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Notas Do Curso Cleon PDF
Notas Do Curso Cleon PDF
Cleon S. Barroso
Escola de Matemática
UFAM
Introdução
O que é Análise Funcional? Essa é, sem dúvida, uma boa pergunta e, como tantas outras,
o conjunto das respostas é infinito. Informalmente, podemos dizer que trata-se de um tipo de
análise matemática sobre objetos de dimensão infinita. Mas, o que é um objeto de dimensão
infinita? Também é uma pergunta com possibilidades enumeráveis de respostas. Escolhamos
um foco para fixar as idéias. Em Álgebra Linear, estudamos os espaços vetoriais e, em seguida,
os espaços de dimensão finita. Nesse âmbito, os ”objetos”, vetores, são representáveis por uma
combinação linear finita. Assim, muito do que se faz em matemática (mensurar, comparar,
classificar, caracterizar, provar a existência de algo, etc.) pode ficar mais tratável. Isso é bem
razoável pois lidar com ”coisas”finitas é lidar com o controlável, em princı́pio. Entretanto, ao
considerar, por exemplo, funções como vetores de um espaço vetorial, a idéia de representação
finita perde o sentido. Por exemplo, será que existe um subconjunto finito e linearmente
independente do espaço C[0, 1] das funções contı́nuas no intervalo [0, 1] em que todas as funções
do espaço possam ser representadas por uma combinação linear finita de seus elementos?
Suponha que existisse tal conjunto, digamos B = {f1 , . . . , fn }. Então, C[0, 1] seria um espaço
vetorial de dimensão n, ou seja, dim C[0, 1] = n. Mas, o conjunto U = {1, t, t2 , . . . , tn } é um
λ0 · 1 + λ1 t2 + · · · + λn tn = 0,
3
4
2 Espaços Normados 23
2.1 Exemplos de Espaços Normados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1.1 Desigualdades Clássicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.2 Convergência em Espaços Normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.3 Dual de um espaço normado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4 Aplicações Lineares em Espaços Normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.4.1 Dual de Espaços de Sequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.5 Espaços de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.5.1 Exemplos de Espaços de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.5.2 Espaços com Produto Interno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5
6
4 Teorema de Hahn-Banach 45
4.1 Solução do Problema da Extensão de Funcionais . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.2 Consequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.3 Versão Geométrica do Teorema de Hahn-Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.3.1 Hiperplanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.3.2 Funcional de Minkowski . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
7
5 Topologias Fracas 53
5.1 Teorema de Riesz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
5.2 Definição de Topologia Fraca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5.2.1 Propriedades da Topologia Fraca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5.3 Definição de Topologia Fraca* . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
5.3.1 Propriedades da Topologia fraca* . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
5.3.2 Teorema de Banach-Alaoglu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
6 Reflexividade 59
6.1 Injeção Canônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
6.1.1 Teorema de Goldstine . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6.1.2 Caracterização de Espaços Reflexivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
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Capı́tulo 1
Um espaço vetorial sobre o corpo dos números reais R é um conjunto não-vazio X, cujos
elementos são chamados de vetores, munido de duas operações chamadas adição e produto por
escalar, respectivamente. A adição, simbolizada por ”+”, associa a cada par (x, y) do conjunto
carteziano X × X um novo elemento em X, indicado por x + y, chamado soma de x com y.
O produto por escalar, simbolizado por ” · ”, associa a cada par (λ, x) do produto carteziano
R × X um novo elemento em X, indicado por λ · x, chamado o produto do escalar λ pelo vetor
x. Além disso, tais operações gozam das seguintes propriedades:
(a1 ) (Comutatividade): x + y = y + x;
(a2 ) (Associatividade): x + (y + z) = (x + y) + z;
9
10
(p1 ) (Distributividade): λ · (x + y) = λ · x + λ · y e (λ + µ) · x = λ · x + µ · x;
Prova. (a) Com efeito, se existe um outro elemento em X, digamos N , tal que x + N = x
para todo x ∈ X, então x∗ = x∗ + N = N + x∗ = N . (b) De fato, suponha que para cada
x ∈ X, exista um outro x0 ∈ X tal que x + x0 = x∗ . Então, x̂ = x̂ + x∗ = x̂ + (x + x0 ) =
(x̂ + x) + x0 = (x + x̂) + x0 = x∗ + x0 = x0 + x∗ = x0 .
O leitor poderá encontrar na literatura [3] uma boa referência onde as propriedades acima
e outras mais são demonstradas.
x + λy ∈ Y, para todo x, y ∈ Y e λ ∈ R.
Deste modo, as operações de adição de vetores e multiplicação por escalar quando restritas aos
conjuntos Y × Y e R × Y , respectivamente, possuem em comum como contradomı́nio o próprio
conjunto Y . Na circunstância, dizemos que Y é fechado em relação à essas operações.
11
x+y : = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn ), e
λ·x : = (λx1 , . . . , λxn ).
(b) O conjunto dos números complexos C é um espaço vetorial com as operações usuais de
adição e multiplicação de números complexos.
O exemplo (a) acima ensina-nos uma das várias formas de como proceder na construção
de espaços vetoriais. Com efeito, se X e Y são espaços vetoriais arbitrários, então podemos
introduzir uma estrutura de espaço vetorial no conjunto carteziano X × Y da mesma forma
que foi feito com o espaço Rn . Para tanto, basta definir a adição entre dois vetores (e1 , f1 ) e
(e2 , f2 ) arbitrários de X × Y como sendo o vetor (e1 + e2 , f1 + f2 ). Analogamente, o produto
por escalar é definido por λ · (e, f ) : = (λe, λf ).
12
Definição 1.2.1 Seja {v1 , . . . , vn } uma coleção finita de vetores em X. Uma combinação
linear desses vetores é um vetor da forma
x = α1 v1 + · · · + αn vn ,
com α1 , . . . , αn ∈ R.
Definição 1.2.2 (i) Uma coleção finita de vetores {v1 , . . . , vn } em X é dita ser linearmente
independente quando
λ1 v1 + · · · + λn vn = 0,
implicar que λ1 = λ2 = · · · = λn = 0.
Assim, para que U seja linearmente independente é necessário e suficiente que a seguinte
condição se verifique: Dada uma quantidade n de vetores distintos x1 , x2 , . . . , xn em U e
escalares λ1 , . . . , λn tais que:
λ1 x1 + λ2 x2 + · · · + λn xn = 0,
então deve ocorrer que λ1 = λ2 = · · · = λn = 0.
