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HERMENÊUTICA

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Meu nome é Celso Reni Braida. Sou Doutor em Filosofia pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (2001), membro dos grupos
de pesquisa "Núcleo de Investigações Metafísicas” (UFSC), "Origens
da Filosofia Contemporânea" (PUC-SP) e do GT Filosofia hermenêutica
(Anpof). Traduzi e organizei os livros Schleiermacher: Hermenêutica,
Arte e técnica de interpretação (1999) e Três Aberturas em Ontologia:
Frege, Twardowski e Meinong (2005). Publiquei também os livros
Ensaios semânticos (2009), Exercícios de desilusão (2012), Filosofia e
linguagem (2013), além de vários artigos em revistas especializadas.
Sou professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina.
Celso Reni Braida

HERMENÊUTICA

Batatais
Claretiano
2021
© Ação Educacional Claretiana, 2020 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação
Educacional Claretiana.

CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL


CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL
Gerente de Material Didático: Rodrigo Daverni
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia
Aparecida Ribeiro • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo •
Patrícia Alves Veronez Montera • Simone Rodrigues de Oliveira • Vanessa Ito Nazar
Revisão: Eduardo Henrique Marinheiro • Filipi Andrade de Deus Silveira • Rafael Antonio Morotti • Vanessa
Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgarelli • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa
Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami
Videoaula: André Luís Menari Pereira • Bruna Giovanaz • Luis Gustavo Millan • Marilene Baviera • Renan de
Omote Cardoso
Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

121.68 B799h

Braida, Celso Reni


Hermenêutica / Celso Reni Braida – Batatais, SP : Claretiano, 2021.
188 p.

ISBN: 978-65-88553-14-5

1. Hermenêutica. 2. Experiência. 3. Expressão. 4. Compreensão. 5. Interpretação. 6. Sentido.


I. Hermenêutica.

CDD 121.68

INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: Hermenêutica
Versão: fev./2021
Formato: 15x21 cm
Páginas: 188 páginas
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS............................................................................. 11
3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE................................................................ 16
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 18

Unidade 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 25
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 26
2.1. HERMENÊUTICA: ORIGEM E SIGNIFICADO............................................ 26
2.2. ÂMBITOS DA HERMENÊUTICA................................................................ 31
2.3. TRÊS DIMENSÕES DA HERMENÊUTICA.................................................. 36
2.4. A HERMENÊUTICA BÍBLICA CLÁSSICA.................................................... 38
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 45
3.1. HERMENÊUTICA: HISTÓRIA E CONCEITOS BÁSICOS............................. 45
3.2. HERMENÊUTICA ANTIGA......................................................................... 46
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 46
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 47
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 48
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 49

Unidade 2 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA HERMENÊUTICA


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 53
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 53
2.1. HERMENÊUTICA MODERNA.................................................................... 53
2.2. SCHLEIERMACHER E OS FUNDAMENTOS DA HERMENÊUTICA GERAL...58
2.3. A CONDIÇÃO HISTÓRICA DA LINGUAGEM............................................. 69
2.4. A COMPREENSÃO HISTÓRICA................................................................. 72
2.5. DILTHEY: A UNIVERSALIZAÇÃO DA CONDIÇÃO HISTÓRICA.................. 75
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 90
3.1. CIRCULARIDADE HERMENÊUTICA.......................................................... 90
3.2. CONCEITOS E HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DA HERMENÊUTICA............. 90
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 92
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 93
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 94
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 94

Unidade 3 – FILOSOFIAS HERMENÊUTICAS


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 99
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 100
2.1. HEIDEGGER E OS ASPECTOS ONTOLÓGICOS DA HERMENÊUTICA...... 100
2.2. A HERMENÊUTICA FILOSÓFICA DE GADAMER...................................... 109
2.3. A HERMENÊUTICA CRÍTICA DE PAUL RICOEUR..................................... 127
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 148
3.1. HEIDEGGER E OS ASPECTOS ONTOLÓGICOS DA HERMENÊUTICA...... 148
3.2. A HERMENÊUTICA FILOSÓFICA DE GADAMER...................................... 149
3.3. A HERMENÊUTICA CRÍTICA DE PAUL RICOEUR..................................... 150
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 151
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 151
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 152
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 153

Unidade 4 – ASPECTOS CRÍTICOS DA HERMENÊUTICA


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 157
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 158
2.1. OS PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS DE E. BETTI...................................... 158
2.2. A HERMENÊUTICA CRÍTICA DE E. D. HIRSCH......................................... 163
2.3. A HERMENÊUTICA PRAGMÁTICO-TRANSCENDENTAL.......................... 170
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 179
3.1. ASPECTOS METODOLÓGICOS DA HERMENÊUTICA, SEGUNDO GADAMER
E BETTI....................................................................................................... 179
3.2. AS CRÍTICAS DE APEL E A FUNDAMENTAÇÃO DAS ABORDAGENS
HERMENÊUTICAS...................................................................................... 179
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 180
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 181
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 183
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 184
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo
A Hermenêutica como arte da apreensão, interpretação e compreensão
do sentido de expressões humanas. Hermenêuticas clássicas e modernas.
As compreensões espontânea e metódica. A Hermenêutica como arte e
técnica de interpretação. Teoria geral da interpretação. Linguagem, teoria do
significado e da compreensão. A conexão de sentido entre experiência vivida,
expressão e compreensão. Historicidade e compreensão. Hermenêutica e
analítica da existência. A consciência dos efeitos da história. Linguisticidade,
tradição e compreensão. Hermenêutica como recuperação e como imposição
de sentido. A autonomia semântica do texto. A Hermenêutica crítica e o
problema da alteridade do outro. Interpretação, objetividade e validade.
Falsa consciência e explicitação de sentido. Fazer sentido e habilitar a agir.

Bibliografia Básica
GRONDIN, J. Hermenêutica. Trad. M. Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2012.
PALMER, R. E. Hermenêutica. Lisboa: Edições 70, 1986.
SCHMIDT, L. K. Hermenêutica. Trad. F. Ribeiro. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.

Bibliografia Complementar
DILTHEY, W. A construção do mundo histórico nas ciências humanas. São Paulo: Editora
da Unesp, 2010.
GADAMER, H.-G. Verdade e método I: traços fundamentais de uma Hermenêutica
filosófica. Petrópolis: Vozes, 2005.
RICOEUR, P. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
RICOEUR, P. Teoria da interpretação. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1976.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

SCHLEIERMACHER, F. D. Hermenêutica: arte e técnica da interpretação. Trad. org.


Celso R. Braida. Petrópolis: Vozes, 2000.
SCHLEIERMACHER, F. D. Hermenêutica e crítica. Trad. A Ruedell. Ed. introd. Manfred
Frank. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005.

É importante saber: –––––––––––––––––––––––––––––––––


Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que
deverá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes
necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os
principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os
procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua
origem?) referentes a um campo de saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes,
previamente selecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas
ou disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados “Conteúdo
Digital Integrador” porque são imprescindíveis para o aprofundamento do
Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência
de mídias (vídeos complementares) e a leitura de “navegação” (hipertexto),
como também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos
temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito
de avaliação.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUÇÃO
Nesta obra, serão apresentados os principais autores,
teorias e conceitos relativos a uma tradição de pensamento e
prática que remonta à Antiguidade Clássica e diz respeito a
experiências, tanto cotidianas quanto sofisticadas, constituintes
da nossa vida social e cultural. Essas experiências estão inseridas
em práticas com base em quais pensamentos foram sintetizados
e sistematizados em diferentes campos teóricos e práticos
do saber humano, tais como Retórica e Estudos Literários,
Ciências Jurídicas, Ciências Teológicas, Historiografia, Etnografia,
Sociologia, Estudos de Tradução e Interpretação, e também
Filosofia.
Na Unidade 1, será apresentada uma descrição geral da
Hermenêutica, distinguindo esta como técnica, teoria e filosofia
da compreensão e da interpretação. Também serão apresentados
os conceitos básicos de expressão, experiência vivida, história e
compreensão, com o objetivo de delinear uma caracterização da
Hermenêutica como essencialmente referida ao fenômeno da
expressabilidade, da experiência vivida expressa linguisticamente
e da compreensão do outro enquanto um processo para chegar
a um sentido comum.
Na Unidade 2, serão apresentados os autores e teorias que
conformam o modelo teórico hermenêutico de racionalidade
e argumentação no século 19, tendo por base as modernas
teorizações de Friedrich Schleiermacher (1768-1834), Wilhelm
von Humboldt (1767-1835), Johann G. Droysen (1808-1884)
e Wilhelm Dilthey (1833-1911). Esses autores introduziram os
conceitos e princípios hermenêuticos básicos da Hermenêutica
moderna, como os de circularidade da compreensão, de
historicidade e linguisticidade da experiência interpretativa e,

