
tir. Portarias que atrelavam o financiamento do excluídos da lista todos os oncológicos e oftal-
medicamento à sua presença na Rename30 não mológicos. A integralidade, na ótica da lista na-
conseguiram impedir a aplicação da escolha ba- cional, passa a ser entendida como ‘tudo’38,39 pro-
seada em evidências, mas fragilizaram o processo vido pelos componentes de financiamento – com
hierarquizado que articulava listas locais e lista exclusão do financiado por APAC. Passou-se, as-
nacional27,31, tornando agudos o descompasso e a sim, para uma lista positiva do sistema, colocan-
fragmentação da provisão no SUS. do abaixo o conceito dos ME e da integralidade
Dificuldades na integralidade tornaram-se baseada em necessidade.
evidentes com a crescente judicialização para A partir de 2013, ocorre a flexibilização das
acesso a ME, a partir de 2007-2009. Antes, a judi- normas de registro, abreviando o tempo para que
cialização do acesso foi marco original e impor- um produto acesse o mercado brasileiro40, e nor-
tante para o atingimento do direito fundamen- mas regulando acesso expandido e uso compas-
tal à saúde32; a manutenção da fragmentação do sivo41. Esta tem sido uma tendência internacional
financiamento, entretanto, teve enorme impacto e é consequência da pressão por inovação e por
sobre a provisão, de sorte que uma área ‘cinzenta’ financiamento42, resultando em judicialização
não coberta pelo financiamento se ampliasse e crescente e em níveis sem paralelo, colocando em
impelisse o usuário a buscar a via judicial. risco a provisão pública. Em 2016, a provisão re-
De 2008 a 2010 foram feitas duas publicações gular de medicamentos no SUS, nos três níveis
importantes – o Formulário Terapêutico Nacio- de atenção, consumiu 13 bilhões de reais. A via
nal (FTN) – edições referentes à Rename de 2006 judicial, oito bilhões43.
e à Rename de 2008. O FTN é uma importante Os 20 anos que nos separam do lançamen-
estratégia complementar à lista de ME, pois ajuda to da PNM mostram avanços heterogêneos na
a pautar a prescrição e a dar concretude à melhor provisão pública de medicamentos: vemos ex-
escolha terapêutica, além de orientar os prescri- celente acesso em alguns nichos de agravos na
tores na sua formação para a boa prescrição. APS44, e enormes dificuldades para os usuários
A adoção do conceito de ME implica também na obtenção de medicamentos especializados9,45.
em ações regulatórias – como ‘limpeza’ do merca- No entanto, a revisão permanente da Rename e a
do - restrição a registro de medicamentos de valor adoção do conceito dos ME, vistas como estru-
terapêutico duvidoso31,33,34, treinamento de pres- turantes para a Política e como orientadoras da
critores para o uso racional, seguimento dos me- provisão e de todas as atividades de AF, ficaram
dicamentos introduzidos no mercado para coibir comprometidas no decorrer do tempo. Favore-
uso abusivo e mau uso, além de possibilitar exame cer a ideia de essencialidade é estratégico para o
da sua efetividade e da segurança no mundo real, SUS e absolutamente consoante com o princípio
entre outras. No entanto, o Brasil não tomou o da integralidade. Faz sentido, dentro da ideia de
caminho da restrição e do monitoramento do uso redes, como estratégia de superação da fragmen-
dos medicamentos. Houve, de fato, a introdução tação da atenção46.
dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas
a partir de 1997, cujo desenvolvimento se notabi- Uso Racional de Medicamentos
lizou a partir de 200233. Os protocolos são estraté-
gia crucial no estabelecimento de padrões aceitá- O uso racional de medicamentos tem sido
veis de uso, pois baseiam-se na melhor evidência. apontado, juntamente com o acesso a medica-
Ocorre que sua implantação se flexibilizou e sua mentos de qualidade, como objetivo central de
aplicação no SUS tem sido aquém do esperado35. uma política de medicamentos. A partir do mar-
Até 2012, a Rename teve seis versões revisa- co da Conferência de Nairobi47, se reconheceu
das (apenas as cinco primeiras publicadas), mas que os benefícios do acesso não se concretizam,
sofreu danos importantes com a publicação da ou mesmo perdem, se os medicamentos não fo-
Lei 12.40136, que passou à nova Comissão Na- rem usados de forma adequada.
cional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) Há uma tendência atual de adotar a designa-
a responsabilidade de incorporar as tecnologias ção de “uso apropriado de medicamentos” (UAM)
no SUS e de revisar e atualizar a Rename. A lista em lugar de “uso racional”, uma vez que o mal uso
publicada em 2012, produzida pelo MS a partir pode ser respaldado por racionalidades espúrias.
da compilação de todas as listas e fornecimento As estratégias de promoção do UAM têm sido
do SUS, passou a ser entendida como a lista de classificadas como regulatórias, gerenciais e edu-
todos os produtos financiados pelo SUS37, e não cacionais48. Os principais marcos relacionados
1944
Bermudez JAZ et al.

