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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


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Meu nome é Gustavo de Almeida Barros. Atualmente sou


doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Educação na
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar/São Carlos-SP). Sou
mestre em Educação (2015) pelo mesmo programa e graduado
em Filosofia (2012) pelo Claretiano – Centro Universitário
(Batatais-SP). Além disso, sou graduado em Pedagogia (2004)
pelo Centro Universitário Moura Lacerda (Ribeirão Preto-SP).
Atuo há 18 anos como arte-educador, tendo experiência nas
áreas das Artes Cênicas e Plásticas e Contação de Histórias,
ministrando aulas no Ensino Fundamental e oficinas para vários públicos. Atuo,
também, como professor de Filosofia, Ética e Sociologia para Ensino Fundamental
II e Ensino Médio das redes pública e particular, e como professor dos anos iniciais
do Ensino Fundamental na rede pública. Atualmente, sou professor de Filosofia
do Ensino Fundamental II e de Iniciação Teatral para turmas dos alunos de regime
integral no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, e professor convidado do Claretiano –
Centro Universitário nos cursos de Extensão Universitária. Como pesquisador, trato da
Filosofia da Diferença para pensar a minoria e a singularidade na Educação.
E-mail: gustavo_abarros@yahoo.com.br
Gustavo de Almeida Barros

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

Batatais
Claretiano
2019
© Ação Educacional Claretiana, 2018 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação
Educacional Claretiana.

CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia
Aparecida Ribeiro • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori Martins • Lidiane Maria Magalini
• Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia Alves Veronez Montera • Simone
Rodrigues de Oliveira
Revisão: Eduardo Henrique Marinheiro • Filipi Andrade de Deus Silveira • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo
Ferreira Daverni • Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgarelli • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa
Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami
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Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso

Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

100 B277i 
 
        Barros, Gustavo de Almeida 
        Introdução à filosofia / Gustavo de Almeida Barros – Batatais, SP : Claretiano, 2019. 
                164 p.   
 
                 ISBN: 978‐85‐8377‐606‐2  

        1. Filosofia. 2. Introdução a filosofia. 3. História da filosofia. 4. Impulso filosófico. 
        5. Filosofia: grandes temas. I. Introdução à filosofia.  
        
 
 
 
 
 
                                                                                                                                                               CDD 100 

INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: Introdução à Filosofia
Versão: ago./2019
Formato: 15x21 cm
Páginas: 164 páginas
SUMÁRIO

CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 11
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS ............................................................................ 12
3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE ............................................................... 18
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 20

UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO


1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 23
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 24
2.1. O ESPANTO ............................................................................................... 24
2.2. A DÚVIDA ................................................................................................. 28
2.3. O PROBLEMA ........................................................................................... 33
2.4. O RIGOR ................................................................................................... 36
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 41
3.1. AISTHESIS ................................................................................................ 41
3.2. DÚVIDA .................................................................................................... 41
3.3. O PROBLEMA ........................................................................................... 42
3.4. O RIGOR ................................................................................................... 42
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 43
5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 48
6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 49
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 50

UNIDADE 2 – AS FORMAS DE CONHECIMENTO


1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 53
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 54
2.1. O CONHECIMENTO.................................................................................. 55
2.2. OS CONHECIMENTOS DO DIA A DIA ...................................................... 58
2.3. O CONHECIMENTO FILOSÓFICO ............................................................ 65
2.4. O CONHECIMENTO CIENTÍFICO ............................................................. 67
2.5. O CONHECIMENTO RELIGIOSO .............................................................. 72
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 74
3.1. SENSO COMUM ....................................................................................... 74
3.2. CONHECIMENTO CIENTÍFICO ................................................................ 75
3.3. CONHECIMENTO RELIGIOSO .................................................................. 76
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 76
5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 81
6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 83
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 84

UNIDADE 3 – AS GRANDES QUESTÕES


1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 87
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 88
2.1. QUESTÕES FILOSÓFICAS ......................................................................... 88
2.2. CARACTERÍSTICAS DAS QUESTÕES FILOSÓFICAS ................................. 89
2.3. TIPOS DE QUESTÕES FILOSÓFICAS ........................................................ 90
2.4. AS GRANDES QUESTÕES FILOSÓFICAS .................................................. 96
2.5. PENSAMENTOS OU FILOSOFIAS NÃO OCIDENTAIS .............................. 98
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 109
3.1. FILOSOFIA POLÍTICA .............................................................................. 109
3.2. PENSAMENTO AMERÍNDIO .................................................................... 110
3.3. PENSAMENTO AFROCENTRADO ............................................................ 111
3.4. PENSAMENTO PÓS-COLONIAL ............................................................... 112
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 112
5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 117
6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 117
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 118

UNIDADE 4 – A FILOSOFIA
1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 123
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 124
2.1. HISTÓRIA DA FILOSOFIA ......................................................................... 124
2.2. ÁREAS DE INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS .............................................. 150
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 154
3.1. FILOSOFIA MEDIEVAL ............................................................................. 154
3.2. FILOSOFIA MODERNA ............................................................................. 155
3.3. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA ............................................................... 155
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 156
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 160
6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 161
7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 162
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo
O impulso filosófico: a Filosofia enquanto atividade crítica, consequente e a
priori. A possibilidade de conhecer objetos. O conhecimento teórico. O texto
filosófico. O problema filosófico e a pergunta filosófica. O rigor filosófico. As
formas de conhecimento: o conhecimento do dia a dia. A religião e a ciência e
suas inter-relações com a Filosofia. As grandes questões: suas características
e as formas como se dão frente às áreas de investigação filosóficas. Os pro-
blemas filosóficos. Filosofia não ocidental. Os grandes períodos da Filosofia:
Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea. Os grandes temas de investiga-
ção filosófica e suas principais características. Grandes correntes de Filosofia
na atualidade: continental e analítica.

Bibliografia Básica
MATTAR, J. Filosofia. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.
PAVIANI, J. Uma introdução à Filosofia. Caxias do Sul: Educs, 2014.
RUSSEL, B. O valor da Filosofia. Tradução de Álvaro Nunes. Oxford: Oxford University
Press, 2001.

Bibliografia Complementar
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho
Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
AUBENQUE, P.; BERNHARDT, J.; CHÂTELET, F. A filosofia pagã: do século VI a.C. ao
século III d.C. Tradução de Maria José de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. (História
da filosofia: ideias, doutrinas, v. 1).

9
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia, 1: Antiguidade e Idade Média. São Paulo:
Paulus, 1990.
RUSSEL, B. História do pensamento ocidental: a aventura das ideias dos pré-socráticos
a Wittgenstein. Tradução de Laura Alves e Aurélio Rebello. Rio de Janeiro: Ediouro,
2001.

Palavras-chave ––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Filosofia. Introdução à Filosofia. Impulso Filosófico. Conhecimento. Período
Filosófico.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

É importante saber
Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá
ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias
à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos,
os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento
ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de
saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente se-
lecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados
em sites acadêmicos confiáveis. É chamado "Conteúdo Digital Integrador" porque é
imprescindível para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referência. Juntos,
não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementares) e a leitu-
ra de "navegação" (hipertexto), como também garantem a abrangência, a densidade
e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigató-
rios, para efeito de avaliação.

10 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUÇÃO
O texto que segue tem a pretensão de realizar, como o
próprio título diz, uma Introdução à Filosofia. Foi pensado e ela-
borado com carinho para que se possam respeitar as múltiplas
formas de pensamento que estarão representadas nestas breves
folhas, e que comporão o campo profissional filosófico.
Dividimos o texto em quatro unidades: a Unidade 1 abor-
dará a origem da Filosofia por meio do Thauma e o processo que
se segue, com a dúvida, o problema e o rigor. Já na Unidade 2,
focaremos o conhecer, seja o conhecimento do dia a dia, sejam
os conhecimentos mais sistemáticos, como o filosófico, o cientí-
fico e o religioso.
Na Unidade 3, trataremos das grandes questões. Optamos
por abordá-las inicialmente pelo que seria o problema filosófi-
co, para depois tratarmos de suas características e quais são os
tipos de questões possíveis de se encontrar nas áreas de investi-
gações filosóficas. Por fim, buscaremos outras formas possíveis e
existentes de trabalhar as questões filosóficas que não seja pelo
pensamento ou pela filosofia ocidental.
Terminaremos com a Unidade 4, na qual passaremos bre-
vemente pela História da Filosofia, por alguns de seus principais
pensadores, escolas filosóficas e ideias. No final, retomaremos
brevemente a concepção das áreas de investigações filosóficas e
suas aplicações.
Desejamos que, ao término da contemplação deste mate-
rial, você possa, de maneira autônoma, ter uma visão mais am-
pla deste universo de novas possibilidades que está se abrindo
agora para você e que se chama Filosofia.

