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Mitos sobre os surdos e as

línguas de sinais
Ana Rachel Leão
CEFET/MG
Língua de sinais ou linguagem de
sinais?
• O termo correto para se referir à Libras é
Língua de sinais. A Libras, assim como as
línguas orais, possui regras gramaticais,
sintáticas, semânticas e morfológias próprias.
• "Sem linguagem não somos seres humanos
completos e, por isso, é preciso aceitar a
natureza e não ir contra ela. Obrigados a falar,
algo que não lhes é natural, os surdos não são
expostos suficientemente à linguagem e estão
condenados ao isolamento e à incapacidade
de formar sua identidade cultural."
Vendo Vozes: Uma Viagem pelo Mundo dos
Surdos
Oliver Sacks
A língua de sinais é universal?
• Não! Essa crença é muito comum por
acreditar-se que a língua de sinais é um código
simplificado apreendido e transmitido aos
surdos em todas as partes do mundo. Assim
como cada país tem sua língua oral, tem,
também, sua língua de sinais própria, como a
ASL (American sign language), a Língua
Francesa de Sinais, a Língua Japonesa de
Sinais.
• “Em qualquer lugar que haja surdos
interagindo, haverá línguas de sinais. Podemos
dizer que o que é universal é o impulso dos
indivíduos para a comunicação e, no caso dos
surdos, esse impulso é sinalizado. A língua dos
surdos não pode ser considerada universal,
dado que não funciona como um “rótulo” que
possa ser colado e utilizado por todos os
surdos de todas as sociedades de maneira
uniforme e sem influências de uso”. (Gesser,
2009, p. 12)
• Site: www.spreadthesign.com
• Aplicativo para IOS ou Android: Spread sign
A língua de sinais é uma língua
natural?
• Sim, pois é uma língua que evoluiu como a
língua da comunidade surda.
• Língua artificial: criada e estabelecida por um
grupo de indivíduos com algum propósito
específico.
• Língua natural: língua criada e utilizada por
uma comunidade, que se transmite de
geração a geração e que sofre variações com o
passar do tempo.
• “Stokoe, em 1960, percebeu e comprovou que a
língua dos sinais atendia a todos os critérios
linguísticos de uma língua genuína, no léxico, na
sintaxe e na capacidade de gerar uma quantidade
infinita de sentenças. Stokoe observou que os
sinais não eram imagens, mas símbolos abstratos
complexos, com uma complexa estrutura interior.
(...) Comprovou, inicialmente, que cada sinal
apresentava pelo menos três partes
independentes (em analogia com os fonemas da
fala) – a localização, a configuração de mãos e o
movimento – e que cada parte possuía um
número limitado de combinações.” (QUADROS e
KARNOPP, 2007, p. 30).
• "Os surdos podem comunicar-se mais
facilmente e com maior precisão pela Língua
de Sinais, porque o cérebro deles se adapta
para esse meio e, se forçados a falar, nunca
conseguirão uma linguagem eficiente e serão
duplamente deficientes."
Vendo Vozes: Uma Viagem pelo Mundo dos
Surdos
Oliver Sacks
A língua de sinais tem gramática?
• Sim, como demonstrou o linguista americano
William Stokoe em 1960, ao estudar a ASL.
Stokoe e outros linguistas descreveram os
níveis fonológicos e morfológicos da ASL, que
caracterizam as regras de boa formação dos
sinais e os parâmetros linguísticos que podem
diferenciar alguns sinais.
• Os surdos fazem uso não só das mãos na
comunicação, mas também de outros
marcadores não-manuais, como as expressões
faciais e corporais, por exemplo. As
expressões faciais são elementos gramaticais
que fazem parte da estrutura da língua. Elas
podem marcar, por exemplo, formas
sintáticas.
A língua de sinais é mímica?
• Não. A mímica pode variar de pessoa para
pessoa, já os sinais das línguas de sinais são
uma variedade legitimada e convencionada
pelo grupo de usuários. Passam por regras de
formação (parâmetros linguísticos).
• Diferença entre: línguas orais-auditivas e
línguas visuais espaciais.
É possível expressar conceitos
abstratos na língua de sinais?
• Sim, os falantes de línguas de sinais
conseguem expressar sentimentos, emoções e
qualquer ideia ou conceito abstrato (filosofia,
política, literatura...).
• Inexistência de sinais em diversas áreas
(trabalho realizado no CEFET pela professora
Vera).
• "Os sinais podem ser agressivos,
diplomáticos, poéticos, filosóficos,
matemáticos: tudo pode ser expresso por
meio de sinais, sem perda nenhuma de
conteúdo.“
O vôo da gaivota
Emmanuelle Laborrit
A língua de sinais é somente o
alfabeto manual?
• Não, a soletração manual (datilologia) é
apenas um recurso utilizado pelos
sinalizadores. O alfabeto manual é um código
que representa as letras do alfabeto.
• Utiliza-se a datilologia para soletrar nomes
próprios, nomes de lugares ou palavras que
não possuem sinais.
A Libras é uma versão sinalizada
do português?
• Não, a Libras possui estrutura própria, ou
seja, é independente de qualquer língua oral
em sua concepção linguística. Mas, estando
em contato direto com o português, possui
empréstimos linguísticos (palavras feitas com
datilologia, por exemplo).
Todo surdo é mudo?
• Não necessariamente. Muitos surdos
conseguem falar oralmente porque não
apresentam nenhum problema no aparelho
fonoarticulatório (lábios, língua, laringe).
Portanto, se fizerem tratamento
fonoaudiológico, podem aprender a falar.
• Historicamente, acreditava-se que os surdos
não conseguiam falar oralmente e, por isso,
eles eram chamados de “surdos-mudos”.
• Hoje, os surdos não aceitam a denominação
“surdo-mudo”, por ser considerada falsa. Essa
denominação é condenada na comunidade
surda.
• Para se referir a uma pessoa que não escuta,
deve-se apenas falar que é “surda”.
• "A língua é a chave para o coração de um
povo. Se perdemos a chave, perdemos o povo.
Se guardamos a chave em lugar seguro, como
um tesouro, abriremos as portas para riquezas
incalculáveis, riquezas que jamais poderiam
ser imaginadas do outro lado da porta."
Eva Engholm, 1965
Todo surdo usa Libras e sabe
fazer leitura labial
• Errado. Nem todo surdo se comunica
somente pela língua de sinais. Alguns fazem
uso, também, da língua oral de seu país,
enquanto outros utilizam somente a
modalidade oral e não sabem a língua de
sinais.
• A leitura labial é aprendida por meio de anos
de tratamento fonoaudiológico. Estudos
apontam que um surdo capta de 30 a 40% do
que é dito, recorrendo bastante à inferência e
à dedução para compreender a fala.
Referências
GESSER, A. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da
língua de sinais e da realidade surda. Série Estratégias de Ensino. São
Paulo: Parábola Editorial, 2009.

QUADROS, R. M. de; KARNOPP, L. B. [2004] Língua de sinais brasileira:


estudos lingüísticos. Porto Alegre: Artmed, 2007.

SACKS, O. [1990] Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Tradução
de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

SKLIAR, C. [1998] Os estudos surdos em educação: problematizando


normalidade. In: SKLIAR, C. (Org.) A surdez: um olhar sobre as diferenças.
Porto Alegre: Mediação, 2011. p. 7-32.

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