Definição 1.2.3 Um conjunto não-vazio B ⊂ X é dito ser uma base de Hamel para o espaço
X quando B for um conjunto linearmente independente maximal, ou seja, se u é um vetor em
X tal que B ∪ {u} é um conjunto L.I., então u ∈ B. Em outras palavras, B é uma base de
Hamel quando não for subconjunto próprio de nenhum outro conjunto L.I em X.
Daqui em diante, a menos que seja dito em contrário, nos referiremos a uma base de Hamel
simplesmente como base. Ressaltamos que a partir da noção de base é possı́vel determinar
todos os elementos de um espaço vetorial, haja vista que qualquer vetor x em X pode ser
expresso como uma combinação linear de uma quantidade finita de vetores de B. Além do
que, conforme pode ser verificado facilmente tal expressão é única. Neste caso, de acordo com
a Definição 1.2.4, segue-se que B gera o espaço X, ou que X é gerado pela base B.
Problema. Dado um espaço vetorial X qualquer, sempre existe uma base para X?
Relação de Ordem. Uma ordem parcial em um conjunto não-vazio A é uma relação entre
pares de elementos de A , genericamente representada pelo sı́mbolo ≤, que caracteriza-se por
cumprir a três propriedades, a saber:
(i) x ≤ x,
(ii) Se x ≤ y e y ≤ z, então x ≤ z,
(iii) Se x ≤ y e y ≤ x, então x = y,
para quaisquer x, y e z em A .
Indica-se com a notação (A , ≤) um conjunto A munido com uma ordem parcial ≤. Dizemos
neste caso que A é um conjunto parcialmente ordenado. Dizemos ainda que (A , ≤) é um
conjunto totalmente ordenado se dados quaisquer a, b ∈ A pudermos verificar que ou a ≤ b,
ou b ≤ a. Agora, seja M um subconjunto de um conjunto parcialmente ordenado A . Um
elemento a ∈ A é dito ser uma cota superior para M quando x ≤ a para todo x ∈ M. No caso
em que isso se verifica com a ∈ M, dizemos que a é um elemento maximal para M (segundo
a relação ≤).
O próximo resultado é de fundamental importância para o desenvolvimento da teoria.
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Lema 1.2.5 (Lema de Zorn) Seja (A , ≤) um conjunto parcialmente ordenado. Suponha que
todo subconjunto não-vazio e totalmente ordenado M de A possui uma cota superior em A .
Então A possui um elemento maximal.
O seguinte resultado nos diz que um conjunto L.I. em um espaço vetorial pode ser com-
pletado à uma base para o espaço X.
Como uma simples aplicação deste resultado, obtemos a seguinte caracterização de bases
em termos de geração de espaços vetoriais.
Prova. Exercı́cio.
O resultado a seguir resolve de uma vez por todas o problema da existência de bases.
Prova. Seja X um espaço vetorial. Se X for gerado por um único vetor não-nulo u ∈ X,
então o conjunto B = {u} é uma base para E. Assim, podemos supor que existem ao menos
dois vetores não-nulos u, v ∈ E que são L.I.. Considere o conjunto U = {u, v}. Pelo Teorema
1.2.6, X possui uma base B que contém U. Isso conclui a prova do resultado.
Definição 1.2.9 Um espaço vetorial X é dito ser finito-dimensional se ele possui uma base
finita. Do contrário, ele é dito ser infinito-dimensional.
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Se X possui uma base finita, digamos com n vetores, então dizemos que a dimensão de
X é n e escrevemos dim(X) = n. Se X é infinito-dimensional, então simbolizamos isso por
dim(X) = ∞. Antes de prosseguirmos, lembremos que dois conjuntos não-vazios são ditos
terem a mesma cardinalidade quando existe uma bijeção entre eles. O próximo resultado,
conhecido como o teorema da dimensão, estabelece uma caracterização importante sobre bases
em termos de cardinalidade.
Teorema 1.2.10 (Teorema da Dimensão) Duas bases em um espaço vetorial possuem a mesma
cardinalidade.
Prova. Sejam B1 e B2 bases de um espaço vetorial E. Vamos mostrar que existe uma função
injetiva ψ : B1 → B2 .
Etapa 1. Considere o conjunto A formado por todas as funções injetivas ϕ cujo domı́nio Dϕ
é um subconjunto de B1 , a imagem Rϕ é um subconjunto de B2 , e que a união Rϕ ∪ B1 \ Dϕ
seja um conjunto L.I.. Consideremos em A a seguinte ordem parcial: ϕ1 ≤ ϕ2 desde que
Dϕ1 ⊂ Dϕ2 e que ϕ2 restrita a Dϕ1 seja idêntica a ϕ1 . Seja M um subconjunto não-vazio e
totalmente ordenado de A . Então, definindo D0 = ∪ϕ∈M Dϕ e ϕ0 : D0 → B2 pondo ϕ0 (x) =
ϕ(x) se x ∈ Dϕ , concluimos a partir da hipótese que M é totalmente ordenado que ϕ0 pertence
a A e, de fato, é uma cota superior para M. Sendo assim, pelo Lema de Zorn o conjunto A
possui um elemento maximal que o representaremos por ψ : Dψ → B2 .
Etapa 2. Afirmamos agora que Dψ = B1 . Suponhamos por contradição que isso não ocorre,
ou seja, que Dψ é um subconjunto próprio de B1 . Então, segue-se daı́ que Rψ também é um
subconjunto próprio de B2 pois do contrário terı́amos que o conjunto Rψ ∪ B1 \ Dψ seria
linearmente independente, o que contrariria a definição de base para B2 .
Seja agora y ∈ B2 \Rψ arbitrário. Então, ou y é linearmente independente de Rψ ∪ B1 \Dψ
ou não. No primeiro caso, escolhemos um vetor arbitrário x ∈ B1 \ Dψ e definimos a estensão
ψ̃ : Dψ ∪ {x} → B2 de ψ pondo ψ̃(x) = y. Isso implica que ψ ≤ ψ̃, o que contradiz a
maximalidade de ψ. No segundo caso, podemos expressar y de modo único como
X X
y= λv v + µu u,
v∈Rψ u6∈Dψ
em que ao menos um µu0 é diferente de zero pois y é um elemento da base B2 . Considere agora
a extensão ψ̃ : Dψ ∪ {u0 } → B2 em que ψ̃(u0 ) = y. Claramente, ψ̃ é injetiva e Dψ ∪ {u0 } ⊂ B1 .
