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REDAÇÃO E REVISÃO TEXTUAL EM LÍNGUA PORTUGUESA

A praga dos jargões só atrapalha sua carreira. Veja o porquê


Falar e escrever mal prejudica a vida profissional. Veja como melhorar sua
comunicação e transmitir as ideias com clareza

Por Caroline Marino


Vocesa.com.br / julho de 2012

São Paulo – O escritor angolano José Eduardo Agualusa é tido como o predileto
da presidente brasileira, Dilma Rousseff. Em seu livro Milagrário Pessoal (2010),
ele faz uma crítica às palavras fracas, muitas das quais lotam o vocabulário
corporativo.

A protagonista da história é uma jovem linguista cujo trabalho é usar um software


para descobrir novas palavras — os neologismos — em jornais e revistas e,
quando for o caso, registrá-las em dicionário.

Mas isso pouco acontece. As gírias que repetimos no trabalho, mostra o escritor,
pouco contribuem para a comunicação e não merecem a inclusão oficial em
nosso vocabulário. Veja o que ele diz neste trecho do livro: “Entre as palavras
recém-nascidas, a taxa de mortalidade é elevada. Muitas padecem de graves
defeitos congênitos. São frágeis, mal respiram, não resistem ao duro processo
da seleção natural”.

O trabalho é a fonte primária dessas palavras fracas e desprovidas de sentido e


precisão, que dificultam a comunicação e atrapalham o desempenho do
profissional que as profere. Do chão de fábrica às mesas de conselho, ninguém
escapa dos jargões, estrangeirismos, lugares-comuns e gírias. Quem nunca
ouviu ou recebeu e-mails com termos como “agregar valor ao negócio”, “sinergia”
ou “approach”?

“A comunicação ruim é uma praga nas empresas”, afirma Edison Rosa, consultor
de comunicação, de São Paulo. De acordo com ele, muitos profissionais acham
que usar jargão o tempo todo transmite a ideia de domínio da área e impressiona
os colegas. “O problema é que, muitas vezes, a mensagem é simplesmente
ininteligível ou pedante”, diz o consultor.

Uma pesquisa feita no LinkedIn, rede social com mais de 135 milhões de
usuários — 6 milhões só no Brasil —, mostra que palavras como “inovador” e
“criativo” aparecem em mais de 3.000 perfis.

Para Danielle Restivo, gerente de comunicação corporativa do LinkedIn para


Canadá e Brasil, as pessoas usam essas palavras para descrever sua
experiência profissional como forma de se enquadrar em um grupo. “São
expressões que se tornaram populares e parecem mais importantes do que são”,
diz Danielle.

Faltam vocabulário e capacidade de argumentar e de dar clareza aos discursos.


“Os profissionais se escondem atrás dessas palavras porque têm um vocabulário
pobre”, diz Osório Antônio Candido da Silva, professor da BSP e da Fundação

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Instituto de Administração (FIA), em São Paulo, e especialista em técnicas de


comunicação e expressão verbal.

De acordo com ele, as pessoas têm dificuldade de se expressar e pouca


familiaridade com a língua portuguesa. “Muitas são fluentes em inglês mas não
conseguem explicar algo simples em seu próprio idioma.”

Cuidado com a gramática


Os ruídos de comunicação prejudicam a carreira. Uma pesquisa feita pelo
Project Management Institute Brasil (PMI) em 2010 com 300 companhias
nacionais e multinacionais mostrou que em 76% delas os projetos não dão certo
porque os profissionais não sabem escrever nem falar bem.

“Hoje em dia, uma enorme parcela de pessoas chega ao mercado de trabalho


sem competência para redigir um texto formal de qualidade”, diz a professora
Maria Clara Jorgewich Cohen, autora do livro Comunicação Escrita – A Busca
do Texto Objetivo (Editora E-Papers).

O mais grave, ela ressalta, é que a maioria dos profissionais não admite que
precisa melhorar. “Muitos ficam constrangidos de frequentar cursos porque
ocupam altos cargos”, diz Maria Clara.

