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TEORIAS DE TRADUÇÃO

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Meu nome é Ana Julia Perrotti Garcia. Sou Doutora em Língua


e Literatura Inglesa DLM FFLCH USP/SP, Mestre em Linguística
Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade
Católica – PUC/SP, especialista em Tradução pelo Citrat da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas de São
Paulo – FFLCH/USP e bacharel em Letras pelas Faculdades
Metropolitanas Unidas – UniFMU. Sou membro da American
Translators Association (ATA /USA) e da International Medical
Interpreters Association (IMIA/USA), com treinamento em
Interpretação Médica pelo MassBay Community College de
Framingham, Massachusettz, EUA. Atualmente, ministro
aulas para alunos de Graduação, Pós-graduação e Extensão
Universitária em diversas instituições de São Paulo e região.
Já ministrei cursos e palestras nos Estados Unidos, Inglaterra,
Irlanda do Norte e Portugal. Trabalho há mais de 15 anos como tradutora freelancer para grandes
editoras, agências, empresas, faculdades e clientes avulsos. Já traduzi mais de 20 livros, além de
diversos capítulos e artigos. Como autora, escrevi dois cursos de inglês para dentistas e médicos
e oito dicionários bilíngues (sendo dois em coautoria).
E-mail: drajulia@gmail.com
Ana Julia Perrotti Garcia

TEORIAS DE TRADUÇÃO

Batatais
Claretiano
2015
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CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera
• Cátia Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes •
Josiane Marchiori Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos
Sançana de Melo • Patrícia Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire
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• Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael
Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami de Souza
Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan
de Omote Cardoso
Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Pós-Graduação
Título: Teorias de Tradução
Versão: dez./2015
Formato: 15x21 cm
Páginas: 196 páginas
SUMÁRIO
Conteúdo Introdutório

1. INTRODUção.................................................................................................... 9
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS............................................................................. 9
3. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.......................................................................... 10
Unidade 1 – Tradução: Definição e Tipologia
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 15
2. DEFINIÇÃO BÁSICA DE “TRADUÇÃO”............................................................. 15
3. TIPOS DE TEXTO PARA TRADUÇÃO................................................................. 28
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 31
5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 33
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 33
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.......................................................................... 33
Unidade 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 39
2. PALAVRA VERSUS SENTIDO............................................................................. 39
3. TRADUTORES FIÉIS ÀS PALAVRAS................................................................... 44
4. JERÔNIMO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA OS TRADUTORES.......................... 46
5. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 48
6. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 49
7. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 50
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 50
Unidade 3 – Possibilidade de Tradução e a
Intradutibilidade
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 53
2. HÁ QUANTO TEMPO EXISTE O TERMO “TRADUÇÃO”?................................. 53
3. TRADUZIR OU NÃO TRADUZIR?...................................................................... 55
4. TRADUÇÃO DE TEXTOS CULTURALMENTE MARCADOS................................ 62
5. AS NOTAS DO TRADUTOR E A INTRADUTIBILIDADE..................................... 65
6. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 75
7. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 76
8. E-REFERÊNCIA................................................................................................... 77
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 77
Unidade 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser
Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 81
2. FLUÊNCIA TEXTUAL, NATURALIDADE E IDIOMATICIDADE........................... 82
3. TO SHOW OFF OR TO KEEP A LOW PROFILE – QUAL DEVE SER A POSIÇÃO DO
TRADUTOR?...................................................................................................... 84
4. TRADUÇÃO ESTRANGEIRIZANTE E A VALORIZAÇÃO DO DIFERENTE........... 90
5. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 105
6. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 106
7. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 107
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 108
Unidade 5 – O Albergue do Longínquo
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 111
2. QUEM FOI ANTOINE BERMAN?...................................................................... 111
3. ANTOINE BERMAN E AS DEFORMAÇÕES....................................................... 114
4. DEFORMAÇÕES E MAIS DEFORMAÇÕES........................................................ 124
5. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 124
6. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 126
7. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 126
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 127
Unidade 6 – Unidade 6 – Procedimentos Técnicos da
Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 133
2. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS........................................................................... 134
3. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 173
4. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 174
5. 5. E-REFERÊNCIA.............................................................................................. 175
6. 6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA..................................................................... 176
Unidade 7 – Os Tradutores que Fizeram a História
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 179
2. TEÓRICOS DA TRADUÇÃO................................................................................ 179
3. FOOD FOR THOUGHT ...................................................................................... 192
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 193
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 194
6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 195

© Teorias de Tradução
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo
Conhecimento de aspectos básicos da história da tradução.
Conhecimento de correntes teóricas tradicionais e contemporâneas.
Reflexão sobre a prática tradutória. Fundamentação das escolhas
a serem feitas pelo tradutor.

Bibliografia Básica
ARROJO, R. Oficina de tradução: a teoria na prática. São Paulo: Editora Ática, 2000.
BERMAN, A. A prova do estrangeiro: cultura e tradução na Alemanha romântica.
Tradução de Maria Emília Pereira Chanut. Bauru: EDUSC, 2002.
FURLAN, M. Brevíssima história da teoria da tradução no Ocidente: I. Os Romanos. In:
Cadernos de tradução, n. 8. Florianópolis: PGET, 2003.

Bibliografia Complementar
BARBOSA, H. G. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. 2. ed.
Campinas: Pontes, 2004.
BERMAN, A. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Rio de Janeiro: 7 Letras,
2008.
COPELAND, R. Rhetoric, hermeneutics and translation in the Middle Ages: academic
traditions and vernacular texts. Cambridge: University Press, 1991.
ESTEVES, L. A ética da tradução e seus limites. Rio de Janeiro: Palavra, 1997. v. 4.
PINHO, J. A. O escritor invisível: a tradução tal como é vista pelos tradutores
portugueses. Lisboa: Quidnovi, 2006.
VENUTI, L. The translator’s invisibility. Londres e Nova York: Routldedge, 1995.

7
© Teorias de Tradução
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUção
Seja bem-vindo ao estudo da obra Teorias de Tradução.
Este estudo lhe proporcionará conhecimentos sobre as teorias e
as filosofias de tradução. Para tanto, lhe propiciará uma reflexão
sobre diversas teorias que definiram o ato tradutório, com
suas limitações e indicações, enriquecendo e ampliando suas
possibilidades de práticas futuras.
Assim, o estudo desta obra lhe ajudará a desenvolver
conhecimentos e competências para atuar, de forma ética e
profissional, como um tradutor reflexivo e embasado, fazendo
que organize e amplie seus conhecimentos teóricos, e que eles
influam, positivamente, na sua prática tradutória.
Esperamos que os estudos de Teorias de Tradução atendam
suas expectativas de conhecer e aprofundar seus conhecimentos
sobre as teorias de tradução, os procedimentos técnicos que
surgiram a partir delas e os profissionais que influenciaram a
visão que temos, atualmente, do que vem a ser um tradutor.
Bons estudos!

2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta
rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe
um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na
área de conhecimento dos temas tratados na obra Teorias de
Tradução. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos
desta obra:

© Teorias de Tradução 9
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1) Língua de chegada: também chamada de “L2”, é a


língua da tradução, a língua-alvo (do inglês target
language) em que foi/será redigido o texto traduzido.
2) Língua de partida: também chamada de “L1”, é a
língua do "original", a língua-fonte (do inglês source
language) em que está redigido o texto a ser traduzido.
3) Texto de chegada: é o texto traduzido, o texto meta;
refere-se ao texto fruto do ato tradutório.
4) Texto de partida: é o texto “original”, o texto-fonte;
refere-se ao texto a ser traduzido.

3. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
TRADWIKI – A ENCICLOPÉDIA DA TRADUÇÃO. Homepage. Disponível em: <http://
www.tradwiki.net.br/P%C3%A1gina_principal>. Acesso em: 4 ago. 2015.

10 © Teorias de Tradução
UNIDADE 1
Tradução: Definição e Tipologia

Objetivos
• Definir o universo tradutório para compreender os
aspectos relevantes e úteis à prática da profissão.
• Classificar os diferentes tipos de tradução quanto ao
gênero, ao tipo de texto e aos aspectos textuais.
• Distinguir os elementos presentes na prática tradutória
que podem refletir no exercício da profissão.
• Deduzir os elementos atuais e preparar-se para estudar
os elementos que existiram entre os tradutores dos
tempos passados.

Conteúdos
• Definição de “tradução”: o que é e o que não é traduzir.
• Terminologia básica.
• Gêneros e tipos de textos para tradução.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações
a seguir:

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UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

1) Para potencializar sua aprendizagem sobre os conteú-


dos estudados nesta unidade:
a) Leia, despreocupadamente, o conteúdo a ser
estudado.
b) Leia, novamente, o conteúdo, sublinhando o que
você considerar mais relevante no texto.
c) Faça perguntas sobre o que foi lido.
d) Sempre que possível, elabore gráficos, esquemas
ou mapas mentais dos conteúdos estudados.
e) Realize o que foi sugerido para sua avaliação
continuada.
2) Após um seguimento de dedicação aos estudos,
realize uma pausa com a intenção de permitir ao seu
sistema a incorporação do novo conhecimento, pois o
aprendizado é maior no início e no final de um período
delimitado de dedicação.
3) Construir conhecimentos neste mundo em constante
movimento requer uma nova forma de ensinar e
aprender. Para isso, é preciso autonomia, coragem,
não ter medo de errar e disposição. Pense nisso no
decorrer desta unidade.
4) Para saber mais sobre as definições de “tradução”,
consulte a obra: MARTINS, I. F.; SALGUEIRO, M. A. F. A.
Tradução prática técnica ou ferramenta transcultural.
Disponível em: <http://www.filologia.org.br/viicnlf/
anais/caderno12-25.html>. Acesso em: 25 maio 2015.

12 © Teorias de Tradução
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

Octávio Paz
Nasceu na Cidade do México, em 1914. Cursou estudos de direito na
Universidade Nacional Autônoma do México e estudos especializados de
literatura no México, nos Estados Unidos, em Paris e no Japão (adaptado
de CULTURAPARA, 2010) (imagem disponível em: <http://bertachulvi.files.
wordpress.com/2008/09/octavio-paz.jpg>. Acesso em: 29 maio 2015. Texto
disponível em: <http://www.culturapara.art.br/opoema/octaviopaz/octaviopaz_
db.htm>. Acesso em: 29 maio 2015.

Martinho Lutero
Precursor da Reforma Protestante na Europa, nasceu na Alemanha, no ano de
1483, e fez parte da ordem agostiniana. Em 1507, foi ordenado padre, mas,
devido às suas ideias, que eram contrárias às pregadas pela Igreja Católica, foi
excomungado (adaptado de SUAPESQUISA.COM, 2010) (imagem disponível
em: <http://www.unerj.br/blogbiblioteca/wp-content/uploads/2009/08/martim-
lutero-03.jpg>. Acesso em: 29 maio 2015.Texto disponível em: <http://www.
suapesquisa.com/biografias/lutero/>. Acesso em: 29 maio 2015.

© Teorias de Tradução 13
© Teorias de Tradução
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

1. INTRODUÇÃO
A Unidade 1 da obra Teorias de Tradução tem como
pressuposto refletir sobre a definição de "tradução" e determiná-la,
tendo por base uma significação mais ampla e abrangente. Afinal,
é importante sabermos, exatamente, o que estamos nos propondo
a fazer, não? Além disso, vamos procurar levantar os aspectos e
os processos ligados à tradução – que não são, propriamente,
“traduzir” – e entender suas implicações.
Bons estudos!

2. DEFINIÇÃO BÁSICA DE “TRADUÇÃO”


Obviamente, muitos autores já procuraram estabelecer
diferentes definições para o termo "tradução"; alguns deles
levam em conta conceitos que, com o passar do tempo, deixam
de ser considerados válidos ou tão importantes. No decorrer de
nossos estudos, você irá tomar conhecimento sobre diferentes
modos de encarar e, por consequência, de definir o ato
tradutório. Neste momento, vamos analisar mais detidamente
apenas alguns deles.
Arrojo (2000, p. 11) reproduz as palavras do poeta/ensaísta
mexicano Octávio Paz: "Todo texto é único e, é, ao mesmo tempo,
tradução de outro texto. Nenhum texto é completamente original
porque a própria língua, em sua essência, já é uma tradução".
Com base nessa afirmação, podemos perceber que Paz
compreende "tradução" como um processo amplo e, até certo
ponto, automático e inevitável. Assim, traduzir seria algo bem
próximo de "pensar", "recontar" e, até mesmo, "ler". Seguindo
essa definição até suas últimas consequências, seríamos todos
tradutores, e você, ao ler esta disciplina, estaria “traduzindo”

© Teorias de Tradução 15
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

as palavras grafadas para “traduzi-las” em conhecimento, em


matéria mental e, posteriormente, em novas frases escritas ou
faladas.
Paz (apud ARROJO, 2000, p. 11) prossegue afirmando
que "Toda tradução é, até certo ponto, uma criação e, como tal,
constitui um texto único". Desse modo, segundo essa linha de
pensamento, traduzir, além de ser uma atividade automática
e inevitável, também seria uma recriação. Obviamente, não
podemos entender essas palavras descontextualizadas nem
vamos concluir que devemos deixar o curso imediatamente. Não
é nada disso, muito pelo contrário.
Quando o ilustre ensaísta faz essas reflexões, quer nos
mostrar a abrangência do ofício do tradutor, e nos mostra isto
com tanta precisão que, certamente, nosso raciocínio não será
mais o mesmo depois de tomarmos contato com o texto da
referência. Portanto, se você ainda não havia pensado nisto, irá
valorizar ainda mais os tradutores com o estudo desta disciplina,
pois estes são profissionais que devem superar, em qualidade
e em técnica, o trabalho de diversos outros profissionais,
produzindo textos inteligíveis, claros e naturais, reafirmando sua
existência, necessidade e importância.
Para Martins e Salgueiro (2003, p. 129),
Autor, texto, tradutor e leitor são os elementos primordiais para
a alquimia de línguas e linguagens na poética tradutória". As
autoras consideram, tomando por base essa afirmação, que cada
um desses elementos "desempenha uma importante função no
caldeirão lingüístico-cultural em que vivemos.

Para podermos classificar os diferentes tipos de tradução,


precisamos definir alguns termos iniciais. Vejamos:

16 © Teorias de Tradução
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

1) Texto de partida: é o texto “original”, o texto-fonte;


refere-se ao texto a ser traduzido.
2) Língua de partida: também chamada de “L1”, é a
língua do "original", a língua-fonte (do inglês source
language) em que está redigido o texto a ser traduzido.
3) Texto de chegada: é o texto traduzido, o texto meta;
refere-se ao texto fruto do ato tradutório.
4) Língua de chegada: também chamada de “L2”, é a
língua da tradução, a língua-alvo (do inglês target
language) em que foi/será redigido o texto traduzido.
É importante salientar que usamos, aqui, o termo "original"
em um sentido bastante flexível, diferente daquele empregado
por Arrojo (2000), uma vez que, como visto, a rigor, nem sempre
o texto a ser traduzido foi escrito, originalmente pelo autor,
podendo já ser uma tradução, uma retradução ou, até mesmo,
um resumo ou uma recriação de um texto dito "primeiro".
Não está no âmbito desta unidade refletir sobre a existência
ou não de um texto "original", mas aproveite para começar a
pensar a respeito, pois, mais adiante, tanto nos estudos desta
obra quanto no transcorrer de suas atividades profissionais, você
irá encontrar ocasiões em que o texto chamado de "original" é a
segunda, a terceira ou mesmo a décima versão de um texto que,
em alguns casos, nem sequer pode ser acessado ou recuperado,
dada a distância espacial ou temporal que existe entre ele e
nosso "texto de partida".

Categorias de tradução
Diversos teóricos e práticos da tradução já estabeleceram
diferentes classificações, procurando organizar a tipologia e a

© Teorias de Tradução 17
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

filologia da tradução, com base em muitos pontos de partida.


A seguir, apresentaremos algumas dessas classificações levando
em conta os aspectos utilizados para sua organização.

Quanto às línguas envolvidas

Tradução intralingual
Tradução na qual a língua de partida e a língua de chegada
são iguais.
Um exemplo desse tipo de tradução seria um livro escrito,
originalmente, em inglês britânico, que, ao ser publicado nos
Estados Unidos, será reescrito em inglês americano. Nesse caso,
não seria apenas uma mudança ortográfica, mas poderiam
haver, também, mudanças lexicais (a troca de termos como
“underground” por “subway”, por exemplo) e gramaticais (a
frase “I have got nothing” alterada para “I have nothing”).
Outro exemplo de tradução intralingual ocorre quando um
tradutor é contratado para reescrever uma determinada obra
para outro público-alvo. Como exemplos fictícios, temos A Bíblia
para crianças ou Machado de Assis para iniciantes. Em ambos
os casos, o texto original é adaptado, mas mantido em língua
portuguesa, ou seja, mesmo se houver um "original" em outra
língua – como é o caso da Bíblia –, o tradutor ou adaptador irá
trabalhar com base no texto em português.
Você já deve ter notado que esse processo de modificação
de um texto para adequá-lo a outro público-alvo também recebe
outros nomes, como, por exemplo, "adaptação", mas, em nosso
estudo, vamos utilizar o termo mais preciso e relacionado ao
fazer tradutório: “tradução intralingual”.

18 © Teorias de Tradução
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

Entretanto, não é só isto. Você mesmo já fez, muitas


vezes, uma tradução intralingual, sabia? Afinal, sempre que um
falante reconta algo em um registro diferente, faz uma tradução
intralingual. Quer um exemplo? Bem, o termo "registro" tem
diversas acepções. Aqui, estamos empregando esse termo
como "nível de formalidade" de um texto. Então, toda vez que
você vai contar para um parente mais velho algo que aconteceu
com alguém de sua turma, se esse parente for uma pessoa
cerimoniosa, você irá "traduzir" sua fala usando um registro mais
formal.
Do mesmo modo, em alguns casos, também podemos usar
um registro menos formal. Vejamos como exemplo o caso de um
engenheiro civil que está analisando um problema ocorrido em
um muro de arrimo, na propriedade do Sr. Antero.
O engenheiro escuta as queixas do Sr. Antero, que
são feitas numa linguagem leiga e num registro informal. Ao
reportar o problema para a equipe de engenharia da prefeitura
local, o engenheiro utilizará uma linguagem mais formal, com
termos técnicos e estruturas sintáticas mais elaboradas. O Sr.
Antero, por sua vez, ao relatar a conversa para sua esposa e
seus filhos, usará um nível de formalidade menor do que
aquele que usou quando conversou com o engenheiro. Todas
essas "traduções" são feitas quase que inconscientemente e,
somente, por falantes que têm domínio da língua que utilizam,
o que significa que quanto maior o domínio, maior a modulação
do discurso de um registro mais formal para um menos formal.
Afinal, um dos nossos gramáticos mais conceituados, Prof.
Evanildo Bechara, afirma em sua célebre frase, "o falante deve
ser poliglota em sua própria língua" (s.d.).

© Teorias de Tradução 19
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

Tradução intersemiótica
Esse tipo de tradução é aquele que ocorre entre diferentes
sistemas de signos, ou seja, quando o texto de um livro é
transformado em música ou em filme, ainda na mesma língua,
por exemplo. Se uma peça de teatro for transformada em um
filme, também teremos um caso de tradução intersemiótica.
Uma amostra interessante desse tipo de tradução foi o que
aconteceu com a peça teatral de Nia Vardalos, que foi adaptada
para o cinema com o título de My Big Fat Greek Wedding, cuja
versão brasileira recebeu o título de Casamento Grego. Na peça
original, Nia fazia um monólogo, mas, ao passar para o cinema,
muitos dos diálogos foram reproduzidos por outros atores e,
obviamente, diversas falas foram introduzidas, adaptadas ou
suprimidas.
Você deve ter notado que, para fazer uma tradução
intersemiótica, em alguns casos, é preciso ter uma equipe de
profissionais que tenham habilidades diferentes e que dominem
as diversas linguagens envolvidas no processo. Nesse caso,
também, muitas vezes, o processo de tradução é chamado,
popularmente, de “adaptação”, mas, em nossa área de atuação,
utilizamos o termo mais preciso e técnico, que é “tradução
intersemiótica”.

Tradução interlingual
Tradução na qual a língua de partida e a língua de chegada
são diferentes.
Sim, esta é a tradução que todo mundo conhece, ou seja,
esta é a tradução de que vamos falar de agora em diante.

20 © Teorias de Tradução
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

Embora a definição citada anteriormente seja bastante


clara, vamos notar que nem todos os autores definem o termo
“tradução” da mesma maneira. Ao pesquisarmos na Columbia
Encyclopedia (2010), por exemplo, encontramos a seguinte
definição:
“Translation [Lat.,=carrying across], the rendering of a text
into another language. Applied to literature, the term connotes
the art of recomposing a work in another language without losing
its original flavor, or of finding an analogous substitute […]”.
Desse modo, pela definição que acabamos de ver,
podemos perceber que tradução implica sempre em mudança,
modificação e, se possível e indicado, aprimoramento.
Martinho Lutero considerava a atuação do tradutor uma
ponte para transportar valores entre diferentes culturas. Para
ele, o tradutor deveria traduzir apenas de uma língua estrangeira
para sua língua materna; essa posição, aliás, ainda é adotada por
diversos países, principalmente na Europa.

Por áreas de especialização


É importante conhecer alguns dos campos em que um
tradutor pode se especializar para que você possa começar a
pensar sobre como adquirir mais conhecimentos na área.
Um bom modo de obter informações é por meio das
revistas científicas da área. Outro modo é participando de
eventos promovidos para os profissionais da área em questão.
Obviamente, a internet é uma fonte importante de textos, mas
deve ser tratada com cautela, uma vez que muitos desses textos
são de fontes desconhecidas e alguns não foram sequer revisados
antes de serem publicados na rede.

© Teorias de Tradução 21
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

Vejamos, a seguir, algumas áreas em que você poderá se


especializar:
1) Informática, Computação e Tecnologia de Informação.
2) Jurídica.
3) Economia.
4) Cultura, Artes e Música.
5) Cinema e Teatro.
6) Astrologia.
7) Ocultismo e Textos Religiosos.
8) Saúde (humana e animal).
9) Biologia, Zoologia, Química e Bioquímica.
10) Esportes e Hobbies (pesca, náutica etc.).
11) Meio Ambiente e Ecologia.
12) Turismo.
13) Marketing e Propaganda.
Em cada uma dessas áreas de especialização, podemos
ter diferentes tipos de texto, gêneros textuais e documentos
específicos. Na área da saúde, por exemplo, podemos encontrar
os seguintes tipos de texto:
1) Registros e prontuários médicos.
2) Formulários de consentimento livre e esclarecido.
3) Formulários para pedidos de exames.
4) Relatórios de resultados de exames clínicos e de
imagem.
5) História Médica.
6) Dados demográficos do(s) paciente(s).
7) Separatas e documentação de medicamentos.

22 © Teorias de Tradução
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

8) Relatórios e formulários de companhias de seguro de


saúde.
Todavia, se o tradutor trabalhar diretamente para a indústria
farmacêutica, os documentos serão bastantes diferentes:
1) Documentação de registro e aprovação de fármacos e
de substâncias.
2) Ensaios Clínicos.
3) Bulas, rótulos e etiquetas de controle de lote.
4) Relatórios de experimentação e testes bioquímicos.
5) Provas de bioequivalência.
6) Patentes e Licenças de comercialização, produção e
testagem.
7) Material de divulgação para propagandistas, classe
médica e público leigo.
É importante notar que, como vimos anteriormente,
pode haver documentos que são feitos em diferentes versões,
destinadas para cada público-alvo segundo exigência dos órgãos
reguladores, de modo a permitir que o leitor leigo consiga
entender melhor as informações fornecidas.
Entretanto, não é apenas na área médica que encontramos
essa diversidade de tipos textuais; em relação à Tradução Jurídica,
por exemplo, temos:
1) Contratos comerciais.
2) Atestados (de bons antecedentes, por exemplo).
3) Procurações.
4) Testamentos, declarações e certidões negativas de
débitos.

© Teorias de Tradução 23
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

5) Contratos de trabalho, formulários para registro


profissional e carteiras profissionais.
6) Declarações de testemunhas, transcrições de
julgamentos e autos processuais.
7) Processos de adoção, de divórcio e de reconhecimento
de paternidade.
8) Documentos policiais.
9) Certidões de nascimento, de casamento, de óbito,
entre outras.
Se você acha que acabou, veja como um mesmo gênero
textual (no caso, contratos) pode, ainda, se subdividir e exigir
uma linguagem específica, com fórmulas e frases próprias, que
requererão do tradutor um conhecimento profundo sobre cada
um dos seguintes tipos de contrato:
1) Contratos de compra e venda.
2) Contratos de trabalho (com ou sem vínculo
empregatício).
3) Contratos públicos.
4) Contratos de prestação de serviços.
5) Contratos de uso de marcas e de exploração de
patentes.
6) Contratos de fornecimento de tecnologia e de
franquias.
7) Contratos de obra pública.
8) Contratos de concessão de uso.
9) Contratos de fornecimento de bens ou de mercadorias.
10) Contratos bancários: de moeda e de crédito.

24 © Teorias de Tradução
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

Vale salientar que a lista exemplificada anteriormente não


tem o objetivo de esgotar o assunto sobre os tipos de contrato,
ao contrário, ela foi criada apenas para ajudar você a entender a
importância do assunto, a variedade de tipos e a diversidade de
documentos que um tradutor pode receber para traduzir.

Por tipo de arquivo


A classificação a seguir é apenas teórica, pois, na maioria
dos arquivos enviados para tradução, há uma mescla desses
tipos, ou seja, um texto escrito pode possuir algumas tabelas e
alguns gráficos intercalados. Vejamos:
1) Texto corrido.
2) Apresentações.
3) Planilhas, tabelas e gráficos.
4) Imagens, animações e esquemas.
5) Arquivos de áudio ou de imagem e som.
Além disso, em alguns projetos de tradução, podem
existir arquivos de diferentes tipos. Por exemplo, você pode
ser chamado para traduzir os textos produzidos em um evento
profissional. Nesse caso, pode haver palestras gravadas em
formato audiovisual, materiais impressos de distribuições aos
participantes (handouts, folhetos) contendo textos corridos,
tabelas e imagens, bem como apresentações em PowerPoint ou
em transparências para retroprojetor, e todo esse material terá
de ser traduzido segundo as especificidades de cada um.

Por tipo de suporte


Em alguns casos, a tradução pode exigir modificações no
texto em função do meio de divulgação (mídia ou suporte) em

© Teorias de Tradução 25
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

que o texto de chegada será publicado. Vejamos, a seguir, alguns


exemplos:
1) Livros, revistas e jornais.
2) Manuais.
3) Pôsteres.
4) Outdoors, cartazes e banners.
5) Folhetos, folders e filipetas.
6) Etiquetas, embalagens e rótulos.
7) Mídia eletrônica.
8) Textos orais.
9) Textos audiovisuais.
O tipo de mídia usado para a publicação do texto traduzido
pode influir, também, no valor que o tradutor irá cobrar pela
tradução, pois, em alguns casos, a tradução terá de ser mais
elaborada e trabalhada do que em outros.
Obviamente, espera-se que o tradutor sempre produza
textos com o máximo de rigor e qualidade, mas, em alguns casos,
ele precisará dedicar-se mais à tradução, como, por exemplo, aos
textos que serão lidos ou gravados (apresentação oral).
Nesses casos, o tradutor deverá sempre estar atento à
sonoridade das palavras, procurando eliminar todos os cacófatos
e ecos que estejam presentes, evitando constrangimentos
e situações embaraçosas para quem for ler ou apresentar
oralmente o texto traduzido.

Por tipo de processo


Os diferentes tipos de processo de tradução devem ser
entendidos e dominados nas seguintes formas:

26 © Teorias de Tradução
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

• Tradução humana.
• Tradução automática ou tradução de máquina.
• Tradução Assistida por Computador (TAC).
É importante que o tradutor entenda a diferença entre os
três tipos apresentados anteriormente. Vejamos cada um deles
especificamente:
• Tradução humana: também conhecida como “tradução
convencional”, pode ser feita com “papel e caneta”,
como defendem alguns puristas, ou em programas de
computador, ditos “processadores de texto”, sendo o
mais conhecido deles o MS Word, da Microsoft, apesar
de existirem diversos outros classificados na mesma
categoria.
• Tradução automática: também é conhecida como
“tradução de máquina”. Nesse caso, o tradutor apenas
introduz um texto em um programa e este faz a tradução
automaticamente. Esse tipo de tradução, embora tenha
sido bastante difundido, até o momento, ainda não
conseguiu alcançar uma boa relação nível de qualidade/
preço do programa. Existem alguns programas de
tradução automática que produzem traduções muito
boas e que são usados nas empresas que atuam, em
geral, com linguagem controlada e em áreas bastantes
específicas. No entanto, tais programas têm preços muito
altos, tornando-os inacessíveis ao tradutor e ao cliente
que não trabalha com linguagem controlada, como no
caso das traduções de previsão do tempo, de horóscopo
ou de listas de materiais e equipamentos, por exemplo,
cuja linguagem costuma ser repetitiva, constante e
passível de controle. Vale salientar que também há

© Teorias de Tradução 27
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

tradutores automáticos populares, disponíveis em


diferentes sites para uso gratuito. Costumamos dizer
que tais tradutores fornecem resultados proporcionais
a seu custo e que, portanto, não servem para uso
profissional. Aliás, se observarmos com atenção, muitos
dos sites que oferecem esse tipo de serviço estão
relacionados às empresas de tradução. Assim, esta é
uma maneira simpática de mostrar ao futuro cliente
que a tradução automática tem suas limitações e que a
tradução humana é a melhor opção para quem quer um
resultado de qualidade.
• Tradução Assistida por Computador (TAC): Entre a
tradução humana e a tradução automática, temos a
TAC, na qual o tradutor utiliza programas de tradução
– também conhecidos como “ferramentas de tradução”
ou “memórias de tradução” – de grande importância
e valor para aumentar a produtividade, melhorar a
consistência e otimizar os resultados da tradução. Essas
ferramentas também são conhecidas por seu nome em
inglês – CAT tools.

3. TIPOS DE TEXTO PARA TRADUÇÃO


Você já deve ter percebido que o termo "texto" pode ser
empregado com grande abrangência. “Texto”, aqui, significa
toda mensagem verbal; desse modo, podemos ter textos
escritos, orais e audiovisuais, e todos eles podem precisar ser
traduzidos. Vejamos, a seguir, a grande diversidade de textos que
um tradutor pode precisar traduzir, lembrando que essa listagem
não vai esgotar o assunto, pois tem apenas um caráter ilustrativo:

28 © Teorias de Tradução
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

Textos literários
• Livros (romances, humorísticos, autoajuda, biografias
etc.).
• Histórias em quadrinhos.
• Audiolivros e CD-ROMs de obras literárias.

Textos comerciais
1) Relatórios.
2) Balanços.
3) Folhetos.
4) Embalagens, rótulos e etiquetas.
5) Formulários.
6) Patentes e licenças.
7) Manuais.
8) Instruções e vídeos de treinamento.
9) Rótulos.
10) Catálogos.
11) Listas de preços.
12) Contratos.
13) Documentos jurídicos.
14) Notas fiscais, invoices e faturas.
15) Websites de atividades comerciais.

Textos técnico-científicos
1) Teses e dissertações.
2) Artigos científicos.

© Teorias de Tradução 29
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

3) Relatórios de congressos, simpósios e encontros


científicos.
4) Ensaios e textos acadêmicos.
5) Discursos.
6) Softwares.

Textos gerais
1) Editoriais e artigos jornalísticos.
2) Cartas pessoais, e-mails e mensagens eletrônicas.
3) Currículos.
4) Websites.

Tradução audiovisual
1) Dublagens.
2) Legendagens.
3) Voice-overs.
4) Placas, anúncios, faixas e demais textos incidentais.

Textos para tradução juramentada


1) Passaportes.
2) Certidões de registro civil (nascimento, casamento,
óbito etc.).
3) Carteiras de identidade e documentos similares.
4) Documentos em geral.

Interpretação (tradução de textos orais)


• Interpretação consecutiva.

30 © Teorias de Tradução
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

• Interpretação simultânea.
• Interpretação sussurrada.

Outras atividades relacionadas


1) Revisão (técnica, idiomática e gramatical).
2) Resumo.
3) Edição (editoração e preparação de texto).
4) Correção (de provas, de redações e de testes).
5) Preparação de provas e de testes.
6) Speech couch (treino de locução).
7) Preparação de material audiovisual para apresentação
em eventos e aulas.
8) Transcrição.
9) Escrita criativa.
10) Cotejo.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Com relação ao texto “original”, é INCORRETO afirmar:
a) Alguns autores usam o termo como sinônimo de “texto de partida” ou
“texto a ser traduzido”.
b) A rigor, nada seria original, já que todo texto é fruto de vivências e
experiências reformuladas.
c) É sempre o texto que vai ser traduzido, pois só é possível traduzir tex-
tos que nunca foram traduzidos.

© Teorias de Tradução 31
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

d) O uso do termo “original” para referir-se ao texto-fonte é questionado


por alguns estudiosos de teoria da tradução.

2) Classifique as afirmações a seguir com F (FALSA) ou V (VERDADEIRA),


segundo os conceitos apresentados nesta unidade.
a) ( ) Tradução intralingual, na qual o idioma de partida e o de chegada
são iguais.
b) ( ) A tradução intersemiótica é aquela que ocorre entre diferentes sis-
temas de signos.
c) ( ) Para fazer uma tradução intersemiótica sempre é suficiente ter uma
equipe de tradutores dedicados.
d) ( ) A tradução interlingual é aquela na qual o idioma de partida e o de
chegada são diferentes.