Resta mostrarmos que Rψ̃ ∪ B1 \ Dψ̃ é um conjunto linearmente independente. Isso, de fato,
é uma tarefa simples e a deixaremos como exercı́cio para o leitor.
16
O teorema da dimensão surgiu em 1934 num artigo devido a Löwig. A referência precisa é
a seguinte: H. Löwig, ”Über die Dimension linearer Raume,”Studia Math., 5, 18-23 (1934).
X ] = f : X → R f é um funcional linear .
Proposição 1.3.3 Uma função f : R → R é linear se, e somente se, f é uma função afim, ou
seja, existe um número real a tal que f (x) = ax, para todo x ∈ R. Em particular,
R] = f : R → R f é afim }.
Uma pergunta natural é a seguinte: O dual algébrico de qualquer espaço vetorial é não-
trivial? A proposição seguinte fornece uma resposta positiva a essa questão.
17
Proposição 1.3.4 Seja X um espaço vetorial não-trivial. Então, existe um funcional não
nulo em X.
Prova. Podemos supor que f1 , . . . , fn são L.I.. Suponha que f ∈ hf1 , . . . , fn i. Então, existem
escalares α1 , . . . , αn tais que
f = α1 f1 + · · · + αn fn .
Segue-se daı́ que ni=1 Ker(fi ) ⊂ Ker(f ). A recı́proca será demonstrada por indução em n.
T
Se x ∈ Ker(fn ), e suponha que f1 (x) = · · · = fn−1 (x) = 0. Então, x ∈ ni=1 Ker(fi ) e portanto,
T
f (x) = 0. Considerando as restrições f Ker(fn ) , f1 Ker(fn ) , . . . , fn−1 Ker(fn ) , vemos que
n−1
\
Ker fi Ker(fn ) ⊂ Ker f Ker(fn ) .
i=1
Definição 1.4.1 Sejam X, Y espaços de Banach. Uma aplicação T : X → Y é dita ser linear
quando T cumpre as seguintes condições:
para quaisquer x, y ∈ X e λ ∈ R.
1.5 Exercı́cios
(i) Se B = {eα : α} é uma base de Hamel para X e x ∈ X \ B, então existem únicos escalares
hα (x) tais que X
x= hα (x)eα ,
α∈supp(x)
6 0. (Use
onde supp(x) é suporte de x, ou seja, o conjunto do ı́ndices α tais que hα (x) =
o fato que B é maximal, e lembre da definição de base de Hamel que supp(x) é finito.)
(ii) No item (i) acima, mostre que para cada α, a função x 7→ hα (x) define um funcional
linear em X. (Use um argumento de unicidade.)
(Lembrando que [u] representa a classe de equivalência de todas a funções u que são iguais a
menos de um conjunto de medida nula).
3. Mostre que:
(iii) Se B = {un : n ∈ N}, onde un (t) = χ[0,1−1/n] (t) com t ∈ [0, 1], então B é um conjunto
L.I. em L1 [0, 1]. Conclua que L1 [0, 1] é um espaço infinito-dimensional.
|u(t)| ≤ C, ∀ t ∈ [0, 1] \ N.
Mostre que:
5. Mostre que:
(i) `p ⊂ `q se 1 ≤ p ≤ q ≤ ∞.
(ii) Se B = {ei : i ∈ N} é como no Exercı́cio 2, então B é uma base para o espaço c00 .
(i) Sempre existe uma aplicação linear T : X → Y não-identicamente nula. Conclua neste
caso que o espaço L(X, Y ) é não-trivial.
10. Sejam X um espaço finito-dimensional e B = {v1 , . . . , vn } uma base para X. Mostre que
dados números a1 , . . . , an ∈ R, existe um funcional linear f em X tal que f (vi ) = ai para todo
i = 1, . . . , n.
11. Seja X um espaço vetorial. Então, X é finito-dimensional se, e somente se, X ∗ também é
finito-dimensional. Em particular, dimX = dimX ∗ .
21
B = {v1 , . . . , vn , u1 , . . . , um−n }
é uma base para X. Afimarmos que U = {T (u1 ), . . . , T (um−n )} forma uma base para a imagem
Im(T ). Com efeito, seja y ∈ Im(T ) qualquer. Então, existe x ∈ X tal que T (x) = y. Como B
é uma base para X, podemos encontrar escalares α1 , . . . , αn , αn+1 , . . . , αm−n tais que
Então, y = T (x) = αn+1 T (u1 ) + · · · + αm−n T (um−n ) donde segue-se que Im(T ) é gerado por
U. Em particular, a imagem de T é um espaço finito-dimensional. Mostremos agora que U é
um conjunto L.I.. Suponhamos que existam escalares λ1 , . . . , λm−n tais que λ1 T (u1 ) + · · · +
λm−n T (um−n ) = 0 , então, por linearidade, segue-se que λ1 u1 + · · · + λm−n um−n pertence ao
núcleo de T . Logo, podemos encontrar escalares β1 , . . . , βn que verificam a igualdade
λ1 u1 + · · · + λm−n um−n = β1 v1 + · · · + βn vn ,
a qual é possı́vel se, e somente se, λ1 = · · · = λm−n = 0. Isso prova a afirmação. Portanto,
dimIm(T ) = m − n. Isso conclui o exercı́cio.
(Considere a aplicação linear T : X → Rn definida por T (x) = (f1 (x), . . . , fn (x)). Em seguida,
use o Teorema do Núcleo e da Imagem (Exercı́cio 12)).
22
Capı́tulo 2
Espaços Normados
Uma norma em um espaço vetorial X é uma função N : X → [0, ∞) tal que as seguintes
propriedades são verificadas:
(i) (Espaços das seqüência convergentes para zero): Considere a função k · k : c0 → [0, ∞)
definida por
k(αn )kc0 = max |αn |.
n∈N
23
24
(ii) (O espaço das sequências somáveis): Considere a função k · k`1 : `1 → [0, ∞) dada por:
∞
X
k(αn )k`1 = |αn |.
n=1
Observe que vale a inclusão `1 ⊂ c0 e que `1 6= c0 , pois ( n1 ) pertence a c0 mas não pertence
a `1 . Menos trivial que os exemplos acimas são o que virão a seguir. Mas, antes, façamos uma
pausa para estabelecermos alguamas desigualdades importantes.