A percepção de que a deficiência do idioma é crescente parte do próprio


mercado. Hoje, escolas de idiomas oferecem aulas de português para
brasileiros. Várias têm ampliado o número de treinamentos.

A Fundação Fisk, por exemplo, oferece o curso Português sem Tropeços desde
o segundo semestre de 2008 e atualmente atende mais de 5.000 alunos em todo
o país. Dos matriculados, 70% vêm de empresas, principalmente das áreas
financeira e comercial, e a maioria é composta por gestores.

“Percebemos que existia no mercado um desnível entre a competência técnica


e a habilidade de comunicação”, diz o professor Elvio Peralta, diretor
superintendente da Fisk de São Paulo.

De acordo com Elvio, embora a cobrança pelo segundo idioma seja alta no
mercado, o profissional não pode descuidar da própria língua. “Quem não tem o
domínio do português com certeza será malvisto”, afirma. “Há deficiências
graves em concordância verbal e nominal e referentes à nova ortografia.”

A Companhia de Idiomas é outra escola que oferece cursos de português para


brasileiros. “Quando é a empresa que nos procura, fazemos um levantamento
das necessidades já percebidas pelo RH e aplicamos um teste para detectar
exatamente quais áreas precisam ser trabalhadas”, diz Ligia Crispino, sócia-
diretora da escola.

Assim, os cursos podem abordar a produção oral e escrita, regras de gramática


e a nova ortografia — depende do que é necessário para melhorar a
comunicação com o público.

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O antigo curso de reciclagem é chamado oficina de comunicação. Isso porque,


afirma Ligia, quando a solicitação vem da direção ou do RH, muitos alunos não
querem dispor do tempo que têm para estudar português. “O objetivo é
sensibilizá-los da importância que a comunicação tem para os negócios”, diz
Ligia.

O uso correto do idioma pode ser a diferença entre um desempenho eficaz e o


fiasco nas relações com colegas e clientes. Deixe de lado o preconceito e abuse
do vasto vocabulário da língua portuguesa. De nada adianta falar mais de um
idioma e ser especialista num assunto se você não conseguir transmitir ideias
em seu próprio idioma. Solte o verbo, mas de maneira correta.

Comunicação sem ruídos


A gerente financeira Edjane Andrade, de 38 anos, da empresa de tecnologia
Amadeus, de São Paulo, voltada para o setor de turismo, sabe que não pode
descuidar da língua portuguesa. Em março de 2011, ela fez um curso sobre
reforma ortográfica que abordou também o uso excessivo de expressões em
idioma estrangeiro, jargões e vícios. “Para quem deseja ter uma carreira sólida
e, principalmente, atingir um cargo de liderança, falar e escrever bem em
português é essencial”, diz Edjane.

Jargões fora do vocabulário


O advogado paulista Maurício da Costa, de 30 anos, diretor jurídico da
Cooperativa Central de Produção Industrial de Trabalhadores em Metalurgia,
procurou um curso de português para diminuir o emprego de jargões como
“proativo” e “inovador”. “Usava muitas palavras desse tipo e sabia que precisava
mudar esse hábito”, afirma.

Como aprimorar a comunicação oral e escrita

• Evite o uso sem necessidade de palavras já desgastadas, como


“paradigma”, “valor” e “sinergia”. Evite os verbos ingleses
aportuguesados, como printar, startar, linkar, atachar.
• Elimine gerundismos como “vou estar apresentando”, “vamos estar
demonstrando”.
• Não complique. Desenvolva um vocabulário simples e objetivo para
apresentar suas ideias.
• Pronuncie bem as palavras. Não corte o “s” e o “r” finais nem o “i”
intermediário.
• Fuja dos cacoetes no meio do raciocínio, como “tá ok?”, “é assim”, “né”,
“bem”, “então”, “certo?”, “é o seguinte”.

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