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

ao mesmo tempo, a legitimaram como campo problemático e


teoria filosófica autônoma.
Na Unidade 3, vamos estudar as principais contribuições
contemporâneas para a teoria hermenêutica. O aspecto mais
evidente é que a Hermenêutica integra agora o rol das disciplinas
filosóficas e até se constitui como momento constitutivo da
própria Filosofia. As obras de Martin Heidegger (1889-1976),
Hans-Georg Gadamer (1900-2002) e Paul Ricouer (1913-2005)
destacam-se nesse cenário, mas vários outros pensadores
configuram aquilo que Jean Greisch (1985) denominou a “era
hermenêutica da razão”, na qual os principais temas da Filosofia
serão repensados nos termos dos conceitos hermenêuticos.
Os conceitos de sentido, existência e engajamento prático,
pertencimento a tradições, linguagem, compreensão prévia
e ideologia, diferença e alteridade, conformam o paradigma
hermenêutico em Filosofia.
Na Unidade 4, por fim, serão apresentados alguns tópicos
relacionados a teorias e debates atuais em Hermenêutica.
Esses tópicos dizem respeito à compreensão linguística e
também aos aspectos pragmáticos da compreensão em geral.
Embora tenham sido abordados nas grandes teorias fundadoras
de Schleiermacher e Dilthey, as contribuições e acréscimos
provenientes de estudos linguísticos, teorias psicológicas e da
ação fazem parte hoje do debate teórico hermenêutico e estão
presentes nas contribuições de Emilio Betti, Eric D. Hirsch e Karl-
Otto Apel. O debate entre as hermenêuticas existencialmente
orientadas e as metodológicas, em torno dos conceitos de
validação, objetividade e universalidade hermenêutica, marca
ainda hoje as discussões.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Essa sequência de estudos de temas, conceitos e autores


pretende ser uma introdução aos estudos hermenêuticos
e, sobretudo, desenvolver uma consciência mais ampla dos
problemas relativos à interpretação e compreensão de si e
do outro, das tradições culturais próprias e alheias, e, assim,
provocar uma atitude crítica e uma disposição para o debate
e o entendimento comum em meio à diversidade de saberes e
atitudes.
Na base desses problemas está a experiência de sentido
e de inteligibilidade, e de sua compreensibilidade. Conforme
indicou E. Betti (1955), os problemas, teorias e conceitos
relacionados à interpretação e à compreensão são relevantes
a diversos domínios do conhecimento, como Linguística e
Semiótica, Filologia e Teoria literária, Historiografia, Sociologia,
ciências jurídicas, Teologia e Direito canônico, aos estudos de
tradução e os estudos de interpretação e representação artística
em geral.

2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida
e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados.
1) Ação: efeito ou exercício da capacidade de agir; ato
intencional; ato voluntário e proposital dirigido a um
objetivo.
2) Ato de fala: ato ou ação efetuada por meio de um
proferimento linguístico; ação de fazer algo por meio

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

de um proferimento; ação de enunciar por um agente


falante num dado contexto.
3) Círculo hermenêutico: estrutura da compreensão
pela qual a compreensão de um todo é baseada na
compreensão das partes individuais e a compreensão
de cada parte individual é baseada na referência ao
todo; interdependência entre o todo e suas partes.
4) Circunstância: conjunto de particularidades, condições
ou fatores que acompanham um evento; condição
do momento presente de uma ação; situação num
determinado momento; conjuntura; contexto.
5) Compreensão: ato ou efeito de apreender o sentido
e o significado de algo; entendimento; percepção;
apreensão das intenções, pensamentos e atitudes das
outras pessoas; apreensão e realização do sentido de
uma expressão.
6) Conceito: representação mental, abstrata e geral, de
um objeto; noção abstrata; conteúdo de um predicado.
7) Conteúdo: aquilo que é expresso por uma expressão;
aquilo que é comunicado por um discurso ou texto;
assunto, matéria; significado de um signo; sentido e
significado de uma expressão linguística.
8) Contexto: conjunto de circunstâncias nas quais um
evento ocorre; situação, conjuntura; totalidade das
circunstâncias exteriores à língua (ambiente físico da
enunciação, fatores históricos, sociais, culturais etc.)
que possibilitam, condicionam ou determinam um ato
de enunciação e a respectiva interpretação.
9) Disposição: tendência; inclinação; intenção; vontade,
hábito.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

10) Domínio de referência: mundo; conjunto de objetos


a que um discurso se refere; conjunto das coisas que
podem ser referidas e a partir do qual sentenças são
declaradas verdadeiras ou falsas.
11) Estrutura: forma e organização dos elementos que
compõem um todo material ou de uma realidade
imaterial; forma ou organização na qual as partes são
dependentes do todo e interconectadas entre si; aquilo
que sustenta alguma coisa; armação; construção,
edificação; conjunto de relações entre os elementos
de um sistema.
12) Experiência: ato ou efeito de agir e perceber;
conhecimento por meio dos sentidos e da ação;
execução; realização de uma atividade; vivência;
ensaio; tentativa.
13) Expressão: ato ou efeito de exprimir; manifestação de
pensamentos por gestos ou palavras; entoação com
que se pronuncia uma palavra ou uma frase; signo;
palavra, gesto.
14) Forma: ordenação; série de características fonológicas,
gramaticais e lexicais das unidades linguísticas;
conjunto dos limites exteriores de um objeto ou de
um corpo que lhe conferem uma configuração ou uma
determinada aparência; feitio; formato.
15) Inferência: ato ou efeito de inferir, de deduzir uma
proposição por meio de raciocínio; aquilo que se deduz
a partir de outra coisa; ilação; dedução; conclusão;
transição de uma ou mais proposições, consideradas
como verdadeiras ou falsas, para a verdade ou falsidade
de outras proposições.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

16) Intenção: intento; propósito; desígnio; vontade.


17) Interpretação: ato ou efeito de atribuir um significado
a um sentido em que se toma uma expressão, discurso
ou ação; maneira de representar uma situação;
maneira de executar uma instrução; execução; modo
de aplicação de uma regra.
18) Língua: sistema histórico apreendido, constituído
por palavras e regras gramaticais que permitem a
construção de frases e que é usado como meio de
expressão e comunicação, falado ou escrito, pelos
membros de uma mesma comunidade linguística;
idioma.
19) Linguagem: sistema de representação; meio de
comunicação; língua; forma de expressão própria
de determinados grupos sociais, profissionais ou de
determinadas áreas do saber.
20) Mundo: conjunto de tudo quanto existe; o que há; a
totalidade das coisas existentes e possíveis.
21) Objeto: aquele ou aquilo que é afetado ou sofre uma
ação; o que é pensado, ou representado, enquanto
distinto do ato pelo qual é pensado; aquilo cuja
existência é considerada como independente do
conhecimento que dele tem o sujeito pensante; o que
é referido.
22) Práticas: conjunto de ações; maneira concreta de
exercer uma arte ou conhecimento; experiência;
exercício; forma habitual de agir; procedimento;
conduta; costume.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

23) Pré-compreensão: estrutura de crenças e


conhecimentos prévios; conhecimento tácito que
embasa uma compreensão.
24) Proferimento: ato de enunciar ou realizar uma
enunciação; ato de fala.
25) Proposição: enunciado verbal suscetível de ser
declarado verdadeiro ou não; conteúdo de uma frase;
sentido, significado de uma frase assertórica.
26) Referência: ato de referir; coisa referida, o que é
significado; processo por meio do qual uma palavra
ou expressão linguística remete a uma entidade ou
localização temporal ou espacial apreensível num
determinado contexto.
27) Sentido: direção ou modo de apresentação de um
conteúdo; estrutura de inteligibilidade; modo de
indicação de uma referência; conceito, pensamento.
28) Significado: aquilo que uma expressão linguística
exprime ou representa, significação expressa; valor;
objeto designado.
29) Signo: sinal ou marca, natural ou convencional, que
representa algo distinto de si próprio; símbolo, sinal;
sinal próprio da linguagem verbal, palavra; aquilo que
está por outra coisa.
30) Símbolo: aquilo que representa ou sugere algo;
objeto que serve para evocar algo; imagem ou
objeto material que representa uma outra realidade;
sinal representativo; signo; ser ou objeto a que se
convencionou atribuir um dado significado.
31) Sinal: marca ou objeto que representa ou indica uma
coisa, fato ou fenômeno presente, passado ou futuro;

© HERMENÊUTICA 15
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

manifestação, exteriorização, revelação; indício,


indicação, prenúncio; anúncio; vestígio.
32) Situação: complexo que resulta da interação, em dado
momento, de um ser vivo, e sobretudo de uma pessoa
humana, com o seu meio social, físico ou mesmo
intelectual; conjunto de fatores extralinguísticos que
condicionam e determinam a emissão de um ato de
fala; série de acontecimentos num dado momento;
circunstância.
33) Texto: conjunto ordenado de palavras ou frases
escritas em uma língua ou linguagem; sequência finita
e organizada de enunciados que constitui a unidade
fundamental do processo comunicativo e que é dotada
de sentido e propósito.
34) Universo de discurso: conjunto de elementos
linguísticos e extralinguísticos que constituem as
condições de produção de um enunciado; conjunto de
elementos que se tomam como referência em dado
discurso; tudo o que é, foi ou pode ser expresso em
determinada linguagem.

