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Goran Larsson
Tradução de Mary Schultze
Fonte: http://www.cpr.org.br/fato-ou-fraude.htm
Conteúdo:
Prefácio
Introdução
Capítulo 4 - A Lição
Referências Bibliográficas
Deve haver poucos Judeus no mundo que não estejam bem cientes do
impacto maligno desta fraude. Para minha surpresa, não tenho
encontrado esta mesma verdade entre os Cristãos. Esta é a razão que nos
leva a publicar este livro “Fato ou Fraude?” Hoje o Anti-semitismo está
crescendo novamente no mundo inteiro. Os Protocolos têm sido uma das
mais efetivas ferramentas das forças anti-judaicas e têm afetado
negativamente as relações judaico-cristãs. O livro também teve uma
influência negativa sobre os Cristãos em muitos países, os quais já haviam
dado passos positivos em direção ao povo judeu. Os Cristãos que não
estão equipados com as informações dadas por Fato ou Fraude? ficam em
desvantagem.
Shlomo Hizak
Além do fato de que esta publicação infame tem causado mais sofrimento
ao povo judeu, neste século, do que qualquer outro documento, acho
necessário que as pessoas conheçam hoje o assunto – seu conteúdo,
história e frutos amargos.
A Mentira
Os Protocolos dos Sábios de Sião afirmam ser a minuta de uma suposta
conferência dos líderes idosos da coletividade mundial judaica chamados
“Sábios de Sião”. O documento contém vinte e quatro capítulos, nos quais
uma satânica conspiração judaica de conquistar e escravizar o mundo
inteiro é formulada. Um rápido sumário desta suposta conspiração pode
ser suficiente para documentar a monstruosidade atribuída aos Judeus:
Quando o populacho notou que lhe estava sendo concedido todo tipo de
direitos em nome da liberdade, ele se julgou o senhor e logo tentou
assumir o poder. É claro que, como todo cego, a massa começou a
enfrentar inúmeros obstáculos. Então, não desejando voltar ao regime
anterior ele colocará o poder aos nossos pés... teremos conduzido as
nações de uma decepção para outra, de modo que elas até renunciariam
em favor do rei déspota com sangue de Sião, o qual estamos preparando
para o mundo (3º Protocolo).
Suas Raízes
As mais profundas raízes destas fantasias podem ser traçadas à
concepção dos Judeus como demônios, conseqüência da rivalidade entre o
Cristianismo primitivo e o Judaísmo. Nos primeiros séculos cristãos
houve não apenas uma crescente controvérsia entre eles, com relação à
crença em Jesus de Nazaré, mas também uma forte disputa pelos
convertidos entre os pagãos, os quais estavam perdendo gradualmente a
sua fé nos deuses gregos e romanos. Tanto o Judaísmo como o
Cristianismo pregavam um único Deus e ambos se constituíam em
atraentes alternativas à antiga idolatria. Conforme podemos aprender nas
cartas de Paulo, a fé cristã se espalhou rapidamente entre os gentios, por
toda a área mediterrânea, e assim também aconteceu com o Judaísmo. As
sinagogas se enchiam de gentios chamados “tementes a Deus”, os quais
começavam a crer no único, verdadeiro Deus de Israel.
Visto por esse prisma, qualquer mal que aparecia era logo “explicado”
como intrigas dos Judeus e vilezas de dimensões demoníacas. Eles se
transformaram no bode expiatório e assim eram freqüentemente
perseguidos nos tempos de calamidades. O fato de que as comunidades
judaicas muitas vezes eram forçadas a viver em guetos, levando, assim,
uma vida afastada da sociedade adjacente, fez com que os mitos de suas
conspirações secretas se tornassem cada vez mais dignos de crédito aos
olhos do público (5).
Este esboço geral das raízes mais profundas de Os Protocolos, embora seja
importante, não é suficiente para explicar em detalhes a conspiração aí
descrita. Estes foram publicados pela primeira vez no início do século, isto
é, numa época em que se poderia esperar que tais superstições teriam se
desvanecido, exatamente como os mitos relacionados à caça às bruxas,
trezentos anos antes. Contudo, parece que enquanto as tradições antigas
que vitimavam os Judeus em nome do Cristianismo estavam obsoletas
elas foram modernizadas de duas maneiras: primeiro, a idéia de
conspiração dos judeus para lutar contra Deus em sua Igreja na terra, cuja
base era fundamentalmente religiosa, foi traduzida em termos políticos e
racistas. Se nos tempos anteriores o alvo principal havia sido sua suposta
religião inferior e falsa, agora eles eram fundamentalmente retratados
como um grupo social subversivo e uma raça inferior. Segundo, esta idéia foi
moldada para se encaixar nos eventos históricos e no contexto político da
Europa, durante o século 19 e início do século 20 (6).
