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Boquilhas de Saxofone - Como escolher

Artigo por dan_camsky – Julho / 2011

Talvez a maior questão em termos de setup no saxofone seja a boquilha. Quase todos nós já experimentamos
uma dúzia delas na tentativa de conseguir a sonoridade ideal, e muitos têm uma coleção delas. Bem, nas boquilhas vale
o ditado: Quem ñ sabe o q procura, ñ percebe quando encontra. Então vou tentar clarear a questão.

Além da abertura, há dois aspectos principais quanto às boquilhas: a funcionalidade e a sonoridade.

Chamamos de abertura a distância entre o plano da mesa e trilho do bico (vide abaixo).

Não há um padrão de abertura entre os fabricantes, e um mesmo número de boquilha (#5, por exemplo) pode
representar aberturas bem diferentes. Abaixo tabela comparativa com as aberturas de alguns dos inúmeros fabricantes
(fonte: http://www.jodyjazz.com/facings.html). Para converter a medida para mm, basta multiplicar a abertura (q está em
milésimos de polegada) por 0,0254.

Alto Saxophone Mouthpiece Facing Chart Tip openings in thousandths of an inch

Alto Models 60 63 65 66 67 70 71 72 74 75 76 77 78 80 81 82 83 85 86 87 88 90 92 93 95 97 98 100 105

JodyJazz
5 6 7 8 9 9*
ESP

Bari Rubber 72 77 82 87

Beechler 3 4 5 6 7 8 9

Beechler
2 3 4 5 6 7
Metal

Brilhart
2 3 4 5 6 7
Ebolin

Bundy 2 3 4

Dukoff 6 7 8 9 10

Lakey 4 5 6 7

Berg Larsen 70 75 80 85 90 100 105

Otto Link 4* 5 5* 6 6* 7 7* 8 8* 9

Meyer Metal 5J 6J 7J 8J

Meyer
4M 5M 6M 7M 8M 9M 10M
Rubber

Ponzol 70 75 80 85

Rico Royal 3 5 7

Rousseau
X4 X5 X7 X8
Jazz

Runyon 4 5 6 7 8 9

Rovner 5 6 7

Selmer C* D E F G

SR Tech X X

Vandoren A5 A6 A7/A35 A8 A45 A9 A55

Yamaha 4C 5C 6C 7C

Yanagisawa 4 5 6 7 8 9
As boquilhas de menor abertura combinam com palhetas mais duras, as mais abertas com mais moles, e cada
fabricante costuma recomendar uma faixa numeração de palhetas (q tb pode variar bastante entre fabricantes) para cada
numeração de boquilha, mas a palheta adequada a determinada boquilha depende muito do gosto do saxofonista. As
boquilhas mais fechadas em geral são preferidas pelos músicos clássicos, pois são mais fáceis para manter a afinação.
As de abertura maior precisam de melhor controle de embocadura para manter a afinação, mas facilitam efeitos como os
bends, e geram um volume maior. Essas são as preferidas pelos músicos dedicados aos demais estilos.

A funcionalidade é basicamente se a boquilha funciona como deve (nada mais óbvio...). Chamamos de faceamento o
conjunto da mesa, dos trilhos laterais e sua curvatura e o trilho do bico. Essas partes da boquilha são vitais à
funcionalidade, e defeitos podem causar uma série de problemas. Defeitos no faceamento podem provocar:
• Tendência a apitos: vc digita uma determinada nota e soa um harmônico bem mais agudo. Isso costuma
acontecer principalmente no registro agudo do sax.
• Inconstância de volume: mesmo soprando de forma idêntica, algumas notas ou zonas da tessitura soam com
volume abafado, e outras parecem gritar.
• Muita dificuldade em obter os extremos da tessitura: as notas mais graves ou agudas ficam difíceis de obter.
• Notas com tendência à bitonalidade: vc digita uma nota e soa como se estivessem sendo tocadas duas notas ao
mesmo tempo, ou parece haver uma alternância entre ambas.
• Falta de projeção: para obter um volume razoável, vc precisa fazer um esforço enorme na coluna de ar.
• Dificuldade em obter dinâmicas suaves: algumas ou todas as notas do sax somente respondem em dinâmicas
intermediárias a fortes. Vc ñ consegue tocar em piano ou mais suave.
• Falta ou excesso de resistência ao sopro: parece q o ar acaba rápido demais, impossibilitando terminar as
frases, ou ocorre o oposto, sobra muito ar ao final das frases.

O faceamento requer uma precisão dimensional muito apurada, ou a boquilha terá alguns dos defeitos citados acima.
Alguns fabricantes conseguem essa precisão dimensional nas boquilhas q fabricam, mas outros infelizmente não,
produzindo algumas peças muito boas, outras apenas razoáveis e muitas peças ruins. Somente testando tendo como
base a observação dos pontos acima q podemos verificar se o exemplar q estamos comprando é de faceamento bom ou
deficiente. Mas na era das compras pela web somente podemos fazer isso ao receber. E tb poucas lojas permitem
experimentar as boquilhas q tem a venda.

Quanto à sonoridade, as boquilhas variam em um espectro de brilho q vai de muito escuro até muito brilhante. Os
detalhes que definem essa característica estão no interior da boquilha, basicamente no formato da rampa (baffle) e
câmara. As boquilhas de rampa alta tendem a sonoridade brilhante, as de rampa baixa tendem a sonoridade escura. Há
diversas configurações diferentes de rampa: simples, dupla, bullet, com ou sem degrau no final, corrugada, etc.
Além da forma e altura da rampa, o outro principal fator de sonoridade é o tamanho da câmara (zona entre o
tudel, palheta e rampa). As boquilhas com câmara pequena tendem a sonoridade brilhante, enquanto as de câmara
grande tendem a sonoridade escura.

Sobre o material de q a boquilha é feito, a maioria concorda q pouco influencia na sonoridade obtida. Cabe
observar q boa parte das boquilhas de metal, mas não a totalidade delas, costuma ser fabricada com rampa alta,
portanto perfil brilhante. As feitas dos demais materiais variam em brilho, mas tradicionalmente tendem a sonoridade
intermediária a escura. Nos últimos anos tem surgido no mercado boquilhas em resinas diversas tendo como modelos de
base as tradicionais de metal, mudando um pouco essa regra q boquilhas de resina e hard rubber possuem sonoridade
mais escura.

Há diversos outros detalhes nas boquilhas que afetam a sonoridade e funcionalidade em menor grau e q podem
ser mais importantes para saxofonistas mais experientes, tal como o comprimento da curvatura dos trilhos, o tamanho da
janela, a espessura do trilho do bico, o tipo de baffle, etc. Mas acredito q as informações acima ajudem na orientação
sobre q tipo de boquilha procurar e como observar a adequada funcionalidade da mesma.

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