3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE


Os Esquemas a seguir possibilitam uma visão geral
dos conceitos mais importantes deste estudo. O primeiro se
refere às condições sob as quais uma experiência de sentido
compreensível transcorre: a experiência de sentido está ancorada
e embasada em um contexto histórico-cultural, um contexto
linguístico, em práticas e pré-compreensões tácitas, e no esforço
de entendimento de uma comunidade.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Figura 1 Esquema dos círculos da compreensão.

Já a segunda imagem indica a condição circular da


compreensão e da interpretação:

Figura 2 Esquema do círculo hermenêutico.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Por fim, o último gráfico explicita a condição circular entre


experiência vivida, pré-compreensão, compreensão e revisão
das pré-compreensões.

Figura 3 Esquema do círculo da experiência vivida e da compreensão refletida.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BETTI, E. Teoria generale della interpretatione. Milano: Dott. A. Giuffrè, 1955.
BOLLNOW, O. F. Studien zur Hermeneutik. Part I: Zur Philosophie der
Geisteswissenschaften. München: Alber, 1982.
BRAIDA, C. R. A historicidade do artístico e a condição artefactual. In: FLORES, M. B. R.;
PIAZZA, M. F. F.; PETERLE, P. Arte e pensamento: operações historiográficas. São Paulo:
Rafael Copetti, 2016.
BRAIDA, C. R. Compreensão hermenêutica e suspeição genealógica. Peri, v. 7, n. 1, p.
1-33, 2015.
BRAIDA, C. R. Da voz dramática às linguagens de máquina. ROHDEN, L. (Org.) Entre
Filosofia e Literatura. Belo Horizonte: Relicário, 2015. p.
BRAIDA, C. R. Filosofia e Linguagem. Florianópolis: Clube de Autores/Rocca Brayde,
2013.
CASSIRER, E. Filosofia das formas simbólicas. Volume I – Linguagem. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.

18 © HERMENÊUTICA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

CASSIRER, E. (1925) Filosofia das formas simbólicas. Volume II – O pensamento mítico.


São Paulo: Martins Fontes, 2004.
CASSIRER, E. Philosophie der symbolischen Formen. Die Sprache; II: Das Mythische
Denken; III: Phänomenologie der Erkenntnis. Darmstadt: Wissenschaftliche
Buchgesells-chaft, 1923-1929/1964.
DAVIDSON, D. Inquiries into truth and interpretation. New York: Clarendon Press, 1991.
DELEUZE, G. Différence et répétition. Paris: PUF, 1968.
DUMMETT, M. The logical basis of metaphysics. Cambridge: Harvard U. P., 1991.
DUMMETT, M. The seas of language. Oxford, Clarendon Pr., 1993.
GREISCH, J. L’âge herméneutique de la raison. Paris: Éditions du Cerf, 1985.
GUMBRECHT, H. U. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir.
Rio de Janeiro: Contraponto, 2010.
HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. trad. P. Menezes. Petrópolis: Vozes, 2011.
HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. v. 2.0. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2007.
KEANE, K.; LAWN, C. (Eds.). The Blackwell companion to Hermeneutics. Oxford:
Blackwell, 2016.
JUNG, M. Hermeneutik zur Einfürung. Hamburg: Junius, 2001.
IHDE, D. Postphenomenology and technoscience. New York: SUNY Press, 2009.
LUTERO, M. Da liberdade cristã. 4. ed. São Leopoldo: Sinodal, 1983.
LUTERO, M. Obras selecionadas. São Leopoldo: Sinodal, 1987.
MING, X. Afterword: Contesting the Real. In: MING, X. (Org.). The agon of interpretations.
Toronto: University of Toronto Press, 2014, p. 302-308.
NIETZSCHE, F. W. Sämtliche Werke. Kritische Studienausgabe. Hrsg. G. Colli und M.
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PALMER, R. E. Hermenêutica. Lisboa: Edições 70; 1986.
PEIRCE, C. S. Semiótica. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1990.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística geral. Org. Ch. Bally e A. Sechehaye. Trad. de A.
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SCHLEIERMACHER, F. D. Hermenêutica: arte e técnica da interpretação. Trad. org. C. R.
Braida. Petrópolis: Vozes, 2000.

© HERMENÊUTICA 19
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

SCHMIDT, L. K. Hermenêutica. Trad. F. Ribeiro. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2014.


STEIN, E. Aproximações sobre hermenêutica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996.
WITTGENSTEIN, L. Tractatus logico-philosophicus. Trad. Luiz H. Lopes dos Santos. São
Paulo: Edusp, 1993.

20 © HERMENÊUTICA
UNIDADE 1
APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

Objetivos
• Introdução à história da Hermenêutica.
• Apresentar as áreas de interesse e aplicação dos conceitos hermenêuticos.
• Compreender as inter-relações entre experiência, expressão, interpretação
e compreensão.
• Explanar as relações hermenêuticas entre experiência vivida, linguagem e
pensamento.
• Compreender o lugar teórico dos conceitos hermenêuticos.

Conteúdos
• Hermenêutica: técnica, teoria e filosofia da compreensão e da interpretação.
• Expressão: experiência vivida, história comum, compreensão de si e do
outro.
• Linguagem: experiência vivida e expressa linguisticamente, compreensão
do outro e sentido comum.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) A leitura desta obra deve ser vista como uma indicação dos termos e
tópicos a serem estudados e aprofundados; procure outras informações
e apresentações desses assuntos nos livros indicados nas referências
bibliográficas e em sites confiáveis. Lembre-se de que, na modalidade
EaD, o engajamento pessoal e a organização dos estudos é um fator
determinante para o seu crescimento intelectual.

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UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

2) Para uma visão inicial panorâmica do campo hermenêutico, recomenda-se


a leitura dos seguintes textos, os quais constituem excelentes exposições
dos conceitos e aplicações da Hermenêutica:
• HERMENÊUTICA. Verbete do site Wikipédia. Disponível em: https://
pt.wikipedia.org/wiki/Hermenêutica. Acesso em: 25 ago. 2020.
• MANTZAVINOS, C. Hermeneutic. Stanford Encyclopedia of
Philosophy. 2016. Disponível em: https://plato.stanford.edu/entries/
hermeneutics/. Acesso em: 25 ago. 2020.
• INWOOD, M. Hermenêutica. 2007. Disponível em: https://criticanarede.
com/hermeneutica.html. Acesso em: 25 ago. 2020.
• STAGLIANO, N. Hermenêutica: conceitos e características. 2016. Disponível
em: https://simoesstagliano.jusbrasil.com.br/artigos/335787147/
hermeneutica-conceitos-e-caracteristicas. Acesso em: 25 ago. 2020.

3) Para uma melhor visualização dos problemas e conceitos hermenêuticos,


em diferentes domínios de conhecimento, que serão estudados a seguir,
sugere-se a leitura dos seguintes textos:
• ROCHA, S. A. Evolução histórica da teoria hermenêutica: do formalismo
do século XVIII ao pós-positivismo. Lex Humana, v. 1, n. 1, 77-160, 2009.
Disponível em: http://seer.ucp.br/seer/index.php/LexHumana/article/
view/5. Acesso em: 25 ago. 2020.
• OLIVEIRA, R. T.; STRECK, L. L. O que é isto – A hermenêutica jurídica? 29
ago. 2015. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-ago-29/
isto-hermeneutica-juridica. Acesso em: 25 ago. 2020.
• SALLES, W. F.; AMARAL, D. R. Hermenêutica teológica: caminho para a
afirmação da identidade religiosa. Revista de Cultura Teológica, v. 18,
n. 70, p. 51-68, abr./jun. 2010. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/
culturateo/article/download/15409/11510. Acesso em: 25 ago. 2020.
• BRIZOTTO, B.; BERTUSSI, L. T. Hans Robert Jauss e a Hermenêutica
literária. Letrônica, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 735-752, jul./dez. 2013.
Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/
letronica/article/viewFile/14889/11287. Acesso em: 25 ago. 2020.
• ROHDEN, L. Hermenêutica filosófica: entre Heidegger e Gadamer!
Natureza humana, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 14-36, 2012. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/nh/v14n2/a02.pdf. Acesso em: 25 ago.
2020.

22 © HERMENÊUTICA
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

4) A compreensão adequada dos temas e conceitos de Hermenêutica está


associada ao domínio de vários outros conteúdos e competências, incluindo
vários domínios de conhecimento. Para adquirir uma competência
mínima, são necessários conhecimentos básicos de teoria da linguagem,
de historiografia e de humanidades. Uma referência bibliográfica básica
são os livros de Richard E. Palmer (1986) e de Lawrence K. Schmidt (2014).

