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BACHARELADO EM DIREITO

DIREITO CIVIL V
PROFESSOR: JOÃO PAULO LIMA CAVALCANTI

CASAMENTO

1.CASAMENTO – CONCEITO

União legal de duas pessoas, reconhecida e regulamentada pelo Estado,


formada com o objetivo de constituição de uma família e baseado em um
vínculo de afeto. Visa ao auxílio mútuo material e espiritual.

Obs. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou nesta quarta-feira (8), por 17
votos a favor e uma abstenção, um projeto para permitir a união estável entre pessoas do
mesmo sexo e posterior conversão dessa união em casamento.

De autoria da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) e relatado pelo senador Roberto Requião
(PMDB-PR), o projeto altera pontos do Código Civil, que atualmente classifica como entidade
familiar "a união estável entre o homem e a mulher".

Pelo projeto, essa definição fica alterada para "união estável entre duas pessoas". Trechos da
lei que se referem a "marido e mulher" são alterados para "duas pessoas" ou "cônjuges".

O projeto foi aprovado em caráter terminativo (sem necessidade de ir ao plenário, a não ser
que algum senador recorra), mas ainda passará por um turno suplementar de votação na
própria comissão – provavelmente na sessão seguinte da CCJ, na próxima semana – antes de
ser encaminhado para a Câmara dos Deputados.

No turno suplementar, a comissão deve confirmar a aprovação, mas há possibilidade de a


proposta sofrer alteração.

Ao mesmo tempo em que também foi aprovado o estatuto da família (PL-6583/2013) pelo CCJ,
de autoria de Anderson Ferreira - PR/PE, que apenas consideram válidas apenas as famílias
formadas entre homem e mulher.

2.CASAMENTO – NATUREZA JURÍDICA

Seria o casamento um contrato ou uma instituição social?

 Teoria institucionalista: casamento é uma instituição social. Forte


aspecto moral e religioso.

 Teoria contratualista: o casamento é uma contrato de natureza especial


e com regras próprias a sua formação.

 Teoria mista: o casamento é uma instituição quanto ao conteúdo e um


contrato especial quanto à formação (autonomia da vontade).

3. PRINCÍPIOS PRÓPRIOS DO CASAMENTO

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PRINCÍPIO DA MONOGAMIA. Impedimento que gera nulidade (art. 148, II,
CC).
Art. 1.521, CC. Não podem casar

VI - as pessoas casadas;

PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE UNIÃO. Manifestação da autonomia privada.


Expresso no art. 1513, CC:

Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na


comunhão de vida instituída pela família.

Verifica-se, igualmente, o princípio da não intervenção.

PRINCÍPIO DA COMUNHÃO DE VIDA (comunhão indivisa).


Expressos pelos arts. 1511 e 1565, CC:

Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na


igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição


de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família.

4. PROCESSO DE HABILITAÇÃO DO CASAMENTO

Inicialmente, segundo o art. 1.525, CC, o requerimento de habilitação para o


casamento será firmado pelos nubentes de próprio punho ou por
procurador, devendo ser instruído com os seguintes documentos:

I - certidão de nascimento ou documento equivalente;

II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou
ato judicial que a supra;

III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem


conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar;

IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes


e de seus pais, se forem conhecidos;

V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou


de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de
divórcio.

A quem declarar pobreza, o registro e a primeira certidão são isentos de selo,


emolumentos e custas (art. 1.512, CC):

Art. 1.512. Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira


certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja
pobreza for declarada, sob as penas da lei.

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OBS.: Emolumentos são taxas remuneratórias de serviços públicos, tanto notarial, quanto de
registro, configurando uma obrigação pecuniária a ser paga pelo próprio requerente.

Tal procedimento deverá ser instaurado diante do Cartório do Registro Civil


do domicílio de um ou ambos os noivos (arts. 1.525 a 1.532, CC e 67 a 69
da LRC: 6.015/1973). A habilitação tem eficácia de 90 dias (1.532, CC).

Apesar de a lei referir que a habilitação deve ser feita pessoalmente (1.526,
CC), é autorizado que o requerimento seja firmado por procurador com
poderes especiais (1.525, CC).

Ambos devem apresentar certidão de nascimento ou, em caso de divórcio ou


viuvez, certidão de casamento (1525, I, CC). Sendo algum dos noivos menor
de 18 anos, é necessária a autorização por escrito dos pais ou a decisão
judicial que supre o consentimento.

A certidão de nascimento destina-se a comprovar que os nubentes atingiram a


idade mínima para casar. Os que ainda não completaram 16 anos poderão,
todavia, casar-se para evitar a imposição de pena criminal ou em caso de
gravidez no caso de gravidez (1.520, CC).

Na hipótese de gravidez, prescinde-se de eventual cometimento de crime.


Objetiva-se com a antecipação da capacidade para o casamento, nesse caso,
proteger a prole vindoura. Se o casamento se realizou sem autorização judicial,
a gravidez constitui fato obstativo da anulação do casamento por motivo de
idade, como preceitua o art. 1.551, CC.

Na hipótese de haver causas suspensivas à realização do casamento (1523,


CC), para ser afastado o regime de separação legal de bens, precisa ser
juntada a decisão judicial que dispensou sua obrigatoriedade (1.523, parágrafo
único, CC).

Necessidade de duas testemunhas que atestem conhecer os noivos e


afirmem desconhecer impedimento que os iniba de casar (1.525, III, CC).
Igualmente, é preciso provar que o casamento anterior esta desfeito. Para isso
deve ser anexada certidão de óbito do cônjuge falecido ou o registro do
divórcio ou da anulação de casamento (1.525, V). Junta-se, conforme o caso, o
pacto antenupicial (1.653, CC) ou o termo de opção pelo regime de comunhão
parcial (1.640, CC).

Atendidos os requisitos e mediante a inexistência de fatos impeditivos


verificados pelo Oficial, é extraído o edital, a ser fixado durante 15 dias
(proclamas do casamento) no cartório em que os nubentes têm sua
residência e não na cidade onde se deu o nascimento dos noivos. Como a lei
não exige que o casamento seja realizado no local da habilitação de um ou
ambos os nubentes, o edital é publicado no local onde cada um reside
(1.527, CC). Se houver jornal local, deve ser publicado na imprensa. Este prazo
serve para a oposição de eventuais impedimentos. Em caso de urgência, a
publicação pode ser dispensada (1.527, parágrafo único).

