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jusbrasil.com.br
10 de Janeiro de 2018

Crimes Hediondos: dicas rápidas que podem salvar uma questão em


sua prova

Como adotamos o critério legal, são hediondos somente os crimes elencados no


art. 1º da Lei 8.072/90. Por essa razão, não se fala, por exemplo, em hediondez na
hipótese de homicídio do Presidente da República, pois o art. 29 da Lei 7.170/83
não integra o rol.

São hediondos os seguintes delitos:

homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado
(art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII)

lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal
seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou
agente descrito nos arts.1422 e1444 daConstituição Federall, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição;

latrocínio (art. 157, § 3º, in fine)

extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º)

extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lº, 2º


e 3º)

estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º)

estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º)

epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º)

falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins


terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B)
favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de
criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º)

genocídio (Lei 2.889/56).

Infelizmente, o rol dos crimes hediondos está entre aqueles assuntos que devem
ser memorizados. Em prova, dificilmente será questionado se um crime X é o não
hediondo. No entanto, é possível que a banca pergunte a respeito de prazos de
prisão temporária ou de progressão de regime na hipótese de determinado delito,
diferenciados em crimes hediondos.

Fique esperto: a tentativa não afasta a hediondez! Portanto, na hipótese de


tentativa de estupro ou de homicídio qualificado, por exemplo, o crime
permanecerá hediondo, devendo ser aplicada a Lei 8.072/90.

As “pegadinhas” em relação ao homicídio na Lei de Crimes Hediondos são sempre


as mesmas. Questionarão se é possível a existência de um grupo de extermínio
composto por uma única pessoa – a redação do art. 1º, inciso I, pode fazer com que
o leitor chegue a tal conclusão. A resposta é não. O que o dispositivo quis dizer: não
é preciso que todos os integrantes do grupo de extermínio participem da execução
do homicídio para o reconhecimento de sua existência ou de sua hediondez.

Há divergência quanto ao número mínimo de integrantes de um grupo de


extermínio. A Lei 8.072/90 não diz, mas boa parte da doutrina entende que a
formação é a mesma da associação criminosa (CP, art. 288): três ou mais pessoas.

Não confunda grupo de extermínio com concurso de pessoas. Se Caio, Tício e


Mévio decidem matar João, a hipótese será de homicídio em concurso de pessoas,
e não de grupo de extermínio. Por outro lado, se o trio decide matar torcedores de
determinado time, estará caracterizado o grupo de extermínio. Explico: a principal
característica do homicídio em atividade típica de grupo de extermínio é a
impessoalidade. A vítima é assassinada em razão de alguma característica especial
(ex.: ser mendigo), e não por ser A ou B. A sua identidade é irrelevante para o
homicida.

Em Direito, há exceção para tudo. No entanto, em relação às qualificadoras do


homicídio, fique esperto: todas elas tornam o crime hediondo.

No § 1º do art. 121 do CP está previsto o intitulado homicídio privilegiado – na


verdade, não é privilégio, mas causa de diminuição de pena -, hipótese em que o
agente mata “impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima”. Não
é crime hediondo, pois não está no rol do art. 1º da Lei 8.072/90.

Todavia, há uma situação que pode causar confusão: a do homicídio qualificado-


privilegiado. Explico: O § 2º do art. 121 do CP possui qualificadoras de natureza
objetiva (incisos III e IV) e subjetiva (I, II, V e VI). O homicídio privilegiado é
compatível com as qualificadoras de natureza objetiva (ex.: o pai que mata o
estuprador da filha com o emprego de veneno). Neste caso, o homicídio será
considerado, ao mesmo tempo, qualificado e privilegiado. Surge, então, a dúvida:
ele será hediondo? A resposta é não. A razão: em primeiro lugar, não há previsão
no art. 1º da Lei 8.072/90. Ademais, não seria coerente, em um mesmo contexto,
diminuir a pena e impor os malefícios da Lei dos Crimes Hediondos.

Agora, imagine a seguinte situação: Tício, agindo com vontade de matar por
motivo torpe – logo, qualificado -, dispara tiros contra Mévio. No entanto, por erro
na execução, atinge Caio, que vem a falecer. Pergunto: o fato de Tício atingir
pessoa diversa da pretendida afasta a hediondez do crime? E se Tício confundisse
as vítimas, e, ao invés de atirar em seu inimigo, matasse o seu irmão gêmeo? Nas
duas hipóteses, o homicídio será hediondo. Isso porque, tanto na hipótese de
“aberratio ictus” (CP, art. 73) quanto na de “erro sobre a pessoa” (CP, art. 20, § 3º),
leva-se em consideração a vítima pretendida, e não a efetivamente atingida. Logo,
se o homicídio foi praticado por motivo torpe (ou presente outra qualificadora), ele
será hediondo, ainda que o agente não mate a vítima desejada, mas pessoa diversa.

