Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MIP Florestas Conceitos PDF
MIP Florestas Conceitos PDF
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma filosofia de controle de pragas que procura
preservar e incrementar os fatores de mortalidade natural, através do uso integrado de todas as
técnicas de combate possíveis, selecionadas com base nos parâmetros econômicos, ecológicos e
sociológicos, visando a manter a densidade populacional de um organismo abaixo do nível de dano
econômico.
A compreensão dos preceitos do MIP requer o conhecimento de alguns conceitos básicos,
que são comumente usados por pesquisadores, técnicos e produtores que lidam com a entomologia.
Para entendê-los devemos conhecer a relação inseto-fitófago x planta (Figura 1).
Inseto Praga
Ataque Dano
Econômico
Significativo
Injúria $
Perda ou
Dano
Planta
FIGURA 1. Esquema ilustrando a relação inseto x planta, que caracteriza o conceito de praga.
Prof. Ronald Zanetti - Depto de Entomologia/UFLA, CxP 3037, CEP 37200-000, Lavras, MG. zanetti@ufla.br
2
Produção
Tolerância/
Compensação Linearidade Insensibilização Insensibilidade
Supercompensação
Densidade populacional/Injúria
Conforme visto, a produção será máxima quando a população da praga estiver próxima de
zero. Para obter isso, devemos investir recursos para reduzir a densidade populacional da praga.
Quanto maior o valor investido no controle, menor é a densidade populacional da praga e,
conseqüentemente, maior será a produção da cultura (Figura 3).
$
Valor da
Produção
Custo
Controle
NDE DP=0
O que se espera obter em qualquer investimento florestal é o máximo lucro; então, a tomada
de decisão (aplicação ou não de um ou outro método de controle) envolve um custo, que deve ser
minimizado, e uma receita, que deve ser maximizada. A diferença entre a receita e o custo produz
um lucro, que é descrito matematicamente como:
L = pQ(x) - C(x),
em que: L = lucro; p = preço do produto; Q(x) = quantidade do produto que se obteve em função da
aplicação do método de controle (x); x = método de controle; e C(x) = custo da aplicação do método
de controle (x).
O lucro será máximo quando as curvas de receita da produção e custos de controle de
pragas se afastarem o máximo, ou seja, quando a derivada de L em função de (x) for igual a zero:
(dL/dx) = p[dQ(x)/d(x)] - [dC(x)/d(x)] = 0. Nesse ponto, temos o NDE, ou seja, a densidade
populacional da praga (eixo X) em que devemos aplicar o controle.
Na Figura 4 temos a derivada do lucro (dL/dx). Verifica-se que a curva de incremento dos
custos aumenta quando a intensidade de controle aumenta. Isso porque aumentam os custos para
se obter: boa estimativa da densidade populacional da praga; maior eficiência de controle; melhoria
Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integrado de Pragas Florestais 3
da metodologia de aplicação; etc. Por outro lado, a curva de incremento das receitas decresce com o
aumento da intensidade de controle, devido aos maiores custos de sua implementação. O lucro é
representado pela área formada pelo triângulo “abc”, que é derivado da diferença entre as duas curvas
e é maximizado quando elas se interceptam no ponto X0.
O preço dos produtos e dos insumos afeta o nível ótimo de intensidade de controle de
pragas. Quando o preço do produto sobe, o retorno (ou benefício) do controle de pragas também deve
aumentar, pois o produtor deve investir mais no controle de pragas, para reduzir mais os danos e
obter maior produção e maior lucro. Assim, a intensidade de controle deve aumentar se o preço do
produto aumentar, pois a curva de incremento dos custos intercepta a das receitas num nível de
intensidade maior X1.
Como foi visto acima, o produtor terá o maior lucro se utilizar uma intensidade de controle
igual a X0 ou X1, dependendo da variação no preço do produto. A partir destes pontos, qualquer
investimento para reduzir, ainda mais, a população da praga (e conseqüentemente os seus danos)
produzirá uma perda econômica para o produtor, que é representada pela área formada pelo triângulo
“bdX2”. O ponto X2 representa a intensidade de controle necessária para se eliminarem todos os
indivíduos de uma espécie de inseto-praga de uma área (e, conseqüentemente, todos os seus danos)
e, também, representa a perda econômica máxima que se pode obter no controle de pragas, devido
ao aumento no custo de controle.
Incremento das
$ Receitas de P2 Incremento
dos Custos
Incremento das
Receitas de P1 d
c
X0 X1 X2
Intensidade de Controle de Pragas
FIGURA 4. Derivada da relação custo-benefício do controle de pragas, onde P1 = produtos com baixo
preço e P2 = produtos com alto preço.
O nível de dano econômico é dinâmico e pode variar segundo: Preço do produto (quanto
maior o preço do produto, menor o nível de dano); Custo de controle (quanto maior o custo de
controle, maior o nível de dano); capacidade da praga em danificar a cultura; suscetibilidade da
cultura à praga.