(a + b)p ≤ 2p (ap + bp ).
√
Prova. Considere as função f (x) = xp−1 com 0 ≤ x ≤ a e g(y) = p−1 y com 0 ≤ y ≤ b.
Observe que há um intervalo I para o qual g é a inversa de f . Suponhamos sem perda de
generalidade que f (a) ≤ b. Considerando o número ab como a área do retângulo de base
a, no eixo das abscissas, e altura b no eixo das ordenadas e, além disso, representando por
Ra Rb
A1 = 0 f (x)dx e por A2 = 0 g(y)dy vê-se facilmente que
ab ≤ A1 + A2 .
Prova.
N
X N
X
p
|an + bn | ≤ |an + bn |p−1 |an + bn |
n=1 n=1
XN N
X
≤ |an + bn |p−1 |an | + |an + bn |p−1 |bn |
n=1 n=1
XN p−1 XN 1/p N
X N
p−1 X 1/p
p p p p p
≤ |an + bn | · |an | + |an + bn | · |bn |p
n=1 n=1 n=1 n=1
XN p−1 N
h X 1/p N
X 1/p i
p
= |an + bn |p · |an |p + |bn |p .
n=1 n=1 n=1
Após a pausa, voltemos para os exemplos de espaços normados.
(iii) (O espaço das seqüências p-somáveis). Para 1 < p < ∞, considere a função k · k`p : `p →
[0, ∞) dada por
nX ∞ o1/p
k(αn )k`p = |αn |p .
n=1
Então, (`p , k · k`p ) é um espaço normado.
26
(iv) (O espaço das seqüências limitadas.) Considere a função k · k`∞ : `∞ → [0, ∞) definida
por
k(αn )k`∞ = sup |αn |.
n∈N
Então, (`∞ , k · k`∞ ) é um espaço normado.
(vi) (O espaço das classes de funções limitadas) Considere a função k · kL∞ : L∞ [0, 1] → R
definida por
kukL∞ = inf C > 0 Existe N ⊂ [0, 1], |N | = 0, tal que |u(t)| ≤ C, ∀ t ∈ [0, 1] \ N .
Seja (X, k · k) um espaço normado. Tal como ocorre em Rn , ou mais geralmente nos espaços
métricos, podemos resgatar em X a noção de convergência de sequências.
Definição 2.2.1 Dizemos que uma sequência {xn } em X converge para um vetor x ∈ X se
para todo > 0 dado, existir um inteiro n ≥ 1 tal que kxn − xk < , para todo ı́ndice n ≥ n .
É fácil verificar que X ∗ é um espaço vetorial (Ex.). O resultado a seguir mostra que nem todo
funcioanal linear em um espaço normado é limitado. Portanto, X ∗ é um subespaço próprio de
X ].
Proposição 2.3.1 Seja X um espaço vetorial normado de dimensão infinita. Então, existe
um funcional linear não-limitado em X.
Prova. Seja B = {eα } uma base de Hamel para X, e {en : n ∈ N} uma seqüência de vetores
em B. Sem perda de generalidade, podemos assumir que keα k = 1 para todo α. Defina um
funcional linear f : X → R pondo f (eα ) = 0 se eα 6∈ {en : n ∈ N}, e f (en ) = n para todo n ∈ N.
Considere agora a seqüência {xn } em X definida por xn = n1 en . Então, kxn k = n1 e
|f (xn )|
= n,
kxn k
para todo n ∈ N, o que mostra que kf k = ∞.
A proposição a seguir fornece uma caracterização importante sobre funcionais lineares
limitados.
Proposição 2.3.2 Um funcional linear em um espaço normado é limitado se, e somente se,
ele é contı́nuo se, e somente se, ele é contı́nuo no vetor nulo.
Prova. Exercı́cio.
Observação 2.3.1 A demonstração da Proposição 2.3.1 mostra ainda que kxn k → 0 mas
kf k = sup{|f (x)| : x ∈ SX },
kf k ≥ sup{|f (x)| : x ∈ SX }.
x
Seja x ∈ BX tal que x 6= 0, então u = ∈ SX e portanto,
kxk
|f (x)|
sup{|f (z)| : z ∈ SX } ≥ |f (u)| = ,
kxk
donde segue-se da definição de supremo que sup{|f (z)| : z ∈ SX } ≥ kf k. Isso conclui a prova.
Definição 2.4.1 Uma aplicação linear T : X → Y é dita ser contı́nua ser limitada se existe
uma constante C > 0 tal que
kT xkY ≤ CkxkX ,
para todo x ∈ X.
(ii) A função que associa a cada T ∈ L (X, Y ) o número kT k define uma norma no espaço
L (X, Y ).
É fácil verificar que T ∈ L (X, Y ) se, e somente se, T é contı́nua em relação a topologia
gerada pela norma, ou seja, xn → x em X se, e só se, T (xn ) → T (x) em Y .
Uma aplicação linear T : X → Y é dita ser uma isometria se ela satisfaz kT xkY = kxkX , para
qualquer x ∈ X. No caso em que T é uma isometria sobrejetiva, dizemos que X e Y são
isométricos e usamos a notação X ≡ Y para representar tal acontecimento.
29
Prova. Defina uma aplicação T : c∗0 → `1 pondo T (f ) = (f (ei )), onde ei = (δij )∞
j=1 . Clara-
mente, T é linear. Afirmamos que T é limitada (e portanto, contı́nua). Com efeito, se f ∈ c∗0
defina uma sequência {xn } em c0 tal que
n
X
xn = (sign(a1 ), . . . , sign(an ), 0, 0, . . . ) = sign(ai )ei ,
i=1
Pn
onde ai = f (ei ) e sign(λ) = 1 se λ ≥ 0 e zero caso contrário. Note que f (xn ) = i=1 |ai | e que
kxn kc0 = 1 para todo n ∈ N. Portanto,
n
X
|ai | = f (xn ) ≤ kf kc∗0 kxn k = kf k,
i=1
lado, dado > 0 arbitrário, pela Proposição 2.3.3 existe x ∈ c0 com kx kc0 = 1 tal que
kf kc∗0 − ≤ |f (x )|
Pn
Portanto, escrevendo agora un = i
i=1 x ei , obtemos que
(i) `∗1 ≡ `∞ ,
1 1
(ii) Se p, q > 1 e + = 1, então `∗p ≡ `q ,
p q
Para todo > 0 dado, existe um n ∈ N tal que kxm − xn k < , ∀m, n ≥ n .
