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Direito a ser ouvido em um prazo

razoável. Morosidade da justiça segundo


a ótica do Tribunal Europeu de Direitos
Humanos

SARA MARIA STRÖHER PAES

SUMÁRIO

1. Introdução. 2. Celeridade do processo e tempo


para defesa. 3. A jurisprudência do Tribunal
Europeu de Direitos Humanos. 3.1. A noção de
tribunal. 3.2. A duração do processo. 3.3. Determi-
nação do que é razoável. 3.4. A complexidade do
caso. 3.5. A conduta do demandante. 3.6. A conduta
das autoridades. 4. Reparação.

1. Introdução
As Declarações de Direitos são docu-
mentos pelos quais os direitos “se apresen-
tam em sociedade”. O ano de 1776 marca a
ruptura com a metrópole e o início de uma
nova forma de organização política indepen-
dente, no caso das 13 colônias americanas
que dotam a si mesmas de “Declarações de
Direitos”, como parte de suas respectivas
constituições como Estados livres. O ano
de 1789 marca a ruptura com o antigo
regime e o começo do Estado Constitucional
no continente europeu, com a “Declaração
de Direitos do Homem e do Cidadão”. Essas
declarações não são apenas declarações de
direitos, pois incluem o desenho básico da
estrutura do Estado e tornam cidadãos os
indivíduos de um Estado estabelecido pela
soberania popular.
Já nas primeiras declarações de direitos
(tais como a Carta Magna Inglesa, a Decla-
ração de Direitos do Bom Povo de Virgínia,
e outras) foram incluídas, ainda que de
forma muito rudimentar, disposições dese-
nhadas para assegurar o direito a um juízo
justo. O que resulta interessante é notar
Sara Maria Ströher Paes é Pós-graduada em como, apesar da diversidade de sistemas
Direitos Humanos pela Universidade Complutense jurídicos, pôde-se formular um conjunto de
de Madri – Espanha. princípios e normas de validade universal
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que tem mudado muito pouco ao largo da violados pelos demais. O Estado, portanto,
história, e tem sido consagrado em distintos permanecia passivo com relação a proble-
instrumentos internacionais de direitos mas tais como a capacidade de uma pessoa
humanos. para reconhecer seus direitos e para defen-
Um dos direitos individuais que, ao largo dê-los adequadamente na prática.
da história, sempre tem figurado entre O conceito de direitos humanos come-
aqueles de importância fundamental, em çou a sofrer uma transformação a partir do
relação à garantia da reta administração de momento que as ações e relações assumi-
Justiça e no que se refere aos instrumentos ram caráter mais coletivo que individual. O
de proteção contra os abusos do poder, é o movimento se fez no sentido de se reconhecer
direito a um “juízo justo”, ou a um “pro- os direitos e deveres sociais. Esses novos
cesso eqüitativo”, também chamado de direitos humanos, exemplificados pelo
direito ao “devido processo”, ou direito a preâmbulo da Constituição Francesa de
um “processo regular”, ou identificado no 1946, são, antes de tudo, os necessários para
artigo 8º do Convênio Americano de tornar efetivos todos os direitos antes
Direitos Humanos (finalmente firmado pelo proclamados. A atuação positiva do Estado
governo brasileiro) como um conjunto de é necessária para assegurar o gozo de todos
“garantias judiciais”. esses direitos.
O Estado, como forma de organização O direito à justiça ganhou atenção e
dos povos em um território, como ente importância entre os novos direitos substan-
responsável pela paz pública, pelo desen- ciais, sociais e individuais dos indivíduos
volvimento do povo e pelo bem-estar em sua qualidade de consumidores, locatá-
comum, atua em vários planos para fazer rios, empregados e mesmo como cidadãos,
efetiva essa finalidade. Uma administração uma vez que a titularidade de direitos é
de justiça rápida, em seus justos prazos acer- destituída de sentido na ausência de meca-
tada, constitui uma preocupação legítima e nismos para sua efetiva reivindicação, sendo
irrenunciável do Governo. O desfrute de este o mais básico dos direitos humanos de
qualquer direito fundamental exige uma um sistema jurídico que pretenda garantir e
política jurídica ativa, como também eco- não só proclamar os direitos de todos. Em
nômica, por parte dos poderes públicos; muitos países, as partes que buscam uma
significando que o Estado assume um papel solução judicial precisam esperar dois anos
passivo de não permitir que seja violado por ou mais para uma decisão exeqüível. Esta
outros e ativo no sentido de criar instru- demora aumenta os custos para as partes e
mentos para que a pessoa tenha condições pressiona economicamente os débeis a aban-
de obter proteção judicial efetiva em defesa donar seus casos ou aceitar acordos por
de seus direitos e interesses, em um prazo valores muito inferiores àqueles a que teriam
razoável. direito.