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Ressalta-se que o art. 1.527 disciplina a publicação dos proclamas do
casamento, que poderá ser dispensada pela autoridade competente pela
homologação de casamento em casos de urgência (1.527, parágrafo único).

Os casos de urgência devem ser verificados pelo juiz de Direito da


Circunscrição competente para examinar o caso concreto.

Denunciada a existência de impedimentos (1.521, CC) ou de causas


suspensivas (1.523, CC), mediante denúncia escrita e acompanhada de provas
(1.529, CC), deve o oficial dar ciência aos noivos da oposição apresentada
(1.530, CC). É dado o direito à contraprova. Caso seja verificada a má-fé do
denunciante, é possível a qualquer dos nubentes promoverem ação civil ou
criminal contra ele (1.530, parágrafo único).

No processo de habilitação não há intervenção judicial, mas somente do


Ministério Público. Somente no caso de haver impugnação por parte do oficial,
do MP ou de terceiro, a habilitação é submetida à apreciação do juiz (1.526,
CC).

Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro


Civil, com a audiência do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 12.133, de
2009)

Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de


terceiro, a habilitação será submetida ao juiz. (Incluído pela Lei nº 12.133, de
2009)

CELEBRAÇÃO

O casamento, que é um rito de passagem para o estado civil de casado, é um


ato solene, cercado de rigor formal. Sua celebração é gratuita (226, §1º, CF e
1.512, CC). O ato é realizado por um juiz de paz, tal como disposto na CF/88
(98, II, CF), em dia, hora e local anteriormente designado. Os nubentes devem
estar previamente habilitados (1.533, CC).

A solenidade é realizada nas dependências do Cartório de Registro Civil, onde


se procedeu à habilitação, mas pode ocorrer em outro local, mediante
autorização do celebrante (1.534, CC). Por ser solenidade pública as portas
devem permanecer abertas, até porque há a possibilidade de oposição de
impedimentos.

Necessitam estar presentes: a autoridade celebrante; os noivos ou


procurador com poderes especiais (1.542, CC); o oficial do registro civil e
duas testemunhas que podem ser parentes do noivos. Na hipótese de algum
dos nubentes não saber ou poder escrever, sobem para 04 o número de
testemunhas necessárias (1.534, §2º). O juiz de paz pergunta aos nubentes se

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pretendem se casar de livre e espontânea vontade. Ouvida apalavra “sim”, o
celebrante declara efetuado o casamento (1.535, CC).

Em que momento o casamento é efetivamente constituído? Para Maria


Berenice é um duplo requisito: manifestação de vontade dos noivos e a
afirmação do celebrante que os declara casados (1.514, CC). Ressalte-se que
o registro é apenas mero meio de prova do casamento.

Após a celebração é lavrado o assento no livro de registro civil das pessoas


naturais (1.536, CC), que é assinado pelo presidente do ato, cônjuges,
testemunhas e oficial de registro. No assento deve constar a qualificação dos
recém-casados, dos seus pais e das testemunhas, além dos dados relativos à
habilitação e ao regime de bens (1.536, CC). Também é anotado o nome que
os cônjuges passarão a usar, pois qualquer deles poderá adotar o nome do
outro (1.565, §1º).

O registro do casamento tem finalidade certificatória, e a certidão do registro


serve de prova de sua celebração (1.543, CC). Na ausência do registro,
justificada sua falta, perda ou extravio, admite-se qualquer outro meio de prova
(1.543, parágrafo único).

No caso de autorização para casar, ela deve constar na escritura de


casamento:

Art. 1.537. O instrumento da autorização para casar transcrever-se-á


integralmente na escritura antenupcial (no caso de menores, por exemplo).

Suspensão da celebração do casamento:

Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum


dos contraentes:

I - recusar a solene afirmação da sua vontade;

II - declarar que esta não é livre e espontânea;

III - manifestar-se arrependido.

Parágrafo único, 1.538, CC. O nubente que, por algum dos fatos mencionados
neste artigo, der causa à suspensão do ato, não será admitido a retratar-se no
mesmo dia. Essa regra será aplicada mesmo se a manifestação tiver sido feita
em tom de brincadeira.

5. ESPÉCIES DE CASAMENTO

O Estado admite expressamente 02 formas de casamento (226, §1º e 2º, CF):


o civil (1.512, CC) e o religioso com efeitos civil (1.515 e 1.516, CC).

5.1 CIVIL

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O casamento civil é realizado perante o oficial do Cartório do Registro Civil.
Trata-se de ato solene levado a efeito por um celebrante (juiz de paz) e na
presença de testemunhas, nas dependências do cartório, ou de outro local. A
gratuidade da celebração do casamento civil é preceito constitucional (226, §1º,
CF), repetido no CC (1.512). Quando a pobreza for declarada, sob as penas da
lei, a isenção do pagamento das custas estende-se à habilitação, ao registro de
casamento e à primeira certidão (1.512, parágrafo único, CC). Assim, basta
que os nubentes firmem singela declaração afirmando a falta de recursos para
serem dispensados de qualquer ônus.

5.2 RELIGIOSO COM EFEITOS CIVIS

A CF empresta ao casamento religioso efeitos civis (226, §2º). Basta, tão


somente, a apresentação dos requisitos legais previstos nos arts. 1.515 e
1.516, CC para que o matrimônio religioso possua a mesma eficácia do civil.
Não se realiza ato civil. É suficiente proceder ao registro do matrimônio para
que o casamento se tenha por efetivado.

A validade civil do casamento religioso está condicionada à habilitação – que


poderá ser feita antes ou depois do ato de celebração – e à inscrição no
Registro Civil das Pessoas Naturais (LRP 71 e 74). A busca de efeitos civis
ao casamento religioso é admitida a qualquer tempo. Procedidos a habilitação
e o registro, ainda que tardio, os efeitos civis retroagem à data da solenidade
religiosa (1.515, CC). No caso de prévia habilitação, o prazo para o registro é
de 90 dias. Ainda depois desse prazo, é possível o registro, desde que
efetuada nova habilitação. Assim, realizado o casamento religioso sem as
formalidades legais pode ser inscrito a qualquer tempo no registro civil: basta
que se proceda à devida habilitação (1.516, CC).