Mostra-se facilmente que se {xn } é uma sequência de Cauchy em X, então ela é limitada, ou
seja, existe uma constante C > 0 tal que kxn k ≤ C para todo n ∈ N.
Definição 2.5.1 Um espaço normado (X, k · k) é dito ser um espaço de Banach se quando
toda sequência de Cauchy for convergente.
Proposição 2.5.2 Considere o espaço C[0, 1] das funções contı́nuas no intervalo [0, 1] munido
com a norma
kuk∞ = sup |u(t)|.
t∈[0,1]
Prova. Seja (un ) uma sequência de Cauchy em C[0, 1]. Então, para todo t ∈ [0, 1] a sequência
{un (t)} é de Cauchy em R. Seja u(t) = limn→∞ un (t). Afirmamos que u é contı́nua e que
kun − uk∞ → 0 quando n → ∞. Dado , existe n ∈ N tal que |um (t) − un (t)| < para
todo m, n ≥ n , e para todo t ∈ [0, 1]. Fixe m ≥ n ≥ n e faça n → ∞. Segue-se que
kum (t) − u(t)| ≤ para todo m ≥ n e todo t ∈ [0, 1]. Isso mostra que kum − uk ≤ para
todo m ≥ n . Portanto, um converge para u uniformemente. Então, u ∈ C[0, 1] pois é o limite
uniforme de funções contı́nuas. A prova está completa.
Prova. Com efeito, considere em `∞ a norma k(αn )k`∞ = supn∈N |αn |. Seja {xn } uma
sequência de Cauchy em `∞ . Então, para cada i ∈ N a sequência {xni : n ∈ N} é de Cauchy em
R. Seja yi = limn→∞ xni . Um método muito similar usado na proposição anterior, mostra que
(y1 , y2 , . . . ) ∈ `∞ e que xn → y em `∞ .
Definição 2.5.5 Um espaço de Banach (X, k·k) é dito ser um espaço de Hilbert se k·k provém
de um produto interno.
P∞ 2
(i) `2 = (αn ) : αn ∈ R, n=1 αn < ∞ .
R1
(ii) L2 [0, 1] = u : [0, 1] → R : 0 u2 (t)dt < ∞ .
2.6 Exercı́cios
1. Mostre que os exemplos listados na Seção 2.1 são de fato espaços normados.
3. Construa uma aplição linear limitada T : `1 → L1 [0, 1]. (Use o Exercı́cio 3, Cap. 1).
7. Mostre que a aplicação T : `∗1 → `∞ definida por T (f ) = (f (e1 ), f (e2 ), . . . ) é uma isometria.
Conclua que `∗1 ≡ `∞ .
8. Mostre que se 1 < p, q < ∞ são conjugados (ou seja, 1/p + 1/q = 1), então a aplicação
T : `∗p → `q definida por T (f ) = (f (e1 ), f (e2 ), . . . ) é uma isometria.
10. Mostre que todo espaço vetorial admite uma norma. (Use Exercı́cio 1 do Capı́tulo 1.)
11. Seja B uma base de Hamel de um espaço vetorial X. Mostre que existe uma aplição linear
bijetiva entre X ] e RB .
Capı́tulo 3
O objetivo deste capı́tulo é fazer uma ligeira revisão sobre topologia geral. O leitor que
detém os conhecimentos fundamentais do tema poderá passar para o próximo capı́tulo.
(i) ∅, X pertencem a τ ,
33
34
3.2 Continuidade
A seções seguintes nos rementem ao seguinte questionamento: Como construir uma topolo-
gia em um conjunto não-vazio?
Não é difı́cil ver que τS define uma topologia em S. Neste caso, dizemos que S herda a topologia
de X, ou que X induz uma topologia natural em S.
Uma outra forma de induzir uma topologia em um conjunto é descrita a partir da noção de
base para uma topologia.
Definição 3.3.1 Seja X um conjunto não-vazio. Uma base para uma topologia em X é uma
coleção B de subconjuntos de X com as seguintes propriedades:
Proposição 3.3.2 Seja X um conjunto não-vazio. Se B é uma base para uma topologia em
X, então B induz um topologia em X.
Afirmamos que τ (B) define uma topologia em X. Claramente, ∅ ∈ τ (B). Pelo item (i) da
Definição 3.3.1, segue-se também que X ∈ τ (B). Vamos mostrar agora que τ (B) é fechada
S
para uniões arbitrárias. Seja {Uα } uma famı́lia de elementos de τ (B). Ponha U = α Uα .
Seja x ∈ U qualquer. Então, x ∈ Uα0 , para algum α0 . Por definição, existe A ∈ B tal que
x ∈ A ⊂ Uα0 . Portanto, [
x ∈ A ⊂ U α0 ⊂ Uα = U.
α
Analogamente, usando (ii) da Definição 3.3.1, mostra-se por indução que τ (B) é fechado para
interseções finitas. (Confira também [4])
Problema. Construir uma topologia em X tal que todas as funções de F sejam contı́nuas.
O resultado a seguir fornece uma solução afirmativa para esse problema.
Então, B é base de uma topologia σ(X, F) em X na qual todas as funções de F são contı́nuas.
Além disso, se T é uma topologia em X com a mesma propriedade, então σ(X, F) ⊂ T
Prova. De fato, seja x ∈ X qualquer. Então, como para qualquer α ∈ Λ tem-se X = ϕ−1 α (Y )
e Y é aberto, segue-se que x ∈ ϕ−1 (Y ) ⊂ X, provando o item (i) da Definição 3.3.1. Sejam
T α
U = α∈Λ1 ,A∈Γ1 ϕ−1 α∈Λ1 ,A∈Γ2 ϕα (A) elementos arbitrários de B, e x ∈ U ∩V . Seja
−1
T
α (A), V =
W = α∈Λ∗ ,A∈Γ ϕ−1 α (A), onde Λ = Λ1 ∪ Λ2 e Γ = Γ1 ∪ Γ2 . Então, W ∈ B e x ∈ W ⊂ U ∩ V .
∗
T
Prova. Exercı́cio.
Ou seja, um elemento de α∈J Aα é uma função do conjunto J na união de todos os A0α s com
Q
Q
Problema. Construir uma topologia em Aα sabendo que cada Aα é um espaço topológico.
Q
Observação. Vale a pena ressaltar que a topologia produto σ Aα , F definida acima é
tal que as projeções πβ são contı́nuas.
