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13/09/2017 FLANAGENS: Benjamin secreto

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FLANAGENS

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Utopismo
Metafísica da Revolução
Der Steppenwolf

Entrevista de Giorgio Agamben concedida a Antonio Gnoli Pequeno delírio em parágrafo
XIII
Terrı́veis devem ter sido os ú ltimos anos de vida de Walter
Benjamin. Em uma sequê ncia de eventos negativos, entre 1938 e Pequeno parágrafo sobre mapas
1940, ele morou em Paris em isolamento e extrema pobreza. Os
O que é um coxinha?
seus dias transcorriam na Bibliothèque Nationale, o ú nico lugar
que lhe garantia a necessá ria concentraçã o para levar adiante o Benjamin secreto
seu projeto. Entre as cartas e ichas em que compulsivamente
fazia anotaçõ es, trabalhava na redaçã o de um grande livro. Entã o A eleição não é a democracia
aconteceu o pior. E foi como cair de modo ruinoso desde o alto de O fabricante de espelhos
um precipı́cio. Em alguns poucos meses, o judeu Benjamin
empreendeu uma fuga que se concluiu, como é notó rio, com o Carta impossível
suicı́dio em Port-Bou, na divisa com a Espanha, em setembro de Pequeno parágrafo sobre o grito
1940. Contam que junto à s poucas coisas necessá rias à
sobrevivê ncia, Benjamin trazia consigo uma mala com o Pequeno parágrafo sobre os
manuscrito no qual havia febrilmente trabalhando. E muito hábitos
prová vel que tal mala, que, diz-se, perdeu-se, seja apenas uma
lenda, e que a verdade seja outra. A nos contá -la está Giorgio Pequeno parágrafo sobre a
Agamben, que descobriu as cartas, hoje inalmente publicadas salvação
pela Neri Pozza.
► Junho (9)
Antonio Gnoli: Como o senhor chegou à descoberta?
Giorgio Agamben: Casualmente. Naquele perı́odo, o im dos anos ► Maio (9)
setenta, estava trabalhando para reencontrar as ú ltimas cartas de ► Abril (11)
Benjamin, e inclusive o famoso manuscrito das Pariser Passagen,
que se acreditava perdido. Quando um dia, folhando cartas de ► Março (9)
Georges Bataille, encontrei uma na qual Bataille, escrevendo a um ► Fevereiro (8)
amigo que trabalhava no setor de conservaçã o da Bibliothèque
Nationale, citava alguns envelopes nos quais estariam contidos ► Janeiro (13)
manuscritos de Benjamin. Na margem da carta havia uma
anotaçã o do funcioná rio que indicava a Bibliothèque Nationale ► 2012 (110)
como o lugar onde aqueles manuscritos se encontravam.
Assim começou a caça ao tesouro?
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13/09/2017 FLANAGENS: Benjamin secreto

Assim começou a caça ao tesouro? ► 2011 (149)


Foi uma busca eletrizante. Por im, encontrei os manuscritos em
um armá rio. Havia deixado ali a viú va de Bataille. E preciso notar ► 2010 (41)
que a Bibliothèque nã o catalogava os trabalhos do depó sito, por ► 2009 (28)
isso poderiam ainda ter permanecido sepultados ali por decê nios.
O que exatamente o senhor encontrou? ► 2008 (44)
Tudo aquilo que entã o se tornou este livro, que deveria ter saı́do ► 2007 (80)
em 1996. Mas tempestuosas brigas editoriais impediram a
publicaçã o.
A que o senhor alude?
A decisã o da Editora Einaudi de nã o publicá -lo. Pediram-me COLABORADORES
coisas absurdas, como, por exemplo, cortar o livro, pois a ediçã o
completa teria prejudicado o volume sobre as Passagen. Teria Khôra
sido como pedir para que um estudioso de Dante que descobre jnf - dos subterrâneos
um novo manuscrito da Commedia nã o o publique, pois, assim,
iria prejudicar as ediçõ es precedentes.
Passaram-se quase vinte anos. Nesse período os direitos sobre
as obras de Benjamin caíram em domínio público, e o livro
inalmente é publicado com o título Baudelaire, un poeta
lirico nell’età del capitalismo avanzato [Baudelaire, um
poeta lírico na idade do capitalismo avançado]. Por que é tão
importante e o que o diferencia das Passagen que a Einaudi
publicou com o título Parigi, capitale del XIX [Paris, capital do
século XIX]?
Benjamin, nos ú ltimos anos da sua vida, estava trabalhando em
uma obra fundamental. E, em um primeiro momento, essa obra
sã o as Passagen de Paris, que contê m um capı́tulo dedicado a
Baudelaire. Mas conforme avança, o capı́tulo cresce a ponto de
suplantar o trabalho precedente. Por isso, de modelo em
miniatura, o “Baudelaire” se torna a obra completa.
Mas, desse modo, o que é o livro das Passagen publicado pela
Einaudi?
E simplesmente o grande ichá rio organizado por Benjamin.
Tanto é verdade que quando informei o organizador das obras de
Benjamin, R. Tiedemann, sobre a situaçã o, ele colocou uma nota
no ú ltimo volume em que diz que, se tivesse conhecimento desses
materiais antes, teria sido possı́vel fazer uma ediçã o histó rico-
crı́tica do livro sobre Baudelaire que teria mudado muitas coisas.
Portanto, essa ediçã o que organizei é a primeira no mundo. Sei
que també m os alemã es, com base na descoberta, farã o uma.
Mas, por im, o que de substancial é acrescido?
Finalmente é possı́vel entrar com clareza no trabalho de
Benjamin, no seu modo de trabalhar, que, de fato, nã o é neutro.
Quando decide desviar a atençã o para Baudelaire, toma o enorme
ichá rio das Passagen e o reordena, coloca-o, por assim dizer, em
movimento. E como se o material até entã o recolhido tivesse sido
chamado a uma nova vida.
Passa-se, ele escreve, da documentação à construção do texto.
O que nã o é uma passagem inerte, passiva, esoté rica. Mas um
modo para tecer a conexã o entre os seus conceitos fundamentais:
“aura”, “alegoria”, “mercadoria”, “prostituiçã o” etc. Até ontem se
pensava que as Teses sobre o conceito de história fossem o ú ltimo
trabalho de Benjamin. Na realidade, aquelas “Teses” – como ele
nos mostra – sã o apenas o aparato teó rico de uma seçã o do livro
sobre Baudelaire. Está claro que muda a perspectiva. Em um
fragmento anota: é preciso construir o objeto como mô nada.
Uma a irmação enigmática.
Refere-se à s mô nadas de Leibniz. Estas, é verdade, nã o tê m
janelas, mas nã o as tê m enquanto elas mesmas representam o
universo. Elas o contê m. Portanto, os objetos a que se refere
Benjamin sã o aqueles nos quais já está re letida a construçã o do
todo.
Trabalhar sobre o pequeno, o desprezível, para descobrir o
grande. Era esse o seu princípio micrológico?