Tem dado lugar a muitos escritos o
desânimo que a duração dos processos causa A Convenção Européia de Direitos
aos litigantes em potencial. O conceito de Humanos regula as garantias do processo
acesso à justiça tem sofrido uma transfor- de forma a conseguir um juízo justo, entre
mação importante. Nos Estados liberais dos os quais o direito a ser ouvido em um prazo
séculos XVIII e XIX, os procedimentos ado- razoável, qualificando-o como um direito
tados para solução dos litígios civis refletiam humano, que é da natureza da própria
a filosofia essencialmente individualista dos Convenção. Como indica Pérez Luño:
direitos vigentes. O direito à proteção judicial “en todo caso, se puede advertir una
significava essencialmente o direito formal cierta tendencia, no absoluta como lo
do indivíduo agravado de propor ou contes- prueba el enunciado de la mencionada
tar uma ação. A teoria era a de que, mesmo Convención Europea, a reservar la
que o acesso à justiça pudesse ser um direito denominación ‘derechos fundamen-
natural, os direitos naturais não necessi- tales’ para designar los derechos
tavam de uma ação do Estado para sua humanos positivados a nivel interno,
proteção. Sua preservação exigia apenas que en tanto que la fórmula ‘derechos
o Estado não permitisse que eles fossem humanos’ es la más usual en el plano
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de las declaraciones y convenciones trar tais esperanças sem ameaçar com
internacionales”1. isto sua própria existência; por isso
Depreende-se da Convenção Européia de mesmo tem que enfrentá-las”3.
Salvaguarda dos Direitos do Homem e das A garantia de ser ouvido em um prazo
Liberdades Fundamentais de 1950 que esta razoável encerra uma faceta de conteúdo
trata de alguns direitos humanos, declarados prestacional.
como tal, que os Estados obrigam-se a
cumprir, e isso significa que estes devem
incorporá-los ao ordenamento interno. Os 2.Celeridade do processo
direitos sociais e políticos constituem objeto e tempo para defesa
de outro instrumento, a Carta Social Euro-
péia. Uma das condições que deve cumprir um
processo para não resultar injusto ou arbi-
A importância que um Estado defere a trário tem que ver com a celeridade do
um direito, no dizer de Perez Luño2, verifi- mesmo. É da essência da administração de
ca-se no trato que recebe o direito em matéria justiça que, para ser justa, esta tem que ser
de garantia. Dessa forma, a categoria dos rápida, ou, pelo menos, ser entregue em um
direitos públicos subjetivos, entendidos tempo adequado para os interessados. Uma
como autolimitação estatal em benefício de justiça lenta, ou que se retarde indevida-
determinadas esferas de interesse privado, mente, é, por si só, injusta. De nada serve
perde seu sentido ao achar-se superada pela ao demandante ou ao demandado em um
própria dinâmica sócio-econômica de nosso processo civil, ao acusador ou ao acusado
tempo, em que o desfrute de qualquer direito em um juízo penal, que, depois de largo
fundamental exige uma política jurídica tempo, aceitem-se seus alegados, se o mero
ativa (e na maioria das vezes também eco- transcurso do tempo lhes ocasionou um dano
nômica) por parte dos poderes públicos. irreparável. Haver-se visto envolvido em um
Parte-se do princípio de que não é longo processo pode ter prejudicado seus
possível o desfrute adequado da liberdade, interesses, ou, inclusive, ter lesionado sua
aquela esfera de autonomia individual, sem reputação e a percepção que se tenha dele
condições sócio-econômicas mínimas que no grupo social. Ademais, com muita fre-
permitam seu exercício, eliminando a injus- qüência, quem pode esperar é aquele que
tiça e miséria que condenam o homem à sabe que sairá derrotado e que se beneficia
dependência. Para isso, entretanto, é neces- com uma decisão tardia. Ao contrário, a
sário que a neutralidade do Estado, o laissez- quem lhe assiste a razão, cujos direitos tem
faire, laissez-passer, substitua-se por uma sido lesados, não dispõe de tempo e não pode
posição intervencionista, tendente à trans- esperar eternamente que se estabeleça a
formação das condições de desenvolvimento justiça.
de determinada comunidade, para permitir Tanto a Convenção Americana como a
a plena realização do ser humano. O Estado Convenção Européia destacam que toda
deve prestar os meios necessários para isso. pessoa, na determinação de seus direitos ou
Surgem assim os denominados “direitos de obrigações civis, ou na sustentação de uma
prestação” que exigem um comportamento acusação criminal formulada contra si, tem
positivo dos poderes públicos. direito a ser julgada “dentro de um prazo
“Como conseqüência da falta de razoável”. A Convenção Americana de
reservas existenciais próprias, o indi- Direitos Humanos expressa, no art. 7º,
víduo transfere ao Estado a exigência parágrafo 5º, que toda pessoa detida por
natural de segurança. Do Estado se causa de uma infração penal terá direito a
esperam as ajudas que lhes permitam ser julgada dentro de um prazo razoável ou
subsistir através das diversas crises a ser posta em liberdade, sem prejuízo de
que podem afetar-lhes, tanto se é o que continue o processo.