37
Exemplos de espaços topológicos incluem os espaços métricos (X, d). Neste caso, uma
topologia τ é gerada por todas as bolas abertas de X. Vejamos isso a seguir.
Definição 3.4.1 Um espaço métrico é uma par (X, d), onde X é um conjunto não-vazio e
d : X × X → [0, ∞) é uma função tal que:
(i) d(x, y) = 0 se x = y.
A bola fechada, (resp., a esfera) de centro p e raio r, é o conjunto Br [p] = {x ∈ X : d(x, p) ≤ r},
(resp., Sr [p] = {x ∈ X, d(x, p) = r}).
B = Br (p) r > 0, p ∈ X ⊂ A ,
Prova. Elementar.
Prova. Ora, se (X, k · k) é um espaço normado, então a função d : X × X → [0, ∞) definida por
d(x, y) = kx − yk define uma métrica em X. Em particular, a norma k · k induz uma topologia
em X, a saber, a topologia métrica gerada por d.
38
3.5 Convergência
Definição 3.5.1 Sejam (X, τ ) um espaço topológico. Dizemos que uma sequência {xn } uma
sequência em X converge para um ponto x ∈ X se para qualquer vizinhança U de x, for possı́vel
determinar nU ∈ N tal que xn ∈ U , para todo n ≥ nU .
(i) Um subconjunto K de M é dito ser limitado quando existe uma constante c > 0 tal que
d(x, y) ≤ c, para quaisquer x, y ∈ M .
(ii) Uma sequência {xn } converge para x ∈ M se, e só se, para todo > 0 existe um n ∈ N
tal que d(xn , x) < , para todo n ≥ n .
• O fecho do conjunto A de X é o conjunto A tal que x ∈ A se, e somente se, para qualquer
vizinhança U de x em X, dada arbitrariamente, tem-se U ∩ A 6= ∅.
39
Um subconjunto F de X é dito ser fechado se ele coincide com seu fecho. Mostra-se que
um conjunto F ⊂ X é fechado se, e somente se, o complementar X \ F for um conjunto aberto
em X.
• ∅ e X são fechados.
3.7 Compacidade
Uma subcoleção U de U é chamado uma subcobertura de K se ela mesma ainda for uma
cobertura aberta de K. Neste caso, dizemos também que U admite uma subcobertura.
(ii) K é compacto.
Entretanto, essa afirmação não é verdadeira em geral para espaços de dimensão infinita.
Example 3.7.1 Seja X = `2 munido com sua norma usual k · k`2 . Considere a sequência (xn )
em `2 definida por:
xn = (0, . . . , 0, 1, 0, . . . ),
em que o número 1 aparece na n-ésima entrada. É fácil ver que (xn ) é limitada em `2 , porém
√
não converge já que kxm − xn k`2 = 2 para quaisquer m, n ∈ N e m 6= n.
(ii) Uma sequência {xn } em X é dita ser pré-compacta se ela possui uma subsequência con-
vergente.
Teorema 3.7.4 Um espaço métrico (X, d) é compacto se, e somente se, X é sequencialmente
compacto.
Vimos a pouco que, em geral, não se pode afirmar que uma sequência limitada num espaço
normado de dimensão infinita é pré-compacta. No entanto, existem determinados espaços em
que sob certas condições uma tal frase é verdadeira. O objetivo desta subseção é relembrar
alguns desses resultados. Comecemos pelo, tal vez, o mais conhecido de todos.
Teorema 3.7.6 (Arzela-Ascoli) Seja K um subconjunto limitado de C[0, 1]. Suponha que K
é equicontı́nuo. Então, K é relativamente compacto.
Teorema 3.7.8 Seja (X, τ ) um espaço topológico. Então, X é compacto se, se somente se,
toda coleção U de subconjuntos fechados de X possui a propriedade da interseção finita.
Seja X um espaço vetorial. Uma topologia τ em X é dita ser vetorial se as operações usuais
de adição de vetores e multiplicação por escalar são funções contı́nuas. O seguinte resultado
fornece uma importante caracterização de topologias vetoriais em espaços finito-dimensionais.
Teorema 3.9.1 Seja X um espaço vetorial finito-dimensional. Então, duas topologias Haus-
dorff vetoriais são equivalentes.
3.10 Metrizabilidade
Teorema 3.10.1 Seja (X, τ ) um espaço topológico metrizável. Então, X é compacto se, e
somente se, X é sequencialmente compacto.
(i) Um ponto x ∈ X possui uma base enumerável de vizinhanças se existe uma coleção
enumerável {Un } de vizinhanças de x tal que qualquer vizinhança U de x contém algum
dos Un0 s.
(ii) τ satisfaz o primeiro axioma da enumerabilidade se cada ponto de X possui uma base
enumerável de vizinhanças.
43
3.11 Separabilidade
Um espaço topológico (X, τ ) é dito ser separável quando existe uma sequência {xn } em X
que é densa em X, ou seja, {xn } = X.
Prova. Suponha o contrário que Int(F ) 6= ∅. Então, F contém um bola do espaço X, digamos
B. Mas, em B podemos escolher uma quantidade infinita de vetores L.I. Contradição, pois F
é finito-dimensional.
3.13 Exercı́cios
4. Mostre que todo espaço de Banach não pode conter uma base de Hamel enumerável.
Capı́tulo 4
Teorema de Hahn-Banach
O problema sobre a extensão de funcionais data de 1912 e deve-se a Eduard Helly. Entre os
anos de 1927 e 1929, Hahn e Banach, usaram as técnicas de Helly, outrora utilizadas somente
em espaços de seqüências, e passaram a lidar com o problema da extensão de funcionais em
toda sua generalidade em espaços normados abstratos.
Na seção seguinte iremos, passo a passo, promover a solução do problema sobre a extensão
de funcionais lineares.
45
46
Definição 4.1.1 Seja X um espaço vetorial real. Uma seminorma em X é uma função
ρ : X → [0, ∞) com as seguintes propriedades:
Prova. Mais uma vez faremos uso do Lema de Zorn. Considere o seguinte conjunto:
β ≤ ρ(y + x0 ) − h(y),
para todo y ∈ X. Por outro lado, se x = z + tx0 com t < 0, então h̃(z + tx0 ) ≤ ρ(z + tx0 ) se,
e só se,
h(z) + tβ ≤ ρ(z + tx0 ),
se, e só se, (dividindo ambos os lados da desigualdade por −t > 0)
−z −z
h( ) − β ≤ ρ( − x0 ),
t t
se, e só se,
h(x) − ρ(x − x0 ) ≤ β,
para todo x ∈ X. Assim, devemos ter
sup h(x) − ρ(x − x0 )} ≤ β ≤ inf {ρ(y + x0 ) − h(y)}. (4.1)
x∈X y∈X
Vejamos se isso de fato ocorre. Sabemos que h(x + y) ≤ ρ(x + y), para quaisquer x, y ∈ X.