5) O estudo sistemático de qualquer assunto exige organização e um trabalho


de esquematização dos conceitos e teorias. Por isso, anote os termos
principais usados na unidade, faça mapas conceituais e busque fixar o
sentido com que são usados e, sobretudo, qual função ou papel teórico
esses conceitos exercem na teoria. Consulte dicionários e outros textos
para elaborar e aprofundar a caracterização desses termos, registrando as
frases em que eles ocorrem e as diferenças entre os autores.

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UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

24 © HERMENÊUTICA
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

1. INTRODUÇÃO
Nesta unidade, será apresentada uma descrição geral
da Hermenêutica, caracterizando-a como técnica, teoria e
filosofia da compreensão e da interpretação. Também serão
apresentados, de modo informal, os conceitos básicos de
“expressão”, “experiência vivida”, “história” e “compreensão”,
com o objetivo de delinear uma caracterização da Hermenêutica
como essencialmente referida ao fenômeno da linguagem, da
experiência vivida expressa linguisticamente e da compreensão
do outro enquanto processo de chegar a um sentido comum.
Por detrás de toda disciplina e área de conhecimento estão
experiências e noções básicas enraizadas na história de nossa
cultura, adquiridas no enfrentamento de problemas específicos e
reais. Não é diferente com a disciplina do pensamento e da ação
denominada “Hermenêutica”: na sua base, estão experiências
comuns; mas, como disciplina e técnica, essa palavra indica
problemas efetivos e também as teorias com os quais se procurou
solucioná-los. O marco inicial dessa disciplina, no contexto da
História da Filosofia, pode-se seguramente dizer que é o diálogo
Íon, de Platão (2011), escrito no século 4º a.C., no qual o termo já
aparece usado para se referir a uma prática (arte ou técnica) de
exposição, interpretação e compreensão de textos e discursos.
As técnicas ou artes hermenêuticas referem-se às
práticas sistemáticas de decifração, tradução, interpretação e
compreensão de discursos e textos, bem como de monumentos
e vestígios de atos e pensamentos de outrem, contemporâneos
ou passados. Seja na tradição grega, seja na judaica ou na
romana, em relação tanto aos textos poéticos e sagrados quanto
aos textos jurídicos e administrativos, e também aos relatos e
monumentos históricos, a experiência do não entendimento,

© HERMENÊUTICA 25
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

ou da obscuridade do sentido e do significado, foi tematizada e


enfrentada com procedimentos, técnicas e regras explícitas.
Por “Hermenêutica”, no seu uso genérico, entenderemos
a disciplina e a prática de buscar o sentido e o significado
de uma produção, expressão ou ação, cuja realização foi
propositadamente executada para ser apreendida enquanto
tendo um ou mais sentidos determinados, a partir do qual
(ou dos quais) um significado é indicado. O caso exemplar de
produção que visa transmitir um sentido a ser aprendido como
tendo um ou outro significado são os textos e discursos, mas isso
também vale a objetos, como as obras de arte e monumentos, e
ações – são veículos de sentido e significado usados por agentes
e falantes para se fazerem entender e para darem a entender o
que pensam e o que sentem em determinadas situações.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de
forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua
compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo
estudo do Conteúdo Digital Integrador.

2.1. HERMENÊUTICA: ORIGEM E SIGNIFICADO

Os termos do pensamento reflexivo ocidental foram


fixados na língua dos povos gregos entre os séculos 8º, quando
são fixadas por escrito as epopeias hoje conhecidas como a
Ilíada e a Odisseia, de Homero, e 4º antes da era cristã, século
da fundação da Academia de Platão, do Liceu de Aristóteles e da
Escola de Zenão, em que foram pensadas e escritas as obras que
determinaram o curso da Filosofia que ainda hoje praticamos.

26 © HERMENÊUTICA
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

Entre esses termos, estão as palavras “hermeneuien” e


“sinein”, as quais remetem às atividades de narrar e interpretar
um acontecimento, de expressar e compreender uma opinião,
enfim, de dizer e entender um assunto. A própria atividade
filosófica nos seus começos é já uma disputa acerca de como
narrar os fatos e dizer as coisas, perfazendo-se, desde o seu
início, como uma disputa acerca da validade desta ou daquela
maneira de pensar e compreender os discursos e os fatos.
No diálogo Íon, de Platão, esses termos já aparecem com
um uso bem determinado. Nele, Sócrates conversa com uma
figura típica do mundo grego de então, um rapsodo, uma pessoa
que sabia declamar, interpretar e apresentar poemas e, muitas
vezes, era também um poeta. Trata-se de Íon, considerado à
época o maior entre os maiores rapsodos. Logo no início, Sócrates
faz este comentário, falando da técnica e da vida dos rapsodos:
[…] viver na companhia de outros poetas, muitos e bons – e
mais que todos de Homero, o melhor e mais divino dos poetas,
e saber de cor seu pensamento (dianoia), não apenas as suas
palavras, é invejável. Pois ninguém se tornaria jamais um
bom rapsodo se não compreendesse (sinein) as coisas ditas
(legomena) pelo poeta. Pois deve o rapsodo se tornar, para os
ouvintes, intérprete do pensamento do poeta (hermeneia dei
tou poietou tes dianoias). Porém, fazer isso bem, sem conhecer
o que diz (gignouskonta oti legei) o poeta, é impossível (PLATÃO,
2011, p. 27).

Nessa passagem, já está caracterizada o que depois se


chamará de arte da hermenêutica, indicando um conhecimento
e uma compreensão, associados a uma interpretação, das coisas
pensadas, ditas e escritas. Logo a seguir (p. 29), Sócrates se
refere ao saber de Íon com o termo “exegese” (hexegesaio), que
consiste em saber ler e compreender bem a expressão escrita
de um discurso. Depois, ele vai utilizar a construção que marca

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UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

a atividade hermenêutica: referindo-se ao fato de que, entre os


gregos, os poetas eram tidos como intérpretes ou tradutores
(hermeneúeien) dos próprios deuses, Sócrates entende a
atividade do rapsodo como a de um intérprete dos intérpretes
(hermenéon hermenês): os poetas são intérpretes dos deuses
(hermenês eisin tôn theôn), e os rapsodos interpretam as obras
e os pensamentos desses poetas (tôn poietôn hermeneúete)
(PLATÃO, 2011, p. 41).
Além disso, em grego antigo, o verbo “hermeneuein”
e o substantivo “hermeneias” remetem também à ação de
enunciar, dizer, declarar, como indica o uso que faz Aristóteles
(2016), no livro Da interpretação (Peri hermeneia), que trata da
enunciação e dos fundamentos semânticos da Lógica. A partir
dessas indicações, pode-se entender que a formulação platônica
“hermenéon hermenês” significa também a interpretação
compreensiva das expressões faladas e escritas de outrem, para
assim apreender os seus pensamentos, o que se caracteriza pela
atividade de expressar e dizer aquilo que foi pensado, dito e
escrito pelo outro.
Em latim, o termo usado para se referir a essa arte era “ars
interpretandi”, e, desde o século 17, a palavra “hermenêutica”,
adaptada do grego clássico, passou a ser utilizada nas línguas
europeias. Na tradição grega, os vocábulos “hermenenuein” e
“hermeneia” indicam as ações de enunciar ou dizer, e também
de explicar e representar e, ainda, de traduzir:
nos três casos, há algo diferente, de estranho e de separado
no tempo, no espaço ou na experiência, que se torna familiar,
presente e compreensível; há algo que requer representação,
explicação ou tradução e que é, de certo modo, “tornado
compreensível”, “interpretado” (PALMER 1986, p. 25).

28 © HERMENÊUTICA
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

A estrutura dessas ações é complexa: alguém pensa ou


tem certas intenções, expressa ou age de acordo com esses
pensamentos e intenções; as outras pessoas percebem apenas as
suas expressões e ações, mas precisam entender e compreender
os seus pensamentos e intenções, expressando-os outra vez para
serem compreendidos por outras pessoas.
Muitas vezes, associa-se o termo “hermenêutica” ao
deus grego Hermes, considerado o mensageiro entre os deuses
e os humanos, ao qual se atribui a invenção da linguagem e
da escrita (BOECKH, 1877, p. 80). Todavia, deve-se ver nisso a
síntese mitopoética grega da experiência da comunicação e da
linguagem.
Com efeito, o radical “erm” em grego indica, primeiro,
a expressão e a interpretação, na própria língua, daquilo que
alguém tem em mente ou quer dizer; segundo, a expressão e
tradução daquilo que outro tem em mente ou quer dizer em
outra língua; terceiro, a expressão e interpretação do que foi
enunciado por meio de comentário e explicações.
No tratado Da interpretação (Peri Hermeneias), Aristóteles
estabelece um uso vinculante do termo “hermeneia” como
significando a expressão do pensamento por meio da linguagem,
enquanto esta é o veículo ou mediador entre o que alguém tem
em mente e a realidade de que ele fala e sobre a qual pensa
(ARISTÓTELES, 2016, p. 85).
Utilizaremos aqui a palavra “hermenêutica” sempre
associada a experiências e ações envolvendo algo que tem ou faz
sentido enquanto é inteligível e significativo. Em grego, a palavra
“hermeneuien” indicava tanto a expressão ou enunciação de
sentido ou pensamento quanto a compreensão e a interpretação
– daí o inevitável sintagma platônico “hermenéon hermenês”.

