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09022018 1937
ARTIGO ARTICLE
na perspectiva da integralidade
Quadro 1. Eventos selecionados da assistência farmacêutica no Brasil segundo decênios. Brasil, 1988-2017.
Diretrizes* 1988-1997 1998-2007 2008-2017
Aspectos 1990: Publicada a Lei 1998, Portaria MS/GM 3916/98: 2011, Lei 12401/11 e
gerais Orgânica da Saúde Política Nacional de Medicamentos Decreto 7508/11: Alterações
8080/90, que define o (PNM). importantes na organização
compromisso público 2003: Realização da 1a Conferência do Sistema Único de Saúde
da garantia assistência Nacional de Medicamentos e - SUS, no planejamento
integral à saúde, Assistência Farmacêutica (CNAF). da saúde, na assistência
inclusive a farmacêutica. 2003/2004: Aplicação da avaliação da à saúde e na articulação
1997, Decreto 2283/97: situação farmacêutica com método inter-federativa em aspectos
Extinção da CEME, da OMS. diretamente atinentes à
responsável, até então, 2004, Resolução. CNS 338/04: assistência farmacêutica.
pelo abastecimento Publicada a Política Nacional de 2013-2014, Portaria MS/
de medicamentos do Assistência Farmacêutica (PNAF). GM 2077/12: Pesquisa
sistema público de 2005: Realizado Diagnóstico da Nacional de Acesso e Uso de
saúde. farmácia hospitalar no Brasil. medicamentos
1939
Quadro 2. Eventos selecionados relacionados a reorientação da assistência farmacêutica, desenvolvimento e capacitação de recursos
humanos no Brasil segundo decênios. Brasil, 1988-2018.
Diretrizes* Prioridades* 1988-1997 1998-2007 2008-2018
Reorientação Garantia de 1997: O 1999, Portaria MS/GM 176/99: É 2008, Portaria 154/2008: São
da assistência recursos pelas Programa iniciada a descentralização da AF. criados o Núcleos de Apoio
farmacêutica 3 esferas para Farmácia 2000, Decreto 3555/00 - O a Saúde da Família (NASF),
distribuição direta Básica busca Pregão, nova modalidade de onde são estabelecidas as Ações
ou descentralizada viabilizar licitação, é regulamentada a fim esperadas da AF.
Descentralização o acesso a de promover maior celeridade 2011: Estabelecida gratuidade
plena da aquisição medicamentos aos processos licitatórios, com para três grupos terapêuticos no
e distribuição de nos municípios importante impacto nas compras Programa Farmácia Popular, com
medicamentos de pequeno de medicamentos. o programa denominado Saúde
Financiamento porte no 2004, Portaria MS/GM 1651/04: Não Tem Preço.
específico para os período entre Criação do Programa Farmácia 2016: Aprovação da Emenda
medicamentos da a extinção da Popular do Brasil, com expansão Constitucional no 95 de
atenção básica CEME. para a Rede Privada em 2006. 15/12/2016, que trouxe o
Atenção especial 2006: Projeto nacional (Planejar congelamento de gastos.
aos medicamentos é Preciso) visava promover o 2017, Portaria MS/GM 3992/17:
de alto custo planejamento da AF no nível São estabelecidas profundas
municipal. alterações no financiamento
2007, Portaria MS/GM 204/07: São do SUS, incluindo a assistência
definidos blocos de financiamento farmacêutica, com a extinção dos
no SUS, e são estabelecidos três blocos.
blocos para os medicamentos, além
de financiamento de infraestrutura.
Desenvolvimento Treinamento 1999-2000: Realização de uma 2008, Portaria MS/GM 362/08:
e capacitação de de RH série de oficinas de treinamento Inclusão do curso de Farmácia
recursos humanos (gerenciamento de oferecidas pelo MS no país no Programa Pró-Saúde, cujo
sistemas de saúde para treinamento dos gestores objetivo é capacitar estudantes
e de informação; municipais de AF visando a e profissionais farmacêuticos
guias terapêuticos viabilização da descentralização a atender as necessidades
padronizados; da AF. da população brasileira e a
farmaco- 2001 a 2002: Cursos do operacionalizar o SUS. Para tal,
vigilância) Projeto Sentinela, iniciados foram aprovados incentivos
em 2002, com foco em gestão financeiros, dependentes de
da AF, farmacovigilância e aprovação, para projetos ligados
URM. Importante iniciativa a reestruturação física de serviços
paraconsolidação de uma rede de da rede pública e para capacitação.
