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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo Nº. : 0000681-65.2015.8.05.0248


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : COELBA

Recorrido(s) : ERUNDINA SANTOS SILVA


Origem : JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL -
SERRINHA
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. COELBA.


NEGATIVAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO..
COBRANÇA INDEVIDA. INSCRIÇÃO DO NOME DA
AUTORA NOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO DE
CRÉDITO. DANO MORAL IN RE IPSA. REDUÇÃO DO
QUANTUM, PARA ADEQUAÇÃO AOS PARÂMETROS RA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.

ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, MARIA
AUXILIADORA SOBRAL LEITE – Relatora , CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS
QUEIROZ e ISABELA KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA, Presidente, em proferir
a seguinte decisão: RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO .
UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento. Sem custas processuais e honorários
advocatícios, pelo êxito da parte no recurso.
Salvador, Sala das Sessões, 05 de Maio de 2016.

BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Relatora
BELA. ISABELA KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA
Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo Nº. : 0000681-65.2015.8.05.0248


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : COELBA

Recorrido(s) : ERUNDINA SANTOS SILVA


Origem : JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL -
SERRINHA
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. COELBA.


NEGATIVAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO..
COBRANÇA INDEVIDA. INSCRIÇÃO DO NOME DA
AUTORA NOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO DE
CRÉDITO. DANO MORAL IN RE IPSA. REDUÇÃO DO
QUANTUM, PARA ADEQUAÇÃO AOS PARÂMETROS RA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.

RELATÓRIO

Dispensado o relatório nos termos da Lei n.º 9.099/95.


Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro, saliento
que a Recorrente COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA - COELBA,
pretende a reforma da sentença lançada nos autos que julgou procedente em parte os
pedidos formulados pela exordial, nestes termos: “ Isto posto, sugestiono o JULGAMENTO
PROCEDENTE, EM PARTE, dos pedidos, em face da COELBA para 1) declarar inexistentes as dívidas
cobradas de ERUNDINA SANTOS SILVA, nos valores apontados na certidão de restrição, relativa aos
contratos ali delimitados; 2) condená-la, a pagar, a título de indenização por danos morais, a ERUNDINA
SANTOS SILVA, a importância total de R$ 10.000,00 (dez mil reais), acrescida de correção monetária,
pelo índice INPC, a partir da data desta sentença, e juros de mora de mora de 1% (um por cento) ao mês,
a partir da data da primeira negativação realizada (08.10.2013); 3) manter, integralmente, a decisão
liminar proferida aos autos, que determinou a exclusão do nome da parte requerente dos cadastros
restritivos de crédito..”
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A recorrente busca a reforma da sentença, sustentando a legalidade do


contrato firmado, que a dívida fora legitimamente constituída, e que a inclusão do nome
da parte autora nos cadastros de restrição ao crédito se deve ao exercício regular do
direito.
Em contrarrazões, a recorrida pugna pela manutenção da sentença.
Os autos foram distribuídos à 2ª Turma Recursal, cabendo-me a função de
Relatora.
Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,
apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, que submeto aos demais
membros desta Egrégia Turma.

VOTO

Sem preliminares, passo ao exame do mérito.

Trata-se de ação na qual a parte autora alega que teve seus dados
pessoais incluídos pela ré indevidamente nos cadastros de proteção ao crédito, referente
à dívida que alega desconhecer, referente ao contrato nº 000204585610. Requer
indenização por danos morais oriundos da indevida inclusão. A demandada, por outro
lado, sustenta que agiu no exercício regular de um direito, cobrando dívida regularmente
constituída.
O exame dos autos evidencia que o ilustre a quo examinou com acuidade a
demanda posta à sua apreciação no que concerne à cobrança indevida, tendo em vista
que a empresa recorrente deixou de trazer elementos probatórios que refutassem as
alegações da parte autora, não apresentando elementos que legitimassem a cobrança da
dívida em comento. Tendo a parte autora alegado desconhecer ter pactuado o contrato
em tela, incumbia à parte ré trazer aos autos prova suficiente da contratação. In casu, a
parte autora alega que o suposto contrato em seu nome, que gerou a dívida e resultou na
negativação, tem como endereço a mesma rua em que reside, todavia em imóvel diverso,
e o réu não junta documentos que comprovem ter sido a parte autora a efetiva contratante
dos serviços. Nestes termos vem decidindo a jurisprudência pátria:

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AÇÃO INDENIZATÓRIA. BANCO. INSCRIÇÃO DO NOME DO


AUTOR NOS SERVIÇOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO QUE SE
AFIGURA INDEVIDA. DÉBITO NÃO RECONHECIDO. AUSÊNCIA
DE PROVA DO BANCO ACERCA DA CONTRATAÇÃO. DANO
MORAL CONFIGURADO. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO
PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005328604, Terceira Turma
Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Cleber Augusto Tonial,
Julgado em 12/03/2015).