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 11
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e
precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domí-
nio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conheci-
mento dos temas tratados.
1) Aporia: habitualmente é tratada como uma situação
sem saída. Para a Filosofia, é uma situação racional
que impossibilita a chegada a uma resposta ou solução
frente a um problema filosófico. Dúvida racional.
2) Ataraxia: conceito de origem grega muito empregado
na Filosofia Helenística pelas escolas filosóficas do Ce-
ticismo, Epicurismo e Estoicismo. Significa “ausência
de perturbação da mente”.
3) Contemplação: em um contexto cotidiano, significa
manter a atenção ou o pensamento voltado a algo;
muitas vezes é visto como sinônimo de meditação. Já
na Grécia Antiga, a contemplação resumiria ter uma
vida teórica, em contraposição a uma vida prática.
4) Cosmogonia: ciência, doutrina, misticismo ou filosofia
que se ocupa com a formação/criação do universo. É
mais utilizada dentro dos princípios míticos que nar-
ram a origem do Universo, o que seria também a ori-
gem de muitas religiões.
5) Cosmologia: popularmente tratada como uma área da
Astronomia que se preocupa com a formação, expan-
são e a evolução do Universo. Na Filosofia, refere-se
a um período filosófico também conhecido como Pré-
-Socrático. Tal período também é marcado pela origem
da Filosofia, com Tales de Mileto.

12 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

6) Cosmólogos: nome dado aos primeiros filósofos, que


compunham a Cosmologia na Grécia Antiga; a palavra
“filósofo” é posterior, tendo sido criada pelo filósofo
Pitágoras.
7) Cosmopolita: pessoa que viaja pelo mundo sem se fi-
xar ou criar raiz em nenhuma terra, nem na sua cida-
de natal. Tal pessoa se sente naturalmente cidadã do
mundo.
8) Diacrônico: toda a possibilidade de estudar, contar,
perceber qualquer fato dentro de uma linha do tempo
que se caracterize como um processo evolutivo.
9) Dogmas: pontos ou leis universais que fundam um
sistema ou uma doutrina filosófica ou religiosa cujas
verdades são indubitáveis. Princípios do dogmatismo.
10) Doxa: palavra grega que significa crença comum, ou
uma opinião na qual toda uma população acredita. Tal
palavra se contrapõe ao conhecimento, mais especi-
ficamente à “Episteme”, que seria um conhecimento
superior que levaria o homem a abandonar a Doxa.
11) Empiria: palavra grega que significa “experiência”.
Comumente compreendida como conhecimento que
se tem pelas relações sensíveis com o mundo. Para
a Filosofia, pode ser a repetição de um fato na vida
pessoal de um indivíduo que trará um conhecimento,
ou a possibilidade de se aferir a validade de uma res-
posta ou solução por meio da repetição das situações
envolvidas.
12) Epistemológico: relaciona-se diretamente à Epistemo-
logia, a Teoria do Conhecimento. Está ligada à Episte-
me, que seria o conhecimento verdadeiro, oriundo de

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 13
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

metodologias de natureza científica, que lhe garantem


validade. Opõe-se à Doxa.
13) Holística: refere-se ao Holismo. Teoria que defende
uma interação com o todo, considerando que os ele-
mentos existentes no universo ou em qualquer outro
organismo estariam interagindo em harmonia. Essa in-
teração explicaria o comportamento das partes, e não
os elementos que interferem ou determinam o todo,
seja na escala do organismo ou do universo.
14) Ignorância: termo popularmente usado como uma in-
júria pessoal. A Filosofia compreende a existência de
dois tipos de ignorância, as quais Kant chamava de
ignorância objetiva, que consiste em uma deficiência
racional em conhecer determinadas coisas, e a igno-
rância subjetiva, que esbarra na limitação do próprio
conhecimento humano. Chamada também de douta
ignorância nas obras de Agostinho e Nicolau de Cusa.
Ressaltamos que nenhuma das duas definições são
problemáticas. O problema da ignorância também não
está relacionado à falta de conhecimento, mas à ati-
tude do homem ao ignorar os demais conhecimentos
existentes no mundo por julgar não apenas que o que
ele conhece está certo, mas que também lhe é sufi-
ciente para a vida.
15) Intuição: pejorativamente considerada uma forma de
conhecimento inferior, por tratar-se de uma faculda-
de da percepção que não requer raciocínio ou análi-
se. Para a Filosofia, mantém uma relação direta com o
objeto, o que leva a um conhecimento direto, claro e
imediato.

14 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

16) Lei da Causalidade: popularmente conhecida como


Lei de Causa e Efeito, ela é compreendida por duas
formas distintas. A primeira diz que o nexo entre duas
coisas se dá quando a segunda é previsível a partir da
primeira coisa – por exemplo, padeiro é previsível de
pão. Já a segunda compreensão determina que o se-
gundo nexo não é previsível pelo primeiro, mas pode
ser deduzido dele – por exemplo, o nascer do Sol não é
previsível pelo pôr do Sol, mas pode ser deduzido dele.
17) Método Dedutivo: como todo método filosófico, utili-
za-se de certa forma de raciocínio lógico frente às pre-
missas a serem analisadas. A dedução parte do geral e
segue ao particular. Por exemplo: todo homem é mor-
tal; Sócrates é homem; logo, Sócrates é mortal.
18) Método Experimental: método que se inicia com a
ciência moderna e, embora o método seja creditado
a Galileu Galilei, não se pode negar a contribuição de
Francis Bacon. Há variação no método, mas, quando
surgiu, era estruturado basicamente por: observação,
elaboração de hipóteses, experimentação (comprova-
ção empírica das hipóteses), análise (sistematização
dos dados), generalização (criação de leis universais).
19) Método Indutivo: oposto ao método dedutivo, pois,
por intermédio do raciocínio lógico, partirá da análi-
se das partes, isto é, a partir de algo demonstrável,
concluem-se verdades universais, isto é, o oposto da
dedução – uma vez que a indução parte das partes e
chega ao geral. Por exemplo: um cisne é branco, dois
cisnes são brancos, três cisnes são brancos. Logo, to-
dos os cisnes são brancos.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

20) Mídia de Massa: termo que se refere aos meios de


comunicação que alcançam um grande número de
pessoas, impactando-as com suas informações. A Es-
cola de Frankfurt (Teoria Crítica) refuta a premissa de
neutralidade da cultura (ou mídia) de massa ao con-
ceitualizar esse fenômeno moderno como “Indústria
Cultural”, uma forma sutil e prazerosa de manipulação
dos indivíduos.
21) Naturalista: derivado de “naturalismo” que tem três
compreensões possíveis. A primeira relaciona-se à es-
cola literária que aproveita o desenvolvimento cientí-
fico e o surgimento de novas ciências. Em suas obras,
o homem é visto a partir de uma visão materialista,
segundo a qual é guiado por leis sociais pautadas nas
ciências. A segunda compreensão relaciona-se aos es-
tudiosos das Ciências Naturais, mais especificamente
a Biologia – Charles Darwin é um exemplo de natura-
lista. E a última compreensão cabe à Filosofia, segun-
do a qual os naturalistas eram os primeiros filósofos,
também chamados de Cosmólogos, pois iam direta-
mente à natureza procurar as respostas para os seus
problemas.
22) Paradoxo: pode ter dois sentidos. O primeiro refere-se
a uma opinião que seja oposta à opinião majoritária,
isto é, ser contrário a um sistema de crença comum,
provando sua falsidade. No segundo sentido, pode ser
a coexistência de duas coisas ao mesmo tempo, como
o paradoxo presente na entropia: pense em uma gar-
rafa com água a descansar por certo tempo no con-
gelador. Tira-se a água quando ela atingir 0 °C. Quan-
do você tira a garrafa do congelador, a água está no

16 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

estado líquido e, ao pegar a garrafa, ela se solidifica


instantaneamente. Isso se dá porque a 0 °C a água se
encontra ao mesmo tempo em dois estágios, o líqui-
do (grandeza) e o sólido (grandeza) ao mesmo tempo
dentro da garrafa (domínio). Podemos afirmar que em
um domínio se encontram duas grandezas.
23) Período homérico: para muitos historiadores, é o pri-
meiro período histórico grego (1150-800); para outros,
é o segundo período, vindo após o período creto-
-micênico ou pré-homérico, marcado pela formação
do homem grego, pelas grandes histórias narradas
por Homero (que empresta o nome ao período) e por
Hesíodo.
24) Peripatéticos: alunos que frequentavam o Perípatos
de Aristóteles (seu Liceu), fundado em 336 a.C. e per-
durando até o final da Filosofia Antiga, no século 4 d.C.
Também conhecidos por seus discípulos, que herdam
a característica de Aristóteles de filosofar caminhando.
Por isso, “peripatéticos” significa “os que passeiam”.
25) Phýsis: termo grego que significa “natureza” (não
como a concebemos). Na Filosofia (tal palavra perten-
cia à mitologia grega também), ganha o significado de
força criadora responsável pelo nascimento e desen-
volvimento de todas as coisas múltiplas existentes na
natureza (como a concebemos).
26) Racialização: processo sociopolítico-religioso, no
qual pessoas julgadas como diferentes daquilo que é
considerado a norma sofrem um processo de identi-
ficação, classificação e possível subjugação, devido a
seu aspecto físico, suas características etnoculturais e
socioeconômicas.