Não há mais espaço para dúvida alguma. Com todo o poder e terror de
Satanás, o reino do triunfante Rei de Israel está se aproximando do nosso
mundo não regenerado. O rei nascido da estirpe de Sião – o Anticristo – já
está próximo ao trono do poder universal (8).
Mesmo o próprio Nilus parecia não ter mais dúvidas. Quando indagado
se não estaria lidando com uma falsificação, dizem ter ele respondido:
Ao ler o livro, Phillip Graves logo verificou o que o russo lhe apontava.
Grandes partes do diálogo tinham sido copiadas quase literalmente para
Os Protocolos – num montante de 60%. Até mesmo a ordem e a estrutura
de Os Protocolos, com os seus 24 capítulos, acompanham os 25 diálogos do
livro de Joly (12). Uma comparação entre a passagem do décimo segundo
diálogo e o décimo segundo protocolo podem bastar para ilustrar a óbvia
falsificação.
Maquiavel declara:
Como o deus Vishnu, minha imprensa vai ter cem braços, e estes braços
darão expressão a todas as sombras de opinião, através de todo o país. O
povo pertencerá ao meu partido sem o notar. Aqueles que imaginam estar
falando sua própria língua, estarão falando a minha; aqueles que
imaginam estar acirrando o povo a seu favor, estarão acirrando-o para o
meu; aqueles que pensam estar marchando sob suas bandeiras estarão
marchando sob a minha.
Estes jornais, como o deus Vishnu, possuirão centenas de mãos, cada uma
delas tomando o pulso da variada opinião pública ... se alguns tagarelas
imaginam estar repetindo a opinião dos jornais do seu partido, na
realidade estarão repetindo a nossa própria opinião, ou a opinião que
desejamos. Imaginando estar seguindo o órgão do seu partido, estarão na
realidade seguindo a bandeira que acenaremos para eles (13).
Mesmo fazendo parte de uma novela de ficção ela sem dúvida pode ser
caracterizada como “a base de uma influente falsificação anti-semita” (15),
isto é, Os Protocolos. Idêntico à Rússia, trinta anos mais tarde, naqueles
dias um forte movimento democrático na Alemanha exigia completos
direitos humanos para todos os habitantes, inclusive os Judeus. Isto foi
realmente constatado três anos após a publicação da novela de Goedsche.
Então não é de admirar que ela tenha vindo a ser usada pelas forças
reacionárias, que se opunham à emancipação dos Judeus em países onde
forças semelhantes estavam agindo. Como tão freqüentemente através da
história, os Judeus se tornaram o objeto de ódio das pessoas que se
opunham a tais realizações em seus dias: o crescimento do comércio e da
indústria, a emergência de uma livre imprensa, o declínio da religião, a
emancipação das classes mais baixas, etc.
Logo essas pessoas frustradas conseguiram que esse capítulo particular da
novela de Goedsche fosse publicado separadamente como um registro
autêntico de um encontro verdadeiro entre os líderes Judeus.
Eventualmente a versão mais comum afirmava que um certo líder
rabínico havia feito um discurso para líderes judeus num encontro secreto,
daí o panfleto ter ficado conhecido como O Discurso do Rabino (16). A
primeira publicação separada apareceu na Rússia em 1872; ela foi
largamente distribuída e veio mais tarde a desempenhar um papel
tenebroso no desenrolar de numerosos massacres futuros, na Rússia.
4ª - A Carta Simonini
Até mesmo uma edição mais antiga do mito de uma conspiração judaica
universal por trás das tribulações da história é encontrada num
documento amplamente difundido chamado A Carta Simonini, datado de
1806. É uma carta supostamente escrita por um oficial do exército italiano
chamado J. B. Simonini. Nada se sabe a respeito dele, porém ele afirma ter
pretendido tornar-se Judeu, a fim de obter acesso aos sinistros planos dos
Judeus da Idade Antiga, que ele agora podia apresentar. Já esse espúrio
registro contém os elementos básicos para os escritos anti-semitas
posteriores: o ódio dos Judeus pela Igreja, suas maquinações para se
infiltrarem em toda parte, a fim de escravizarem os Cristãos e se tornarem
governantes mundiais, etc.
