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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo nº. : 0000117-31.2015.8.05.0137


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : BANCO BRADESCO S A
Recorrido(s) : PAULO RIBEIRO DOS SANTOS

Origem : 1ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - JACOBINA


Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

VOTO EMENTA
RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. FIRMADO
COM CONSUMIDOR ANALFABETO. AUSÊNCIA DAS FORMALIDADES
OBRIGATÓRIAS. AUTOR QUE NÃO NEGA A CONTRATAÇÃO. CONSENTIMENTO
VICIADO. ART. 595 DO CC/02. RÉU QUE NÃO JUNTA AOS AUTOS O
INSTRUMENTO CONTRATUAL COM A COMPROVAÇÃO DOS PREENCHIMENTO
DOS REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO FIRMADO COM ANALFABETO.
NULIDADE. RESTITUIÇÃO SIMPLES. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
QUANTUM ARBITRADO DE ACORDO COM OS PARÂMETROS DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA MANTIDA.

1.O Recorrente insurge-se contra sentença que julgou procedente o


pedido formulado na exordial, declarou inexigível a dívida oriunda de
empréstimo consignado , bem como determinou a restituição dos valores
descontados do benefício previdenciário da parte autora, e condenou o réu em
R$ 1.000,00 ( hum mil reais) a título de danos morais.

2. Ingressou a parte autora em juízo contra o Banco réu, aduzindo


que vem sofrendo diminuição do valor dos seus proventos, em razão de
descontos perpetrados pelo acionado em face de empréstimo firmado com
prepostos da demandada, que aproveitaram-se de sua condição de pessoa
analfabeta e de parcos conhecimentos para firmar contrato de empréstimo
consignado, sem contudo esclarecer-lhe as reais consequências da avença.
Foi requerida a declaração da nulidade do contrato, a restituição dos valores
indevidamente descontados em dobro bem como indenização pelos danos
morais sofridos.

2. A parte recorrente busca a reforma da sentença, aduzindo,


em síntese, que o contrato fora validamente celebrado entre as partes, com o
atendimento de seus requisitos, e que portanto não há que se alar em ato
ilícito, e nem direito à restituição. Impugna, de igual modo, a existência de
direito ao ressarcimento por danos morais.

5. Como sabido, em se tratando de consumidor analfabeto, a


jurisprudência pátria tem entendido que as instituições financeiras,
quando da contratação, deverão adotar procedimentos e formalidades
adicionais para coibir a ocorrência de práticas abusivas no mercado de
consumo.

6. Nesse sentido que devem as referidas instituições


financeiras proceder com cautela adicional, observando algumas
formalidades que a hipótese requer, dentre as elencadas pela
jurisprudência pretoriana, tais quais a aposição da digital do contratante
no instrumento, nos termos do art. 595 do CC/02, acompanhada da
assinatura de duas testemunhas, ou a lavratura de escritura pública.

7. A despeito das alegações do banco demandado, parte


autora, o banco demandado não comprova o preenchimento das
formalidades acima elencadas, como lhe incumbia fazer, de molde a
demonstrar a legitimidade da contratação firmada com pessoa
analfabeta. Insta observar que nem mesmo o instrumento contratual
fora adunado aos autos, como incumbia ao banco demandado fazê-lo,
para fins de comprovação do fato extintivo do direito da parte autora.

8. Nesta senda, diante da ausência da comprovação da


contratação regular, em obediência aos requisitos elencados peloa
doutrina e jurisprudência para a validade da contratação firmada com
consumidor analfabeto, , mister seja mantida a sentença que
reconheceu o procedimento abusivo, e determinou a restituição dos
valores pagos.

9. O conjunto probatório demonstrou cabalmente a ocorrência do


dano moral que muito mais que aborrecimento e contratempo, resultou em
situação que por certo lhe trouxe intranqüilidade e sofrimento, máxime diante
do comprometimento da renda da parte autora, do abuso perpetrado pela
empresa demandada através de seus prepostos, e do dispêndio de tempo e
energia suficientes para resolver o impasse.

10. O valor da indenização fixado pelo juiz sentenciante, a título


de danos morais, guarda compatibilidade com o comportamento do
recorrente e com a repercussão do fato na esfera pessoal da vítima e,
ainda, está em harmonia com os princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, devendo ser mantido.

11. ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER DO RECURSO E


NEGAR-LHE PROVIMENTO, para manter a sentença objurgada pelos próprios
fundamentos. Custas processuais e honorários advocatícios pelo recorrente,
quearbitro em 20% sobre o valor condenatório.
2. Salvador, Sala das Sessões, 13 de Abril de 2017.
3. BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
4. Juíza Relatora
5. BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
6. Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo nº. : 0000117-31.2015.8.05.0137


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : BANCO BRADESCO S A
Recorrido(s) : PAULO RIBEIRO DOS SANTOS

Origem : 1ª VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - JACOBINA


Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia,
CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ –Presidente, MARIA
AUXILIADORA SOBRAL LEITE – Relatora e ALBÊNIO LIMA DA SILVA
HONÓRIO, em proferir a seguinte decisão: RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento. Custas
processuais e honorários advocatícios pelo recorrente, quearbitro em 20% sobre o
valor condenatório.
Salvador, Sala das Sessões, 13 de Abril de 2017.
BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ
Juíza Presidente

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