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 17
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

27) Revelação: geralmente vista em oposição à razão, é


o que é desvelado por uma entidade transcendente.
As verdades do pensamento religioso são verdades
reveladas.
28) Sincrônico: o que exclui qualquer intervenção de tem-
po, de forma que fatos históricos poderiam ser anali-
sados sem necessariamente ter uma visão de encadea-
mentos de fatos.
29) Taxonomia: pode ser compreendida como técnica ou
ciência de classificar. Se considerada uma ciência, ela
deve ser vista como um ramo da Biologia que descreve,
identifica e classifica os organismos. Tal prática pode
ocorrer direcionada tanto a indivíduos como a grupos.
30) Teogonia: também conhecida como genealogia dos
deuses; são narrativas míticas que tratam do surgi-
mento e da existência dos deuses e, consequentemen-
te, do surgimento do universo. Geralmente está inter-
ligada à cosmogonia mítica.

3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE


O Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos con-
ceitos mais importantes deste estudo. Ao refletirmos sobre a
origem da Filosofia, é possível ver que ela se dá a partir daquilo
que chamamos de impulso filosófico, o qual, por sua vez, se ori-
gina com uma admiração/espanto e conta, ainda, com a dúvida,
o problema e o rigor. Seus resultados permitem compreender a
própria produção de conhecimentos que culminará em filosofias.

18 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave de Introdução à Filosofia.

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 19
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho
Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
AUBENQUE, P.; BERNHARDT, J.; CHÂTELET, F. A filosofia pagã: do século VI a.C. ao
século III d.C. Tradução de Maria José de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. (História
da filosofia: ideias, doutrinas, v. 1).
FERREIRA, A. B. H. Míni Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. Curitiba: Positivo,
2010.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia, 1: Antiguidade e Idade Média. São Paulo:
Paulus, 1990.
RUSSEL, B. História do pensamento ocidental: a aventura das ideias dos pré-socráticos
a Wittgenstein. Tradução de Laura Alves e Aurélio Rebello. Rio de Janeiro: Ediouro,
2001.

20 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1
O IMPULSO FILOSÓFICO

Objetivos
• Compreender de forma ampla a concepção de Filosofia.
• Apresentar como surge o impulso filosófico.
• Estruturar os passos necessários ao exercício filosófico.
• Introduzir conceitos que acompanham o fazer filosófico desde sua
origem.

Conteúdos
• O Thauma: paradoxo entre a admiração e o espanto frente a coisa
como ela é, a origem da filosofia.
• A Dúvida: procedimento que desloca o homem de sua zona de confor-
to ao questionar-se sobre o “novo” que o espanta/admira.
• O Problema: as questões filosóficas que envolvem o filósofo em seus
afazeres.
• O Rigor: liberdade das amarras que impedem a percepção do real e o
exercício rigoroso acerca do caminho percorrido pela razão a atingir
sua meta (metodologia).

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Não se limite ao conteúdo desta obra; busque outras informações em si-


tes confiáveis e/ou nas referências bibliográficas apresentadas ao final de
cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento pes-
soal é um fator determinante para o seu crescimento intelectual.

21
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

2) Muitas vezes, grandes questões filosóficas aparecem quando menos se


espera, nas coisas mais simples de nosso dia a dia. Basta estar aberto a
esse tipo de situação. Isso pode se evidenciar na arte, na música ou numa
simples conversa, sendo necessário, apenas, se entregar ao pensamento.
Sugerimos que ouça a música “Problema”, de Paulo Miklos, Arnaldo An-
tunes e Liminha.
• MIKLOS, P.; ANTUNES, A.; LIMA FILHO, A. Problema. Disponível em:
<https://www.letras.mus.br/titas/1491629/>. Acesso em: 14 mar.
2019.

3) Tenha sempre perto de você um bom dicionário de Filosofia e também um


bom livro de História da Filosofia para que tire suas dúvidas e aprofunde
os seus conhecimentos. Eles podem ser encontrados disponíveis na web
ou nos acervos das bibliotecas digitais da SAV.
• ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins
Fontes, 2007. Disponível em: <https://docs.google.com/file/
d/0B7Kmav1S0xnaaFNaZzdfOE5wdjg/edit>. Acesso em: 14 mar. 2019.

4) Na série de televisão Merlí, de Héctor Lozano, que narra os conflitos dos


adolescentes, utilizando a filosofia para discuti-los, podemos encontrar no
episódio 1 da segunda temporada (episódio que é pautado pela filosofia
pré-socrática) o processo que discutiremos nesta unidade (Thauma, Aiste-
sis, inquietude, dúvida). Isso se dá na cena em que o pai do aluno Pol Ru-
bio fala da poltrona que desejava comprar, mais especificamente quando
o pai de Pol Rubio o chama de intelectual. Confira:
• TV3. Os pré-socráticos. Merlí, temporada 2, episódio 1. Catalunha,
2016. Disponível em: <https://www.dailymotion.com/video/x4u9il5>.
Acesso em: 14 mar. 2019.

22 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

1. INTRODUÇÃO
Definir o que é filosofia não é uma tarefa fácil, embora
muitos teóricos já tenham empreendido esforços nesse senti-
do. Sabemos também que a etimologia da palavra “filosofia” –
φιλοσοφία –, composta por “Philia”, “amor”, e “Sophia”, “sabe-
doria”, não diz muito a seu respeito; está muito mais relacionada
à sua prática, por ser uma variação da palavra “filósofo”, do que
a uma conceituação propriamente dita.
Essa compreensão de que o filósofo é o amante da sabe-
doria se origina com Pitágoras de Samos (580/578 a.C.-497/496
a.C.). Para ele a sabedoria pertence aos deuses, e os homens po-
deriam apenas desejá-la, amá-la por intermédio da contempla-
ção. Essa é, então, a prática daquele que procura, que busca, a
quem apetece, que deseja a sabedoria.
Portanto, não há como pensar em Filosofia, ou tentar defi-
ni-la, sem estar imerso nela. Não é à toa que o último livro escri-
to pelo filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), que também
é o último em parceria com o psicanalista também francês Félix
Guattari (1930-1992), chama-se O que é a Filosofia?; como eles
mesmos dizem no livro: “Talvez só possamos colocar a questão
O que é a filosofia? tardiamente, quando chega a velhice” (1997,
p. 9). Isto é, trata-se de uma pergunta que leva uma vida inteira
para ser respondida. E eles nos revelam: “A filosofia é a arte de
formar, de inventar, de fabricar conceitos” (1997, p. 9).
O fato é que quem procura, busca, deseja a sabedoria cria
para si uma cumplicidade com ela, pois sem essa cumplicidade
não há criação. Isso já de início distingue o filósofo do sábio, pois
este último se compreende como o portador, o detentor da sa-

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 23
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

bedoria, uma vez que a ele foi revelada, presenteada, dada pelos
deuses. Torna-se ele, assim, uma autoridade.
Acreditamos que aqui temos algumas pistas para se pen-
sar o que é a Filosofia e que tal interrogação possa nos ajudar a
compreender o que leva a esse espírito tão humano de procurar,
buscar, desejar a sabedoria. Permite-nos indagar: o que causa
essa inquietude e que nos lança ao movimento? Ou, como disse
Deleuze (1994-1995, p. 59) quando perguntado sobre o ensino
de Filosofia: “é uma espécie de matéria em movimento”. Seria
compreender o pensamento como matéria em movimento.
Seria o que podemos chamar de impulso filosófico? O que
realmente seria o impulso filosófico? De que forma ele se origi-
na? Todos são capazes de possuir tal impulso? Para responder a
tais perguntas, teremos que nos entregar à própria investigação
filosófica, buscando compreender algumas das suas característi-
cas básicas: o espanto; a dúvida; o problema; e o rigor.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