3) Qual alternativa a seguir NÃO representa um exemplo de área de


especialização e respectivos tipos de texto e documentos mais prováveis
de serem traduzidos.
a) Medicina: atestados de óbito, prontuários clínicos e laudos de exames
de imagem.
b) Engenharia: civil, militar, mecânica, elétrica.
c) Direito: contratos; autos de um processo; alvarás.
d) Literária: romances, poesias, textos cômicos.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) c.

2) V, V, F, V.

3) b.

32 © Teorias de Tradução
UNIDADE 1 – Tradução: Definição e Tipologia

5. CONSIDERAÇÕES
Como foi observado, a Tradução é uma área que pode ser
bastante abrangente, e, como tal, exige muito dos profissionais
que se dedicam a ela.
Ser tradutor é ser pesquisador, um leitor atento e um
ótimo escritor; é ter criatividade e disciplina e saber que é preciso
estudar sempre.
Temos certeza de que você será cada vez melhor, e de
que as próximas unidades desta obra ajudarão em sua evolução
profissional, pois conhecer a história e refletir sobre as teorias que
fundamentam a tradução são dois aspectos que irão diferenciar
um tradutor especialista de uma pessoa que, simplesmente,
traduz, sem reflexão nem conhecimentos científicos.

6. E-REFERÊNCIAS
COLUMBIA ENCYCLOPEDIA. Disponível em: <http://www.encyclopedia.com/>. Acesso
em: 4 ago. 2015.
MARTINS, I. F.; SALGUEIRO, M. A. F. A. Tradução: prática técnica ou ferramenta
transcultural? Cadernos do CNLF, v. 7, n. 12, 2003. Disponível em: <http://www.
filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno12-25.html>. Acesso em: 25 maio 2010.

7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ARROJO, R. Oficina de tradução: a teoria na prática. São Paulo: Editora Ática, 2000.

© Teorias de Tradução 33
© Teorias de Tradução
UNIDADE 2
Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de
Partida

Objetivos
• Identificar o contexto histórico dos primórdios da
tradução e os aspectos relevantes e úteis para a prática
tradutória no presente.
• Definir o papel dos pensadores clássicos nas noções
de tradução, fidelidade e precisão que temos nos dias
atuais.
• Distinguir os elementos presentes na prática tradutória
dos autores estudados e suas influências em nossas
noções de fidelidade ao texto de partida.
• Interpretar os elementos reincidentes e recorrentes em
outras épocas da história da tradução.

Conteúdos
• Cícero e Horácio na Antiguidade Clássica.

35
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

• Os primórdios da Tradução.
• Jerônimo e sua contribuição para os tradutores.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações
a seguir:
1) Conhecer o repertório de estratégias de aprendizagem
e os seus hábitos de estudo constitui um passo
fundamental para que você enriqueça sua capacidade
de aprender, previna dificuldades de aprendizagem
e avance no desenvolvimento de seu desempenho
acadêmico.
2) Procure refletir sobre o que você entende por tradução
e converse com seus conhecidos, para saber se a
opinião deles é a mesma que a sua.
3) Agora, faça uma pesquisa rápida na internet, em
enciclopédias e artigos, e procure observar se há
diferentes correntes de pensamento sobre a tradução,
que tenha sofrido variações ao longo do tempo.
4) Não se limite a este conteúdo; busque outras
informações em sites confiáveis e/ou nas referências
bibliográficas, apresentadas ao final de cada unidade.
Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento
pessoal é um fator determinante para o seu crescimento
intelectual.

36 © Teorias de Tradução
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

Marco Túlio Cícero (106 a.C. – 43 a.C.)


Foi um estudante incansável e extremamente talentoso, características que
despertaram a atenção de Roma. Desprovido de qualquer interesse pela vida
militar, Cícero era um intelectual e começou sua carreira como advogado. Mais
tarde, mudou-se para a Grécia e ampliou seus estudos de retórica. Através
dessa estadia na Grécia teve contato e passou a admirar calorosamente a
obra de Platão. Cícero tornou-se o responsável por introduzir a filosofia grega
em Roma, criando um vocabulário filosófico em Latim (imagem disponível em:
<http://joaquimdepaula.com.br/wp-content/uploads/2009/07/cicero.jpg>. Acesso
em: 25 maio 2015. Texto disponível em: <http://www.infoescola.com/filosofos/
marco-tulio-cicero/>. Acesso em: 29 maio 2015.

Quintus Horacius Flaccus (65 a.C. – 8 a.C.)


Poeta lírico, satírico e filósofo latino nascido em Venúsia, posteriormente Venosa,
Itália, cuja obra exerceu forte influência sobre os autores renascentistas e
classicistas em geral, é considerada modelo de perfeição formal e de conteúdo
ético (imagem disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_Ywhdtv6aS8I/
SqB3yh5rEMI/AAAAAAAABj4/VOjbgTZok9o/s400/Quintus_Horatius_Flaccus-
65a.C-8+a.C.ilustr.Anton+von+Werner.jpg>. Acesso em: 25 maio 2015. Texto
disponível em: < http://www.brasilescola.com/biografia/quintus-horatius.htm>.
Acesso em: 25 maio 2015.

© Teorias de Tradução 37
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

Jerônimo (347 d.C – 420 d.C.)


Foi um grande erudito das Escrituras. Nasceu por volta do ano 345 d.C., em
Aquiléia (Veneza), extremo norte do Mar Adriático, na Itália. Jerônimo passou a
maior parte de sua juventude em Roma, estudando línguas e filosofia. Apesar
de a história não relatar pormenores de sua conversão, sabe-se que ele foi
batizado quando tinha entre 19 e 20 anos. Depois, Jerônimo embarcou em
uma peregrinação pelo Império que levou 20 anos (adaptado de SILVA, 2015)
(imagem disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_mNlBy8vOULY/SI5E-
klHJTI/AAAAAAAACAI/LOjycfAowD4/s400/Jer%C3%B4nimo.bmp>. Acesso
em: 25 maio 2015. Texto disponível em: <http://sepoangol.org/jeronimo.htm>.
Acesso em: 25 maio 2015.

38 © Teorias de Tradução
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

1. INTRODUÇÃO
A Unidade 2 tem como pressuposto refletir sobre alguns
pensadores e tradutores que se posicionaram quanto ao tema
“fidelidade”, tendo por base sua postura e suas ideias a respeito
do ato tradutório. Afinal, muitas ideias tidas como "antigas"
continuam presentes nos estudos de tradução até os dias de
hoje. Além disso, vamos procurar estabelecer a influência que
a filosofia de tais pensadores exerce em nosso fazer tradutório
atual.
Bons estudos!

2. PALAVRA VERSUS SENTIDO


Ao estudar a História da Tradução, muito se ouve falar sobre
Cícero e Horácio. Mas, afinal, quem são esses "personagens" tão
famosos?
Marco Túlio Cícero foi um orador, escritor e político romano
que nasceu em 106 a.C. e morreu em 43 a.C. Seu pai dedicou
bastante atenção à educação e à instrução do filho, e, desde
o início de sua juventude, Cícero teve contato com oradores
famosos, como Antônio e Licínio Crasso, e assistiu ao trabalho de
grandes juristas, como Múcio Scaevola.
A carreira de advogado, que Cícero iniciou em 81 a.C.,
valorizava o homo novus, ou seja, aquele cujos antepassados
não tivessem seguido carreira na magistratura, mas que,
impondo-se no campo político, tivessem acesso à nobreza. Ele
era considerado um grande advogado romano, e concluiu seus
estudos de filosofia e de retórica com grandes nomes da época.
Ficou consagrado como um dos maiores oradores romanos.

© Teorias de Tradução 39
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

Além de orador e advogado consagrado, Cícero escreveu


livros, nos quais desenvolveu seus conceitos sobre a arte da
palavra e estudou a eloquência romana. Além desses escritos,
ele deixou, ainda, vasta correspondência, que compreende 864
cartas, sendo 774 de sua autoria, e as demais recebidas de figuras
iminentes, do calibre de César e Pompeu, entre outros.
Como é possível observar, Cícero era bastante culto e
preparado intelectualmente, de modo que suas ideias mereceram
respeito e admiração de seus contemporâneos e, como veremos
mais adiante, continuam a inspirar reflexões até em nossos dias.
Quintus Horatius Flaccus, mais conhecido por nós como
Horácio, foi um poeta latino que nasceu em 65 a.C. e morreu
em 8 a.C. De origem modesta, seus primeiros versos deram-lhe
a oportunidade de travar conhecimento com Virgílio e Vário,
que o apresentaram a Mecenas. Você já ouviu falar no termo
"mecenas"? Pois é, ele foi originado desse humanista e protetor
das artes, que financiava e apoiava jovens talentos da época.
Horácio e Mecenas tornaram-se grandes amigos.
Dentre seus escritos, as Epístolas são cartas familiares,
dentre as quais a Epístola aos Pisões ou Arte Poética merece um
estudo a parte. Das demais cartas, algumas são meros bilhetes e
outras contêm aconselhamentos e sugestões para uma vida mais
pacata e livre da corrupção das grandes cidades da época.
Toda a obra literária de Horácio carrega um tom epicurista
pregando a necessidade da paz e do sossego para se alcançar
uma vida feliz e aprazível. Segundo alguns estudiosos da obra
de Horácio, em alguns textos, ele chegava a defender posições
estoicas, propagando o desprendimento e a impassibilidade
diante das situações cotidianas.

40 © Teorias de Tradução
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

A Arte Poética foi, para Horácio, uma espécie de testamento.


Nessa obra, ele apresentou ideias muito relevantes para nosso
estudo: a poesia como elemento capital da civilização; a verdade
como ideal da arte; a razão como princípio da criação artística;
a prática do ofício como obrigação do talento; a imitação das
grandes obras como condição da perfeição.
Essa postura libertária e criativa teve reflexos importantes
na postura que Horácio tomou em relação à tradução e à
fidelidade ao texto de partida. Afinal, o principal questionamento
existente entre os praticantes da tradução, numa época em que
ninguém ainda pensava no termo "estudos da tradução" e em
que a palavra "tradução" ainda não havia sequer sido cunhada,
era se a tradução deveria manter a fidelidade às palavras ou ao
sentido do texto.
De acordo com Furlan (2003, p. 26):
Da época dos romanos, cuja literatura nasce da tradução,
sabe-se que houve uma atividade tradutora e literária que,
entremescladas, produziram o que hoje se conhece como a
literatura romana. Contudo, os poucos registros de reflexões
sobre a prática da tradução neste período não foram escritos com
o propósito de investigar o tema em si ou de oferecer preceitos
sobre a melhor maneira de traduzir, mas que se encontram de
forma quase casual em textos que tratam de outras questões.
Dois dos maiores escritores romanos, Cícero e Horácio, que
têm sido citados durante séculos principalmente em defesa da
tradução livre não foram preceptistas da tradução. No entanto,
estes parcos testemunhos do passado dão a conhecer a clara
existência de ao menos duas formas de tradução praticadas entre
eles, a tradução de palavra por palavra ou "técnica" (Serés) e a
tradução parafrástica, criativa ou retórica; ou, em outros termos,
a tradução gramatical e a retórica.

© Teorias de Tradução 41
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

Como podemos perceber, com base na leitura do excerto


anterior, Cícero, em seu Libellus de optimo genere oratorum,
de 46 a.C., e Horácio defendiam uma tradução "livre", ou seja,
salientavam a importância de se compreender a essência de um
texto e de reproduzi-la na língua de chegada sem ficar preso
aos termos e às palavras usados no original. E mais que isto, de
acordo com Rodrigues (2002, n.p.):
Como a tradução era parte da atividade literária entre os
romanos, especialmente na época de Cícero e Horácio, essa
relação estendia-se à tradução, considerada como um exercício
estilístico, um modo de enriquecer a língua e a literatura latinas.
A tradução está associada à criação e o conceito de fidelidade, à
língua e à literatura latinas.

Desse modo, notamos que, para eles, traduzir era algo


espontâneo, quase uma continuação natural do ato de escrever
e de criar textos. Mas essa postura não surgiu isoladamente, ela
foi quase uma resposta ao que estava sendo considerado o ideal
de tradução até aquele momento: a fidelidade às palavras.
Essa fidelidade – que pode ser entendida em seu sentido
denotativo, uma vez que os tradutores anteriores a Cícero e a
Horácio tinham quase que uma verdadeira devoção ao texto
original –, é motivo de debates até os dias atuais, como veremos
nas demais unidades estudadas desta obra.
Segundo Rita Copeland (1991), Cícero era partidário
da tradução livre; não se atinha às estratégias de tradução
"palavra por palavra" para manter a força do texto e as suas
figuras de linguagem, preservando, assim, o sentido geral
do texto e beneficiando, portanto, a língua de chegada. Para
ele, reconstituir o texto literalmente representaria um ato de
ressignificação. Desse modo, de acordo com a teoria ciceriana de
tradução, todos os elementos do texto devem ser interpretados

42 © Teorias de Tradução
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

e adaptados, naturalizados e transferidos ao sistema da língua


de chegada corrente. Cícero defendia, até mesmo, que o texto
traduzido era virtualmente melhor e que suplantava seu original,
como um "modelo retórico" deste.
A finalidade da tradução literal era bastante discutível nos
tempos de Cícero, pois a maior parte da população que tinha
acesso aos textos traduzidos por ele era bilíngue, sendo capaz de
ler em grego (língua de partida) e em latim (língua de chegada)
(STOLZE, 1993 apud FURLAN, 2003). Assim, Cícero traduzia com
propensões literárias, procurando reproduzir sentidos, mas em
formas, muitas vezes, inovadoras.
Entretanto, em tempos anteriores, a tradução literal teve
grande importância, como veremos mais adiante.
O poeta e filósofo Horácio ficou conhecido como um dos
maiores poetas da Roma Antiga. Seus estudos literários foram
iniciados em Roma e foram concluídos na Grécia, onde também
estudou Filosofia.
Horácio escreveu diversos textos sobre a arte da escrita
literária, e muitas de suas ideias foram reinterpretadas por
autores de diferentes épocas, alguns chegando a conclusões
diferentes de outros. Ou seja: um mesmo verso de Horácio foi
entendido como tendo sido escrito em defesa da tradução literal
por alguns, bem como foi compreendido como explicitação da
importância da tradução livre e do livre pensamento criador dos
autores para outros.
De qualquer modo, a grande maioria dos estudiosos da
tradução concorda que o princípio de Cícero, de acordo com
o qual não se deve traduzir verbum pro verbo, recebeu amplo
apoio de Horácio em sua Ars Poetica, publicada cerca de 20

© Teorias de Tradução 43
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

anos mais tarde. Assim, ambos são considerados os primeiros a


defender e a praticar a tradução livre, uma vez que seus textos
traduzidos traziam a latinidade e a cultura romana para os textos
de chegada, mantendo o sentido do texto de partida, mas sem se
escravizarem às palavras e à sintaxe da língua do original.

3. TRADUTORES FIÉIS ÀS PALAVRAS


Para você, certamente, é muito intuitivo concordar, mesmo
que em parte, com as ideias de Cícero e a sua tradução livre.
Mas nem sempre esta foi a posição assumida pelos tradutores
e leitores. Em épocas primordiais, principalmente ao serem
traduzidos textos do Cânone judaico, a tradução “palavra a
palavra” era a técnica aceita e adotada. Os targumim, por exemplo,
segundo Lanzetti (2004), representam a tradução do texto bíblico
em hebraico para o aramaico, lançando mão da literalidade em
muitos casos, mesmo que parafraseando as passagens bíblicas.
Segundo Lanzetti (2004, n.p.):
Os chamados targumim foram, provavelmente, as primeiras
traduções críticas do mundo, ou seja, traduções para as quais
estudos críticos foram compilados, a fim de se estudar a
"fidelidade" e a "recepção" do texto traduzido. Os targumim
eram traduções para o aramaico (língua vernácula dos judeus
nos séculos posteriores ao IV a.E.C.) dos Escritos Sagrados, do
Cânone Judaico (escritos originalmente em hebraico). O ideal
tradutório dos tradutores dos targumim era ser o mais "fiel"
possível ao texto original, não importando se o texto de chegada
não obedecesse a sintaxe e a pragmática da língua-alvo.

Notamos que, para um leitor que não conhece o original,


tomar contato com um texto traduzido que se manteve fiel ao
original pode ser uma experiência bastante "indigesta". Afinal,
se a sintaxe da língua de partida for reproduzida na língua de

44 © Teorias de Tradução
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

chegada, no mais das vezes, o texto ficará muito “estranho” e


comprometido em sua fluência e naturalidade.
Devemos refletir sobre o contexto histórico em que se
encontravam os defensores da tradução “palavra a palavra” e,
principalmente, precisamos ter em mente que essas traduções
eram de textos religiosos, considerados diretrizes de conduta
e de preservação dos costumes e da fé de um povo. Assim, a
tradução literal era a garantia de que os textos não haviam sido
alterados, nem seu conteúdo modificado.
Certamente, na atualidade, ainda temos ocasiões em que
a tradução literal é bastante privilegiada. Quer um exemplo?
Logicamente, não estamos falando de uma literalidade extrema,
preservando a sintaxe do texto de partida, mas falamos de uma
tradução mais voltada para a fidelidade ao texto de partida do
que à naturalidade do texto de chegada. Já descobriu qual é?
Se você pensou na “tradução juramentada”, acertou em
cheio. Agora, se você não sabe do que estamos falando, não
se preocupe, pois, mais adiante, no estudo desta obra, vamos
abordar os diversos tipos de tradução, e você poderá entender o
que tudo isto significa.
Por ora, fique com a informação mais importante: os
tradutores juramentados, por lidarem com traduções de
documentos, precisam manter a fidelidade ao texto original,
produzindo um texto de chegada que seja claro, completo e o
mais natural possível, mas sem deixar de lado a precisão e o
respeito ao conteúdo do texto de partida.

© Teorias de Tradução 45
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

4. JERÔNIMO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA OS


TRADUTORES
De acordo com Pinho (2005), muitos séculos se passaram
desde Cícero e Horácio, e surge, já na Era Cristã, nosso próximo
"personagem" importante: Jerônimo, que traduziu a Bíblia do
grego para o latim, levando a tradução a uma categoria de ofício,
arte e obra literária.
Assim, São Jerônimo é considerado, por muitos, o
padroeiro dos tradutores. Em 382 d.C., foi convidado pelo Papa
São Damaso I (366-384 d.C.) para ser seu secretário e fazer a
revisão dos Evangelhos, comparando as muitas versões latinas
circulantes na época com os originais em grego. A partir dessa
tarefa, Jerônimo passou a atuar como tradutor da Bíblia. Suas
traduções do Novo Testamento foram, em geral, bem recebidas
pelos leitores e religiosos da época.
Em 385, Jerônimo mudou-se para a Terra Santa, fixando-
se em Belém, onde empreendeu sua obra mais polêmica:
a tradução do Antigo Testamento diretamente do hebreu.
Os leitores estavam habituados às inúmeras versões latinas,
comumente traduzidas da versão grega chamada Septuaginta,
também conhecida como Versão dos Setenta ou LXX. Entretanto,
apesar da contestação inicial, a versão de São Jerônimo acabou
sendo a mais aceita, o que foi importante para a consolidação e
unificação do cristianismo.
Santo Agostinho afirmou que Jerônimo deu à tradução
uma nova perspectiva e teve uma postura unificadora, pois uniu
as estratégias que pregavam a fidelidade ao original àquelas que
propunham a liberdade de tradução. Desse modo, Jerônimo
alcançou um equilíbrio. Ele afirmou que: "A tradução que

46 © Teorias de Tradução
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

privilegia o sentido, sensum exprimere de sensu, é mais indicada


para os textos profanos, e a que se fixa mais na palavra, uerbum
e uerbo, para os textos sagrados, pois nestes inclusive a ordem
das palavras pode conter um mistério divino" (JERÔNIMO, 410
d.C. apud FURLAN, 2005).
Com isso, surgiu uma distinção importante, a qual
procurava estabelecer uma relação entre técnica de tradução
e gênero textual, ainda que em fase embrionária. Em nosso
entender, além do fato de ter sido um dos primeiros tradutores
e, também, coordenador de grupos de tradutores, Jerônimo teve
o grande mérito de começar a pensar a tradução como um ofício
de regras predeterminadas, e na importância de trazer à tona a
noção de multiplicidade de estratégias que deveriam se adaptar
aos diferentes tipos textuais.
Como veremos mais adiante, na atualidade, a tradução
é entendida como uma atividade multifacetada, mas essa
noção teve suas sementes plantadas há tempos e Jerônimo foi,
certamente, um dos protagonistas dessa origem.
Enquanto a literatura romana diminuía, a cristã crescia. E é
pelo viés da tradução dos textos sagrados que surgiu aquele que
é considerado o texto mais importante da antiguidade, sobre a
maneira de traduzir:
Ad Pammachium de optimo genere interpretandi, ca. 395, de
São Jerônimo, "el primer documento, el primer conjunto de
enseñanzas escrito en el mundo occidental sobre cómo debe
proceder un traductor (YEBRA, 1994, p. 64).

De acordo com Furlan (2003), esse texto, como nenhum


antes ou depois, influenciou, fortemente, as reflexões sobre a
tradução até, aproximadamente, o século 18.

© Teorias de Tradução 47
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

5. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Assinale a alternativa que está INCORRETA.
a) Os targumim representam a tradução do texto bíblico em hebraico
para o aramaico, lançando mão da literalidade em muitos casos, mes-
mo que parafraseando as passagens bíblicas.
b) Em 385, Jerônimo mudou-se para a Terra Santa, fixando-se em Belém,
onde empreendeu sua obra mais polêmica: a tradução do Antigo Tes-
tamento diretamente do hebreu.
c) Na atualidade, a tradução é entendida como uma atividade multifa-
cetada, mas essa noção teve suas sementes plantadas há tempos e
Jerônimo foi, certamente, um dos protagonistas dessa origem.
d) São Jerônimo é considerado o padroeiro dos tradutores, pois ele era
dono de uma das maiores bibliotecas do mundo, que foi queimada
quando Nero incendiou de Roma.

2) Para o verso The old man crossed in the twilight dim de The Bridge Buil-
der (Will Allen Dromgoole), a seguir, assinale qual alternativa optou-se por
uma tradução “palavra por palavras”.
a) O velho homem cruzou na penumbra do crepúsculo.
b) O velho atravessou à luz do crepúsculo.
c) O velho atravessou na penumbra.
d) À luz do crepúsculo então, o velho o atravessou.

3) Com relação a Cicero e Horácio, é INCORRETO afirmar:


a) A finalidade da tradução literal era bastante discutível nos tempos de
Cícero, pois a maior parte da população que tinha acesso aos textos
traduzidos por ele era bilíngue, sendo capaz de ler em grego e em
latim.
b) Cícero e Horácio eram filósofos, por isso defendiam que a tradução
devia ser sempre uma releitura livre e criativa do texto de partida.

48 © Teorias de Tradução
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

c) Cícero defendia a ideia de que o texto traduzido era virtualmente me-


lhor e que suplantava seu original, como um “modelo retórico” do tex-
to original.
d) O poeta e filósofo Horácio ficou conhecido como um dos maiores po-
etas da Roma Antiga.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) d.

2) a.

3) b.

6. CONSIDERAÇÕES
Como você deve ter notado, foram necessários diversos
séculos de evolução filosófica para que a tradução começasse a
ser entendida como uma atividade específica.
Poetas, advogados e religiosos traduziam mesmo sem
se questionarem sobre o nome que tal atividade teria. Cícero,
Horácio e Jerônimo estão entre os marcos da Teoria da Tradução,
pois não fizeram apenas traduções, mas pensaram a respeito do
processo e do produto do ato tradutório. Eles se questionaram
sobre a importância de ser, ou não, fiel ao texto de partida
e refletiram sobre as consequências dessa fidelidade (ou
infidelidade) às palavras do original.
Espero que você também esteja começando a pensar sobre
isto. Veja que cada opção que fazemos em uma tradução deve
ter como um respaldo, por trás de si, uma teoria, um motivo,

© Teorias de Tradução 49
UNIDADE 2 – Ser ou Não Ser... Fiel ao Texto de Partida

uma justificativa que, quem sabe, um dia você terá de dar para
seu cliente, mas que, acima de tudo, todos os dias você terá
que dar a si mesmo. Afinal, traduzir é um ato intelectual, e não
apenas um jogo mecânico de troca de palavras por equivalentes
em outra língua.

7. E-REFERÊNCIAS
LANZETTI, R. Quadro histórico das teorias de tradução. Disponível em: <http://www.
filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno03-14.html>. Acesso em: 25 maio 2015.
RODRIGUES, C. C. Tradução e adaptação: sentidos na história. Estudos lingüísticos, v.
31, 2002. Disponível em: <http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/31/
htm/comunica/CiI27a.htm>. Acesso em: 25 maio 2015.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COPELAND, R. Rhetoric, hermeneutics and translation in the Middle Ages: academic
traditions and vernacular texts. Cambridge: University Press, 1991.
FURLAN, M. Brevíssima história da teoria da tradução no Ocidente: I. Os Romanos. In:
Cadernos de tradução, n. 8. Florianópolis: PGET, 2003.
______. Brevíssima história da teoria da tradução no Ocidente: II. Idade Média. In:
Cadernos de tradução, n. 8. Florianópolis: PGET, 2005.
PINHO, J. M. C. A. Tradutor: em busca de novos rumos. Cadernos de tradução, Pós-
Graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina, n. 15.
Brasil, 2005.
YEBRA, V. Traducción: historia y teoría. Madrid: Editorial Gredos, 1994.

50 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3
Possibilidade de Tradução e a
Intradutibilidade

Objetivos
• Identificar o significado do termo "tradução" e compre-
ender suas limitações e consequências.
• Apontar os aspectos ligados à traduzibilidade absoluta.
• Descrever os aspectos ligados à intradutibilidade
absoluta.
• Considerar os pontos favoráveis e contrários à traduzi-
bilidade relativa.
• Interpretar os gêneros textuais e os textos culturalmen-
te marcados.

Conteúdos
• Definição de “tradução”, “tradutibilidade” e
“intradutibilidade”.
• Princípios tradutológicos.

51
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

• Tradução de textos culturalmente marcados.


• As notas do tradutor e a intradutibilidade.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações
a seguir:
1) Pense nas suas experiências de vida: alguma vez você
ouviu falar de palavras que não tem tradução? Você
seria capaz de citar pelo menos uma? Por que você
acha que essa impossibilidade existe?
2) Na sua opinião, é melhor ler o livro no original ou em
uma versão traduzida? Se você respondeu "depende",
pense em quais fatores influenciariam sua escolha.
3) Não se limite a este conteúdo; busque outras
informações em sites confiáveis e/ou nas referências
bibliográficas, apresentadas ao final de cada unidade.
Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento
pessoal é um fator determinante para o seu crescimento
intelectual.
4) Busque identificar os principais conceitos apresentados;
siga a linha gradativa dos assuntos até poder observar
a evolução do estudo da Tradução e suas múltiplas
interfaces.

52 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

1. INTRODUÇÃO
Além do dilema entre fidelidade e liberdade no processo
de tradução, há outros tópicos que costumam ser retomados
nas discussões teóricas sobre tradução. Um deles está
relacionado à possibilidade de tradução (dita “tradutibilidade”)
e, consequentemente, à sua impossibilidade.
Nesta unidade, estudaremos alguns autores que trataram
desse assunto. Inicialmente, faremos uma revisão sobre a origem
do termo "tradução" e, na sequência, abordaremos o dilema da
intradutibilidade, suas consequências e implicações.

2. HÁ QUANTO TEMPO EXISTE O TERMO


“TRADUÇÃO”?
Como vimos na Unidade 2, o fenômeno da tradução era
muito mais importante e habitual para os romanos do que para
os gregos. Conforme Folena (1991), no latim, o conceito de
"tradução" é definido como articulações complexas e sutis com
sinonímia e conotações bastantes definidas.
Furlan (2003, p. 13) apresenta uma revisão bastante
abrangente do caminho percorrido pelas denominações até que
se chegasse ao termo "traduzir", como podemos ver a seguir:
Na tradução artística, uma invenção latina, se produziu uma
romanização não só da expressão mas também do conteúdo, com
ênfase no texto de chegada, e a este novo valor se denominou
com os verbos uertere e o compuesto conuertere, transuertere
e imitari. Explicare também compartilha estas noções, mas
em São Jerônimo assume o significado de acentuação sobre a
funcionalidade semântica mais que sobre o ornato retórico.
Outras acepções latinas oferecem os verbos interpretari, que
parece colocar a atenção sobre o conteúdo, a dependência

© Teorias de Tradução 53
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

e o esforço de fidelidade da cópia; exprimere, que parece


enfatizar a marca formal do calco; e reddere, que indicaria a
correspondência formal não literal entre original e tradução. No
latim tardio e na Idade Média vai predominar o termo transferre,
e, ainda mais, de seu derivado participial, o verbo translatare,
que oferece o substantivo translatio e o agente translator. Outros
termos surgiram em diferentes países europeus durante a Idade
Média, alguns conseguindo manter-se por um tempo maior
que outros. O francês antigo acunhou o verbo romancier, com
o significado de "colocar em língua romance", "expor", "colocar
em rima", "narrar", e da mesma raiz o espanhol tirou romançar,
romancear. O italiano criou o verbo volgarizzare, que decai a
partir do Trecento, passando a dominar o traslatare com um
valor mais genérico, indicando as traduções tanto de outras
línguas vernáculas como do latim ao italiano, e de outras línguas
ao latim.

A seguir, veremos, no Quadro 1, as diferentes denominações


contemporâneas dadas ao ato tradutório em diversas línguas
europeias, bem como o ano em que cada uma delas passou a
figurar nos registros escritos das referidas línguas.

Quadro 1 Denominações contemporâneas dadas ao ato


tradutório e o ano em que elas foram incorporadas ao léxico
escrito.
Língua Termo Ano do primeiro registro
Italiano tradurre 1420
Francês traduire 1480
Castelhano traducir 1493-1495
Catalão traduir 1507
Português traduzir 1537
Romeno a traduce desconhecido
Fonte: adaptado de Folena (1991).

54 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

Embora o ato de traduzir seja algo praticamente inerente


à comunicação entre os seres humanos desde os primórdios
da humanidade, como vimos nas definições de “tradução
intralingual” e “tradução intersemiótica”, é bastante interessante
observar que foi apenas entre os séculos 15 e 16 que o termo
"tradução", em suas diferentes concepções, começou a ser
aceito e difundido.
As principais teorias sobre a impossibilidade de traduzir
datam do século 18. Como o povo da época mal sabia ler (e,
portanto, não se interessava por textos escritos) e a elite cultural,
em geral, dominava duas ou mais línguas, as traduções exerciam
uma função formal e, por vezes, expletiva.
De qualquer modo, mesmo naquela época, os tradutores
eram frequentemente criticados e raramente elogiados.
Conforme aponta Afonso (2000), “os teóricos da
impossibilidade da tradução insistem no grande argumento de
que a tradução não é o original”.

3. TRADUZIR OU NÃO TRADUZIR?


Mesmo sendo favorável à tradução, em um levantamento
bastante profundo, Afonso (2000) elenca uma série de
argumentos contrários ao ato de traduzir: “As línguas e
literaturas estrangeiras ocupam o espírito nacional, limitando-
lhe a produção original em língua materna”.
Esse mesmo autor afirma que o tradutor teme que os
leitores do texto traduzido não sejam capazes de compreender
as informações culturais nele contidas, pelo fato de estarem
perfeitamente enquadradas ao texto original e por serem
“estranhas” ou “estrangeiras” ao leitor. Assim, o tradutor acaba

© Teorias de Tradução 55
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

atenuando, modificando ou suavizando o texto traduzido, a fim


de "encontrar a ponte possível entre os dois mundos linguísticos"
(AFONSO, 2000).
O mesmo autor, afirma, ainda, que "as traduções são
sempre consideradas como maus substitutos, incapazes de
preservar todas as qualidades do texto original" (AFONSO, 2000).
Segundo o pesquisador, as diferenças linguísticas distintivas
de cada língua e as oposições semânticas, fonéticas e estilísticas
acabam se perdendo nas traduções, pois "as propriedades
sonoras da frase, o seu ritmo, as suas figuras de retórica e
outros ornamentos, enfim todo o estilo pessoal do autor"
são substituídos por outras formas quando o texto original é
convertido para a língua de chegada.
A seguir, o Quadro 2, resume três grandes posições, nas
teorias de tradução, em relação à tradutibilidade:

Quadro 2 Três grandes posições sobre a tradutibilidade nas


teorias de tradução.
POSIÇÃO DEFINIÇÃO

Professa a unicidade e singularidade absolutas


de cada indivíduo ler, compreender, interpretar
Intraduzibilidade absoluta
o mundo a partir de si e para si, chegando-se em
última instância à total incomunicabilidade humana.

Possibilidade da tradução, mas com alguns casos


Traduzibilidade relativa
pontuais de exceção.

Na prática tudo pode ser traduzido e os problemas


Traduzibilidade absoluta
da tradução existem apenas em nível teórico.

Fonte: adaptado de Furlan (1998, p. 91).

