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de estratégia organizacional
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Gestão do conhecimento como ferramenta de estratégia organizacional
Para compreender a aplicação destes conceitos é 1980), é que a exigência de uma velocidade cada vez
relevante analisar previamente as mudanças pelas quais maior na geração de inovações tornou-se rotineira e pré-
a sociedade contemporânea tem passado, bem como a requisito para a sobrevivência das organizações
velocidade destas transformações. Se observarmos, por (DRUCKER, 1999).
exemplo, a distribuição dos cem inventos que mudaram Dentre os fatores que mudaram o foco de uma
a história da humanidade ao longo do tempo, teremos sociedade industrial para a sociedade do conhecimento,
uma nítida visão sobre a aceleração desse processo. Nos podemos destacar desde transformações na economia
2,6 milhões de anos que vão do período paleolítico - e valor dos ativos mais significativos, até no perfil exigido
época em que foram geradas as primeiras ferramentas do funcionário e sua empregabilidade. Como relatam
de pedra e deram início à jornada do homem rumo à Sveiby (1998) e Stewart (2002), as organizações do
civilização e domínio da natureza - até o surgimento da conhecimento são aquelas que contam com uma estrutura
Era Cristã, foram registrados cerca de dezesseis inventos focada no conhecimento e não no capital; aquelas cujos
estratégicos. Nos primeiros dezoito séculos, essa cifra ativos intangíveis são muito mais valiosos do que seus
passou para vinte e, somente no século XIX, forma ativos tangíveis; cujos trabalhadores são profissionais
identificados 29 inventos, valor que saltou para 35 no altamente qualificados e com alto grau de escolaridade
século XX (YENNE, 2003). (ver quadro 1).
O conhecimento sempre esteve presente nas
diversas eras econô-
micas, tanto na era
Quadro 1: Os princípios da organização do conhecimento
agrícola quando o
homem começou a
explorar de forma
sistemática os recursos
naturais disponíveis,
como na primeira
revolução industrial com
o surgimento da máquina
a vapor e da fiandeira, na
segunda revolução
industrial marcada pelo
advento da eletricidade e
motor de combustão
interna ou, mais
recentemente, a partir da
segunda metade do
século XX, com os
avanços associados ao
surgimento da microele-
trônica e produtos
correlatos (CASTELLS,
1999).
A diferença desta
fase atual de
desenvolvimento do
capitalismo, cunhada de
“Revolução da Infor-
mação” ou “Terceira
Onda” (TOFLER,
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conhecimento é garantir e facilitar a livre fluidez do ciclo assim, o caminho natural é desenhar um processo e não
em toda a organização, cujo papel principal é o de cuidar simplesmente executar um projeto de GC (gestão do
não apenas da infra-estrutura para registro e organização conhecimento).
de conhecimentos explícitos, mas, também, de garantir Como bem destacaram Davenport e Prusak
as condições ambientais e de formação básica das (1998) “a gestão do conhecimento é uma coleção de
pessoas, necessárias à manutenção deste ciclo. processos que governa a criação, disseminação e
No processo de disseminação do conhecimento utilização de conhecimentos”.
e sua transformação de tácito para explícito há uma Analisando desta forma, projetos são definidos
técnica para armazenar este último, os “mapas do como esforços temporários empreendidos para criar um
conhecimento”. São registros que apontam onde está o produto ou serviço único e por isso têm um início e um
conhecimento, ou seja, pessoas, documentos e bases término bem definidos. A data de início pode não ser
de dados onde estão armazenados diferentes bem definida no momento em que a idéia está
conhecimentos (DAVENPORT & PRUSAK, 1998). O transformando-se em um projeto. O fim, contudo, tem
mapa, por si, é um conhecimento explícito que facilita de estar claramente definido para que todos os
enormemente o processo de transformação e difusão participantes cheguem a um consenso sobre o que se
do conhecimento ao permitir que se identifiquem fontes compreende ser o projeto completo. Todo projeto gera
de conhecimentos explícitos e, além disso, as pessoas um produto singular e o resultado pode ser tangível (como
que carregam algum conhecimento tácito sobre este uma edificação) ou pode ser intangível, como novas
assunto. Um mapa eficiente deve ser construído conforme diretrizes de contratação de pessoal. Mas, a gestão do
as características da organização e deve apontar tanto conhecimento não tem fim. Ela tem um início bem definido
para conhecimentos que estejam internos à empresa e deve ser tratada na organização sob a forma de práticas
como externos. rotineiras de gestão com foco no conhecimento.