Daı́, segue-se que
4.2 Consequências
Proposição 4.2.2 Seja Y um subespaço de um espaço normado (X, k · k). Suponha que g ∈
Y ∗ . Então, existe um funcional f ∈ X ∗ tal que f Y ≡ g e kf kX ∗ = kgkY ∗ .
Prova. Defina p : X → [0, ∞) pondo p(x) = kgkY ∗ kxk. Então, g(y) ≤ kgkY ∗ kyk = p(y) para
todo y ∈ Y . Pelo Teorema de Hahn-Banach, existe um functional linear f : X → R tal que
f Y ≡ g e f (x) ≤ p(x), par qualquer x ∈ X. Já sabemos que |f (x)| ≤ p(x), para todo x ∈ X.
Portanto, |f (x)| ≤ kgkY ∗ kxk, ∀x ∈ X, o que implica que kf kX ∗ ≤ kgkY ∗ . Por outro lado, se
x ∈ Y então
|f (x)| |g(x)|
kf kX ∗ ≥ = ,
kxk kxk
o que implica que kf kX ∗ ≥ kgkY ∗ . Como desejado.
|g(tx)|
kgkY ∗ = sup = 1,
ktxk=1 ktxk
Corolário 4.2.4 Seja (X, k · k) um espaço normado. Então, para todo x ∈ X vale
Prova. Podemos supor que x 6= 0, pois do contrário não há o que ser feito. Claramente, tem-se
|f (x)| ≤ kf kkxk ≤ kxk, para todo f ∈ BX ∗ . Agora, pela Proposição 4.2.3, existe f ∈ X ∗ tal
que kf k = 1 e f (x) = kxk. Isso conclui a demonstração.
Uma outra consequência simples mas importante é a seguinte.
f (x) = 0 para todo f ∈ X ∗ . Se fosse x 6= 0, então do Corolário 4.2.4 acima concluirı́amos que
f (x) = kxk = 6 0 para algum f ∈ X ∗ tal que kf k = 1. Contradição.
4.3.1 Hiperplanos
f (x) ≤ α − e α + ≤ f (y),
para quaisqer x ∈ A e y ∈ B.
Proposição 4.3.4 Seja C um subconjunto convexo de um espaço normado (X, k · k). Suponha
que 0 ∈ Int(C). Então,
x = λu + (1 − λ)0 ∈ C.
Por outro lado, se x ∈ C então pC (x) ≤ 1 por definição. Isso conclui a prova de (iv).
Com um pouco mais de perseverança, prova-se ainda que:
Topologias Fracas
Teorema 5.1.1 Seja X um espaço normado. Suponha que a bola BX é compacta. Então, X
é um espaço finito-dimensional.
Então, pela Proposição 1.3.5, f ∈ hf1 , . . . , fn i. Isso implica que dim(X ∗ ) ≤ n. Contradição.
53
54
F = {f : X → R f ∈ X ∗ } = X ∗ .
w
Proposição 5.2.3 Seja X um espaço normado. Então, xn → x se, e somente se, para todo
f ∈ X ∗ tem-se
lim f (xn ) = f (x).
n→∞
w
Prova. Seja f ∈ X ∗ qualquer, e suponha que xn → x. Dado > 0, segue-se da definição de
topologia fraca que U = f −1 (f (x) − , f (x) + ) é um aberto fraco. Logo, existe n ∈ N
tal que xn ∈ U para todo n ≥ n . Isso implica que, f (xn ) ∈ (f (x) − , f (x) + ) para todo
n ≥ n . Portanto, |f (xn ) − f (x)| < para todo n ≥ n . Isso demonstra o que querı́amos.
Recı́procamente, seja U um aberto da topologia fraca contentendo x. Por causa da Proposição
3.3.3, existem > 0 e funcionais f1 , . . . , fn ∈ X ∗ tais que
{y ∈ X |fi (y) − fi (x)| < , ∀i = 1, . . . , n} ⊂ U.
Por hipótese, para cada i = 1, . . . , n, existe ni ∈ N tal que |fi (xn )−fi (x)| < para todo n ≥ ni .
Seja n0 = min{ni : i = 1, . . . , n}. Então, xn ∈ {y ∈ X |fi (y) − fi (x)| < , ∀i = 1, . . . , n}, para
todo n ≥ n0 . Isso conclui a prova.
55
Prova. Sem perda de generalidade, podemos supor que 0 ∈ U . Então, existem > 0 e
funcionais f1 , . . . , fn ∈ X ∗ tais que
\
x ∈ X |fi (x)| < ⊂ U.
Em particular, λx ∈ N para todo λ ∈ R. Isso implica que U não pode ser limitado na topologia
da norma.
Proposição 5.2.5 A topologia fraca σ(X, X ∗ ) num espaço normado é uma topologia vetorial.
Prova. Exercı́cio.
Proposição 5.2.6 Seja (X, k · k) um espaço normado. Suponha que {xn } é um sequência em
X tal que xn * x em X. Então:
Prova. Exercı́cio.
Vale ainda a seguinte caracterização da topologia fraca em termos da dimensão do espaço
X.
(i) X é finito-dimensional.
Prova. Num espaço vetorial de dimensão finita, duas topologias vetoriais de Hausdorff são
sempre equivalentes (veja, Teorema 3.9.1). Portanto, (i) implica (ii). As implicações (ii) ⇒
(iii) ⇒ (iv) são óbvias. Vamos provar agora que (iv) ⇒ (i). Suponha por contradição que X é
infinito-dimensional. Como σ(X, X ∗ ) satisfaz o primeiro axioma da enumerabilidade, podemos
encontrar uma sequência {fn } em X ∗ tal que as vizinhanças fracas U1 , U2 , . . . definidas por
Un = x ∈ X |fi (x)| < 1, i = 1, . . . , n ,
constituem uma base enumerável de vizinhanças do vetor nulo 0 em X. Já sabemos que
Tn Tn
i=1 Ker(fi ) 6= {0}. Portanto, podemos escolher uma sequência {xn } em i=1 Ker(fi ) tal que
kxn k = n. Segue-se que {xn } é ilimitada. Mas, como Un+1 ⊂ Un para todo n, xn ∈ Un
para todo n, e {Un } forma uma base de vizinhanças do zero em X para σ(X, X ∗ ), podemos
concluir que xn * 0 em X. Pela Proposição 5.2.6, segue-se que {xn } é limitada em norma.