2.1. O ESPANTO

Na busca de compreender o que seria o impulso filosófi-


co, é preciso entender como ele se originou, isto é, o que fez a
filosofia surgir? Por que o homem se entregou às investigações
filosóficas? Para isso, teríamos, antes, que nos perguntar qual é o

24 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

papel do espanto em tal origem, uma vez que é possível encon-


trar tal ideia tanto na filosofia de Platão (428 a.C.-347 a.C.) como
na de Aristóteles (384 a.C.-323 a.C.).
Tal indagação se aproxima de uma questão que sempre
nos acompanhou e que, por si só, poderia nos ajudar a pensar no
que queremos dizer quando aqui falamos de espanto. A questão
com que nos defrontamos é a mesma de quando lemos Alice no
País das Maravilhas, obra de Lewis Carroll, marco para o estilo
artístico nonsense britânico e amplamente citada nas diversas
áreas do conhecimento: o que levou Alice a abandonar o cansa-
ço e o tédio daquela tarde de calor para sair em disparada pela
campina atrás de um coelho com bolso de colete e um relógio
para tirar de lá?
Antes que você ache que essa questão não contribui em
nada com a nossa investigação, recorreremos a um conceito
muito utilizado pelos filósofos pré-socráticos e recuperado por
Baumgarten (1714-1762), ao cunhar seu conceito de Aesthetica
(em latim), em seu livro homônimo (1750-1758) – cujo signifi-
cado é estética. Ele dá uma bela pista para a nossa investigação
acerca do espanto.
Estamos falando do conceito de Aisthesis que, além de ser
origem das palavras “Aisthetiké” (em grego) e “Aesthetica” (em
latim), também tem como significado “a faculdade de sentir”.
Tal faculdade torna o homem capaz de notar, de perceber a rea-
lidade que nos rodeia. Presente desde o início da filosofia, tal
conceito é primeiramente utilizado pelos cosmólogos (primei-
ros filósofos) para se referirem às questões ligadas à Phýsis e às
questões que tangem o próprio conhecimento.

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 25
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

As leituras indicadas no Tópico 3. 1 remetem a questões


acerca do conceito de Aisthesis e de sua aplicação na Filoso-
fia. Neste momento, você deve realizar essas leituras para se
aprofundar no tema abordado.

Especulamos aqui que seria essa faculdade de sentir que


possibilita a tão humana inquietude mencionada. Isso seria pos-
sível porque a Aisthesis é capaz de levar o homem ao Thauma.
“Thauma”, palavra grega que deriva do verbo “Thaumadzein”,
tem como significado “admiração e espanto diante dos mistérios
da vida”, mas de forma simples, do jeito como as coisas são.
Temos admiração e espanto concomitantemente, portan-
to, um paradoxo, o qual, segundo Aristóteles em seu livro Me-
tafísica, seria o responsável pelo início da filosofia: “O que levou
os homens às pesquisas filosóficas foi o espanto” (ARISTÓTELES
apud GOMES, 2016). Estupefato diante das coisas mais simples
e elementares ou das coisas mais complexas e essenciais, o ho-
mem teria se lançado à filosofia.
Dessa forma, podemos afirmar sem medo de errar ou ser
piegas: é o espanto que nos faz pular na toca de coelho sob a
cerca, sem saber onde ela vai dar ou até mesmo como volta-
remos. Não nos lançamos em tal buraco por descuido nem por
vaidade; muito menos por procurar algo utilitário. Fazemos isso
unicamente pelo prazer do conhecimento. É, portanto, o espan-
to que está na origem de tal impulso, inaugurando assim o que
chamamos de Filosofia.

26 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

Importante: Quando aqui mencionamos a Alice e o coelho, estamos


nos referindo à obra: Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll,
pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), escritor britâ-
nico cuja obra mencionada é um marco para o estilo artístico nonsen-
se britânico. Tal obra literária, além de ter diversas adaptações para o
cinema, teatro, musical, dança etc., é amplamente citada nas diversas
áreas do conhecimento, sendo parodiada por Robert Gilmore em sua
obra Alice no País do Quantum: a física quântica ao alcance de todos.
Gilles Deleuze a utiliza, juntamente com os Estoicos Antigos, para pro-
por uma lógica dos sentidos (nome que também será o título de seu
livro). Já no filme Matrix (1999), dirigido pelas irmãs Wachowski, é
possível observar diversas referências à obra Alice no País das Maravi-
lhas, sempre que o filme trata da busca do conhecimento.

O espanto também nos faz reconhecer nossa própria ig-


norância, demonstrando-nos que o que achamos ou sabemos
nunca é suficiente para resolver as situações com as quais nos
deparamos em nossa realidade – por isso, espantamo-nos. esse
processo nos leva à busca, ou mesmo a criar possibilidades que
sejam compatíveis ao que é percebido, assim escapando da ig-
norância pelo exercício filosófico.
Compreendemos, também, que é o movimento do pensa-
mento provocado pelo espanto que não nos deixa cair no revés
da Aisthesis, a Anaisthesia, a qual nos levaria a uma vida aneste-
siada, em que não conseguiríamos notar ou perceber a realidade
como um todo. Para nós, uma vida anestesiada é uma vida con-
formada, na qual não se consegue enxergar nenhuma possibili-
dade, que não a trivial, a habitual e cotidiana.
Compreendemos que, o pensamento é como a Alice no
País das Maravilhas: uma entrega a uma grande aventura. Como
está presente em Moby Dick, de Melville, que trata a linha ba-
leeira como a condição humana:

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 27
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

Todos os homens vivem rodeados de linhas baleeiras. Todos


nascem com uma corda no pescoço: porém somente quando
se sentem presos pela súbita e vertiginosa roda da morte, os
mortais compreendem os sutis e onipresentes perigos da vida.
E se fosseis um filósofo não sentiríeis uma isca a mais de terror
sentado numa baleeira, do que ao entardecer quando repou-
sais à lareira familiar manejando não um arpão e sim um atiça-
dor (MELVILLE, 2017).

Metáfora semelhante é adotada por Gilles Deleuze, o qual


apresenta o pensamento como uma linha, a linha baleeira que
leva o baleeiro a uma velocidade exorbitante a mar aberto em
seu bote, quando o seu arpão se prende à baleia. E, se o pesco-
ço do baleeiro ficar exposto ao alcance da linha, tal ação tanto
pode levar-lhe ao novo, como também pode lhe ser fatal. Assim
é, para o filósofo, a linha do pensamento:
Pode ser a terrível linha baleeira da qual fala Melville em Moby
Dick, que é capaz de nos levar ou nos estrangular quando ela
desenrola. Pode ser a linha da droga para Michaux “o acelerado
linear”, a “correria do chicote de um charreteiro em fuga” pode
ser a linha de um pintor como a de Kandinski, ou aquela que
mata Van Gogh (DELEUZE, 1992, p. 137).

2.2. A DÚVIDA

Vimos que o impulso filosófico possui um estopim, um


estalo, um começo que inaugura uma série de operações, por
assim dizer. Estamos falando do Thauma, o espanto. Mas não
devemos pensar que se trata de um espanto qualquer, como es-
ses que se tem no bad hair day. Como vimos, estamos falando
de um paradoxo, isto é, temos concomitantemente admiração e
espanto em um mesmo sentimento.

28 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

Dessa forma, quando acordamos e nos espantamos com o


nosso cabelo, tal espanto não nos traz junto a admiração. É ape-
nas um espanto, não frente a coisa como ela é, mas sim frente ao
esperado. Nada que uma boa água, uma boa quantidade de gel
e uns grampos não resolveriam. Tal situação não traz nenhuma
dúvida ou acrescenta nada em nós.
Mas, para que tenhamos tal espanto, é preciso notar, per-
ceber a realidade que nos cerca. Dessa forma, se há espanto, é
porque algo aconteceu e nos arrancaram de nossa zona de con-
forto. Isso ocorre porque percebemos algo “novo”, algo diferen-
te, mas que sempre esteve aí e que nunca havíamos visto, ou
melhor, que nunca havia nos tocado – o que nos leva a confron-
tar uma verdade pré-estabelecida e que era dada por certa e por
nós aceita.
O que se evidencia é que, nesse momento, não temos ape-
nas o espanto, pois só é possível confrontar uma verdade, seja
ela pré-estabelecida ou não, se o próprio espanto gerar a dúvida
no mesmo instante em que ele se dá. Portanto, a dúvida é tam-
bém um elemento que compõe a gênese da Filosofia. A simples
questão de duvidar propicia que o conhecimento não se estagne.
Vale ressaltar que a dúvida de que falamos aqui é a que
surge no impulso filosófico, pois, ao longo da História da Filo-
sofia, podemos encontrá-la de diversas formas; entre elas, a
cognição, isto é, epistemologia, inicialmente presente na Escola
Helenística do Ceticismo, fundada pelo filósofo grego Pirro (360
a.C.-270 a.C.), que defendia que o homem não deve emitir juízo
de valores uma vez que ele seria incapaz de conhecer a verdade.