Até aqueles dias o tempo ainda não estivera pronto para acusar os
Judeus de causar a Revolução Francesa; pouquíssimos conheciam o fato
de que nenhum Judeu havia desempenhado qualquer papel na Revolução.
Em vez disso, os Franco-Maçons haviam sido o bode expiatório. A Carta
Simonini pavimentou o caminho para um pensamento, que gradualmente
se tornou muito comum nos círculos anti-semitas, a saber, que havia uma
aliança entre os Judeus e os Franco-Maçons e que, no mínimo, os Judeus
haviam apoiado a Revolução Francesa (17). Os Protocolos adaptaram
muitas das antigas idéias anti-maçônicas e as atribuíram, tanto aos Judeus,
como à imaginária conspiração judaico-maçônica. Algumas vezes até
mesmo uma sociedade alemã da Bavária chamada “Illuminati” seria uma
suposta parceira da conspiração. O fato desse grupo ser parcialmente anti-
judaico e ter cessado de existir, já em 1786, e de que os Franco-Maçons em
certas áreas e períodos de tempo nem mesmo aceitavam Judeus como
membros, em hipótese nenhuma, perturbava os autores destas alegações.
Elas deveriam mais tarde ser tomadas, tanto por Hitler como por Stalin,
bem como pelos teóricos conspiradores, até os dias atuais.
Preparando o Terreno
Uma das maneiras mais comuns de advogar a verdade por trás das
mentiras de Os Protocolos era afirmar que os eventos caóticos deste século
provaram a veracidade deles. De fato não houve anarquia, revoluções,
guerras e colapso financeiro, exatamente conforme descrito em Os
Protocolos? Bastante estranho foi ter-se concluído que tudo o mais teria de
ser verdadeiro, isto é, que os Judeus estavam por trás dessas tribulações.
Desnecessário é dizer que esta é uma racionalização circular. O ponto
axiomático inicial é que os Judeus são os causadores de todo o mal. Coisas
más realmente acontecem, portanto os Judeus devem causar todo este
mal!
Isso pode parecer injusto à luz da heróica luta dos Aliados. Contudo,
estou me referindo precisamente ao fato de que os sofrimentos dos Judeus
eram encarados com passividade pelas nações e Igrejas, as quais, por
outro lado, aborreciam o Nazismo (19). Os Judeus eram caçados em
armadilhas mortais, quando um país após outro fechava as portas à
amaldiçoada nação judaica, vilipendiada e acusada de crime contra a
humanidade pelas próprias pessoas que cometiam tal crime. O Anti-
semitismo havia obviamente infectado as mentes a tal extensão que
paralisava todo o corpo da sociedade mundial e a tornava incapaz de
resistir e reagir. Isto certamente era o fruto do Anti-semitismo, quase tão
perigoso e trágico quanto o próprio genocídio. Foi este fruto maligno que
tornou possível a colheita final. Tinha havido, contudo, aterradores
precedentes, nas décadas antes da deflagração da II Guerra Mundial. Na
Rússia os anti-semitas já haviam colhido os frutos da fantasia em
publicações como O Discurso do Rabino e Os Protocolos. Sempre e sempre,
novamente é obvio que os “pogroms”, que resultaram em mais de cem mil
Judeus massacrados nas primeiras duas décadas deste século, foram
precedidos de maciça propaganda anti-semita. As falsas acusações contra
os Judeus de todo tipo de mal eram usadas para encobrir os “pogroms” e
estes, para desviar a atenção do povo das verdadeiras causas por trás da
miséria social. Este foi realmente um prelúdio vergonhoso para o
Holocausto, que deveria ter alarmado o mundo. Hoje ele já está
grandemente esquecido, obscurecido, como sempre, pelo genocídio
nazista.
Os frutos malignos dos mitos anti-semitas de meio século atrás são bem
conhecidos. Contudo, mesmo antes do Holocausto, Os Protocolos
poderiam ser certamente caracterizados desta maneira. “Não há exagero em
dizer-se que eles custaram as vidas de muitos milhares de pessoas inocentes e que
mais sangue escorre de suas páginas do que das de qualquer outro documento
mentiroso, na história mundial” (20). Hoje este julgamento condenatório se
torna mais real do que nunca.