© HERMENÊUTICA 29
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

No entanto, este não precisa ser lido no registro metafísico,


pois, já nas línguas modernas, e também no latim, as diferentes
acepções do radical grego foram fixadas e expressas com palavras
distintas, como é o caso em português. Se alguém diz que “se
fez uma hermenêutica” de alguma coisa, isso pode significar que
se fez uma exposição ou apresentação, ou uma interpretação,
ou uma explicação, ou uma exegese, ou uma tradução, ou uma
leitura etc.
No século 19, sobretudo a partir dos trabalhos de
Schleiermacher, Droysen e Dilthey, fixaram-se quatro acepções
em que se usa a palavra hermenêutica:
1) ausdrucken: expressar, enunciar;
2) auslegen: esclarecer, interpretar;
3) übersetzen: traduzir;
4) Verstehen: compreender.
Essas quatro acepções indicam sempre operações aplicadas
a algo, texto ou discurso, objeto ou ação, usado por alguém para
transmitir a outros seus pensamentos e intenções, e cujo sentido
é preciso apreender em outros termos, explicitar de modo a
ficar claro, transpor para outros conceitos, e compreender em
sua inteligibilidade e significado. O que está em questão é o ter
e fazer sentido e a realização desse sentido como um ou outro
significado.
Dilthey estabeleceu o cerne da Hermenêutica na conexão
de sentido que se realiza na articulação de uma experiência
vivida (Erlebniss), suas expressões (Ausdruck) e a compreensão
(Verstehen) dessas expressões. A compreensão, por sua vez,
reduplica-se, pois indica a compreensão daquele que vive a
experiência e a expressa, e também a de outro, a qual, em certa

30 © HERMENÊUTICA
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

medida, depende de uma revivência (Nacherleben) por parte


daquele que quer apreender o sentido das expressões de uma
vivência alheia (DILTHEY, 2010).

2.2. ÂMBITOS DA HERMENÊUTICA

A Hermenêutica, como arte da apreensão, interpretação


e compreensão de sentido, está presente na totalidade
das atividades humanas enquanto estas são marcadas pela
exigência de orientação, significação e valoração de um agente,
a serem interpretadas e compreendidas por outros agentes.
A experiência de orientação, significação e valoração de
um objeto, evento ou situação, devido à própria variedade e
diversidade do humano, traz contida em si mesma a possibilidade
do dissenso e da diferença. A compreensão espontânea e o
entendimento no sentido comum não eliminam as diferenças
de perspectivas e as disputas de interpretação e valoração. Está
nisso a raiz do próprio esforço de interpretação e compreensão
e, sobretudo, da busca de um sentido comum, seja como
pressuposto a ser desvelado, seja como projeto a ser construído.
Se alguém diz “Vou pra Porto Alegre”, o que isso significa?
Que irá para o sul ou para o norte? Que é trilegal ou que é uma
pena? Que terá de cruzar uma ponte ou que poderá ir a pé? Que
é preciso para ser feliz ou que vai para ser infeliz? Que torce
para o Colorado, e isso é bom, ou para o Grêmio? Maragato ou
Chimango? Que é bom ou ruim, porque lá faz frio?
Esses sentidos e significados, valorações e conotações, a
frase “Vou pra Porto Alegre” apenas pode ter em um contexto de
proferimento particular e para falantes e ouvintes em particular.
E, mesmo que ela seja proferida em um sentido determinado e

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UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

claro, o significado para quem fala é diferente daquele para quem


ouve, ela pode significar tudo para um e não significar nada para
outro. Se alguém a profere em Santa Maria, temos uma situação
diferente de se ela for dita em Florianópolis. Ir para Porto Alegre
pode ser uma ilusão, ou talvez a desilusão de alguém.
O seu sentido pode até ser o mesmo, o de alguém ir a
uma determinada cidade, mas o seu significado já é diferente
para quem vai e para quem fica. Todavia, e é isso o que nos
espanta, as pessoas se entendem ainda assim, elas comumente
se compreendem e, no comum do dia a dia, interpretam
corretamente umas às outras.
Esse entendimento comum ocorre no plano mesmo das
ações e interações, mas tem seu lugar na própria conversação,
na qual uma comunidade alcança uma unidade e ajusta as
diferenças (NIETZSCHE, 1992, p. 182). O entendimento na
linguagem, a compreensão dos relatos e histórias, dos mitos e
das verdades, do que é digno ou indigno de se fazer, dos modos
de comportar-se e do que é preferível fazer, perfaz o cerne de
uma comunidade.
Um dos problemas mais antigos em relação à linguagem
é o da compreensão do discurso do outro e da interpretação de
textos e documentos. Em torno dessa problemática surgiram as
práticas e procedimentos, bem como a reflexão hermenêutica,
que tem como foco as expressões e linguagens, pensadas
prioritariamente como uma expressão do pensamento humano,
enquanto uma formação que precisa ser compreendida, mas
que é, em grande parte, obscura e enigmática em seu sentido e
significado.
As palavras e discursos, transmitidos e herdados por
uma tradição, orais e escritos, nas quais se supõe muitas vezes

32 © HERMENÊUTICA
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

estar a verdade e a orientação adequada, precisam ser lidos e


interpretados a cada vez pelas novas gerações. Leis, tratados,
poemas, histórias, mitos, lendas, escritos sagrados e também
discursos teóricos e administrativos requerem um esforço para
revelar o seu sentido e ter um significado preciso.
O ponto de partida da Hermenêutica, enquanto
procedimento metódico, é o problema da validação da
compreensão e da incompreensão do que é dito ou significado
nas manifestações linguísticas, sígnicas e simbólicas. A tradição
hermenêutica se constituiu, sobretudo, a partir da experiência
de interpretação de textos, códigos, discursos e símbolos cujos
autores não estão mais presentes, ou seja, a partir da necessidade
de compreensão de manifestações linguísticas fixadas, o que
agora exige esforço de decifração.
A partir de Friedrich D. E. Schleiermacher (1768-1834),
generaliza-se esse problema para toda e qualquer manifestação
simbólica cujo sentido esteja em causa, tomando-se o modelo
do diálogo e da conversa como o paradigma da ocorrência de
linguagem, no sentido preciso de que toda enunciação deveria
ser compreendida como uma resposta ou como um pedido de
resposta por parte de um autor, dirigindo-se a um interlocutor.
Todavia, o próprio diálogo direto será compreendido como
demandando um esforço de compreensão e de mediação para
eliminar as intransparências e os mal-entendidos. O que se dá, o
que se percebe e recebe, ainda não esgota o presente: em que
sentido, sob qual significado, para qual orientação isso que se
dá está dado? – A resposta dada “Vou a Porto Alegre” significa o
que para quem a dá, significa o que para quem a recebe?
O ponto principal dessa teorização metódica é a abdicação
do princípio da transparência do signo linguístico e das

© HERMENÊUTICA 33
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

expressões e a generalização da experiência da interpretação.


A ênfase principal é a atenção ao diferente, que é outro, e ainda
assim tem de ser compreendido. Hans-Georg Gadamer fala da
“prioridade e ineludibilidade do sistema da linguagem” frente à
autotransparência da consciência de si e do outro, mas também
frente aos fatos. O si mesmo, o outro e o mundo dos fatos dão-
se apenas “no mundo intermediário da linguagem”, enquanto
este é propriamente “a verdadeira dimensão do real, do dado”
(GADAMER, 2004, p. 391).
O pressuposto hermenêutico básico é que, nas ações e
expressões do outro, atual ou antepassado, há algo que faz sentido
e é significativo, merecendo ser entendido e compreendido.
A Hermenêutica é uma atividade prática cuja finalidade é
apreender o sentido do que é feito e dito, uma apreensão do
sentido que se dá na linguagem e pela linguagem.
Na base do esforço hermenêutico de interpretação e
compreensão de uma manifestação alheia, está também a
percepção da diferença ou alteridade que, na sua forma mínima,
é a própria diferença entre a posição do “eu” e do “tu”, daquele
que falou ou escreveu e daquele que lê e quer entender.
O elemento propriamente hermenêutico está, porém, na
sobreposição de outro diferimento que precisa ser apreendido e
compreendido, a saber, o diferimento, não propriamente quanto
à posição, e sim quanto ao modo como o outro pensa (sinein)
sobre determinada coisa, assunto ou problema (pragma). A
primeira diferença refere-se à distinção entre a pessoa que fala
e a que ouve; a segunda diz respeito à diferença de visada que
uma e outra têm sobre o assunto em questão. Compreender o
outro é compreendê-lo como outro diferente, com seus outros
interesses e orientações, e também compreender a si mesmo