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 29
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

O Ceticismo também se apresenta como possibilidade do


conhecimento, método ou pensamento que está presente em
diversas áreas do conhecimento, negando a capacidade humana
de chegar ao conhecimento total da verdade.
Em David Hume, podemos conhecer o empirismo cético,
no qual ele questiona o limite do conhecimento humano, ques-
tionando a causalidade, ao afirmar que a razão ultrapassa os da-
dos sensíveis, uma vez que, pelo hábito, acabamos considerando
dois eventos distintos como causa e efeito (é o caso do pôr do
sol – o fato de o sol se pôr hoje não garante que ele venha nascer
amanhã; nada da experiência sensível de ver o sol se pôr rela-
ciona-se com o nascer do sol). É possível encontrar também a
dúvida metodológica presente na filosofia do francês René Des-
cartes (1596-1650), o qual chega a duvidar da existência de tudo
que existe (inclusive a sua), não passando de uma brincadeira
perversa de um gênio maligno:
Decidi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam
entrado em meu espírito não eram mais corretas do que as
ilusões de meus sonhos. Porém, logo em seguida percebi que,
ao mesmo tempo em que eu queria pensar que tudo era falso,
fazia-se necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E
ao notar que esta verdade: eu penso, logo, existo, era tão sólida
e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos
não seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que poderia
considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da filo-
sofia que eu procurava (DESCARTES, 1999, p. 62).

As leituras indicadas no Tópico 3. 2 irão possibilitar um


aprofundamento da questão da dúvida ao longo do pensamen-
to filosófico e na filosofia cartesiana. Neste momento, você
deve realizar essas leituras para aprofundar o tema abordado.

30 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

Se voltarmos à origem da filosofia, em Mileto, no século 6


a.C., especificamente quando o homem abandona as narrativas
míticas para adotar o pensamento racional, ele, ao espantar-se
por algo de sua realidade, permitiu que, concomitantemente
ao espanto, brotasse a dúvida que lhe faria surgir o problema,
e consequentemente, o rigor para lidar com tal situação (tópico
que trabalharemos nos próximos itens) que ali nascia, em busca
de compreender o que lhe despertou tal sentimento.
Não podemos afirmar que Tales de Mileto (625/624 a.C.-
558 a.C.) tenha sido o primeiro a ter tal espanto, mas com certe-
za foi o primeiro de que temos notícia a assumi-lo e entregar-se
a ele e aos demais elementos que compõem o impulso filosófico.
Com isso, mudou sua atitude, utilizando o pensamento racional.
A partir de Tales, os cosmólogos, ao investigar a Phýsis, separa-
ram a ciência da Doxa, e o pensamento racional se estabelece
em contrapartida à narrativa mítica.
Como no slogan da série de televisão Arquivo X, da década
de 1990, criada por Chris Carter, “A verdade está lá fora”, os cos-
mólogos, ao responderem ao impulso filosófico, iniciavam suas
investigações diretamente na natureza, o que lhes rendeu tam-
bém o nome de naturalistas. Eles queriam encontrar o elemento
primordial (Arché), isto é, os primeiros filósofos teriam sido es-
pantados pela origem e ordem das coisas múltiplas que existem
no mundo.
Muitos pesquisadores insistem que foram os elementos
histórico-sociais da formação grega que possibilitaram o espanto
a partir do qual a filosofia se iniciou. Já chamada como o milagre
grego, a filosofia teria surgido juntamente com o questionamen-
to acerca da compressão que se tinha do que é cosmopolita:
“Kosmopolites”, que vem do grego “Kosmós” (“ordem, discipli-

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 31
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

na”, posteriormente compreendida como uma ordem universal);


e “Polites” (“cidadão” no sentido de político; palavra derivada de
polis, cidade-Estado). O que temos, portanto, é que os habitan-
tes da polis eram definidos como cidadãos do mundo, e viveriam
em harmonia com o Universo, como se o Universo fosse respon-
sável pela ordem e origem das coisas.
Seja no século 7 a.C., quando a filosofia surgiu, seja hoje
em dia, quem não leva uma vida anestesiada está sujeito ao es-
panto que levará à dúvida, sendo esta um processo-chave para o
pensamento filosófico.
Obviamente, quando falamos da dúvida na filosofia não es-
tamos nos referindo à dúvida do saudoso Noel Rosa (1930): “Com
que roupa eu vou / Pro samba em que você me convidou?”. A
dúvida filosófica não possui opiniões nem termos, muito menos
uma pergunta. Tal dúvida, que podemos, de início, definir como
ausência de convicções, é a responsável por uma das caracterís-
ticas cruciais da Filosofia: a arte de formular perguntas. A Filo-
sofia não é a possibilidade de responder às perguntas que estão
postas; ela é antes de tudo, o saber fazer, formular perguntas.
A pergunta não vem antes do processo filosófico nem é a
que geraria o impulso filosófico; é algo que foi construído a partir
de um espanto que se dá perante a nossa percepção da realida-
de. Basta observar a dialética socrática: o filósofo grego cria seu
pensamento e seus fundamentos fazendo perguntas às pessoas
acerca de questões de nossa existência/essência.
No entanto, somente o conhecimento criado a partir do im-
pulso filosófico não é garantia de verdade, por mais meticulosos
que possamos ser – é preciso colocá-lo a crítica. Senão, cairemos
num grande equívoco, o de pensar que o nosso conhecimento
é único e verdadeiro e que ele basta para conhecer a realidade.

32 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

Esse é o princípio da ignorância, uma vez que ignoro a existência


das diversas formas de pensar diferentes da que estipulei como
verdadeira. Cada um possui sua maneira, seu jeito de pensar.
Elevar o conhecimento ao crivo da crítica não é apenas
uma característica geral da Filosofia; tal ação marca fortemente
o pensamento iluminista, especificamente a Aufklärung (“Escla-
recimento”), como podemos constatar pelas declarações do filó-
sofo alemão Kant (2010, 63-64) no texto “Resposta à pergunta: o
que é Esclarecimento (Aufklärung)?”:
Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua meno-
ridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapa-
cidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de ou-
tro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade
se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas
na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem
a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso
de seu próprio entendimento, tal é o lema do Esclarecimento
[Aufklärung] (KANT, 2010, p. 63-64).

2.3. O PROBLEMA

Vimos que a Filosofia se inicia com o espanto, que a dúvi-


da é parte importante do impulso filosófico e que ambos estão
interligados e se dão ou se iniciam no mesmo instante. O mesmo
acontece com a questão do problema, que estudaremos agora,
e com o rigor, de que trataremos logo mais. Talvez por causa da
coexistência desses quatro elementos no impulso filosófico, te-
nhamos a impressão da existência de uma vertigem no início do
pensamento filosófico.

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 33
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

Começaremos falando de um equívoco muito comum, que


é confundir o problema com a dúvida. Devemos lembrar que a
dúvida não é uma pergunta e que o problema, como já men-
cionado, se trata das perguntas que caracterizam a Filosofia. Os
problemas são as questões sobre as quais o filósofo debruça seu
pensamento. Estamos falando das grandes questões filosóficas:
qual o sentido da vida, a natureza da realidade etc. (assunto que
veremos na terceira unidade). As perguntas postas pelo ato de
filosofar remetem a essas questões.
Embora pudéssemos elencar aqui algumas das grandes
questões às quais a Filosofia se prende, não queremos dizer que
existe uma espécie de catálogo a partir do qual o filósofo escolhe
um tema para pensar. Digamos que não existe tal liberdade de
escolha para o filósofo. Como já foi dito e redito, para haver Filo-
sofia, é preciso que se tenha o espanto, a dúvida e o problema fi-
losófico, o que se dará a partir da nossa percepção da realidade.
Dessa forma, podemos afirmar que as questões filosóficas
e suas formulações estão diretamente relacionadas à sua épo-
ca, uma vez que elas surgem a partir da percepção da realidade.
Assim, o debate se dá no interior dos acontecimentos de uma
época. Podemos afirmar, então, que não são as questões filo-
sóficas que pertencem aos filósofos, mas sim os filósofos que
pertencem às questões filosóficas de sua época.
Sobre essa questão vale mencionar que, ao questionar a
subjetivação e a verdade na obra A hermenêutica do sujeito, re-
sultado do curso homônimo dado no Collège de France entre os
anos de 1981 e 1982, o filósofo francês Michel Foucault (1926-
1984) afirmou que cada época/sociedade possui o seu regime de
verdade. Uma de suas questões é por que determinada coisa é
aceita como verdade em uma época e em outra não; isso se dá

