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P R A X E P O L Í T I C A

Serra da Raiz – PB contra o fascismo

Serra da Raiz – PB contra o fascismo

Não escrevo em nome de todos. Impossível. Escrevo em nome de todos aqueles que
ontem votaram contra o “arquétipo” fascista chamado Jair Bolsonaro. Não escrevo com
alguma suposta autoridade, pois não tenho nenhuma. Mas por compartilhar de um sentimento.
Sentimento ao mesmo tempo comum e singular. Sentimento que às vezes tem como pilar o
medo, a gratidão, a experiência, outras vezes apenas um sentimento de comunhão para com os
mais necessitados. Interesses diferentes, mas que caminham em uma mesma direção: a
democracia. Democracia esta que seria impossível – em poucas linhas – enumerar suas falhas
e vícios, mas que insistimos em tentar aperfeiçoá-la. Queremos ampliá-la e não extingui-la.
Em 1964 – aqui mesmo em Serra da Raiz – muitos foram às ruas defendendo os valores
tradicionais da família, pátria e religião. Em nome de Deus, sustentaram o golpe que resultou
em sangue de estudantes, mulheres, em síntese: pobres. Estes mesmos que não tinham como
escapar – por vínculos familiares – das malhas da ditadura civil- militar. Hoje – 2018 –
novamente as pessoas gritam pelos valores tradicionais da família, tentando assim, mascarar
os preconceitos enraizados em suas representações sociais, suas visões de mundo. Não
preciso dizer o quanto é grande a dose de hipocrisia nas palavras destes defensores da família
brasileira. Todo mundo sabe. Sabem o quanto combatem a corrupção, alimentado localmente
ela. Sabem a distância entre as palavras e às práticas.
Mas porque estou a escrever sobre o município pequeno? Por que não importa o
tamanho da resistência. A resistência é micro, localizada em pontos dispersos, às vezes age
silenciosamente. Alimenta-se de sentimentos antagônicos, compaixão, amor, raiva, medo e,
sobretudo experiência. Esta última que nos faz sentir na pele a indiferença de muitos em
relação a luta pelos menos favorecidos. Experiência que nos mostra o rancor e a soberba de
muitos em relação àqueles que não nasceram nos braços dos privilégios. Fico feliz pelos
gritos na praça. Espero que este sentimento tome conta de mais pessoas. Que as micro-
resistências se multipliquem, não acusando uns aos outros, mas apontando o perigo da
semente fascista que se disfarça de uma suposta democracia – cristã – patriota. Que não seja
de silêncio o nosso grito e que as raízes desta nossa serra não sustente novamente uma árvore
de sangue e de medo.
Texto de Júlio César Miguel de Aquino Cabral

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