desemprego, enfermidade, falta de
3
habitação, como a perda do país natal. FORSTHOFF, Ernest. Problemas constitu-
Nenhum Estado moderno pode frus- cionales del estado social. In: ABENDROTH,
Wolfgang. El estado social. Traducción de José
1
PEREZ LUÑO, op. cit., p. 30. Puente Egido. Madrid : Cento de Estudos Constitu-
2
Ibidem, p. 27. cionales, 1986. p. 53.
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Provavelmente é em matéria penal que a 3.A jurisprudência do Tribunal Europeu
agilidade e rapidez do processo resultam de Direitos Humanos
mais necessárias para assegurar sua justiça
e retidão. Entretanto, dada a natureza do que A Convenção Européia para a Proteção
está em jogo, é também nesse campo que dos Direitos Humanos e das Liberdades
surge de maneira mais nítida a necessidade Fundamentais, assinada em Roma, em 4 de
de compatibilizar, por uma parte, a rapidez novembro de 1950, por doze países euro-
do processo e, por outra, os requerimentos peus, recolhe uma série de direitos e liber-
da defesa. Para que o processo seja justo, dades e institui dois órgãos, a Comissão
deve ser rápido, mas não tanto, para que Européia dos Direitos Humanos e o Tribunal
essa rapidez não possa comprometer as Europeu de Direitos Humanos, para asse-
possibilidades da defesa. Nesse sentido, gurar o respeito dos Estados contratantes à
deve-se procurar um certo grau de equilí- Convenção.
brio entre a necessidade de que o processo O sistema de proteção de direitos e
se desenvolva sem dilações indevidas e o liberdades articula-se em dois níveis, um de
tempo requerido para a defesa. A garantia caráter interno, mediante a possibilidade que
do art. 14, parágrafo 3º, alínea b, do Pacto têm os cidadãos de determinado país euro-
de Direitos Civis e Políticos, que confere ao peu acudir à própria organização judiciária
acusado em matéria penal “dispor do tempo interna, e, uma vez esgotada esta via, outra
necessário para a preparação de sua defesa”, de caráter internacional, se ainda não houver
é regra reiterada tanto pela Convenção sido satisfeita a pretensão de tutela de sua
Européia como pela Convenção Americana liberdade, ante a Comissão e o Tribunal
de Direitos Humanos. Em conseqüência, a Europeu de Direitos Humanos, com sede em
duração do processo deve ser razoável tanto Estrasburgo.
que não resulte excessivamente prolongada
quanto permita dispor do tempo indispen- Entre duas vias internacionais possíveis
sável para a preparação da defesa. de satisfação de um mesmo direito ou liber-
dade, como pode ocorrer no caso em que
Por isso, a própria jurisprudência do um mesmo bem jurídico está, ao mesmo
Tribunal Europeu de Direitos Humanos não tempo, tutelado pelos organismos criados
considera o tempo como o único elemento a por instrumentos da Organização das
ser manejado, embora seja fundamental, mas Nações Unidas e por um instrumento
dependerá de outras circunstâncias do regional de Direitos Humanos, sempre
processo. O longo lapso temporal de um prevalecerá o mais benéfico ao indivíduo.
processo pode vir motivado por fatores É o princípio da primazia do dispositivo
alheios à atuação dos órgãos judiciais e, em mais favorável aos indivíduos, quando
geral dos poderes públicos, situando-se no direitos idênticos são garantidos por dois ou
comportamento das partes. Na verificação mais instrumentos.
de se o processo atendeu ou não o direito a
ser ouvido em um prazo razoável, tomam-se A necessidade de se criar órgãos inter-
em conta as exigências de uma boa admi- nacionais para a defesa dos direitos humanos
nistração de justiça, segundo suas circuns- está em que as garantias constitucionais
tâncias, e a duração normal dos que tenham exclusivamente nacionais nem sempre são
idêntica natureza, não prescindindo de suficientes, já que entre uma pessoa e seu
fatores como o da atitude das partes ou do Governo podem surgir conflitos nos que,
prejuízo que realmente houverem sofrido segundo a expressão de um cronista inglês
pela tardança na resolução. da Idade Média, “há de um lado muita
O direito comentado encontra-se exten- potência e de outro muita impotência”.