Com Auschwitz e a “solução final” por trás desta é inacreditável que este
negro capítulo da história de prejuízo contra a humanidade ainda não
esteja concluído. Pois não se trata apenas de um parágrafo nos livros de
história. Bastante trágico é estarmos lidando com um mal que não deixa
vestígios de medo por trás, mas continua se movendo. Infelizmente este
livro não é apenas de interesse histórico. Realmente, Os Protocolos são tão
absurdos e sem sentido que jamais deveriam merecer atenção alguma, se
não fora a sua contínua influência maléfica nos grandes círculos, até o dia
de hoje. De fato, o veneno vitriólico do Anti-semitismo parece exercer
mais influência e ganhar mais terreno nos últimos anos do que desde a
destruição do Judaísmo europeu, durante a II Guerra Mundial.
Certamente o Anti-semitismo não foi enterrado com Hitler.
Alguém disse: a única coisa que podemos aprender é que o homem nunca
aprende com a história. A sobrevivência e constante reavivamento de Os
Protocolos de Sião fornecem clara e distinta evidência destas palavras.
Portanto, lidar com 90 anos após o seu primeiro aparecimento não precisa
de justificação alguma. Ignorar suas profundas raízes, seus frutos amargos
e crescimento contínuo seria altamente irresponsável e perigoso.
Ultra-nacionalistas e neonazistas.
Certos grupos conservadores, liberais e cristãos de esquerda.
Comecemos pelo país onde Os Protocolos têm suas mais profundas raízes
– na Rússia.
Karl Marx
O próprio Karl Marx fora sempre retratado como um Judeu pelos
anti-semitas da ala direita, que desejavam ver a Revolução Russa como
parte da conspiração mundial judaica. De fato, seu pai era um leigo
secular, que havia se convertido ao Cristianismo Luterano, a fim de ser
aceito na sociedade. Consequentemente, o próprio Marx fora criado como
Cristão, sem jamais ter recebido qualquer educação religiosa e,
principalmente, educação judaica.
Teoria e Prática
Desse modo, não é de surpreender que até Hitler tenha expressado sua
admiração pela característica anti-judaica de Marx, e que Stalin tenha
reativado o clássico Anti-semitismo na União Soviética. Ele purgou
brutalmente o Partido Comunista do elemento judeu , nos “grande
expurgos”, no final dos anos 30, e fez com que muitos Judeus fossem
executados ou deportados para a Sibéria. O período entre 1948/1953 é de
algum modo chamado de anos negros, em virtude das perseguições
stalisnistas (23). É significativo que Stalin (1879-1953), no início dos anos
50, final de sua carreira, mandasse publicar uma versão de Os Protocolos.
Desnecessário é dizer que nesse tempo eles apresentaram a mensagem de
que os Judeus estavam preparando uma conspiração mundial
imperialista, de parceria com o Ocidente, contra a União Soviética.
Para projetar seus próprios crimes contra os Judeus, Hitler bem como
Stalin e seus sucessores, sem dúvida tinham ambições de ditadura
mundial. Desse modo, eles atribuíam tais aspirações aos Judeus. A
infiltração do Serviço Secreto Judaico, estava, conforme Hitler e Stalin,
espalhada por todo o mundo, e seus métodos eram brutais. A projeção
anti-semita disto era uma rede internacional judaica – agora sionista – de
espiões para uma conspiração contra a humanidade.
Anti-semistismo e Anti-sionismo
Na sobrevivência pós-guerra de Os Protocolos, o Anti-semitismo tem
sofrido uma mudança na terminologia, senão em substância.
Principalmente dois fatores subjacentes causando esta mudança deveriam
ser mencionados. Primeiro, após a destruição do Judaísmo europeu,
durante a II Guerra Mundial, o Anti-semitismo tornou-se um conceito
impossível, em razão de seus frutos mortais. Segundo, a criação do Estado
de Israel tornou-se o foco do mundo em sua relação com o povo judeu. À
luz deste fato o ódio aos Judeus pode ser facilmente canalizado para um
ódio aparentemente mais sofisticado, e politicamente motivado, para um
Estado Judaico.
Até mesmo a história recente tem sido reescrita, retratando Israel como
poderoso e expansionista agressor e raiz de todo mal no Oriente Médio.
Em vez de um conflito violento, no qual Israel tem sido constantemente
atacado e atos de crueldade têm sido cometidos de ambos os lados, os
anti-sionistas desejam simplificar a realidade. Com relação ao maligno
opressor – Israel – e as vítimas inocentes de sua opressão – os Palestinos.