aos esforços de promoção do UAM no Brasil es- O avanço trazido por essas iniciativas tem
tão sumarizados no Quadro 3. sido controverso. No caso do controle de propa-
No Brasil, registram-se poucas ações para ganda, à época da consulta pública que resultou
promoção do UAM até o final dos anos 80. Tal- na normativa, houve um pronunciamento enfáti-
vez, das poucas ações de abrangência nacional, co de um grande grupo de pesquisadores, profis-
tenham sido as publicações dos mementos te- sionais e ativistas do UAM, com críticas ao docu-
rapêuticos da CEME, que traziam orientações mento, em especial a não adoção da fiscalização
quanto às características, uso e cuidados com os prévia. Argumentavam que, ainda que a infração
medicamentos da RENAME. O último memento fosse detectada posteriormente, o baixo valor das
da CEME foi publicado em 198949. multas faria com que o ganho recuperado com
Ao final da década de 90 surgem no Brasil as vendas promovidas pela circulação das peças,
algumas associações independentes de profis- ainda que num curto período, compensavam o
sionais ou consumidores visando promover o risco. De fato, estudos realizados evidenciaram
UAM, tendo sempre o medicamento como parte o baixo cumprimento da legislação em peças de
importante de sua pauta. Naquela época, se ini- propaganda de medicamentos tanto dirigida a
ciou também a parceria com organizações inter- profissionais quanto a usuários58,59.
nacionais, com representação em diferentes con- No caso dos serviços farmacêuticos, o Con-
tinentes. O Núcleo de Assistência Farmacêutica selho Federal de Farmácia se viu respaldado a
(NAF/ENSP/Fiocruz), criado em 1998, e Centro normatizar a prescrição farmacêutica60, tema
Colaborador da OPAS/OMS, embora declare sua sem consenso mesmo dentro da categoria far-
atuação focada em políticas farmacêuticas, tem macêutica61. Houve pela Anvisa esforços de for-
atuado em vários temas relevantes ao UAM. talecimento das ações quanto às bulas, como a
Tendo em vista que as estratégias regulatórias publicação do bulário eletrônico62.
constituem núcleo importante para promoção Finalmente, quanto aos antimicrobianos,
do UAM, o órgão regulador brasileiro sempre também se tem demonstrado incipiente reper-
teve papel importante no tema. Assim, na década cussão na redução do volume de consumo63.
1988-97 cabe destaque ao esforço da Anvisa na As ações de promoção do UAM estão forte-
instituição das Boas Práticas de Dispensação, ati- mente situadas no campo da promoção da saúde
vidade com impacto direto no UAM50. e prevenção de doenças, seja primária, secundá-
Na década 1998-2007, destaca-se a criação do ria, terciária ou quaternária, portanto bastante
Comitê Nacional para a Promoção do Uso Ra- imbricadas com o processo de cuidado em saúde.
cional de Medicamentos51 (com redefinições em Pode-se dizer, portanto, que atendem diretamen-
201352). Este comitê tem representação de várias te ao princípio da integralidade. São muitas as
instituições e tem desenvolvido ações como a or- dificuldades envolvidas, uma vez que têm grande
ganização de eventos, sendo o Congresso Brasi- repercussão no consumo de medicamentos, por-
leiro de Uso Racional de Medicamentos o princi- tanto nas vendas e na adoção das medidas que
pal deles, materiais educativos, recomendação de implicam em mudança de comportamento, tan-
ações regulatórias e campanhas. Na mesma déca- to por profissionais, gestores e consumidores.
da, o Brasil institui na ANVISA o Sistema Nacio-
nal de Farmacovigilância, iniciativa que contou Desenvolvimento tecnológico
com forte indução da Organização OPAS, além e produção industrial
de grupos nacionais que militavam pelo UAM53.
Um importante reconhecimento foi a inclusão A questão da dependência tecnológica do
do Brasil como 62o membro oficial do Programa Brasil no setor farmacêutico foi permanente ao
Internacional de Monitorização de Medicamen- longo do século XX e respondida em diferentes
tos53. momentos, considerando o país na condição de
Finalmente, a década 2008-2018 tem assisti- “periferia” de um setor industrial que se conso-
do um número maior de iniciativas, como a atua- lidou principalmente nos países europeus e Esta-
lização das normas de propaganda e publicidade dos Unidos, e cuja base dependeu do lançamento
em 200854, o estabelecimento das Boas Práticas de inovações no mercado e na expansão de suas
Farmacêuticas, onde inclui a prestação de servi- vendas64.
ços farmacêuticos em farmácias e drogarias55, a No início da década de 1970, o estímulo à
harmonização do conteúdo das bulas56 e as nor- produção nacional de medicamentos esteve rela-
mativas para o controle da prescrição/comercia- cionado às ações de AF. Com a constituição de
lização de antimicrobianos57. um mercado público, que possibilitou assegurar
1945