56 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

É evidente que as posições extremas não encontram respaldo


na prática tradutória real, pois ser adepto da intraduzibilidade
absoluta traria consigo, automaticamente, o desaparecimento
da figura do tradutor. Entretanto, a traduzibilidade absoluta
parece ser a linha seguida por alguns clientes que buscam a
tradução de 100% de seus textos, e, muitas vezes, ficam bastante
contrariados quando o tradutor deixa algo sem traduzir.
É comum escutar colegas dizendo que foram "obrigados"
pelo cliente a encontrar equivalentes para todas as palavras
do texto, mesmo quando achavam que os termos/expressões
deveriam ter sido mantidos no idioma original.
Ainda na temática da intradutibilidade absoluta, Torquato
(2002), em seu artigo La traduzione dell’ intraducibile, analisa a
tradução do livro Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector.
Já nas primeiras páginas, Torquato reproduz as palavras da
escritora em uma entrevista para o Museu da Imagem e do Som,
em 1976, a propósito de uma tradução do livro para o francês.
Clarice diz: “[...] Não leio as traduções que fazem dos meus livros
para não me irritar. [...] Eu nem quero saber (se são ruins). Mas
sei que não sou eu mesma escrevendo" (LISPECTOR, 1970 apud
TORQUATO, 2000).
Como vemos, na opinião de um autor, talvez a
intradutibilidade devesse, realmente, ser levada às últimas
consequências.
Levy (1969 apud FURLAN, 1998, p. 91) afirma que as três
posições apresentadas anteriormente na tabela deram origem
a diferentes princípios tradutológicos que acabaram delineando
diferentes textos traduzidos (em alguns casos, para um mesmo
original). As 12 afirmações a seguir mostram como um mesmo
objeto (o texto a ser traduzido) pode sofrer diferentes processos,

© Teorias de Tradução 57
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

levando a produtos (o texto traduzido) com características


específicas. Vejamos:
1) Uma tradução tem que reproduzir as palavras do
original.
2) Uma tradução tem que reproduzir as idéias do original.
3) Uma tradução deve poder ser lida como uma obra
original.
4) Uma tradução deve ser lida como uma tradução.
5) Uma tradução deveria espelhar o estilo do original.
6) Uma tradução deveria mostrar o estilo do tradutor.
7) Uma tradução deveria ser lida como pertencente ao
tempo do original.
8) Uma tradução deveria ser lida como pertencente ao
tempo do tradutor.
9) Uma tradução pode, frente ao original, acrescentar ou
abandonar algo.
10) Uma tradução não deve nunca, frente ao original,
acrescentar ou abandonar algo.
11) Uma tradução de versos deveria ser em prosa.
12) Versos deveriam ser traduzidos em versos (LEVY,1969
apud FURLAN, 1998).
Não é necessário ser muito perspicaz para notar que
algumas das afirmações estão em choque direto com outras.
Afinal, se a tradução tem de reproduzir as palavras do original,
pode acabar deixando de reproduzir as ideias do original, e
vice-versa.
O mesmo se aplica às afirmações 3 e 4, pois, se a obra deve
poder ser lida como uma obra original, ela não será lida como

58 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

uma tradução. Nesse caso, inclusive, estaremos abordando o


problema da qualidade e dos critérios de avaliação, uma vez
que a fluidez do texto, bem como sua criatividade e seu caráter
inovador deveriam estar presentes tanto em um texto original
quanto em sua tradução.
Para Benjamin (1980 apud FURLAN, 1998, p. 102), a
tradução é vista como repoetização. Assim, ele reconceitua
a tarefa do tradutor, afirmando que seu trabalho é transpor e
transformar, ou seja, "formar noutra língua, re-formar na língua
da tradução a arte do original".
O autor não considera a tradução um ato de recepção de
significados, pois traduzir vai muito além dessa postura; traduzir
não é uma forma de comunicação, visto que o original deve
ser encarado como tal, mas também não deve ser uma mera
imitação, pois o tradutor deve assumir um posicionamento
crítico ao analisar o texto que irá traduzir.
Em relação ao estilo abordado nas afirmativas 5 e 6 de
Levy (1969 apud FURLAN, 1998), teremos o dilema novamente:
prestigiar o original ou a tradução? É claro que a resposta a esta e
a diversas outras perguntas feitas aqui será: “depende”. Depende
do público-alvo, da função que terá o texto traduzido e de vários
outros aspectos.
As afirmações 7 e 8 tocam em um ponto mais complexo:
o da sincronia. Segundo alguns autores, teóricos da tradução e
filósofos, nunca existirão dois textos sincronicamente escritos
se um deles for a tradução do outro. O texto de partida e
o de chegada sempre estarão separados por uma barreira
cronológica, que pode ser de uma fração de segundos, no caso
da interpretação simultânea, ou de milênios, quando pensamos
nas traduções de textos escritos a dois ou três mil anos.

© Teorias de Tradução 59
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

Os acréscimos e as omissões de termos (afirmações 9 e


10), bem como as expressões e até mesmo as ideias devem ser
permitidos e, inclusive, incentivados ou deveriam ser banidos do
arsenal de recursos de um tradutor? Mais uma vez, vamos nos
valer de nossa palavrinha mágica: “depende”.
As traduções juramentadas, por exemplo, como já citamos
em outros pontos desta obra, primam pela manutenção de todos
os elementos textuais sem acrescentar nem deixar de incluir
nenhum elemento, seja lexical, sintático, fraseológico ou, ainda,
do campo das ideias.
As adaptações de peças teatrais para obras cinematográficas
ou de livros para novelas (traduções intersemióticas), porém,
são feitas com uma profusão de incrementos e eliminações. Em
alguns casos, inclusive, é produzida uma obra totalmente nova
misturando personagens de diferentes autores, mas, aqui, já
não poderemos mais denominar "tradução", pois já teremos
excedido os limites do texto de partida.
Já as afirmações 11 e 12 tratam da tradução de poesias.
Aqui, poderíamos acrescentar mais um elemento de discussão.
E se criarmos as afirmações 13 e 14?: "uma tradução de versos
deveria ser feita apenas por poetas". E sua complementação:
“uma tradução literária deveria ser feita apenas por literatos”.
Segundo Meschonnic (1973 apud FURLAN, 1998), a poesia
não é mais difícil de ser traduzida do que a prosa. Para o autor,
essa concepção estaria ligada à noção de poesia como violação
das normas da linguagem, não como uma prática específica da
linguagem. Assim, para esse estudioso, não há diferenciação
entre poesia e prosa, e, sim, a linguagem de um texto a ser
traduzido, seja ele em versos ou em texto corrido.

60 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

Desse modo, todas as afirmações elencadas por Levy


(1969 apud FURLAN, 1998) podem ser corretas ou incorretas,
dependendo do tipo de texto, do contexto, do autor e do tradutor
a que se referirem.
Prof. Furlan, um de nossos principais estudiosos das teorias
de tradução, resume o dilema da intradutibilidade com base na
afirmação de Costa (1992). Vejamos:
A possibilidade de tradução faz-se entender de duas formas: lato
sensu, diz respeito à atividade tradutória em geral – é possível
traduzir?; stricto sensu, refere-se à tradução de problemas
pontuais de um texto dado, e às possibilidades de variações
sobre um mesmo texto. Uma vez admitida as concepções de
tradução como retextualização, como re-enunciação de um
sujeito histórico, repoetização, equivalência, a tradução revela-
se possível. Pela proposta de Meschonnic, não se busca mais
avaliar o grau de fidelidade ao original, ou de traição de um
texto original em dada língua de chegada, nem o apagamento e
a neutralidade do tradutor, etc. O processo tradutório principia
na adoção de um modelo conceptual de tradução, passando por
um correspondente processo de leitura-tradução, e na prática
da tradução, até à recriação na língua de chegada de um texto
que servirá para interpretações posteriores. A crítica de uma
tradução – concebida como re-textualização – assume a tarefa de
analisar o texto de chegada sob dois aspectos: (1) o da qualidade
do texto enquanto tradução, com sua equivalência propriamente
dita, em nível oracional e sintagmático, vinculado intimamente
à sua fonte; e (2) o da qualidade da tradução enquanto texto,
com sua equivalência textual, que considera o texto como um
todo, traduzível como um todo, fazendo-se literatura na língua de
chegada (COSTA, 1992, p. 142 apud FURLAN, 1998, p. 107-108).

© Teorias de Tradução 61
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

4. TRADUÇÃO DE TEXTOS CULTURALMENTE


MARCADOS
Evidentemente, a ideia de intradutibilidade será mais
facilmente assimilada se for compreendida de maneira subjetiva.
Afinal, em geral, não é possível alcançar a equivalência total de
sentidos entre o original e sua tradução. Desse modo, sempre
haverá aspectos que permanecerão intraduzíveis.
Além disso, precisamos levar em consideração quais
aspectos o tradutor espera, pretende ou deve reproduzir. Deve
manter a paragrafação? Considera que a sonoridade das frases
ou dos versos deverá ser mantida? Pretende "traduzir" as
referências culturais?
Com relação aos textos culturalmente marcados, a postura
do tradutor deve ser estabelecida em comum acordo com o
cliente, mas sempre levando em consideração o público- alvo
e a função pretendida para o texto de chegada. Por exemplo,
se formos traduzir um livro de Jorge Amado para o inglês,
certamente teremos diversas referências culturais (lexicais,
fraseológicas e até gramaticais).
O tradutor deverá refletir sobre sua postura diante desses
itens antes de começar a tradução. Vejamos: o que será feito com
os pratos típicos (acarajé, vatapá, caruru etc.)? Serão mantidos
em português, em itálico, com uma explicação entre parênteses?
Serão colocadas notas de rodapé? Serão trocados por expressões
que os definam genericamente, como a traditional dish from
Brazil, ou de modo mais descritivo, como shrimp in a coconut
milk sauce?
Existe, ainda, a "terceira via", que seria a substituição
das referências culturais pelas de outra cultura “similar”. Sem

62 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

dúvida, essa similaridade é bastante discutível, e sempre terá


implicações que vão muito além da frase ou do "parágrafo" em
que se encontram os termos a serem substituídos.
Um exemplo clássico dessa dificuldade de tradução foi
contado, certa vez, por um colega tradutor. Ele estava encarregado
de traduzir e “adaptar” um livro em que havia menção a um rio
na descrição da localidade em que se passava a história. Como o
nome do rio era citado e a "ordem" do cliente era de que todos
os nomes deveriam ser “abrasileirados”, o tradutor refletiu e
escolheu utilizar o nome de um grande rio, de uma de nossas
principais capitais.
A outra opção seria inventar um nome para o rio, de modo
a deixar a história sem uma localização real precisa, como fazem,
com certa frequência, alguns autores de novelas televisivas. A
partir disso, a história transcorreu bem, pois a cidade em que o rio
em questão estava situado guardava diversas semelhanças com
a cidade do original. Entretanto (por que as adversativas sempre
têm de surgir ao final de uma história que estava caminhando para
um final aparentemente feliz?), quando faltavam alguns poucos
capítulos para o final do livro, e o tradutor, evidentemente, já
havia mandado os primeiros para a editora, e esta para o revisor
e, quem sabe, para o diagramador, o casalzinho enamorado que
protagonizava o livro vai passear de mãos dadas, ao entardecer,
pelas "margens floridas" do rio, aspirando o odor das flores e
observando as aves que davam voos razantes.
Nesse momento, nosso colega tradutor começou a
perceber que estava com problemas: como iria dizer que o casal
estava caminhando ao longo das margens de um rio e aspirando
perfume de flores, se o rio que ele havia citado era poluído,
margeado por pneus velhos e latas enferrujadas? Ainda pior,

© Teorias de Tradução 63
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

andar ao entardecer naquela região representava um risco real


de ser assaltado ou, até mesmo, sequestrado.
Podemos notar que, se o tradutor tivesse optado por criar
um rio imaginário, esses problemas não existiriam, mas, também,
se perderiam muitas das referências culturais associadas a esse
rio.
Caso a "adaptação" do texto – a “domesticação”, como
diz Venuti (1995) – não fosse um pedido do cliente, o tradutor
poderia ter mantido os nomes originais e a localização original,
e, assim, o livro traduzido manteria as marcas culturais do texto
que lhe deu origem. Evidentemente, como já citamos, essas
escolhas não cabem ao tradutor, mas à editora ou ao “dono da
tradução”, que, em última análise, é quem está pagando e quem
determina como quer que o texto seja traduzido.
Ao tradutor restam algumas opções:
• Aceitar que as marcas culturais serão apagadas e
procurar fazer esse apagamento da melhor maneira
possível, escolhendo equivalentes que mantenham as
redes de significados e que sejam os mais "similares"
possíveis.
• Negar-se a fazer uma tradução quando achar que o
apagamento das marcas culturais poderá representar o
empobrecimento de um texto culturalmente rico.
• Sugerir ao cliente que mantenha as marcas culturais
e que acrescente “notas do tradutor” sempre que
necessário.
Como veremos a seguir, as “notas do tradutor” são
evidências de que o tradutor tem uma postura que aceita alguns
itens como intraduzíveis. Vale salientar que a primeira opção

64 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

citada anteriormente, a opção "a", de acordo com Furlan (1989),


aponta para um profissional que admite a traduzilbilidade
absoluta.

5. AS NOTAS DO TRADUTOR E A INTRADUTIBILIDADE


Em relação às notas de rodapé que são explicativas das
opções feitas pelo tradutor, conhecidas como “notas do tradutor”,
George Mounin (1955 apud AFONSO, 2000, n.p.) considera o
sintoma que o autor chama de tradicionite "a fóbica doença
irracional que considera sempre o receio de não conseguir
transmitir a expressividade dos vocábulos estrangeiros".
Se formos refletir sobre essa postura pensando que o
tradutor poderia ter “fobia”, ou seja, um medo compulsivo de
não conseguir expressar o real significado das palavras do texto
de partida, levando em consideração que todo texto de partida é
repleto de palavras estrangeiras, como seria possível administrar
o ofício de tradutor e, ao mesmo tempo, temer seu objeto
de trabalho? Evidentemente, as notas do tradutor são uma
demonstração de que algo ainda precisa ser dito ou explicado,
revelando que o texto traduzido não foi autossuficiente.
Em alguns casos, as notas, realmente, quase que
transmitem um pedido de desculpas antecipado. Em outros,
as notas do tradutor soam como uma "colher de chá" que o
tradutor procura dar aos seus leitores, como se dissesse: “olha,
eu passei dois dias pesquisando o significado desse termo e sei
que você não quer/não pode fazer o mesmo, portanto, já estou
explicando o que significa, pois, assim, você não perde tempo,
continua aproveitando sua leitura e entende o que o autor do
original quis dizer".

© Teorias de Tradução 65
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

Bons exemplos de notas do tradutor, incluem aquelas


encontradas na versão brasileira do livro When Nietzsche Wept,
da autoria de Irwin D. Yalom, professor emérito de Psiquiatria na
Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford.
O livro recebeu o título de Quando Nietzsche Chorou e foi
publicado pela Ediouro Publicações. O tradutor, Ivo Korytowski,
teve de lançar mão de algumas notas de rodapé para explicar
alguns termos que deixou sem traduzir. Suas notas não foram uma
confissão de incompetência, e, sim, uma maneira de transmitir
ao leitor brasileiro um pouco do conhecimento necessário para
compreender a essência da atmosfera europeia da época em
que a história se passa.
Embora o original seja em inglês, algumas notas de tradutor
se referem a termos em outras línguas que foram acrescentados
ao original, no qual havia frases em alemão, cujos significados
precisavam ser compreendidos pelo leitor para um maior
entendimento do livro. Vejamos:

Excerto: “— Ach, mein Gott!* – exclamou, livrando-se


do fósforo e chupando o dedo. — Prossiga, Josef, a descoberta
surpreendente foi...?” (YALOM, 2005, p. 64).
Nota do tradutor: “*‘Oh! Meu Deus!’ Em alemão, no
original.

66 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

Excerto: “Nein! Nein! Nein! Mein Gott!* O que lhe


ensinam nas escolas médicas de Viena? Examine com seus
cinco sentidos. Esqueça os exames de laboratório, sua
medicina judaica! O laboratório apenas confirma o que seus
exames físicos já revelaram. Suponhamos que esteja no campo
de batalha, doutor; irá pedir um exame de fezes?" (YALOM,
2005, p. 113).
Nota do tradutor: “*‘Não! Não! Não! Meu Deus!’ Em
alemão, no original”.

Mas nem todas as notas do tradutor foram acrescentadas


para traduzir termos mantidos em língua estrangeira no original.
Vejamos o exemplo a seguir:

Excerto: "Breuer interpretou a anuência de Lou Salomé


com a cabeça como um reconhecimento das palavras do
médico de Macbeth* e prosseguiu:” (YALOM, 2005, p. 19).
Nota do tradutor: “*Na tragédia Macbeth de William
Shakespeare, Lady Macbeth, oprimida pelos crimes que aju-
dou o marido a cometer, sofre de terríveis visões. O médico
chamado para tratá-la confessa sua impotência: ‘Essa doença
está além de meus conhecimentos’” (5º Ato, Cena I) (YALOM,
2005, p. 19).

Nesse caso, podemos observar que o tradutor se revela


em sua totalidade, pois acrescenta informações explicativas
detalhadas que ajudarão o leitor a compreender melhor o que
se diz no original.

© Teorias de Tradução 67
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

No excerto a seguir, também observamos que o tradutor


acrescentou informações com o intuito de esclarecer o leitor,
não com o objetivo de traduzir um termo que havia ficado no
original.

Excerto: “[...] O sorriso dele sentado na sinagoga


observando o filho enrolar os dedos nas borlas de seu xale de
preces. Sua recusa em deixar o filho voltar atrás de um lance
no xadrez: ‘Josef, não posso me permitir ensinar-lhe maus
hábitos’. Sua profunda voz de barítono, que preenchia a casa
enquanto cantava passagens para os rapazes que preparava
para seus bar mitzvah*” (YALOM, 2005, p. 326).
Nota do tradutor: “*Cerimônia aos treze anos que
marca a maioridade religiosa dos rapazes na religião judaica”
(YALOM, 2005, p. 326).

A seguir, veremos uma série de notas que foram


introduzidas para explicar a definição de alguns alimentos típicos,
cujas denominações foram mantidas como no original.

Excerto: "Como de hábito, entregou a Fischmann a lisa


dos pacientes por visitar. Breuer fazia visitas domiciliares duas
vezes ao dia: de manhã cedo, após seu pequeno desjejum
de café e Kaisersemmel* ondulado e com três entalhes, e,
novamente, após suas consultas vespertinas no consultório,
como naquele dia” (YALOM, 2005, p. 46).
Nota do tradutor: “*Espécie de pãozinho redondo e com
entalhes do trivial austríaco” (YALOM, 2005, p. 46).

68 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

Excerto: "Eles ousam alegar que ele precisou de sangue


cristão para a massa do matzá*! É inacreditável! Estamos
em 1882 e a coisa continua! São uns homens das cavernas,
selvagens com apenas um finíssimo verniz de cristianismo"
(YALOM, 2005, p. 52).
Nota do tradutor: “*Pão sem fermento comido pelos
judeus na Páscoa” (YALOM, 2005, p. 52).

Excerto: “Voltarei num momento com um pouco de


Strudel*” (YALOM, 2005, p. 58).
Nota do tradutor: “*Torta de maçã” (YALOM, 2005, p.
58).

Excerto: “— É a questão, Josef. Pacientes batem à sua


porta para entrar e eis você implorando a alguém que permita
ajudá-lo. Não faz sentido! Por que mendigar? – Max apanhou
uma garrafa e dois cálices. — Aceita uma dose de slivovitz?*”
(YALOM, 2005, p. 160).
Nota do tradutor: “*Aguardente de ameixas da Romênia”
(YALOM, 2005, p. 160).

Em alguns casos, o tradutor introduziu mais de uma nota


em um mesmo parágrafo, como podemos observar a seguir:

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UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

Excerto: "A programação de Freud no hospital geralmente


não permitia que viesse jantar às quintas-feiras. Mas naquele
dia Breuer o convidara especialmente para conversarem sobre
a consulta de Nietzsche. Após um jantar tipicamente vienense
– uma apetitosa sopa de repolhos com passas, Wiener
Schnitzel* Spãtzle,** couve-de-bruxelas, tomates panados
assados, o Pumpernicket*** caseiro de Marta, maçã assada
com canela e creme chantilly e água mineral –, Breuer e Freud
se retiraram para o gabinete” (YALOM, 2005, p. 112).
Nota do tradutor:
“* Costeleta de vitela à moda de Viena.
** Talharim caseiro cozinhado em água fervente.
*** Pão de centeio bem escuro” (YALOM, 2005, p. 112).

Em outros casos, o tradutor optou por colocar notas


explicativas apenas para alguns termos, deixando outros no
original, sem notas. É o que ocorre no excerto a seguir, no qual
o termo foi mantido no original por já ter sido citado em outra
página (p. 160) e por ter seu significado facilmente recuperável
a partir do cotexto, uma vez que a expressão “um cálice de” faz
que o leitor perceba tratar-se de uma bebida alcoólica.

70 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

Excerto: "Após o café e a Linzertorte* de Mathilde,


Freud saiu às pressas para o hospital. Breuer como Max foram
à biblioteca jogar xadrez, levando um cálice de slivovitz. Após
uma partida misericordiosamente curta – Max prestemente
esmagou uma defesa francesa com um ataque fulminante à
rainha –, Breuer conteve a mão de Max quando este se pôs a
arrumar as peças para o próximo jogo" (YALOM, 2005, p. 367).
Nota do tradutor: “*Torta de geléia da cidade de Linz”
(YALOM, 2005, p. 367).

Mas nem sempre o tradutor manteve termos no original


por já terem sido citados anteriormente. Em alguns casos, ele se
valeu das informações do cotexto para deixar de acrescentar as
notas, como é o caso do exemplo a seguir:
Excerto: “— [...] Você leu a matéria no Neue Freie Presse
desta manhã sobre as fraternidades gentias invadindo as salas
de aula e expulsando os judeus? Elas estão ameaçando agora
acabar com todas as aulas ministradas por professores judeus.
Viu o Presse de ontem? A notícia sobre o processo na Galícia
de um judeu acusado de assassinato ritual de uma criança
cristã?" (YALOM, 2005, p. 52).
Nota do tradutor: “não foi introduzida Nota,
provavelmente por que as informações fornecidas pelo texto já
levam o leitor a inferir que se trata de um jornal. Verbos como
‘ler’ e ‘ver’, e a palavra ‘notícia’ já apontam para um veículo de
divulgação escrita, que poderia ser uma revista ou um jornal.
Entretanto, o predicativo ‘de ontem’ faz com que o leitor infira
que trata-se do último deles” (YALOM, 2005, p. 52).

© Teorias de Tradução 71
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

Outras marcas culturais que podem ser mantidas no


original com o acréscimo de notas do tradutor são aquelas que
se referem a objetos de decoração típicos de determinado povo
ou região. A seguir, temos alguns exemplos ilustrativos desse
tipo de notas:

Excerto: “[...] Defronte à janela, numa robusta


escrivaninha de nogueira escura, empilhavam-se livros
abertos. O chão estava alcatifado por um espesso tapete
Kashan* com flores azuis e cor de marfim e três paredes
estavam guarnecidas do chão ao teto de estantes atulhadas
de livros com pesadas encadernações de couro escuro. Num
canto distante do quarto, numa mesa de jogo de estilo
Biedermeier** de pernas afiladas com espirais pretas e
douradas [...]” (YALOM, 2005, p. 57).
Notas do tradutor:
“*Espécie de tapete persa.
**Estilo de mobília da primeira metade do século XIX”
(YALOM, 2005, p. 57).

Excerto: “[...] Ambos os homens admiraram o grande


tapete de Isfahan* salmão e azul, um pouco surrado, mas
ainda magnífico, obviamente remanescente de dias mais
felizes e saudáveis na propriedade dos Lauzon [...] ” (YALOM,
2005, p. 201).
Nota do tradutor: “*Famoso tipo de tapete persa
(YALOM, 2005, p. 201)”.

72 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

Assim como em um dos primeiros exemplos citados an-


teriormente (Macbeth), nos excertos anteriores, as notas do
tradutor não tiveram o objetivo de traduzir e nem de definir os
termos, pois, em ambos, os termos podiam ser compreendidos
a partir de inferência pelo cotexto ("mesa de jogo de estilo", no
primeiro caso, e a palavra "tapete" no primeiro e no segundo
casos).
Portanto, temos, aqui, mais alguns exemplos em que o
tradutor acrescenta informações culturais para que o texto se
torne mais claro ao leitor, indo além da sua tarefa de realizador
da tradução.
No exemplo a seguir, o tradutor também acrescentou
explicações que vão além da tarefa tradutória, o que revela
autonomia e segurança profissional.

Excerto: “[...] Várias noites por semana, permanecia no


café até às oito ou nove horas e agora passara a jogar Tarock*
duas vezes por semana, em vez de uma. Mesmo a refeição
do meio dia, que sempre fora um horário sagrado dedicado à
família, estava agora sendo desrespeitada. Ao menos uma vez
por semana, Josef exagerava nos compromissos e trabalhava
pelo almoço adentro [...] ” (YALOM, 2005, p. 56).
Nota do tradutor: “*Tradicional jogo de cartas a três”
(YALOM, 2005, p. 56).

O leitor, certamente, já havia inferido que Tarock é o nome


de um jogo, mas o tradutor acrescentou duas informações
importantes:

© Teorias de Tradução 73
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

• Informou que o jogo é "tradicional": Tarock é considerado


um dos jogos mais antigos da humanidade.
• Orientou o leitor, brevemente, sobre a natureza do jogo
"de cartas" e sobre a maneira como é jogado: "a três".
No último exemplo, apresentado a seguir, veremos que
nem sempre o tradutor precisa lançar mão de notas de rodapé.
Ele também pode incorporar explicações no próprio corpo do
texto, valendo-se de travessões ou de parênteses. No excerto a
seguir foi utilizado esse recurso. Vejamos:

Excerto: “[...] Num canto distante do quarto, numa mesa


de jogo de estilo Biedermeier** de pernas afiladas com es-
pirais pretas e douradas Louis já colocara um frango assado
frio, uma salada de repolho, sementes de cominho e creme
de leite, alguns Seltstangerl (bengalas de pão salgado com
sementes de cominho) e Gtesshübler (água mineral). Agora,
Mathilde apanhou os pratos de sopa da bandeja carregada por
Freud, colocou-os na mesa e preparou-se para sair" (YALOM,
2005, p. 57).

Vale salientar que, como não dispomos do original, não é


possível afirmar, com total certeza, que esses parênteses foram
acrescentados pelo tradutor, pois eles podem já estar presentes
no original.

74 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

6. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Assinale a alternativa que contém uma afirmação INCORRETA:
a) As principais teorias sobre a impossibilidade de traduzir datam do
século 19.
b) Embora o ato de traduzir seja algo praticamente inerente à comunicação
entre os seres humanos desde os primórdios da humanidade, foi
apenas entre os séculos 15 e 16 que o termo “tradução” começou a
ser aceito e difundido.
c) As posições extremas não encontram respaldo na prática tradutória
real, pois ser adepto da intraduzibilidade absoluta traria consigo,
automaticamente, o desaparecimento da figura do tradutor.
d) O fenômeno da tradução era muito mais importante e habitual para os
romanos do que para os gregos.

2) Classifique as afirmações a seguir com F (FALSA) ou V (VERDADEIRA),


segundo seus conhecimentos adquiridos nesta unidade.
a) A traduzibilidade absoluta parece ser a linha seguida por alguns
clientes que buscam a tradução de 100% de seus textos.
b) Nenhum teórico da tradução defende que a intradutibilidade deveria
ser levada às últimas consequências.
c) É muito raro escutar tradutores dizendo que foram “obrigados” pelo
cliente a encontrar equivalentes para todas as palavras do texto.
d) Uma tradução tem que reproduzir as idéias do original.

3) Assinale a alternativa que contém uma afirmação INCORRETA:


a) As notas de rodapé que são explicativas das opções feitas pelo tradutor
são conhecidas como “notas do tradutor”.
b) As notas do tradutor, de certa forma, quase que transmitem um pedido
de desculpas antecipado.

© Teorias de Tradução 75
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

c) As notas do tradutor soam como uma “colher de chá” que o tradutor


procura dar aos seus leitores, pois sabe que eles não têm inteligência
suficiente para entender certas passagens do texto.
d) As notas do tradutor são uma demonstração de que algo ainda pre-
cisa ser dito ou explicado, revelando que o texto traduzido não foi
autossuficiente.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) a.

2) V, F, F, V.

3) c.

7. CONSIDERAÇÕES
Após estudarmos a tradutibilidade e a intradutibilidade,
acreditamos que você já seja capaz de se posicionar, criticamente,
sobre esse assunto. É importante ter em mente que alguns termos
e expressões precisarão ser mantidos em língua estrangeira
sempre que o tradutor pretender preservar os traços culturais
de um texto.
O fato de o tradutor revelar-se ou não em um texto e a sua
postura diante desse aspecto são tópicos relacionados a outra
grande polêmica da tradução: a invisibilidade do tradutor. Sim,
você acertou. Este é o título de nossa próxima unidade. Então,
vamos a ela!

76 © Teorias de Tradução
UNIDADE 3 – Possibilidade de Tradução e a Intradutibilidade

8. E-REFERÊNCIA
AFONSO, J. S. Comunicação e teoria da tradução. Disponível em: <http://www.
prof2000.pt/users/jsafonso/tese.htm#_Toc528252113>. Acesso em: 26 maio 2015.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, W. C. The translated text as re-textualisation. In: Studies in Translation.
Florianópolis: UFSC, 1992, p. 133-153.
FOLENA, G. Volgarizzare e tradurre. Torino: Unione Tipografico, 1991.
FURLAN, M. Brevíssima história da teoria da tradução no Ocidente: I. Os Romanos. In:
Cadernos de tradução, n. 8. Florianópolis: PGET, 2003.
______. Possibilidade(s) de tradução(ões). Cadernos de tradução, n. 3, Florianópolis:
UFSC, 1998, p. 89-111.
VENUTI, L. The translators invisibility. Londres; Nova York: Routdedge, 1995.
YALOM, I. D. Quando Nietzsche chorou. Tradução de Ivo Korytowski. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2005.

© Teorias de Tradução 77
© Teorias de Tradução
UNIDADE 4
Invisibilidade do Tradutor: Ideal
a ser Alcançado ou Aspecto a ser
Evitado?

Objetivos
• Interpretar o universo tradutório para poder
compreender os aspectos relevantes e úteis à
prática da profissão que se relacionam com o tópico
"invisibilidade".
• Apontar os momentos em que o tradutor pode (e deve)
evidenciar sua presença em um texto traduzido.
• Descrever os momentos em que o tradutor não pode
(nem deve) evidenciar sua presença em um texto
traduzido.
• Distinguir os pontos favoráveis e contrários à
invisibilidade do tradutor.
• Identificar as estratégias de tradução estrangeirizante, a
tradução insuficiente e a tradução domesticadora.

79
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Conteúdos
• Definição de “visibilidade” e “invisibilidade”.
• Teóricos favoráveis à invisibilidade do tradutor e seus
argumentos.
• Teóricos contrários à invisibilidade do tradutor e seus
argumentos.
• Tradução estrangeirizante, tradução insuficiente e
tradução domesticadora.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações
a seguir:
1) Sugerimos que, quando você for assistir filmes legen-
dados, compare a tradução com o que os personagens
estão falando. Dessa forma, você conhecerá várias for-
mas de tradução.
2) Além de filmes legendados, é interessante que você as-
sista filmes dublados também. Quando assistir, preste
atenção se há alguma frase que não faz muito sentido
e reflita se, nesse caso, o problema é do texto original,
do diretor do filme, do ator, do tradutor ou de quem
fez a dublagem.
3) No Brasil, existem livros bilíngues publicados. Na mes-
ma obra, lado a lado, você encontra o texto em duas
línguas. Sugerimos que você faça a comparação de
uma obra assim e reflita, como tradutor, se esse tipo
de publicação é benéfica ou prejudicial para a imagem
dos tradutores.

80 © Teorias de Tradução
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

1. INTRODUÇÃO
Até o presente momento, você teve a oportunidade de
estudar alguns pontos polêmicos entre os teóricos da tradução.
Já abordamos a questão da fidelidade ao texto de partida,
que, como você já notou, é um assunto bastante recorrente
desde os tempos de Cícero e Horácio. Também já estudamos
a tradutibilidade e a intradutibilidade e percebemos que há
posturas bem definidas em relação a cada uma delas.
Pois bem. Nesta unidade, vamos abordar mais um assunto
bastante interessante: a invisibilidade do tradutor. Alguns
teóricos consideram que um texto, para ser julgado como bem
traduzido, deve parecer ter sido escrito, originalmente, na língua
de chegada.
Outros estudiosos entendem a invisibilidade como algo
mais concreto, ou seja, para eles, o tradutor invisível é aquele
que não coloca seu nome na ficha catalográfica das obras que
traduz, que passa incógnito ou pouco notado. Há, também, um
terceiro grupo, que aborda a invisibilidade do ponto de vista
político-ideológico. Para esses, o tradutor deve deixar as marcas
culturais do original aflorarem no texto traduzido, e a tradução
deve ser estrangeirizante, respeitando tanto o texto de partida
– uma vez que irá manter a identidade cultural – quanto o leitor
do texto de chegada, por permitir que ele reconheça o elemento
estrangeiro naquilo que lê e que ele adquira conhecimentos de
outras culturas.
Como você já deve ter notado, o assunto que iremos abordar
nesta unidade é multifacetado, e você terá a oportunidade de
refletir sobre ele. Então, mãos à obra!
Bom estudo!