samente regulamentado no artigo 14 do
Pacto de Direitos Civis e Políticos e no artigo “A Convenção Européia de Direi-
8º da Convenção Americana de Direitos tos Humanos supõe hoje o ponto
Humanos. Entretanto, nos concentraremos culminante na proteção dos direitos no
no trato conferido a este direito pelo Tribunal âmbito europeu que tem tido enormes
Europeu de Direitos Humanos, por meio dos implicações no âmbito interno dos dis-
julgados que dão aplicação ao artigo 6º da tintos ordenamentos estatais. A
Convenção Européia de Direitos Humanos. proteção internacional dos direitos
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supera o marco próprio dos direitos sublinhando que somente merece a denomi-
fundamentais”4. nação de tribunal, um organismo que
O Estado que ratifica a Convenção se responda a uma série de requisitos, tais como
compromete a organizar seu sistema judicial a independência, tanto ante o executivo
de forma que cumpra as exigências dos como ante as partes em litígio, a duração
direitos ali insertos. Principalmente, no que do mandato de seus membros, e as garantias
concerne ao artigo 6º da Convenção, que oferecidas pelo procedimento.
embora considerado como direito autônomo, A juízo da Corte Européia – e no que
como é de um juízo justo, efetivo, contém estritamente concerne ao Convênio Euro-
garantias de outros direitos como meios de peu –, um tribunal se caracteriza, no sentido
garantir o livre gozo dos direitos que substantivo do termo, por sua função judi-
pretende proteger. Recordemos o artigo 6º cial, isso por sua faculdade de resolver ou
da Convenção: determinar assuntos dentro de sua compe-
“6.1. Toda pessoa tem direito a que tência sobre a base do direito e seguindo os
sua causa seja examinada eqüitativa procedimentos conduzidos de uma maneira
e publicamente, em prazo razoável, pré-estabelecida. Essa noção material do que
por um tribunal independente e impar- constitui um tribunal também foi desenvol-
cial, estabelecido pela lei, o qual vida pela Comissão Européia de Direitos
decidirá, quer sobre a determinação Humanos, sustentando que o elemento
dos seus direitos e obrigações de característico de um tribunal consiste em que
caráter civil, quer sobre o fundamento suas declarações não constituem a faculdade
de qualquer acusação em matéria discricionária sua, senão que representam o
penal dirigida contra ela. O julgamento remate de um procedimento metódico
deve ser público, mas o acesso à sala conduzido sobre a base da preeminência do
de audiências pode ser proibido à Direito.
imprensa ou ao público durante a Em um caso que envolvia o Conselho do
totalidade ou parte do processo, Colégio de Advogados de Amberes (caso
quando a bem da moralidade, da Amberes) – excluindo de sua lista um de
ordem pública ou da segurança nacio- seus membros –, a Comissão Européia esti-
nal em uma sociedade democrática, mou que esse Conselho, ao resolver em
quando os interesses de menores ou a matéria de admissão da profissão de advo-
proteção da vida privada das partes gado ou de reinscrição em suas listas, não
no processo o exigirem, ou na medida estava concebido como um tribunal; em sua
julgada estritamente necessária pelo opinião, este representava uma autoridade
tribunal, quando, em circunstâncias administrativa sui generis de um órgão
especiais, a publicidade pudesse ser corporativo, dispondo de faculdades regu-
prejudicial aos interesses da justiça”. lamentárias, contenciosas, administrativas,
financeiras e disciplinárias, pelo que – tendo
3.1. A noção de tribunal em conta a pluralidade das funções admi-
nistrativas e outras assumidas pelo Conselho
Com respeito ao que se deve entender do Colégio – a Comissão estimou que esse
por Tribunal, a Corte Européia de Direitos órgão não podia considerar-se como um
Humanos tem adotado um conceito amplo tribunal, no sentido do artigo 6 do Convê-
e autônomo para os propósitos da Conven- nio Europeu. Entretanto, esse critério não
ção, que não tem necessariamente que coin- foi compartido pela Corte Européia, indi-
cidir com a noção de tribunal utilizada na cando que o exercício sucessivo de distin-
legislação interna dos Estados-partes da tas atribuições não poderia, por si só, privar
Convenção Européia. Em algumas de suas uma instituição da qualidade de tribunal,
decisões, a Corte Européia parece haver com respeito a alguma delas.
confundido a noção de Tribunal com alguma
das condições que este deve reunir para No que se refere à noção autônoma,
poder garantir um juízo com as garantias tribunal é todo ente com competência para
do procedimento a seguir ante esse órgão, julgar e resolver, conforme o Direito, con-
trovérsias ou disputas, sendo ou não parte
4
CRUZ VILLALON, op. cit., p. 42. do Poder Judiciário, incluindo tribunais
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administrativos, ou órgãos que – como os penal, pelo valor de bens postos em jogo, a
colégios profissionais – excepcionalmente excessiva duração do procedimento causa
podem ter competência para atuar como mais repulsão que nos processos civis ou
tribunal e determinar direitos ou obrigações administrativos, mas nestes se conservará
civis, ou aplicar sanções disciplinárias. A grande importância ao conjunto dos elemen-
capacidade para decidir as controvérsias que tos que confluem na resolução do tema,
se lhe submetem é, provavelmente, uma das sendo necessária uma maior ponderação. Em
características distintas do tribunal5. todo caso, a própria incerteza que produz
A Convenção Européia adota um meca- uma dilação demasiada da resolução
nismo subsidiário de proteção estatal, funda- jurídica, em especial à provocada no pro-
mentalmente, por meio de seus Tribunais. cesso penal, é uma tortura psicológica, como
A Convenção confia, em primeiro lugar, a segundo o voto de Zekia no caso Wemholf:
cada um dos Estados contratantes a garantia “..uma pessoa desesperada defende sua ino-
do desfrute dos direitos e liberdades que ela cência com uma vontade consideravelmente
consagra. As instituições criadas por aquela diminuída”.