No entanto, as ações para invalidar o casamento obedecem exclusivamente


aos preceitos da lei civil, se ocorrido o respectivo registro. Anulado o ato
religioso, tal não afeta a validade do casamento civil, se ocorrido o respectivo
registro. Diz a lei que se entre a celebração do casamento religioso e o registro
houver um dos cônjuges contraído com outrem casamento civil, há
impedimento para efetuar-se o registro do ato religioso (1.516, §3º).

Deve-se ressaltar que a CF assegura a inviolabilidade do direito de crença (5º,


VI, CF). cabe reconhecer a possibilidade de ato religioso de qualquer credo
servir para fins registrais.

5.3 POR PROCURAÇÃO

Art. 1.542, CC. A procuração deve ser outorgada por instrumento público com
poderes especiais e vale pelo prazo de 90 dias. Por ausência de óbice legal,
ambos os noivos podem ser representados por procurador.

Para a revogação do mandato outorgado para fins matrimoniais, também é


necessário instrumento público. Se a revogação não chegar ao

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conhecimento do mandatário e o casamento for celebrado, mandante
responde por perdas e danos (1.542, §1º, CC).

Revogado o mandato, em princípio deveria ser reconhecida a nulidade


absoluta do casamento. No entanto, a lei o tem por anulável (1.550, V, CC).

O nubente que não estiver em iminente risco de vida, poderá fazer-se


representar (art. 1542, §2º do CC), mediante procuração, por instrumento
público, com poderes especiais. No entanto, como bem ressalta Maria Helena
Diniz, o outro nubente, ante a precariedade de seu estado de saúde, deverá
participar do ato pessoalmente, para que o celebrante e as testemunhas
possam atestar não só a existência do risco de vida, mas também o seu estado
de lucidez e consciência, além da vontade livre e espontânea de se casar com
aquela determinada pessoa.

5.4 CASAMENTO NOS CASOS DE MOLÉSTICA GRAVE

Art. 1.539, CC. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do


ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite,
perante duas testemunhas que saibam ler e escrever.

§ 1º A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento


suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil
por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato.

§ 2º O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo


registro dentro em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.

Tem por premissa o precário estado de saúde de um dos nubentes, com


gravidade que o impeça de se locomover e também de adiar a celebração.
Ressalva-se que é admitido também em caso de acidentes e a celebração
pode ser mesmo durante a noite.

Frisa-se que dispensa habilitação prévia, exigindo apenas a presença de


duas testemunhas que saibam ler e escrever, além da presença do
presidente do ato, ou na falta deste de qualquer de seu substituto, e do
registrador, ou qualquer de seus prepostos. Na falta do registrador ou preposto,
o juiz de casamento pode nomear alguém ad hoc para fazer-lhe às vezes.
Embora a lei não preveja expressamente, a doutrina entende que quando o
presidente do ato não puder comparecer, mas a ele possa comparecer o
registrador, venha este contar com um celebrante ad hoc, assim como em
qualquer casamento,mesmo quando seja aferida em fins de semana. Caso em
que só depois do casamento será dada a ratificação da autoridade judicial
competente..

A prova indispensável do ato, a ser apresentada ao registrador civil, é o termo


avulso, lavrado pela pessoa especialmente nomeada para o ato. O termo
avulso deve identificar ambos os nubentes, referindo aquele vitimado por
moléstia grave, sem necessidade de caracterizá-la com a terminologia médica
aplicável. As assinaturas serão colhidas e, não podendo ou não sabendo

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assinar qualquer dos noivos, sua impressão digital será colhida ao lado da
assinatura pelas duas testemunhas, a rogo do impossibilitado. Com indicação
do local da celebração, identificação do presidente, do oficial, "ad hoc" e das
testemunhas, o termo será encerrado pelas assinaturas do celebrante e do
oficial. Recebido o termo e achado conforme, o delegado do registro civil
o assentará em seus livros em até cinco dias. Trata-se de situação que
dispensa o processo preliminar de habilitação, exigindo tão só a presença de
duas testemunhas que saibam ler e escrever, além da presença do presidente
do ato, ou na falta deste de qualquer de seu substituto, e do registrador, ou
qualquer de seus prepostos. Na falta do registrador ou preposto, o juiz de
casamento pode nomear alguém "ad hoc" para fazer-lhe às vezes.

5.5 NUNCUPATIVO OU IN EXTREMIS

É o caso de casamento realizado quando um dos nubentes está em iminente


risco de morrer (1.540 a 1.541, CC). Em face de urgência é possível a
celebração sem juiz de paz, sem prévia habilitação. Na realidade não é
necessário o atendimento de nenhum dos requisitos legais. Basta a presença
de seis testemunhas que não tenham parentesco (em linha reta ou colateral,
até o segundo grau) com os nubentes.

Art. 1.540, CC. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida,
não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de
seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis
testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na
colateral, até segundo grau.

No prazo de 10 dias, as testemunhas devem confirmar o casamento


perante a autoridade judicial que, antes de mandar registrar o casamento,
deve proceder a uma verdadeira investigação. Inexplicavelmente não é prevista
a ouvida de cônjuge sobrevivente.

Todo esse procedimento é dispensável se o enfermo convalescer e puder


ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial de
registros. Ainda que não o explicite a lei, devem ambos os cônjuges e não só o
enfermo, ratificar o casamento perante a autoridade judicial. Em qualquer das
duas hipóteses – quer o noivo sobreviva ou não -, os efeitos do casamento
retroagem à data de sua celebração.

No entanto, convém lembrar que, se porventura for possível o comparecimento


de um juiz de paz ou do oficial do cartório, o casamento não perderá sua
natureza de nuncupativo ou in extremis, posto que assim já restou
caracterizado, tão somente pela dispensabilidade das formalidades exigidas
nos artigos 1.525 (habilitação), 1.526 (habilitação) e 1.527 (proclamas) do
Código Civil .