© Teorias de Tradução 81
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

2. FLUÊNCIA TEXTUAL, NATURALIDADE E


IDIOMATICIDADE
Para muitos teóricos da tradução, tradutores e até mesmo
clientes e leitores, parece intuitivo que uma boa tradução será
aquela com fluidez, idiomaticidade e naturalidade. O texto
que apresenta "solavancos" ao ser lido, que possui expressões
estranhas ou facilmente percebidas como originadas de má
tradução por descuido ou desconhecimento do tradutor,
evidentemente é considerado resultado de uma tradução
inadequada.
Esteves (1997), em seu artigo A ética da tradução e seus
limites, fala da importância de o tradutor estar sempre consciente
de seu papel de mediador não transparente – o que significa
que a pesquisadora não defende a invisibilidade do tradutor – e
considera que o profissional que faz uma tradução deve assumir
a responsabilidade que demanda tal tarefa.
Tradutora de O Senhor dos Anéis, professora de Língua
Inglesa e Tradução na Universidade de São Paulo, ela afirma que
o tradutor deve estar atento para as consequências de suas
escolhas, pois tais consequências existem mesmo se o tradutor
não tiver consciência de sua existência. As escolhas feitas pelo
tradutor terão um impacto sobre a qualidade final da obra
traduzida.
Entretanto, definir o que é uma "boa tradução" não é uma
tarefa tão simples assim. Diversos estudiosos do assunto já se
propuseram a determinar qual é a definição de uma tradução
"ideal". Santana (2008, p. 111) reflete sobre o assunto:
Se o padrão para se produzir uma boa tradução for a reprodução
exata de um texto, em uma outra língua, por meio da decodificação
do sentido do original e da reprodução fiel do mesmo, na língua

82 © Teorias de Tradução
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

de chegada, a tarefa do tradutor continuará sendo, de antemão,


fadada ao fracasso, quando não, impossível. Isto porque o
significado de um texto não se encontra no conjunto de palavras
que o compõe, o que faz com que nem a máxima equivalência
alcançável resulte em uma tradução que, na visão tradicionalista,
possa ser considerada boa.

Evidentemente, essa discussão acaba envolvendo aspectos


da fidelidade, como é possível detectar no excerto anterior. Alguns
autores se ocuparam de criar textos, nos quais analisaram ambos
os tópicos simultaneamente, como é o caso de Bohunovsky
(2001, p. 53), que afirma: “Tanto o conceito da ‘fidelidade’
como o da ‘invisibilidade’ têm sido repensados nas discussões
desenvolvidas no campo dos estudos da tradução das últimas
décadas". A autora redigiu um artigo em que “invisibilidade”
e “fidelidade” são consideradas no contexto tradutório, como
podemos perceber pelo excerto a seguir:
[...] no âmbito das discussões teóricas sobre tradução mais
recentes, a "fidelidade" na tradução não é mais entendida como
a tentativa de "reproduzir" o texto de partida, mas está sendo
relacionado à inevitável interferência por parte do tradutor,
à sua interpretação e manipulação do texto. O tradutor é
entendido como um sujeito inserido num certo contexto cultural,
ideológico, político e psicológico – que não pode ser ignorado
ou eliminado ao elaborar uma tradução. O tradutor tornou-se
“visível” (BOHUNOVSKY, 2001, p. 54).

Desse modo, notamos que, na pós-modernidade, não se


entende um texto bem traduzido apenas como aquele que tem
fluidez, idiomaticidade e clareza, mas também como aquele cujo
tradutor se revela sempre que for necessário – como quando
acrescenta notas do tradutor ou explicações em alguns pontos
do texto, por exemplo.

© Teorias de Tradução 83
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Todavia, não é apenas esta a visão de invisibilidade; há


outros modos de se entender esse tema. A seguir, veremos a
invisibilidade sob o ponto de vista profissional.

3. TO SHOW OFF OR TO KEEP A LOW PROFILE –


QUAL DEVE SER A POSIÇÃO DO TRADUTOR?
Para respondermos a essa pergunta, temos, inicialmente,
de refletir sobre alguns aspectos fundamentais. Em entrevista
para o periódico português Jornal de Notícias, em 12 de março
de 1997, José Saramago afirmou: "São os autores que fazem as
literaturas nacionais, as são os tradutores que fazem a literatura
universal".
Essas palavras, vindas de um ganhador do Prêmio Nobel de
Literatura, revelam a importância dos tradutores para a difusão
das obras literárias, principalmente se levarmos em consideração
que o próprio Saramago já atuou como tradutor em algumas
épocas de sua trajetória profissional.
Assim, fica evidenciada a importância do tradutor como
agente do processo de tradução, ou seja, comprova-se que
é importante os textos serem traduzidos, mas a questão da
invisibilidade aponta para outro problema: o tradutor deve se
mostrar como profissional, deve evidenciar sua presença no
texto traduzido ou deve manter-se invisível, fazendo com que o
texto traduzido seja “confundido” com o original?
Esse primeiro ponto de divergência já foi discutido por
diversos teóricos da tradução – e até mesmo por tradutores –
quando o tema "invisibilidade" vem à tona. Por diferentes razões,
alguns tradutores ficam totalmente ocultos, sendo encobertos

84 © Teorias de Tradução
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

por uma névoa de invisibilidade ou, na melhor das hipóteses,


pela chamada "pouca exposição".
Quais seriam os motivos que levam um tradutor a não se
expor, a manter o anonimato ou estar parcialmente visível?
O primeiro motivo alegado por alguns tradutores é que eles
estão "ocupados demais" para "perder tempo" divulgando seu
nome ou exigindo que seus créditos apareçam a cada trabalho
realizado.
Por mais triste que possa parecer, algumas editoras ainda
adotam a prática de subcontratar tradutores para fazer a tradução
de milhares de páginas de um original por preços baixos e depois
pagam altas somas para revisores renomados (profissionais
da área do livro, escritores, jornalistas, politicos, celebridades)
"validarem" a tradução. Nesses casos, algumas vezes, apenas o
nome do revisor aparece no documento publicado, e o trabalho
do(s) tradutor(es) pode acabar ficando no anonimato.
Felizmente, o número de editoras que agem dessa maneira
é cada vez menor e tende a desaparecer à medida que os
tradutores forem ficando mais conscientes de seus direitos e
mais atentos ao valor de seus nomes na hora de buscarem novos
clientes.
Muitos tradutores acreditam que somente o autor da obra
tem direito a ter seu nome na Ficha Catalográfica, o que não é
verdade. As informações relativas ao tradutor são igualmente
importantes e devem constar tanto na ficha técnica da obra
quanto nas resenhas relacionadas.
Em alguns casos, encontramos o nome do tradutor
impresso na capa do livro, mas, na maioria das vezes, isto apenas
ocorre quando este é conhecido por outras atividades que

© Teorias de Tradução 85
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

exerça (ator de televisão, cantor, compositor, autor de alguma


obra de sucesso publicada anteriormente, crítico de cinema,
apresentador, humorista, entre outros).
Embora pareça absurdo, muitos tradutores, ao assinarem
o contrato de confidencialidade do conteúdo do texto original,
acabam concordando, sem perceber, na maioria das vezes, com
uma cláusula que os impede de revelar sua participação na
tradução daquele texto.
Nesses casos, o tradutor não pode sequer incluir em seu
currículo que fez determinada tradução. Algumas agências e
alguns clientes alegam que essa cláusula foi criada para preservar
o sigilo de conteúdo e para evitar a espionagem industrial ou
intelectual; no entanto, o que acaba acontecendo, em última
análise, é a ocultação e o apagamento da experiência profissional
de alguns tradutores.
Em alguns casos, mesmo não havendo cláusulas específicas,
é procedimento padrão de determinadas editoras não incluir
o(s) nome(s) do(s) tradutor(es) alegando falta de espaço ou
problemas de editoração.
Em outros casos, ainda mais questionáveis, a editora ou a
empresa publicadora opta por colocar apenas o nome do chefe
da "equipe" de tradução – muito embora, como sabemos, em
alguns desses casos, nem há um trabalho de equipe; apenas
dezenas de tradutores anônimos com um ou dois "felizardos"
que são citados.
Certa vez, conversamos com um tradutor que estava há
mais de cinco anos trabalhando para uma determinada empresa.
A remuneração era muito boa e os prazos eram razoáveis, mas,
mesmo assim, o colega expressou descontentamento.

86 © Teorias de Tradução
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Quando perguntamos o porquê, ele explicou que, por


razões contratuais, era proibido de dizer para quem trabalhava,
não podia citar o nome da companhia em público e não podia
incluir o logo da empresa nem qualquer referência a ela em
seu Curriculum Vitae. Essa passagem nos mostra o quanto
essa “invisibilidade” pode prejudicar a postura do profissional
e fazê-lo optar por trabalhar, em alguns casos, em condições
piores, mas que o deixem livre para poder mostrar seu trabalho
e divulgar seu histórico profissional.
Outro aspecto que pode prejudicar a visibilidade de
um tradutor está ligado ao arquivamento e à inclusão de
informações em bancos de dados de bibliotecas. Alguns sistemas
de organização de obras literárias não possuem campos para que
o bibliotecário inclua o nome dos tradutores.
A conclusão é simples: se os nomes não forem incluídos,
não farão parte da base de dados, não serão citados em
referências nem encontrados em pesquisas feitas nas redes de
computador da biblioteca (intranets) e nas redes externas, o
que significa que muito menos serão localizadas em pesquisas
feitas por buscadores (Google, Altavista, entre outros). Desse
modo, há tradutores com décadas de experiência e dezenas ou
até centenas de livros traduzidos, com pouquíssima presença
quando pesquisados na internet ou em sistemas de bibliotecas.
Em muitos casos, dada a baixa remuneração que recebem,
alguns tradutores acabam sendo obrigados a exercer várias
outras atividades não relacionadas (como trabalhar em bancos,
em empresas comerciais ou no comércio, por exemplo) ou
paralelas (em editoração, atividades jornalísticas, atividades de
secretariado ou de ensino etc.).

© Teorias de Tradução 87
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Em outras situações, o tradutor realiza muitas traduções


simultâneas e acaba não se importando tanto com o destino
de nenhuma delas, pois fica apenas preocupado em cumprir
os prazos e em conferir se recebeu os valores devidos. Essa
situação faz alguns profissionais nem sequer perceberem que
algumas de suas traduções são atribuídas a outros profissionais,
ou são publicadas sem referências ou com referências erradas ou
incompletas.
Pinho (2006) analisa a relação entre autor, tradutor e
editor/editora segundo a realidade apresentada em Portugal. A
seguir, o Quadro 1, apresenta uma reprodução das possibilidades
levantadas pelo pesquisador português em seu livro O tradutor
invisível.

Quadro 1 Relação autor – tradutor – editor/editora.


RELAÇÃO AUTOR – TRADUTOR – EDITOR/EDITORA
Algumas possibilidades
1. Editor/editora escolhe o autor e o tradutor, e este traduz.
2. O autor traduz algum texto/alguma obra de determinado autor
(independentemente, por exemplo, de gostar daquele autor) e, em determinado
momento, surge uma oportunidade (que pode ser um momento histórico, uma
comemoração de centenário, uma necessidade comercial/lucrativa do editor/da
editora em publicar um novo título do determinado autor – que já fez sucesso, gerou
lucros ou foi "bem aceito" pelo leitor –, uma edição especial etc.) para a publicação.
O autor comenta com alguém sobre sua tradução e "chega" ao editor/à editora.
3. A editora funciona como agente "censor" de determinada publicação (questões
filosóficas, culturais, políticas etc.).
4. O tradutor atua como agente catalisador da produção literária, como difusor de
conhecimento técnico, científico e/ou de criações literárias até então desconhecidas.
Atualmente, pode, inclusive, publicar sua própria tradução (seja por meio da criação
de uma editora, da cooperativa de escritores/tradutores ou de ambiente virtual, pela
internet, por blogs etc.).
Fonte: adaptado de Pinho (2006).

88 © Teorias de Tradução
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Ao refletirmos sobre essas informações referentes ao


mercado de tradução em Portugal, perceberemos que, em
nosso país, as relações são bastantes similares. No caso da
relação apresentada no Tópico 1 do Quadro 1, temos a relação
profissional mais comum no Brasil.
As editoras costumam entrar em contato com os agentes
de determinado autor, compram os direitos de tradução e
de publicação e, depois, selecionam o tradutor ou o grupo de
tradutores que fará a tradução.
Atualmente, com os prazos cada vez mais curtos, há uma
tendência crescente, principalmente em livros científicos e
técnicos, de a editora contratar mais de um tradutor, dividindo o
conteúdo do livro, em geral por capítulos, entre os profissionais
que farão a tradução. Nesses casos, em local apropriado, a editora
informa quais capítulos foram traduzidos por qual profissional e,
normalmente, reservam um espaço para um breve currículo de
cada tradutor.
A situação bastante rara apresentada no Tópico 2 do Quadro
1 está, em geral, ligada a casos específicos, e não recomendamos
aos colegas iniciantes que façam traduções esperando que estas
venham a ser adquiridas por editoras, a menos que tenham
informações mais concretas sobre sua utilização futura.
Não acreditamos que as editoras exerçam uma função
censora direta sobre as obras a serem traduzidas, mas não temos
como negar que toda opção feita tem uma motivação política
ou filosófica. Assim, já na escolha das obras a serem traduzidas,
a editora estará exercendo um ato intencional e com uma
motivação baseada em seus princípios, na filosofia e na política
da empresa.

© Teorias de Tradução 89
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

É importante observar que a condição apresentada no


Tópico 4 do Quadro 1 deve ser entendida com ressalvas.
Antes de traduzir uma obra e de postá-la na internet, por
exemplo, recomendamos que o tradutor entre em contato com
o autor, com seu agente ou com a editora que publicou o original
para entender quais são as limitações desse ato.
Convém entrar em contato com os detentores dos
direitos de tradução, principalmente se a referida obra já
tiver sido traduzida para o português (mesmo que em outros
países lusófonos), para evitar problemas futuros ou até mesmo
acusações de plágio ou de violação de direitos de terceiros.
Lembre-se de que ninguém pode alegar o desconhecimento das
leis para poder eximir-se de responsabilidades de qualquer tipo.
Todos os tópicos analisados anteriormente colaboram,
em maior ou menor grau, para que o tradutor, em alguns casos,
trabalhe muito e seja pouco reconhecido ou conhecido como um
profissional produtivo.
Abordamos até o momento dois modos de entender a
"invisibilidade do tradutor", mas ainda há outras maneiras de
entender esse tópico, como você verá a seguir.

4. TRADUÇÃO ESTRANGEIRIZANTE E A VALORIZAÇÃO


DO DIFERENTE
Para Schleiermacher (1995 apud FREITAS, 2008, p. 101), "o
tradutor estrangeirizador segue o texto fonte o mais literalmente
possível, para dar a seu público a sensação do estrangeiro".
Segundo a autora, "essa estratégia pode gerar como
consequência a sensação para o leitor de estar lendo não um

90 © Teorias de Tradução
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

texto estrangeirizador, mas um texto muito mal traduzido". Ela


ainda nos informa que:
Em consonância com o modelo binário de Schleiermacher, Venuti
parte então desses conceitos para propor a sua estratégia de
visibilidade do tradutor. Venuti adota os conceitos de tradução
domesticadora, que naturaliza o discurso do autor deslocando-o
em direção ao leitor, e estrangeirizadora, que dificulta a
legibilidade do texto como estratégia de visibilidade, deslocando
o leitor em direção ao autor.
A opção de Venuti é consoante àquela de Schleiermacher, ou
seja, pela estrangeirizadora (SCHLEIERMACHER, 1995 apud
FREITAS, 2008, p. 101).

A estratégia de domesticação
De acordo com Castro (2007, p. 92), a tradução
domesticadora "é aquela que procura apagar as opacidades
geradas pela diferença entre as duas culturas e línguas em
contato, de forma a tornar a leitura mais fluente e, de certa
forma, facilitá-la".
Já nas primeiras páginas de sua obra de referência no
assunto "invisibilidade", Venuti (1995, p. 1-2) faz as seguintes
afirmações:
“Invisibility” is the term I will use to describe the translator’s
situation and activity in contemporary Anglo-American culture.
It refers to two mutually determining phenomena: one is
an illusionistic effect of discourse, of the translator’s own
manipulation of English; the other is the practice of reading
and evaluating translation that has long prevailed in the United
Kingdom and the United States, among other cultures, both
English and foreign-language. A translated text, whether prose
or poetry, fiction or nonfiction, is judged acceptable by most
publishers, reviewers, and readers when it reads fluently, when
the absence of any linguistic or stylistic peculiarities makes it

© Teorias de Tradução 91
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

seem transparent, giving the appearance that it reflects the


foreign writer’s personality or intention or the essential meaning
of the foreign text – the appearance, in other words, that the
translation is not in fact a translation, but the “original” […]. The
more fluent the translation, the more invisible the translator,
and, presumably, the more visible the writer or meaning of the
foreign text.

Venuti (1995) ainda afirma que revisores e leitores


consideram aceitável uma tradução quando a sua leitura é fluente,
ou seja, quando o texto não possui passagens consideradas
estranhas, construções não idiomáticas ou significados confusos.
Para o teórico da tradução, algumas características da tradução
"fluente" seriam as seguintes (lembrando que Venuti fez esse
levantamento baseado em textos cuja língua de chegada era o
inglês):
1) Uso de um inglês atual (moderno) ao invés de um
arcaico.
2) Uso de uma linguagem amplamente utilizada em
detrimento da linguagem especializada (jargão).
3) Uso de linguagem padrão ao invés de linguagem
coloquial (repleto de gírias).
4) Uso da linguagem “familiarizada”, isto é, domesticada.
5) Uso do “texto que não seja ‘desconcertantemente’
estrangeiro, de modo a ser capaz de dar ao leitor
‘acesso desobstruído a grandes pensamentos’, ao que
está ‘presente no original’” (VENUTI, 1995, p. 4-5).
6) Esforço do tradutor em adaptar o texto estrangeiro
à cultura do público-alvo para que o texto traduzido
fique "fluente" e para criar um efeito de transparência.
7) Por trás da invisibilidade do tradutor há um
desequilíbrio comercial que fomenta esta dominação,

92 © Teorias de Tradução
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

e que também diminui o capital cultural estrangeiro


em inglês, ao limitar o número de textos traduzidos
e os submetendo a uma revisão domesticadora.
A invisibilidade do tradutor é sintomática de um
comodismo nas relações anglo-americanas com outras
culturas, um comodismo que pode ser descrito –
sem muito exagero – como imperialista no exterior e
xenofóbico dentro do país (VENUTI, 1995, p. 17 apud
CASTRO, 2007, 93).
No Brasil, porém, segundo a pesquisadora Castro (2007, p.
94), existe
uma presença muito grande de referências da cultura estrangeira,
um hábito de não traduzir nomes de produtos, de personagens,
de referências estrangeiras como nomes de lugares, eventos,
festividades, marcas culturais de modo geral.

A pesquisadora faz algumas reflexões sobre o leitor


brasileiro, que serão reproduzidas a seguir:
[...] parece que o leitor brasileiro quer ter um texto fluente,
mas não necessariamente sem referências à cultura de origem.
Não posso afirmar com precisão como isso ocorre em outros
países em desenvolvimento, se se assemelham ao Brasil ou não.
Mas suponho que, como "colonizados" e já habituados à forte
influência da língua e da cultura colonizadoras desde o início de
suas histórias, nos países periféricos o público seja muito mais
tolerante ao que vem de fora, ou mais especificamente dos
países hegemônicos, do que o público "colonizador", sempre
alimentado por um sentimento de superioridade em relação aos
estrangeiros (CASTRO, 2007, p. 94).

Venuti (1995 apud CASTRO, 2007) apresenta a


estrangeirização como uma estratégia que permite que a
diferença seja transmitida e que a alteridade seja preservada
mesmo dentro de suas limitações. Entretanto, não é apenas

© Teorias de Tradução 93
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Venuti quem defende a estrangeirização das traduções, pois


Schleiermacher sugere que as traduções de outras línguas para
o alemão devem revelar ao leitor que tais textos não foram
originalmente escritos em alemão para que tal leitor seja capaz
de perceber ou de sentir o "espanhol por trás de uma tradução
do espanhol, ou o grego, por trás de uma tradução do grego"
(SCHLEIERMACHER , 1998 apud CASTRO, 2007).
Berman (2002), por sua vez, define a tradução etnocêntrica
como aquela que se transforma de acordo com as normas culturais
próprias do tradutor, seus valores intelectuais e pessoais. Assim,
ao optar por fazer uma tradução etnocêntrica, o tradutor estará
se dispondo a fazer grandes alterações no texto original.
Para Berman (2002), o processo de tradução etnocêntrica
deixa de envolver apenas técnicas de tradução e passa a
englobar processos literários. Logo, uma tradução extremamente
domesticadora seria aquela que troca os nomes das personagens
e localidades por nomes mais “nacionais”, que troca a unidade
monetária para a moeda em circulação no país onde a obra
será lida, que altera a sequência das frases, funde parágrafos ou
acrescenta explicações ao texto em vez de acrescentar notas de
rodapés.

Algumas visões revolucionárias ou antirreacionárias


Certos autores consideram que a invisibilidade é uma
subserviência do tradutor às exigências do mercado, à editora ou
à cultura de chegada. Assim, determinados movimentos foram
propostos para mostrar ao leitor que o texto é estrangeiro. Além
da tradução estrangeirizante, também foram propostas a noção
de consumibilidade e a de tradução insuficiente, que serão
tratadas a seguir.

94 © Teorias de Tradução
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Consumibilidade
Não é de conhecimento de todos os tradutores, mas o
escritor brasileiro Monteiro Lobato também atuou na área de
Tradução. De acordo com Mendes (2002, p. 23), sua abordagem
da atividade tradutória é embasada nas posturas de Lawrence
Venuti, que considerava "a tradução um meio pelo qual sujeitos
domésticos são formados".
Segundo Venuti (1995, p. 23), as escolhas que o tradutor
faz demonstram "não só o caráter transformador da tradução
como a presença do tradutor".
Conforme explicitado em Freitas (2003, p. 99):
Venuti introduz o conceito da consumibilidade consoante a
sua visão marxista de relações de produção, ou seja, quanto
mais legível, fluente e legítima for a tradução, maior será o seu
prestígio enquanto mercadoria e, portanto, mais consumível ela
será. Soma-se a essa proporção a invisibilidade do tradutor, que
será tanto maior quanto maior for o grau de consumibilidade
do texto. A consumibilidade venutiana é uma imposição do
mercado exigida por revisores, críticos, editoras e leitores. Em
outras palavras, o tradutor tem como limite a aceitação social de
seu trabalho.

Assim, a consumibilidade seria um fator externo à


tradução, relacionado às exigências feitas pelos revisores e
editores. Segundo Mendes (2007), em Monteiro Lobato, "as
suas traduções: as obras nascem de seu sonho de ver o Brasil
tornar-se poderoso e, para tanto, fazia-se necessária à formação
do caráter desse mesmo povo".
Como acrescenta Castro (2007, p. 91):
Venuti é conhecido por seu interesse em desvelar as desigualdades
de poder que, em geral, se fazem presentes nos processos
tradutórios. A sua crítica à estratégia de "domesticação", adotada

© Teorias de Tradução 95
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

pela maioria dos tradutores de literatura ficcional nos países


anglófonos, mais especificamente Estados Unidos e Inglaterra, é
uma marca de seu trabalho. É também freqüente a denúncia dos
padrões desiguais de comércio intercultural entre países centrais
e periféricos, decorrentes das relações de poder e de dominação
entre esses países. Ele insiste que a tradução tem poder de
formar identidades culturais, reafirmar ou desfazer estereótipos,
reiterar uma ordem vigente ou transgredi-la.

Dizer não à consumibilidade e procurar realizar traduções


estrangeirizantes, apesar dos apelos mercadológicos por textos
mais "simples e legíveis", não nos parece ser algo tão simples
de ser implementado na prática, uma vez que a grande maioria
dos tradutores literários está subordinada às regras e às
orientações daqueles que os contratam e que irão publicar a
obra. Tais figuras, evidentemente, têm suas políticas editoriais,
que costumam estar atreladas ao lucro advindo da vendagem
das obras traduzidas. Assim, devemos conhecer essas posições
e refletir sobre a possibilidade de sua aplicação sempre que nos
for possível e que julgarmos adequado.

Tradução insuficiente e os provérbios


Segundo a pesquisadora canadense Francesca Worrall
(2002), as notas de rodapé podem ter algumas funções
específicas: inicialmente, elas seriam um modo de desviar o foco
do leitor da narrativa chamando sua atenção para o processo
de tradução; em segundo lugar, mas não menos importante,
Worrall afirma que as notas de rodapé são fontes de informações
usadas, principalmente, quando o tradutor opta pela "tradução
insuficiente" (KARAMCHETI, 1999).
Para a pesquisadora, tais notas servem para "trazer a
tradução para a superfície", exteriorizando-a e tornando visíveis

96 © Teorias de Tradução
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

tanto a tradução quanto o seu tradutor; e, finalmente, as notas


de rodapé servem para ajudar a explicar o contexto cultural em
que se insere o texto de partida e que é transferido para o texto
de chegada (a estrangeirização de Venuti). Para Worrall (2000),
a decisão sobre quais termos serão explicados e sobre quais
não serão, se baseia nas noções do tradutor sobre qual será seu
público-alvo previsto.
Como já observamos anteriormente:
A tradução domesticadora gera a invisibilidade do tradutor que
busca priorizar a intenção do autor adaptando-a para a cultura
local por meio do apagamento de quaisquer traços que possam,
porventura, causar estranhamento ao leitor. Dessa forma, o
tradutor faz com que o seu texto passe por um texto original
sem que o leitor perceba que se trata, na verdade, de um texto
traduzido. O esforço do tradutor em aproximar o texto fonte
da cultura alvo envolve aspectos políticos e sociais que visam a
priorizar o cânone. É, pois, uma leitura conservadora (FREITAS,
2003, p. 56).

Quando o tradutor opta pela estrangeirização em detrimento


da fluência, temos o abandono da tradução etnocêntrica, que
intervém, maciçamente, no texto de partida, e podemos chegar
ao que Indira Karamcheti denominou "tradução insuficiente".
Evidentemente, essa estratégia não é feita aleatoriamente nem
com o intuito de economizar tempo ou de poupar trabalho.
De acordo com Worral (2002), o tradutor deve escolher,
criteriosamente, quais serão os termos mantidos no original.
Em geral, essa opção recai, tradicionalmente, sobre os nomes
próprios e a tradução literal de provérbios.
Na tradução de provérbios, geralmente quando o tradutor
busca a fluência do texto de chegada, faz-se uma tradução
por equivalentes, ou seja, procura-se entender qual seria o

© Teorias de Tradução 97
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

significado do provérbio na língua de partida e se busca, na língua


de chegada, um provérbio que tenha significado equivalente,
como é possível observar no Quadro 2 a seguir:

Quadro 2 Provérbios em inglês e os equivalentes mais próximos


em português.
PROVÉRBIO EM INGLÊS EQUIVALENTE EM PORTUGUÊS
Cobblers’ children never wear shoes. Casa de ferreiro, espeto de pau.
Os melhores perfumes vêm nos menores
Good things come in small packages.
frascos.
A bird in the hand is worth two in the Mais vale um pássaro na mão do que dois
bush. voando.
The road to hell is paved with good De bem intencionados, o inferno está
intentions. cheio.
A burnt child dreads the fire. Gato escaldado tem medo de água fria.
O que os olhos não veem, o coração não
Long absent, soon forgotten.
sente.
Time is money. Tempo é dinheiro.
The early bird catches the worm. Deus ajuda quem cedo madruga.
Looks can be deceiving. As aparências enganam.
Barking dogs seldom bite. Cão que ladra não morde.
Kill two birds with one stone. Matar dois coelhos com uma cajadada só.
Don’t wash your dirty linen in public. Roupa suja lava-se em casa.
Diga-me com quem andas, e eu te direi
Birds of a feather flock together.
quem és.
Uma imagem vale mais do que mil
A picture is worth a thousand words.
palavras.
You scratch my back and I’ll scratch yours. Uma mão lava a outra.
Two is company, three is a crowd. Dois é bom, três é demais.
Quando os gatos se ausentam, os ratos se
When the cat is away, the mice will play.
apresentam.
Business before pleasure. Primeiro a obrigação, depois a diversão.

Entretanto, quando o tradutor opta por uma tradução


estrangeirizante, ele traduzirá os provérbios literalmente,

98 © Teorias de Tradução
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

mostrando, em alguns casos, o quanto a bagagem cultural de um


povo pode se expressar em seus provérbios.
Observe, a seguir, no Quadro 3, a tradução literal de
alguns dos provérbios apresentados anteriormente e reflita
sobre o quanto a postura estrangeirizante pode ser revelado da
cultura estrangeira e, no outro lado da moeda (para usar um dito
popular), a tradução etnocêntrica leva a um texto com fluidez,
mas provoca o apagamento dos itens culturais presentes no
texto de partida.

Quadro 3 Provérbios em inglês, suas traduções literais e os


equivalentes mais próximos em português.
PROVÉRBIO EM INGLÊS TRADUÇÃO LITERAL EQUIVALENTE EM
PORTUGUÊS
Cobblers’ children never Os filhos do sapateiro Casa de ferreiro, espeto de
wear shoes. estão sempre descalços. pau.
Good things come in small As boas coisas vêm nos Os melhores perfumes
packages. pequenos pacotes. vêm nos menores frascos.
A burnt child dreads the A criança queimada tem Gato escaldado tem medo
fire. medo da chuva. de água fria.
The early bird catches the O pássaro que acorda cedo Deus ajuda quem cedo
worm. consegue pegar a minhoca. madruga.
Barking dogs seldom bite. Os cachorros que latem Cão que ladra não morde.
raramente mordem.
Kill two birds with one Matar dois pássaros com Matar dois coelhos com
stone. uma só pedra. uma cajadada só.
Don’t wash your dirt linen Não lave sua roupa suja em Roupa suja lava-se em
in public. público. casa.
A picture is worth a Uma imagem vale mil Uma imagem vale mais do
thousand words. palavras. que mil palavras.
You scratch my back and I’ll Você coça as minhas costas Uma mão lava a outra.
scratch yours. e eu coço as suas.
Business before pleasure. Os negócios devem vir Primeiro a obrigação,
antes do prazer. depois a diversão.

© Teorias de Tradução 99
UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Em alguns casos, a tradução literal revela aspectos


bastantes interessantes da postura de um povo. Por exemplo,
em português, dizemos que "cão que ladra não morde", o que
revela uma certa calma e certeza de que as pessoas que muito
ameaçam jamais irão cumprir.
Já no equivalente em inglês, notamos que o ditado
procura deixar em aberto a possibilidade, ainda que pequena,
de haver um desfecho ruim quando alguém faz ameaças. Afinal,
o advérbio de intensidade utilizado é seldom, não never, como
no equivalente em português.
Se analisarmos o ditado "business before pleasure",
também podemos observar que há uma postura bastante
diferente daquela revelada pelo equivalente em português.
Afinal, business nem sempre é obrigação – uma vez que a palavra
"obrigação" traz consigo uma noção de algo feito a contragosto
– e o prazer pode ser algo muito mais profundo do que a ideia
expressa pela palavra "diversão".
Poderíamos analisar em profundeza os demais provérbios,
mas este não é o objetivo desta unidade. Nosso propósito é
fazê-lo perceber a importância de o tradutor manter-se visível,
quando achar indicado, e de se fazer uma tradução mais literal e
estrangeirizante, expressando, assim, no texto de chegada, uma
maior carga de informações culturais que estão presentes no
texto de partida.
Worrall (2002) propõe que o tradutor vá mais além ao
tentar romper com a tradução etnocêntrica e que ele tenha
por meta manter o caráter estrangeiro de um texto. Para tanto,
a autora apresenta uma experiência que realizou. O excerto a
seguir, extraído de Les cancrelats, do escritor congolês U Tam'si,

100 © Teorias de Tradução


UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

apresenta uma passagem que descreve a morte do personagem


Ndehlou, esposo de Cécile.
Et pendant qu’elle chante, là-bas un tam-tam éructant se pâme.
Parmi les fougères, l’eau clapote. Cécile traverse les marécages
qu’il y a là, pendant la saison des pluies entre Mabindu et la
Mission et où il est dangereux de se hasarder à cette heure de
la nuit. C’est alors le rendez-vous des pires reptiles et des pires
démons!
L’eau clapote, les grenouilles se taisent. Les crapauds se taisent.
Les membres raides du cadavre s’incrustent dans le corps de la
veuve. Une étoile filante précède un long hululement d’oiseau
nocturne. Cécile chante. Brumes, roseaux, fougères!
Une fugue de chouettes, puis une immense langue de feu éblouit
la nuit. De chaque buisson sort un ricanement. Cécile tombe sur
le dos les jambes en l’air.
Comme un sanglot, comme une éclaboussure (U TAM’SI, 1980
apud WORRALL, 2002, p. 92).

Worrall (2002) considera que essa passagem – com toda


a sua atmosfera gótica e sobrenatural –, ao ser diretamente
traduzida para o inglês de modo a ficar fluente, poderia adquirir
um tom exótico, repudiado pela pesquisadora de Quebec. Ela
considera que a estratégia de "tradução insuficiente", proposta
por Karamcheti, poderia ser empregada para estrangeirizar o
texto.
A seguir, no Quadro 4, iremos observar a tradução feita por
Worrall (2002) visando à fluência da leitura do texto de chegada
para um leitor de inglês (à esquerda), e com a substituição dos
nomes de animais e plantas por termos em latim (à direita).