contribuem à dita finalidade, mas só entram
em jogo pela via contenciosa depois de 3.3. Determinação do que é razoável
esgotados todos os recursos internos. Por
isso, o artigo 26 do Convênio estabelece que O direito que comentamos apresenta
a comissão não poderá ser requerida senão dificuldades no que se refere à determinação
depois de esgotados os recursos internos, tal do período que deve tomar-se em conside-
como se entende, segundo os princípios de ração para estabelecer a duração do proces-
direito internacional geralmente reconhecidos. so, e também no que se refere a determinar
o que é um prazo razoável e que critérios
3.2. A duração do processo devem considerar-se no que se refere ao
direito da pessoa a ser ouvida sem dilações
O que pode ser um meio para controlar indevidas.
a regularidade do procedimento, adverte o Ao determinar se a prolongação de um
Tribunal Europeu de Direitos Humanos, por procedimento – civil ou criminal – excedeu
mais complexas ou acidentadas que se os limites, do que se pode considerar razoá-
tenham revelado as diligências de um lití- vel a juízo da Corte Européia de Direitos
gio, haverá sempre um prazo que não será Humanos, devem ser consideradas:
possível ultrapassar. A partir de certo I) as circunstâncias particulares de cada
momento será necessário, pelo menos, caso e, mais especialmente, a complexidade
explicar as razões da tardança. Assim se do litígio no que concerne aos feitos ou a
verifica no affair Baggetta, sentença de 25 seus fundamentos jurídicos;
de junho de 1987: II) a conduta das partes – ou do próprio
“Opina a Comissão que um pro- afetado em matéria penal – assim como o
cedimento penal que se estende três que eles arriscam no processo; e
anos, dois meses e vinte e cinco dias III) a conduta das autoridades compe-
sem passar o período de instrução, não tentes, sejam elas administrativas ou judi-
se pode considerar em princípio – ao ciais. Só a lentidão imputável ao Estado, à
não existir motivos que o justifiquem – luz de todos os fatores do caso, permite con-
como razoável. A decisão definitiva cluir se a duração do processo tem passado
sobre a acusação tardou tanto que ou não os limites de um prazo razoável.
corresponde ao Estado proporcionar
uma explicação...”. Em resumo, não se pode sugerir um lapso
preciso que constitua o limite entre a dura-
Nessa matéria, é impossível o estabele- ção razoável e o prolongamento indevido de
cimento de regras fixas, que só poderão ser um processo, é necessário examinar as
medidas em função da duração de outros circunstâncias particulares de cada caso e a
processos de idêntica natureza, pelo menos complexidade do mesmo. Mas a ausência
nos supostos de funcionamento normal da de uma regra matemática, com relação à
Administração de Justiça. No processo duração do processo, tampouco deve esti-
mar-se que outorga uma faculdade discri-
5
FAÚNDEZ LEDESMA, op. cit., p. 26. cionária ao tribunal, ou à legislação interna
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dos Estados, em relação a definir o que é procedimento, segundo sua natureza e inci-
razoável. Há de se ter critérios iguais no dências, deverão ter em conta uns ou outros
tratamento de assuntos de natureza distinta. fatores, como no caso König, 10 de março
É necessário que o cidadão obtenha de 1980, verbis:
justiça e a obtenha em um tempo adequado. “Ao averiguar se a duração de um
A razoabilidade de um lapso somente pode processo penal foi razoável, o Tribunal
ser apreciada em função das circunstâncias levou em consideração, entre outras
concorrentes em cada caso. Já que se parte coisas, a complexidade do caso, o
da necessidade de tempo para a análise das comportamento do demandante e a
causas submetidas a juízo, a exigência de maneira em que o assunto foi levado
rapidez poderia resultar contraditória com pelas autoridades administrativas e
a idéia mesma de justiça. judiciais (sentença Neumeister; p. 42-
43, parágrafo 20.21, sentença Ringei-
“Deixar transcorrer um tempo pru- sen, p. 45, parágrafo 110).”