34 © HERMENÊUTICA
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

como distinto, e isso em relação a um assunto ou coisa cujos


sentido e significado importam a ambos.
O que se quer é compreender o outro tal como o outro
quer ser compreendido – portanto, o que se quer é chegar a um
sentido comum. Todavia, o acento principal será posto no fato
da alteridade ineliminável, a ser também ela compreendida,
como frisou Schleiermacher: sempre resta “[...] para cada um o
estranho (Fremdes) nos pensamentos (Gedanken) e expressões
(Ausdrücken) do outro” (SCHLEIERMACHER, 2000, p. 33).
Essa diferença diz respeito justamente à diversidade de
interesses e pontos de vista relativos ao “eu” que lê e ao “tu” que
se expressa, como é o caso entre o autor dos textos sagrados e o
eu individual, entre os autores antepassados de uma tradição de
costumes, leis e textos e os membros atuais de uma comunidade.
Nesse ponto, tornam-se visíveis a diferenciação e o
distanciamento histórico. Quando se compreende, compreende-
se de modo diferente: o mesmo sentido, ou o sentido comum, é
uma projeção cuja realização depende de um esforço constante.
A historicidade da compreensão e da significação está ligada a
essa diferenciação distanciadora que o tempo impõe. O sentido
de um poema é algo a ser recuperado, reconstruído, reatualizado.
E, também, um poema ou um texto constituidor de uma tradição
é algo que precisa ser ressignificado e compreendido de novo
a cada nova geração. Línguas, práticas e hábitos mudam pelo
acúmulo de fatos e feitos, e também de sentidos dados e de
interpretações feitas desses fatos e feitos, de modo que um
mesmo texto sempre é lido de modo diferente no evolver de
uma tradição.

© HERMENÊUTICA 35
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

2.3. TRÊS DIMENSÕES DA HERMENÊUTICA

A Hermenêutica, como técnica de interpretação,


procedimento de decodificação e decifração de um enunciado
(hermeneia), texto ou manifestação expressiva, já na antiguidade
se subdividiu em ramos especializados, como o da exegese e
interpretação de textos sagrados, o da interpretação e aplicação
dos textos jurídicos e, por fim, o da exegese, comentário e
interpretação de textos poéticos, literários e filosóficos.
Com efeito, a Hermenêutica, enquanto arte e técnica de
interpretação correta de textos, começa com o esforço dos gregos
para preservar e compreender os seus poetas, e desenvolve-se
na tradição judaico-cristã de exegese das Sagradas Escrituras. A
partir do Renascimento, fixam-se três tipos básicos de técnica
de interpretação: hermenêutica teológica (sacra), jurídica (juris)
e poético-filológica (profana). Os problemas enfrentados nesses
âmbitos especializados não são os mesmos, embora neles, em
geral, se tenha em vista a compreensão de textos.
Essa tripartição, contudo, não é uma mera classificação
acessória, pois ela diz respeito aos próprios conceitos de
interpretação e de sentido que se aplicam a um texto ou discurso.
Compreender e interpretar um texto, no seu sentido religioso, é
diferente de o fazer em sentido jurídico, e ambos esses sentidos
são distintos em relação ao poético, científico e filosófico. Uma
coisa é ler um texto enquanto se supõe que este seja a revelação
da vontade e verdade divinas, a que se deve obediência e
respeito; outra, bem diferente, é lê-lo enquanto texto tomado
como regra pela qual se julga uma ação em particular como
autorizada ou desautorizada socialmente.

36 © HERMENÊUTICA
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

Nesses dois casos, a compreensão e a interpretação do


sentido do texto implicam uma aplicação direta, seja à própria
vida do leitor, seja a um ato particular de outrem. Dito de outro
modo, no caso dos textos religiosos e jurídicos, o seu sentido e
sua interpretação implicam uma remissão a uma dimensão que
está fora do texto: a dimensão do sagrado e a da convivência
socialmente regrada, respectivamente. O intérprete não
compreende o texto pelo texto e pelo que ele significa, mas o faz
remetendo a algo diferente: à vontade divina ou à comunitária.
No caso dos sentidos poéticos, literários e filosóficos de
um texto, essa aplicação não ocorre, e a adequação de uma
interpretação diz respeito a critérios bem distintos, como os
padrões estéticos e artísticos, ou os de coerência e consistência
conceitual e lógica, ou então os de embasamento experimental
e observacional. Por isso, a distinção entre hermenêutica sacra,
jurídica e profana, embora hoje esteja um pouco em desuso,
remete ao problema fundante da reflexão hermenêutica, a saber,
o da diversidade de sentidos e significados com que uma forma
significante pode ser compreendida.
No passado, os textos eram de saída concebidos como
pertencentes a gêneros particulares que determinavam já o
tipo de leitura e o sentido pelos quais eles deviam ser lidos.
Atualmente, está bem estabelecido que o mesmo texto pode ser
lido sob diferentes sentidos e enfoques (GENETTE, 2004, p. 103-
105). Um dado texto pode ser objeto de interpretação jurídica,
literária ou filosófica, como é o caso de uma Constituição de um
país: podemos lê-la para aplicá-la na decisão de um caso jurídico
real; para discutir e exemplificar uma tese filosófica em teoria
ética ou política; ou para apreciar os usos e estilos linguísticos,
as figuras retóricas e o tipo de construção frasal. O texto é o
mesmo, mas o sentido em que ele é lido propicia diferentes

© HERMENÊUTICA 37
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

interpretações, as quais, por sua vez, são julgadas como mais ou


menos adequadas.

As leituras indicadas no Tópico 3.1 tratam dos conceitos


e termos básicos da Hermenêutica. Neste momento, você
deve realizar essas leituras para aprofundar o tema abordado.

2.4. A HERMENÊUTICA BÍBLICA CLÁSSICA

Ao nome de Fílon de Alexandria (15 a.C.-40 d.C.) está


associado o método de interpretação dos textos sagrados
denominado de alegórico, proveniente da escola estoica,
inicialmente delineado para a interpretação dos mitos gregos e
depois aplicado também à interpretação dos textos da tradição
judaica e dos bíblicos. A ideia central desse método é que o
texto bíblico se deixa ler em dois sentidos, o literal, associado às
palavras na sua significação convencional, e o alegórico, ligado
ao conteúdo espiritual. Um exemplo desse procedimento está na
seguinte passagem, na qual Fílon sugere uma leitura alternativa
para a descrição do jardim do Éden, no Livro do Gênesis:
A meu ver, tais considerações (sobre o Jardim do Éden)
parecem supor um filosofar em sentido mais simbólico
que próprio, pois sobre a terra ainda não apareceu no
passado nenhuma árvore da vida nem nenhuma árvore do
conhecimento, nem é verossímil que apareçam no futuro.
Parece, antes, que com o nome de “jardim” Moisés faz alusão
ao princípio hegemônico da alma, repleta de algum modo
dessa miríade de plantas que se chamam opiniões (dóxai);
com o nome de árvore da vida, à piedade para com Deus
(teosebia), a maior das virtudes, que torna a alma imortal; e
com o nome de “árvore do conhecimento do bem e do mal”,

38 © HERMENÊUTICA
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

à prudência (sophrosyne), virtude com que se julgam as coisas


contrárias por natureza (FÍLON, 2015a, p. 97).

Nessa passagem, mostra-se claramente que Fílon não lê


as palavras e frases do Genesis em seu sentido lato, mas sim o
faz em termos metafóricos e alegóricos, isto é, como tendo um
outro sentido para além do convencional. O texto fala em quatro
fontes do jardim do Éden, mas Fílon lê essa passagem como
referindo-se a quatro virtudes: “No lugar das nascentes dos rios
não há nenhum Paraíso [...] a não ser que nesta passagem os
tópicos sejam alegóricos, e os quatro rios sejam um símbolo das
quatro virtudes” (FÍLON, 2015b, p. 63-64).
O inteiro texto, tomado como um discurso, tem por assunto
outra coisa que aquilo que as suas palavras significam no seu
sentido convencional. Em relação ao grande dilúvio, Fílon não
o lê como tratando de um fenômeno real, mas sim como uma
metáfora cujo sentido é assim interpretado:
Quando as torrentes do intelecto são abertas pela insensatez,
pela loucura, pelo desejo insaciável (...) então se trata
verdadeiramente de grande dilúvio. (Por outro lado) o intelecto
íntegro (de quem vive segundo a Lei de Moisés, segue) vivendo
no corpo como numa arca (FÍLON, 2015b, p. 127).