© Teorias de Tradução 101


UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Quadro 4 Tradução de termos de zoologia – opções latinizantes.


And as she sings, an eructating tam-tam And as she sings, an eructating tam-tam
convulses in the distance. The water convulses in the distance. The water
laps among the ferns. laps among the felicineae.

Cécile crosses the marshes that appear Cécile crosses the marshes that appear
during the rainy season between during the rainy season between
Mabindu and the Mission, and where Mabindu and the Mission, and where
it is dangerous to venture at this hour it is dangerous to venture at this hour
of the night. That is the time when the of the night. That is the time when the
worst reptiles and the worst demons worst reptiles and the worst demons
gather there! The water laps. The frogs gather there! The water laps. The
are silent. The toads are silent. The ranidae are silent. The bufonidae
cadaver’s rigid limbs intertwine with the are silent. The cadaver’s rigid limbs
widow’s body. A shooting star, and then intertwine with the widow’s corpse.
the long “whoo-whoo” of a nocturnal A shooting star, and then the long
bird. hululement of a nocturnal bird.

Cécile sings! Fog, ferns, reeds! Cécile sings! Dun, phragmites,


felicineae...!

There is a fugue of owls, then an There is a fugue of strigiforms, then an


enormous tongue of fire dazzles the enormous tongue of fire dazzles the
night. From every bush a sniggering can night. From every bush a sniggering can
be heard. Cécile staggers. Cécile falls on be heard. Cécile staggers. Cécile falls on
her back with her legs straight up in the her back with her legs straight up in the
air. Like a sob, like a splatter. air. Like a sob, like a splatter.
Fonte: adaptado de Worrall (2002).

Ao trocar termos em inglês por seus correspondentes em


latim, a tradutora optou por uma estratégia que nega a invisibili-
dade do tradutor, que revela ao leitor que o texto não pertence à
sua cultura e que, para poder entender o sentido das frases, ele
terá de recorrer a uma pesquisa ou precisará ter conhecimentos
prévios de latim.

102 © Teorias de Tradução


UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Assim, Worrall (2002) propõe a ruptura com a tradução


fluente e etnocêntrica e propõe, também, um texto que procura
transmitir ao leitor a presença do "outro", isto é, da cultura
estrangeira.

Código dos direitos do autor


Em Portugal, país que compartilha conosco não só a língua,
mas também uma série de opiniões e posturas, há o chamado
“código do autor”, que visa a proteção dos direitos da pessoa
que escreve ou cria uma obra.
Nesse código, há alguns artigos que dizem respeito ao
tradutor e sua relação com o autor. Reproduzimos, no Quadro 5
a seguir, alguns artigos interessantes que servem como fonte de
reflexão e como sementes para colegas e futuros colegas.

Quadro 5 Código de direitos do autor.


CÓDIGO DE DIREITO DO AUTOR
ARTIGO 169º – Autorização do autor
1 – A tradução, arranjo, instrumentação, dramatização, cinematização e, em geral,
qualquer transformação da obra só podem ser feitos ou autorizados pelo autor da
obra original, sendo esta protegida nos termos do nº 2 do artigo 3º.
2 – A autorização deve ser dada por escrito e não comporta concessão de exclusivo,
salvo estipulação em contrário.
3 – O beneficiário da autorização deve respeitar o sentido da obra original.
4 – Na medida exigida pelo fim a que o uso da obra se destina, é lícito proceder a
modificações que não a desvirtuem.
ARTIGO 170º – Compensação suplementar
O tradutor tem direito a uma compensação suplementar sempre que o editor, o
empresário, o produtor ou qualquer outra entidade utilizar a tradução para além
dos limites convencionados ou estabelecidos neste Código.

© Teorias de Tradução 103


UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

ARTIGO 171º – Indicação do tradutor


O nome do tradutor deverá sempre figurar nos exemplares da obra traduzida, nos
anúncios do teatro, nas comunicações que acompanham as emissões de rádio e de
televisão, na ficha artística dos filmes e em qualquer material de promoção.
ARTIGO 172º – Regime aplicável às traduções
1 – As regras relativas à edição de obras originais constantes da secção I deste
capítulo aplicam-se à edição das respectivas traduções, quer a autorização para
traduzir haja sido concedida ao editor quer ao autor da tradução.
2 – Salvo convenção em contrário, o contrato celebrado entre o editor e tradutor
não implica cedência nem transmissão, temporária ou permanente, a favor daquele,
dos direitos deste sobre a sua tradução.
3 – O editor pode exigir do tradutor as modificações necessárias para assegurar o
respeito pela obra original e, quando esta implicar determinada disposição gráfica,
a conformidade do texto com ela; caso o tradutor não o faça no prazo máximo de 30
dias, o editor promoverá, por si, tais modificações.
4 – Sempre que a natureza e características da obra exijam conhecimentos
específicos, o editor pode promover a revisão da tradução por técnico de sua
escolha.
Fonte: Portugal (1973).

Como se nota ao analisar os artigos selecionados, em


Portugal, não há a possibilidade de pagamento dos direitos de
tradução e o tradutor está bastante preso à vontade e à opinião
do autor, tendo sua liberdade de escolha quanto ao tipo de
tradução (estrangeirizante ou literal) muito limitada.
Contudo, o referido código assegura ao tradutor uma
remuneração extra a cada vez que o texto traduzido for
reutilizado, reimpresso ou adaptado a outro tipo de mídia.
No Brasil, enquanto a profissão de tradutor não for
totalmente regulamentada, estaremos sempre navegando
em mares nebulosos, pois a postura de alguns clientes difere
bastante da postura de outros.

104 © Teorias de Tradução


UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Alguns se apoiam no Código de Defesa do Consumidor


para criar contratos que demandam pontualidade do tradutor
sob pena de redução dos valores pagos. Outros exigem que o
tradutor faça o serviço usando determinadas CAT tools (que são
ferramentas de tradução computadorizadas e sobre as quais
trataremos em outra unidade desta dobra) e que entregue
suas memórias de tradução sem sequer pensar nelas como um
trabalho intelectual que pode ter levado anos para ser construído.
No entanto, este é um assunto para mais adiante.

5. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Com relação à fluência, naturalidade e idiomaticidade, é INCORRETO
afirmar:
a) Um texto traduzido pode ser idiomático, mas nem por isso terá auto-
maticamente fluência e naturalidade.
b) Para alguns pesquisadores, o tradutor deve estar sempre consciente
de seu papel de mediador não transparente e deve assumir a respon-
sabilidade que demanda tal tarefa.
c) Para muitos teóricos da tradução, tradutores e até mesmo clientes e
leitores, parece intuitivo que uma boa tradução será aquela com flui-
dez, idiomaticidade e naturalidade.
d) Definir o que é uma “boa tradução” é uma tarefa bastante simples e
direta em relação à fluidez e idiomaticidade.

2) Assinale a frase que NÃO TEM RELAÇÃO com a fidelidade do tradutor.


a) Na pós-modernidade, não se entende um texto bem traduzido apenas
como aquele que tem fluidez, idiomaticidade e clareza, mas também
como aquele cujo tradutor se revela sempre que for necessário.

© Teorias de Tradução 105


UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

b) Tanto o conceito da fidelidade quanto o da invisibilidade já foram re-


pensados pelos estudiosos da tradução das últimas décadas.
c) A fidelidade na tradução não é mais entendida como a tentativa de
reproduzir literalmente o texto de partida.
d) O significado de um texto não se encontra no conjunto de palavras que
o compõe, o que faz com que nem a máxima equivalência alcançável
resulte em uma tradução que, na visão tradicionalista, possa ser con-
siderada boa.

3) To show off or to keep a low profile – afinal, qual deve ser a posição do
tradutor?
a) Como o tradutor ganha proporcionalmente à sua fama, ele deve pro-
curar ser o mais popular possível.
b) Pessoas tímidas jamais serão boas tradutoras.
c) Além do autor da obra, o nome do(s) tradutor(es) também deve figu-
rar na Ficha Catalográfica, e deve ser citado nas referências.
d) A personalidade do tradutor não tem nenhuma relação com a quali-
dade de seu trabalho, já que a tradução é uma atividade mecânica e
impessoal.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) d.

2) a.

3) c.

6. CONSIDERAÇÕES
O conteúdo desta unidade nos levou a refletir sobre alguns
aspectos importantes das teorias de tradução, mas sem que
perdêssemos de vista a importância desses conceitos na prática.

106 © Teorias de Tradução


UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

Pudemos notar que o tema "invisibilidade" pode ser


abordado de diferentes maneiras. Um texto fluente, por exemplo,
sem erros nem traduções literais, faz o leitor "esquecer" que
está diante de uma tradução. Portanto, o tradutor pode se dizer
"invisível" nesse tipo de tradução.
Há, também, a invisibilidade ligada a uma característica
própria de certos tradutores ou de certos tipos de tradução,
que é aquela na qual o tradutor fica no anonimato, em que ele
não é citado nem se revela ao usuário do texto traduzido, pois
seu nome não aparece. O terceiro aspecto da invisibilidade diz
respeito aos posicionamentos políticos pelos quais o tradutor
faz um apagamento das marcas culturais do texto, do caráter
estrangeiro do texto de partida e de si mesmo.
Quanto a esse terceiro tipo, há autores que propõem,
em contrapartida, um texto estrangeirizado, no qual seriam
propositalmente mantidas as marcas de estrangeirismo, e,
portanto, o tradutor iria se tornar forçosamente visível. Como
estudante de tradução, você deve conhecer cada um desses
tipos e deve ter sua opinião sobre os posicionamentos a serem
tomados em cada caso.
Até a próxima unidade!

7. E-REFERÊNCIAS
CASTRO, M. S. Tradução, ética e subversão: desafios práticos e teóricos. Rio de Janeiro:
PUC, 2007. (Dissertação de Mestrado). Disponível em: <http://www2.dbd.puc-rio.br/
pergamum/tesesabertas/0510555_07_pretextual.pdf>. Acesso em: 26 maio 2015.
SANTANA, V. D. O silêncio: tradução ideal – da tradução total à tradução impossível.
Cadernos de tradução, v. 1, n. 21, 2008. Disponível em: <www.periodicos.ufsc.br/
index.php/traducao/article/viewFile/8229/7585>. Acesso em: 26 maio 2015.

© Teorias de Tradução 107


UNIDADE 4 – Invisibilidade do Tradutor: Ideal a ser Alcançado ou Aspecto a ser Evitado?

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERMAN, A. A prova do estrangeiro: cultura e tradução na Alemanha romântica –
Herder, Goethe, Schlegel, Novalis Humboldt, Schleiermacher, Hölderlin. Tradução de
Maria Emília Pereira Chanut. Bauru: EDUSC, 2002.
BOHUNOVSKY, R. A. (Im)possibilidade da “invisibilidade” do tradutor e da sua
"fidelidade": por um diálogo entre a teoria e a prática de tradução. In: Caderno de
tradução, n. 8, 2001.
ESTEVES, L. A ética da tradução e seus limites. Rio de Janeiro: Palavra, 1997.
FREITAS, L. F. de F. Tradução e autoria: de Schleiermacher a Venuti. Cadernos de
tradução, v. 1, n. 21, p. 95-107, 2008.
______. Visibilidade problemática em Venuti. Cadernos de tradução, v. 2, n.12, p. 55-
63, 2003.
KARAMCHETI, I. Research in African Literatures. v. 30, v. 3, Aime Cesaire’s Subjective
Geographies: Translating Place and the Difference it Makes, p. 181-197, 1999.
MENDES, D. R. Monteiro Lobato, o tradutor. Monografia apresentada para a obtenção
do grau de Bacharel em Letras: Ênfase em Tradução – Inglês pela Universidade Federal
de Juiz de Fora, Rio de Janeiro, 2002.
PINHO, J. A. O escritor invisível: a tradução tal como é vista pelos tradutores
portugueses. Lisboa: Quidnovi, 2006.
PORTUGAL. Código do direito de autor e dos direitos conexos – lei n. 5.988 do código
de Portugal, de 13 de dezembro de 1973.
VENUTI, L. The translators invisibility. Londres, Nova York: Routdedge, 1995.
WORRALL, F. The cockroach and the rooster: a translation, with preface, of Tchicaya
U Tam’Si’s Les cancrelats. Tese apresentada ao Department of Études françaises para
obtenção do grau de Magisteriate in Arts na Universidade Concordia de Montreal,
Quebec, Canadá. Abril de 2002.

108 © Teorias de Tradução


UNIDADE 5
O Albergue do Longínquo

Objetivos
• Interpretar os temas “tradução etnocêntrica”,
“deformação” e “texto traduzido”.
• Identificar os diferentes tipos de deformações, saber
detectá-las nos textos traduzidos e entender suas
implicações na qualidade da tradução.
• Categorizar os elementos bermanianos que devem ser
levados em consideração ao analisar-se uma tradução
ou ao realizá-la.

Conteúdos
• Quem foi Antoine Berman?
• Antoine Berman e as deformações.
• As deformações de um texto traduzido.
• Etnocentrismo e estrangeirismo.

109
UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações
a seguir:

1) Caso você esteja interessado em ler algumas obras


de Berman, pode começar por A tradução e a letra ou o
albergue do longínquo, publicada em português no ano
2008. Consulte o tópico de referências bibliográficas
ao final desta unidade.
2) Reflita sobre o significado da palavra "deformação".
Você acha que essa palavra está ligada a consequências
positivas ou negativas? Qual seria, na sua opinião,
a diferença básica entre "deformar", "reformar" e
"transformar"?
3) Para saber mais sobre o Projeto Compara, visite o
seu website no link que se encontra no tópico de
E-referências ao final desta unidade.

110 © Teorias de Tradução


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

1. INTRODUÇÃO
Na Unidade 4, você teve a oportunidade de conhecer
a definição de “visibilidade” e de “invisibilidade”, os teóricos
favoráveis e contrários à invisibilidade do tradutor e seus
argumentos, bem como a tradução estrangeirizante, a tradução
insuficiente e a tradução domesticadora.
Com tais conhecimentos, iniciaremos o estudo da Unidade
5 com uma pequena introdução sobre quem foi Antoine Berman
e sobre as deformações de um texto traduzido. Aprenderemos,
também, sobre o etnocentrismo e o estrangeirismo.
Bom estudo!

2. QUEM FOI ANTOINE BERMAN?


Antoine Berman foi um tradutor, historiador e teórico da
tradução nascido na França, em 1942, e falecido em 1991.
Vejamos a descrição de Battisti (2000) sobre Berman:
[...] o que é traduzir? Que lugar ocupa a tradução dentro de uma
cultura? No que consiste esta operação de transposição de uma
língua para outra, que é “a prova do estrangeiro”?
Antoine Berman, doutor em lingüística e tradutor de textos
literários alemães e latino-americanos, aborda em A prova do
estrangeiro questões como essas estudando uma época e uma
cultura nas quais elas foram colocadas com vigor e paixão,
tornaram-se objeto de inúmeros debates e receberam respostas
diferentes: a Alemanha romântica. “Nós sentimos”, escreveu
Schleirmacher em 1828, “que a nossa língua não poderá
desenvolver a sua verdadeira força a não ser através dos contatos
mais freqüentes com o estrangeiro” (BATTISTI, 2000, p. 122).

© Teorias de Tradução 111


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

Falar de Berman é tocar em uma polêmica filosófica: o


texto culturalmente marcado, ao ser traduzido, deve continuar
com essas marcas ou elas devem ser apagadas/adaptadas para
que não causem estranhamento na cultura de chegada? Com
relação a esse dilema, há diversas posturas. Veremos algumas
delas a seguir.
A tradução etnocêntrica considera “estrangeiro” tudo o
que estiver fora da cultura do público-alvo e procura trazer todas
as referências culturais estrangeiras presentes no texto a ser
traduzido para sua própria cultura, suas normas e seus valores.
Desse modo, para a tradução etnocêntrica, o termo "estrangeiro"
tem uma conotação negativa e deve ser evitado.
Por essa razão, a postura etnocêntrica defende que as
marcas culturais do texto de partida sejam apagadas, adaptadas
ou, se muito, anexadas, a fim de privilegiar a cultura de chegada.
Segundo Battisti (2000), o maior drama do tradutor talvez
seja o expresso pelo dilema "ser fiel ou trair o original". Em
outras palavras: servir à obra do autor estrangeiro ou servir à
própria língua e ao público de chegada.
Em sua obra póstuma Pour une critique des traductions:
John Donne, Berman (1995) defende que a crítica de tradução
seja entendida como um novo gênero de crítica literária.
Já em seu texto La traduction et la lettre ou l’auberge
du lointain (1985), o historiador francês critica a tradução
etnocêntrica. Berman defende um modo de traduzir que
conserva as características da língua de partida.
Esse tipo de tradução, denominado por Battisti (2000)
como antietnocêntrica, rejeita a tradução domesticadora, que
apaga as marcas culturais e que se apodera do texto dando

112 © Teorias de Tradução


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

a ele um “gosto local”. A pesquisadora mostra que, embora


Berman declare propor uma crítica de base não subjetiva e
não dogmática, acaba elaborando uma crítica pautada em sua
concepção antietnocêntrica.
Desse modo, Antoine Berman acaba por defender uma
tradução literal ou, de certa forma, literalizante. Segundo ele, o
termo "literal" deve ser entendido no sentido poético e, portanto,
criativo. Em La traduction et la lettre ou l’auberge du lointain, o
historiador e teórico da tradução desenvolve reflexões bastantes
importantes sobre o tema, como podemos observar a seguir:
Nada de traduzir palavra por palavra. Berman invoca uma
literalidade distinta. Não algo que possa lembrar o decalque ou a
mera reprodução, mas aquela que trabalha sobre a letra (e não
apenas sobre o sentido) para tirar da letra a tradução. Refuta
a tradução ‘etnocêntrica’ (em certo sentido, ‘naturalizante’),
fundada na crença da superioridade de uma língua (para a qual
se traduz) sobre outra. Refuta a tradução ‘hipertextual’, que gera
textos por processos imitativos. Refuta, por fim, a separação
‘platônica’ entre letra e sentido, que, na corrente tradutória
ocidental, teria produzido o desprezo pelo material (‘letra morta’)
em favor do espiritual (o ‘sentido’) (FERREIRA, 2008, p. 1).

Como podemos observar, Berman rejeita a ideia de que


tradução é captação de sentido, e, para ele, traduzir deveria ser
um exercício ético, poético e pensante ao mesmo tempo. De
acordo com Ferreira (2008, p. 1):
O ético aqui pode significar a busca de vínculo o mais próximo
possível com a ‘verdade’ (tal como expressa na letra do texto),
enquanto o poético corresponderia ao elemento ao mesmo
tempo criativo e fundamente calcado na materialidade das
palavras (é na poesia que letra e sentido criam vínculo o mais
dificilmente dissolúvel). O pensante, para Berman, seria privilegiar
a reflexão (e o trabalho) sobre o texto (como unicidade, como
letra) em detrimento da concepção (antifilosófica) de categorias

© Teorias de Tradução 113


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

estáticas e irremediavelmente separadas (‘corpo’ e ‘alma’, ‘letra’


e ‘sentido’).

3. ANTOINE BERMAN E AS DEFORMAÇÕES


Berman (2008) afirma que a forma de tradução mais aceita
para os textos literários e mais reconhecida no mundo ocidental –
isto é, a etnocêntrica – provoca diversos tipos de "deformações"
no texto traduzido.
Para ele, as deformações podem ser resumidas em 13
tendências que apresentaremos, esquematicamente, no Quadro
1 a seguir explicaremos em detalhes cada tendência.

Quadro 1 As deformações de um texto literário traduzido


segundo Berman.
Recomposição de frases obedecendo à disposição
discursiva da língua de chegada.
Racionalização
Transformação de parágrafo longo em frases mais
curtas e de estrutura sintática mais linear.
Explicitação de informações que o texto de partida
Clarificação
deixou implícitas.
Alongamento Tradução que tende a ser mais longa do que o original.
Introdução de elementos estéticos não presentes no
Enobrecimento
texto de partida para tornar a tradução "mais bela".
Uso da linguagem oral.
Empobrecimento
qualitativo Substituição de elementos por outros que não têm a
mesma riqueza significante.
Empobrecimento Uso de um número menor de significantes.
quantitativo Omissão de itens lexicais ou eliminação de frases.
Homogeneização Unificação do colorido.
Quebra do ritmo do original.
Destruição dos ritmos
Eliminação ou modificação da sonoridade do texto.

114 © Teorias de Tradução


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

Destruição das redes de Não transmissão do texto subjacente ao original, mas


significantes subjacentes apenas do significado superficial.
Destruição dos Introdução de palavras ou de expressões que não
sistematismos constavam do original.
Mudança na estrutura de frases pela mudança nos
tempos verbais.
Destruição ou exotização
das redes de linguagem Tendência a usar uma linguagem mais culta.
vernacular
Destruição das locuções Eliminação de locuções, provérbios etc.
Apagamento das
Eliminação dos diferentes falares coloquiais e regionais.
superposições de línguas
Fonte: adaptado de Berman (2008).

Tais deformações, segundo Berman (2008, p. 75), formam


um "todo sistemático cujo fim é a destruição, não menos
sistemática, da letra dos originais em benefício do sentido
e da bela forma". É possível percebermos que o autor critica,
profundamente, a destruição que a tradução etnográfica
provoca no jogo de significantes presentes no texto – a assim
chamada “letra”. Vejamos, a seguir, cada uma dessas tendências
analisadas mais detidamente:
• Racionalização: diz respeito às estruturas sintáticas
do original e à sua pontuação. Ao racionalizar um
texto, o tradutor recompõe as frases, de maneira a
organizá-las, obedecendo à disposição discursiva da
língua de chegada. Assim, a deformação do original
ocorre quando o tradutor transforma, por exemplo,
um parágrafo longo e repleto de períodos compostos
em frases mais curtas e de estrutura sintática mais
linear.
• Clarificação: o texto de partida, por ser escrito em uma
língua "estrangeira", deixa algo implícito, e a tradução

© Teorias de Tradução 115


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

tende a explicitar essas informações. Berman (1999)


define a clarificação da seguinte maneira:
[...] la clarification est inhérente à la traduction dans la
mesure où tout acte de traduire est explicitant [...]. Mais en
un sens négatif, l'explicitation vise à rendre ‘clair’ ce qui ne
l'est pas et ne veut pas l'être dans l'original. Le passage de la
polysémie à la monosémie est un mode de clarification. La
traduction paraphrasante ou explicative, un autre (BERMAN,
1999, p. 71, grifo nosso).
Assim, para esse estudioso francês, "todo ato de traduzir
leva a uma explicitação" (BERMAN, 1999, p. 75), uma vez que
torna explícitos os sentidos ocultos pela língua de partida.
• Alongamento: a tradução tende a ser mais longa do
que o original, e isto ocorre, em parte, devido às duas
tendências expostas anteriormente. É evidente que, ao
explicitar e racionalizar um texto, ele acabará ficando
mais longo.
É importante lembrar que algumas línguas, por razões
sintáticas ou morfológicas, produzem textos naturalmente mais
longos do que outras. Vejamos, a título de exemplo, três línguas
muito conhecidas e utilizadas pelos tradutores brasileiros: o
espanhol, o inglês e, obviamente, o português.
Apenas para podermos fazer uma comparação, vejamos
um texto científico – que, teoricamente, não sofreria esse tipo
de deformação apontada por Berman (1999): Se o texto em
inglês tiver 1.000 palavras, sua tradução para o português terá,
aproximadamente, 15% a mais de palavras, portanto, em torno
de 1.150 palavras. Se, na sequência, esse texto em português for
passado para o espanhol, haverá um aumento de cerca de mais
10% de palavras, chegando a quase 1.250 palavras, o que nos

116 © Teorias de Tradução


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

leva a perceber que o texto em espanhol será 25% maior do que


o "mesmo" texto em inglês.
Os corpora paralelos (compostos de um texto original,
e sua tradução), são excelentes para sistematizar a análise
comparativa de textos traduzidos. Na internet é possível
encontrar alguns corpora paralelos de acesso livre. Frankenberg-
Garcia (2008) discorre sobre o tema e apresenta o COMPARA.
Vejamos o exemplo no Quadro 2 a seguir, no qual podemos
analisar o original de um excerto do livro Therapy, de David Lodge,
e sua tradução, feita pela excelente tradutora portuguesa Maria do Carmo
Figueira, ambos extraídos do corpus “Compara”:

Quadro 2 Tradução de um excerto do livro Therapy, de David


Lodge.
I don’t like the way that, not infrequently, Não gosto que as portas de correr
but never when the air-conditioning automáticas em cada uma das pontas da
has failed, the automatic sliding doors carruagem empanem e fiquem abertas,
at each end of the coach jam in the o que acontece não poucas vezes (mas
open position, and can not be closed nunca quando o ar condicionado se
manually, or if they can be closed, slowly avaria) , pois torna-se impossível fechá-
open again of their own accord, or are las manualmente, ou então, se alguém
opened by passing passengers who leave consegue fechá-las, voltam a abrir-se
them open assuming that they will close lentamente por iniciativa própria ou são
automatically, obliging you either to leap abertas por passageiros que mudam
up every few minutes to close the doors de carruagem e as deixam abertas no
or sit in a permanent draught. pressuposto de que voltarão a fechar-
se automaticamente, obrigando uma
pessoa a levantar-se constantemente
para fechar a porta ou a ficar sentada
no meio de uma corrente de ar o tempo
todo.
Referência: LODGE, D. Therapy. Londres: Referência: LODGE, D. Terapia. Tradução
Secker & Warburg, 1995, pp. 3-97. de Maria do Carmo Figueira. Lisboa:
Gradiva, 1995, p. 11-88.
Fonte: Compara (2010).

© Teorias de Tradução 117


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

Pela simples observação visual, já é possível notar que o texto


traduzido é mais longo do que seu original. Em termos numéricos,
o original tem 84 palavras e a tradução tem 97 palavras.
Evidentemente, sendo esta uma tradução publicada, feita
por uma tradutora profissional, já notamos que esse aumento
no número de palavras não representa um "erro", mas, sim, um
recurso usado para dar mais naturalidade e idiomaticidade ao
texto, além de ser, como vimos anteriormente, uma característica
própria da comparação do número de palavras de textos em
inglês e em português.
Também é importante observar que, sendo feita a tradução
para a variante portuguesa – o português de Portugal, o português
continental ou PT-PT, como é chamada por alguns autores a língua
de nossos irmãos "d'além-mar” –, o texto traduzido nos parece
mais formal. Entretanto, esta não é a formalidade causada pela
tradução, mas, sim, uma sensação de formalidade que temos ao
ler pela primeira vez os textos escritos por autores portugueses.
No Quadro 3, a seguir, veremos um exemplo que contém
o original de um excerto do livro Benjamin, de um de nossos
autores mais geniais, Chico Buarque de Hollanda, e que também
contém a tradução feita por Cliff Landers, é bastante revelador:
embora o original seja em português e a tradução esteja em
inglês, vemos que as 56 palavras do texto de partida foram
convertidas em 71 palavras no texto de chegada, ou seja, temos
um aumento aparente de 28%.
Observamos, portanto, que mesmo estando o texto
traduzido em uma língua na qual se esperaria um número de
palavras cerca de 15% menor (cerca de 47 a 50 palavras), houve
um aumento real de 42%, já que o salto foi de 47 palavras

118 © Teorias de Tradução


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

esperadas para 71 palavras no texto em inglês. Sim, isto é o que


Berman (1995) denominou “alongamento”.

Quadro 3 Tradução de um excerto do livro Benjamin, de Chico


Buarque de Hollanda.
Se uma câmera focalizasse Benjamim If a camera were to focus on Benjamin
na hora do almoço, captaria um homem at lunchtime, it would capture a tall,
longilíneo, um pouco curvado, com slender man, slightly stooped, with
vestígios de atletismo, de cabelos traces of an athletic past and white but
brancos mas bastos, prejudicado por abundant hair, hardly helped by a seven-
uma barba de sete dias, camisa para day growth of beard, his shirt outside his
fora da calça surrada aparentando worn trousers, giving the appearance of
desleixo e não penúria, estacionado em carelessness but not hardship, stationed
frente ao Bar-Restaurante Vasconcelos, in front of the Vasconcelos Bar and
tremulando os joelhos como se Restaurant, his knees tremulous as if he
esperasse alguém. were waiting for someone.
Referência: HOLLANDA, C. B. Benjamim. Referência: HOLLANDA, C. B. Benjamin.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995, Tradução de Cliff Landers. Londres:
pp. 9-52. Bloomsbury, 1997, pp. 3-45.
Fonte: Compara (2010).

Vejamos a seguir mais algumas deformações elencadas


por Berman:
• Enobrecimento: o tradutor procura tornar a tradução
"mais bela" introduzindo elementos estéticos que
não estavam presentes no texto de partida. Muitas
vezes, essa tendência pode ser explicada pelo fato de
o tradutor conhecer o trabalho do autor e de admirá-
lo, procurando, inconscientemente, produzir um texto
"à altura" da criação literária que está traduzindo.
Nesse esforço, o tradutor utiliza um vocabulário mais
rebuscado e frases "elegantes", mesmo que esse tipo
de vocabulário e frases não esteja presente no original.

© Teorias de Tradução 119


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

• Empobrecimento qualitativo: “é o processo inverso ao


enobrecimento, sendo marcado pelo uso da linguagem
oral, como gírias e pseudogírias” (BERNIERI, 2009).
Essa tendência remete à substituição dos elementos do
original por elementos que não têm a mesma riqueza
significante dos primeiros.
• Empobrecimento quantitativo: remete a uma perda
lexical; há o uso, na tradução, de um número menor de
significantes do que havia no original, pela omissão de
itens lexicais ou pela eliminação de frases intercaladas e
substituídas por adjetivos, por exemplo.
Em relação aos dois itens anteriores (empobrecimento
quantitativo e empobrecimento qualitativo), podemos perceber
sua presença nos excertos a seguir, Quadro 4, extraídos do livro
Therapy.

Quadro 4 Tradução de um excerto do livro Therapy, de Lodge.


She’d worked bloody hard, doing an Tinha trabalhado intensamente para
M.Ed. part-time while being Deputy fazer um mestrado, ao mesmo tempo
Head of a Junior School in Stoke que estava no conselho directivo* da
Newington, and the advertisement Escola Preparatória de Stoke Newington,
for the lectureship in the Education e o anúncio da vaga no departamento
Department at Rummidge Poly was de educação do Instituto Politécnico
bang on the nose of her research de Rummidge vinha mesmo a calhar
field, psycholinguistics and language para o âmbito de especialização da Sally
acquisition (don’t ask me to explain it) Psicolinguística e Aquisição da Linguagem
(não me peçam para explicar).
Referência: LODGE, D. Therapy. Londres: Referência: LODGE, D. Terapia. Tradução
Secker & Warburg, 1995, pp. 3-97. de Maria do Carmo Figueira. Lisboa:
Gradiva, 1995, pp. 11-88.

*Grafado originalmente em português


de Portugal.
Fonte: Compara (2010, grifo nosso).

120 © Teorias de Tradução


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

Nesse trecho, podemos encontrar diversas "deformações",


sendo que as marcas mais evidentes estão realçadas em negrito.
A tradução de "bloody hard" como "intensamente" é um exemplo
da “exotização das redes de linguagem vernacular” (como
veremos mais adiante). No original, temos o termo "part-time"
cuja tradução foi omitida, o que revela um “empobrecimento
quantitativo”.
Já a tradução de "was bang on the nose" por “vinha
mesmo a calhar” pode ser entendida como uma “destruição
das locuções” ou uma “destruição dos ritmos” pela perda da
sonoridade da expressão. Evidentemente, como já citamos,
todas essas "destruições", como dizia Berman (1995), não são
capazes de destruir (no sentido denotativo da palavra) o texto
traduzido, ou seja, todas essas "deformações" estudadas, quando
controladas e manejadas por mãos hábeis, não implicarão em
perda da qualidade do texto traduzido (como observamos nesse
exemplo), mas, sim, em modulações entre o texto de partida e o
de chegada.
Há, ainda, outras deformações que foram sistematizadas
por Berman, como a homogeneização, a destruição dos ritmos e
das redes de significação:
• Homogeneização: o tradutor tende a unificar, em
todos os planos, o colorido do texto original, que,
originariamente, tem uma natureza heterogênea. A
homogeneização é uma tendência que pode ser fruto
de uma ou mais das demais tendências estudadas.
• Destruição dos ritmos: é a quebra, pela tradução,
do ritmo do original, provocando a eliminação ou a
modificação (que, inúmeras vezes, pode ser ainda mais
nefasta) da sonoridade do texto, o que pode acontecer

© Teorias de Tradução 121


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

quando o tradutor altera a pontuação e quebra a


musicalidade existente no texto original.
• Destruição das redes de significantes subjacentes: é
uma deformação bastante comum quando o tradutor
não compartilha com o autor quaisquer conhecimentos
culturais ou linguísticos, o que dá ao texto mais de
uma interpretação ou a um item lexical um significado
polissêmico, isto é, com múltiplos sentidos. Nesse caso,
a tradução acaba não transmitindo o texto subjacente
ao original, mas, apenas, o significado superficial.
É importante salientar que, entre os tradutores
profissionais, a destruição das redes de significantes subjacentes
pode ocorrer mesmo quando estes percebem sua existência, mas
não encontram na língua de chegada (ou na cultura de chegada)
uma forma equivalente que carregue em si toda a significação do
texto de partida.
Segundo Berman, algumas deformações ocorrem no nível
mais profundo dos textos, ou seja, nos aspectos estruturais,
vernaculares, locucionais e relativos às repetições, como
veremos a seguir:
1) Destruição dos sistematismos:
[...] sistematismos são aspectos que se repetem no original,
são sistemáticos, formam um sistema. A destruição da
sistemática pode decorrer pela introdução de palavras
ou expressões no texto traduzido que não constavam
do original, pela mudança da estrutura de frases ou pela
mudança de tempo verbal (PRAZERES, 2007, p. 47).
2) Destruição ou exotização das redes de linguagem
vernacular: por linguagem vernacular, entendemos
linguagem do povo, oralidade, língua menos formal.