Para qualquer um que esteja familiarizado com o Anti-semitismo isto soa
como o conteúdo de Os Protocolos. É também interessante ver como os
anti-sionistas por um lado vêem uma conspiração sionista mundial –
estando Israel e o Sionismo aí incluídos. Por outro lado, Israel não tem
direito algum, em parte alguma. O próprio nome “Israel” é então denegrido
como palavra amaldiçoada e suja, que nem deveria ser mencionada entre
as nações. Se o cálido sonho dos anti-semitas é um mundo sem Judeus, o
dos anti-sionistas é o de um mundo sem Estado Judeu. A diferença é mais
questão de nuance do que de substância (ver também p. 66).
3. Ultra-Nacionalistas e Neonazistas
Os herdeiros diretos dos Nazistas foram, durante várias décadas após a II
Guerra Mundial, reduzidos a grupos marginais da sociedade, sendo
geralmente observados como fanáticos e lunáticos. Dois fatores principais
têm levado a um ressurgimento do ódio aos “estrangeiros” e ao racismo,
no qual o Anti-semitismo é um ingrediente importante. Primeiro, o
colapso do Comunismo liberou o Nacionalismo, que havia sido suprimido
por várias décadas. O extremo Nacionalismo e o Anti-semitismo andam
sempre de mãos dadas, visto como os Judeus são considerados
internacionais e estrangeiros. Segundo, as novas gerações cresceram,
pouco conhecendo a história recente, e têm pouca percepção do racismo e
seus frutos malignos. Além disso, a recessão econômica e pobreza em
muitos países tem acendido o extremismo e a necessidade de encontrar
um bode expiatório.
Nenhum grupo deveria sem dúvida ser culpado pelos feitos dos seus
antepassados. Contudo, ao tratar da tragédia da escravidão no passado,
tanto os Cristãos como os Muçulmanos deveriam ter muitos esqueletos
vindo até o seu quarto, para ajustar contas.
Até mesmo num país como o Japão, onde quase não existe um só Judeu,
Os Protocolos e um grande número de publicações anti-semitas
semelhantes têm sido distribuídos. No jornal financeiro mais respeitável
um anúncio afirmava recentemente que os Judeus estavam tramando
matar a metade da população humana e escravizar o Japão. Uma edição
japonesa do “The International Jew” (O Judeu Internacional), de Henry
Ford, foi exibida recentemente na seção de economia, na rede líder de
livrarias de Tóquio, promovida por um jornal importante. Provavelmente
muitas pessoas irão crer nessas fantasias e até mesmo imaginarão: deve
haver alguma verdade por trás de tudo isso!
Negação do Holocausto
Desde então, a maior parte das igrejas maiores tem seguido esse ramo,
sendo o mais importante o Concílio Vaticano II, com a Encíclica Nostra
Aetate, em 1965. Aqui o mito demoníaco da culpa dos Judeus na morte de
Cristo foi finalmente repudiado. Teria, sem dúvida, sido mais apropriado
que nós, cristãos, tivéssemos visto a nossa própria necessidade de
absolvição dos crimes realmente cometidos pela Igreja através da história,
em vez de darmos absolvição aos Judeus por crimes que eles não
cometeram. Contudo Nostra Aetate sem dúvida assinalou uma nova
direção da Igreja. Além do mais as direções para o ensino e pregação
cristãos livres de anti-judaísmo foram subseqüentemente editadas levando
a estudos e pesquisas extensos sobre a raiz do Anti-semitismo na teologia
cristã. Um documento particularmente importante é o “Guia de Relações
Religiosas com os Judeus”, de 1974, o qual, dentre outros advoga a
obrigatoriedade de “uma melhor compreensão e renovada estima mútua”.
A declaração então continua a tratar com a importância de um
conhecimento baseado num vívido diálogo entre cristãos e Judeus e os
perigos dos clássicos ensinos da Igreja, que conduzem ao contraste entre o
Velho e Novo Testamento, e falsamente pintam o Judaísmo como “uma
religião de justiça própria, medo e legalismo, com nenhum apelo ao amor
a Deus e ao próximo” (38).
Até agora o uso direto e vulgar de Os Protocolos no ensino cristão tem sido
na maior parte limitada aos círculos cristãos extremamente direitistas e
nacionalistas, por um lado, e aos grupos particulares escatológicos, que
observam o final dos tempos como iminente, por outro; algumas vezes são
afiliados. No primeiro grupo encontramos aqueles que andam de mãos
dadas com os extremos políticos, que por seu turno muitas vezes ligam o
seu Anti-semitismo ao clássico ensino cristão.