Além disso, o nubente que não estiver em iminente risco de vida, poderá fazer-
se representar (art. 1542, § 2º do Código Civil), mediante procuração, por
instrumento público, com poderes especiais. No entanto, como bem ressalta

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Maria Helena Diniz, o outro nubente, ante a precariedade de seu estado de
saúde, deverá participar do ato pessoalmente, para que o celebrante e as
testemunhas possam atestar não só a existência do risco de vida, mas também
o seu estado de lucidez e consciência, além da vontade livre e espontânea de
se casar com aquela determinada pessoa.

Uma vez celebrado o casamento, deverão as formalidades posteriores


elencadas no artigo 1541 do Código Civil serem atendidas, dentro do prazo de
dez dias, para que o casamento nuncupativo tenha eficácia.

Autuado o pedido no ofício judiciário e tomadas as declarações, o juiz


procederá às diligências necessárias para verificar (§ 1º) se os contraentes
podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o
requererem, dentro de quinze dias. O processo se desenvolve normalmente,
mesmo que o contraente, em decorrência das más condições de saúde, venha
a falecer.

Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá o juiz


competente (§ 2º), com recurso voluntário às partes.

O juiz mandará registrar a decisão no livro do Registro dos Casamentos se não


for objeto de recurso, ou se ela passar em julgado, apesar dos apelos
interpostos. É a única intervenção do oficial do registro civil de pessoas
naturais, salvo se tiver ciência própria de impedimento não declarado, que tem
o dever de denunciar.

Os assentos assim lavrado retroagirá os efeitos do casamento, quanto ao


estado dos cônjuges, à data da celebração.

Serão dispensadas as formalidades indicadas se o enfermo convalescer e


ratificar o casamento com seu cônjuge, na presença da autoridade competente
e do oficial do registro ou de seu substituto legal.

5.6 PUTATIVO

Trata-se de casamento nulo ou anulável, todavia contraído de boa-fé por um ou


ambos os cônjuges (1.561, CC). O casamento putativo é aquele que existe
apenas na imaginação do contraente de boa-fé.

O casamento só produz efeitos com relação ao cônjuge de boa-fé, e isso


no período que vai da data de celebração até o trânsito em julgado da
sentença que o desconstitui. Assim, quanto ao cônjuge que casou de boa-fé,
a sentença tem efeito ex nunc, ou seja, não retroage nem à data do
casamento (1.563, CC) nem à data da sentença anulatória, período que, para
efeitos civis, esteve casado. Para ele o casamento se desfaz apenas quando
a sentença transita em julgado.

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Os efeitos da retroação da sentença anulatória (ex tunc) só ocorrem com
o cônjuge que agiu de má-fé, pois tinha ciência da causa nulificante do
casamento.

Resumindo: da celebração à ação anulatória, o cônjuge de boa-fé estava


casado, já o de má-fé não, visto que a sentença anulatória retroage, para ele,
até a data da celebração.

O Cônjuge enganado, por exemplo, poderá pleitear alimentos (art. 1561, §1º,
CC). Qual o período que estes alimentos serão devidos? Duas correntes:
apenas no período em que o cônjuge de boa-fé estava casado (da celebração
à sentença anulatória); que os alimentos devem persistir mesmo além desse
período, pois se trata de um direito existencial, em virtude da dignidade da
pessoa humana.

O cônjuge que agiu de má-fé sofre as seguintes sanções:

 Perda de todas as vantagens havidas do cônjuge inocente, caso da


necessidade de devolver bens, dependendo do regime de bens adotado
(exemplo: não terá direito à meação dos bens do cônjuge de boa-fé, no
caso de regime de comunhão parcial);

 Obrigação de cumprir as promessas feitas no contrato antenupcial,


como é o caso das doações antenupciais.

Com relação aos filhos, os efeitos subsistem sempre, independente da boa ou


má-fé dos genitores.

5.7 CASAMENTO HOMOAFETIVO

Nem a CF nem a lei, ao tratarem de casamento, fazem qualquer referência ao


sexo dos nubentes. Pelo art. 1565, CC: “Pelo casamento, homem e mulher
assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis
pelos encargos da família.”. Não significa, porém que esteja limitando o
casamento a heterossexuais. Simplesmente está se afirmando que tanto o
homem quanto a mulher assumem tal condição, e não que necessariamente
tenham de estar casados com pessoas do sexo oposto, como aduz Berenice.

Com o advento da lei Maria da Penha (L. 11.340/2006) alargou-se o conceito


de família para albergar uniões homoafetivas. Apesar da referência do art.
1514, CC a “homem e mulher”, a nova definição legal de família brasileira se
harmoniza com o conceito de casamento entre cônjuges do art. 1511, CC.

A partir da decisão do STF (ADI 4277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Brito, j.
25/10/2011) que assegurou às uniões homoafetivas os mesmos direitos e
deveres da união estável, passou a ocorrer a conversão da união estável em
casamento. O STJ admitiu a habilitação para o casamento (STJ, REsp
1.183.378 –RS, 4ª T., Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 25/10/2011) e as
justiças de vários estados vêm regulamentando esses procedimentos.

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5.8 CONSULAR

É o casamento de brasileiro realizado no estrangeiro, perante a autoridade


consular brasileira. O cidadão brasileiro que reside no exterior tem a opção de
casar conforme a lei pátria, no consulado, caso não queira sujeitar-se à
legislação local. O casamento deve ser submetido a registro, no prazo de 180
dias, a contar da volta de um ou ambos os nubentes em seu conjugal ou, se
não tiverem domicílio certo, no 1º Ofício da Capital do Estado em que
passarem a residir (1.544, CC).

Este casamento, seguindo os ditames de nossa legislação, deve se realizar


perante autoridade consular, após o devido processo de habilitação e em
conformidade com o Código Civil Brasileiro.

REGRAS GERAIS

O casamento celebrado por autoridade estrangeira competente, mesmo que


não tenha sido registrado em Repartição Consular brasileira e/ou em Cartório
no Brasil, é considerado válido para o ordenamento jurídico brasileiro,
representando, inclusive, impedimento à celebração de novo casamento.

