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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - FORO


REGIONAL DE COLOMBO
VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE COLOMBO - PROJUDI
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Autos nº. 0004968-36.2015.8.16.0193

Processo: 0004968-36.2015.8.16.0193
Classe Processual: Execução Fiscal
Assunto Principal: Dívida Ativa
Valor da Causa: R$861,78
Exequente(s): Município de Colombo/PR
Executado(s): COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA

Vistos.

Trata-se de execução fiscal ajuizada pelo Município de Colombo - PR contra Companhia


Paranaense de Energia - COPEL, em decorrência da inscrição em dívida ativa relativa ao não
recolhimento de tributos municipais.

Recebidos os autos, determinou-se a citação da devedora para responder a ação nos termos
dispostos na Lei de Execuções Fiscais.

Devidamente citada e após ser intimada quanto a penhora realizada via sistema BacenJud a
executada compareceu aos autos e apresentou exceção de pré-executividade, arguindo, em síntese: i)
incorreta indicação do devedor, ii) a prescrição do crédito tributário, iii) imunidade objetiva, iv)
imunidade tributária em relação aos imóveis afetados ao serviço público, v) a inconstitucionalidade das
taxas.

Em vista das argumentações, pugna pelo acolhimento da exceção de pré-executividade


apresentada e, consequentemente, pela extinção da execução proposta e condenação do exequente em
custas processuais e honorários advocatícios (mov. 21.1).

O Município exequente, por sua vez, manifestou-se destacando: i) a validade da Certidão


de Dívida Ativa, vez que preenche todos os requisitos legais, ii) o descabimento da alegação de
imunidade tributária no que tange ao imóvel em questão, iii) que a imunidade tributária diz respeito
somente aos impostos.

Diante dos fundamentos defensivos, requereu o não acolhimento da exceção de


pré-executividade, com o consequente prosseguimento da execução. (mov. 25.1).

Vieram-me os autos conclusos. Dito isso, passo às seguintes considerações.

1. Do cabimento de Exceção de Pré-Executividade na Execução Fiscal

Assim dispõe o art. 16, § 3º, da Lei nº 6.830/80: “O executado oferecerá embargos, no
prazo de 30 dias, contados (...) §3º Não será admitida reconvenção, nem compensação, e as exceções,
salvo as de suspeição, incompetência e impedimento, serão arguidas como matéria preliminar e serão
processadas e julgadas com os embargos.”.

Em que pese a referida disposição legal vedar a apresentação de exceção de


pré-executividade, o E. Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento, editando o enunciado nº 393 de
sua Súmula de Jurisprudência, pela admissibilidade da discutida exceção quando versar sobre matérias
conhecíveis de ofício ou que não dependam de dilação probatória.

Quanto ao tema:

“Súmula nº 393. A exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal


relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não demandem dilação
probatória”.

Portanto, cabível se mostra a exceção apresentada, razão pela qual passo a analisá-la.

2. Do mérito

No que tange ao IPTU, dos diversos argumentos apontados pela parte devedora, extraio um
como suficiente ao acolhimento da exceção apresentada, a saber: o imóvel sobre o qual incide o IPTU se
trata de bem público afeto à prestação de serviço público, amparado, assim, pela imunidade tributária.

Como se sabe, a Companhia Paranaense de Energia é uma sociedade de economia mista


prestadora de serviço público essencial referente à geração, transmissão, distribuição e comercialização de
energia elétrica. Embora atue no setor privado, mediante contraprestação dos usuários, presta serviço
público essencial com caráter de exclusividade, não se inserindo em exploração de atividade econômica,
sendo o patrimônio em questão, ainda, vinculado à destacada atividade essencial, na medida em que o
bem sobre o qual incide o imposto abriga linhas de transmissão de energia elétrica.

Esse cenário autoriza a extensão da imunidade tributária recíproca, definida no art. 150,
inciso VI, da Constituição Federal, às sociedades de economia mista prestadoras de serviço público
essencial, sendo que esta condição especial afasta a aplicação do § 2º, do art. 173, da Carta Magna.

Não se trata, assim, de alegação da executada embasada em regulamento de energia


elétrica, mas, sim, de imunidade tributária estabelecida pela Constituição Federal.

O entendimento jurisprudencial acerca do tema é uníssono, inclusive perante o Supremo


Tribunal Federal, conforme se extrai de recentes julgados, veja-se:

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


IMUNIDADE RECÍPROCA. IPTU. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. PRETENSÃO CUJO ACOLHIMENTO
DEMANDARIA REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA 279/STF.
PRECEDENTES. 1. O Supremo reconheceu a possibilidade de extensão da imunidade
recíproca sobre a renda, os bens e o patrimônio de sociedade de economia mista que
desempenha serviço de interesse público em caráter exclusivo. 2. A instância ordinária
apontou preenchimento dos requisitos necessários para a incidência da imunidade tributária
prevista no art. 150, VI, a, da Constituição Federal. O acolhimento da pretensão demandaria
um novo exame do acervo fático-probatório. Incide, no caso, a Súmula 279/STF. 3. Agravo
regimental a que se nega provimento”. (ARE 861545 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO
BARROSO, Primeira Turma, julgado em 07/04/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-076
DIVULG 23-04-2015 PUBLIC 24-04-2015).