Dois anos depois, outro livro do mesmo tipo, contudo ainda mais infame
em seu vitriólico Anti-semitismo, apareceu: “Israel: Nosso Dever... Nosso
Dilema”, por um certo Theodore Winston Pike. Este autor tenta “explicar
até mesmo os piores crimes contra os Judeus, como a destruição do
templo de Jerusalém com os horrendos massacres dos Judeus, nos anos 70
e 135 A D., a expulsão dos Judeus espanhóis em 1492 e as perseguições
aos Judeus na ex-União Soviética, apontando para a suposta maldade das
vítimas. Indiretamente ele também condena o Holocausto aplicando
freqüentemente palavras e terminologias nazistas – como genocídio
blitzkrieg, etc. – sobre Israel. Ele ainda acusa os Judeus de assassinatos em
massa no passado. Não há necessidade de especificar os pensamentos
tirados de Os Protocolos, visto como dificilmente nenhum deles falta aí. O
que é acrescentado a este livro desagradável é, antes de tudo, uma
difamação mais compreensível do Judaísmo embasada em citações
selecionadas e vilipendiosas fora do contexto do Talmude e outras fontes
judaicas. E, pior de tudo, as ambições proféticas de Nilus: não apenas está
o Anticristo ligado a Israel e aos Judeus, mas também com a apocalíptica
meretriz da Babilônia. Significativamente o capítulo intitulado “Morte à
Meretriz” não trata do passado, mas de algo que este “profeta” do ódio e
vileza aplica ao Israel atual.
A Supremacia Cristã
Ainda uma terceira atitude cristã em direção aos Judeus e ao
Judaísmo tem sido exposta. Esta nos leva exatamente ao lado oposto de
espectro cristão – os grupos liberais e de esquerda. Usualmente, tomando
a óbvia evidência de Os Protocolos como uma fraude, seriamente eles não
os usariam para seu anti-judaismo. Contudo eles continuam o legado do
secular Anti-semitismo que os vários grupos de esquerda têm cultivado
por quase duzentos anos. Se mais Cristãos conservadores dissessem que
um bom Judeu é um Judeu convertido, esses grupos diriam que um bom
Judeu é um Judeu não assumido e acima de tudo um anti-sionista ou pelo
menos um Judeu não-sionista. Em resumo, os Judeus deveriam ser algo
diferentes do que realmente são.
Anti-sionismo Cristão
De mãos dadas com os esquerdistas e árabes anti-sionistas, estes
Cristãos, portanto, tendem a retratar Israel como uma entidade ocidental,
colonialista, imperialista no Oriente Médio (ver ps. 37, 46 e seguintes). Eles
censuram apenas Israel pelo conflito palestino, mas recusam ver também
sua situação como um resultado das guerras árabes objetivadas contra a
exata existência do Estado Judeu. Do mesmo modo eles censuram
somente Israel pelo problema dos refugiados palestinos sem reconhecer
que um número igual de refugiados judeus tiveram de abandonar a pátria
e a propriedade nos países árabes, sem compensação alguma. De acordo
com estes cristãos Israel é o opressor e os palestinos as oprimidas vítimas
inocentes. Eles, então, muitas vezes adicionam um disfarce cristão ao seu
Anti-judaísmo: Jesus sempre esteve do lado dos oprimidos e
marginalizados; consequentemente os Cristãos têm de se colocar ao lado
dos palestinos contra Israel. Tal visão unilateral e simplista do conflito no
Oriente Médio algumas vezes se assemelha a uma paixão medieval, com
os palestinos desempenhando o papel do Jesus crucificado e os israelenses
como as multidões do Novo Testamento que rugiam “crucifica-o!”
Dois Exemplos:
Estes dois exemplos são típicos e podem servir como ilustração dos mais
profundos aspectos do Anti-semitismo. Ambos fazem esforços em acusar
as vítimas do Anti-semitismo como sendo os principais causadores do
mesmo. Esta seria sem duvida uma conveniente maneira de escapar ao
processo inconveniente e doloroso do mal do Anti-semitismo: Se pelo
menos os Judeus pudessem mudar – de um modo ou de outro – não
haveria Anti-semitismo, isto é, os anti-semitas e seus espectadores
passivos não precisariam arrepender-se e mudar. Eles nem mesmo são
realmente culpados! Tais esforços de responsabilizar as vítimas, portanto,
não se constituem em surpresa. Não importa quão absolutamente
impossíveis sejam eles, devemos esclarecê-los.