122 © Teorias de Tradução


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

O tradutor, segundo Berman (1995), tem tendência


a usar uma linguagem mais culta, o que leva a um
apagamento dos traços que caracterizam a prosa,
principalmente no romantismo, que prega a volta do
uso da linguagem falada pelo povo.
3) Destruição das locuções: consiste na eliminação de
locuções e provérbios, entre outros, quando o tradutor
substitui tais elementos por formas de significado
equivalente, mas sem o mesmo valor estilístico.
4) Apagamento das superposições de línguas: conforme
Prazeres (2007), na escrita em prosa, usa-se a língua
culta entrelaçada aos diferentes falares coloquiais e
regionais. Na tradução etnocêntrica, esses falares,
muitas vezes, são apagados e substituídos pela norma
padrão da língua culta.
Você deve ter percebido que essas deformações, em alguns
casos, não ocorrem isoladas e que algumas delas podem ocorrer,
simultaneamente, em um mesmo texto; em alguns casos, podem
estar presentes em diferentes gradações no decorrer do texto ou
sobrepondo-se umas às outras. Uma maneira de "afinar o olhar",
para tornar-se capaz de perceber as alterações sofridas por um
texto traduzido, é fazer análises comparativas entre um original
e sua tradução.
Note que os exemplos apresentados foram retirados do
site do Projeto Compara, que é um corpus paralelo de português
e inglês que possui textos cujos originais estão em português e
suas traduções em inglês, bem como textos traduzidos do inglês
para o português, que podem ser usados para pesquisas de
tradução e de estratégias, entre outros, uma vez que é uma base
de dados com textos originais nessas duas línguas e com suas
respectivas traduções.

© Teorias de Tradução 123


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

4. DEFORMAÇÕES E MAIS DEFORMAÇÕES


Berman (1995) afirma que talvez o ato tradutório possa
introduzir outras alterações no texto de partida, pois algumas
tendências convergem ou derivam de outras. O estudioso
considera que todas as traduções feitas no mundo ocidental,
independentemente de quais sejam as línguas envolvidas,
sofrem essas deformações, que são traços típicos deixados por
uma tradição etnocêntrica de tradução.
Para ele, na cultura do Ocidente, o objetivo do tradutor
é produzir textos fluentes como se estes tivessem sido escritos
na língua da cultura receptora, tornando invisível o elemento
estrangeiro que permeia a obra a ser traduzida.
A postura bermaniana, como foi possível observar, é contra
o etnocentrismo e considera antiético, entre outras alegações,
privar o texto traduzido de seu caráter estrangeiro, pois essa
postura acaba impedindo que a cultura de chegada possa se
beneficiar pelo contato com a cultura que produziu o texto
original.

5. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Segundo as informações que você recebeu nesta unidade, assinale a al-
ternativa que apresenta informações que NÃO ESTÃO RELACIONADAS a
Berman:
a) Antoine Berman recebeu o título de doutor em linguística e atuou
como tradutor de textos literários alemães e latino-americanos.

124 © Teorias de Tradução


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

b) Antoine Berman foi um tradutor, historiador e teórico da tradução nas-


cido na França, em 1942, e falecido em 1991.
c) Berman estava preocupado com os direitos dos imigrantes, por isso
escreveu um texto em que citava “a prova do estrangeiro”.
d) Berman afirma que a forma de tradução etnocêntrica provoca diversos
tipos de “deformações” no texto traduzido.

2) Assinale a alternativa FALSA com relação às traduções etnocêntricas.


a) A postura etnocêntrica defende que as marcas culturais do texto de
partida sejam mantida e preservadas.
b) A tradução etnocêntrica considera “estrangeiro” tudo o que estiver
fora da cultura do público-alvo.
c) A tradução etnocêntrica procura trazer todas as referências culturais
estrangeiras presentes no texto a ser traduzido para sua própria
cultura, suas normas e seus valores.
d) Para a tradução etnocêntrica, o termo “estrangeiro” tem uma conota-
ção negativa e deve ser evitado.

3) Assinale a alternativa CORRETA:


a) Antoine Berman acaba por defender uma tradução literal ou, de certa
forma, literalizante.
b) Em seu texto La traduction et la lettre ou l’auberge du lointain (1985), o
historiador francês Berman defende a tradução etnocêntrica.
c) Berman criticou um modo de traduzir que conserva as características
da língua de partida.
d) Berman defende a ideia de que tradução é captação de sentido, e, para
ele, traduzir não precisaria ser um exercício ético.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) c.
2) a.
3) a.

© Teorias de Tradução 125


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

6. CONSIDERAÇÕES
Estrangeirizar ou domesticar? Este é apenas um dos
muitos dilemas que o tradutor terá de enfrentar em sua jornada
profissional.
A resposta não está pronta nem é única para todos os casos
e situações, pois um mesmo texto pode tomar rumos diferentes
dependendo de quem irá lê-lo ou ouvi-lo e dependendo, também,
do momento em que ele é traduzido, de qual a finalidade da
tradução, de quem está traduzindo, entre outras variantes. Sim,
nossa conclusão desta unidade é de que tudo vai depender de
uma série de fatores.
Então, o tradutor pode fazer “qualquer coisa”? É claro que
não, ele deve agir segundo seus princípios filosóficos, linguísticos,
teóricos e, até mesmo, pessoais, e terá de levar em conta esse
posicionamento a cada nova escolha, a cada frase e a cada
novo texto. Complicado? Talvez, mas fascinante e revigorante,
pois trabalhar com tradução significa nunca ter rotina, estar
sempre precisando tomar decisões e saber argumentar, quando
questionado, sobre o porquê de se ter sido tomada essa ou
aquela decisão.

7. E-REFERÊNCIAS
BATTISTI, P. A. S. S. O. A crítica de tradução em Antoine Berman: reflexo de uma
concepção anti-etnocentrica da tradução. Campinas: Instituto de Estudos da
Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, 2000. (Dissertação de Mestrado).
Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000199299>. Acesso
em: 27 maio 2015.
BERNIERI, S. R. As deformações na tradução dos coloquialismos em The Color Purple.
Disponível em: <http://simoneraquel.files.wordpress.com/2009/04/monografia-final-
simone-13042009.doc>. Acesso em: 27 maio 2015.

126 © Teorias de Tradução


UNIDADE 5 – O Albergue do Longínquo

COMPARA. Corpus paralelo bidirecional de português e inglês. Disponível em: <http://


www.linguateca.pt/COMPARA/compara_pt.html>. Acesso em: 24 jul. 2015.
FERREIRA, E. Antoine Berman e a tradução da letra. Disponível
em: <http://rascunho.rpc.com.br/index.php?ras=secao.
php&modelo=2&secao=2&lista=1&subsecao=5&ordem=2788&semlimite=todos>.
Acesso em: 25 jul. 2015.
FRANKENBERG-GARCIA, A. Compilação e uso de corpora paralelos. Disponível em:
<http://www.letras.etc.br/ebralc/Frankenberg-Garcia.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2015.
PRAZERES, S. C. M. O. Estudo sobre a tradução do conto The Happy Prince, de Oscar
Wilde. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2007. (Dissertação de
Mestrado). Disponível em: <http://www.pget.ufsc.br/curso/dissertacoes/Silvana_
de_C_Mendes_Oliveira_-_Dissertacao.pdf>. Acesso em: 27 maio 2015.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERMAN, A. A tradução e a letra ou o albergue longínquo. Rio de Janeiro: 7 Letras,
2008.
______. La traduction et la lettre ou l’auberge du lointain. Paris: Seuil, 1999.
______. Pour une critique des traductions: John Donne. Paris: Gallimard, 1995.

© Teorias de Tradução 127


© Teorias de Tradução
UNIDADE 6
Unidade 6 – Procedimentos Técnicos
da Tradução: Embasamento Teórico
e Exemplos Autênticos

Objetivos
• Interpretar os procedimentos técnicos disponíveis
no universo tradutório para poder compreender os
aspectos relevantes e úteis à prática da profissão e
relacionados ao tópico.
• Identificar os exemplos autênticos de cada categoria
para interiorizar seus conceitos.
• Classificar os procedimentos técnicos de tradução em
situações reais.
• Distinguir os pontos favoráveis e contrários ao uso de
cada procedimento técnico de tradução.
• Constatar os melhores momentos e as melhores
situações de cada um dos procedimentos técnicos de
tradução estudados.

129
UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Conteúdos
• Definição de “procedimentos técnicos de tradução” e as
diferentes classificações e categorizações.
• Teóricos mais influentes no assunto.
• Exemplos autênticos e sua conceituação.
• Situações em que cada procedimento técnico de
tradução.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações
a seguir:

1) Sugerimos que você reflita sobre a seguinte questão:


Existe uma maneira "correta" de traduzir (não do
ponto de vista de conteúdo, mas sim pensando em
termos da sistemática de tradução). Ou seja, será que
os tradutores profissionais simplesmente "traduzem",
ou eles refletem sobre as palavras que vão escolher?
Será que existem técnicas para traduzir, ou as pessoas
apenas decoram significados de palavras em duas
línguas e vão fazendo substituições?
2) No decorrer do texto desta unidade, falaremos
bastante sobre o Projeto Compara. Para obter mais
informações sobre esse projeto e as demais iniciativas
da Linguateca e do Polo FLUP (da Universidade do
Porto, em Portugal), é de grande importância que você
consulte o site Compara. Disponível em:< http://www.
linguateca.pt/COMPARA/compara_intro.php>. Acesso
em: 28 maio 2015.

130 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

3) Você já leu algum livro de Mia Couto? Sabe por que


ele tem esse nome? Faça uma pesquisa na internet
e descubra, acredito que você vai gostar de saber o
motivo.

Mia Couto
Escritor moçambicano, filho de um casal português que emigrou para
Moçambique em meados do século 20, é extremamente conhecido na
Europa e começou a ser valorizado, também, em terras brasileiras quando
teve alguns de seus livros publicados pela Companhia das Letras na última
década. Não deixe de conhecer as obras desse autor de renome internacional,
traduzidas para diversos idiomas e escritas, originalmente, em um português
que, em muitos casos, mereceria algumas traduções intralinguais, para que
pudéssemos sorver o máximo de sua genialidade, uma vez que ele tenta recriar
a língua portuguesa com uma influência moçambicana utilizando o léxico de
várias regiões do país e produzindo um novo modelo de narrativa africana
(imagem disponível em: <http://tacansado.files.wordpress.com/2008/10/mia_
couto.jpg>. Acesso em: 28 maio 2015.

© Teorias de Tradução 131


© Teorias de Tradução
UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

1. INTRODUÇÃO
As teorias de tradução, em geral, são as correntes filosóficas
que orientaram a prática dos tradutores em diferentes épocas da
humanidade. Entretanto, mesmo nos dias atuais, encontramos
clientes e leitores (e até mesmo tradutores) que ainda seguem
princípios teóricos já desacreditados ou desaconselhados há
décadas (ou há séculos, em alguns casos).
Os procedimentos técnicos da tradução, segundo Barbosa
(2004, p. 80), “são propostos como uma tentativa de responder
à pergunta ‘como traduzir?’”. De acordo com a pesquisadora,
os trabalhos pioneiros nessa área são de Vinay e Darbelnet –
publicados em uma obra conjunta, em 1977 – e "os trabalhos
subseqüentes [...] ou se reportam diretamente a esse trabalho,
ou fazem uma reformulação do mesmo" (BARBOSA, 2004, p. 80).
Em geral, os autores que estudaram o assunto depois
de Vinay e Darbelnet optaram por alterar um pouco suas
classificações, por eliminar algumas categorias que consideravam
desnecessárias e/ou por acrescentar categorias que estivessem
faltando, segundo sua óptica.
Nesta unidade, utilizaremos como base a categorização
desenvolvida por Heloísa Barbosa (2004) e também
acrescentaremos alguns procedimentos que consideramos
necessários e que haviam sido excluídos pela professora.
Dada nossa formação em Linguística de Corpus, não
poderíamos aceitar que fossem apresentados, nesta unidade,
exemplos inventados ou reproduzidos de fontes não autênticas.
Assim, a grande maioria dos exemplos que ilustrarão cada uma
das categorias foi retirada do site Compara.

© Teorias de Tradução 133


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

É importante observar que, propositalmente, foram


coletados exemplos de diferentes variantes da língua portuguesa
(do Brasil, de Portugal e de Moçambique) e da língua inglesa
(inglês britânico e inglês americano) para que você note que
há múltiplas possibilidades de construção linguística quando
trabalhamos com esse par de idiomas e nas duas direções, ou
seja, do português para o inglês e vice-versa.

2. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS
A seguir, abordaremos cada um dos procedimentos técnicos
em mais detalhes. Por ser um dos mais simples, e intuitivos,
começaremos pelo procedimento de tradução "palavra por
palavra", também conhecido pela variante "palavra a palavra".
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução “palavra por palavra” é aquele em que o texto traduzido
possui, em uma ordem sintática bastante parecida, se não igual,
as mesmas categorias que o texto de partida.
A seguir, veremos alguns exemplos no Quadro 1:

Quadro 1 Tradução “palavra por palavra” em um texto de Mia


Couto.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Ele está um pouco doente. He’s a bit unwell.
Fonte: PMMC2 Mia Couto 1990 Cada Fonte: 1990 Every Man is a Race.
Homem é uma Raça. Lisboa: Editorial Tradução de David Brookshaw. Oxford:
Caminho, p. 11-68. Copyright © Editorial Heinneman, p. 1-37. Copyright © 1993
Caminho 1990. Uso autorizado por by David Brookshaw. Uso autorizado por
Editorial Caminho. David Brookshaw.

Original: Português, Moçambique. Tradução: Inglês, Reino Unido.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

134 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 2 Tradução “palavra por palavra” em um texto de Nadine


Gordimer.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Love had led them so gently into that. O amor levara-os muito tranquilamente
a isso.
Fonte: ESNG1 Nadine Gordimer 1990 My Fonte: 1992 A história do meu filho.
son’s story. Digitalizado pelo ENPC a partir Tradução de Geraldo Galvão Ferraz.
de Londres: Penguin Books, 1991, p. 3-46. Digitalizado pelo ENPC a partir de São
Copyright © 1990 Nadine Gordimer. Uso Paulo: Editora Siciliano, 1992, p. 11-
autorizado por Nadine Gordimer. 49. Copyright © 1992 Siciliano. Uso
autorizado por Editora Siciliano.

Original: Inglês, África do Sul. Tradução: Português, Brasil.

Fonte: adaptado de Compara (2010).

Como observamos no Quadro 2, em geral, a tradução


“palavra por palavra” é bastante difícil de ser encontrada quando
tratamos de tradução humana. O mesmo não se pode dizer
dos casos de tradução feita por máquinas, isto é, da chamada
"tradução automática".

Quadro 3 Tradução “palavra por palavra” em um texto de Nadine


Gordimer (2).
ORIGINAL TRADUÇÃO
If people come out of prison, if they’ve Se as pessoas saem da prisão, se forem
been lopped off, lost; there’s love. separadas, perdidas, há amor.
Fonte: ESNG1 Nadine Gordimer 1990 My Fonte: 1992 A história do meu filho.
son’s story. Digitalizado pelo ENPC a partir Tradução de Geraldo Galvão Ferraz.
de Londres: Penguin Books, 1991, p. 3-46. Digitalizado pelo ENPC a partir de São
Copyright © 1990 Nadine Gordimer. Uso Paulo: Editora Siciliano, 1992, p. 11-
autorizado por Nadine Gordimer. 49. Copyright © 1992 Siciliano. Uso
autorizado por Editora Siciliano.

Original: Inglês, África do Sul. Tradução: Português, Brasil.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

© Teorias de Tradução 135


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Para que o tradutor experiente faça uma tradução “palavra


por palavra”, em geral, a frase deve ser bastante curta e os períodos
simples. Normalmente, se há orações coordenadas, mesmo que
inconscientemente os tradutores irão alterar a ordem das palavras
para alcançar a idiomaticidade e a naturalidade esperada.

Tradução literal
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução literal é aquele em que se mantém uma fidelidade
semântica estrita às ideias expressas no texto de partida, mas
adequando a morfossintaxe da língua de chegada para que o
texto fique fluente.
A seguir, no Quadro 4, veremos alguns exemplos:

Quadro 4 Tradução literal em um texto de David Lodge.


ORIGINAL TRADUÇÃO
I have a sexy wife at home and a platonic Tenho uma mulher sexy em casa e uma
mistress in London. amante platónica em Londres.
Fonte: EBDL1T1 David Lodge 1995 Fonte: 1995 Terapia. Tradução de Maria
Therapy. Londres: Secker & Warburg, p. do Carmo Figueira. Lisboa: Gradiva,
3-97. Copyright © 1995 David Lodge. Uso p. 11-88. Copyright © 1995 Gradiva
autorizado por David Lodge. Publicações, Lda. Uso autorizado por
Gradiva Publicações, Lda.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Além da ortografia portuguesa da palavra “platônica”


(grafada com acento agudo em vez de circunflexo), o que nos
chama a atenção é a inversão da ordem do adjetivo “platonic”
e do substantivo “mistress”, que, na tradução, mudaram para
“amante platônica”.

136 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Embora esse procedimento pareça óbvio, nem sempre é


assim, e muitos tradutores, iniciantes ou não, acabam redigindo
textos em um português "estranho" quando deixam de fazer
essa inversão.

Quadro 5 Tradução literal em um texto de Ian McEwan.


ORIGINAL TRADUÇÃO
Her bedroom became the centre of the O quarto dela tinha-se tornado o centro
house. da casa.
Fonte: EBIM3 Ian McEwan 1978 The Fonte: 1989 O Jardim de Cimento.
Cement Garden. Londres: Pan Books, Tradução de Cristina Ferreira de Almeida.
1980, p. 27-60. Copyright © Ian McEwan Lisboa: Gradiva, p. 28-72. Direitos
1978. Uso autorizado por Ian McEwan. portugueses reservados a Gradiva. Uso
autorizado por Gradiva.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Do mesmo modo que no exemplo anterior, aqui também


observamos uma inversão que nos parece bastante comum e
que é necessária para adaptarmos o texto à morfossintaxe do
português.

Quadro 6 Tradução literal em um texto de David Lodge (2).


ORIGINAL TRADUÇÃO
Well, I mean, a tie, for God’s sake! Bom, quero dizer, uma gravata, pelo
amor de Deus!
Fonte: EBDL1T2 David Lodge 1995 Fonte: 1997 Terapia. Tradução de Lídia
Therapy. Londres: Secker & Warburg, p. Cavalcante-Luther. São Paulo: Scipione, p.
3-97. Copyright © 1995 David Lodge. Uso 11-115. Copyright © 1997 Scipione. Uso
autorizado por David Lodge. autorizado por Editora Scipione.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Brasil.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

© Teorias de Tradução 137


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

No caso anterior, o possessivo “s” foi substituído pela


conjunção “de”, pois a língua portuguesa não tem esse tipo de
recurso sintático. Já no exemplo a seguir, Quadro 7, o pronome
possessivo “her”, posicionado na frente do substantivo, foi
substituído pela posposição pronominal. Vejamos:

Quadro 7 Tradução literal em um texto de Ian McEwan (2).


ORIGINAL TRADUÇÃO
Her bedroom became the centre of the O quarto dela tinha-se tornado o centro
house. da casa.
Fonte: EBIM3 Ian McEwan 1978 The 1989 O Jardim de Cimento. Tradução
Cement Garden. Londres: Pan Books, de Cristina Ferreira de Almeida. Lisboa:
1980, p. 27-60. Copyright © Ian McEwan Gradiva, p. 28-72. Direitos portugueses
1978. Uso autorizado por Ian McEwan. reservados a Gradiva. Uso autorizado por
Gradiva.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Se, para nós, nativos do português, já é difícil ler e entender


o romance Iracema, de José de Alencar, imagine a tarefa de
um tradutor que deve traduzir a obra para o inglês. Pois bem.
Vejamos, a seguir, no Quadro 8, um excerto extraído de Iracema,
no qual o tradutor lançou mão da tradução literal para aproximar
o leitor do texto.

138 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 8 Tradução literal em um texto de José de Alencar.


ORIGINAL TRADUÇÃO
Três entes respiram sobre o frágil lenho Three beings breathe upon the fragile
que vai singrando veloce, mar em fora. wood that quickly sails out to sea.
Fonte: PBJA1T1 José de Alencar 1865 Fonte: 2000 Iracema. Tradução de Clifford
Iracema. Excerto disponível em: Landers. New York: Oxford University
<http://www.bibvirt.futuro.usp.br/ Press, 2000, p. 1-17. Copyright © 2000
textos/autores/josedealencar/iracema/ Oxford University Press. Uso autorizado
iracema.html>. Acesso em: 6 dez. 1999. por Oxford University Press.
Digitalizado pela Biblioteca Virtual do
Estudante Brasileiro a partir da 24ª ed.,
São Paulo: Ática, 1991. Digitalização
revista pela equipa do COMPARA com
base em: Alencar, José de. Iracema: lenda
do Ceará. São Paulo: Editora Núcleo,
1993, p. 17-24.

Original: Português, Brasil. Tradução: Inglês, Estados Unidos.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Transposição
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução por transposição consiste na mudança da categoria
gramatical do texto original para o texto traduzido.
A seguir, no Quadro 9, veremos alguns exemplos:

© Teorias de Tradução 139


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 9 Tradução por transposição em um texto de Kazuo Ishiguro.


ORIGINAL TRADUÇÃO
Dr Meredith had already been sent for, O Dr. Meredith fora já mandado chamar,
but his lordship was of the view that my mas sua Senhoria achava que o meu
father should be moved out of the sun pai devia ser retirado do sol antes de o
before the doctor’s arrival; consequently, médico chegar. Por isso, foi-se buscar
a bath-chair arrived and with not a little uma cadeira de rodas e, com não pouca
difficulty, my father was transported into dificuldade, o meu pai foi transportado
the house. para casa.
Fonte: EBKI2 Kazuo Ishiguro 1989 The Fonte: 1991 Os Despojos do Dia.
Remains of the Day. Londres: Faber & Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues.
Faber 1990, p. 47-110. Copyright © Lisboa: Gradiva, 1991, p. 43-97. Direitos
Kazuo Ishiguro 1989. Uso autorizado por portugueses reservados, Gradiva. Uso
Kazuo Ishiguro. autorizado por Gradiva.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

No exemplo anterior, percebemos que o substantivo


“arrival”, que significa “chegada”, foi alterado para “chegar”
com a mudança da categoria gramatical que caracteriza o
procedimento de transposição.

Quadro 10 Tradução por transposição em um texto de Nadine


Gordimer.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Although you and I huddled for warmth Embora tu e eu nos acotovelássemos
in the same bed, I never minded your na mesma cama para nos aquecermos,
making love to the girl who taught nunca me importou que fizesses amor
Spanish. com a rapariga que te ensinava espanhol.
Fonte: ESNG2 Nadine Gordimer 1979 Fonte: 1992 A filha de Burger. Tradução
Burger’s Daughter. Londres: Penguin de J. Teixeira de Aguilar. Porto: Asa, p. 17-
Books, 1981, p. 14-108. Uso autorizado 155. Copyright © 1992 Edições Asa. Uso
por Nadine Gordimer. autorizado por Edições Asa.

Original: Inglês, África do Sul. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

140 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Podemos observar, na tradução anterior, que o substantivo


“warmth” foi substituído pelo verbo “aquecer-se”, uma mudança
de categoria gramatical caracterizando, mais uma vez, o
procedimento de transposição.
Quadro 11 Tradução por transposição em um texto de Autran
Dourado.
ORIGINAL TRADUÇÃO
A boca pequena mas carnuda, os lábios que Her mouth was small but full, she kept
ela trazia sempre umedecidos pela ponta da moistening her lips with the tip of a pink
língua vibrante, rósea, por entre os dentes tongue which flickered between her well-
certinhos e brancos e brilhantes (de pérola, shaped, white, shining teeth (pearls, he said,
dizia ele no exagero de toda uma poesia in the language of that exaggerated poetic
que se cultiva entre pastores e pastoras, tradition of shepherds and shepherdesses,
ninfas, bosques e prados; de nácar, cujo nymphs, woods and meadows; nacre,
brilho branco se disfarça na íris que se whose white brilliance simulates the
esconde furtiva no vidroso das conchas, rainbow which secretes itself in the glassy
continuava ele no acrescentamento que delicacy of the shells, he went on in the
dá calor à frieza das coisas brancas), e exaggeration which attributes heat to the
aquele nariz fino, a pontinha atrevida, as coldness of white things), and that slender
asas se abrindo e fechando delicadamente nose, its cheeky tip, its nostrils opening and
ao quentume cheiroso da respiração closing daintily with the scented heat of her
apressada quando ela em fogo (agora ele quickened breathing when she was on fire
pensava, quando todo o desespero do (now he thought, as all the despair of love
amor ia tingindo de cores e quentumes tinged with colour and warmth that first
aquela primeira aparição fria e branca, na cold, white apparition, on her distant cloud,
sua nuvem distante, Malvina no seu cavalo Malvina on her Arab horse), her fiery-red
mouro), as sobrancelhas rubras, a mesma eyebrows, the same harmonious curve,
curva harmoniosa, arqueadas... arched...
Fonte: PBAD2 Autran Dourado 1975 Os Fonte: 1988 The Bells of Agony. Tradução
Sinos da Agonia. Rio de Janeiro: Editora de John Parker. Londres: Peter Owen, p.
Expressão e Cultura, p. 15-64. Copyright 13-65. Copyright © John M. Parker 1988.
© Autran Dourado 1975. Uso autorizado Uso autorizado por John Parker.
por Autran Dourado.
Original: Português, Brasil; 28092 Tradução: Inglês, Reino Unido.
unidades.
Fonte: adaptado de Compara (2010).

© Teorias de Tradução 141


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

O excerto anterior, do livro Os sinos da agonia, de Autran


Dourado, traz, em si, diversos procedimentos utilizados pelo
tradutor – como ocorre, em geral, ao utilizarmos exemplos
autênticos, uma vez que a "vida real" é complexa e as categorias
só se encaixam perfeitamente e sem sobreposição quando os
exemplos são inventados. Entretanto, vamos focar, apenas, a
expressão "umedecidos pela ponta da língua vibrante, rósea" e
sua tradução. O adjetivo “vibrante” foi convertido para o verbo
“flicker”, caracterizando uma transposição.
Como já dissemos, há outros procedimentos empregados.
Você pode começar a procurá-los e a categorizá-los para treinar
o olhar e a percepção.

Modulação
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução por modulação consiste em reproduzir a mensagem
na língua de chegada sob um ponto de vista diferente daquele
expresso no texto de partida. Conforme veremos no Quadro 12.

Quadro 12 Tradução por modulação em um texto de Joanna


Trollope.
ORIGINAL TRADUÇÃO
I’m not going home without him. Não volto para casa sozinha.
Fonte: EBJT3 Joanna Trollope 1995 The Fonte: 1998 Melhores Amigos. Tradução
Best of Friends. Londres: Black Swan, p. de Ana Falcão Bastos. Lisboa: Gradiva,
7-87.Copyright © 1995 Joanna Trollope. p. 7-75. Copyright © 1995 Joanna
Uso autorizado por Joanna Trollope. Trollope, Portuguese translation: Gradiva
Publicações. Uso autorizado por Gradiva
Publicações.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

142 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

No excerto anterior, o tradutor utilizou um procedimento


bastante interessante, que demanda um amplo domínio de
ambos os idiomas para ser bem empregado.
A tradução literal do original seria “sem ele”, mas o
tradutor inverteu o foco da narrativa e preferiu escrever que
a personagem estaria “sozinha”, reproduzindo a mensagem
na língua de chegada sob um ponto de vista diferente daquele
expresso no texto de partida.

Quadro 13 Tradução por modulação em um texto de Chico


Buarque de Hollanda.
ORIGINAL TRADUÇÃO
E Ariela habituou-se a baixar os olhos na And Ariela had got used to lowering her
presença de Zorza, visto que o silêncio eyes in Zorza’s presence, because silence
não sustenta o peso de longos olhares can bear the weight of long reciprocal
recíprocos, exceto nos filmes de amor, e gazes only in romantic movies, and even
nem mesmo nos filmes de amor porque there, when dialogue ceases, the director
ali, quando cessa o diálogo, o diretor always brings in music.
sempre coloca uma música.
Fonte: PBCB1 Chico Buarque 1995 Fonte: 1997 Benjamin. Tradução de Cliff
Benjamim. São Paulo: Companhia das Landers. Londres: Bloomsbury, p. 3-45.
Letras, p. 9-52. Copyright © Chico Copyright © Cliff Landers 1997. Uso
Buarque 1995. Uso autorizado por Chico autorizado por Cliff Landers.
Buarque.

Original: Português, Brasil. Tradução: Inglês, Estados Unidos.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Traduzir Chico Buarque, além de ser um grande prazer e


uma grande honra, certamente é uma tarefa complexa, dada a
genialidade do autor, a riqueza com a qual manipula a língua
portuguesa e a aparente simplicidade com a qual constrói suas
narrativas. Nesse excerto, extraído do livro Benjamim, podemos
observar um exemplo de modulação que, ao analista menos

© Teorias de Tradução 143


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

atento, pareceria um equívoco, já que "o silêncio não sustenta o


peso" foi traduzido como “silence can bear the weight”; todavia,
ao analisarmos o restante da frase, notamos a construção
primorosa do texto traduzido. O tradutor trocou "exceto nos
filmes de amo" por "only in romantic movies", recuperando o
sentido ao inverter o foco.
Contudo, não é apenas nas obras literárias que podemos
detectar a modulação. Observe o Quadro 14, ele trata de ditados
em inglês e seus equivalentes em português, note como houve
uma mudança no ponto de vista em relação à aquele expresso
no texto em inglês.

Quadro 14 Tradução por modulação em textos de provérbios


populares.
INGLÊS EQUIVALENTE EM PORTUGUÊS
Don’t wash your dirty linen in public. Roupa suja se lava em casa.
Literalmente, o ditado em português seria traduzido para "Não lave a roupa suja em
público"; entretanto, como já discutimos em outras unidades desta disciplina, em
geral, ao traduzir provérbios, o tradutor que visa à fluência e à naturalidade opta por
encontrar provérbios equivalentes que tenham um significado similar ao "original".
Ao analisarmos o provérbio equivalente, percebemos a presença de uma mudança
no foco. Tais mudanças devem ser explicadas pelos aspectos culturais de cada povo,
uma vez que os provérbios são uma expressão da cultura e da filosofia popular.
The road to hell is paved with good De bem intencionados, o inferno está
intentions. cheio.

Literalmente, o ditado em português seria traduzido para "A estrada para o inferno
é pavimentada com boas intenções". Ao analisarmos o provérbio equivalente,
percebemos, aqui também, a presença de uma mudança no foco. Tais mudanças
talvez possam ser explicadas pelos aspectos religiosos de cada povo e por outros
aspectos culturais.
Fonte: Provérbios populares, autor desconhecido.

144 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Alguns autores consideram que a modulação também


possa se dar quando o tradutor optar pelo uso do plural ao invés
do singular ou vice-versa, como podemos observar a seguir,
Quadro 15:

Quadro 15 Tradução por modulação em um texto de Kazuo


Ishiguro.
ORIGINAL TRADUÇÃO
However, Mr Lewis’s engagingly informal No entanto, os modos cativantemente
manner, and his statement at dinner that informais de Mr. Lewis e a afirmação
the United States “would always stand que fez, ao jantar, de que os Estados
on the side of justice and didn’t mind Unidos “estariam sempre do lado da
admitting mistakes had been made at justiça e não se importavam de admitir
Versailles” seemed to do much to win the que tinham sido cometidos erros em
confidence of his lordship’s “home team”; Versalhes” pareceram contribuir muito
as dinner progressed, the conversation para conquistar a confiança da “equipa da
had slowly but surely turned from topics casa” de Sua Senhoria. Com a continuação
such as the merits of Mr Lewis’s native do jantar, a conversa passou, lenta, mas
Pennsylvania back to the conference firmemente, de tópicos como os méritos
ahead, and by the time the gentlemen da Pensilvânia natal de Mr. Lewis de
were lighting their cigars, some of the novo para a conferência iminente, e,
speculations being offered appeared to quando chegou a altura de os cavalheiros
be as intimate as those exchanged prior acenderem os charutos, algumas das
to Mr. Lewis’s arrival. especulações que trocavam pareciam tão
íntimas como as permutadas antes da
chegada de Mr. Lewis.
Fonte: EBKI2 Kazuo Ishiguro 1989 The Fonte: 1991 Os Despojos do Dia.
Remains of the Day. Londres: Faber & Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues.
Faber 1990, p. 47-110. Copyright © Lisboa: Gradiva, 1991, p. 43-97. Direitos
Kazuo Ishiguro 1989. Uso autorizado por portugueses reservados, Gradiva. Uso
Kazuo Ishiguro. autorizado por Gradiva.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Note que esse excerto traz outros pontos interessantes.