hospitais sentinelas capacitados 2008: Vários cursos foram
para o gerenciamento de riscos a promovidos pelo DAF (Mestrado
saúde. Profissionalizante UFRGS,
2005: Criação do Mestrado Especialização em Gestão, curso
Profissional em Gestão da do Sistema Hórus na modalidade
Assistência Farmacêutica, através a distância, curso com simulação
de Termo de Cooperação entre realística em Farmácia Hospitalar)
DAF e Faculdade de Farmácia do 2012, Portaria MS/GM
Rio Grande do Sul, formação de 31 1214/12, : Criado programa
mestres de 2005 a 2007. para qualificação da assistência
2007, Portaria MS/GM 204/09: farmacêutica no Brasil, sendo a
É estabelecido que até 15% dos educação um de seus quatro eixos
recursos financeiros municipais, 2013: Curso de Aperfeiçoamento
estaduais e do Distrito Federal do em Atenção Básica/Primária à
Componente Básico da AF poderão Saúde – AB/APS, ofrecido para
ser utilizados para estruturação toda a America Latina.
e atividades ligadas a educação 2017, Resolução MEC 06/17:
continuada. Definidas pelo MEC as diretrizes
curriculares do curso de Farmácia.
1941
Quadro 3. Eventos selecionados relacionados a seleção e uso apropriado de medicamentos no Brasil segundo
decênios. Brasil, 1988-2018.
Diretrizes* Prioridades* 1988-1997 1998-2007 2008-2017
Adoção de Revisão 1997: Inicia-se 2002 e 2006: São 2009 a 2017: São publicadas cinco
relação de permanente a adoção do publicadas duas atualizações da RENAME e dois
medicamentos paradigma de atualizações da Formulários Terapêuticos Nacionais.
essenciais evidências, RENAME. 2011, Lei 12401/11: A
buscando 2006: Programa responsabilidade de atualização
modernizar Nacional de da RENAME é transferida da
o processo de Plantas Medicinais COMARE para a CONITEC, que
atualização da e Fitoterápicos, insere a RENAME no contexto da
RENAME. com a publicação incorporação de tecnologias em
da Rename Fito. saúde.
Promoção do Campanhas 1989: Publicação 2007, Portaria 2008, RDC ANVISA 96/08:
uso racional de educativas da 2 Ed. Do MS/GM 1555/07: Atualizadas normativas sobre
medicamentos Registro Memento Criado o Comitê propaganda, publicidade, informação
e uso de terapêutico da Nacional para e outras práticas cujo objetivo seja a
medicamentos CEME. a Promoção do divulgação ou promoção comercial
genéricos 1999, RDC Uso Racional de de medicamentos.
Formulário ANVISA 328/99: Medicamentos. 2009, RDC ANVISA 44/09:
terapêutico São estabelecidos 2001: Entrada Estabelecidas Boas Práticas
nacional pela ANVISA no Brasil no Farmacêuticas para o controle
Farmaco- requisitos para programa de sanitário do funcionamento, da
epidemiologia dispensação de Farmacovigilância dispensação e da comercialização de
e farmaco- produtos de da OMS. produtos e da prestação de serviços
vigilância interesse à saúde farmacêuticos em farmácias e
em farmácias e drogarias.
drogaria. 2009, RDC ANVISA 47/09:
Harmonização da forma e conteúdo
das bulas de medicamentos,
estabelecendo regras para sua
elaboração, atualização, publicação,
diferenciando bula para pacientes e
bula para profissionais de saúde.
2011, RDC Anvisa 20/11:
Estabelecidas normativas para
o controle da prescrição e
comercialização de antimicrobianos.
Multidisciplinar de Atualização da Relação Na- acessível – refletia a integralidade. Até 2006, duas
cional de Medicamentos Essenciais (COMARE), novas atualizações da lista foram realizadas26.