34 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

porque existe um jogo de verdade e em cada época só somos


capazes de conhecer o que “tal época permite”.
Mas o que é próprio da nossa época? Será que tudo da rea-
lidade que vivemos é realmente próprio da nossa época? Porque,
se existir algo em nossa realidade que não for próprio da nossa
época, como fugir do falso ou ilusório problema? Acreditamos
que o filósofo italiano Giorgio Agamben (1942), por intermédio
do conceito de contemporâneo, pode nos ajudar a responder a
essas perguntas.
Para Agamben (2009), o tempo é composto pelo tempo
histórico coletivo e o tempo da vida do indivíduo e seria dispos-
to sequencialmente nessa ordem como a vértebra de um mons-
tro – por isso a sensação de a história ser linear. De acordo com
essa lógica, o que sentimos, vivenciamos, experimentamos coti-
dianamente não pertence à nossa época, pois o que é ilumina-
do pertence ao tempo histórico coletivo, sendo pensado, criado,
forjado em um tempo anterior ao tempo da vida do indivíduo,
que seria o “próprio” de nosso tempo. Isto é, nossa época estaria
na sombra.
Por isso é tão difícil notar, perceber ser espantado, habitar
um problema de nossa época; por isso nossa afirmação há pouco
sobre as coisas sempre estarem aí e não serem vistas por nós. Se-
ria preciso, diria Agamben, fraturar a vertebra do “monstro tem-
po”. Aí sim notaríamos, perceberíamos, habitaríamos um proble-
ma de nossa época. Depois, ele completa, é preciso costurar a
vertebra com o próprio sangue do monstro – o que Nietzsche
chamaria de intempestivo – um processo atemporal que traria à
luz um problema contemporâneo, isto é, da época do tempo da
vida do indivíduo.

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 35
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

Dentro dessa lógica de pensamento, torna-se claro com-


preender a predileção em se “perder”, da parte tanto de Walter
Benjamin (1892-1940) como de Albert Camus (1913-1960), pois
sabiam que era fácil se achar, sendo o difícil mesmo perder-se.
Diríamos mesmo que ir até a escuridão e trazer algo para a luz é
o problema de nossa época. É o pular no buraco do coelho.

A leitura indicada no Tópico 3. 3 proporcionará o enten-


dimento do conceito de contemporâneo oferecido por Agam-
ben, ajudando a compreender a nossa afirmação de que “o
filósofo pertence ao problema” e não o contrário, como mui-
tos pensam. Neste momento, você deve realizar essas leituras
para aprofundar o tema abordado.

2.4. O RIGOR

Pode até parecer contraditório o que falaremos agora,


mas, de certa forma, o rigor filosófico só é possível se estivermos
abertos e livres. Ao nosso ver, seria preciso realizar, na Filoso-
fia, a mesma operação que o artista tem que realizar se quiser
realmente criar algo novo. Pois, segundo Gilles Deleuze (2007, p.
19), não existe tela em branco; para que um artista consiga criar
sobre uma tela em branco, é preciso que ele apague o que a his-
tória da pintura inscreveu sobre a tela em branco:
Com efeito, seria um erro acreditar que o pintor trabalha sobre
uma superfície em branco e virgem. A superfície já está investi-
da virtualmente por todo o tipo de clichês com os quais torna-
-se necessário romper.

36 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

Esse pensamento está muito próximo ao elogio que Nietzs-


che faz do esquecimento no texto “Considerações extemporâ-
neas”, o que nos traz novamente a ideia de contemporâneo pre-
sente em Agamben. É preciso separar o tempo histórico coletivo
do tempo da vida do indivíduo. Parece-nos que é a única forma
de se ter o novo, a diferença, pois, do contrário, temos apenas
repetição, hábito, cotidiano, trivial como a vida anestesiada.
Como já vimos, e ainda vale a pena ressaltar, as quatro ca-
racterísticas que aqui nos propomos a investigar acerca do im-
pulso filosófico não se dão separada nem linearmente, mas sim
concomitantemente. Pois, a mesma capacidade de sentir que
possibilita o susto, isto é o Thalma, servirá também de gatilho,
disparando a dúvida, o problema e o rigos. E, como vimos, tem a
liberdade como elemento recorrente em cada uma das caracte-
rísticas acima mencionada, pois ela é fundante ao pensamento
filosófico.
Sabe aquela sensação de que o sentimento não cabe em
nós? É com ela que desponta a inquietude. Ela não se contém
até que nos lancemos às investigações filosóficas, nos colocando
a pensar. Vale ressaltar, neste momento, que o pensamento pre-
sente nas investigações filosóficas não é o mesmo pensamento
corriqueiro do cotidiano, de quando estamos ao telefone, em re-
des sociais, assistindo à televisão, ouvindo músicas etc.
Estamos falando do pensamento racional, o qual guarda
em si características específicas: maior concentração, sistemati-
zação, revisão de nossas conclusões etc. E não adiantaria nada
modificar as operações mentais de quando estou pensando se,
junto a elas, eu não mudar também as minhas atitudes, ou seja,
é preciso que tenhamos atitudes filosóficas.

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 37
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

Duas das principais atitudes que são indispensáveis para


o filosofar e estão presentes no rigor são: a atitude crítica e a
atitude reflexiva. A atitude crítica consiste em nunca aceitar algo
como verdadeiro sem antes investigar; a atitude reflexiva, como
o próprio nome diz, é voltar o pensamento sobre ele próprio.
Agora, se entendemos a liberdade como um estado ne-
cessário para o pensamento ao filosofar, vemos também que tal
pensamento não é qualquer pensamento, e que ele acompanha
uma atitude, o que já lhe atribui certo rigor. Falamos, portanto,
do pensamento racional. Se, da “parte do pensamento” possuí-
mos a liberdade, da “parte da razão” cabe uma análise rigorosa.
Como vimos, não existe uma única e verdadeira forma de
pensar, e sim várias. Assim, existem várias formas de realizar
essa análise racional sem que se perca o rigor necessário para
que não haja contradições nem distanciamento do objetivo do
pensamento, o que o mantém concatenado. Essas formas são os
métodos utilizados pelos filósofos.
Tomemos o exemplo de Platão, que tinha na dialética o
método utilizado para hierarquizar as ideias, o que também
pode ser encontrado em Sócrates por intermédio da ironia e da
maiêutica (a dialética foi utilizada pela primeira vez por Heráclito
de Éfeso, 544 a.C.-480 a.C.). Basta lembra que, para Platão, há
dois processos para se adquirir o conhecimento, a primeira na-
vegação e a segunda navegação, sendo esta última a responsável
pelo verdadeiro conhecimento.
Ao se referir à dialética e ao seu rigor, Platão em sua obra
Fedro (385 a.C.-370 a.C.) compara o filósofo ao “bom açouguei-
ro”, que corta seguindo as articulações naturais; o filósofo, por
sua vez, deveria trabalhar sobre as “articulações do real” (essa
passagem é recuperada pelo filósofo francês Henri Bergson,

38 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

1859-1941, em sua obra O pensante e o movente, de 1934; lem-


brado posteriormente por Deleuze em sua obra Bergsonismo, de
1966):
Sócrates – O primeiro modo de proceder consiste em recondu-
zir a uma única ideia, por meio da visão abrangente, às coisas
dispersas e múltiplas, com a finalidade de tornar claro, ao se
definir cada coisa, qual é aquela sobre a qual se pretende, em
cada caso, ensinar algo [...].
Fedro – E o que dizes, Sócrates, sobre o outro modo de
proceder?
Sócrates – Ele consiste, ao contrário, em saber dividir segundo
as Ideias, fundando-se nas articulações que ela tem por nature-
za, e buscando não quebrar parte alguma, como costuma fazer
um mau açougueiro (PLATÃO apud REALI, 2007, p. 167).

Já Aristóteles chamará o seu método de analítico, que


posteriormente será denominado como Lógica (palavra utiliza-
da pela primeira vez pelo Estoicismo Antigo para denominar seu
método). Guardando-se as suas diferenças, podemos afirmar
que, ao longo da História da Filosofia, é possível encontrar a utili-
zação da dialética em Johann Gottlieb Fichte (1762-1814), Georg
Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) e Karl Marx (1818-1883).
Já o método analítico influencia os racionalistas modernos
como René Descartes e Leibniz (1646-1716), sendo reconhecido
como método analítico dedutivo, que será negado pelos empí-
ricos modernos a partir da criação do método analítico indutivo
por Francis Bacon (1561-1626) em seu Novun Organum, opon-
do-se, assim, ao pensamento aristotélico (referindo-se à obra
Organum) e sua influência na Escolástica.

