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AULA VI
TIPICIDADE
a) Tipicidade como ratio cognoscendi (indício) da ilicitude (Ernest Mayer): Mayer, a partir da
tentativa de adaptação de todos os tipos existentes, concluiu que, para algumas figuras penais,
imprescindível se torna a apreciação dos elementos subjetivo e/ou normativo contidos no tipo.
Logo, para ele, o tipo não representa uma mera descrição do fato punível, pois, por variadas vezes,
têm que ser apreciados elementos subjetivos e/ou normativo para a configuração da tipicidade
indicativa da ilicitude. A tipicidade, para Mayer, é a ratio cognoscendi (razão de conhecer) da
ilicitude. Portanto, a tipicidade possui um liame com a ilicitude, pois entre elas há um vínculo
semelhante àquele que existe entre a fumaça e o fogo. A tipicidade está para a ilicitude como a
fumaça está para o fogo, ou seja, provavelmente, onde há tipicidade, há ilicitude, mas, pode ser que,
excepcionalmente, o fato típico tenha sido praticado ao amparo de uma causa justificante, motivo
pelo qual seria típico, porém, lícito.
Esta é a tese adotada pela maioria da doutrina, que considera a tipicidade como indício da ilicitude.
b) Tipicidade como ratio essendi (essência) da ilicitude (Mezger): Para Mezger, a tipicidade é a
razão de ser da ilicitude em função do ocorrido no fato material, constituindo-se as causas de
justificação em excludentes do tipo-de-injusto (tipicidade + ilicitude), ou seja, as causas
justificantes excluem a ilicitude e também a tipicidade.
a) Tipo Legal: aquele que descreve a conduta proibida, expressando pelo verbo a ação ou omissão
inadmitida.
b) Tipo de Injusto: (tipicidade + ilicitude) é aquele composto pelo desvalor da ação e do
resultado, reunindo os elementos essenciais do tipo legal e a nota da ilicitude do fato. Restringe
a incidência do tipo legal, pois, nem tudo que é formalmente típico (subsumido a um tipo
legal) é materialmente típico (adequado a um tipo de injusto).
c) Tipo Total de Injusto: (tipicidade + ilicitude + causa justificante) tipo que deriva da teoria
dos elementos negativos do tipo. É aquele que traz em seu interior a conduta punível como
definidora da ilicitude e as causas de justificação da ilicitude como excluidoras do tipo. Os
pressupostos da causa justificante integram o tipo como elementos negativos do tipo. Ex: matar
alguém em legítima defesa.
d) Tipo Básico ou Fundamental: é aquele que descreve apenas um fato punível, constituindo-se
na mais simples figura típica de um crime: Ex; caput do art. 121; caput do art. 155.
e) Tipo Derivado: divide-se em qualificado e privilegiado.
- Qualificado: aquele que resulta do tipo básico em função da adição, à figura típica simples, de
uma circunstância que a torna mais grave. Ex: homicídio qualificado (art. 121, § 2º).
- Privilegiado: aquele que resulta do tipo básico em função da adição, à figura típica simples, de
uma circunstância que a torna mais branda. Ex: homicídio privilegiado (art. 121, § 1º).
f) Tipos Simples: são aqueles que descrevem em seu interior uma única conduta punível. Ex: art.
155 (furto).
g) Tipos Complexos: são aqueles em que o tipo básico descrevem mais de uma conduta punível,
ou seja, tutelam mais de um bem jurídico. Ex: roubo = furto + violência; protege o patrimônio e
a pessoa.
h) Tipos Mistos ou Compostos: subdividem-se em mistos alternativos e mistos cumulativos.
- Mistos Alternativos: são aqueles aqueles que descrevem um único fato punível, mas mencionam
duas ou mais formas de cometimento da infração. Há uma fungibilidade entre as condutas, sendo
indiferente que se realizem uma ou mais, pois a unidade delitiva permanece inalterada. Ex: art. 122;
art. 211 CPB. Tais tipos se configuram pela presença de vírgula ou da conjunção “ou” entre os
verbos que compõem o tipo. Referem-se aos crimes de conteúdo variado ou de ação múltipla, que
são resolvidos pelo princípio da alternatividade. Quando alguém esgota as formas de cometimento
do crime, responde uma única vez por aquele crime, visto que as demais formas constituir-se-iam
em exaurimento do delito.
- Mistos Cumulativos: são aqueles que em seu interior são descritos mais de um fato punível.
Inexiste fungibilidade entre as condutas, ensejando, caso sejam praticadas duas ou mais, o concurso
material de delitos. Para constatar tais tipos geralmente se determina a observação da existência do
ponto e vírgula separando as figuras criminosas. Exs: arts. 135, 242, 244 e 248, todos do CPB.
i) Tipos Normais e Tipos Anormais: Normais são aqueles que contêm tão somente uma descrição
objetiva, sem referências a outros elementos normativos. Ex: art. 121, art. 129, ambos do CPB.
Anormais são aqueles que compreendem os elementos objetivos e normativos. Ex: O crime de
calúnia, previsto no art. 138 do CPB é um tipo anormal, devido à presença do elemento normativo
“falsamente”.