com regimento próprio, critérios explícitos de Nos anos 2000, teve início o descompasso
inclusão e exclusão de medicamentos28. O con- entre o conceito de ME e aquele regendo a lista
ceito de ME institucionalizou-se nos entes sub- nacional. Intensificaram-se as pressões para ino-
nacionais, calcados nas necessidades sanitárias e vação no âmbito do SUS. Com oferta e implanta-
adaptados às necessidades locais pela implemen- ção de novas tecnologias, objetivou-se conduzir
tação das Relações Municipais de ME (Remume) o usuário por níveis de atenção, de forma ‘regula-
e Estaduais (Resme). A construção da integralida- da’. As necessidades seriam atendidas, mas no in-
de passava pela efetivação de um sistema hierar- terior de linhas de cuidado, condutoras da oferta
quizado, no qual as escolhas locais e estaduais su- no sistema17. Ao mesmo tempo, a organização do
pririam, de forma complementar, as necessidades financiamento da AF passou a balizar a provi-
orientadas pela Rename. A noção de essencialida- são e exercer pressão sobre a seleção. A Rename
de – medicamento eficaz e seguro, efetivo no tra- tornou-se vulnerável à capacidade municipal de
tamento a que se destina, com qualidade, e custo abastecimento. Desde a descentralização da AF29
1943
aos esforços de promoção do UAM no Brasil es- O avanço trazido por essas iniciativas tem
tão sumarizados no Quadro 3. sido controverso. No caso do controle de propa-
No Brasil, registram-se poucas ações para ganda, à época da consulta pública que resultou
promoção do UAM até o final dos anos 80. Tal- na normativa, houve um pronunciamento enfáti-
vez, das poucas ações de abrangência nacional, co de um grande grupo de pesquisadores, profis-
tenham sido as publicações dos mementos te- sionais e ativistas do UAM, com críticas ao docu-
rapêuticos da CEME, que traziam orientações mento, em especial a não adoção da fiscalização
quanto às características, uso e cuidados com os prévia. Argumentavam que, ainda que a infração
medicamentos da RENAME. O último memento fosse detectada posteriormente, o baixo valor das
da CEME foi publicado em 198949. multas faria com que o ganho recuperado com
Ao final da década de 90 surgem no Brasil as vendas promovidas pela circulação das peças,
algumas associações independentes de profis- ainda que num curto período, compensavam o
sionais ou consumidores visando promover o risco. De fato, estudos realizados evidenciaram
UAM, tendo sempre o medicamento como parte o baixo cumprimento da legislação em peças de
importante de sua pauta. Naquela época, se ini- propaganda de medicamentos tanto dirigida a
ciou também a parceria com organizações inter- profissionais quanto a usuários58,59.
nacionais, com representação em diferentes con- No caso dos serviços farmacêuticos, o Con-
tinentes. O Núcleo de Assistência Farmacêutica selho Federal de Farmácia se viu respaldado a
(NAF/ENSP/Fiocruz), criado em 1998, e Centro normatizar a prescrição farmacêutica60, tema
Colaborador da OPAS/OMS, embora declare sua sem consenso mesmo dentro da categoria far-
atuação focada em políticas farmacêuticas, tem macêutica61. Houve pela Anvisa esforços de for-
atuado em vários temas relevantes ao UAM. talecimento das ações quanto às bulas, como a
Tendo em vista que as estratégias regulatórias publicação do bulário eletrônico62.
constituem núcleo importante para promoção Finalmente, quanto aos antimicrobianos,
do UAM, o órgão regulador brasileiro sempre também se tem demonstrado incipiente reper-
teve papel importante no tema. Assim, na década cussão na redução do volume de consumo63.
1988-97 cabe destaque ao esforço da Anvisa na As ações de promoção do UAM estão forte-
instituição das Boas Práticas de Dispensação, ati- mente situadas no campo da promoção da saúde
vidade com impacto direto no UAM50. e prevenção de doenças, seja primária, secundá-
Na década 1998-2007, destaca-se a criação do ria, terciária ou quaternária, portanto bastante
Comitê Nacional para a Promoção do Uso Ra- imbricadas com o processo de cuidado em saúde.
cional de Medicamentos51 (com redefinições em Pode-se dizer, portanto, que atendem diretamen-
201352). Este comitê tem representação de várias te ao princípio da integralidade. São muitas as
instituições e tem desenvolvido ações como a or- dificuldades envolvidas, uma vez que têm grande
ganização de eventos, sendo o Congresso Brasi- repercussão no consumo de medicamentos, por-
leiro de Uso Racional de Medicamentos o princi- tanto nas vendas e na adoção das medidas que
pal deles, materiais educativos, recomendação de implicam em mudança de comportamento, tan-
ações regulatórias e campanhas. Na mesma déca- to por profissionais, gestores e consumidores.
da, o Brasil institui na ANVISA o Sistema Nacio-
nal de Farmacovigilância, iniciativa que contou Desenvolvimento tecnológico
com forte indução da Organização OPAS, além e produção industrial
de grupos nacionais que militavam pelo UAM53.