Contradição.
Embora a topologia fraca nunca seja metrizável em espaços normados de dimensão infinita,
em alguns espaços ocorrem propriedades bastantes bizarras.
Teorema 5.2.8 Considere o espaço `1 munido com sua norma usual. Então, as convergências
fraca e forte coincidem em `1 . Ou seja, xn * x em `1 se, e somente se, xn → x em `1 .
F = {ϕx : X ∗ → R x ∈ X, ϕx (f ) = f (x)}.
w∗
Se {fn } é uma sequência em X ∗ , usamos a notação fn → f para indicar que {fn } converge
para o funcional f na topologia σ(X ∗ , X). Tal como foi feito na Proposição 5.2.3, vale o
seguinte resultado.
57
w∗
Proposição 5.3.3 Seja X um espaço normado. Então, fn → f se, e somente se, para todo
x ∈ X tem-se
lim fn (x) = f (x).
n→∞
Proposição 5.3.4 Suponha que (X, k · k) seja um espaço de Banach separável. Então, BX ∗
munido com a topologia fraca∗ é metrizável, ou seja, (BX ∗ , σ(X ∗ , X)) é um espaço topológico
metrizável.
Prova. Seja {xn } uma sequência densa na topologia de norma em BX . Defina um métrica d
na bola BX ∗ da seguinte forma: d : BX ∗ × BX ∗ → [0, ∞) é tal que
∞
X |f (xn ) − g(xn )|
d(f, g) = .
2n
n=1
Não é difı́cil mostrar que as topologias σ(X ∗ , X) e τd (topologia induzida por d) são equiva-
lentes.
Um raciocı́nio similar prova ainda o seguinte resultado:
Teorema 5.3.5 O dual X ∗ de um espaço de Banach X é separável se, se somente se, a bola
BX é fracamente metrizável.
Enquanto que a bola de um espaço de Banach infinito-dimensional não pode ser compacta, o
principal resultado desta seção fala-nos que a bola do dual é compacta com relação a topologia
σ(X ∗ , X). Vamos ao seu enunciado.
w∗
Afirmação 1. Φ é contı́nua de (X ∗ , σ(X ∗ , X)) em RX . Com efeito, se fn → f em X ∗ , então
vemos da desigualdade
(Πx ◦ Φ)(fn ) − (Πx ◦ Φ)(f ) = fn (x) − f (x),
que (Πx ◦ Φ)(fn ) → (Πx ◦ Φ)(f ), para todo x ∈ X. Isso mostra que cada Πx ◦ Φ é contı́nua de
X ∗ em R. Portanto, da Proposição 3.3.4, segue-se Φ é contı́nua. Como querı́amos.
Afirmação 2. Φ é injetiva. Ora, se Φ(f ) = Φ(g) então ((fx )x ) = ((gx )x ). Isso implica,
aplicando as projeções em cada coordenada se necessário, que fx = gx para todo x ∈ X.
Portanto, f ≡ g. Isso demonstra a afirmação.
onde Y
K1 = − kxk, kxk ,
x∈X
e \ \
K2 = Ax,y ∩ Bx,y ,
x,y∈X x,y
difı́cil mostrar que Ax,y , Bx,y são fechados em RX . Portanto, K2 é fechado. Por outro lado,
segue-se do Teorema 3.7.5 (de Tychonoff) que K1 é compacto. Segue-se que K é compacto
como a interseção de um compacto com um fechado. Isso conclui a demonstração do Teorema
de Banach-Alaoglu.
Capı́tulo 6
Reflexividade
Prova. Claramente tem-se que J é uma aplicação linear. Resta-nos mostrar agora que
kJ(x)k = kxk para todo x ∈ X. Dados quaisquer f ∈ X ∗ \ {0} e x ∈ X, vemos que
J(x)(f ) = |f (x)| ≤ kf kkxk, donde segue-se que
|J(x)(f )|
≤ kxk.
kf k
Isso mostrar em particular que kJ(x)k ≤ kxk, para todo x ∈ X. Por outro lado, sabemos via
Proposição 4.2.3 que para todo x ∈ X \ {0}, existe f0 ∈ X ∗ com kf0 k = 1 tal que f0 (x) = kxk.
Assim,
|f0 (x)|
kJ(x)k ≥ = kxk,
kf0 k
que quando combinada com a desigualdade anterior mostra ser verdadeira a igualdade kJ(x)k =
kxk para todo x ∈ X. Portanto, J é uma isometria.
59
60
Definição 6.1.2 Um espaço de Banach X é dito ser reflexivo quando a injeção canônica for
uma aplicação sobrejetiva, ou seja, J(X) = X ∗∗ .
∗
Prova. Provaremos somente o item (i). Sabemos que `p ≡ `q com p e q conjugados.
∗∗ ∗
Segue-se daı́ que `p ≡ `q ≡ `p .
σ(X ∗∗ ,X ∗ )
Prova. Do Teorema de Banach-Alaoglu podemos concluir que BX ∗∗ = BX ∗∗ . Como
J é uma isometria, segue-se que J(BX ) ⊂ BX ∗∗ . Portanto, passando o fecho, vemos que
σ(X ∗∗ ,X ∗ ) σ(X ∗∗ ,X ∗ )
J(BX ) ⊂ BX ∗∗ = BX ∗∗ .
Deixamos a prova da inclusão contrária como exercı́cio. (Veja por exemplo, [1])
Teorema 6.1.5 Um espaço de Banach X é reflexivo se, e somente se, a bola BX é compacta
na topologia fraca.
61
[2] N. Dunford and J. T. Schwartz, Linear Operators, Part I: General Theory. Interscience,
New York (1958).
[3] E. L. Lima, lgebra Linear, 4a Ed., Coleo Matemtica Universitria, IMPA, RJ, 2000.
[4] J. R. Munkres, Topology, 2nd. Ed. Upper Saddle River. NJ: Prentice Hall. 2000.
63