"Mr. Lewis" foi mantido em inglês ao invés de ser traduzido para

© Teorias de Tradução 145


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

"Sr. Lewis", por exemplo. Já as localidades foram traduzidas,


sendo que “United States” foi traduzido para “Estados Unidos”,
“Versailles” para “Versalhes” e “Pennsylvania” foi grafada como
“Pensilvânia”.

Equivalência
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução por equivalência consiste em substituir um segmento
de texto da língua de partida por outro na língua de chegada,
que não o traduz literalmente, mas que é equivalente em termos
de funcionalidade linguística.
A seguir, o Quadro 16 traz um exemplo de tradução por
equivalência.

Quadro 16 Tradução por equivalência em um texto de David


Lodge.
ORIGINAL TRADUÇÃO
I suppose you could make up a little Talvez dê para fazer uma pequena
compilation and invite your friends round compilação e convidar os amigos para
to view it over wine and cheese. irem lá a casa ver enquanto tomam uns
aperitivos.
Fonte: EBDL1T1 David Lodge 1995 Fonte: 1995 Terapia. Tradução de Maria
Therapy. Londres: Secker & Warburg, p. do Carmo Figueira. Lisboa: Gradiva,
3-97. Copyright © 1995 David Lodge. Uso p. 11-88. Copyright © 1995 Gradiva
autorizado por David Lodge. Publicações, Lda. Uso autorizado por
Gradiva Publicações, Lda.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

No excerto anterior, observamos que “wine and cheese”


foi traduzido como “uns aperitivos”, substituindo-se o segmento
de texto da língua de partida por outro na língua de chegada,

146 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

que, como afirmamos previamente, não o traduz literalmente,


mas é equivalente em termos de funcionalidade linguística.
Por tratar-se de um procedimento mais complexo e
multifacetado, veremos a seguir, Quadros 17 a 19, mais
alguns exemplos de como podemos realizar uma tradução por
equivalência.

Quadro 17 Tradução por equivalência em um texto de Joanna


Trollope.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Farmer’s daughter, two O levels, seeks Filha de agricultor, com o 9°. ano, procura
town position with a kind family. emprego em casa de família simpática
que viva na cidade.
Fonte: EBJT3 Joanna Trollope 1995 The Fonte: 1998 Melhores Amigos. Tradução
Best of Friends. Londres: Black Swan, p. de Ana Falcão Bastos. Lisboa: Gradiva,
7-87.Copyright © 1995 Joanna Trollope. p. 7-75. Copyright © 1995 Joanna
Uso autorizado por Joanna Trollope. Trollope, Portuguese translation: Gradiva
Publicações. Uso autorizado por Gradiva
Publicações.
Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.
Fonte: adaptado de Compara (2010).

Nesse excerto, observamos que “two O levels” foi traduzido


como "9°. ano", o que não seria, propriamente, uma tradução
literal, mas que é equivalente em termos funcionais por mostrar
ao leitor um sistema de ensino com o qual ele já está familiarizado.
Este seria, também, um exemplo de tradução domesticadora,
como já vimos em outras unidades desta disciplina.

© Teorias de Tradução 147


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 18 Tradução por equivalência em um texto de Joanna


Trollope (2).
ORIGINAL TRADUÇÃO
She’s in the flat. Está cá em casa.
Fonte: EBJT3 Joanna Trollope 1995 The Fonte: 1998 Melhores Amigos. Tradução
Best of Friends. Londres: Black Swan, p. de Ana Falcão Bastos. Lisboa: Gradiva,
7-87. Copyright © 1995 Joanna Trollope. p. 7-75. Copyright © 1995 Joanna
Uso autorizado por Joanna Trollope. Trollope, Portuguese translation: Gradiva
Publicações. Uso autorizado por Gradiva
Publicações.
Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.
Fonte: adaptado de Compara (2010).

Observe que, no excerto anterior, a palavra “flat” significa


“apartamento”, mas o tradutor optou por traduzi-la para "casa"
usando o vocábulo em português em sua acepção mais ampla:
de moradia.

Quadro 19 Tradução por equivalência em um texto de David


Lodge (2).
ORIGINAL TRADUÇÃO
At first everything in the garden was Ao princípio foi um mar de rosas.
lovely.
Fonte: EBDL5 David Lodge 1991 Paradise Fonte: 1992 Notícias do Paraíso. Tradução
News. Londres: Penguin Books, 1992, p. de Carlos Grifo Babo. Lisboa: Gradiva, p.
3-97. Copyright © David Lodge 1991. Uso 11-91. Copyright © Gradiva Publicações.
autorizado por David Lodge. Uso autorizado por Gradiva Publicações.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

No excerto anterior, o tradutor optou por uma frase feita,


ou seja, um clichê ("mar de rosas"), para manter a equivalência
semântica do texto. Já nos excertos a seguir, Quadros 20 e

148 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

21, temos, em frases "tão pequenas", mais dois exemplos de


equivalência.
Por incrível que possa parecer, já podemos ouvir, em alguns
filmes dublados, dois enamorados se chamarem de "coraçãozinho
doce" em uma evidente tradução literal de sweetheart.

Quadro 20 Tradução por equivalência em um texto de David


Lodge (3).
ORIGINAL TRADUÇÃO
Oh, come, sweetheart! Oh, não venha com essa, meu amor!
Fonte: EBDL1T2 David Lodge 1995 Fonte: 1997 Terapia. Tradução de Lídia
Therapy. Londres: Secker & Warburg, p. Cavalcante-Luther. São Paulo: Scipione, p.
3-97. Copyright © 1995 David Lodge. Uso 11-115. Copyright © 1997 Scipione. Uso
autorizado por David Lodge. autorizado por Editora Scipione.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Brasil.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Quadro 21 Tradução por equivalência em um texto de Machado


de Assis.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Paixão, disse ele, é meio caminho andado. “Passion”, he said, “is half the battle”.
Fonte: PBMA4 Machado de Assis 1904 Fonte: 2000 Esau and Jacob. Tradução de
Esaú e Jacó. Excerto disponível em: Elizabeth Lowe e edição de Dain Borges.
<http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/ New York: Oxford University Press, p.
autores/machadodeassis/esauejaco/ 200-245. Copyright © 2000 Oxford
esauejaco.html>. Acesso em: 8 ago. University Press Inc. Uso autorizado por
2003. Digitalização revista pela equipe Oxford University Press Inc.
do COMPARA com base em: Machado de
Assis. Esaú e Jacó. Rio de Janeiro. Editora
Nova Fronteira, 1982, p. 234-285.

Original: Português, Brasil. Tradução: Inglês, Estados Unidos.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

© Teorias de Tradução 149


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

A expressão “meio caminho andado”, que em português


significa que parte da tarefa já foi realizada e que o restante dela
está encaminhado, foi traduzida por um equivalente (“half the
battle”) para que o sentido da frase fosse preservado e a fluência
do texto fosse mantida. Evidentemente, há perdas semânticas
ao se fazer esse tipo de escolha (como a da carga cultural,
por exemplo), mas cada tradutor deve ser responsável pelas
opções que faz, e nenhuma destas será feita sem vantagens e
desvantagens sobre as demais.

Omissão versus explicitação


O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução por omissão consiste na omissão de elementos do
texto original que seriam desnecessários ou excessivamente
repetitivos segundo a sintaxe ou a semântica da língua de
chegada.
Vejamos alguns exemplos no Quadro 22.

Quadro 22 Tradução por omissão/explicitação em um texto de


David Lodge.
ORIGINAL TRADUÇÃO
As the door yawned open this evening I saw Quando a porta se abriu hoje à noite,
that Sally’s car wasn’t parked inside, and notei que o carro de Sally não estava lá e
when I let myself into the house I found a quando entrei em casa, achei um recado
note in the kitchen to say that she’d gone dela na cozinha dizendo que tinha ido ao
down to the Club for a swim and sauna. clube para nadar e tomar uma sauna.
Fonte: EBDL1T2 David Lodge 1995 Fonte: 1997 Terapia. Tradução de Lídia
Therapy. Londres: Secker & Warburg, p. Cavalcante-Luther. São Paulo: Scipione, p.
3-97. Copyright © 1995 David Lodge. Uso 11-115. Copyright © 1997 Scipione. Uso
autorizado por David Lodge. autorizado por Editora Scipione.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Brasil.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

150 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Na tradução do excerto anterior, temos a omissão de


diversos pronomes pessoais – um recurso que pode ser usado
no português em razão da propriedade de nossos verbos, que,
com seus morfemas de pessoa, número e tempo, deixam visíveis
ao leitor quem é o sujeito que realiza a ação, tornando, assim,
os pronomes desnecessários. Entretanto, também observamos
a explicitação (como no segmento sublinhado) em que foram
introduzidos o verbo "tomar" e o artigo "uma" para tornar o
texto mais explícito.
Vejamos a seguir mais um exemplo de tradução por
omissão/explicitação.
Quadro 23 Tradução por omissão/explicitação em um texto de
David Lodge (2).
ORIGINAL TRADUÇÃO
I haven’t seen anybody in the lift or hall
Hoje não me cruzei com ninguém na
today, but I never feel lonely here, as I
entrada do prédio nem no elevador, mas
sometimes do at home during the day, aqui nunca me sinto só, como às vezes
when Sally is at work. acontece quando estou em casa e a Sally
vai trabalhar.
Fonte: EBDL1T1 David Lodge 1995 Fonte: 1995 Terapia. Tradução de Maria
Therapy. Londres: Secker & Warburg, p. do Carmo Figueira. Lisboa: Gradiva,
3-97. Copyright © 1995 David Lodge. Uso p. 11-88. Copyright © 1995 Gradiva
autorizado por David Lodge. Publicações, Lda. Uso autorizado por
Gradiva Publicações, Lda.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Mais uma vez, observamos que o uso de exemplos


autênticos nos leva a situações sempre mais complexas do
que se inventássemos frases feitas especialmente para conter
determinados exemplos.

© Teorias de Tradução 151


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

À primeira vista, essa opção pela autenticidade dos


exemplos pode parecer confusa, mas, com o passar do tempo,
percebemos que o aluno treinado a detectar esses procedimentos
em textos "reais" acaba entendendo melhor seu significado e
interiorizando seu uso prático.
No excerto anterior, Quadro 23, por exemplo, extraído
do livro de David Lodge e da sua tradução para o português
lusitano, observamos omissões (em negrito) e explicitações (em
negrito e sublinhado) em um mesmo trecho, sempre apoiado
nas possibilidades da língua de chegada, como é o caso da dupla
negação de "não me cruzei com ninguém", tão evitada em inglês
(note o uso de “anybody”) e tão idiomática tanto em Portugal
quanto no Brasil.
O Quadro 24 nos mostra um exemplo em que um texto de
Machado de Assis foi traduzido ao inglês, nele podemos detectar
casos de omissão proposital de artigos.

152 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 24 Tradução por omissão/explicitação em um texto de


Machado de Assis.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Aí vinham a cobiça que devora, a cólera Along came greed that devours, wrath
que inflama, a inveja que baba, e a enxada that inflames, envy that drools, and the
e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a hoe and the pen, damp with sweat and
fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, ambition, hunger, vanity, melancholy,
o amor, e todos agitavam o homem, wealth, love, and all of them shaking man
como um chocalho, até destruí-lo, como like a rattle until they destroyed him like
um farrapo. a rag.
Fonte: PBMA2 Machado de Assis Fonte: 1998 The posthumous Memoirs
1881 Memórias póstumas de Brás of Brás Cubas. Tradução de Gregory
Cubas. Excerto disponível em: <http:// Rabassa. New York: Oxford University
www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/ Press, p. 5-34. Copyright © 1998 Oxford
autores/machadodeassis/brascubas/ University Press Inc. Uso autorizado por
cubas.html>. Acesso em: 6 dez. 1999. Oxford University Press, Inc.
Digitalização revista pela equipe do
COMPARA com base em: Machado de
Assis, Joaquim. Memórias Póstumas de
Brás Cubas. 28. ed. São Paulo, Editora
Ática, 2000. p. 16-41.

Original: Português, Brasil. Tradução: Inglês, Estados Unidos.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Observe que, no excerto do Quadro 24, de mais uma


primorosa obra machadiana, notamos a repetição estilística
dos artigos indefinidos masculinos e femininos. Na tradução,
observamos que, provavelmente, também com intenção
estilística, o tradutor optou por omitir a maioria desses pronomes,
mesmo aqueles que seriam gramaticalmente permitidos.
Em alguns casos, como no exemplo a seguir, Quadro 25,
o tradutor acrescentou um adjetivo (“imensas”) ao substantivo
“pilhas” para explicitar melhor o significado de "piles", reforçando,
assim, a imagem de excesso de trabalho.

© Teorias de Tradução 153


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 25 Tradução por omissão/explicitação em um texto de


David Lodge (3).
ORIGINAL TRADUÇÃO
She brings home piles of boring agendas Ela traz para casa imensas pilhas de
and reports to work through in the memorandos chatos e relatórios para
evenings and at the weekends. trabalhar à noite e nos fins-de-semana.
Fonte: EBDL1T2 David Lodge 1995 Fonte: 1997 Terapia. Tradução de Lídia
Therapy. Londres: Secker & Warburg, p. Cavalcante-Luther. São Paulo: Scipione, p.
3-97. Copyright © 1995 David Lodge. Uso 11-115. Copyright © 1997 Scipione. Uso
autorizado por David Lodge. autorizado por Editora Scipione.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Brasil.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Há casos em que a omissão leva à perda de algumas


informações ou à destruição do jogo de palavras, como é o caso
apresentado a seguir, Quadro 26:

Quadro 26 Tradução por omissão/explicitação em um texto de


David Lodge (4).
ORIGINAL TRADUÇÃO
When I told Roland – that’s the name of Quando contei ao Roland – é assim que
my physiotherapist – when I told Roland se chama o meu fisioterapeuta –, quando
the substance of this consultation, he lhe contei o essencial da consulta,
gave his sardonic lopsided smile and said, ele esboçou aquele sorriso sarcástico
“You’ve got IDK, Internal Derangement of assimétrico e disse: – Você tem é uma
the Knee”. disfunção interna do joelho.
Fonte: EBDL1T1 David Lodge 1995 Fonte: 1995 Terapia. Tradução de Maria
Therapy. Londres: Secker & Warburg, p. do Carmo Figueira. Lisboa: Gradiva,
3-97. Copyright © 1995 David Lodge. Uso p. 11-88. Copyright © 1995 Gradiva
autorizado por David Lodge. Publicações, Lda. Uso autorizado por
Gradiva Publicações, Lda.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

A sigla IDK – que foi omitida na versão em português –,


embora seja a sigla das iniciais da doença do personagem

154 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

(“Internal Derangement of the Knee”), é, também, uma sigla


usada para significar “I don’t know”.
É essa característica dúbia do termo que explica o porquê de
no original usar-se os adjetivos "sardonic lopsided" para referir-se
ao modo como o fisioterapeuta introduz o gracejo que fará a se-
guir, mas cujo sentido foi totalmente perdido na tradução.

Compensação
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução por compensação consiste em substituir um recurso
estilístico que se encontra em um ponto do texto de partida para
outro recurso de efeito equivalente ou pelo mesmo recurso em
outro ponto do texto traduzido.
A seguir, no Quadro 27, veremos alguns exemplos:

Quadro 27 Tradução por compensação em um texto de Mary


Shelley.
ORIGINAL TRADUÇÃO
How mutable are our feelings, and how Como são volúveis os nossos sentimentos
strange is that clinging love we have of e como é estranho este amor pela vida
life even in the excess of misery! que não nos abandona, nem mesmo nos
momentos de maior infelicidade!
Fonte: EBMS1 Mary Shelley 1818 Fonte: 1972 Frankenstein. Tradução
Frankenstein. Digitalizado pelo Projecto de Mário Martins de Carvalho. Lisboa:
Gutenberg. Digitalização revista pela Estampa, p. 107-160 e 7-10. Copyright ©
equipe do COMPARA com base em: 2002 Editorial Estampa. Uso autorizado
Shelley, Mary. Frankenstein or The Modern por Editorial Estampa.
Prometheus. Hertfordshire: Wordsworth
Editions Limited, 1993, p. 5-8 e 90-140.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

© Teorias de Tradução 155


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

No exemplo anterior, como o autor traduziu “clinging


love we have of life” apenas como “amor pela vida”, perdendo,
assim, parte do recurso de explicitação, logo em seguida, ainda
na mesma frase, ele traduziu "excess of misery" por “momentos
de maior infelicidade” para recuperar a explicitação.
A seguir, o Quadro 28, nos mostra um exemplo em que
a tradução foi feita por compensação, procurando recuperar
ocorrências que tiveram que ser omitidas em outros pontos do
texto.

Quadro 28 Tradução por compensação em um texto de Jô Soares.


ORIGINAL TRADUÇÃO
Um dia podes cansar-te One day you may grow tired of me
Do meu amor inocente, And someday you and I may part
Mas peço que não acolhas But I pray you let no other
No coração outra gente. Replace my love in your heart.
Fonte: PBJS1 Jô Soares 1995 O Xangô de Fonte: 1997 A Samba for Sherlock.
Baker Street. São Paulo: Companhia das Tradução de Clifford Landers. Nova
Letras, p. 223-319. Copyright © Jô Soares Iorque: Vintage, p. 170-255. Copyright ©
1995. Uso autorizado por Jô Soares. 1997 Clifford Landers. Uso autorizado por
Clifford Landers.
Original: Português, Brasil. Tradução: Inglês, EUA.
Fonte: adaptado de Compara (2010).

Ao traduzir o livro O Xangô de Baker Street, o tradutor,


para poder manter a rima, lançou mão de uma compensação
escolhendo palavras que rimavam, já que a tradução literal iria
destruir esse recurso estilístico.
Outras ocasiões em que é preciso lançar mão da
compensação são: frases de efeito, jogos de palavras e gírias. Em
geral, esses recursos são usados no original para caracterizar a
personalidade da personagem ou para criar uma determinada
atmosfera narrativa.

156 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Se o tradutor, por algum motivo, não é capaz de reproduzir


esse recurso estilístico naquele ponto, pode deslocá-lo para
outro ponto da narrativa ou pode substituí-lo por outro recurso
que venha a exprimir um sentido que considere ser similar.

Reconstrução de períodos
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução com reconstrução de períodos consiste em redividir
ou reagrupar os períodos e as orações do original ao fazer a sua
tradução.
Vejamos, a seguir, no Quadro 29, alguns exemplos que
tratam da tradução com a reconstrução de períodos.

Quadro 29 Tradução com reconstrução de períodos em um texto


de David Lodge.
ORIGINAL TRADUÇÃO
At first he was hysterical with gratitude, it
A princípio estava histericamente grato,
was like being licked all over your face by
era como quando uma pessoa chega a
your dog when you get back home from casa, de uma viagem, e o cão, contente,
a trip, I could almost hear his tail wagging
lhe lambe a cara toda! Até dava quase
on the other end of the line. para ouvir o barulho da cauda a abanar
na outra ponta da linha!
Fonte: EBDL6 David Lodge 1984 Small Fonte: 1996 O Mundo é Pequeno.
World. Londres: Penguin Books, 1985, p. Tradução de Lucinda Santos Silva.
231-333. Copyright © David Lodge 1984. Porto: Edições Asa, p. 251-355. Direitos
Uso autorizado por David Lodge. portugueses reservados, Edições Asa.
Uso autorizado por Edições Asa.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Nesse exemplo, o período composto foi convertido em


duas orações e o tradutor encerrou a primeira delas com um

© Teorias de Tradução 157


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

ponto de exclamação. Já no exemplo a seguir, Quadro 30, o


tradutor substituiu um ponto e vírgula, essa pontuação bastante
comum no inglês, mas nem tanto no português, por ponto-final
e início de um novo período.

Quadro 30 Tradução com reconstrução de períodos em um texto


de Kazuo Ishiguro.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Dr. Meredith had already been sent for, O Dr. Meredith fora já mandado chamar,
but his lordship was of the view that my mas sua Senhoria achava que o meu
father should be moved out of the sun pai devia ser retirado do sol antes de o
before the doctor’s arrival; consequently, médico chegar. Por isso, foi-se buscar
a bath-chair arrived and with not a little uma cadeira de rodas e, com não pouca
difficulty, my father was transported into dificuldade, o meu pai foi transportado
the house. para casa.
Fonte: EBKI2 Kazuo Ishiguro 1989 The Fonte: 1991 Os Despojos do Dia.
Remains of the Day. Londres: Faber & Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues.
Faber 1990, p. 47-110. Copyright © Lisboa: Gradiva, 1991, p. 43-97. Direitos
Kazuo Ishiguro 1989. Uso autorizado por portugueses reservados, Gradiva. Uso
Kazuo Ishiguro. autorizado por Gradiva.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

A seguir, Quadro 31, veremos dois exemplos em que o


tradutor eliminou os dois-pontos e colocou um ponto-final,
iniciando, assim, um novo período. Entretanto, em ambos os
casos, o tradutor não lançou mão de nenhum recurso estilístico
nem gramatical para compensar o sentido de explicação dado
pelos dois-pontos.

158 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 31 Tradução com reconstrução de períodos em um texto


de Mary Shelley.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Soon after, however, Felix approached Contudo, alguns momentos depois, Félix
with another man: I was surprised, as I aproximou-se acompanhado de outro
knew that he had not quitted the cottage homem. Fiquei surpreso, pois sabia que
that morning, and waited anxiously to ele não tinha deixado a casa nessa manhã
discover, from his discourse, the meaning e, ansiosamente, esperei descobrir
of these unusual appearances. nas suas palavras a explicação destes
estranhos acontecimentos.
Fonte: EBMS1 Mary Shelley 1818 Fonte: 1972 Frankenstein. Tradução
Frankenstein. Digitalizado pelo Projecto de Mário Martins de Carvalho. Lisboa:
Gutenberg. Digitalização revista pela Estampa, p. 107-160 e 7-10. Copyright ©
equipa do COMPARA com base em: 2002 Editorial Estampa. Uso autorizado
Shelley, Mary. Frankenstein or The por Editorial Estampa.
Modern Prometheus. Hertfordshire:
Wordsworth Editions Limited, 1993, p.
5-8 e p. 90-140.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Vale salientar que, no exemplo a seguir, Quadro 32, o


tradutor traduziu “besides” como “Por outro lado”; esta também
é uma opção que precisaria ser analisada com mais vagar.

© Teorias de Tradução 159


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 32 Tradução com reconstrução de períodos em um texto


de Mary Shelley (2).
ORIGINAL TRADUÇÃO
The latter method of obtaining the Este último meio de obter as informações
desired intelligence was dilatory desejadas era lento e pouco satisfatório.
and unsatisfactory: besides, I had an Por outro lado, tinha uma aversão
insurmountable aversion to the idea of insuperável pela ideia de começar o meu
engaging myself in my loathsome task odioso trabalho na casa do meu pai,
in my father’s house, while in habits of mantendo as minhas relações habituais
familiar intercourse with those I loved. com todos os que amava.
Fonte: EBMS1 Mary Shelley 1818 Fonte: 1972 Frankenstein. Tradução
Frankenstein. Digitalizado pelo Projecto de Mário Martins de Carvalho. Lisboa:
Gutenberg. Digitalização revista pela Estampa, p. 107-160 e 7-10. Copyright ©
equipa do COMPARA com base em: 2002 Editorial Estampa. Uso autorizado
Shelley, Mary. Frankenstein or The por Editorial Estampa.
Modern Prometheus. Hertfordshire:
Wordsworth Editions Limited, 1993, p.
5-8 e 90-140.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

O trecho a seguir, Quadro 33, do livro O mulato, de Aluísio


Azevedo, apresenta diversos exemplos de reconstrução de
períodos.
O tradutor, inclusive, alterou a pontuação final passando-a
de reticências para ponto-final. Aqui, mais uma vez, temos uma
opção que requer reflexão.

160 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 33 Tradução com reconstrução de períodos em um texto


de Aluísio Azevedo.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Mas as suas reminiscências não iam But his recollections did not go beyond
além da casa do tio; no entanto, queria his uncle’s house. Still, it did sent to him
parecer-lhe que a sua verdadeira mãe that his real mother was not that lady. He
não era aquela senhora, aquela vinha a realized that she was his aunt because
ser sua tia, porque era a mulher de seu she was the wife of his uncle Manuel.
tio Manuel; e até, se lhe não falhava a And if his memory were not mistaken, he
memória, por mais de uma vez ouvira had more than once overheard Mariana
dela própria falar na outra, na sua herself speaking about a mother, his real
verdadeira mãe... mother.
Fonte: PBAA2 Aluísio Azevedo 1881 O Fonte: 1990 Mulatto. Tradução de
Mulato. Excerto disponível em: <http:// Graeme MacNicoll. Cranbury: Associated
v b o o k st o re . u o l . c o m . b r / n a c i o n a l / University Presses, p. 31-119. Copyright
aluisioazevedo/mulato.shtml>. Acesso © 1990 AUP. Uso autorizado por
em: 3 jan. 2004. Digitalização revista Associated University Presses, Inc.
pela equipa do COMPARA com base em:
Azevedo, Aluísio. O Mulato. Sem local de
publicação: Editora Ática, sem data (13.ª
edição), p. 15-93.

Original: Português, Brasil. Tradução: Inglês, Estados Unidos.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Já no próximo excerto, Quadro 34, do mesmo livro de


Aluísio Azevedo, veremos que a pontuação foi bastante alterada
com a eliminação de travesões, a criação de períodos menores e
um ponto e vírgula substituído por uma vírgula. Vejamos:

© Teorias de Tradução 161


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 34 Tradução com reconstrução de períodos em um texto


de Aluísio Azevedo (2).
ORIGINAL TRADUÇÃO
Recorria ao vinagre; dava-se a longos She resorted to vinegar and practiced
exercícios pela varanda; mas qual! – as prolonged physical exercises on the
enxúdias aumentavam sempre; Lindoca veranda. But to no avail! The lavers of
estava cada vez mais redonda, mais fat continued to increase. Lindoca grew
boleada; a casa estremecia cada vez mais more and more rotund, like a ball. Their
com o seu peso; os olhos desapareciam- house shook more and more under
lhe na abundância das bochechas; o seu her weight; her eyes vanished into the
nariz parecia um lombinho; as suas costas abundance of her cheeks; her nose took
uma almofada. on the appearance of a tenderloin, and
her back that of a huge cushion.
Fonte: PBAA2 Aluísio Azevedo 1881 O Fonte: 1990 Mulatto. Tradução de
Mulato. Excerto disponível em: <http:// Graeme MacNicoll. Cranbury: Associated
v b o o k st o re . u o l . c o m . b r / n a c i o n a l / University Presses, p. 31-119. Copyright
aluisioazevedo/mulato.shtml>. 3 jan. © 1990 AUP. Uso autorizado por
2004. Digitalização revista pela equipa Associated University Presses, Inc.
do COMPARA com base em: Azevedo,
Aluísio. O Mulato. Sem local de
publicação: Editora Ática, sem data (13.ª
edição), p. 15-93.

Original: Português, Brasil. Tradução: Inglês, Estados Unidos.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Melhorias
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução com melhorias consiste na não repetição, na tradução,
dos erros ou equívocos cometidos no texto original.
Em nossa experiência de mais de quinze anos traduzindo
textos das áreas médica e odontológica, podemos afirmar com
segurança que os erros podem ocorrer tanto em originais em
português quanto em originais em inglês.

162 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Há de tudo, desde problemas com numeração, erros de


datas, erros de digitação e, o que é mais grave, os erros técnicos.
Infelizmente, embora tenhamos um arquivo de dezenas dessas
ocorrências, não poderíamos mostrar aqui por dois motivos
principais: primeiro, por não ser ético nem delicado revelar
os equívocos e erros de nossos clientes (quem de nós nunca
errou?) e segundo porque todo esse conteúdo de que dispomos
encontra-se protegido por contratos de sigilo.
Sendo assim, deixaremos de lado os exemplos e falaremos
sobre o mais importante: qual deve ser a postura do tradutor
ao encontrar esses erros? Pois bem. O tradutor é o profissional
que lê o texto em maior profundidade (em geral sempre escuto
a seguinte frase "Muito obrigada, esse texto já havia passado por
diversas mãos e ninguém tinha percebido esse erro que vocês
estão me mostrando").
Assim, é sua obrigação apontar o erro para o cliente e,
se souber como, pode também indicar a possível solução. Se a
correção será feita ou não, é uma questão para o cliente decidir.
É claro que cada caso deve ser decidido individualmente,
pois erros mínimos de digitação que não comprometam o
entendimento do texto podem ser ignorados e a tradução pode
ser feita considerando-se correta a palavra. Entretanto, é preciso
ter cuidado ao traduzir termos técnicos, pois existem palavras
bastantes parecidas, mas com significados completamente
diferentes, como, por exemplo, “adução” e “abdução”, “cotexto”
e “contexto”, “seguimento” e “segmento”, entre outras. Logo,
um tradutor mais afoito pode entender como erro de digitação
uma palavra que, na realidade, está correta.

© Teorias de Tradução 163


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Transferência
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução por transferência consiste em introduzir material
textual da língua de partida no texto traduzido.
A transferência pode ser concretizada, por exemplo, na
forma de estrangeirismos, ou seja, transcrever para a tradução
os vocábulos ou as expressões que sejam desconhecidos dos
leitores.
O estrangeirismo que fica conhecido do público-alvo,
adaptando-se à morfologia e à fonologia da língua de chegada,
é conhecido como “empréstimo”. No Quadro 35, observe um
exemplo de transferência no excerto a seguir:

Quadro 35 Tradução por transferência em um texto de David


Lodge.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Mr. Best is greatly exercised about the Mr. Best está extremamente preocupado
discount vouchers for various diversionscom os vales de desconto para variadas di-
included in his Travelpak – the Paradiseversões incluídas no seu pacote-de-viagem
Cove Luau, the Pacific Whaling Museum, – o Luau no Paradise Cove, a visita ao Mu-
the Waimea Falls Park, etc. etc. seu Baleeiro do Pacífico, a excursão ao Par-
que das Quedas de Água Waimea, etc., etc.
Fonte: EBDL5 David Lodge 1991 Paradise Fonte: 1992 Notícias do Paraíso. Tradução
News. Londres: Penguin Books, 1992, p. de Carlos Grifo Babo. Lisboa: Gradiva, p.
3-97. Copyright © David Lodge 1991. Uso 11-91. Copyright © Gradiva Publicações.
autorizado por David Lodge. Uso autorizado por Gradiva Publicações.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Portugal.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

164 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Transliteração
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução por transliteração consiste em substituir uma convenção
gráfica por outra. Suponhamos que haja, em um texto, uma
saudação em japonês (“おめでとうございます”).
O tradutor pode optar por traduzi-la para o português
(“Parabéns”) ou por fazer a transliteração para “Omedetou
Gozaimasu” dependendo do público-alvo a que se destina a
tradução.

Aclimatização
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução por aclimatização consiste no processo pelo qual os
empréstimos são adaptados à língua de chegada.
No caso a seguir, Quadro 36, observamos que o tradutor
manteve o nome da personagem, mas optou por aclimatizar sua
grafia para que o texto ficasse mais adaptado à transcrição e à
sonoridade inglesas.

Quadro 36 Tradução por aclimatização em um texto de Marcos


Rey.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Tumache, você é um amor. Tumashe, you’re a dear.
Fonte: PBMR1 Marcos Rey 1986 Memórias 1987 Memoirs of a Gigolo. Tradução
de um Gigolô. São Paulo: Ática Editorial, de Clifford Landers. New York: Avon, p.
p. 159-224. Copyright Ática Editorial. Uso 155-217. Copyright Clifford Landers. Uso
autorizado por Ática Editorial. Disponível autorizado por Clifford Landers.
em: <http://www.marcosrey.com.br>.
Acesso em 2 mar. 2010.
Original: Português, Brasil. Tradução: Inglês, Estados Unidos.
Fonte: adaptado de Compara (2010).

© Teorias de Tradução 165


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

No excerto a seguir, Quadro 37, além de aclimatizar o termo


“Tupã” adaptando-o à grafia inglesa – uma vez que em inglês não
se usa o til –, o tradutor acrescentou uma nota explicativa:

Quadro 37 Tradução por aclimatização em um texto de José de


Alencar.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Agora os pescadores da praia, sempre Now these fishers of the beach, always
vencidos, deixam vir pelo mar a raça conquered, give sea-way to the white
branca dos guerreiros de fogo, inimigos race, the Warriors of Fire, the enemies of
de Tupã. Tupan. *59

*Note 59
Guerreiros de fogo, “warriors of fire”,
the Portuguese.
Fonte: PBJA1T2 José de Alencar 1865 1886 Iracema, the honey lips: a legend of
Iracema. Excerto disponível em: Brasil. Tradução de Lady Isabel Burton.
<http://www.bibvirt.futuro.usp.br/ Londres: Bickers, 1886, p. 1-17.
textos/autores/josedealencar/iracema/
iracema.html>. Acesso em: 6 dez. 1999.
Digitalizado pela Biblioteca Virtual do
Estudante Brasileiro a partir da 24ª ed.,
São Paulo: Ática, 1991. Digitalização
revista pela equipa do COMPARA com
base em: Alencar, José de. Iracema: lenda
do Ceará. São Paulo: Editora Núcleo,
1993, p. 17-24.