O método de leitura alegorizante transforma o sentido


literal em um outro, de natureza religiosa ou ética. O verdadeiro
sentido está oculto por detrás do aparente.
Seguindo o método de Fílon, Orígenes (185-253 d.C.), no
contexto cristão da interpretação dos textos bíblicos, propunha
que os textos sagrados têm sentidos ocultos que apenas um
leitor espiritual pode apreender. Embora o sentido literal seja
por si só valioso, ele pode obscurecer o sentido principal, que
é o espiritual. Há uma hierarquia pedagógica entre o literal e o

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UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

espiritual: o primeiro oferece-se como porta de entrada, mas é o


segundo que deve ser buscado por aqueles que têm fé. Orígenes
atribuía a leitura literal aos judeus e aos não cristãos, e a leitura
espiritual como aquela devida aos cristãos. Além disso, ele
distinguia três níveis de sentido, os quais correspondiam a três
atitudes básicas ou dimensões do humano:
• Carnal – a interpretação literal, visível e óbvia para
todos, correspondendo aos não doutos.
• Pneumática – a interpretação dos tocados pela fé cristã
e que discernem outros sentidos para além do literal.
• Espiritual – a interpretação propriamente alegórica e
religiosa.
Em oposição à interpretação alegorizante da escola de
Alexandria, em Antioquia desenvolveu-se outro método de
leitura dos textos sagrados. Sua diferença principal está no fato
de que partia de uma valorização do sentido literal do texto,
em termos gramaticais e históricos, com o propósito de buscar
o sentido do texto enquanto aquilo que o seu autor quis dizer,
considerando a situação histórica em que escreveu.
Em oposição à alegoria, essa escola privilegiava o conceito
de teoria, o qual indicava a visão do autor, e que implicava que
as suas palavras teriam um sentido espiritual, para além do
literal, mas ainda assim não metafórico e não alegórico. Embora
admitissem o caráter metafórico de muitas passagens do texto
bíblico, reconheciam nisso a necessidade de contextualização
histórica para alcançar o sentido espiritual e moral. Esse resgate
do contexto histórico tinha como objetivo reconstruir a intenção
do autor, isto é, o que ele viu e quis dizer na sua época com as
palavras que usou.

40 © HERMENÊUTICA
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

Esta teoria evoluiu para uma concepção quadripartite do


sentido dos textos, predominante no Medievo, como é o caso
em João Cassiano (360-435) e, posteriormente, em Agostinho de
Dakien, morto em 1282. Nela se distinguem quatro sentidos:
1) Das palavras, ou histórico: os fatos descritos.
2) Alegórico: aquilo em que se deve crer.
3) Moral: aquilo que se deve fazer.
4) Anagógico: o que se deve esperar.

As leituras indicadas no Tópico 3.2 tratam da


Hermenêutica antiga. Neste momento, você deve realizar
essas leituras para aprofundar o tema abordado.

Santo Agostinho
As discussões sobre a interpretação e a compreensão dos
textos bíblicos, nas suas várias correntes, convergem na obra
de Santo Agostinho (354-430 d.C.) A doutrina cristã, na qual é
realizada uma síntese que se tornou paradigmática, podendo ser
considerada uma das primeiras obras de reflexão hermenêutica
sistemática e bem fundamentada do ponto de vista das teorias
linguísticas e históricas existentes na época.
Nessa obra, Agostinho reflete sobre as dificuldades e os
problemas de leitura do texto bíblico, discutindo os modos de
superação para alcançar uma compreensão adequada. Agostinho
adota uma teoria que inclui e sistematiza as diferentes propostas
anteriores, reconhecendo que o texto sagrado tem de ser lido

© HERMENÊUTICA 41
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

nos seus aspectos e sentidos históricos, etiológicos, analógicos


e alegóricos.
Deve-se a Agostinho a formulação clara do preceito da fé
(regula fidei) como critério para determinar qual sentido deve
prevalecer, o literal ou o alegórico, ambos igualmente válidos. Esse
preceito, contudo, é ele mesmo regulado pelo estabelecimento
dos textos canônicos e dogmas, no sentido de que o intérprete
não é autônomo para recorrer a qualquer fonte e para alterar os
dogmas estabelecidos:
Quanto às Escrituras canônicas, siga a autoridade da maioria
das Igrejas católicas, entre as quais, sem dúvida, se contam as
que merecem ser sede dos apóstolos e receber cartas deles
(AGOSTINHO, 2002, p. 95).

Ainda assim, para Santo Agostinho, o problema é o da


leitura correta e da compreensão adequada do sentido dos
textos bíblicos, o que implica compreendê-los em sua totalidade,
amparando-se nas passagens claras para compreender as difíceis
ou ambíguas:
A primeira observação a ser feita a essa busca e empresa é,
como já dissemos, tomar conhecimento dos Livros santos. Se,
a princípio, não se conseguir apreender o sentido todo, pelo
menos fazer a leitura e confiar à memória as santas palavras. De
toda a forma, não ignorar por completo os Livros sagrados. Em
seguida se há de verificar com grande cuidado e diligência os
preceitos morais e as regras de fé que a Escritura propõe com
clareza. Encontram-se tão mais abundantemente, quanto maior
for a abertura do entendimento de quem busca, visto que nas
passagens que a Escritura oferece com clareza encontram-se
todos os preceitos referentes à fé e aos costumes, à esperança
e à caridade, sobre os quais tratamos no primeiro livro
(AGOSTINHO, 2002, p. 98).

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UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

Agostinho, ao mesmo tempo em que recomenda o


conhecimento dos textos, reconhece que a dificuldade de
compreensão advém da própria linguagem em que foram
escritos. Para resolver esse problema, formula uma teoria geral
do signo linguístico, com base nas tradições estoica e platônica.
No entanto, é no estudo e no conhecimento das línguas originais
que está a chave para a solução das dificuldades de leitura e
compreensão correta:
Para combater a ignorância dos signos próprios, o grande
remédio é o conhecimento das línguas. Os conhecedores da
língua latina, a quem pretendemos instruir neste momento,
necessitam, para chegar a conhecer a fundo as divinas
Escrituras, de duas outras línguas, a saber, o grego e o hebraico.
Elas lhes permitirão recorrer aos exemplares mais antigos, no
caso em que a infinita variedade das traduções latinas lhes
traga alguma dúvida (AGOSTINHO, 2002, p. 100).

De qualquer modo, as dificuldades de leitura não são


resolvidas apenas pelo recurso linguístico-gramatical, e pelo
conhecimento causal e histórico dos conteúdos e assuntos
tratados nos textos. O procedimento sugerido é que se recorra sim
às analogias e comparações linguísticas (scripturae) e também às
analogias com os contextos próximos, mas, em última instância,
decide a analogia da fé (fidei) (AGOSTINHO, 2002, p. 152).
Se a regra primária para esclarecer as dificuldades de
leitura é a do conhecimento das línguas originais, a hebraica e
a grega, a compreensão correta e plena depende da graça do
Espírito Santo, pois este se manifesta por meio do autor e de suas
intenções conscientes. Por isso, cabe ao leitor entender o que o
autor quis dizer com suas palavras e não introduzir sentidos que
ele, leitor, deseja. O critério da adequação aos dogmas e cânones
é indispensável. Além disso, Agostinho sugere que as palavras

© HERMENÊUTICA 43
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

e frases devem ser entendidas no seu contexto próximo e não


isoladamente.
As regras e os princípios que Agostinho discute e estabelece
para leitura e compreensão correta dos textos bíblicos, na obra
A doutrina cristã, podem ser resumidas nas seguintes atitudes:
assuma a atitude apropriada a um crente, torne-se competente
e obtenha experiência nos assuntos, aprenda especialmente
os idiomas hebraico e grego, e aprofunde sua compreensão do
amor a Deus e ao próximo (JOISTEN, 2009, p. 53).
A reflexão de Agostinho sobre o problema da interpretação
e compreensão adequada das sagradas escrituras estabelece
com clareza o problema hermenêutico como incontornável, mas,
ao mesmo tempo, como superável por meio de procedimentos
racionais. Nessa obra, com efeito, já estão explicitados os
problemas hermenêuticos e os princípios básicos, ainda hoje
vigentes, enquanto fatores intervenientes na atividade de
interpretar e compreender uma formação significativa:
1) o fator da intermediação linguística e da diversidade
das línguas (AGOSTINHO, 2002, p. 100, 106);
2) o fator da equivocidade de sentido das palavras e dos
discursos (AGOSTINHO, 2002, p. 152, 159, 182);
3) o fator do distanciamento histórico gerador de mal-
entendidos (AGOSTINHO, 2002, p. 128, 174);
4) o pressuposto da dependência das partes em relação
ao contexto ou todo do texto quanto à determinação
de sentido (AGOSTINHO, 2002, p. 183, 185);
5) o pressuposto de que o conhecimento da coisa
ou assunto em questão é fator decisivo para a
compreensão (AGOSTINHO, 2002, p. 111).