Outra forma seria a técnica de “contar história” Neste sentido, a gestão do conhecimento não pode
ou “narrativas”. Segundo Davenport & Prusak (1998), ser vista como projeto e sim como um processo de apoio
esta é uma maneira interessante de se armazenar à gestão empresarial. Isto não significa que as
conhecimentos mais próximos ao tácito, já que narrar organizações não possam fazer projetos-piloto de Gestão
ou contar histórias (“history telling”) é uma forma bastante do Conhecimento, mas que estas ações tenham seu início
natural e fácil para uma pessoa expor e demonstrar um em alguns departamentos e processos e depois ganhem
dado conhecimento complexo. Por meio da criação de legitimidade e se tornando corporativos2.
narrativas, ou seja, fazendo com que os membros da Em primeiro lugar, a empresa deve assumir uma
organização registrem suas histórias sobre postura de aprendizagem e valorização do conhecimento
acontecimentos em um determinado projeto ou atividade, e das pessoas que participam da organização. Um
tem-se uma forma de armazenar os conhecimentos exemplo ocorreu na fase de aplicação dos processos de
desestruturados. Ressalta-se, embora facilite o registro, enxugamento, quando muitas empresas tiveram que
este formato tem como inconveniente um acréscimo na readmitir empregados que haviam sido dispensados, em
dificuldade de busca (como encontrar um conhecimento função do conhecimento que possuíam. Estas
que esteja implícito no relato) e a necessidade de um organizações não tinham documentado e valorizado o
esforço maior de interpretação. conhecimento destas pessoas. (LACOMBE &
HEILBORN, 2003)
O processo de implantação da gestão do Um dos autores de destaque na área de
conhecimento aprendizagem organizacional é Senge (2004), que
propõe um estilo gerencial baseado em 5 conjuntos de
A gestão do conhecimento pode mudar de forma teorias e práticas: domínio pessoal, modelos mentais,
substancial o gerenciamento de uma organização, mas visão compartilhada, aprendizagem em equipe e
muitas delas tem feito isso de forma estrita e reducionista. pensamento sistêmico. Vejamos de forma um pouco mais
Da mesma maneira que as outras atividades na detalhada cada um destes aspectos:
organização são feitas de forma processual, a gestão do Domínio pessoal: é a disciplina que possibilita
conhecimento também precisa ser processual e, sendo continuamente esclarecer e aprofundar nossa visão
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pessoal, no qual a vida é encarada como um trabalho indivisibilidade do todo representado pelo conhecimento
criativo. Trata-se de um nível especial de proficiência existente na organização.
que estimula a “tensão criativa”, ou seja, a análise do
que queremos e onde estamos em relação ao que A gestão do conhecimento e as estruturas
queremos, estimulando uma visão sobre a realidade organizacionais
objetiva e se moldando como energia transformadora.
A disciplina do domínio pessoal começa esclarecendo A implantação de um processo duradouro da
aquilo que nos é realmente importante. gestão do conhecimento exige a compreensão dos vários
Modelos mentais: muitas modificações aspectos da estrutura organizacional que estão
administrativas não podem ser postas em prática por relacionados, como: papel da alta administração, cultura
serem conflitantes com modelos mentais tácitos. Muitas e estruturas organizacionais, práticas de gestão de
mudanças organizacionais deixam de ser implementadas recursos humanos, impacto dos sistemas de informação
porque conflitam com idéias arraigadas e paradigmas e mensuração de resultados, alianças estratégicas e
que interferem sobre as nossas atitudes, muitas vezes políticas de inovação, etc.
sem que tenhamos consciência disso. Em um processo Tal abordagem reflete nossa compreensão de que
de aprendizagem, os líderes devem ser permanentemente a gestão do conhecimento implica, necessariamente, na
estimulados a analisarem esses modelos e se abrirem às coordenação sistêmica de esforços em vários planos:
idéias alheias. organizacional e individual, estratégico e operacional,
Visão compartilhada: a empresa deve ter princípios normas formais e informais.
e práticas que unam os profissionais em torno de uma Em particular, quando se fala em gestão do
identidade comum, onde deve prevalecer o conhecimento é necessário discutir:
compromisso e o comprometimento em lugar da - Como a alta administração está envolvida no
aceitação. A conexão das pessoas em torno de uma aprendizado e qual o seu papel na definição de uma cultura
missão fornece o aprendizado organizacional efetivo. organizacional voltadas à inovação, experimentação,
Aprendizagem em equipe: a unidade de aprendizado contínuo e comprometidas com os
aprendizagem moderna é o grupo e não o indivíduo. O resultados de longo prazo e com a otimização de todas
diálogo facilita a aprendizagem em equipe e, quando esta as áreas da empresa;
produz resultados, seus integrantes crescem mais rápido - A estrutura organizacional e práticas de
e a organização também. A aprendizagem em equipe organização do trabalho devem ser repensadas para gerar
envolve 3 dimensões críticas: reflexão sobre problemas aprendizado e novos conhecimentos, a partir da
complexos, ação inovadora e disseminação de práticas superação dos limites das estruturas hierárquico-
e habilidades distintas entre as equipes. burocráticas;
Pensamento sistêmico: esta é a quinta disciplina, - Quais são as práticas e políticas de administração
que integra todas as outras, o elemento de ligação, de recursos humanos associadas à aquisição de
fundindo-as em um corpo coerente de teoria e prática. conhecimentos externos e internos à empresa, assim
O pensamento sistêmico ajuda-nos a enxergar as coisas como à geração, difusão e armazenamento de
como parte de um todo, não como peças isoladas, bem conhecimentos na empresa, ou seja, quais princípios
como criar e mudar a sua realidade. Somente norteiam as áreas de atuação do RH (recrutamento e de
desvendando os fios invisíveis que compõem a rede seleção de pessoal, planos de carreiras, treinamentos e
integrada de relacionamento na qual o problema a ser remuneração)3.