Um importante reconhecimento foi a inclusão A questão da dependência tecnológica do
do Brasil como 62o membro oficial do Programa Brasil no setor farmacêutico foi permanente ao
Internacional de Monitorização de Medicamen- longo do século XX e respondida em diferentes
tos53. momentos, considerando o país na condição de
Finalmente, a década 2008-2018 tem assisti- “periferia” de um setor industrial que se conso-
do um número maior de iniciativas, como a atua- lidou principalmente nos países europeus e Esta-
lização das normas de propaganda e publicidade dos Unidos, e cuja base dependeu do lançamento
em 200854, o estabelecimento das Boas Práticas de inovações no mercado e na expansão de suas
Farmacêuticas, onde inclui a prestação de servi- vendas64.
ços farmacêuticos em farmácias e drogarias55, a No início da década de 1970, o estímulo à
harmonização do conteúdo das bulas56 e as nor- produção nacional de medicamentos esteve rela-
mativas para o controle da prescrição/comercia- cionado às ações de AF. Com a constituição de
lização de antimicrobianos57. um mercado público, que possibilitou assegurar
1945
Quadro 4. Eventos selecionados relacionados ao desenvolvimento científico e tecnológico e Promoção da produção de medicamentos
no Brasil segundo decênios. Brasil, 1988-2018.
Diretrizes* Prioridades* 1988-1997 1998-2007 2008-2018
Desenvolvimento - 1996, Lei 2000: Criado projeto (INOVAR) 2009, Portaria MS/GM 2690/09
científico e 9279/96: com financiamento da FINEP - Política nacional de gestão de
tecnológico Aprovada visando impulsionar a criação e tecnologias em saúde.
nova lei de o desenvolvimento de empresas 2015, Lei 13123/15: Atualização da
Propriedade de base tecnológica, incluindo as legislação sobre acesso a patrimônio
Industrial no Farmacêuticas, através da promoção genético, que ganha maior escopo
Brasil, que de investimentos em capital de risco. de atuação e simplificação de
define direitos 2003 – 2006: Instalado o Fórum de procedimentos. Institui o Sistema
e obrigações competividade da cadeia produtiva Nacional de Gestão do Patrimônio
relativos à farmacêutica como objetivo principal Genético e do Conhecimento
propriedade de fortalecer a cadeia produtiva Tradicional Associado – SISGEN.
industrial. farmacêutica nacional. 2017, Decreto 9245/17: Instituída
A mesma 2004: Lançada as Diretrizes da política nacional de inovação
apresenta Política Industrial, Tecnológica e tecnológica na saúde.
diferenças do Comércio Exterior (PITCE),
marcantes que enfatizam o enfrentamento da
comparada a vulnerabilidade externa com foco em
lei anterior, setores intensivos em tecnologia como
visando o farmacêutico e o farmoquímico,
atender as buscando o aumento da eficiência
exigências do da produção nacional, aumento da
Acordo Trips. capacidade inovativa e expansão das
exportações.
2004, Lei 10973/04 Normatizados
incentivos ao estímulo a inovação e
à pesquisa tecnológica em ambiente
produtivo, com ênfase a Instituição
Científica, Tecnológica e de Inovação
no processo de inovação e na parceria
com empresas.
2005, Edital CNPQ 054/05: Lançado
edital de apoio a pesquisa em
Assistência Farmacêutica.
Promoção da - 2001: Projeto de Estímulo à Produção 2008: Lançada política para o
produção de Farmacêutica -Para fortalecimento desenvolvimento produtivo visando
medicamentos dos laboratórios públicos, o fortalecer a capacidade de competição
Ministério da Saúde desenvolveu das empresas brasileiras, um dos
um programa de investimentos para seus desafios é elevar a capacidade de
modernização de dez instituições inovação das empresas.
(Guarda-Chuva). 2008, Portaria 374/2008: Lançado
2003: Política de Desenvolvimento Programa Nacional de Fomento à
Produtivo. Produção Pública e Inovação no
2004: Criação do Programa de Complexo Industrial da Saúde, que
apoio ao Fortalecimento da Cadeia estabelece objetivos e diretrizes para
Farmacêutica (PRoFaRMa). modernizar e aumentar a capacidade
2005, Portaria MS/GM 843/05: tecnológica dos Laboratórios Públicos.