Uma minoria que conserva sua identidade sempre tem sido observada por
uma poderosa corrente dominante como um obstáculo e uma ameaça.
Parece haver um instinto bestial no homem – exatamente como nos
animais – para perturbar e excluir os que são diferentes e estrangeiros – se
pelo menos esses estranhos excêntricos se tornassem iguais a nós, então
não haveria problema algum... Se eles, então, acima de tudo isso,
constituem uma minoria de sucesso, é até mais difícil para a maioria
suportá-los, particularmente em tempos de escassez e aflição. Vivemos
num tempo de xenofobia. Nossa atitude para com o povo judeu é um teste
litmus de como seremos capazes de lidar com a dignidade do outro grupo
minoritário. E finalmente é a nossa própria sociedade e a nossa própria
segurança que correm perigo quando anti-semitas e outros grupos racistas
vilificam os Judeus e outras minorias. As palavras de Jean Paul Sartre
podem certamente ser generalizadas para aplicar-se a qualquer nação:
“Nenhum francês ficará livre, enquanto os Judeus não gozarem de total plenitude
de seus direitos. Nenhum francês ficará seguro, enquanto um só Judeu na França
ou em todo o mundo – tiver de temer pela sua vida” (41).
Nos últimos anos este modelo duplo tem sido visto mais claramente no
conflito do Oriente Médio do que em qualquer outra parte do mundo.
Erros na democracia israelense são magnificados, enquanto a total falta de
democracia nos estados circunvizinhos é escondida. O abuso dos direitos
humanos por Israel algumas vezes torna as mesmas pessoas por demais
preocupadas, as quais, no entanto, não querem saber das piores violações
desses mesmos direitos humanos em outros países, etc. Esta síndrome faz
com que as pessoas procurem sempre um comportamento “santo” da
parte dos Judeus. E quando não encontram o que procuram, elas retratam
o que vêem como algo próximo a um comportamento demoníaco. “Judeus
fazem notícia”, é um provérbio com raízes nesta síndrome anti-semita.
“Ó, é triste, muito triste, que uma vez mais, pela enésima vez, seja
confirmada a antiga verdade: o que um Cristão faz é de sua própria
responsabilidade, mas o que um Judeu faz é de responsabilidade de todos
os Judeus”.
Anti-semitismo Irracional
Esta é a razão principal por que o problema não é judaico. O Anti-
semitismo não lida com “Judeus reais”, mas apenas com estereótipos
vilificados. Não se baseia na experiência, conhecimento e fatos, mas na
ignorância e prejuízo, muitas vezes combinados com uma ideologia
religiosa e política. O prejuízo anti-semita transforma o Judeu vivo,
humano, em um símbolo do mal que porventura seja oposto, temido e
odiado. Não importa se é um Cristão que aponta os Judeus como
representantes da “Lei” e das “Obras”, opostos ao “Evangelho” e à “Fé”,
ou um conservador que os faça representar os perigos da esquerda.
Visto como o ódio prejudicial não tem raiz nos fatos, mas em motivos
irracionais, como a frustração, a paranóia, o complexo de inferioridade e,
talvez até mesmo a culpa inconsciente – o Anti-semitismo, não pode
simplesmente ser desarraigado através da evidência fatual. Neste respeito
Nilus era o tipo clássico do anti-semita, quando argumentou que a
verdade não é decisiva para o valor de Os Protocolos (ver p.18). Assim,
suas almas gêmeas continuarão a acreditar neles e a enganar os outros,
quaisquer que sejam as provas que se possam anexar quanto à sua
natureza fraudulenta.
Talvez seja verdadeiro “que neste mundo não estamos habituados a ver o
triunfo da verdade, mas apenas lutar por ela” (45). Deste modo o engano deve
ser combatido e o Anti-semitismo confrontado pelos fatos. Pelo menos
dessa maneira o seu crescimento maligno pode ser detido e as vítimas em
potencial “imunizadas” contra a sua influência contagiosa. Nós, Cristãos,
temos uma responsabilidade particular e ela jamais foi maior do que
agora.
Só então poderemos esperar que nos alegremos junto com Israel, quando
Deus cumprir a promessa feita ao seu povo: “Os que com lágrimas semeiam
com júbilo ceifarão” (Salmos 126:5).