dente entre os fatos e sua resolução,
não somente pode constituir uma sã Assim, segundo a jurisprudência dese-
medida de política jurídica, senão que, nhada pelo Tribunal Europeu de Direitos
em ocasiões, é o único meio para obter Humanos, a solução da suposta violação do
os elementos necessários para uma direito consignado no artigo 6.1, da Con-
autêntica valoração”6. venção Européia, depende do resultado que
se obtenha da aplicação desses critérios às
Não se trata de buscar uma justiça rápi- circunstâncias.
da, portanto, senão uma que se realize em
tempo razoável. O tempo deve ser conveni- 3.4. A complexidade do caso
ente para que a justiça seja efetiva. Assim
“o problema mais importante consiste, Estando entendido que nenhum processo
pois, em extrair o significado exato é igual a outro, certamente eles podem apre-
das palavras prazo razoável. A sentar um distinto grau de dificuldade, tanto
Comissão estima que esta expressão no que se refere ao estabelecimento dos fatos
é vaga, falta precisão, e que não é, como na determinação do direito aplicável,
por conseguinte, possível determinar para cuja adequada avaliação e resolução
de uma maneira abstrata seu alcance se requererá um lapso diferente.
exato, que não pode ser expressado Na jurisprudência ainda não se tem um
mais que à luz das circunstâncias intento de delimitação exata do que se deva
particulares de cada caso”. (caso entender por “complexidade”. É a concre-
Wemholf, sentença de 27 de junho de ção casuística, referente aos elementos de
1968). direito e aos de prova dos fatos, que dificulta
Efetivamente, o tema deste trabalho não ou complica o trabalho do órgão jurisdicional,
pode ser entendido como simplesmente ao implicar maior atividade para a resolução
dirigido a obter a celeridade processual, do litígio. No caso Pretto e outros, sentença
pois, nesse caso, poderia ser vulnerado o de 8 de dezembro de 1983:
resto das garantias que definem o processo
mesmo. Trata-se de evitar aquelas dilações “A Comissão e o Governo estão
que sejam indevidas, não razoáveis, injusti- de acordo em estimar que os fatos não
ficadas. O que reforça a idéia de que se trata apresentam controvérsia alguma, mas
de um direito eminentemente circunstancial, colocam um problema complexo de
interpretação jurídica. O Tribunal
que depende dos elementos presentes na
subscreve esta opinião: trata-se de
contenda judicial.
aplicar uma lei relativamente nova,
Depois de indicar que a “característica que não continha disposições em
razoável da duração de um procedimento relação ao ponto de direito em litígio,
que incide no artigo 6.1., aprecia-se segundo ou seja, saber se as condições a cum-
as circunstâncias do mesmo”, a Corte passa prir, para o exercício do direito de
a relacionar as que devem ser consideradas preleção, eram válidas igualmente
em cada caso particular. Ou seja, em cada para o direito de resgate; ademais a
jurisprudência, ainda muito pouca,
6
Ibidem, p. 116. revela orientações contraditórias. Era,
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pois, razoável, para eliminar esta internos. No caso Poiss, em que o governo
divergência e assegurar a certeza do da Áustria qualificou como um erro por
direito, que a Sala Terceira do Civil parte do demandante o fato de haver-se
do Tribunal de Cassação adiasse sua dirigido repetidas ocasiões à jurisdição
decisão até que se produzisse uma superior, interrompendo com isso o trabalho
decisão do Plenário do Tribunal, ainda do órgão inferior, a Corte Européia de
que, com isto, se produzisse uma Direitos Humanos desestimou este argu-
dilação no processo”. mento, recordando que não cabe reprochar
A complexidade do caso se completa com a um demandante o fato de haver utilizado
as conseqüências mais ou menos gravosas plenamente todas as vias e recursos que lhe
da dilação. concede o Direito interno, e muito menos se
eles geralmente prosperaram. Inobstante, a
3.5. A conduta do demandante Corte observou que, ainda que esta conduta
pôde haver sido legítima em si mesma, ela
Em matéria criminal, se bem que o acu- constitui um fato objetivo imputável ao
sado não tem a responsabilidade de que o Estado demandado, e que deve ter-se em conta
processo se conclua com presteza, ele pode para determinar-se se tem ultrapassado a
obstruir o desenvolvimento do mesmo ou, duração razoável do processo. Aqui trata-se
em pleno exercício de seus direitos, recorrer do demandante que pleiteia o direito que
a uma estratégia que inevitavelmente, comentamos. A esse respeito, o Tribunal
prolongará a duração do juízo. Como tem
Europeu de Direitos Humanos se pronuncia
expressado a Corte Européia de Direitos
no assunto Neumeister:
Humanos, a conduta do afetado constitui um
fato objetivo que não pode ser atribuído ao “Sobre este ponto, a Comissão
Estado, e que deve ser tomado em conside- considera que o inculpado que se nega
ração para determinar se tem excedido ou a colaborar com os órgãos da instru-
não o tempo razoável que deve durar o pro- ção ou que interpõe os recursos que
cesso. Não obstante, tem que fazer notar que correspondam, limita-se a fazer uso
esse mesmo alto Tribunal tem sustentado, de seu direito e não pode ser sancio-
sistematicamente, que não se pode respon- nado por este motivo, a não ser que
sabilizar o indivíduo por fazer pleno uso dos proceda com abuso ou excesso”.