8. Tipo Doloso:
8.1. Teorias Acerca do dolo:
a) Teoria da Vontade: por ela, há dolo quando o agente representa e quer praticar a ação e produzir
o resultado. O agente imagina a ação e resultado, e pratica a ação querendo produzir o resultado. O
dolo é a representação (consciência) mais o querer finalístico.
b) Teoria da Representação: para tal doutrina basta, para a existência do dolo, que o resultado seja
representado, imaginado mentalmente pelo agente, que prevê a ocorrência dele. Como visto, os
adeptos da representação exigem apenas que o agente represente o resultado lesivo.
c) Teoria do Assentimento ou do Consentimento: por ela há dolo quando o sujeito, ao praticar a
conduta lesiva, representa o resultado e o admite, aceita, tolera. O agente ou omitente consente na
ocorrência do resultado lesivo, que por ele é previsto quando da prática da conduta.
d) Teoria da Probabilidade (cognição) para a existência do dolo, o autor deve entender o fato
como provável e não somente como possível.
O Código Penal Brasileiro acolheu a teoria da vontade em relação ao dolo direto e a teoria do
consentimento, em relação ao dolo eventual.
9. Tipo Culposo
9.1. Generalidades
A culpa é elemento normativo da ação. Culpa é a ação ou omissão praticada sem o cuidado objetivo
necessário. É a inobservância do cuidado objetivo necessário ao atuar.
Todos nós, mesmo visando a fins lícitos, temos que atuar de acordo com as regras mínimas de
convivência que nos são impostas pela sociedade. A verificação da atuação do agente com ou sem
cautela é feita através da previsibilidade objetiva, que é a previsão do resultado que teria ou não
o homem médio (de mediana prudência e mediano discernimento), se estivesse no lugar do
agente no momento da prática da conduta ensejadora do fato lesivo (isto em se tratando de
culpa inconsciente – aquela onde o agente não prevê o resultado que seria previsível para o homem
médio – imprevisão do previsível).
Sabe-se se uma pessoa atuou ou não com o cuidado objetivo necessário se, naquelas circunstâncias,
naquele mesmo local, daquela mesma maneira, o homem médio tivesse atuado de forma
semelhante. Caso contrário, o agente não poderia ter atuado como atuou, motivo pelo qual agiu sem
o cuidado objetivo que lhe era exigido.
A previsibilidade objetiva atua no campo da tipicidade do crime culposo. Ela configura o tipo
culposo.
Por exemplo: art. 121, § 3º - homicídio culposo. José, dirigindo seu veículo a 80 Km/h, na Avenida
Afonso Pena, perdeu a direção do carro e atingiu 3 pessoas que se encontravam próximas ao
passeio, e iam atravessar a rua. Esse fato não se adequa imediatamente ao § 3º do art. 121. Há
necessidade de exame, primeiramente, da observância ou não do cuidado exigido (previsibilidade
objetiva). O homem médio teria previsão do resultado ocorrido se atuasse daquela maneira. Desta
forma o agente deveria Ter atuado de maneira diferente. Ele não observou o cuidado que lhe era
exigido no momento. Então, o fato é típico, subsume-se ao art. 121, § 3º do CPB.
a) Culpa Inconsciente: o resultado não é previsto pelo agente, embora previsível para o homem
médio.
b) Culpa Consciente: o resultado é previsto pelo sujeito, que confia levianamente na sua não
ocorrência.
c) Culpa própria: é aquela em que a conduta é praticada sem o cuidado objetivo necessário e gera
um resultado involuntário. É a culpa propriamente dita, nas modalidades de imprudência,
negligência e imperícia.
d) Culpa Imprópria, por extensão, por assimilação ou equiparação: é a culpa derivada de erro.
É uma hipótese de fato doloso punível a tipo culposo. Esta é a razão pela qual a culpa é denominada
imprópria, ou seja, o contrário da culpa propriamente dita. Para explicar melhor a questão
concernente à culpa imprópria, necessário se faz examinar a matéria relacionada ao erro em direito
penal, o que será feito mais adiante.
e) Culpa Imediata: aquela que tem ligação, vinculação direta com o resultado que foi gerado por
imprudência, negligência ou imperícia.
f) Culpa Mediata ou Indireta: ocorre quando o agente, ao atuar sem a cautela devida, dá ensejo a
um determinado resultado que, por conseguinte, gera outro resultado lesivo. Esse segundo resultado
será imputado ao agente se lhe for previsível. Ex: carro saindo da garagem de ré. Duas crianças
brincam na rua perto do pai. O motorista não tem o cuidado devido e atira uma das crianças longe
atingindo-a com seu carro e o pai, ao correr para salvar a criança, é atropelado por outro carro. O
motorista do 1º carro será responsabilizado pelo atropelamento do pai da criança.
No direito penal é possível a concorrência de culpa onde o agente e vítima contribuíram para o
evento danoso. Já a compensação de culpa da vítima não retira a culpa , ou seja, o fato típico
culposo praticado pelo agente. Contudo, quando da fixação da pena base ela será examinada pelo
juiz em razão da regra do art. 59 do CPB (deve o juiz atentar para o comportamento da vítima).
No art. 14, II do CPB fala-se em vontade do agente, na culpa não existe vontade de se obter aquele
resultado. Ele ocorre involuntariamente, logo, não há que se falar, em regra, de tentativa no crime
culposo, a não ser na culpa imprópria (derivada de erro), caso em que a ação que gerou o resultado
foi dolosa. Neste último caso (culpa imprópria), o resultado foi obtido pela vontade do agente; se há
vontade, há possibilidade de tentativa, em face da ação que gera o resultado ser dolosa.