NECESSIDADE DE TRASLADO DA CERTIDÃO DE CASAMENTO EM


CARTÓRIO NO BRASIL

Embora o casamento no exterior seja válido, para que esteja apto a produzir
plenamente seus efeitos no Brasil, a certidão de casamento deve ser
trasladada/transcrita/registrada em Cartório no Brasil, nos termos da Resolução
nº 155/2012 do CNJ.

O traslado pode ser feito com base na certidão consular de casamento ou,
alternativamente, com base na própria certidão estrangeira de casamento -
TRASLADO DIRETO (caso o registro em Repartição Consular não tenha sido
feito pelos cônjuges).

O traslado de certidão consular de casamento é um procedimento simples,


desburocratizado e independe de solicitação judicial.

REGISTRO CONSULAR DE CASAMENTO

O Registro Consular de Casamento serve para a obtenção da Certidão


Consular de Casamento. Para se fazer o registro, é necessária a presença do
cônjuge brasileiro, o qual será o declarante e assinará o termo a ser lavrado no
Livro de Registros. Se ambos os cônjuges forem brasileiros, qualquer dos dois
poderá ser o declarante.

O registro consular de casamento exige a presença física do declarante na


Repartição Consular ou em Consulado Itinerante. Portanto, não existe a

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possibilidade de o registro consular ser efetuado pelo correio ou por
procuração, seja pública ou particular.

Em caso de comprovado impedimento físico ou jurídico do cônjuge brasileiro


(esteja preso ou hospitalizado, por exemplo), o Posto deverá ser consultado.

O casamento celebrado por autoridade estrangeira é considerado válido


no Brasil, desde que registrado em Repartição Consular Brasileira, no
qual se realizara o registro de casamento sendo necessária a presença do
cônjuge ou dos cônjuges brasileiros, não existindo a possibilidade do
registro ser realizado por procuração, seja pública ou particular, na qual será
lavrado a termo o registro, e posteriormente transcrito em Cartório do 1º Oficio
do Registro Civil do município do seu domicilio no Brasil ou no Cartório do 1º
Oficio do Distrito Federal, nos termos da Resolução nº 155/2012 do CNJ. A
transcrição poderá ser realizada com base na certidão consular de casamento
ou com base na própria certidão estrangeira de casamento, é um procedimento
simples que independe de autorização judicial e deve ser efetuada
preferencialmente na primeira oportunidade em que um dos cônjuges viaje ao
Brasil ou no prazo de 180 dias a contar da data do retorno definitivo ao País.

No ato do registro, deverá ser apresentado os seguintes documentos:


formulário de registro de casamento, certidão local do casamento, pacto
antenupcial, documento de identidade comprobatório da identidade dos
cônjuges, no caso de cônjuge estrangeiro (a), passaporte ou documento de
identidade válido e certidão de registro de nascimento, emitidos por órgão local
competente; no caso de cônjuge estrangeiro, declaração, assinada perante a
Autoridade Consular ou com firma reconhecida perante as autoridades locais,
da parte estrangeira de que nunca se casou e se divorciou de um (a) brasileiro
(a) antes do atual casamento, no caso da existência de casamento anterior de
qualquer dos cônjuges, o interessado deverá também apresentar, juntamente
com os documentos já referidos acima, conforme for se o cônjuge for falecido
certidão de óbito; se o cônjuge brasileiro for divorciado e o divórcio tiver sido
realizado no exterior e/ou se o cônjuge estrangeiro tiver sido casado
anteriormente com cidadão brasileiro, o registro do novo casamento só poderá
ser efetuado após a conclusão da homologação do divórcio no Brasil e a
respectiva averbação do divórcio em Cartório brasileiro. Se este procedimento
ainda não tiver sido feito no Brasil, o/a declarante deverá providenciar a
contratação de advogado no Brasil para iniciar o processo de homologação da
sentença de divórcio estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça no Brasil.

Nesse sentido, para que se reconheça em nosso território tal casamento é


necessário o registro da certidão do casamento, com a devida tradução e
a autenticação pelo agente consular brasileiro, conforme dispõe a Lei de
Registros Publicos (Lei n. 6.015/73, art. 32).

O Portal Consular do Ministério das Relações Exteriores ainda ressalta: a


certidão original de casamento internacional, deve ser previamente legalizada
pela Repartição Consular da jurisdição competente, e ainda, todos os
documentos mencionados devem ser originais ou cópias autenticadas,
acompanhados de cópias simples.

Faculdade Joaquim Nabuco. CIVIL V. Prof. João Paulo Cavalcanti Página 12


O casamento realizado no exterior, mesmo que não tenha sido trasladado
no Brasil, constitui impedimento legal para a celebração ou para o
registro de novo casamento. Além do casamento consular, existe também o
casamento de estrangeiro

5.9 DE ESTRANGEIROS

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, em seu art. 7º, estabelece


que a legislação do país onde está domiciliada a pessoa determina as regras
gerais sobre o direito das famílias.

Para a validade do casamento de estrangeiros no Brasil, vindo o casal a fixar


residência aqui, é necessário o registro do casamento, com a devida tradução
e autenticação pelo agente consular brasileiro (LRP 32).

(LINDB) Art. 7º A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras


sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de
família.

§ 1º Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos


impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.

§ 2º O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades


diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.

Como salienta Maria Berenice Dias, este é o casamento de estrangeiros


realizado fora do território brasileiro [[13]], a princípio não é algo que diga
respeito a nossa legislação, mas vindo o casal a fixar residência no Brasil,
passa a ser uma situação tutelada pelo direito pátrio. Nesse sentido, para que
se reconheça em nosso território tal casamento é necessário o registro da
certidão do casamento, com a devida tradução e a autenticação pelo agente
consular brasileiro, conforme dispõe a Lei de Registros Públicos [[14]] (Lei n.
6.015/73, art. 32).

Art. 32. Os assentos de nascimento, óbito e de casamento de brasileiros em país


estrangeiro serão considerados autênticos, nos termos da lei do lugar em que
forem feitos, legalizadas as certidões pelos cônsules ou quando por estes
tomados, nos termos do regulamento consular.