Igualmente:

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


ISENÇÃO CONFERIDA EM FAVOR DE IMÓVEL DE UMA SOCIEDADE DE
ECONOMIA MISTA PRESTADORA DE SERVIÇOS PÚBLICOS EXCLUSIVOS - CBTU.
INAPLICABILIDADE DA VEDAÇÃO CONSTANTE DO ART. 173, § 2º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRECEDENTES. O Tribunal de origem consignou que o
serviço prestado pela agravada é público, indisponível e prestado em regime de exclusividade.
Dessa forma, mostra-se inaplicável a vedação de que trata o art. 173, § 2º, da Constituição
Federal. Ademais, nos termos da legislação local, a isenção alcança o imóvel que for
declarado de necessidade ou utilidade pública ou de interesse social. Nesse particular, ficou
reconhecido que o imóvel foi declarado de utilidade pública pela União, de modo que o
acolhimento da pretensão demandaria o reexame do acervo fático e probatório (Súmula
279/STF). Agravo regimental a que se nega provimento”. (ARE 816538 AgR, Relator(a):
Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 28/10/2014, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-227 DIVULG 18-11-2014 PUBLIC 19-11-2014).

Diante disso, a cobrança do IPTU, in casu, não se revela possível.

Friso, aqui, que os créditos com vencimento no ano de 2010 são todos referentes ao IPTU.
Diante disso, reconhecida a imunidade tributária da parte executada, desnecessário o enfrentamento da
prescrição alegada, vez que o lapso prescricional alcança, justamente, o aludido imposto, o qual ora se
afasta diante da imunidade reconhecida.

Em prosseguimento, passo ao exame da aventada inconstitucionalidade das taxas cobradas.

Extrai-se da CDA que embasa o presente executivo fiscal, a cobrança em face da COPEL
de taxas de expediente e de limpeza e conservação.

Pois bem. Tratando do tema (taxas) o art. 145, inciso II, da Constituição Federal, bem
como os arts. 77 e 79, do Código Tributário Nacional, estabelecem como requisitos essenciais para
instituição do aludido tributo o exercício do poder de polícia, ou, hipótese que se enquadra no caso dos
autos, a utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao
contribuinte ou postos a sua disposição”.

Infere-se, portanto, que a regularidade na instituição da taxa somente se verifica se


presentes os destacados requisitos, mormente a especificidade e a divisibilidade.

Ocorre que as taxas que integram a CDA deste feito (taxas de expediente e de limpeza e
conservação) são reconhecidamente inconstitucionais, por ausência da divisibilidade constitucionalmente
exigida.

Acerca do tema, especialmente quanto a taxa de limpeza e conservação pública, a seção da


1ª Câmara Cível do E. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, sedimentando posicionamento, editou o
Enunciado nº 07, dispondo que:

“É inconstitucional a cobrança da taxa de limpeza e conservação pública, por se


tratar de serviço inespecífico, não mensurável e indivisível, cujo custeio é
abrangido pelo produto da arrecadação dos impostos gerais”.

Diverso não é o entendimento no que tange à taxa de expediente. Veja-se:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU E DEMAIS TAXAS.


EXCEÇÃO DE PRÉ - EXECUTIVIDADE. (...) EXPEDIENTE, COMBATE A INCÊNDIO
E DE MANUTENÇÃO DE PAVIMENTAÇÃO. INCONSTITUCIONALIDADE
RECONHECIDA. REGULARIDADE DA COBRANÇA DA COLETA DE LIXO PELO
MUNICÍPIO. DECLARAR, DE OFÍCIO, A NULIDADE PARCIAL DA DECISÃO, NO
TOCANTE AO RECONHECIMENTO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DO IPTU.
RECURSO NÃO PROVIDO”. (TJPR - 2ª C.Cível - AI - 1216933-6 - Marechal Cândido
Rondon - Rel.: Guimarães da Costa - Unânime - J. 16.12.2014).

Conclui-se, assim, pela inconstitucionalidade das taxas em comento, de modo que a tese
apresentada pela parte excipiente merece prosperar.

Superada a alegação quanto a Contribuição para o Custeio da Iluminação Pública, cumpre


apreciar o argumento da parte executada no sentido de que a Companhia Paranaense de Energia- COPEL,
que controla grupo de empresas e indicada como devedora, não se reveste da qualidade de contribuinte
e/ou responsável do tributo cobrado, visto que a propriedade do bem imóvel originador do tributo em tela
é da COPEL Distribuição S/A.

Razão assiste à executada. Ao que se extrai da matrícula atualizada do imóvel que dá azo à
Contribuição para Custeio da Iluminação Pública (mov. 21.6), a propriedade do bem é de COPEL
Distribuição S/A. Trata-se, pois, de pessoa jurídica diversa daquela indicada na inicial.