Sim. O senhor diz “desprezı́vel” e tal palavra


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13/09/2017 FLANAGENS: Benjamin secreto

Sim. O senhor diz “desprezı́vel” e tal palavra remete ao outro


princı́pio que o orienta: trabalhar sobre os trapos, os refugos, as
categorias secundá rias e frequentemente escondidas. Nã o por
acaso escolheu as passages parisienses que, naquela é poca, do
ponto de vista arquitetô nico, eram consideradas um objeto
absurdo que nã o interessava a ningué m, salvo aos surrealistas,
que as redescobriam como objeto estranho.
Em suma, Benjamin desce a um subsolo que quase ninguém
conhece.
Em um certo ponto, para de inir o pró prio trabalho, Freud diz que
se nã o puder mover os deuses, moverá o Aqueronte, isto é , o
inferno. També m o princı́pio de Benjamin era aquerô ntico. Ele
nã o indaga as grandes categorias, os grandes conceitos sobre os
quais se debruçaram os historiadores da cultura, mas se move
nos ı́nferos da Paris do sé culo XIX. Lê a histó ria a contrapelo.
E Baudelaire é o “Virgílio” que o conduzirá no seu inferno?
Absolutamente. Para ele, Baudelaire é o poeta que de pronto se
dá conta de que tudo mudou, de que tudo tem a ver com o
mercado e a mercadoria. E o teó rico do moderno, mas o moderno
é també m o arcaico.
O modo de Benjamin trabalhar, anotando tudo em pequenas
ichas, parece de outros tempos.
Era uma necessidade. Naqueles anos era tã o pobre que nã o podia
nem mesmo permitir-se comprar papel. Utilizava qualquer folha:
desde o verso de cartas que lhe eram expedidas até ró tulos da
á gua San Pellegrino que tomava nos bares.
Como se mantinha?
Com o pouco dinheiro que lhe expediam Adorno e o Institut für
Sozialforschung. Angustiou-se quando soube que haveriam de
reduzi-lo.
Até que ponto foram fundamentais as relações com Adorno e
Horkheimer?
Até menos do que se pensa. Há um episó dio revelador. Há alguns
anos, saiu dos arquivos da universidade, onde Benjamin havia
tentado obter a habilitaçã o de docente [abilitazione], o relató rio
que motivava a negativa. Benjamin tinha apresentado como
trabalho A origem do drama barroco. O professor que examinou o
texto confessou que nã o entendeu nada, por isso pediu o parecer
do seu jovem assistente, Max Horkheimer, que redigiu uma nota –
assinada – na qual reprovava Benjamin. Tal ato mudou
radicalmente a vida de Benjamin. Nã o sei se para o bem o para o
mal. Mas tornou-a durı́ssima.

La Repubblica, 12 de dezembro de 2012. p. 57. (traduçã o: Vinı́cius Nicastro Honesko)

P OSTA DO POR KHÔ RA ÀS 5: 0 4 P M

UM COMENTÁRIO:

Dos subterrâneos disse...

Nessa o Agamben exagerou muito, uma coisa é falar das


Passagens como etapa ao Baudelaire (uma leitura possível),
outra coisa diferente é dizer que as Teses são um mero
aparato técnico, é deixar de lado muitas questões (inclusive
cartas importantes onde Benjamin trata das Teses, texto
autônomo que não foi escrito para publicação!), nas Teses
estão postulados que atravessam todo o pensamento
benjaminiano, não só no projeto Baudelaire como nos ensaios

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sobre Proust, Leskov, Kafka, sobre a reprodutibilidade


técnica, etc. Por outro lado, caímos em um debate esotérico
e fetichista quando uma hipótese de leitura é lançada como
revelação - surgida a partir de um acesso direto às "relíquias
do morto". Decide-se que o debate está fechado e ponto.
Nada mais antibenjaminiano e com um tom muito arrivista,
pois transpõe uma briga editorial para o campo dos conceitos.
1 7 DE JULH O D E 2 0 1 3 1 4 : 1 0

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