recursos que tem disponíveis na esfera do Com a utilização desse critério, à hora
Direito interno, e muito menos se tais de averiguar a dilação do tempo ou o atraso
recursos têm sido exitosos. na resolução do litígio, o Tribunal o que quer
O problema é mais complexo em maté- é sancionar a manipulação do procedimento
ria civil, em que, em virtude do princípio judicial, abusando do procedimento com
dispositivo, as partes têm a iniciativa e o demandas e recursos por motivos indefen-
poder para avançar no processo, o qual sáveis e infundados, o que prolonga sem
permitirá ao Estado trasladar uma quota necessidade a instrução e atrasa a conclu-
importante da responsabilidade pela duração são do feito. No que se refere ao processo
do processo ao demandante ou ao deman- penal, a condução do processo constitui
dado. Entretanto, a Corte Européia de responsabilidade do aparelho estatal, limi-
Direitos Humanos tem sustentado que essa tando-se os acusados ao exercício de sua
característica do processo civil não exime defesa. Podem utilizar todos os direitos que
os tribunais de cumprir com assegurar às lhes oferece o ordenamento processual, mas
partes que seus direitos serão determinados com a obrigação de contribuir com o seu
dentro de um prazo razoável. Esta respon- reto desenvolvimento. O princípio de con-
sabilidade do Estado é, obviamente, maior dução do litígio pelas partes (dispositivo)
quando o próprio Estado é uma dessas deve ser compatível com a boa marcha dos
partes no processo civil e o tem dilatado procedimentos, que o próprio órgão judicial
inecessariamente. deverá ter em conta, dando de ofício ao pro-
Em todo o caso, e de acordo com o já cesso o curso que corresponda, pois esse
expressado, o indivíduo não perde seu direito princípio não libera a autoridade judicial dos
a um processo sem dilações indevidas pelo deveres de vigilância em sua adequada
simples fato de utilizar todos os recursos condução.
232 Revista de Informação Legislativa
3.6. A conduta das autoridades carência de eficácia na Administração de
Justiça do país, pouco importando qual
A tramitação de um processo – civil ou poder é culpável por isso. Assim, o Tribu-
criminal – pode ver-se retardada, seja por nal europeu assinalou no caso Martins
falta de diligência, ou por negligência, na Moreira, em que o Governo português ale-
eficiência da condução do caso por parte gava que somente o comportamento das
das autoridades judiciais, ou por problemas autoridades judiciais poderia fazer incorrer
estruturais próprios do sistema judicial, que em responsabilidade a Portugal, não os pos-
costuma ter conexão com a carência de síveis erros do Poder Legislativo, do Poder
meios para o desenvolvimento adequado da Executivo ou dos organismos ou pessoas que
administração de justiça ou organização dos não dependam da organização do Estado:
tribunais, o que deslocaria a responsabili-
dade do Poder Judicial ao Executivo e ao “Esta opinião se opõe à reiterada
Legislativo, responsáveis pelas medidas jurisprudência do Tribunal. O Estado
legais. A importância desta distinção radi- português, ao ratificar o convênio, tem
cal é que, não sempre, o retardo judicial será contraído a obrigação de cumprir-lhe
incompatível com a obrigação do Estado de e deve, em especial, garantir que assim
assegurar que a duração do processo não o farão suas distintas autoridades”.
exceda um tempo razoável.
Evidentemente, se o prolongamento 4. Reparação
indevido do processo é o resultado da negli-
gência das autoridades judiciais, tal atraso Se o particular que sofreu a vulneração
constituirá uma violação do direito a um de seu direito não puder ser reparado, care-
juízo rápido. A respeito, a Corte Européia cerá de sentido para ele a proteção que
de Direitos Humanos tem assinalado que os pretende oferecer o Convênio Europeu.
juízes responsáveis pelo caso devem dar Portanto, o artigo 50 do Convênio contém
especial consideração às possíveis sérias que
conseqüências de qualquer demora para as “se a resolução do Tribunal declara
partes no processo e, sobre essa base, que uma resolução tomada ou uma
manejar o caso com especial diligência. medida ordenada por uma autoridade
O Tribunal, em suas considerações jurí- judiciária ou qualquer outra autoridade
dicas, tem deixado claro que o fator relativo de uma Parte Contratante se opõe total
ao comportamento das autoridades compre- ou parcialmente às obrigações que
ende de maneira genérica a íntegra atuação derivem do presente Convênio e se o
dos poderes públicos. A Comissão, ao Direito interno de dita Parte só permite
argumentar as alegações de Portugal no caso de maneira imperfeita reparar as
Guincho em que, entre outras alegações, conseqüências de esta resolução ou
alegou a falta de preparação profissional do medida, a resolução do Tribunal con-
juiz encarregado do caso, assim se expres- cederá, se procedente, uma satisfação
sou: eqüitativa à parte prejudicada”.