Em 2009, o CP passou a contar com o § 3º em seu art. 158 (extorsão), com a


seguinte redação: “Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da
vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a
pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão
corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º,
respectivamente.”. Trata-se do intitulado “sequestro relâmpago”, que, por razões
inexplicáveis, não foi incluído ao rol de crimes hediondos, ainda que ocorra a
morte da vítima. Alguns autores entendem que o delito seria hediondo em razão da
remissão que o dispositivo faz ao art. 159, §§ 2º e 3º, mas o raciocínio não deve
prevalecer, pois, como já dito, o critério adotado para que um crime seja
considerado hediondo é o legal. Ou seja, se um delito estiver no rol do art. 1º da Lei
8.072/90, é hediondo. Senão, não.

São equiparados aos crimes hediondos o tráfico de drogas, o terrorismo e a tortura.


Significa dizer que a Lei 8.072/90 é aplicável a eles, exceto quanto ao que lei
própria dispuser de outra forma. Por isso, as disposições da Lei 11.343/06 (Lei de
Drogas) e da Lei 9.455/97 (Lei de Tortura) devem prevalecer quando em conflito
com a Lei de Crimes Hediondos (princípio da especialidade), que deve funcionar
como norma geral.

Os crimes hediondos e equiparados são insuscetíveis de anistia, graça, indulto e


fiança.

Perceba que o que a Lei 8.072/90 veda, em seu art. 2º, II, é a fiança, e não a
liberdade provisória. Portanto, é possível que o acusado por um crime hediondo
aguarde o desfecho da ação penal solto. O que não é possível, no entanto, é que a
liberdade seja condicionada ao pagamento de fiança, por expressa vedação legal,
mas o juiz não está impedido de impor outra das medidas cautelares do art. 319 do
CPP.
No art. 2º, § 1º, a Lei 8.072/90 afirma que o condenado por crime hediondo
iniciará o cumprimento da pena necessariamente em regime fechado, pouco
importando o “quantum” de pena fixado. Todavia, o STF, ao julgar o HC
111.840/ES, declarou, em controle difuso, a inconstitucionalidade do dispositivo, e
entendeu que o condenado por crime hediondo pode iniciar o cumprimento da
pena em regime diverso (aberto ou semiaberto). Significa dizer que o dispositivo
permanece em pleno vigor, mas tem sido afastado pelos Tribunais Superiores. O
STJ tem seguido o entendimento, como é possível constatar no HC 306.352/SP,
publicado no dia 24 de fevereiro de 2015.

A progressão de regime em crimes hediondos se dá com 2/5 (dois quintos), se


primário o condenado, ou 3/5 (três quintos), se reincidente. É importante que o
leitor memorize as frações, pois são cobradas em provas.

Em relação à prisão temporária, os prazos na Lei 8.072/90 são diferenciados. Em


regra, a prisão temporária pode ser decretada por 5 (cinco) dias, prorrogáveis por
mais 5 (cinco) dias. Tratando-se, no entanto, de crime hediondo, o prazo é de 30
(trinta) dias, prorrogável por igual período, em caso de extrema e comprovada
necessidade. No entanto, atenção: alguns crimes hediondos não estão no rol da Lei
7.960/89, que prevê, em seu art. 1º, III, quais delitos estão sujeitos à medida.
Como o rol é taxativo, é possível afirmar que alguns crimes hediondos não são
passíveis de prisão temporária do agente que os pratica (ex.: a hipótese do inciso I-
A, a lesão corporal contra determinados agentes públicos, incluído pela Lei
13.142/15).

A Lei 8.072/90, em seu art. 2º, § 3º, transmite a ideia de que, proferida a sentença
condenatória, ainda que não tenha ocorrido o trânsito em julgado, o acusado
deverá, em regra, ser preso, ainda que recorra da decisão – “Em caso de sentença
condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em
liberdade.”. Entretanto, o fato de estar sendo acusado por um crime de maior
gravidade não retira do réu garantias constitucionais a todos garantidas, como a
presunção de inocência ou de não culpabilidade. Portanto, se o acusado
permaneceu solto até a sentença condenatória, só será possível a decretação da
prisão preventiva se presentes os requisitos do art. 312 do CPP, senão, ele deverá
permanecer solto, não podendo o juiz vincular o conhecimento do recurso ao
recolhimento à prisão.

Disponível em: http://leonardocastro2.jusbrasil.com.br/artigos/207387610/crimes-hediondos-dicas-rapidas-que-podem-salvar-uma-


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