Outro conceito muito usado no MIP é o do Nível de Ação ou de Controle (NA ou NC), que
é a densidade populacional de uma praga em que devem ser tomadas as medidas de controle, para
que não causem danos econômicos. A diferença entre os valores do ND e do NC é igual à velocidade
de ação dos métodos de controle. Isso ocorre porque se o método de controle for lento, a densidade
da praga pode crescer por certo tempo após a aplicação do controle e causar danos acima do
tolerável.
Na prática, o produtor terá que acompanhar a flutuação populacional da praga no tempo e
somente aplicar o controle quando essa densidade atingir um valor igual ou superior ao NC, para
manter a densidade populacional do inseto no Ponto de Equilíbrio (Figura 5).
Prof. Ronald Zanetti - Depto de Entomologia/UFLA, CxP 3037, CEP 37200-000, Lavras, MG. zanetti@ufla.br
4
Combate
Populacional
NDE
Densidade
NC
PE
Tempo
A unidade básica de manejo de pragas florestais é o talhão. Essa unidade consiste numa
área delimitada fisicamente por estradas, aceiros ou trilhas (Figura 6) e são consideradas
independentes umas das outras. Isso significa que a tomda de decisão de combate é específica
para cada uma. Cada unidade deve conter a cultura em condições homogêneas de tratos culturais,
idade, espécie ou cultivar, tipo de solo, micro-clima, entre outros, de forma que o comportamento da
praga seja semelhante em toda a área da unidade, para que a amostragem dos insetos seja
representativa. O seu tamanho é determinado pelo sistema de manejo da cultura e pela capacidade
operacional de ação de combate. Isso é, deve ter uma área que permita a aplicação de um método
de controle em tempo suficiente para não haver alteração no status populacional da praga durante
as operações de monitoramento e combate.
Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integrado de Pragas Florestais 5
Talhão 2
Talhão 1
Talhão 3
2º - Eleger as pragas-chave
As pragas-chave são as mais importantes da cultura que se está manejando. Elas são
selecionadas de uma lista de insetos que ocorrem ou podem ocorrer nessa cultura. Essa lista é
feita com base em consultas à literatura, entrevistas com técnicos ou protutores, ou estudos de
campo. As espécies listadas devem ser classificadas em basicamente quatro tipos: as não-pragas,
as secundárias, as primárias e as severas, sendo as duas últimas as mais importantes, conforme
mostrado a seguir.
ND
NC
PE
Tempo
Prof. Ronald Zanetti - Depto de Entomologia/UFLA, CxP 3037, CEP 37200-000, Lavras, MG. zanetti@ufla.br
6
Densidade Populacional
Combate
ND
NC
PE
Tempo
FIGURA 8. Esquema representativo da flutuação populacional de uma praga secundária. PE (Ponto
de Equilíbrio); NC (Nível de Controle); ND (Nível de Dano).
Combate
Densidade Populacional
ND
NC
PE
Tempo
d) Praga severa: é aquela que apresenta o ponto de equilíbrio sempre acima do nível de
controle ou de dano econômico (Figura 10).
Densidade Populacional
PE
ND
NC
Tempo
FIGURA 10. Esquema representativo da flutuação populacional de uma praga severa. PE (Ponto de
Equilíbrio); NC (Nível de Controle); ND (Nível de Dano).
Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integrado de Pragas Florestais 7
Das espécies selecionadas como chave, é necessário ter conhecimento geral sobre elas
com relação à sua biologia, ecologia, comportamento, principais inimigos naturais, técnicas de
amostragem e de controle, etc, para poder manejá-las adequadamente.
Os componentes do MIP são os passos que devem ser tomados sempre que surgirem
problemas de ataque de insetos à cultura e compõem as ações rotineiras do programa. Eles são
constituídos de três etapas:
a) Avaliação do ecossistema
É necessária uma avaliação local do problema, onde devem ser analisados quatro
componentes do ecossistema: a planta, a praga, os inimigos naturais e o clima.
Ø Deve-se identificar e quantificar a população do inseto que está causando o problema em
questão;
Ø deve-se identificar e quantificar a população dos inimigos naturais desse organismo;
Ø deve-se avaliar o estágio fisiológico da planta;
Ø deve-se avaliar as condições climáticas do local.
b) Tomada de decisão
Uma vez tomada a decisão de adotar medidas de controle, será necessário fazer a opção
por um programa que poderá envolver um ou mais métodos de redução populacional de insetos.