atacado se insere é que temos a chance de efetivamente Um dos aspectos da gestão do conhecimento é a
resolve-lo. É neste sentido que o pensamento sistêmico sua associação com as ferramentas de tecnologia da
é integrador e permite a análise de eventos distantes no informação (TI), com foco na sistematização e
tempo e espaço, cujas conexões nem sempre são disseminação dos ativos intangíveis, tornando o
evidentes. conhecimento algo explícito e que os funcionários sintam-
Como demonstra Senge (2004), é de fundamental se motivados a compartilharem.
importância que as cinco disciplinas funcionem em Há várias tecnologias que podem ser empregadas
conjunto, pois assim é possível captar efetivamente a para este fim: intranets, groupware, portais corporativos,
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II - Como vincular o trabalho colaborativo à V - Como fomentar funções e cargos que apóiem
oportunidade e ao avanço o processo de compartilhamento de conhecimento
- reúna um grupo de pessoas interessadas na - crie uma lista de competências relativas à gestão
gestão do conhecimento, para discutirem como o do conhecimento e identifique os indivíduos mais
compartilhamento poderia ser mais bem habilitados para preencher estas funções.
recompensando pela organização. Faça um debate - promova um cadastramento dos especialistas e
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que tipo de contribuição á produção e factibilidade destas opções com o pessoal técnico.
compartilhamento de conhecimento poderia - selecione uma comunidade como piloto para
oferecer. algumas das opções identificadas.
- faça um levantamento com os especialistas
identificados para descobrir que tipo de apoio lhes VIII - Como fomentar a publicação individual de
poderia ser dado para aumentar o nível de conteúdo
compartilhamento. -reúna grupos de pessoas interessadas em
gerenciar o seu próprio conteúdo e dê o
VI - Como favorecer a transferência do treinamento tecnológico necessário.
conhecimento tácito e a criação de uma rede -crie gabaritos e linhas de orientação para facilitar
organizacional o processo de publicação.
- identifique as áreas em que é mais problemática -verifique se a publicação aumentou a quantidade
a transferência de conhecimento não-articulado. e a qualidade das contribuições do conhecimento.
Analise como estas áreas poderiam se beneficiar
com o suo de facilitadores profissionais ou técnicas Mais uma vez, considera-se que estes
como “history telling”4 procedimentos podem colaborar no processo, mas a
- conduza a técnica de “history telling” como um implantação da Gestão do Conhecimento deve estar
método para obter informações das equipes que estruturada em decisões que envolvam uma superposição
completaram projetos importantes. das análises “micro” (indivíduos e grupos), “meso”
- identifique áreas de conhecimento nas quais a (organização) e “macro” (ambiente). Reconhece-se,
transferência de conhecimento um a um é assim, que o aprendizado e a criação individual incluem
indispensável para os candidatos a programas de a capacidade de combinar diferentes inputs por meio
monitoramento. do desenvolvimento de uma visão sistêmica do ambiente.
- identifique agentes do conhecimento, O processo de inovação requer, crescentemente, a
perguntando a que eles recorrem em busca de combinação de diferentes habilidades, conhecimentos e
informações específicas e encontre maneiras de tecnologias de campos distintos do conhecimento e
apoiar tais atividades. mesmo de diferentes setores econômicos.
- reúna uma equipe multidisciplinar para debater Subjacente ainda à maior parte destas questões
livremente as melhores maneiras de agrupar as está o reconhecimento de que o capital humano, formado
pessoas e criar vínculos entre elas com o intuito pelos valores e normas individuais e organizacionais, bem
de reforçar a transferência de conhecimento. como pelas competências, habilidades e atitudes de cada
funcionário, é a “mola propulsora” da geração de valor
VII - Como valorizar a reciprocidade e a criação nas empresas. Isto significa, por sua vez, reconhecer as
de políticas explícitas sobre a utilização dos ativos necessidades de se estimular a motivação intrínseca, o
intelectuais estabelecimento de contatos pessoais, a análise de
- entreviste, informalmente, membros da diferentes perspectivas, a abertura para a efetiva
organização, para determinar se acreditam que há comunicação e para o aprendizado por meio de
um contrato de reciprocidade entre eles e a experiências.
organização, e entre eles e os outros membros.
Teste o quanto este contrato é consistente. Conclusão
Entreviste tanto aqueles que contribuem
freqüentemente para os sistemas colaborativos, Cada vez menos vista como um modismo, a
bem como aqueles que raramente o fazem, para Gestão do Conhecimento nas organizações tem
determinar se o retorno ou a melhoria da atribuição demonstrado suas vantagens. Basta vislumbrar a forma
poderiam estimular a contribuição. como podem reutilizar soluções, registrar quem sabe o
- examine os sistemas groupware em busca de quê na organização, preservar sua memória, aumentar o
oportunidades par melhorar a atribuição e o grau de colaboração, melhorar o processo de obtenção
retorno para aqueles que contribuem e discuta a de informações sobre a concorrência e o mercado em
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