Referências Bibliográficas
Introdução
1. p.17 - Este é ainda o melhor livro erudito sobre Os Protocolos, contendo
uma extensa bibliografia sobre várias edições do mesmo, e literatura
secundária. A primeira apresentação erudita dos originais da falsificação
em Inglês foi feita por Hermann Bernstein, em 1935. Aqui encontramos
todo o texto de Os Protocolos junto com outros textos nos quais eles estão
embasados (na tradução inglesa). Uma completa investigação alemã foi
publicada dez anos antes por B. Segel. Para esta e outras referências, ver
bibliografia.
Capítulo 1
2. As citações são tiradas dos extratos de Cohn (ps. 275-288). Para o texto
completo, ver Bernstein, ps. 295-359.
6. Cohn, p. 16, vai ao ponto em que sustenta que Os Protocolos são “uma
versão moderna e secularizada da visão popular medieval dos Judeus
como instrumentos dos feiticeiros empregados por Satanás para a ruína
física e espiritual da Cristandade”. Ver ainda o capítulo sobre “Anti-
semitismo Secular”, em Nicholls, ps. 313-349.
9. Cohn, p. 115
13. Em Bernstein, ps. 371-397, Cohn, ps. 275-279, e Curtiss, ps. 95-106,
excertos dos dois documentos são citados em versões paralelas para
facilitar a comparação.
14. Um resumo do julgamento é dado por Cohn, ps. 220-231, e Curtiss, ps.
73-93.
16. Para o texto completo, ver Bernstein, ps. 285-292, e Cohn, ps. 269-274.
Capítulo 2
18. Sobre esta e outras publicações anti-semitas nos Estados Unidos, após
a II Guerra Mundial, ver Robert Singerman, “A Carreira Americana de Os
Protocolos dos Sábios de Sião” em “História Judaica Americana” 71, 1981, ps.
48-78. Para estudos mais extensos, ver Robert Lacey, “Ford, os Homens e a
Máquina”, Little Brown, Boston, 1986, particularmente ps. 205-219; Albert
Lee, “Henry Ford e os Judeus”, Stein & Day, New York, 1980.
25. Ver ps. 12, 53 e seguinte; 72 e mais Daniel Rubin (ed.), “Anti-semitismo
e Sionismo: Escritos Marxistas Selecionados”, International Publishers, New
York, 1987.
38. Ver A. Roy Eckhardt “Vosso Povo, meu Povo: o Encontro de Judeus e
Cristãos”, Quadrangle, New York, 1974, p. 51; Eugene J. Fisher, A James
Rudin, Marc Tanenbaum (ed.) “Vinte Anos de Relações Católico-Judaicas,
Paulist Press, New York, 1986. Coleções de outras declarações cristãs
podem ser encontradas em Helga Croner, “Mais Pedras de Ligação nas
Relações Judaico-Cristãs: Uma Coleção Não Condensada de Documentos
Cristãos, 1976-1983, Paulist Press, New York, 1985 (1977), e idem, “Mais
Pedras de Ligação nas Relações Judaico-Cristãs: Uma Coleção Não Condensada
de Documentos Cristãos” (1976-1983), Paulist Press, New York, 1985.
39. Ver John Osterreicher em: Herbert Vorgrimler (ed.) “Comentário sobre
os Documentos do Vaticano II”, Herder & Herder, New York, 1969, Vol. 3,
ps. 101-116.
40. Ver também Nicholls, capítulo 11 “As igrejas no Século 20”, ps. 351-384;
Norman Solomon, “As Igrejas Cristãs sobre Israel e os Judeus”, em: Wistrich,
“Anti-sionismo”, ps. 141-154.
Capítulo 4
41. Sartre, p. 153.
Fact or Fraud?
Goran Larsson
Descrição das ilustrações (não incluídas):
Page 39 - (Pictures 9 & 10) Pior afronta do que ligar as principais vítimas
do Nazismo aos seus assassinos dificilmente pode ser concebida, sendo
este um tema favorito do Anti-semitismo pós-guerra. Sob a manchete
“Irmãos de Sangue”, Hitler saúda um soldado israelense, com os pés
dentro de uma poça de sangue libanês... A árvore com a marca “Israel”
está enraizada na suástica, ambas de 1982.
Page 44 – (Pictures 19 & 20) Uma edição árabe de “Mein Kampf” (Minha
Luta) e um livro modernizado sobre o medieval “Libelo de Sangue”, de
1982, escrito nada menos do que pelo Primeiro Ministro da Defesa da
Síria, Mustafa Tlas.