§ 1º Os assentos de que trata este artigo serão, porém, transladados nos cartórios
de 1º Ofício do domicílio do registrado ou no 1º Ofício do Distrito Federal, em falta
de domicílio conhecido, quando tiverem de produzir efeito no País, ou, antes, por
meio de segunda via que os cônsules serão obrigados a remeter por intermédio do
Ministério das Relações Exteriores.

E é necessário, também, conforme sustenta a professora Renata Furtado de


Barros, que se analise se o casamento celebrou-se de acordo com as leis do
território em que se realizou e se tal casamento não contraria disposições da lei
brasileira, ou seja, se não persistem impedimentos a ele em nosso sistema
jurídico.

Faculdade Joaquim Nabuco. CIVIL V. Prof. João Paulo Cavalcanti Página 13


A norma que vai regular o reconhecimento do casamento do estrangeiro no Brasil
é a LICC. O que vai se examinar é se o casamento do estrangeiro observou as
normas de celebração do local onde ele foi celebrado e se não existem
impedimentos para o casamento no Brasil. Se isso estiver ok, aí será possível a
homologação do casamento estrangeiro no Brasil.

Assim dispõe a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – antiga


LICC – que as regras brasileiras serão aplicadas, caso os cônjuges venham
fixar residência no Brasil.

Art. 7º. A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

§ 1º. Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto


aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.

Aplica-se tal disposição com base nos institutos de Direito Internacional


Privado, haja vista, os dispositivos da LINDB não determinarem de modo
expresso tal necessidade. Assim é que sustenta a professora Nádia Araújo:

No Brasil, as questões relativas a esta família internacionalizada se colocam


perante o juiz quando é preciso determinar, através do método do DIPR, a lei
aplicável ao fato concreto, ou quando houver necessidade de dar efeitos aqui aos
atos ou fatos ocorridos no exterior.

Dessa feita, o casamento celebrado no exterior, quando em conformidade com


as formalidades legais do Estado em que foi celebrado, será reconhecido como
válido no Brasil, desde que não constitua ofensa à ordem pública brasileira ou
fraude à lei nacional, e não seja um dos impedimentos matrimoniais fixados
pela lei.

6. CAPACIDADE, IMPEDIMENTO E CAUSAS SUSPENSIVAS

A capacidade irá determinar se o indivíduo poderá se casar ou não com


qualquer pessoa. Os impedimentos somente atingem determinadas pessoas
em certas situações. Já as causas suspensivas são situações de menor
gravidade, geralmente para impedir a confusão patrimonial.

6.1 CAPACIDADE PARA O CASAMENTO

São considerados incapazes para a celebração do casamento:

 Os menores que ainda não atingiram a idade núbil, que é de 16 anos


(art. 1.517, CC).
 Os enfermos, doentes mentais, sem discernimento para a prática de
atos da vida civil (art. 3º, II, CC). Alteração pela Lei nº 13.146/2015
 As pessoas que por causas transitórias ou definitivas não puderem
exprimir sua vontade (art. 3º, III, CC). Alteração pela Lei nº
13.146/2015.
Faculdade Joaquim Nabuco. CIVIL V. Prof. João Paulo Cavalcanti Página 14
São os mesmos casos de incapacidade absoluta previstos no art. 3º do atual
código.

A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá


contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu
responsável ou curador. a lei 13146/15 acrescentou ao art. 1550 o §2º, o qual
prevê que "A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia
poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio
de seu responsável ou curador."

A maioridade ocorre aos 18 anos, quando o indivíduo se torna habilitado para a


prática de todos os atos da vida civil. A partir dos 18 anos a pessoa pode
livremente casar e escolher o regime de bens.

Todavia é permitido o casamento a partir da idade núbil: 16 anos.

Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se
autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não
atingida a maioridade civil.

Dos 16 até os 18 anos as pessoas são relativamente incapazes (art. 4º, CC) e
precisam ser assistidas para os atos da vida civil. Até completarem a
maioridade civil é necessária a autorização dos pais para casar (art. 1634, III,
CC). É indispensável a concordância de ambos os genitores, que deverá
ser apresentada no pedido de habilitação e é exigível ainda que vivam
separados. Somente poderá ser dispensada a autorização de um dos pais caso
da ausência ou perda do poder familiar. Quando o menor estiver sob tutela,
cabe ao tutor autorizar.

A recusa à autorização é direito do pai e/ou da mãe quando fundamentada ou


motivada por motivo razoável. Caso haja divergência de decisão entre os pais,
é possível pedir o suprimento judicial do consentimento daquele que não
autorizou, se entender o magistrado que a recusa não se justifica (art. 1517,
parágrafo único, 1519 e 1631, parágrafo único, CC). O juiz, então, suprirá
judicialmente a autorização e expedirá alvará para a habilitação.

A lei apenas prevê suprimento judicial no caso de recusa de autorização por


um dos pais. No caso de recusa conjunta não poderá o juiz supri-la.

Além da recusa, poderá ocorrer a revogação da autorização, havendo


arrependimento da autorização concedida. Novamente, se o caso de
revogação for de apenas um dos pais, o menor poderá requerer o suprimento
judicial.

Celebrado o casamento mediante autorização judicial, a lei impõe o regime


da separação legal de bens (art. 1641, III, CC).

A ausência de consentimento dos pais torna o casamento anulável (art. 1551,


II, CC). Ainda que concedida a autorização, esta pode ser revogada, mas

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somente até a data das núpcias (art. 1518, CC). Celebrado o casamento, cessa
a menoridade (art. 5º, parágrafo único, II, CC).

Pode ocorrer o casamento de menores que ainda não alcançaram a idade


núbil, independentemente da autorização dos pais:

Art. 1.520, CC. Excepcionalmente, será permitido o casamento de


quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar
imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de
gravidez.

A Lei 11.106/2005 revogou o inciso VII do art. 107 do CP. Em consequência, o


casamento deixou de evitar a imposição ou o cumprimento de crimes contra os
costumes de ação penal pública (antes era ação penal privada).

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:VII - pelo casamento do agente


com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos
Capítulos I, II e III do Título VI da Parte Especial deste Código;

VIII - pelo casamento da vítima com terceiro, nos crimes referidos no


inciso anterior, se cometidos sem violência real ou grave ameaça e
desde que a ofendida não requeira o prosseguimento do inquérito
policial ou da ação penal no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da
celebração;

Contudo ainda prevalece a parte que autoriza o casamento abaixo da idade


núbil no caso de gravidez. Ou seja, excepcionalmente é admitido o casamento
de menor de 16 anos.