Original: Português, Brasil. Tradução: Inglês, Reino Unido.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Transferência com explicação


É o procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
transferência do termo da língua de partida para a língua de
chegada e acrescenta a ele uma explicação, pois a condição

166 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

necessária para o emprego da transferência isolada na tradução


seria a de que o leitor pudesse apreender seu significado por
meio do contexto. Vejamos, no Quadro 38, alguns exemplos de
transferência com explicação:

Quadro 38 Tradução por transferência com explicação em um


texto de David Lodge.
ORIGINAL TRADUÇÃO
He said you couldn’t have references to Ele disse que não se pode fazer referência
abortion in a sitcom, even one that goes a aborto num sitcom, mesmo um que
out after the nine-o’clock watershed é levado ao ar depois das nove da
when young viewers are supposed to noite, o horário da watershed6, quando
be tucked up in bed, because it’s too os telespectadores jovens deveriam
controversial, and too upsetting. estar enrolados nas cobertas da cama,
porque é assunto muito polêmico e
desconcertante.

(6) Como é conhecida a lei do horário


divisório para programas de teor violento
e sexual na televisão inglesa.
Fonte: EBDL1T2 David Lodge 1995 Fonte: 1997 Terapia. Tradução de Lídia
Therapy. Londres: Secker & Warburg, p. Cavalcante-Luther. São Paulo: Scipione, p.
3-97. Copyright © 1995 David Lodge. Uso 11-115. Copyright © 1997 Scipione. Uso
autorizado por David Lodge. autorizado por Editora Scipione.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Brasil.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

O mesmo caso ocorreu com o exemplo a seguir, Quadro


39, no qual o tradutor acrescentou uma explicação em forma de
“nota do tradutor”.

© Teorias de Tradução 167


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 39 Tradução por transferência com explicação em um


texto de David Lodge (2).
ORIGINAL TRADUÇÃO
Boon has certainly changed – not only Boon mudou muito, com certeza – não
in appearance and dress: his manner is apenas na aparência e no jeito de se
more confident, more relaxed, his speech vestir: está mais seguro, mais relaxado,
has lost some of its Cockney vowels and seu sotaque perdeu um pouco do
glottal stops, he sounds not unlike David cockney8 e agora soa não muito diferente
Frost. de David Frost. *8

(8) Sotaque do leste de Londres.


Fonte: EBDL3T2 David Lodge 1975 Fonte: 1998 1998 Invertendo os Papéis.
Changing Places. Londres: Secker & Tradução de Lídia Luther-Cavalcante.
Warburg, p. 3-71. Copyright © David São Paulo: Scipione, p. 13-93. Copyright
Lodge 1975. Uso autorizado por David © 1998 Scipione. Uso autorizado por
Lodge. Scipione.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Brasil.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Em algumas vezes, a explicação acaba sendo bastante


longa, pois o tradutor precisa tentar recuperar parte do jogo de
palavras criado no original, como podemos ver a seguir, Quadro
40:

168 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 40 Tradução por transferência com explicação em um


texto de David Lodge (3).
ORIGINAL TRADUÇÃO
Boon will be eager for advice and Boon ficará agradecido de obter
information: about looking left first when conselhos e informações: sobre como
crossing the road, for example; about olhar primeiro para o lado esquerdo
“public school” meaning the opposite of quando atravessar a rua, por exemplo;
what it means in England, and “knock up” sobre o significado de escola pública, que
meaning something entirely different. quer dizer o contrário do que significa na
Inglaterra, e knock5, que quer dizer uma
coisa completamente diferente.

(5) Knock up quer dizer, em baixo calão,


engravidar nos Estados Unidos. Na
Inglaterra, há vários outros significados,
tais como fazer algo atabalhoadamente,
acordar alguém batendo na porta ou,
no jogo de tênis, fazer um aquecimento
antes da partida.
Fonte: EBDL3T2 David Lodge 1975 Fonte: 1998 Invertendo os Papéis.
Changing Places. Londres: Secker & Tradução de Lídia Luther-Cavalcante.
Warburg, p. 3-71. Copyright © David São Paulo: Scipione, p. 13-93. Copyright
Lodge 1975. Uso autorizado por David © 1998 Scipione. Uso autorizado por
Lodge. Scipione.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Brasil.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

Explicação
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução por explicação ocorre quando há a necessidade de
eliminar os estrangeirismos para facilitar a compreensão.

© Teorias de Tradução 169


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Isto é comum em textos com muitas marcas culturais,


quando o tradutor deseja fazer o apagamento dessas marcas
para aproximar o leitor do texto traduzido e, simultaneamente,
afastá-lo do texto de partida e da cultura estrangeira, em alguns
casos.
Atualmente, esse tipo de tradução também tem sido
bastante usado nas traduções de legendas para evitar a citação
de marcas de produtos, fazendo com que não haja referências às
marcas comerciais.

Decalque
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza
a tradução por decalque consiste em traduzir, literalmente,
sintagmas ou tipos frasais da língua de partida para a língua de
chegada.
Vejamos, no Quadro 41, alguns exemplos:

Quadro 41 Tradução por decalque em um texto de David Lodge.


ORIGINAL TRADUÇÃO
Roland says I shouldn’t do any sport until Roland diz que eu não devo praticar
the symptoms have disappeared, with or nenhum esporte até que os sintomas
without another operation. tenham desaparecido, com ou sem uma
operação.
Fonte: EBDL1T2 David Lodge 1995 Fonte: 1997 Terapia. Tradução de Lídia
Therapy. Londres: Secker & Warburg, p. Cavalcante-Luther. São Paulo: Scipione, p.
3-97. Copyright © 1995 David Lodge. Uso 11-115. Copyright © 1997 Scipione. Uso
autorizado por David Lodge. autorizado por Editora Scipione.

Original: Inglês, Reino Unido. Tradução: Português, Brasil.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

170 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Observamos que "with or without" é uma expressão usual


em inglês, mas "com ou sem" não é idiomático, principalmente,
em um texto literário, podendo ter sido substituído por
"independentemente da necessidade", por exemplo. O resultado
seria um texto mais fluente.

Adaptação
O procedimento técnico pelo qual o tradutor realiza a
tradução por adaptação representa o limite mais extremo
da liberdade de tradução: aplica-se em casos nos quais toda
a situação a que se refere o texto de partida não poderia ser
entendida pelos falantes da língua de chegada por falta de
conhecimento compartilhado. Nesse caso, o tradutor recria a
situação lançando mão de uma situação similar ou equivalente.
As piadas que são contadas em certos programas e seriados
de televisão (os chamados sitcoms), por exemplo, muitas vezes
são alvos de adaptação.
Se um jogador de beisebol for citado, por exemplo, o
tradutor pode trocar seu nome pelo de um jogador de futebol
tão conhecido na cultura de chegada quanto o outro esportista
na cultura de partida.
Há anos, foi exibida no Brasil uma série em que o
personagem principal era natural do Texas. Como a imagem
clássica que o povo estadunidense tem de um texano se
refere ao ambiente rural, à personalidade alegre e ao sotaque
carregado, na tradução brasileira da série, optou-se por adaptar
o personagem, que passou a ser originário de Minas Gerais.
Evidentemente, essa escolha deve ter levado à necessidade
de diversas outras adaptações no desenrolar da história. Por

© Teorias de Tradução 171


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

exemplo, cada vez que o personagem citasse algum acidente


geográfico, ponto turístico ou estabelecimento comercial texano,
o tradutor teria de fazer as adaptações correspondentes para
que o público não notasse que não se falava do Texas, mas, sim,
de Minas Gerais.
Como já vimos em outra unidade desta obra, as adaptações
devem ter sido decisões bastante pensadas e de consequências
bastantes variadas.
Imagine o que aconteceria se, em uma nova temporada da
série, o personagem resolvesse levar seus amigos para conhecer
as lindas praias do litoral texano. Como o tradutor iria sair dessa
situação complicada? E se o personagem fizesse referência a um
fato consagrado entre os texanos, o de que "no Texas, tudo é
grande", será que o tradutor iria imediatamente querer mudar o
personagem para Itu, a cidade paulista de fama similar?
Em alguns casos, porém, a adaptação é mais sutil e apenas
inclui a troca de nomes próprios, para dar ao texto um "sabor
local" e facilitar a leitura para o público a que se destina.
No Quadro 42, vejamos dois excertos de um mesmo livro
como exemplo:

172 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

Quadro 42 Tradução por adaptação em um texto de Patrícia


Melo.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Ela me pegou em casa, de carro, bem She picked me up at home, in her car,
cedinho, antes das sete da manhã, fomos very early, before 7 a.m., and we went to
para a Cidade Universitária, eu e minha the university campus, me and my boa,
sucuri, Fúlvia e sua píton de burma albina. Melissa and her albino Burmese python.
ORIGINAL TRADUÇÃO
Guardei a cobra, limpei o chão, levei I put away the snake, cleaned up the
Fúlvia até o carro e fui me encontrar com floor, accompanied Melissa to her car,
Ingrid. and went to meet Ingrid.
Fonte: PBPM1 Patrícia Melo 1998 O Fonte: 1999 In praise of lies. Tradução de
elogio da mentira. São Paulo: Companhia Clifford Landers. Londres: Bloomsbury, p.
das Letras, p. 11-61. Copyright © 1998 1-53. Copyright © 1999 Clifford Landers.
Patrícia Melo. Uso autorizado por Patrícia Uso autorizado por Clifford Landers.
Melo.

Original: Português, Brasil. Tradução: Inglês, EUA.


Fonte: adaptado de Compara (2010).

3. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Todas as alternativas a seguir apresentam procedimentos técnicos da
tradução citados nesta unidade, EXCETO?
a) Palavra por palavra, tradução por modulação.
b) Tradução por transposição, tradução por omissão.
c) Tradução etnocêntrica, tradução domesticadora.
d) Tradução literal, tradução por equivalência.

© Teorias de Tradução 173


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

2) Com relação a Mia Couto, é ERRADO afirmar:


a) Mia é um escritor moçambicano, filho de um casal português que
emigrou para Moçambique em meados do século 20.
b) Ele é um escritor português, de grande sucesso e que produziu um
novo modelo de narrativa europeia.
c) Mia tenta recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana.
d) Ele utiliza o léxico de várias regiões de Moçambique.

3) Com relação à tradução por omissão, é INCORRETO afirmar:


a) Consiste na omissão de elementos do texto original que seriam
desnecessários segundo a sintaxe ou a semântica da língua de chegada.
b) Pode-se lançar mão da omissão quando há textos excessivamente
repetitivos, mas sempre com bastante ponderação e, em geral, com a
prévia permissão do cliente.
c) A omissão é utilizada por tradutores profissionais para tornar o texto
mais leve e idiomático.
d) A omissão é usada sempre que não sabemos traduzir uma palavra ou
expressão e/ou não temos tempo para procurar a tradução correta.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) c.

2) b.

3) d.

4. CONSIDERAÇÕES
Você deve ter notado que conhecer os procedimentos
técnicos de tradução ajuda o tradutor a entender melhor os
processos cognitivos que ocorrem quando um profissional precisa

174 © Teorias de Tradução


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

solucionar algum problema de tradução. Evidentemente, há


outras classificações, e alguns autores acrescentam ou eliminam
algumas das categorias que estudamos aqui, mas isto não é um
problema prático, e, sim, um assunto bem mais acadêmico.
Assim, para ser um bom tradutor, o que importa não
é decorar nomes e classificações, mas saber como usar cada
um dos procedimentos técnicos de tradução. Se precisar
treinar o reconhecimento desses procedimentos, não deixe de
pesquisar no site Compara, que disponibiliza, gratuitamente, aos
profissionais do mundo todo, uma ferramenta tão valiosa, que é
esse corpus bilíngue.
Sabemos disso por conhecer alguns dos responsáveis
por esse projeto da “Linguateca”, o quanto é difícil convencer
editoras e autores a cederem partes de suas obras para uso pelo
Compara.
Evidentemente, você também pode montar seu próprio
corpus de textos paralelos – ou seja, de originais e suas traduções
–, e pesquisar diretamente nesse material, procurando detectar
os procedimentos técnicos utilizados.
Quanto mais treinar, maior será a velocidade em que
fará suas traduções, com qualidade, precisão, fidedignidade e
consciência dos procedimentos usados.
Temos certeza de que você ficará cada vez melhor!
Até a próxima unidade!

5. E-REFERÊNCIA
COMPARA. Corpus paralelo bidirecional de português e inglês. Disponível em: <http://
www.linguateca.pt/COMPARA/compara_pt.html>. Acesso em: 2 mar. 2010.

© Teorias de Tradução 175


UNIDADE 6 – Procedimentos Técnicos da Tradução: Embasamento Teórico e Exemplos
Autênticos

6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BARBOSA, H. G. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. 2. ed.
Campinas: Pontes, 2004.

176 © Teorias de Tradução


UNIDADE 7
Os Tradutores que Fizeram a
História

Objetivos
• Identificar os diversos profissionais, teóricos e
tradutores que tiveram influência sobre a evolução da
Tradução como disciplina.
• Distinguir os autores mais influentes da tradução.
• Interpretar as principais publicações dos autores mais
influentes da tradução.
• Interpretar, criticamente, a importância de estudar a
trajetória acadêmica de determinados autores para
entender os caminhos futuros que poderão ser trilhados.

Conteúdos
• Pesquisadores e autores relevantes.
• Tradutores que também se dedicaram às teorias de
tradução.

177
UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações
a seguir:
1) Não se limite a este conteúdo; busque outras
informações em sites confiáveis e/ou nas referências
bibliográficas, apresentadas ao final de cada unidade.
Lembre-se de que o tradutor deve ser curioso, deve
gostar de descobrir coisas novas e deve perseguir
novos conhecimentos.
2) Você sabia que há diversas comunidades de tradutores
nas redes sociais? Você conhece alguma? Participa de
alguma? Se não, sugerimos que faça parte de alguma
delas.
3) Uma dica importante: sempre que for aceito em uma
comunidade profissional, leia atentamente as regras,
e siga-as atentamente. Procure sempre ser cordial
com os colegas, e somente poste mensagens no grupo
depois de ter observado por um tempo, e entendido
como funciona o sistema de postagens e a maneira
como as pessoas se relacionam naquela determinada
comunidade.

178 © Teorias de Tradução


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

1. INTRODUÇÃO
Nesta unidade, conheceremos uma pequena relação de
autores, alguns citados no decorrer desta obra e outros sobre os
quais ainda nem sequer falamos.
Evidentemente, com uma proposta tão arrojada, não há
a possibilidade de esgotarmos o assunto e, muito menos, de
falarmos tudo sobre determinados autores; nem abordarmos
em profundidade todos os nomes dignos de citação.
Desse modo, deixaremos, aqui, uma série de sementes
prontas para germinar no momento em que você, aluno-
pesquisador, resolver adquirir mais conhecimentos sobre eles.
Assim, um título mais adequado para esta unidade seria:
"Alguns tradutores que fizeram história".
Bom estudo!

2. TEÓRICOS DA TRADUÇÃO
Vejamos, a seguir, alguns autores importantes das teorias
de tradução.
Rosemary Arrojo

Figura 1 Rosemary Arrojo.

© Teorias de Tradução 179


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

Brasileira. Pós-doutorada pela Yale University, doutora em


Humanidades pela Johns Hopkins University, mestre em Theory
and Practice of Literary Translation pela University of Essex e
graduada em Letras (Inglês e Português) pela Universidade de
São Paulo – USP. Professora da Binghamton University, Nova
York, EUA. Ex-professora na Universidade Estadual de Campinas
– UNICAMP segundo informações publicadas em seu currículo
na Plataforma Lattes.
Obras de sua autoria:
• The Power of Originals and the Scandal of Translation
– A Reading of Edgar Allan Poe's "The Oval Portrait".
In: PÉREZ, M. C. (Ed.). Translation and Ideology.
Manchester: St. Jerome, 2003a. p. 165-180.
• Oficina de tradução: a teoria na prática. 4. ed. 4ª.
reimpressão. São Paulo: Ática, 2003.
• Tradução, desconstrução e psicanálise. Rio de Janeiro:
Imago, 1993.
• O signo desconstruído: implicações para a tradução, a
leitura e o ensino. Campinas: Pontes, 1992.

A obra Oficina de tradução é de preço acessível e de linguagem


atual e precisa, ideal para quem está começando e quer saber
mais detalhes sobre a prática de tradução.

180 © Teorias de Tradução


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

Heloísa Gonçalves Barbosa

Figura 2 Heloísa Gonçalves Barbosa.

Brasileira. Doutora em Translation Studies pela Universidade


de Warwick, na Grã-Bretanha, mestre em Letras Anglo-
germânicas pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do
Rio de Janeiro – UFRJ e graduada em Teoria da Comunicação e
Editoração pela Escola de Comunicação da Universidade Federal
do Rio de Janeiro – UFRJ. Professora associada 2 na Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, onde participa do Programa de
Pós-graduação em Linguística Aplicada. Desenvolve atividades
de ensino, pesquisas e extensões na área de Tradução. Ex-
presidente do Sindicato Nacional dos Tradutores (SINTRA).
Obras de sua autoria:
• Procedimentos técnicos da tradução: uma nova
proposta. 2. ed. Campinas: Pontes, 2004. v. 1.
• Dicionário escolar Longman inglês-português,
português-inglês. Harlow: Pearson Educational Limited,
2002.
• Um perfil da literatura brasileira traduzida em inglês.
In: MONTEIRO, M. J. P. (Org.). Práticas discursivas:
instituição, tradução e literatura. Rio de Janeiro: UFRJ,
Faculdade de Letras, 2000. p. 90-103.

© Teorias de Tradução 181


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Embora diversos autores tenham feito compilações sobre os procedimentos
técnicos de tradução, a obra Procedimentos técnicos da tradução, de Heloísa
Gonçalves Barbosa, além de possuir uma leitura fácil e um preço acessível,
faz uma revisão bastante abrangente de diferentes classificações dos
procedimentos técnicos (omissão, equivalência, modulação, entre outros)
propondo suas atualizações e a inclusão de algumas classes, como, por
exemplo, a paráfrase e o rótulo tradutório.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Susan Bassnett

Figura 3 Susan Bassnett.

Obras de sua autoria:


1) Reflections on translation. Reino Unido: Multilingual
Matters, 2011.
2) Translation in Global News, with Esperanca Bielsa.
Londres: Routledge, 2008.
3) (Co-editor). Political discrouse, media and translation.
Inglaterra: Cambridge Scholars Publishing, 2011.
4) Ted Hughes, writers and their work series. Reino Unido:
Northcote House, 2008.

182 © Teorias de Tradução


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Embora a Prof. Bassnett ocupe atualmente um cargo administrativo de grande
destaque (Pro-Vice-Chancellor da University of Warwick), ela continua atuante
como pesquisadora e autora de diversos trabalhos científicos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Antoine Berman

Figura 4 Antoine Berman.

Francês. Tradutor, historiador e teórico da tradução,


falecido em 1991.
Obras de sua autoria:
1) L’épreuve de l’étranger: culture et traduction dans
l’Allemagne romantique. Paris: Gallimard, 1984.
2) Lettres à fouad el-etr sur le romantisme allemand.
Paris: PUF, 1991.
3) Pour une critique des traductions: John Donne. Paris:
Gallimard, 1995.
4) La traduction et la lettre ou l’auberge du lointain. Paris:
Seuil, 1999.

© Teorias de Tradução 183


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

Para quem não consegue ler em francês, as obras de Berman


podem ser encontradas em português; algumas, até, com mais
de uma tradução. Vale a pena ler!

Lenita Maria Rimoli Esteves

Figura 5 Lenita Maria Rimoli Esteves.

Brasileira. Doutora em Linguística pela Universidade


Estadual de Campinas – UNICAMP e mestre em Linguística
Aplicada pela mesma instituição. Professora Livre-Docente na
Universidade de São Paulo – USP.
Obras de sua autoria:
1) Ciência em tradução: uma visão panorâmica. Tradterm,
v. 21, p. 283-298, 2013.
2) Editores britânicos: esboço de um perfil. Tradução &
Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores, p. 21-
34, 2013.
3) “The lord in the ring” ou “E eu, menos a conhecera,
mais a amara?”. In: PIETROLUONGO, M. A. (Org.). O

184 © Teorias de Tradução


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

trabalho da tradução. Rio de Janeiro: Contra Capa,


2009. p. 101-111.
4) Tradução, ética e pós-colonialismo: nós versus eles.
Tradução e comunicação. São Paulo: UNIBERO, n. 18,
p. 31-42, 2009. Disponível em: < http://pgsskroton.
c o m . b r /s e e r / / i n d e x . p h p / t ra d u c o m /a r t i c l e /
download/2040/1941>. Acesso em: 26 jul. 2015.
5) Fronteiras abertas para línguas e culturas estrangeiras:
quando é que uma nação assume essa atitude.
Tradução em revista. São Paulo: UNIBERO, v. 4, p. 30,
2009.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A professora Lenita trabalha, atualmente, com Tradução e Ética, assuntos
cada vez mais atuais em um mundo no qual a internet diminui distâncias e
estreita laços.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Mauri Furlan

.
Figura 6 Mauri Furlan.

Brasileiro. Doutor em Filologia Clássica pela Universidade


de Barcelona, mestre em Literatura pela Universidade Federal

© Teorias de Tradução 185


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

de Santa Catarina – UFSC e, também, professor adjunto nessa


mesma instituição. É graduado em Letras – Licenciatura em
Alemão pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
e, também, em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação e
Turismo Hélio Alonso – FACHA.
Obras de sua autoria:
1) Retraduzir é preciso. Scientia Traductionis, v. 1, p. 284-
294, 2013.
2) Fundamentos de la Concepción Moderna de
Traducción: la Teoría de la Traducción Renacentista.
1611. Revista de Historia de la Traducción, v. 6, p. 32-
41, 2012.
3) Da Teoria Elocutiva da Tradução Renascentista.
Tradução em Revista, v. 8, p. 1-10, 2010.
4) La retórica de la traducción en el renacimiento:
elementos para la constitución de una teoría de la
traducción renacentista. Barcelona: Universitat de
Barcelona, 2002.
5) Brevíssima história da teoria da tradução no Ocidente:
I. Os Romanos. In: Cadernos de tradução, n. 8.
Florianópolis: PGET, 2003.
6) Língua latina I. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2009.
7) Ars traductoris: questões de leitura-tradução da Ars
Poetica de Horácio. Florianópolis: PGET, 2005.

Se pesquisarmos a história da tradução em textos em português,


certamente ouviremos falar do professor Furlan, o que significa
que, se você pretende estudar esse assunto em maior
profundidade, deve ler os artigos e os livros citados anteriormente
e muitos outros da autoria desse pesquisador catarinense.

186 © Teorias de Tradução


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

Valentín Garcá Yebra

Figura 7 Valentín Garcá Yebra.

Espanhol. Filólogo e tradutor.


Obras de sua autoria:
1) Traducción y enriquecimiento de la lengua del
traductor. Gredos: R. A. E., 2004.
2) En torno a la traducción: teoría, crítica, historia. 2. ed.
Madri: Grifos, 1989.
3) Traducción: historia y teoría. Madrid: Gredos, 1994.
4) Teoría y práctica de la traducción. 3. ed. Madrid:
Gredos, 1997.
5) Documentación, terminología y traducción. Madrid:
Síntesis, 2000.
6) CONSUELO, G. G. et al. Manual de documentación para
la traducción literária. Madri: Arco Libros, 2005.
7) Experiencias de un traductor. Madrid: Gredos, 2006.
Algumas de suas traduções:
• SCHLEIERMACHER, F. Sobre los diferentes métodos de
traducir. Madrid: Gredos, 2000.

© Teorias de Tradução 187


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

• SILVA, V. M. A. Teoría de la literatura. Madrid: Gredos,


1996.

Não deixe de ler García Yebra, esse teórico espanhol que


escreveu excelentes obras de referência.

John Milton

Figura 8 John Milton.

Professor livre-docente da Universidade de São Paulo.


Possui graduação em Letras – Literatura Inglesa e Espanhol pela
Universidade de Wales (Swansea), mestrado em Linguística
Aplicada pela PUC-SP, e doutorado em Literatura Inglesa pela
mesma instituição. Atualmente, é coordenador do programa de
pós-graduação em Tradução e professor nas áreas de Literatura
Inglesa e Estudos da Tradução na Universidade de São Paulo- USP.
Atua nas seguintes áreas: tradução, tradução literária, tradução
no Brasil e Shakespeare.
Obras de sua autoria:
1) Adapting to the Times: Adaptation as a Form of
Translation in Different Periods in Brazil. Journal of
American Studies of Turkey, v. 33-34, p. 21-42, 2013.

188 © Teorias de Tradução


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

2) A importância de fatores econômocos na publicação


de traduções: um exemplo do Brasil. Tradterm, v. 17,
p. 85-100, 2011.
3) The importance of economic factors in translation
publication: an example from Brazil. In: PYM, A.;
SHLESINGER, M.; SIMEONI, D. (Org.). Beyond descriptive
translation studies: investigations in homage to Gideon
Toury. Amsterdam: John Benjamins, 2008. p. 163-174.
4) Universals in translation: a look at the Asian Tradition.
Tradução e Comunicação, v. 2008, p. 95-104, 2008.
5) Monteiro Lobato and translation: “Um país se faz com
homens e livros”. DELTA 9, Revista de Documentação
em Linguística Teórica e Aplicada, São Paulo, n. 19:
Especial, v. 19, p. 117-132, 2003.
6) The translations of the brazilian Book Club, the Clube
do Livro. Crop, São Paulo, n. 6, p. 195-245, abr. 2001.

Georges Mounin (pseudônimo de Louis Leboucher)


Francês. Linguista e professor universitário de Linguística
e Semiologia na Université d’Aix-en-Provence, falecido em 1993.
Obras de sua autoria:
• Les belles infidèles: essai sur la traduction. Lille: Cahiers
du Sud, 1994.
• Les problèmes théoriques de la traduction. Paris:
Gallimard, 1963.
• La machine à traduire. Haia: Mouton, 1964.
• Linguistique et traduction. Liège-Bruxelles: Mardaga,
1976.
• La sémantique. Paris: PUF, 1997.

© Teorias de Tradução 189


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Note que La machine à traduire foi publicado em 1964, sendo, portanto, um
dos primeiros trabalhos a abordar o tema da tradução automática.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Jorge Manuel Costa Almeida Pinho

Figura 9 Jorge Manuel Costa Almeida Pinho.

Português. Doutor em Estudos Anglo-Americanos –


Tradução pela Universidade do Porto, Portugal. Mestre em
Estudos de Tradução e licenciado em Língua e Literaturas
Modernas e em Estudos Ingleses e Alemães. Docente no Ensino
Superior desde 1991, lecionando várias disciplinas nas áreas de
Tradução e Interpretação, no ISAI, em Porto.
Obra de sua autoria:
• A tradução para edição. Portugal: Porto Edições, 2015.
• O escritor invisível – a tradução tal como é vista pelos
tradutores portugueses. Lisboa: Quidnovi, 2006.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Embora o professor Pinho tenha escrito O escritor invisível com base nas
pesquisas feitas em solo lusitano, é interessante notar que grande parte do
que ele detectou se aplica à realidade da tradução no Brasil.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

190 © Teorias de Tradução


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

Lawrence Venuti

Figura 10 Lawrence Venuti.

Estadunidense. Professor de Inglês na Temple University;


trabalha com literatura moderna, tradições poéticas e teoria da
tradução.
Obras de sua autoria:
7) Translation Changes Everything. Londres e Nova York:
Routledge, 2013.
1) The translation studies reader. 3. ed. Londres e Nova
York: Routledge, 2012.
2) Our halcyon dayes: english prerevolutionary texts and
postmodern culture. Madison: University of Wisconsin
Press, 1989.
3) The translator’s invisibility: a history of translation.
Londres: Routledge, 1995.
4) The scandals of translation: towards an ethics of
difference. Londres: Routledge, 1998.

© Teorias de Tradução 191


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

Algumas de suas traduções:


1) BUZZATI, D. Restless nights: selected stories of Dino
Buzzati. New York: North Point, 1983.
2) ITALY. A traveler’s literary companion. Berkeley:
Whereabouts, 2000.
3) PANARELLO, M. 100 strokes of the brush before bed.
Nova York: Grove, 2004.
4) POZZI, A. Breath: poems and letters. Middletown:
Wesleyan University, 2002.
5) TARCHETTI, I. U. Fantastic tales. San Francisco: Mercury
House, 1992.
6) WILCOCK, J. R. Collection of real and imaginary
biographies. San Francisco: Mercury House, 2000.
7) ______. The temple of iconoclasts. San Francisco:
Mercury House, 2000.

É de grande importância ler uma das obras citadas anteriormente,


pois sabemos que você será afetado pelas ideias revolucionárias
de Venuti.

3. FOOD FOR THOUGHT


Em inglês, a expressão "food for thought" em geral
relaciona-se a algo que serve de semente para futuras reflexões.
Portanto, vamos encerrando esta unidade, mas deixando aqui
uma mensagem bem clara: o tradutor, para se manter no
mercado, nunca pode parar de aprender, tem de ser curioso
e viver "alimentando" sua mente com leituras, filmes, peças
de teatro, boas conversas com colegas. Consulte o Tópico de
E-referências ao final desta unidade e pesquise mais sobre os

192 © Teorias de Tradução


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

autores que chamaram sua atenção. Veja o que mais publicaram,


leia sobre suas trajetórias profissionais e suas linhas de pesquisa,
descubra onde trabalham ou trabalharam e comece novas
pesquisas sobre outros autores importantes.
Conheça a vida e as obras de pessoas que, como você, um
dia, começaram a estudar tradução e nunca mais pararam.
Seja você também um pesquisador. Escreva artigos, envie
resumos para congressos e, se eles forem aceitos, seja parte ativa
em eventos científicos. Se não forem aceitos, não desanime,
tente de novo, leia mais, escreva mais e traduza sempre!

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Estabeleça a correlação entre os tradutores e suas respectivas publicações:
( ) John Milton a. Reflections on Translation.
( ) Rosemary Arrojo b. Adapting to the Times: adaptation
as a form of translation in different
periods in Brazil.
( ) Lawrence Venuti c. Oficina de tradução.
( ) Susan Bassnett d. Translation Changes Everything.

2) Estabeleça a correlação entre os teóricos da tradução e suas respectivas


áreas de pesquisa:
( ) Lawrence Venuti a. Tradução, ética e pós-colonialismo.
( ) Antoine Berman b. Porcedimentos técnicos da tradução.
( ) Heloisa Barbosa c. Invisibilidade do tradutor.
( ) Lenita Esteves d. Tradução etnocêntrica e
estrangeirizadora.

© Teorias de Tradução 193


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

3) Estabeleça a correlação entre os tradutores e suas obras:


( ) Valentín Garcá Yebra a. A tradução para edição.
( ) Georges Mounin b. Traducción y enriquecimiento de la
lengua del traductor.
( ) Jorge Manuel Costa Almeida c. Les belles infidèles: essai sur la
Pinho traduction.
( ) Antoine Berman d. La traduction et la lettre ou l’auberge
du lointain.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) b – c – d – a

2) c – d – b – a

3) b – c – a – d

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final da Unidade 7. Temos a certeza de
que você pensará em como a vida e a obra de todos esses
autores, nacionais e estrangeiros, alguns antigos e outros
contemporâneos, podem influenciar sua carreira.
Note que os caminhos são variados e as escolhas também,
mas todos têm em comum a vontade de conhecer cada vez mais,
de estudar e de aprimorar-se em seu campo de trabalho.
Para isso, a leitura é uma excelente fonte de informações.
Os vídeos e arquivos de imagem também trazem conceitos
interessantes.

194 © Teorias de Tradução


UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

Estudar sobre os diversos teóricos da tradução leva-nos


a terras distantes, a novos horizontes e a caminhos percorridos
por muitos antes de nós.
Aproveite esses conhecimentos da melhor maneira possível
e faça dos acertos do passado um exemplo a ser seguido.

6. E-REFERÊNCIAS

Lista de Figuras
Figura 1 Rosemary Arrojo. Disponível em: <http://isg.urv.es/publicity/doctorate/
photos/RosemaryArrojo.jpg>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 2 Heloísa Gonçalves Barbosa. Disponível em: <http://www.letras.ufrj.br/get/
images/foto_heloisa_barbosa.jpg>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 4 Antoine Berman. Disponível em: < http://dedaluseditores.com.ar/wp-
content/uploads/2014/09/berman.jpg>. Acesso em: 7 ago. 2015.
Figura 5 Lenita Esteves. Disponível em: <http://www.lenitaesteves.pro.br/>. Acesso
em: 2 mar. 2010.
Figura 6 Mauri Furlan. Disponível em:< http://i1.rgstatic.net/i/
profile/9c960522a0ac1d14ed_l_ce5b5.jpg>.
Figura 7 Valentín García Yebra. Disponível em: <http://www.culturaclasica.com/files/
valentin_garcia_yebra.jpg>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 8 John Milton. Disponível em:< http://dlm.fflch.usp.br/sites/dlm.fflch.usp.br/
files/imagepicker/7/thumbs/john_milton.jpg>. Acesso em: 7 ago. 2015.
Figura 9 Jorge Manuel Costa Almeida Pinho. Disponível em:<http://www.ovarnews.
pt/jorge-almeida-e-pinho-apresenta-o-livro-a-traducao-para-edicao/>. Acesso em: 7
ago. 2015.
Figura 10 Lawrence Venuti. Disponível em: <http://www.temple.edu/temple_times/
march07/images/venuti3.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2010.

Sites pesquisados
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UNIDADE 7 – Tradutores que Fizeram a História

BARBOSA, H. G. Currículo na Plataforma Lattes. Disponível em: <http://buscatextual.


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B004N1ZH8C>. Acesso em: 24 jul. 2015.
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faculty/lawrence-venuti/>. Acesso em: 24 jul. 2015.

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