Ciência & Saúde Coletiva, 23(6):1937-1951, 2018


uma demanda constante, a Ceme adotou outros foi novamente inserida entre as opções de imple-
instrumentos de política industrial para incenti- mentação da medida, resultando num consórcio
var a produção pelo setor público e também o para a produção do insumo farmacêutico ativo
desenvolvimento de insumos farmacêuticos ati- (IFA), que resultou na disponibilização do gené-
vos (IFA) em território nacional65. A Ceme foi rico nacional do medicamento a partir de 2009
extinta em 1997 por não cumprir satisfatoria- e gerando economia considerável nos gastos pú-
mente nenhum de seus objetivos iniciais, além de blicos.
denúncias de irregularidades (Quadro 4)8. A partir de 2008, na terceira década do SUS, o
A primeira década de existência do SUS se Complexo Industrial da Saúde (CIS) foi inserido
encerra, portanto, com perspectivas de longo entre os eixos estratégicos do planejamento em
prazo, a partir da publicação, em 1998, da PNM. saúde do governo federal69, resultando na apro-
Aspectos relacionados à política industrial foram vação de uma série de normas que deram novos
reconhecidos, com diretrizes específicas para o contornos à política industrial, com ênfase nos
desenvolvimento Científico e Tecnológico (C&T) esforços de retomada da indústria farmoquímica
e a Promoção da Produção de Medicamentos16. nacional e fortalecimento dos LFO70. A partir de
Na primeira década do SUS, a tradução des- 2009, as Parcerias para Desenvolvimento Produ-
ses enunciados em iniciativas concretas voltadas tivo (PDP) foram estabelecidas como arranjos de
ao setor industrial nacional pode ser refletida transferência de tecnologia para fortalecer esses
tanto pela aprovação da Política de Genéricos dois segmentos, considerando produtos adquiri-
(Lei 9.787/99), que por meio de investimentos do dos pelo SUS enquanto perspectiva de demanda
BNDES estimulou o crescimento do setor nacio- constante, sem concorrência.
nal privado66, quanto pelo Projeto Guarda Chu- Em que pese a previsão de uma política in-
va, que assegurou financiamento aos LFO, prin- dustrial enquanto enunciado e priorização go-
cipalmente considerando a produção de medica- vernamental, diagnóstico recente dos LFO evi-
mentos antirretrovirais no contexto da epidemia dencia que aspectos da capacitação tecnológica e
de HIV/aids67. Lições importantes dessas experi- da capacidade em contribuir para o acesso a me-
ências sugerem um papel relevante dos LFO na dicamentos pouco avançaram neste segmento70,
realização de estimativas de custo de produção e sugerindo baixa condição em responder às vul-
de desenvolvimento estratégico de produtos sob nerabilidades da AF no SUS. A seleção de tecno-
monopólio, contribuindo nos esforços de nego- logias candidatas à produção local e ao desenvol-
ciação de preços entre o governo e as empresas vimento industrial deve ser considerada à luz da
transnacionais. integralidade, o que, neste caso, implica analisar a
A 1a Conferência Nacional de Medicamen- dinâmica do mercado e priorizar aquelas sob ris-
tos e AF buscou alinhar a AF a outras políticas co de desabastecimento; áreas de vazios terapêu-
no campo da produção industrial e da ciência e ticos; e produtos de alto custo, com a finalidade
tecnologia, reconhecidas na Política Nacional de de subsidiar a regulação de preços.
Assistência Farmacêutica (PNAF).
No que se refere à C&T, voltada ao setor saú- Regulação ética, pesquisa e medicamentos
de, entre os principais marcos está a Política Na-
cional de Ciência, Tecnologia e Inovação (PNC- O Sistema de Regulação de Ética em Pesquisa
TI), aprovada em 2004, na 2a Conferência Nacio- com medicamentos está estabelecido sob respon-
nal de Ciência e Tecnologia em Saúde e publicada sabilidade do Conselho Nacional de Saúde (CNS)
em 2008, que incorporou os princípios do mérito e conta com a participação do MS em algumas de
científico e relevância social68. suas funções71.
Já na segunda década de existência do SUS, A primeira resolução publicada para estabe-
a questão do desenvolvimento industrial ga- lecer normas para pesquisas na área de saúde no
nhou contornos para além do setor saúde, com Brasil foi a Resolução CNS 01/88 (Quadro 5). A
a aprovação da Política Industrial, Tecnológica pouca adesão desejada entre os membros da co-
e do Comércio Exterior (PITCE), que incluiu o munidade científica deu origem à necessidade de
setor farmacêutico entre suas áreas e visou a re- se elaborar um novo documento mais detalhado
dução da vulnerabilidade nacional, caracterizada na abordagem dos aspectos éticos requeridos na
por dependência externa nas áreas intensivas em realização de pesquisas. Em 1995, foi criada uma
tecnologia. comissão liderada pelo CNS para elaboração
Em 2007, com o licenciamento compulsório de uma nova resolução, publicada em 199672,73.
das patentes do ARV efavirenz, a produção local A Resolução 196/96 atualizou diretrizes e esta-
1946
Bermudez JAZ et al.