Em síntese, para uma jovem menor de 16 anos, basta engravidar.

Na hipótese de gravidez, prescinde-se de eventual cometimento de crime. Com


a comprovação de gravidez a autorização dos pais é dispensada. Objetiva-se
com a antecipação da capacidade para o casamento, nesse caso, proteger a
prole vindoura (reminiscência do casamento com finalidade de procriar). Se o
casamento se realizou sem autorização judicial, a gravidez constitui fato
obstativo da anulação do casamento por motivo de idade, como preceitua o art.
1.551, CC.

OBS. Ressalta-se que a Lei 12.015 de 7 de agosto de 2009 alterou o CP ao


tratar de crimes sexuais contra vulnerável e passou a prever em seu art. 217-A
que é crime “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos:”. A ação penal é agora pública incondicionada. Desta
forma não funciona o casamento como forma de perdão tácito de crime.

OBS. II.: Em 6 de julho de 2015, foi publicada a Lei Ordinária 13.146, que
institui a “Inclusão da pessoa com Deficiência” e se autodenomina “Estatuto da
Pessoa com Deficiência”.

Plena capacidade do enfermo ou deficiente mental.

Faculdade Joaquim Nabuco. CIVIL V. Prof. João Paulo Cavalcanti Página 16


A primeira importante alteração é que o sistema passa a ter apenas uma
hipótese de incapacidade absoluta: os menores de 16 anos (redação dada pelo
Estatuto ao artigo 3º do CC). Deixam de ser absolutamente incapazes os “que,
por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento
para a prática” dos atos da vida civil e de ser relativamente incapazes “os
excepcionais, sem desenvolvimento mental completo”.

Quais são as consequências desta mudança legislativa?


I – Todas as pessoas que foram interditadas em razão de enfermidade ou
deficiência mental passam, com a entrada em vigor do Estatuto, a serem
consideradas plenamente capazes. Trata-se de lei de estado. Ser capaz ou
incapaz é parte do estado da pessoa natural. A lei de estado tem eficácia
imediata e o levantamento da interdição é desnecessário.

Ainda, não serão mais considerados incapazes, a partir da vigência da lei,


nenhuma pessoa enferma, nem deficiente mental, nem excepcional (redação
expressa do artigo 6º do Estatuto).

Imaginemos uma pessoa que tenha deficiência profunda. Tal pessoa, em razão
da deficiência, não consegue exprimir sua vontade. Esta pessoa, hoje, passa
por um processo de interdição e é reconhecida como absolutamente incapaz.
Seu representante legal (normalmente um dos pais), na qualidade de curador a
representa para os atos da vida civil.

Com a mudança trazida pelo Estatuto, tal pessoa, apesar da deficiência


profunda, passa a ser capaz.

INCAPACIDADE RELATIVA DAQUELE QUE NÃO PODE EXPRIMIR SUA


VONTADE

A segunda alteração é a seguinte “os que, mesmo por causa transitória, não
puderem exprimir sua vontade”, atualmente absolutamente incapazes, passam
para a categoria de relativamente incapazes (redação dada pelo Estatuto ao
artigo 4º, III, do CC).

Aliás a nova redação do dispositivo é a seguinte:

III- aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem


exprimir sua vontade.

A alteração tem por consequência que, com a vigência do Estatuto, aquele


que não puder exprimir sua vontade passa a ser assistido, ou seja,
participa do ato juntamente com seu representante legal.

Pergunto: se uma pessoa estiver em coma induzido por questões médicas e,


portanto, temporariamente sem discernimento algum, como pode ela realizar o
ato com a assistência ou auxílio? A interdição que, por fim, declarar a pessoa
relativamente incapaz será inútil em termos fáticos, pois o incapaz não poderá
participar dos atos da vida civil.

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O equívoco do Estatuto, neste tema, é evidente.

A mudança legislativa é extremamente prejudicial àquele que necessita de


representação e não de assistência e acarreta danos graves àquele que o
Estatuto deveria proteger.

6.2 IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS

Impedimentos matrimoniais visam a impedir o casamento de determinadas


pessoas. A verificação de ausência dos impedimentos é necessária, pois a
inobservância dos impedimentos tem por objetivo à validade e regularidade do
casamento. Tentam evitar uniões que possam, de algum modo, ameaçar a
ordem pública.

A observância de impedimentos fulmina em nulidade do ato.

Não se pode confundir impedimentos com incapacidade. O incapaz não pode


casar-se com nenhuma pessoa, porque há um obstáculo intransponível. É o
que acontece, por exemplo, com o menor de 08 anos de idade. Já o impedido
apenas não está legitimado a casar com determinada pessoa (exemplo:
ascendente com descendente).

Os impedimentos estão elencados no art. 1.521, CC:

Art. 1.521. Não podem casar:

I - os ascendentes com os descendentes, até o infinito, seja o


parentesco natural (impedimento decorrente de parentesco
cosanguíneo) ou civil (impedimento decorrente de parentesco civil –
adoção);

O filho não pode ser casar com a mãe ou o neto com a avó. No caso do
parentesco natural (impedimento decorrente de parentesco cosanguíneo),
procura-se evitar problemas congênitos à prole.

II - os afins em linha reta (impedimento decorrente de parentesco por


afinidade);

Há parentesco por afinidade entre um cônjuge (ou companheiro) e os parentes


do outro cônjuge. Existe o impedimento somente com a afinidade em linha reta
até o infinito (sogra e genro, sogro e nora, padrasto e enteada, madrasta e
enteado). Razão apenas de ordem moral.

Significa que, por exemplo, sogro e nora, sogra e genro, madrasta e enteado e
padrasto e enteada não podem constituir casamento ou união estável, mesmo
depois de dissolvido o vínculo anterior, uma vez que de acordo com o artigo

Faculdade Joaquim Nabuco. CIVIL V. Prof. João Paulo Cavalcanti Página 18


1595 § 2° do Código Civil, a afinidade não se extingue nem mesmo com a
dissolução do casamento ou fim da união estável.