Prof. Ronald Zanetti - Depto de Entomologia/UFLA, CxP 3037, CEP 37200-000, Lavras, MG. zanetti@ufla.br
8
Para isso deve-se ter um bom conhecimento de todas as técnicas de controle e escolher as mais
adequadas, levando-se em consideração os fatores técnicos (eficiência, modo de aplicação, etc.),
econômicos (custo de combate), ecológicos (impactos ambientais) e sociológicos (toxicidade e
perigo durante a aplicação). Uma análise prévia do histórico da área com relação a culturas, clima,
ocorrência de pragas, resultados de combate, entre outros, possibilitará uma previsão dos
problemas que deverão ser enfrentados.
Em função das informações sobre a praga, inimigos naturais, cultura e clima poderá ser
feita uma programação para o emprego das medidas de controle selecionadas, visando a reduzir o
problema atual e dificultar a ocorrência de novos surtos de pragas. Esse planejamento envolve a
elaboração de um cronograma físico-financeiro, incluindo a relação das unidades de manejo que
serão combatidas, os equipamentos de aplicação, materiais, produtos fitossanitários, mão-de-obra,
transporte, alimentação, EPIs, taxas administrativas e impostos. Todas essas informações são
relacionadas no tempo e no espaço, propiciando um planejamento detalhado das ações de combate
que se seguirão, conforme exemplificado na Quadro 3.
Planejamento de combate
Tempo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Talhões a
1 2 5 7 8 9
combater
Custo do
$ $ $ $ $ $
combate
BILBIOGRAFIA CONSULTADA
ANGEL, R.V. La ecologia y el control de las plagas florestais. In: Seminário Plagas Florestais,
Socolen, Pereira, Colômbia, p. 1-33, 1980.
Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integrado de Pragas Florestais 9
ANJOS, N. Entomologia Florestal: Manejo integrado de pragas florestais no Brasil. Notas de aula.
UFV. 1994.
BARBOSA, P. & SCHULTZ, J.C. Insect outbreaks. Academic Press, New York, 1987, 578p.
BERRYMAN, A.A. Forest insects: principles and practice of population management. Plenum Press,
London. 1986. 279p.
BERTI FILHO, E. Cupins ou térmitas. Manual de Pragas em Florestas, vol.3. IPEF/SIF. 1993. 56p.
COULSON, R.N. & WITTER, J. A. Forest entomology: ecology and management. John Wiley & Sons,
New York, 1984, 669 p.
CROCOMO, W.B. (Ed.). Manejo de pragas. Botucatu, UNESP, 1990, 237 p.
WALLINGFORD, D. Biotechnology and integrated pest management. CAB International, 1986, 475 p.
DELLA LUCIA, T.M.C. (Ed.). As formigas cortadeiras. Viçosa, Folha de Viçosa, 1993, 262 p.
DENT, D. Insect pest management. Wallington CAB. International, 1991, 640 p.
DIEHL-FLEIG, E. Formigas: organização social e ecologia comportamental. Editora Unisinos, 1995.
166p.
GALLO, D. et al. Manual de Entomologia Agrícola. Ed. Agronômica Ceres. São Paulo, 2002. 578p.
HORN, D.J. Ecological approach to pest management. Guilford, New York, 1988, 285 p.
IEDE, E.T. et al. Atas do treinamento sobre uso de inimigos naturais para o controle de Sirex noctilio.
EMBRAPA florestas. Colombo, PR, 1996. 100p.
METCALF, R.L. & LUCKMANN, W.H. (Ed.). Introduction to insect pest management. 2nd. ed.. New
York, John Wiley, 1982. 578p.
PEDIGO, L.P. Entomology and pest management. Macmillan, New York, 1989, 646 p.
PEDROSA MACEDO, J.H. et al. Pragas Florestais do Sul do Brasil. Manual de Pragas em Florestas,
vol.2. IPEF/SIF. 1993. 111p.
PFADT, R.E. (Ed.) Fundamentals of applied entomology. 4th. ed.. New York, Macmillan, 1985.
SPEIGHT, M.R. & WAINHOUSE, D. Ecology and management of forest insects. Oxford, Clarendon
Press, 1989. 374p.
TVEDTEN, S. History of pest management. http://www.safe2use.com/ca-ipm/01-04-27.htm. 2006.
ZANETTI, R.; CARVALHO, G. A.; A.; SANTOS, A.; SOUZA-SILVA,A.; GODOY, M. S. Manejo
Integrado de Formigas Cortadeiras. Lavras: UFLA, 2002. 16p.
ZANETTI, R.; CARVALHO, G. A.; SOUZA-SILVA, A.; SANTOS, A.; GODOY, M. S. Manejo Integrado
de Cupins. Lavras: UFLA, 2002. 29p.
ZANUNCIO, J.C. et al. Lepidópteros desfolhadores de eucalipto: biologia, ecologia e controle. Manual
de Pragas em Florestas, vol. 1. IPEF/SIF. 1993. 140p.
Prof. Ronald Zanetti - Depto de Entomologia/UFLA, CxP 3037, CEP 37200-000, Lavras, MG. zanetti@ufla.br