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UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

A atitude geral é de que seja possível superar esses fatores


por meio de procedimentos metódicos.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar 1.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique na aba Videoaula,
localizada na barra superior. Em seguida, busque pelo nome da disciplina
para abrir a lista de vídeos.
• Caso você adquira o material, por meio da loja virtual, receberá também um
CD contendo os vídeos complementares, os quais fazem parte do material.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. HERMENÊUTICA: HISTÓRIA E CONCEITOS BÁSICOS

Nesta unidade, discutimos, de forma básica, a formação da


disciplina e da arte da Hermenêutica, indicando seus conceitos
e termos básicos. Para conhecer mais sobre o assunto e ter uma
sinopse clara da disciplina, leia os seguintes textos:
• GILHUS, I. S. Hermenêutica. Rever – Revista de Estudos
da Religião, ano 16, n. 2, p. 144-156, 2016. Disponível
em: https://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/
view/29431. Acesso em: 17 ago. 2020.
• INWOOD, M. Hermenêutica. Trad. Rogério Bettoni.
Crítica na rede, 2 jun. 2007. Disponível em: https://
criticanarede.com/hermeneutica.html. Acesso em: 17
ago. 2020.

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UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

3.2. HERMENÊUTICA ANTIGA

Para expandir seus conhecimentos da hermenêutica


antiga, leia os seguintes textos:
• FOGAÇA, R. G.; STIGAR, R. A Hermenêutica da Bíblia em
Fílon de Alexandria. Revista Eletrônica Espaço Teológico,
v. 12, n. 22, p. 89-103, jul./dez. 2018. Disponível em: htt-
ps://revistas.pucsp.br/reveleteo/article/view/40972.
Acesso em: 17 ago. 2020.
• NASCIMENTO, S. F. Orígenes, alegoria, exegese: a procu-
ra de uma Hermenêutica e de um método investigativo.
Peri, v. 9, n. 1, p. 64-80, 2017. Disponível em: http://
www.nexos.ufsc.br/index.php/peri/article/view/2055.
Acesso em: 17 ago. 2020.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Considere os diferentes sentidos da palavra “hermenêutica” e relacione-
os às diferentes experiências envolvidas com palavras e textos.

2) Explique a distinção básica do método de interpretação alegórica praticado


por Fílon de Alexandria.

3) Liste os três âmbitos de aplicação da Hermenêutica e explique o


fundamento dessa distinção.

4) Descreva os procedimentos e regras de interpretação propostos por Santo


Agostinho na obra A doutrina cristã.

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UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, foram apresentados alguns conceitos e
teorias básicos relativos à Hermenêutica enquanto técnica de
interpretação e teoria da compreensão. Importa sobretudo
perceber que a história da formação da Hermenêutica como teoria
e filosofia remete a uma sequência importante de pensadores
e obras desde a Antiguidade. Além disso, uma longa tradição
hermenêutica tem sua matriz no problema da interpretação de
textos legais e jurídicos, sobretudo no que se refere ao Direito
romano antigo e ao Direito canônico da igreja católica.
Em geral, as técnicas e teorias hermenêuticas embasadas
na interpretação de textos canônicos, religiosos e jurídicos, estão
referidas essencialmente ao problema da exegese e decifração
de textos e, assim, estão estritamente associadas aos problemas
filológicos, ao referirem o problema de como apreender o
sentido e o significado de expressões escritas, sobretudo
quando o autor ou os autores não mais estão presentes. Esse
problema aparece como relevante em vários campos de saber e
hoje envolve teorias complexas muito diferenciadas. Por isso, é
necessário complementar os estudos com as leituras indicadas
nas Orientações para o estudo e no Conteúdo Digital Integrador.
A próxima unidade apresentará os fundamentos teóricos
modernos da Hermenêutica, os quais conformam ainda hoje o
modo como pensamos esses assuntos e problemas.

© HERMENÊUTICA 47
UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

6. E-REFERÊNCIAS

Sites consultados
BRIZOTTO, B.; BERTUSSI, L. T. Hans Robert Jauss e a Hermenêutica literária.
Letrônica, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 735-752, jul./dez. 2013. Disponível em: http://
revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/viewFile/14889/11287.
Acesso em: 25 ago. 2020.
FOGAÇA, R. G.; STIGAR, R. A Hermenêutica da Bíblia em Fílon de Alexandria. Revista
Eletrônica Espaço Teológico, v. 12, n. 22, p. 89-103, jul./dez. 2018. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/reveleteo/article/view/40972. Acesso em: 17 ago. 2020.
GILHUS, I. S. Hermenêutica. Rever – Revista de Estudos da Religião, ano 16, n. 2, p.
144-156, 2016. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/
view/29431. Acesso em: 17 ago. 2020.
HERMENÊUTICA. Verbete do site Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/
wiki/Hermenêutica. Acesso em: 25 ago. 2020.
INWOOD, M. Hermenêutica. Trad. Rogério Bettoni. Crítica na rede, 2 jun. 2007.
Disponível em: https://criticanarede.com/hermeneutica.html. Acesso em: 17 ago.
2020.
MANTZAVINOS, C. Hermeneutic. Stanford Encyclopedia of Philosophy. 2016. Disponível
em: https://plato.stanford.edu/entries/hermeneutics/. Acesso em: 25 ago. 2020.
MANTZAVINOS, C. O círculo hermenêutico: que problema é este? Tempo Social, v. 26,
n. 2, p. 57-69 nov. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ts/v26n2/v26n2a04.
pdf. Acesso em: 17 ago. 2020.
NASCIMENTO, S. F. Orígenes, alegoria, exegese: a procura de uma Hermenêutica e de
um método investigativo. Peri, v. 9, n. 1, p. 64-80, 2017. Disponível em: http://www.
nexos.ufsc.br/index.php/peri/article/view/2055. Acesso em: 17 ago. 2020.
NEGRO, M. A ciência hermenêutica e Santo Agostinho. Revista de Cultura Teológica, v.
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OLIVEIRA, R. T.; STRECK, L. L. O que é isto – A hermenêutica jurídica? 29 ago. 2015.
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ROCHA, S. A. Evolução histórica da teoria hermenêutica: do formalismo do século XVIII
ao pós-positivismo. Lex Humana, v. 1, n. 1, 77-160, 2009. Disponível em: http://seer.
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UNIDADE 1 – APRESENTAÇÃO PREPARATÓRIA

ROHDEN, L. Hermenêutica filosófica: entre Heidegger e Gadamer! Natureza humana,


São Paulo, v. 14, n. 2, p. 14-36, 2012. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/
nh/v14n2/a02.pdf. Acesso em: 25 ago. 2020.
SALLES, W. F.; AMARAL, D. R. Hermenêutica teológica: caminho para a afirmação da
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SILVA, R. S. O círculo hermenêutico e a distinção entre Ciências Humanas e Ciências
Naturais. Ekstasis: Revista de Fenomenologia e Hermenêutica, v. 1 n. 2, p. 54-72,
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STAGLIANO, N. Hermenêutica: conceitos e caracteristicas. 2016. Disponível em: https://
simoesstagliano.jusbrasil.com.br/artigos/335787147/hermeneutica-conceitos-e-
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 2002. (Coleção Patrística).
ARISTÓTELES. Órganon. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2016.
AST, F. Grundlinien der Grammatik, Hermeneutik und Kritik. Landshut: Thomann, 1808.
BOECKH, A. Encyklopädie und Methodologie der philologischen Wissenschaften.
Leipzig: Teubner, 1877.
DANNHAUER, J. C. Hermeneutica sacra sive methodus exponendarum sacrarum
litterarum. Strasbourg: J. Städel, 1654.
DILTHEY, W. A construção do mundo histórico nas Ciências Humanas. Trad. Marco
Casanova. São Paulo: Editora da Unesp, 2010.
DILTHEY, W. Historia de la Filosofia. Trad. E. Ímaz. Cidade do México: FCE, 1992.
DILTHEY, W. Leben Schleiermachers. Zweiter Band: Schleiermachers System als
Philosophie und Theologie. Berlin: Walter de Gruyter, 1966.
ERNESTI, J. A. Institutio interpretis Novi Testamenti. Leipzig: Weidmann, 1761.
FÍLON de Alexandria. Da criação do mundo e outros escritos. Trad. Luíza M. Dutra,
apres. Carlos Nougué. São Paulo: Filocalia, 2015a.

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FÍLON de Alexandria. Questões sobre o Gênesis. Trad. Guilherme F. Araújo, apres.


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GADAMER, H.-G. Verdade e método II: complementos e índice. Trad. E. P. Ciachi e M. C.
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GENETTE, G. Fiction et diction. Paris: Ed. du Seuil, 2004.
JOISTEN, K. Philosophische Hermeneutik. Berlim: Akademie Verlag, 2009.
NIETZSCHE, F. W. Além do bem e do mal. Trad. P. C. Souza. São Paulo: Companhia das
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PLATÃO. Íon. trad. Cláudio Oliveira. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
SCHLEIERMACHER, F. D. Hermenêutica: arte e técnica da interpretação. Trad. org. C. R.
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SCHMIDT, L. K. Hermenêutica. Trad. F. Ribeiro. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.

50 © HERMENÊUTICA

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