É criada Rede de Laboratórios 2009: Desenvolvimento do Complexo
Farmacêuticos Públicos com o Econômico - Industrial da Saúde
objetivo de fortalecer a indústria (CEIS), por meio de Parcerias para o
nacional. Desenvolvimento Produtivo (PDP).
2011. É lançado o Plano Brasil Maior
que estabelece uma série de medidas e
metas para fortalecer a competitividade
industrial. - Plano Brasil Maior. Inovar
para competir. Competir para crescer.
Plano 2011/2014.
1947
beleceu a necessidade de criação de um sistema ção da Resolução CNS 466/12, que trouxe avan-
centralizado de revisão ética composto pela Co- ços, dentre eles instruções sobre a utilização de
missão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), placebo e a necessidade de assegurar a todos os
“uma instância colegiada, de natureza consultiva, participantes ao final do estudo, por parte do
deliberativa, normativa, educativa, independen- patrocinador, acesso gratuito e por tempo inde-
te, vinculada ao CNS” e por Comitês de Ética terminado, aos melhores métodos profiláticos,
em Pesquisa (CEP) definidos como “colegiados diagnósticos e terapêuticos que se demonstra-
interdisciplinares e independentes, com ‘mu- ram eficazes. Além disso, contemplou a garantia
nus público’, de caráter consultivo, deliberativo de fornecimento aos participantes, que muitas
e educativo, criados para defender os interesses vezes ficavam desassistidos, no intervalo entre o
dos participantes da pesquisa em sua integridade término da participação individual e o final do
e dignidade e para contribuir no desenvolvimen- estudo75.
to da pesquisa dentro de padrões éticos”74. Esta Atualmente, destacam-se três iniciativas regu-
resolução foi revogada em 2012, com a publica- latórias que poderão modificar o cenário de revi-
1948
Bermudez JAZ et al.
são ética do país. A primeira é a Resolução CNS vinculado ao MS com importantes funções de fis-
506/16 que “estabelece os critérios para o proces- calização e formulação de políticas de saúde no
so de acreditação de CEP do Sistema CEP/Conep, país e que vêm exercendo com seriedade a defesa
em instituições públicas e privadas”. Pretende-se dos participantes de pesquisas no Brasil.
que este movimento promova uma maior descen-
tralização do sistema, fortalecendo a autonomia
de Comitês de Ética em Pesquisa para atuar de Considerações finais
forma mais regionalizada. A segunda é a resolu-
ção 510/16 que aprova normas para regulamentar Trinta anos é um período longo. O país é gran-
pesquisa na área de ciências humanas e sociais e de, desigual e complexo, e atravessou várias mu-
outras que utilizam metodologias próprias dessas danças políticas, econômicas e sociais ao longo
áreas. Desta forma, busca-se uma análise mais desse tempo. O tema dos medicamentos e AF é
adequada às especificidades destas pesquisas, a bastante amplo e central, com várias imbricações
constituição de uma nova área para submissão de intersetoriais. Assim, contar esta história requer
projetos na Plataforma Brasil e ainda o estabele- recortes e escolhas.
cimento de novos fluxos para apreciação das pes- A seleção dos eventos não foi tarefa fácil.
quisas de acordo com riscos envolvidos76. Foram considerados, principalmente, ainda que
Com o argumento de dar maior legitimida- não exclusivamente, atos regulatórios, o que por
de jurídica e celeridade às pesquisas clínicas no si expressam um esforço de implementação. No
país, tramita na Câmara de Deputados um pro- entanto, isto não garante, necessariamente, que
jeto de lei (7082/17), já aprovado no Senado (PL a implementação tenha sido plena ou bem su-
200/15), que dentre outras propostas propõe uma cedida, uma vez que não é pretensão deste texto
limitação no fornecimento do medicamento pós um levantamento dos resultados alcançados. Por
-estudo garantido pela Res. CNS 466/12. Propõe outro lado, consideramos necessário o alerta das
a criação de um novo sistema de regulação ética consequências das atuais políticas que vem sendo
para pesquisas clínicas vinculado ao MS, a nosso implementadas e o desmonte de estruturas sóli-
ver um contrassenso se pensarmos na função pre- das e que representaram consideráveis avanços
cípua do CNS, órgão participativo e deliberativo sociais. Vamos defender o SUS!
1949
JAZ Bermudez, A Esher, CGSO Castro, DMM 1. Escorel S. Reviravolta na saúde: origem e articulação do
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1999.
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