Os danos sofridos pelo retardo podem ir
“Em relação às aptidões profis- além da satisfação por uma sentença favo-
sionais do juiz encarregado do caso rável ou contrária, para que o indivíduo se
do demandante, a Comissão constata
que as Altas Partes Contratantes são, considere reintegrado na plenitude de seus
segundo os termos do Convênio, direitos. Nem sempre a sentença bastará
responsáveis por todos seus órgãos, para compensar, em sua totalidade, os danos
qualquer que seja o poder ao qual per- causados pelo atraso, e o Estado responde
tence. A Comissão, portanto, não é pelo descumprimento da obrigação assumi-
chamada a estabelecer ao detalhe se da. Quando acontece a impossibilidade de
uma violação alegada do Convênio é se retornar o direito ao seu titular, pelo
imputável às autoridades dos Poderes menos in natura, pois o tempo perdido não
Executivo, Legislativo ou Judiciá- volta, caberá uma indenização justa aos pre-
rio...”. judicados.
A responsabilidade internacional do No caso Unión Alimentaria Sanders,
Estado se baseia na má organização ou originário da Espanha, sentença de 7 de julho
Brasília a. 34 n. 135 jul./set. 1997 233
de 1989, frente à concreta reclamação de ção Européia, o Estado contratante está
danos e prejuízos por parte da sociedade recebendo os dispositivos ali expressos em
postulante, a decisão do Tribunal indica o forma de compromisso com seus próprios
seguinte: cidadãos.
“Entende o Tribunal que Unión De outra parte, os direitos humanos abar-
Alimentaria Sanders S.A., sofreu um cam também os direitos não recolhidos nos
dano material que não se pode valorar textos positivados. Entretanto, obtém-se
com precisão. Resolvendo com eqüi- maior benefício estipulando que direitos
dade, como estabelece o artigo 50, fundamentais se referem a direitos humanos
concede-lhe a soma de 1.500.000 recebidos pelo Direito Positivo. Os direitos
pesetas”. de prestação são meios de exercício dos
direitos reconhecidos e o titular está habili-
E, ainda, decide tado a reclamar uma atuação positiva por
“Que o Estado demandado deve parte dos poderes públicos. São direitos de
pagar à Unión Alimentaria Sanders crédito frente a esses poderes.
S.A. um milhão e quinhentas mil A constitucionalização dos direitos
pesetas por danos materiais e duzentos humanos, na incorporação ao ordenamento
e vinte mil, e cento e setenta e uma jurídico interno, no dizer de Peces-Barba7,
pesetas (220.171) por gastos e
custas”. “es razonable porque los derechos
fundamentales cumplen una función
de límite al poder y de guía para el
5. Conclusão desarrollo del Derecho en todos sus
escalones a través de todos los opera-
Um dos deveres jurídicos de um Estado dores jurídicos. No tendría sentido que
é o respeito à existência dos demais, com- su positivación se produjese en otros
preendidas a soberania e a independência. niveles inferiores”.
Cumpre, igualmente, respeitar as regras de
direito internacional admitidas pelo consenso Estes mesmos critérios adotados pelo
geral e observar, escrupulosamente, as esti- Tribunal Europeu de Direitos Humanos têm
pulações dos tratados ou convenções a que sido usados na jurisprudência dos Estados-
tenha celebrado ou a que se tenha associado. Partes da Convenção Européia, assim
Da obrigação do respeito à soberania e também a constitucionalização do direito a
independência dos outros Estados resulta, não sofrer atrasos na resolução de processos
em linha reta, o dever de não intervir em judiciais, na seção que trata dos direitos
seus negócios, internos ou externos, ou fundamentais, como é o caso da Espanha,
imposição de certa maneira de proceder. art. 24, e Suécia, art. 9 de suas respectivas
Entretanto, de todos os assuntos de que se Constituições.
ocupa o direito internacional público, tem
grande relevância o da responsabilidade dos
Estados.
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dos Estados está a soberania interna que
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compreende, entre outros direitos, o da GIMENEZ, Ignacio, FERNANDEZ FARRE-
jurisdição, ou seja, o de submeter aos RES, German. El derecho a la tutela judicial
próprios tribunais os assuntos referentes às y el recurso de amparo. Madrid : Civitas,
pessoas e coisas que se encontram em seu 1995.
território, bem como o de estabelecer sua
7
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