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 39
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

A leitura indicada no Tópico 3. 4 apresenta a relação en-


tre a dialética e a analítica e como elas se revelam, por influên-
cias, em alguns períodos da Filosofia. Neste momento, você
deve realizar essa leitura para aprofundar o tema abordado.

Dentro dessa análise rigorosa que cabe à razão, é possível


encontrar outros métodos, como o método hipotético dedutivo
apresentado por Karl Raimund Popper (1902-1994), pautado no
princípio da falseabilidade. Também existe o método fenome-
nológico, criado por Edmund Husserl (1859-1938), entre outros.
Uma outra ferramenta largamente utilizada nos métodos filosó-
ficos é a Matemática, principalmente por ser simples, clara, ob-
jetiva, universal e demonstrável.
Da combinação de liberdade e rigor metodológico se com-
põe essa última característica do impulso filosófico, que aqui
analisamos, mas que, como já dito, é concomitante às outras
características mencionadas. Tais características formam a ope-
ração pela qual se dá a filosofia, pelo pensamento racional. Não
que seja ela uma ciência – como se diz, com ironia, “A filosofia é
uma ciência com a qual, ou sem a qual, o mundo permanece tal
e qual” –, mas suas especulações nos fortalecem e nos possibili-
tam formulações de perguntas acerca de nossa realidade.

Vídeo complementar –––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar 1.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique na aba Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, busque pelo nome da disciplina
para abrir a lista de vídeos.

40 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

• Caso você adquira o material, por meio da loja virtual, receberá também um
CD contendo os vídeos complementares, os quais fazem parte integrante
do material.
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3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador é condição necessária e in-
dispensável para você compreender integralmente os conteúdos
apresentados nesta unidade.

3.1. AISTHESIS

Para compreender não apenas a origem da palavra “Ais-


thesis”, mas também sua aplicação em diversas áreas da Filoso-
fia, de forma a complementar uma visão global, confira as pági-
nas indicadas a seguir:
• PHILOSOPHY. Estética, cognição e ética. Disponível em:
<https://www.philosophy.pro.br/estetica_cognicao_
etica.htm >. Acesso em: 18 mar. 2019.
• CASTRO, I. Aisthesis. 2013. Disponível em: <http://
filosoficamenteocupada.blogspot.com.br/2013/01/
aisthesis.html>. Acesso em: 18 mar. 2019.

3.2. DÚVIDA

Referente à questão da dúvida na filosofia, pode-se obser-


var distinções dela ao longo da História da Filosofia. Alguns filó-
sofos se destacam por sua utilização, como os céticos, Descartes,
Hume, entre outros. Para expandir seu conhecimento sobre o
assunto, acesse:

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 41
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

• CONTE, J. Radicalização do exame filosófico. 2010. Dis-


ponível em <https://criticanarede.com/cepticosgregos.
html>. Acesso em: 18 mar. 2019.
• MORTON, A. Descartes, da dúvida à certeza. 2005. Dis-
ponível em: <https://criticanarede.com/epi_descartes.
html>. Acesso em: 18 mar. 2019.

3.3. O PROBLEMA

O contemporâneo é um conceito trabalhado por Agamben,


que nos auxilia a pensar o que seria o tempo em que vivemos, ou
melhor, o que seria exatamente a expressão: “do nosso tempo”.
É o que se pode ler no seu belo ensaio, indicado a seguir.
• AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? In: ______. O
que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Ar-
gos, 2009, p. 57-73. Disponível em: <http://www.letras.
ufmg.br/padrao_cms/documentos/profs/sergioalci-
des/contempagamben.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2019.

3.4. O RIGOR

O rigor na Filosofia se refere aos métodos que se dispõem


ao exercício filosófico. Dois dos mais influentes métodos são a
dialética e a analítica, os quais atravessam e influenciam todo o
pensamento ocidental. Para entender mais sobre eles, consulte
o texto indicado a seguir:
• GIANNOTTI, J. A. Dialética X Analítica. Analytica, Rio de
Janeiro, UFRJ, v. 12, n. 2, p. 35-45, 2008. Disponível em:
<https://revistas.ufrj.br/index.php/analytica/article/
view/541/496>. Acesso em: 18 mar. 2019.

42 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteú-
dos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) É possível afirmar que a Filosofia tenha surgido de um paradoxo, que se dá
por meio de admiração e espanto. É possível encontrar alguns atores que
resumem tal paradoxo à palavra “maravilhamento”. Teria sido admiração/
espanto ou maravilhamento frente à coisa como é que levou o homem a
se entregar ao pensamento racional.
Qual é a palavra grega que tem por significado o paradoxo admiração/
espanto ou maravilhamento?
a) Arché.
b) Philia.
c) Phýsis.
d) Thauma.
e) Aisthesis.

2) (Fumarc-2017) Leia o texto a seguir:


Um dos modos talvez mais simples e menos polêmicos de se caracterizar a
filosofia é através de sua história: forma de pensamento que nasce na Gré-
cia antiga, por volta do séc. VI a.C. Os primeiros filósofos Tales, Anaxíme-
nes e Anaximandro surgem nas colônias gregas do Mediterrâneo oriental,
no mar Jônico, que eram importantes postos comerciais e onde reinava
um certo pluralismo cultural, com a presença de diversas línguas, tradi-
ções, cultos e mitos. É possível que a influência de diferentes tradições mí-
ticas tenha levado à relativização dos mitos. Por isso, os filósofos da esco-
la jônica buscam uma explicação do mundo baseada essencialmente em
causas naturais e através de uma discussão aberta, na qual todos podiam
participar com seus argumentos (MARCONDES, D. Iniciação à História da
Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004, p. 19-22. Adaptado).
Segundo Marcondes, uma das condições para o surgimento do pensamen-
to filosófico na Grécia antiga foi a mentalidade:

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 43
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

a) aberta e tolerante dos comerciantes gregos com relação aos diferentes


mitos.
b) aberta e tolerante dos comerciantes gregos com relação aos fenôme-
nos naturais.
c) filosófica reinante nas colônias gregas do Mediterrâneo oriental.
d) mítica dos comerciantes gregos da Jônia com relação aos fenômenos
naturais.
e) reacionária dos comerciantes gregos com relação aos mitos bárbaros.

3) (Unicamp-2017 – Adaptada) Leia o texto a seguir:


Muitos políticos veem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da fi-
losofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não
pensam, mas tão somente usam de uma inteligência de rebanho. É preci-
so impedir que os homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a
filosofia seja vista como algo entediante (JASPERS, K. Introdução ao pen-
samento filosófico. São Paulo: Cultrix, 1976, p. 140.)
Assinale a alternativa correta:
a) O filósofo lembra que a Filosofia tem um potencial crítico que pode
desagradar a políticos, poderosos e ao senso comum, tal como ocorreu
na Grécia em relação a Sócrates.
b) A Filosofia precisa ser entediante para estimular o pensamento crítico,
rigoroso e formar pessoas sensatas, a partir do ensino de Lógica, Re-
tórica e Ética.
c) A ditadura militar no Brasil retirou a disciplina de Filosofia das escolas
por considerá-la subversiva, mas atenuou a medida, estimulando os
Centros Populares de Cultura (CPC), ligados a entidades estudantis.
d) Os políticos e a estrutura escolar não são o verdadeiro obstáculo ao
ensino de Filosofia, mas a concepção de que ela é difícil e tediosa,
considerando-se que existem mecanismos para aproximá-la do senso
comum.

4) (Enem-2012 – Adaptada) Leia os textos a seguir:


Texto 1
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de pru-
dência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez (DES-
CARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

44 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

Texto 2
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sen-
do empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de
que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe
qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspei-
ta (HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp,
2004 –adaptado).
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhe-
cimento humano. A comparação dos excertos permite assumir que Des-
cartes e Hume:
a) defendem os sentidos como critério originário para considerar um co-
nhecimento legítimo.
b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia
na reflexão filosófica e crítica.
c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do
conhecimento.
d) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às
ideias e aos sentidos.
e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de ob-
tenção do conhecimento.

5) (Enem-2011 – Adaptada) Leia o texto a seguir:


Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da
qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade
de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro in-
divíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se
a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas
na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a
direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio
entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a
covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos
homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma
condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado me-
nores durante toda a vida (KANT, I. Resposta à pergunta: o que
é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 – adaptado).