Quadro 4. Eventos selecionados relacionados ao desenvolvimento científico e tecnológico e Promoção da produção de medicamentos
no Brasil segundo decênios. Brasil, 1988-2018.
Diretrizes* Prioridades* 1988-1997 1998-2007 2008-2018
Desenvolvimento - 1996, Lei 2000: Criado projeto (INOVAR) 2009, Portaria MS/GM 2690/09
científico e 9279/96: com financiamento da FINEP - Política nacional de gestão de
tecnológico Aprovada visando impulsionar a criação e tecnologias em saúde.
nova lei de o desenvolvimento de empresas 2015, Lei 13123/15: Atualização da
Propriedade de base tecnológica, incluindo as legislação sobre acesso a patrimônio
Industrial no Farmacêuticas, através da promoção genético, que ganha maior escopo
Brasil, que de investimentos em capital de risco. de atuação e simplificação de
define direitos 2003 – 2006: Instalado o Fórum de procedimentos. Institui o Sistema
e obrigações competividade da cadeia produtiva Nacional de Gestão do Patrimônio
relativos à farmacêutica como objetivo principal Genético e do Conhecimento
propriedade de fortalecer a cadeia produtiva Tradicional Associado – SISGEN.
industrial. farmacêutica nacional. 2017, Decreto 9245/17: Instituída
A mesma 2004: Lançada as Diretrizes da política nacional de inovação
apresenta Política Industrial, Tecnológica e tecnológica na saúde.
diferenças do Comércio Exterior (PITCE),
marcantes que enfatizam o enfrentamento da
comparada a vulnerabilidade externa com foco em
lei anterior, setores intensivos em tecnologia como
visando o farmacêutico e o farmoquímico,
atender as buscando o aumento da eficiência
exigências do da produção nacional, aumento da
Acordo Trips. capacidade inovativa e expansão das
exportações.
2004, Lei 10973/04 Normatizados
incentivos ao estímulo a inovação e
à pesquisa tecnológica em ambiente
produtivo, com ênfase a Instituição
Científica, Tecnológica e de Inovação
no processo de inovação e na parceria
com empresas.
2005, Edital CNPQ 054/05: Lançado
edital de apoio a pesquisa em
Assistência Farmacêutica.
Promoção da - 2001: Projeto de Estímulo à Produção 2008: Lançada política para o
produção de Farmacêutica -Para fortalecimento desenvolvimento produtivo visando
medicamentos dos laboratórios públicos, o fortalecer a capacidade de competição
Ministério da Saúde desenvolveu das empresas brasileiras, um dos
um programa de investimentos para seus desafios é elevar a capacidade de
modernização de dez instituições inovação das empresas.
(Guarda-Chuva). 2008, Portaria 374/2008: Lançado
2003: Política de Desenvolvimento Programa Nacional de Fomento à
Produtivo. Produção Pública e Inovação no
2004: Criação do Programa de Complexo Industrial da Saúde, que
apoio ao Fortalecimento da Cadeia estabelece objetivos e diretrizes para
Farmacêutica (PRoFaRMa). modernizar e aumentar a capacidade
2005, Portaria MS/GM 843/05: tecnológica dos Laboratórios Públicos.
É criada Rede de Laboratórios 2009: Desenvolvimento do Complexo
Farmacêuticos Públicos com o Econômico - Industrial da Saúde
objetivo de fortalecer a indústria (CEIS), por meio de Parcerias para o
nacional. Desenvolvimento Produtivo (PDP).
2011. É lançado o Plano Brasil Maior
que estabelece uma série de medidas e
metas para fortalecer a competitividade
industrial. - Plano Brasil Maior. Inovar
para competir. Competir para crescer.
Plano 2011/2014.
1947