Igualmente extrai-se da matrícula atualizada que o imóvel já pertencia à COPEL


Distribuição S/A desde 13/12/2011, é dizer, portanto, desde período anterior à constituição do tributo em
questão (2012 e 2013 – Contribuição para Custeio da Iluminação Pública).

Para além disso, o lançamento tributário deve ser realizado corretamente pelo fisco,
independentemente de qualquer atuação da parte no sentido de atualização cadastral.

A executada, para fundamentar sua argumentação defensiva, já trouxe recente precedente


do E. TJPR em que há apreciação de situação fática idêntica a dos presentes autos, nos seguintes termos:

“APELAÇÃO CÍVEL - EXECUÇÃO FISCAL - TAXA DE VERIFICAÇÃO DE


FUNCIONAMENTO REGULAR E DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA DOS EXERCÍCIOS
FINANCEIROS DE 2010, 2012 E 2013 - ILEGITIMIDADE PASSIVA - EXECUTADA
QUE DEIXOU DE DESENVOLVER SUAS ATIVIDADES NO LOCAL EM 2007,
QUANDO DA SUA EXTINÇÃO ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO AUTORIZATIVA Nº 1.120 -
EXECUÇÃO FISCAL QUE DEVERIA SER DIRECIONADA EM FACE DE COPEL
DISTRIBUIÇÃO S/A, QUE PASSOU A ASSUMIR AS CONCESSÕES, BENS E
INSTALAÇÕES, DIREITOS E OBRIGAÇÕES DA EXECUTADA - SENTENÇA
MANTIDA - RECURSO IMPROVIDO (...)o fato do contribuinte deixar de desenvolver suas
atividades no imóvel e não comunicar o Município sobre a cisão ocorrida entre a recorrida e
as subsidiárias integrais da Companhia Paranaense de Energia Elétrica – COPEL (Copel
Distribuição S/A e Copel Geração e Transmissão S/A), não exime o Fisco de promover o
lançamento correto e nem mesmo permite afastar a nulidade do lançamento tributário.
(...)pode-se afirmar que a apelada, COPEL TRANSMISSÃO S/A deixou de funcionar no
imóvel descrito na CDA, em 2007, quando da sua extinção ocorrida através da Resolução
Autorizativa nº 1.120, art. 1º, inciso III, quando então, em 2009, a COPEL DISTRIBUIÇÃO
S/A transferiu o imóvel em seu nome e passou a desenvolver suas atividades no local. Tal
fato comprova-se com a averbação nº 31.514/2, de transferência da propriedade realizada no
Registro de Imóveis à COPEL DISTRIBUIÇÃO S/A, em 16 de setembro de 2009 (evento nº
36.2) Portanto, devidamente reconhecida a ilegitimidade passiva da executada, uma vez que
os créditos tributários inscritos em dívida ativa correspondem aos exercícios financeiros de
2010, 2012 e 2013, quando no local, já não estava em funcionamento as atividades
anteriormente desenvolvidas pela COPEL TRANSMISSÃO S/A.”. (TJPR - 1ª C.Cível - AC -
1557411-7 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central de Londrina - Rel.: Rubens
Oliveira Fontoura - Unânime - DJ. 15.08.2016).

Assim, é de rigor reconhecer a ilegitimidade passiva da Companhia Paranaense de Energia


– COPEL, situação que, ao lado das demais ponderações acima elencadas, conduz à extinção da presente
execução fiscal, porém, neste particular (Contribuição para Custeio da Iluminação Pública), sem
resolução de mérito.

Por fim, destaco novamente que o exame da prescrição resta prejudicado ante a já
reconhecida imunidade tributária em relação ao IPTU e a inconstitucionalidade das taxas.

3. Do dispositivo

Ante o exposto, acolho a exceção de pré-executividade apresentada pela devedora,


extinguindo a presente a presente execução fiscal, com resolução de mérito.

Especificamente em relação à Contribuição para Custeio de Iluminação Pública, extingo o


feito sem resolução do mérito ante a verificada ilegitimidade passiva.

Por fim, com fulcro no entendimento do E. Superior Tribunal de Justiça,[1]o qual destaca
que são devidos honorários advocatícios em caso de acolhimento de exceção de pré-executividade,
condeno o exequente ao pagamento dos honorários sucumbenciais ao patrono do executado, os quais fixo,
com base no art. 85, §§ 2º e 8º, do CPC, em R$500,00 (quinhentos reais).

Aos honorários fixados em favor do procurador da parte executada, incidirá correção


monetária pelo IPCA, a partir da fixação, acrescidos, a partir do trânsito em julgado, de juros de mora
calculados pela variação do índice oficial de remuneração da caderneta de poupança até o efetivo
pagamento.

Em atenção ao disposto no art. 496, § 3º, inciso III, do CPC, deixo de submeter este feito à
remessa necessária.

Sem custas, a teor do art. 39, da Lei 6.830/80.

Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Oportunamente, arquivem-se.

http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=101728
[1]

Colombo, 30 de novembro de 2018.

Cesar Augusto Bochnia

Juiz de Direito

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