Ao revés, a alegação da parte autora, de que desconhece a origem da


dívida que vinha sendo cobrada, é dotada de verossimilhança, e não fora impugnada por
elementos probatórios idôneos.
A parte autora comprova a negativação de seu nome nos cadastros de
proteção ao crédito, através da consulta juntada no evento 01, em que consta o
apontamento indevido, por solicitação da demandada, em relação ao contrato que
desconhece, desincumbindo-se assim do ônus de provar o fato constitutivo de seu
direito , nos termos do art.333, inciso I do CPC. É cediço na jurisprudência pátria
que a negativação do nome do consumidor nos cadastros de proteção ao crédito
por cobrança indevida gera dano moral in re ipsa, que prescinde de comprovação.
Nesse sentido :

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. TELEFONIA. AUSÊNCIA


DE PROVA DA CONTRATAÇÃO. DÉBITO INEXISTENTE.
INSCRIÇÃO INDEVIDA NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO
CRÉDITO. DANO MORAL IN RE IPSA. 1. Diante da alegação do autor
no sentido de que jamais realizou algum tipo de contratação com a
requerida, incumbia à re apresentar as provas da contratação, seja por
contrato assinado pela parte e os documentos apresentados no momento da
instalação, seja a gravação pelo Call Center, caso tenha sido realizado via
telefone. 2. Todavia, nenhuma prova neste sentido veio aos autos e as telas

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de sistema apresentadas pela ré são documentos unilaterais que podem ser


facilmente manipulados pela parte interessada, não servindo como único
meio de prova para comprovar as alegações da requerida. 3. A requerida
sustenta que a dívida refere-se a um terminal fixo de telefone, instalado em
02/05/2012 e retirado em 06/01/2013, por inadimplência. Tratando-se de
terminal fixo, mais fácil ainda era a comprovação de suas alegações, pois,
nestes casos, os prepostos da ré comparecem ao local de instalação e
solicitam a assinatura do cliente na ordem de serviço. No entanto, nenhum
documento foi apresentado aos autos. 4. Não havendo prova da
contratação, nem provas de que a ré tenha tomado as devidas providências
para evitar a contratação fraudulenta em nome do autor, o débito deve ser
declarado inexistente e a inscrição junto aos órgãos de inscrição ao crédito
considerada indevida. 5. A situação dos autos gerou ao autor angústias,
aborrecimentos, frustrações e abalo em sua paz psíquica, transtornos que
extrapolam os meros aborrecimentos do cotidiano. 6. O quantum arbitrado
pelo Juízo de origem (R$ 5.000,00) não comporta minoração, uma vez que
está abaixo dos parâmetros utilizados pelas Turmas Recursais em casos
semelhantes, sendo o patamar mínimo para atingir o caráter pedagógico,
evitando que a recorrente volte a praticar os mesmos erros novamente.
Ademais, deve-se considerar as peculiaridades do caso em apreço,
observando-se que o autor teve negado a renovação do seu crédito agrícola,
situação que por si só já configura a existência de danos extrapatrimoniais.
RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. (TJ-RS - Recurso
Cível: 71004824850 RS , Relator: Glaucia Dipp Dreher, Data de
Julgamento: 27/06/2014, Quarta Turma Recursal Cível, Data de Publicação:
Diário da Justiça do dia 03/07/2014).

Logo, vislumbrada a necessidade de reparação do dano moral decorrente da


cobrança indevida, conjugada com a negativação do nome da autora, passo a discutir o
quantum fixado.
Nesta seara obtempera Des. Luiz Gonzaga Hofmeister do TJ-RS no proc.

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595032442:
O critério de fixação do valor indenizatório, levará em conta
tanto a qualidade do atingido, como a capacidade financeira
do ofensor, de molde a inibi-lo a futuras reincidências,
ensejando-lhe expressivo, mas suportável, gravame
patrimonial.

Diz ainda Wilson Melo Da Silva, em “O Dano Moral e sua Reparação”,


obra basilar sobre a matéria:

É preponderante, na reparação dos danos morais, o papel


do juiz. A ele, a seu prudente arbítrio, compete medir as
circunstâncias, ponderar os elementos probatórios, inclinar-
se sobre as almas e perscrutar as coincidências em busca
da verdade, separando sempre o joio do trigo, o lícito do
ilícito, o moral do imoral, as aspirações justas das miragens
do lucro, referidas por DERNBURG. E após tudo, decidindo
com prudência, deverá, depois, determinar, em favor do
ofendido, se for o caso, uma moderada indenização por
danos morais. (Forense, pg. 630/631).

Reiteradamente manifestei posição de que o arbitramento do dano deve obedecer


aos critérios da prudência, da moderação, das condições da ré em suportar o encargo e
não aceitação do dano como fonte de riqueza.

Da mesma forma, a fixação do montante indenizatório deve guardar uma


equivalência entre as situações que tragam semelhante colorido fático. As variações nos
valores das indenizações existem conforme as circunstâncias fáticas que envolvam o
evento.

Tendo em vista os parâmetros acima delineados , quanto ao valor arbitrado, tenho


que o mesmo se mostra exagerado e fora dos parâmetros arbitrados por este Sodalício
em casos similares, merecendo uma alteração na fixação daquele quantum.

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Assim sendo, ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER DO


RECURSO e DAR PARCIAL PROVIMENTO ao recurso interposto pela recorrente
COELBA para reduzir o quantum condenatório arbitrado a título de danos morail fixando-o
em R$ 5.000,00 ( cinco mil reais) , corrigidos desde a data do arbitramento, nos termos
da súmula 362 do STJ e juros de mora desde o evento danoso, nos termos da súmula 54
do STJ. Sem custas processuais e honorários advocatícios, pelo êxito da parte no
recurso.

Salvador, 05 de Maio de 2016

Bela. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Relatora

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