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 45
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a


compreensão do contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no
sentido empregado por Kant, representa:
a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão
da maioridade.
b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das ver-
dades eternas.
c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma
heterônoma.
d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta
de entendimento.
e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas
pela própria razão.

6) Um filósofo brasileiro foi convidado para falar de sua pesquisa em um


congresso em uma universidade chilena. Tal filósofo parte rumo ao Chile
com muito entusiasmo, pois seria a primeira vez que ele apresentaria seu
trabalho fora do país. Quase no final da viagem, tal filósofo vive uma expe-
riência de Aisthesis no avião enquanto sobrevoava a cordilheira dos Andes.
E foi inevitável pensar na própria origem da Filosofia, pois sabia que tinha
sido arrebatado pelo Thauma. Considerando essa situação, responda:
a) O que teria que ocorrer a partir desse estado de Thauma em que se en-
contra o filósofo para que efetivamente surja o pensamento filosófico?
b) Quais seriam os problemas filosóficos que poderiam ter afetado o fi-
lósofo nesse momento em que viveu? Não se esqueça de justificar a
sua resposta.
c) Discorra, com base em um problema citado por você na questão an-
terior, os principais pontos de um possível pensamento filosófico que
surgiria a partir de tal experiência.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:

46 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

1) d.

2) a.

3) a.

4) e.

5) a.

6)
a) Nesta questão, o aluno deverá falar que o pensamento filosófico
nasce/surge a partir do Thauma e que, uma vez que esse Thauma é
“aceito”, surgirão concomitantemente a dúvida, o problema e o rigor.
Neste momento, também cabe ao aluno falar que se deve utilizar o
pensamento racional, descrevendo suas características e a mudança
de atitude para a atitude crítica e a atitude reflexiva.
b) Esta questão possui uma resposta mais ampla, pois espera-se que o
aluno relacione sua resposta a problemas da Metafísica e da Ontolo-
gia, desde o sentido da vida até a existência de Deus. É possível justifi-
car com aquilo que é criação do homem, de sua época, de suas dúvidas
frente a uma maravilha, a uma construção natural de anos. É possível
também que surja um problema estético e assim, consequentemente,
uma reflexão ética a partir de tal problema.
c) Neste momento, espera-se que o aluno desenvolva um pensamento
mais sistematizado a respeito de um dos problemas mencionados no
item b (mesmo de forma hipotética e de pouco conhecimento filosófi-
co, uma vez que está ainda no início da obra). O contraponto seria uma
análise apenas na questão estética, que acompanha um alumbramen-
to e não se desenvolve para a dúvida, como o pensamento de que o
trabalho feito pelo filósofo demonstrava algo maravilhoso que, frente
à cordilheira, assim como ela é, se tornou insignificante (um exemplo)
e assim não haveria nem problema, muito menos rigor.

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 47
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final de nossa primeira unidade; o pontapé
inicial foi dado ao trabalharmos as características que compõem
o impulso filosófico, procurando demonstrar que o Thauma é um
paradoxo que contém admiração e espanto e que serve como es-
topim para as três características que compõem o impulso filosó-
fico: a dúvida, o problema e o rigor.
Vimos, também, que o ato de filosofar se dá quando se
aceita esse espanto de forma imediata e, concomitantemente,
teremos a dúvida, o problema e o rigor. No entanto, o que mais
nos chamou a atenção no decorrer da unidade é que foi possível
identificar as quatro grandes áreas que compõem a investigação
filosófica dentro de cada uma das características trabalhadas.
Vimos que, quando falávamos em espanto, remetíamos
à Estética; quando vimos a questão da dúvida na filosofia, nos
parecia claramente que nos referíamos à Ética; já a questão do
problema filosófico aponta para o campo da Física/Metafísica;
e por fim, e não menos importante, ao relacionarmos o rigor à
liberdade, nos parece que tratamos da Política.
Como o tema é extremamente longo, é importante que
você complemente seus estudos por meio das referências bi-
bliográficas citadas e das sugestões de leitura feitas no decorrer
da unidade e no Conteúdo Digital Integrador. E não se esqueça
de levar em consideração uma mudança de atitude, utilizando
sempre a atitude crítica e reflexiva, pois será importante para o
nosso caminhar.
O próximo passo é indagar quais seriam as formas em que
o conhecimento se dá. É possível que, de início, encontremos o
senso comum, que, como todos sabemos, é de validade duvido-

48 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

sa. Resta-nos investigar os conhecimentos filosófico, científico e


religioso para que possamos atingir certa compressão de onde
eles veem e as possibilidade que eles nos dão.

6. E-REFERÊNCIAS

Sites pesquisados
CASTRO, I. Aisthesis. 2013. Disponível em: <http://filosoficamenteocupada.blogspot.
com.br/2013/01/aisthesis.html>. Acesso em: 18 mar. 2019.
CONTE, J. Radicalização do exame filosófico. 2010. Disponível em <https://
criticanarede.com/cepticosgregos.html>. Acesso em: 18 mar. 2019.
DELEUZE, G. O abecedário de Gilles Deleuze. Transcrição integral do vídeo, para fins
exclusivamente didáticos. 1994-1995. Disponível em: <http://www.bibliotecanomade.
com/2008/03/arquivo-para-download-o-abecedrio-de.html>. Acesso em: 17 abr.
2019.
ENCUENTRO. La Filosofía. Mentira la verdad (Filosofía a martillazos), 2011. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=dIe4T14bkRQ>. Acesso em: 18 mar. 2019.
GOMES, P. Espanto: a origem do filosofar. 2016. Disponível em: <http://filosofarliberta.
blogspot.com.br/2016/10/espanto-origem-do-filosofar.html>. Acesso em: 18 mar.
2019.
GRACHER, K. O que é a Filosofia? 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=0eRivuWIXiY>. Acesso em: 18 mar. 2019.
MELVILLE, H. Moby Dyck. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. Disponível em: < https://
bit.ly/2HQM5cS >. Acesso em: 14 mar. 2019.
MORTON, A. Descartes, da dúvida à certeza. 2005. Disponível em: <https://
criticanarede.com/epi_descartes.html>. Acesso em: 18 mar. 2019.
MURCHO, D. O que é a Filosofia? 2015. Disponível em: <http://criticanarede.com/
oqueeafilosofia.html>. Acesso em: 18 mar. 2019.
PHILOSOPHY. Estética, cognição e ética. Disponível em: <https://www.philosophy.pro.
br/estetica_cognicao_etica.htm >. Acesso em: 18 mar. 2019.
ROSA, N. Com que roupa? 1930. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/noel-
rosa-musicas/125759/>. Acesso em: 17 abr. 2019

© INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 49
UNIDADE 1 – O IMPULSO FILOSÓFICO

ROSENDE, D. ¿Qué es la Filosofía? (Primera Parte). Disponível em: <https://www.


youtube.com/watch?v=xHmO_wuv278>. Acesso em: 18 mar. 2019.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução de Vinícius
Nicastro Honesco. Chapecó: Argo, 2009.
CARROLL, L. Alice: Aventuras de Alice no País das Maravilhas & Através do espelho e
o que Alice encontrou por lá. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro:
Zahar, 2009.
DELEUZE, G. Conversações. Tradução de Peter Pál Pelbart. São Paulo: 34, 1992.
______. Francis Bacon: lógica da sensação. Tradução de Roberto Machado. Rio de
Janeiro: Zahar, 2007.
DELEUZE, G; GUATTARI, F O que é a filosofia? Tradução de Bento Prado Jr. e Alberto
Alonso Muñoz. São Paulo: 34, 1997.
DESCARTES, R. Discurso do método. In. ______. Descartes. Tradução de Enrico
Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 34-100. (Os pensadores).
GIANNOTTI, J. A. Dialética X Analítica. Analytica, Rio de Janeiro, UFRJ, v. 12, n. 2, p.
35-45, 2008.
KANT, I. O que é esclarecimento. In. ______. Textos selecionados. Tradução de Floriano
de Souza Fernandes. Petrópolis: Vozes, 2010. p. 63-71.
FOUCAUL, M. A hermenêutica do sujeito: curso dado no Collège de France (1981-
1982). Tradução de Márcio Alves da Fonseca e Salma Tannus Muchail. São Paulo:
Martins Fontes, 2006.
NIETZSCHE, F. Considerações extemporâneas. In: ______. Nietzsche. Tradução
de Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 17-45. (Os
pensadores, v. 2).
PAVIANI, J. Uma introdução à filosofia. Caxias do Sul: Educs, 2014.
REALI, G. História da filosofia grega e romana. São Paulo: Loyola, 2007.

50 © INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

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