Ciência & Saúde Coletiva, 23(6):1937-1951, 2018


Quadro 5. Eventos selecionados relacionados a regulamentação sanitária Garantia da segurança, eficácia e qualidade dos
medicamentos no Brasil segundo decênios. Brasil, 1988-2018.
Diretrizes* Prioridades* 1988-1997 1998-2007 2008-2018
Regulamentação Revitalização, 1988, Resolução CNS 1999: Uma Comissão 2008, Portaria ANVISA
sanitária de a flexibilização 01/88: Inaugura no pais o Parlamentar de inquéritos, 422/208: É instituído o
medicamentos e de estabelecimento de normas desencadeada por um escândalo Programa de Melhoria de
regulação ética procedimentos para pesquisa na área da relacionado à falsificação de Regulamentação (PMR)
e a busca Saúde. medicamentos identifica um da ANVISA.
por maior 1993, Decreto 793/93: amplo conjunto de problemas e 2012, RDC CEMED
consistência Decreto presidencial aborda resulta na proposição de várias 02/12: Definições
técnico- de forma importante a ações regulatórias. importantes acerca do
científica questão dos genéricos no país 1999, Lei 9782/99: É criada a preço dos medicamentos
Elaboração de (Denominação genérica de Agência Nacional de Vigilância pela CMED.
procedimentos medicamentos). Sanitária (ANVISA), com 2012, Resolução CNS
operacionais 1994, Portaria MS/GM modelo de agencia autônoma. 466/12: Atualiza as
sistematizados 1565/94: São estabelecidas as 1999, Lei 9787/99: Criada Lei diretrizes de ética em
Treinamento diretrizes do sistema nacional de genéricos, normatizando pesquisa.
de Vigilância sanitária um amplo número de aspectos, 2013, Decreto 8077/13:
(SNVS) considerando o papel como qualidade, substituição. São estabelecidas
das três esferas. 2000: Anvisa assume a flexibilizações no registro
1996, Resolução CNS 196/96: secretaria executiva da Câmara de medicamentos.
Atualiza as diretrizes de ética de Medicamentos (CaMed),
em pesquisa e estabelece desencadeando uma série de
a criação do sistema CEP/ intervenções para a regulação de
CONEP. preços de medicamentos.
Garantia da - 1988, Decreto 96607/88: 1999: Identificação pela CPI 2012, RDC ANVISA
segurança, Publicada uma atualização da de Medicamentos de amplo 12/12: Criação da Rede
eficácia e Farmacopeia Brasileira. conjunto de irregularidades Brasileira de Laboratórios
qualidade dos quanto a qualidade e segurança Analíticos em Saúde
medicamentos dos medicamentos, em especial (REBLAS).
a falsificação. 2010, RDC ANVISA
49/10:Publicada
uma atualização da
Farmacopeia Brasileira.
2017: Publicado o
Formulário Homeopático
da Farmacopeia Brasileira
1ª Edição.