Não há esse impedimento entre cunhados depois de terminado o casamento,


pois são parentes afins colaterais.

III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com


quem o foi do adotante;

São aplicadas as mesmas regras do parentesco consanguíneo. Poderá o


adotado casar com a irmã do adotante (tia), já que não há esse impedimento
na família ligada por laços sanguíneos.

V - o adotado com o filho do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou


bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;

Irmãos unilaterais (mesmo pai ou mesma mãe). Bilaterais (mesmos pais).

A regra também se estende a tios e sobrinhas, tias e sobrinhos, que são


colaterais de terceiro grau (casamento avuncular, Respeitante ou relativo a um
tio; maternal; do latim avunculu,"tio materno"). Sobre este tipo de casamento,
ainda está em vigor o Decreto-Lei 3.200/1941, no sentido de que o casamento
entre colaterais de terceiro grau poderá ser realizado com autorização judicial,
se não houver risco à prole, o que deve ser verificado por junta médica,
formada por 02 profissionais da área.

Ressalta-se que os primos (parentesco de quarto grau) podem se casar


livremente.

VI - as pessoas casadas (impedimento decorrente de vínculo


matrimonial);

Princípio da monogamia.

O vínculo anterior apenas desaparece:

1.571, § 1º, CC - O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos


cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código
quanto ao ausente.

Deve-se acrescentar o caso de sentença anulatória do casamento como


causa de dissolução do vínculo conjugal.

VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou


tentativa de homicídio contra o seu consorte (impedimento
decorrente de crime).

Não exige que o cônjuge sobrevivente tenha participação no crime. Por outro
lado exige a condenação PR homicídio ou tentativa de homicídio. Os casos de
absolvição ou extinção de punibilidade não configuram impedimentos. Deve-se

Faculdade Joaquim Nabuco. CIVIL V. Prof. João Paulo Cavalcanti Página 19


reforçar que no caso ocorrência desse impedimento, também não poderá
ocorrer união estável

Art. 1723, §1º, CC: “A união estável não se constituirá se ocorrerem os


impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de
a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.

Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do


casamento, por qualquer pessoa capaz.

Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da


existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo.

6.3 CAUSAS SUPENSIVAS DO CASAMENTO

São situações que não impedem a celebração do casamento, mas acarretam,


como consequência jurídica desvantajosa aos cônjuges que não as observam,
a imposição do regime matrimonial de separação total de bens (art. 1641, I,
CC). Não provocam, quando infringidas, sua nulidade ou anulabilidade. O
casamento é apenas considerado irregular.

Em suma, visam à proteção do patrimônio da prole da relação anterior, do ex-


cônjuge e da pessoa que sofre influência decorrente do abuso de confiança ou
autoridade exercida por outrem (tutela e curatela).

Podem, as causa de suspensão, deixar de ser aplicadas pelo judiciário,


desde que se comprove a não ocorrência de prejuízo pelas pessoas que o
dispositivo visa proteger (art. 1.523, parágrafo único, CC).

Art. 1.523. Não devem casar:

I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto


não fizer inventário dos bens do casal e der partilha (julgada por
sentença) aos herdeiros;

Sendo feita prova de inexistência de prejuízo para os envolvidos o


casamento poderá ser celebrado por qualquer regime (art. 1.523, § único).

Caso de hipoteca legal em favor dos filhos:

Art. 1.489. A lei confere hipoteca: II - aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe
que passar a outras núpcias, antes de fazer o inventário do casal anterior;

Inventário negativo, inclusive extrajudicialmente por escritura pública (lei


11.441/2007): prova que o casal dissolvido não tinha bens.

II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter


sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da
dissolução da sociedade conjugal;

Faculdade Joaquim Nabuco. CIVIL V. Prof. João Paulo Cavalcanti Página 20


Finalidade de evitar incertezas sobre a paternidade de eventual filho que possa
vir a nascer durante este ínterim.

Essa causa suspensiva é imposta tão somente à mulher e seu objetivo é evitar
a dúvida sobre a paternidade (turbatio sanguinis). Frisa-se que não deve
persistir caso a nubente provar nascimento de filho, ou inexistência de
gravidez, na fluência do prazo (art. 1523, § único).

Nota-se que essa causa suspensiva tende a desaparecer: DNA.

III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida


a partilha dos bens do casal;

Em razão de haver previsão de divórcio sem que haja previa partilha de bens
(art. 1.581, CC). Caso haja prova de não haver prejuízo patrimonial, o novo
casamento poderá ser celebrado por qualquer regime de bens (art. 1.523, §
único).

IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes,


irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou
curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não
estiverem saldadas as respectivas contas.

Busca afastar a coação moral que possa ser exercida por pessoa que tem
ascendência e autoridade sobre o ânimo do incapaz. Vale enquanto durar a
tutela ou curatela e enquanto não pagas e quitadas as respectivas contas. As
contas devem ser prestadas em juízo. Mais uma vez verifica-se que a causa
suspensiva poderá ser afastada caso se prove a inexistência de prejuízo para o
tutelado ou curatelado.

6.4 OPOSIÇÃO DE IMPEDIMENTOS E SUSPENSÕES

Art. 1.529, CC. Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão


opostos em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato
alegado, ou com a indicação do lugar onde possam ser obtidas.

Devem ser opostos em declaração escrita e assinada, instruída com provas


dos fatos alegados. No caso de não poder anexar as provas, deve-se indicar
onde podem ser obtidas. A habilitação ou celebração serão imediatamente
suspensas e só prosseguirão após julgamento favorável aos nubentes.

IMPEDIMENTOS (momento e pessoas que lhes podem opor):

Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do


casamento, por qualquer pessoa capaz.

Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da


existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo.

Faculdade Joaquim Nabuco. CIVIL V. Prof. João Paulo Cavalcanti Página 21


CAUSAS SUSPENSIVAS (momento e pessoas que lhes podem opor):
Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser
argüidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangüíneos
ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam também consangüíneos ou
afins.

Verifica-se que as causas suspensivas, como apenas interessam à família,


apenas ela pode argui-las. Nem mesmo o MP pode alegá-las.

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