beleceu a necessidade de criação de um sistema ção da Resolução CNS 466/12, que trouxe avan-
centralizado de revisão ética composto pela Co- ços, dentre eles instruções sobre a utilização de
missão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), placebo e a necessidade de assegurar a todos os
“uma instância colegiada, de natureza consultiva, participantes ao final do estudo, por parte do
deliberativa, normativa, educativa, independen- patrocinador, acesso gratuito e por tempo inde-
te, vinculada ao CNS” e por Comitês de Ética terminado, aos melhores métodos profiláticos,
em Pesquisa (CEP) definidos como “colegiados diagnósticos e terapêuticos que se demonstra-
interdisciplinares e independentes, com ‘mu- ram eficazes. Além disso, contemplou a garantia
nus público’, de caráter consultivo, deliberativo de fornecimento aos participantes, que muitas
e educativo, criados para defender os interesses vezes ficavam desassistidos, no intervalo entre o
dos participantes da pesquisa em sua integridade término da participação individual e o final do
e dignidade e para contribuir no desenvolvimen- estudo75.
to da pesquisa dentro de padrões éticos”74. Esta Atualmente, destacam-se três iniciativas regu-
resolução foi revogada em 2012, com a publica- latórias que poderão modificar o cenário de revi-
1948
Bermudez JAZ et al.

são ética do país. A primeira é a Resolução CNS vinculado ao MS com importantes funções de fis-
506/16 que “estabelece os critérios para o proces- calização e formulação de políticas de saúde no
so de acreditação de CEP do Sistema CEP/Conep, país e que vêm exercendo com seriedade a defesa
em instituições públicas e privadas”. Pretende-se dos participantes de pesquisas no Brasil.
que este movimento promova uma maior descen-
tralização do sistema, fortalecendo a autonomia
de Comitês de Ética em Pesquisa para atuar de Considerações finais
forma mais regionalizada. A segunda é a resolu-
ção 510/16 que aprova normas para regulamentar Trinta anos é um período longo. O país é gran-
pesquisa na área de ciências humanas e sociais e de, desigual e complexo, e atravessou várias mu-
outras que utilizam metodologias próprias dessas danças políticas, econômicas e sociais ao longo
áreas. Desta forma, busca-se uma análise mais desse tempo. O tema dos medicamentos e AF é
adequada às especificidades destas pesquisas, a bastante amplo e central, com várias imbricações
constituição de uma nova área para submissão de intersetoriais. Assim, contar esta história requer
projetos na Plataforma Brasil e ainda o estabele- recortes e escolhas.
cimento de novos fluxos para apreciação das pes- A seleção dos eventos não foi tarefa fácil.
quisas de acordo com riscos envolvidos76. Foram considerados, principalmente, ainda que
Com o argumento de dar maior legitimida- não exclusivamente, atos regulatórios, o que por
de jurídica e celeridade às pesquisas clínicas no si expressam um esforço de implementação. No
país, tramita na Câmara de Deputados um pro- entanto, isto não garante, necessariamente, que
jeto de lei (7082/17), já aprovado no Senado (PL a implementação tenha sido plena ou bem su-
200/15), que dentre outras propostas propõe uma cedida, uma vez que não é pretensão deste texto
limitação no fornecimento do medicamento pós um levantamento dos resultados alcançados. Por
-estudo garantido pela Res. CNS 466/12. Propõe outro lado, consideramos necessário o alerta das
a criação de um novo sistema de regulação ética consequências das atuais políticas que vem sendo
para pesquisas clínicas vinculado ao MS, a nosso implementadas e o desmonte de estruturas sóli-
ver um contrassenso se pensarmos na função pre- das e que representaram consideráveis avanços
cípua do CNS, órgão participativo e deliberativo sociais. Vamos defender o SUS!
1949

Ciência & Saúde Coletiva, 23(6):1937-1951, 2018


Colaboradores Referências

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